Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas...
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CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E
O AGRONEGOCIO EM ANGOLA
Angola, 2015
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REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (MINAGRI)
INSTITUTO DE INVESTIGACÃO AGRONÓMICA (IIA) - INSTITUTO DE INVESTIGACÃO VETERINÁRIA (IIV)
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA)
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO)
============================================================
PROJECTO DE COOPERAÇÃO TRIANGULAR SUL-SUL
“ANGOLA-BRASIL-FAO”
“Fortalecimento da Capacidade de Pesquisa e Inovação dos Institutos de Investigação
Agronómica e Veterinária”
CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O
AGRONEGOCIO EM ANGOLA
HUAMBO
2015
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CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGOCIO EM ANGOLA
HUAMBO, DEZEMBRO DE 2014.
Grupo Gestor da Estratégia do IIA
- Alberto Ferreira Londa, PhD
- Dibanzilua Nginamau, MSc
- Kiakanua Manuvanga, PhD
- Manuel Nzinga, Lic.
- Maria de Fátima do Nascimento, PhD
- Moniz Paulo Mutunda, PhD
- Nicolau Guilherme Caneta, PhD
- Pascoal Antonio Muondo, PhD
- Santos João da Costa Quizembe, PhD
IIV – Instituto de Investigação Veterinária
- Alexadrino Delgado Miranda, Lic
- Isabel Capitão Ferreira, Lic
- Joaquim Ipanga Nganza, MSc
- Joaquim Manuel Canduco, Lic
- Kinsukulu Landu Kama, MSc
- Luis Sandolo Samuel, Lic
- Maria da Conceição Teixeira, MSc
- Mateus Cazambi Cacalo, Lic
- Mavilde Pires, Lic
- Ruth Chiquemba Vihemba Valentim Silvino, Lic
- Tuzevo Zacarias, Lic
Convidado do IDA – Instituto de Desenvolvimento Agrário
- Avelino Mossande, Lic
Comitê Gestor do Projecto (CGP):
José Amaro Tati, Sec. de Estado de Agricultura, Presidente do CGP
Mpanzo Domingos, Coordenador Técnico
Carlos Henrique Canesin, Representante da EMBRAPA
Cecília Gonçalves Malaguti de Souza do Prado, Representante da ABC/Brasil
Cleonice da Costa, Diretora do IIV
Mamoudou Diallo, Representante FAO/Angola
Equipe de Consultores FAO/EMBRAPA
Antônio Maria Gomes de Castro, PhD
Suzana Maria Valle Lima, PhD
Luís Fernando Vieira, PhD
Marlon Vinícius Brisola, DSc
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CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO EM
ANGOLA
INDICE
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
2. MARCO CONCEPTUAL .....................................................................................................
3. METODOLOGIA ...............................................................................................................
4. DIAGNÓSTICO DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA ............................................................. 4.1. ECOSSISTEMAS ........................................................................................................ 4.2. CONSUMIDORES FINAIS .......................................................................................... 4.3. CADEIAS PRODUTIVAS ............................................................................................. 4.4. FACTORES CRÍTICOS DO AGRONEGOCIO DE ANGOLA ............................................. 4.5. INCERTEZAS CRÍTICAS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA PARA 2025 ........................
5. CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO EM ANGOLA ......... 5.1 TEMAS DOS CENÁRIOS 5.2 CENÁRIO 1: MESA FARTA.......................................................................................... 5.3. CENÁRIO 2: MESA INCERTA .................................................................................... 5.4. CENÁRIO 3: MESA CARA.......................................................................................... 5.5. CENÁRIO 4: MESA VAZIA..........................................................................................
6. CONCLUSÕES .................................................................................................................
7. LITERATURA CONSULTADA ............................................................................................
ANEXOS
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1. INTRODUÇÃO
O Planeamento Estratégico de uma organização de pesquisa exige uma visão de futuro e
conhecimento do ambiente externo da instituição. A partir desses elementos é possível formular
estratégias para aumentar a vinculação da Instituição com os seus clientes e definir rumos
institucionais, e mobilizar os apoios que a organização necessita para obter sustentabilidade.
A análise do ambiente externo envolve dois grandes eventos: o diagnóstico dos sistemas que
influenciam e são influenciados pela organização e o prognóstico, ou visão de futuro, sobre as
oportunidades e ameaças relevantes desse ambiente. Em geral, a visão de futuro é construída
aplicando-se a metodologia de construção de cenários do ambiente externo da organização.
O Instituto de Investigação Agronómica (IIA) e o Instituto de Investigação Veterinária (IIV)
decidiram executar o Projecto de Cooperação Triangular Sul-Sul “Angola-Brasil--FAO”,
denominado Fortalecimento da Capacidade de Pesquisa e Inovação dos Institutos de Investigação
Agronómica e Veterinária, sob os auspícios do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (MINAGRI), em
cooperação com a EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) e a Agência
Brasileira de Cooperação (ABC) e da ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO
E AGRICULTURA (FAO). Em sua primeira etapa, o projecto tem como grande objectivo realizar o
planeamento estratégico do IIA e do IIV, como fundamento para o desenvolvimento organizacional
dessas instituições e da melhoria do desempenho da agricultura de Angola, via inovação
tecnológica e gerencial.
Como parte desse processo, foram construídos cenários alternativos do ambiente externo do IIA
e do IIV para o ano de 2025. Foram realizados workshops com a participação de representantes
do corpo técnico e gerencial do IIA e IIV, de especialistas nacionais e internacionais convidados e
dos consultores FAO/EMBRAPA, trabalhando sob os auspícios do projecto de cooperação vigente.
O foco do exercício foram os ecossistemas de Angola, os consumidores de produtos agrícolas do
País e as cadeias produtivas do agronegócio.
O resultado desse esforço é apresentado neste documento. Além do uso principal que será dado
ao produto obtido, o de referência sobre o futuro do ambiente externo do IIA e do IIV com vistas
à definição dos seus rumos e escolhas estratégicas, este documento poderá servir de referência
para outras entidades interessadas no desenvolvimento do agronegócio de Angola e dos seus
diversos componentes.
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2. MARCO CONCEPTUAL
A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de
conhecimento sobre o desempenho actual e passado dos eventos, fenómenos ou entidades em
análise. Esta fase do trabalho exige o conhecimento do comportamento de muitas variáveis inter-
relacionadas, com resultados antagónicos ou sinérgicos, que podem ser melhor trabalhadas a
partir da visão e das técnicas de análise de sistemas.
A gestão de organizações de pesquisa busca transformar as grandes finalidades da sociedade em
objectivos dos programas e projectos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), de forma que seus
contribuam para atender os objectivos maiores da sociedade. A dificuldade ocorre porque é
preciso interpretar a diversidade de interesses sociais relacionados com o processo de
estabelecimento desses objectivos. Outra dificuldade está relacionada com a utilização de
mecanismos apropriados para a transformação, geralmente por decomposição, desses objectivos
gerais em objectivos específicos de projectos de pesquisa e desenvolvimento, que somente
apresentarão seus resultados a médio ou longo prazo (Castro et Al., 2005).
Estes mesmos autores argumentam que a pesquisa agropecuária pode ser entendida como um
processo de apoio ao desenvolvimento do negócio agrícola como um todo e é definida, não apenas
em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas a todos os processos
interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus consumidores.
Estes processos e instituições ligados por objectivos comuns constituem sistemas que, por sua vez,
englobam outros sistemas menores ou subsistemas. O sistema mais abrangente é denominado de
negócio agrícola, complexo agroindustrial ou agribusiness (Davis & Goldberg, 1957). É composto
por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As cadeias produtivas possuem
entre os seus componentes, ou subsistemas, os sistemas produtivos, onde ocorre a produção dos
produtos agropecuários. Na preparação dos cenários do agronegócio de Angola, foram aplicados
os seguintes conceitos sistêmicos:
Negócio agrícola é o conjunto das operações de produção, processamento,
armazenamento, distribuição e comercialização de insumos e produtos agropecuários e
agroflorestais, incluindo serviços de apoio (assistência técnica, crédito etc.). Esse conceito
pode ser aplicado também a uma unidade geográfica.
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Cadeia produtiva são conjuntos de componentes interactivos, tais como sistemas
produtivos agropecuários e agroflorestais, fornecedores de serviços e insumos, indústrias
de processamento e transformação, distribuição e comercialização, além de consumidores
finais do produto e subprodutos da cadeia (Castro et Al., 1999).
Sistema produtivo é o conjunto de componentes interativos que objectiva a produção de
alimentos, fibras, energéticos e outras matérias primas de origem animal e vegetal. É um
subsistema da cadeia produtiva e refere-se às actividades produtivas “dentro da fazenda".
Numa cadeia produtiva, ocorre um fluxo de capital que se "inicia" nos consumidores finais do(s)
produto(s) da cadeia e direcciona-se ao elo final, e que, no caso da agricultura, é representado
pelos fornecedores de insumos. Este fluxo é regulado pelas transacções, as relações contractuais,
formais ou informais, efectuadas entre os indivíduos ou empresas componentes da cadeia.
O estudo das cadeias produtivas pode basear-se no exame e caracterização do comportamento
do fluxo de capital, nas transações, nas questões de apropriação e distribuição dos benefícios e
limitações entre os componentes e na tecnologia e gestão envolvidas nos processos produtivos
internos dos elos e segmentos.
A Figura 1 ilustra uma típica cadeia produtiva agropecuária, com os seus principais componentes
e fluxos. Distinguem-se os seus componentes mais comuns: o mercado consumidor, composto
pelos indivíduos que consomem o produto final (e pagam por ele); a rede de comercialização
grossista e retalhista; a indústria de processamento e/ou transformação do produto; as
propriedades agrícolas, com seus diversos sistemas produtivos agropecuários ou agroflorestais; e
os fornecedores de insumos (sementes, sêmen, adubos, pesticidas, máquinas, implementos e
outros serviços). Estes componentes estão relacionados a um ambiente institucional (leis, normas,
instituições normativas) e a um ambiente organizacional (instituições de governo, de crédito, etc.),
que em conjunto exercem influência sobre os componentes da cadeia.
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Figura 1 – Modelo geral de uma cadeia produtiva
(Fontes: Zylbersztajn, 1994; Castro et Al., 1995)
Um outro tipo de sistema importante para a actividade de pesquisa agropecuária é o sistema
natural ou ecossistema. A análise das condições naturais específicas de uma região e o processo
histórico das actividades humanas nela desenvolvidas permite elaborar uma caracterização da
situação de uso ou ocupação actual da área, seu potencial produtivo e, consequentemente, a
recolha de informações básicas para se estabelecer uma política para o seu desenvolvimento.
Consequentemente, o estudo e o conhecimento do comportamento dos ecossistemas são de
grande importância para o desempenho do sector produtivo agrícola, pecuário e florestal.
Primeiro, porque os ecossistemas exercem forte influência nos sistemas produtivos e na produção
final. Segundo, porque os ecossistemas são também potenciais fontes de produtos extrativos de
alto valor para a sociedade. Terceiro, porque a exploração agrícola, por sua vez, altera e impacta
estes sistemas naturais.
Tanto no primeiro caso, do sector produtivo primário interagindo com os sistemas naturais,
quanto no caso da exploração extrativista desses sistemas, é cada vez mais intensa a preocupação
com a sua sustentabilidade. A regra actual é "explorar sem destruir", ou seja, a produção de
alimentos, fibras e energéticos deve ser incrementada, para atender as crescentes demandas da
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população, sem comprometer, a médio e longo prazo, a capacidade produtiva e a qualidade dos
factores do ecossistema.
Os ecossistemas exercem forte influência sobre os sistemas produtivos e sobre os demais
componentes das cadeias produtivas. Eles envolvem e delimitam os demais sistemas, formando
um conjunto de "sistemas dentro de sistemas". A Figura 2 ilustra este conceito, definindo a
hierarquia entre o sistema natural, e os sistemas negócio agrícola, cadeias produtivas e sistemas
produtivos (Castro et Al., 1994).
Figura 2- Relação entre os sistemas pertinentes aos estudos prospectivos e os seus mercados.
Fonte: Castro et Al. (1995).
Os conceitos sistêmicos apresentados anteriormente foram usados como base conceptual para
diagnosticar o ambiente externo do IIA e do IIV,e para elaborar a sua visão de futuro (Castro et Al.,
2006). Como componentes do agronegócio de Angola, identificaram-se as cadeias produtivas e
respectivos consumidores de produtos agropecuários.
Também foi aplicado o conceito de ecossistema, para trabalhar o ambiente ecológico de Angola.
Neste caso, tanto na situação do sector produtivo primário interagindo com os ecossistemas,
SISTEMANATURAL
NEGÓCIOAGRÍCOLA
CADEIAPRODUTIVA
SISTEMAPRODUTIVO
MERCADOCONSUMIDOR
MERCADO DETECNOLOGIAS
CENTRO DE P&D
DEMANDAS OFERTA DE T,P,S
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quanto no caso da exploração extrativista destes sistemas, o conceito central a ser observado é o
da sustentabilidade ambiental, definida como:
Sustentabilidade ambiental é a capacidade de o sistema manter padrões de eficiência
produtiva agropecuária e qualidade de produto ao longo do tempo, o que significa manter
a integridade do meio ambiente.
Esta situação abre uma nova agenda de trabalho para a pesquisa agropecuária. A missão ampliada
dessa forma, do IIA e do IIV, torna-se muito mais complexa em função da heterogeneidade dos
problemas a equacionar. A definição e priorização das necessidades e aspirações da sociedade
tornam-se ambíguas, em alguns casos até antagónicas. Questões do tipo "preservar ou produzir"
são colocadas tanto no ambiente externo quanto no ambiente interno dos centros de P&D. Tal
situação exige o aprimoramento das abordagens para a determinação de demandas em relação à
pesquisa dos sistemas naturais e a posterior priorização dos projectos de P&D a executar (Lima et
al., 2001).
O CONCEITO DE FUTURO
A implementação de estratégias é um processo que tipicamente produz resultados no médio e
longo prazos. Portanto, é preciso falar de futuro quando se adopta um enfoque estratégico. O
futuro é algo abstrato, intangível, que ainda não ocorreu. Portanto, não pode ser descrito ou
quantificado e, menos ainda, é possível atribuir valor a dados obtidos sobre ele. O futuro é múltiplo
e incerto e não necessariamente uma projecção simples de tendências do passado (Schnaars,
1985). Sua conformação irá depender da interacção de variáveis de diversas naturezas
(económicas, sociais, políticas e tecnológicas, entre outras), cujo estado pode alterar-se de
maneira pouco previsível. Isto determinará o desempenho dos sistemas componentes do
ambiente externo das organizações, alterando seu equilíbrio actual para estados potencialmente
diferentes (Castro et al., 2001).
Futuro é o resultado de tendências históricas e eventos hipotéticos
(Johnson &Marcovicht, 1994).
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Uma análise prospectiva inclui o conjunto de conceitos e técnicas utilizados para se ter uma visão
antecipada sobre o comportamento das variáveis sociais, económicas, políticas, culturais e
tecnológicas e sobre suas interacções. As análises prospectivas podem ajudar muito as instituições
de P&D na identificação das necessidades futuras de conhecimentos e tecnologias de seus clientes
ou públicos-alvo (Lima et al., 2001).
A correcta identificação de necessidades de novos conhecimentos e tecnologias, por meio da
análise prospectiva, e o desenvolvimento de projectos consistentes com estas demandas podem
ser factores essenciais de sustentabilidade das organizações de P&D.
As técnicas mais utilizadas para se promover a reflexão sobre o futuro são a técnica Delphi e a
técnica de Cenários. No ambiente de ciência e tecnologia os cenários têm sido mais aplicados para
a formulação de estratégia. (Van der Heidjen, 1996; Castro et al., 2001). Por isso, foi a técnica
escolhida para apoiar a formulação dos Planos Estratégicos do IIA e do IIV. Os cenários foram
definidos como:
Cenários são caminhos possíveis em direção ao futuro.
(Henrique Rattner, citado por Castro et al., 2001)
Costa (2002) define os cenários como um conjunto de características e condições do ambiente
externo, esperado ou temido para o futuro, condicionando a funcionalidade, operações, estratégia
e sucesso da organização.
Algumas características dos cenários os tornam adequados à formulação de estratégia em
organizações de pesquisa e, ao mesmo tempo, orientam a aplicação dessa metodologia (Castro et
al., 2005; Van Der Heidjen, 1997):
• Produzem interpretações lógicas do futuro – cenários são exercícios de lógica, sobre o
que possa ocorrer a partir de tendências e relações de forças positivas e negativas;
• São centrados na incerteza (descontinuidades) – na escolha das variáveis críticas a serem
representadas nos cenários, dá-se preferência àquelas mais imprevisíveis;
• Ajudam em épocas de mudanças – indicam possíveis cursos de acção em resposta as
influências positivas ou negativas do contexto das organizações;
• São qualitativos e quantitativos - geram tendências, não se constituindo em instrumentos
de previsão matemática sobre o futuro;
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• Clarificam riscos – ao reduzir as incertezas, permitem a avaliação dos impactos dos
eventos e das decisões estratégicas tomadas;
• Promovem a flexibilidade e a capacidade de reacção – permitem a elaboração a priori, de
alternativas de posicionamento estratégico.
O horizonte temporal dos cenários deve corresponder, no mínimo, ao período previsto para o
planeamento estratégico. Em geral, em organizações de pesquisa, o horizonte temporal (do PE e
de seus cenários) é de cinco anos. No presente caso, para os cenários do agronegócio de Angola,
adoptou-se um horizonte temporal de dez anos, sendo os cenários construídos em 2014-15 com
alcance para o ano de 2025.
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3. METODOLOGIA
Para elaborar cenários é necessário categorizar as variáveis de maior relevância para o
desempenho dos sistemas do ambiente externo analisados, denominadas como factores críticos,
em tendências ou descontinuidades:
Tendências – variáveis que representam mudanças lentas e contínuas no ambiente externo
dos Institutos.
Descontinuidades – variáveis que representam mudanças bruscas, repentinas,
imprevisíveis. Alteram as condições do ambiente externo, exigindo mudança de estratégia
das organizações.
No presente exercício, o ambiente externo do IIA e do IIV foi decomposto em três grandes
subsistemas: os ecossistemas, os consumidores finais e as cadeias produtivas.
Previamente à realização da Construção de Cenários, foi realizado um Workshop de análise do
Ambiente Externo do IIA e do IIV. Durante este evento, grupos de pesquisadores dos Institutos
trabalharam em equipes formadas em cada um dos subsistemas a analisar, utilizaram informação
secundária, seus conhecimentos, e instrumentos de análise pré-desenhados, para definir factores
limitantes e impulsores ao desempenho de cada um dos sistemas.
A partir dessa análise, os impulsores e limitantes identificados foram transformados em variáveis
utilizando-se um instrumento especialmente elaborado para as avaliações de priorização e de
previsibilidade, contendo a denominação e descrição da variável, o estado actual da mesma e
espaço para avaliação da importância e do grau de previsibilidade de cada uma delas.
O produto do Workshop de Análise do Ambiente Externo foi utilizado como principal insumo para
o evento seguinte, o Workshop de Construção de Cenários do Ambiente Externo do IIA e do IIV,
realizado no Huambo, Angola, durante cinco dias de Dezembro de 2014. Este evento contou com
a participação dos especialistas indicados pelas Direcções dos Institutos (ver relação de
participantes ao início deste trabalho) para compor o Grupo Gestor de Estratégia do IIA e do IIV e
com os consultores FAO/EMBRAPA. A metodologia adoptada durante o Workshop está descrita,
de forma geral, no Quadro 1.
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Quadro 1: Método e técnicas para elaboração de Cenários do Ambiente Externo do IIA e do IIV.
No. de
ordem
MOMENTOS DA METODOLOGIA
TÉCNICA EMPREGADA
1 Tomar variáveis obtidas nas análises anteriores (sintetizadas na matriz de impulsoras e limitantes).
GGE* e GTs, matriz de priorização e de avaliação de previsibilidade e consultoria da Embrapa.
2 Definir os factores críticos (variáveis de maior impacto no desempenho) e as incertezas críticas (variáveis caracterizadas por um baixo grau de previsibilidade e base para os cenários).
Técnicas de escores, matriz de priorização e avaliação de previsibilidade.
Painel de juízes.
3 Criar modelos de relação de variáveis para orientar a formulação de estados futuros na etapa de análise morfológica.
Construção de modelos relacionais de variáveis.
Trabalho em equipe.
4 Realizar análise morfológica, indicando possíveis estados futuros alternativos para cada variável.
Matriz de análise morfológica.
Painel de especialistas.
5 Definir temas para os cenários Painel de especialistas.
6 Determinar o estado futuro das variáveis em cada cenário tema.
Painel de especialistas.
Matriz de análise morfológica.
7 Definir os cenários por tema. Analisar a consistência de cada cenário.
Painel de especialistas.
Matriz de análise morfológica.
8 Redacção dos cenários, versão 0. Trabalho em equipe.
9 Validação interna (versão 1) e externa (versão 2) dos cenários
Workshop com especialistas, painel de avaliadores, método de escores.
GGE, Consultoria Embrapa.
10 Publicação e uso dos cenários Edição e distribuição.
*GGE – Grupo Gestor de Estratégia
Dos momentos da metodologia, descritos no Quadro anterior, o primeiro é bastante simples: foi
utilizada a matriz de priorização e de avaliação de previsibilidade para determinar, no momento
seguinte, o grau de incerteza de cada um dos factores críticos definidos no instrumento. Para a
elaboração dos cenários do agronegócio de Angola, foram considerados os factores críticos
classificados pelos membros do GGE dos Institutos como descontinuidades.
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Uma vez definidas as descontinuidades, estas foram alocadas na Matriz de Análise Morfológica –
MAM (Castro et Al., 2005), tomando-se em conta os sistemas trabalhados (ecossistemas,
consumidores, cadeias produtivas). Os membros dos GGE do IIA e do IIV foram divididos em três
grupos, encarregues da elaboração de estados futuros para cada um dos sistemas em estudo.
Na matriz, a primeira coluna foi preenchida com os factores críticos classificados como
descontinuidades. Nas demais colunas, o GT responsável pela elaboração definiu estados futuros
plausíveis de cada variável. Foram elaborados quatro estados futuros para cada variável da matriz.
Este momento de elaboração dos cenários é talvez o mais crítico, em relação à qualidade do
produto desse exercício. Desenvolveram-se estímulos para a emergência de ideias criativas
utilizando-se modelos relacionais de influencias sobre as variáveis(apresentados no Anexo 1) e, ao
mesmo tempo, para propiciar um clima de discussão crítica, de modo que as ideias pudessem ser
examinadas sob a lógica da plausibilidade de conformação do futuro.
Os modelos relacionais (ver Figura 3), representam as variáveis impulsoras e limitantes do
ambiente externo do IIA e IIV. Além das variáveis impulsoras e limitantes, os modelos mostram
possíveis variáveis com influência sobre o estado futuro das impulsoras e limitantes.
Figura 3 –Exemplo de modelo para definição de estados futuros de variáveis
Variável impulsora oulimitante
Variáveis influentes no estado futuro
Definição da variávelimpulsora ou limitante
USOS DOS MODELOS
Guía para definição de estados futuros na
construção de cenários
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Em seguida, foram propostos temas para a elaboração dos cenários a partir dos estados futuros
elaborados pelos diversos GTs. Estes temas orientam a escolha dos estados das variáveis críticas
que devem compor cada um deles, selecionando-se aqueles estados que apresentam melhor
sintonia com o respectivo tema.
Foram construídos quatro cenários alternativos do ambiente externo do IIA e IIV para o ano de
2025, alternativas consideradas suficientes para orientar a visão de futuro na elaboração dos
Planos Estratégicos dos Institutos.
Antes de redigir os cenários, o GGE e os consultores FAO/EMBRAPA realizaram uma análise crítica
de consistência interna dos cenários, verificando se não havia conflitos entre as variáveis internas
ou entre estados de distintas variáveis em um mesmo tema.
A versão inicial dos cenários, denominada versão zero, foi submetida à validação interna, com a
participação de técnicos do IIA e do IIV1, dando origem à versão validada internamente,
denominada versão um.
A versão validada iknternamente (versão 1) foi submetida a uma Oficina de Validação externa,
composta por especialistas e representantes dos grupos de interesse (stakeholders) do IIA e do IIV,
realizada em Luanda, em julho de 20152. Durante esta Oficina, os cenários foram avaliados por
especialistas em cada um dos seus sub-sistemas componentes, utilizando um instrumento de
avaliação previamente elaborado.
Os resultados da validação, na forma de reações, percepções e sugestões para promover ajustes
finais no documento, foram tabulados e avaliados, sendo incorporadas as sugestões de mudanças
consideradas pertinentes pelos GGEs do IIA e do IIV, obtendo-se sua versão final.
1 Participaram do processo de validação interna 101 (cento e um) técnicos do IIA e do IIV. 2 Participaram do processo de validação externa 26 (vinte e seis) representantes de grupos de interesse (stakeholders).
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4. DIAGNÓSTICO DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA
A proposta de diagnóstico do ambiente externo, correspondente ao agronegócio de Angola,
implica na identificação das principais características dos ambientes naturais (ou biomas), dos
consumidores e das cadeias produtivas presentes no País. A caracterização de cada um desses
sistemas foi realizada com base em análise de informação primária e secundária colectadas pela
equipa do Instituto.
4.1. SISTEMAS NATURAIS
O conceito de Sistemas Naturais, ou Ecossistemas, para Minua (2006) é o de “Unidades funcionais
onde os componentes bióticos (fauna e flora) e o meio físico (ar, água e solo) se interagem numa
multiplicidade de processos ecológicos cujo conhecimento é fundamental para a sua
conservação”. Tal entendimento tem importância para a análise do agronegócio de Angola, em
função do seu fornecimento de recursos e serviços ambientais, tais como a utilização de áreas para
as práticas da agricultura e pecuária, a utilização de pastagens nativas e recursos hídricos, além do
impacto que as actividades causam sobre os solos, a flora e a fauna.
Na priorização dos Sistemas Naturais de Angola, se tomou como referência sua relevância social,
ambiental e econômica. Na priorização dos Sistemas Naturais de Angola, se tomou como
referência as suas relevâncias sociais, ambiental e económicas. A figura 4, apresenta os biomas
priorizados: (1) Zambezíaco e Miombo; (2) Mosaico de Floresta Congolesa e Savana (incorpora o
Mosaico Floresta e Savana, a Floresta Tropical e a Floresta de Montanha, Afromontana); e (3)
Planalto de Kalahari.
1. Zambeziaco e Miombo
Representa aproximadamente 77% do território angolano, caracterizando-se como o principal
ecossistema do país em extensão. Engloba as províncias da Huíla, Cunene, Bié, Moxico, Huambo,
Kuanza Norte, Kuanza Sul, Malanje, Lunda Sul, Luanda, Bengo, Cabinda (parcialmente), Benguela
e K. Kubango;
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Figura 4 - Representação dos ecossistemas de Angola Fonte: MINUA (2006)
2. Mosaico de Floresta Congolesa e Savana
2.1. Mosaico Floresta e Savana
Compreende 11% do território angolano, posicionando-se mais ao norte e detendo a segunda
maior extensão de terra entre os ecossistemas. Localiza-se na província do Zaire e parcialmente
do Uíge e Lunda Norte;
2.2. Floresta Tropical
Ocupa aproximadamente 4% do território angolano, em pontos descontínuos mais ao norte do
país. Ocupa aproximadamente 50% de Cabinda e Uige; e 30% de Zaire e Lunda Norte;
2.3. Afromontana
Ocupa aproximadamente 4% do território angolano, em pontos descontínuos mais centrais do
país. Localiza-se no Huambo e Bié;
3. Planalto Kalahari
Ocupa aproximadamente 1% do território angolano, em uma faixa ao sudoeste do país.
Representa uma zona de transição, ocupando um terço das províncias de Namibe, Huíla e
Benguela;
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Nesta priorização foram considerados com menor prioridade os ecossistemas menos expressivos
territorialmente e/ou menos importantes para o Agronegócio do país (Deserto Namibe e as Zonas
Húmidas e de Mangais).
4.1.1. Sistema Zambezíaco e Miombo
O Sistema Zambezíaco e Miombo ocupa uma superfície total de 95.157 mil ha, e possui como
principais actividades económicas agropecuárias, o milho, a mandioca, o feijão, o sorgo, o
massango, o arroz , a batata, a batata-doce, a produção de bovinos de corte e de leite, além de
caprinos, aves de corte e de aves de postura.
As actividades agropecuárias, contudo, ocupam apenas 6,4% da área disponível. Possui abundante
disponibilidade de água e razoável importância na constituição de seus ecossistemas nativos, tanto
em flora como em fauna. A pluviometria média no Ecossistema é de 1.400 mm e a temperatura
média anual é de 26º C (variação entre 18º e 22º), com humidade relativa de 80%.
São identificadas como oportunidades para o desenvolvimento de investigação e inovação
tecnológica a superação das limitações da baixa fertilidade dos solos, o desenvolvimento de
práticas agrícolas que evitem a erosão dos solos e sistemas de maneio para neutralizar o
desmatamento descontrolado.
Como principal factor impulsor ao desenvolvimento agrícola no Sistema Natural Zambezíaco e
Miombo, aponta-se a predominância do clima tropical húmido, aliada às características de solo e
topografia, passíveis da adoção de práticas agrícolas. Como factores limitantes, destacam-se a má
distribuição de chuvas, a presença de solos ácidos na maior parte das regiões, a ocorrência de
geadas em algumas áreas no período da seca e a propensão à degradação do solo.
Algumas características não agrícolas merecem destaque nesse sistema natural. Apesar da oferta
de água, próximo de 40% da população residente não possui água potável. A pobreza e o
crescimento demográfico desordenado prejudicam o meio ambiente, gerando poluição dos
mananciais hídricos e a crescente insuficiência dos serviços de recolha e tratamento de resíduos.
Destacam-se ainda, a exploração de minérios, a criação de aterros e o uso inadequado de
pesticidas, como elementos que alteram o sistema e degradam os solos e as águas. Contudo,
veem-se progressos institucionais, por exemplo, o pacote legislativo relacionado ao uso da terra e
meio ambiente.
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4.1.2. Mosaico de Floresta Congolesa e Savana
O Sistema Mosaico de Floresta Congolesa e Savana ocupa uma superfície total de 14.009 mil ha, e
possui como principais actividades económicas agropecuárias, o arroz, a mandioca, o feijão, a
produção de bovinos de corte e de leite, além das aves de corte e de aves de postura. Por
predominar o bioma floresta e haver uma fauna abundante, a caça destaca-se como fonte de
alimento da população rural. As actividades são substancialmente voltadas à subsistência.
No Sistema Mosaico de Floresta Congolesa e Savana a exploração de diamante é expressiva e cerca
de 20 mil ha são ocupados por essa actividade. Este facto torna-se importante devido ao forte
impacto que causa ao meio ambiente.
Possui abundante disponibilidade de água – sobretudo, por extensos rios que cortam a região
(Loge, Mbridge, Luangue, Chicapa, Zaire e Cuango). A pluviometria média no Ecossistema é de
1.400 mm e a temperatura média anual é de 25º C (variação entre 15º e 26º), com humidade
relativa de 80%.
As principais oportunidades para investigação e inovação tecnológicas estão relacionadas às
necessidades de soluções para a baixa profundidade e acidez do dos solos locais (onde
predominam os solos fersialíticos tropicais argiláceos), a erosão por adoção de práticas agrícolas
inadequadas e para o desmatamento não sustentável.
Como principal factor impulsor ao desenvolvimento agrícola no Sistema Natural Mosaico de
Floresta Congolesa e Savana, apontam-se os factores climáticos favoráveis a adoção de práticas
agrícolas, e como factores limitantes, a má distribuição de chuvas e a adoção de práticas não
agrícolas degradantes do solo e contaminação das águas.
Tal como no Sistema Natural Zambezíaco e Miombo, vê-se neste Sistema algumas características
não agrícolas que merecem destaque: a pobreza e o crescimento demográfico desordenado, a
crescente insuficiência dos serviços de recolha e tratamento de resíduos, a exploração de minérios,
o uso inadequado de pesticidas e as queimadas. Acrescentam-se ainda, como factores limitantes
ao desenvolvimento agrícola neste Sistema Natural, a falta de mecanismos eficientes de controle
da legislação de importação de pesticidas, fertilizantes e outros produtos químicos.
21
4.1.3. Planalto de Kalahari
O Sistema Natural Planalto de Kalahari ocupa uma superfície total de 1.034 mil ha, e possui como
principais actividades económicas agropecuárias, o feijão, o massango, a massambala e a
produção de bovinos, ovinos e caprinos de corte e de leite. A caça também é destaque como fonte
de alimento da população rural. As actividades são prioritariamente voltadas à subsistência.
Devido as características edafoclimáticas e socioeconómicas da região, próxima às regiões
desérticas e semiáridas, o Sistema Natural Planalto de Kalahari possui as actividades pecuárias
(bovina, caprina e ovina) como as mais preponderantes no país.
Possui baixa e sazonal disponibilidade de água. Sua pluviometria média é de 600 mm anuais e a
temperatura média anual é de 23º C (variação entre 18º e 24º). Os solos são de média fertilidade
e baixa profundidade e elevada acidez. Destaca-se o elevado papel dos ventos como causadores
de erosão e dos animais como causadores de elevada compactação do solo.
As razões necessidades prioritárias para inovação estão relacionadas às características já
apontadas do solo e aos sistemas de pastoreio de animais criados na região.
A pobreza, a ausência de água potável para mais de 50% da população local e a presença de alguns
(embora poucos) empreendimentos agropecuários na região têm sido responsáveis por limitantes
ao desenvolvimento agrícola local. A falta de orientação técnica contribui ainda mais para o
agravamento do desempenho agropecuário na região.
4.2. CONSUMIDORES FINAIS
A população actual de Angola é de 24.383.301 habitantes, dos quais, 51,6% mulheres e 48,4%
homens, concentrando-se em Luanda 26,8% do total da população do país. As províncias de
Luanda, Huíla, Benguela, Huambo, Bié, Kuanza Sul e Uíge, juntas concentram 77% da população.
A densidade populacional média é de 19 habitantes por Km².
A análise feita sobre os consumidores finais resultou na identificação de três segmentos de
consumidores: Consumidores com Baixo Poder Aquisitivo, de Médio Poder Aquisitivo e de Alto
Poder Aquisitivo. Foram priorizados dois segmentos: Consumidores com Baixo Poder Aquisitivo e
de Alto Poder Aquisitivo.
22
Um aspecto substancial é que a quase totalidade do mercado é abastecido por produtos
importados. Isso torna a sua aquisição mais cara – sobretudo pela concorrência com os produtos
de origem nacional, muito escassos.
A análise realizada indica que aproximadamente 35% da população urbana e 94% da população
rural de Angola possui baixo poder aquisitivo, com renda igual ou inferior à AKZ 26.500 mensal
(equivalente à uma cesta básica no país). Em consequência, estima-se que 35% da população
angolana corre o risco de desnutrição.
Neste contexto, Angola depara-se com uma fracção significativa de sua população com poder
aquisitivo limitado para o adequado consumo alimentar. Relativamente à população rural, há uma
parcela voltada ao autoconsumo e que vive da exploração dos recursos naturais. Já na população
urbana menos favorecida economicamente, o consumo escasso e/ou de produtos de má
qualidade é predominante.
No outro extremo, 20% da população é considerada como de alto poder aquisitivo, recebendo
mais de AKZ 100.000 por mês. Deste grupo, estima-se que mais de 90% residem em áreas urbanas.
Os dados apontam ainda que 32,4% deste grupo estão expostos ao risco de obesidade.
4.3. CADEIAS PRODUTIVAS
As cadeias produtivas agrícolas são definidas como:
Sistemas compostos por fornecedores de insumos, produtoresagropecuários, agro-indústrias, comerciantes grossistas e retalhistas que suprem os consumidores de alimentos e fibras.
Buscou-se analisar as cadeias de produtos de origem vegetal e animalque integram o Agronegócio
angolano e identificar, entre elas, aquelas que se destacam em importância para o país e
consequentemente para as acções de investigação dos Institutos. Seguiu-se à essa priorização, a
segmentação em cadeias básicas (aquelas que produzem alimentos para população angolana) e
de rendimento (aquelas cija finalidade é gerar renda para o país). O Quadro 2 apresenta as cadeias
priorizadas e classificadas por segmento.
23
Quadro 2: Cadeias produtivas priorizadas pelo IIA e pelo IIV
Cadeias de Produtos Vegetais Cadeias de Produtos Animais
Básicas Rendimento Básicas Rendimento
Arroz Banana Bovinos de corte
Mandioca Caprinos
Milho Milho Ovinos
Feijão Bovinos de leite Bovinos de leite
Soja Soja Aves
Massango/Massambala Massango/Massambala Suínos
Entre as cadeias de produtos animais, as cadeias de grandes e pequenos ruminantes (bovinos,
caprinos e ovinos) destacam-se pela sua importância cultural. Praticamente em todo território
angolano criam estes animais, mas, os bovinos, especialmente, são mais importantes nas terras
mais ao sul do país. Esta prática tornou-se integrada ao contexto cultural do homem rural e sua
importância social e econômica. O maneio e a prática migratória, essencialmente extrativista, hoje,
se apresenta confrontante com a realidade das práticas intensivas de produção, em surgimento e
expansão em algumas regiões do país.
Os grupos raciais bovinos predominantes são oriundos de cruzamentos entre o zebu, o holandês,
o africânder e o charolês. Raras propriedades, contudo, fazem o uso de sistemas de cruzamento
orientados para a produção de corte ou leite, e os rebanhos predominantes são de números
reduzidos de animais. A produção de leite é basicamente para a subsistência e a adoção de
suplementação mineral ou energético-proteica é rara ou limitada, em função dos custos dos
insumos e da incipiente assistência técnica. Predominam as pastagens naturais e os sistemas de
produção, muitas vezes, são comunitários.
As características e práticas do maneio e uso dos bovinos podem também ser reproduzidas para
os criatórios de ovinos e caprinos. Para estes animais verificam-se ainda a oferta restrita de
vacinas, medicamentos e utensílios de ordem geral que atendam a demanda nacional, a custo
acessível. O desempenho produtivo e reprodutivo dos rebanhos, por conseguinte, é baixo e os
índices de mortalidade e morbidade, normalmente altos.
O efectivo bovino actual é incerto, mas acredita-se girar em torno de 4 milhões de cabeças. Este
efectivo, naturalmente não atende a demanda interna de Angola, levando a um volume de
importações anuais na faixa de 4,2 milhões de toneladas de carne congelada, 1,3 milhões de
toneladas de carne salgada e 3,0 milhões de toneladas de carne bovina processada.
24
O consumo per capita anual de carne bovina é de 7 kg, sendo somente 6,4% atendido pela
produção interna. O preço médio do quilo de carne bovina é de $800 Kwanzas, sendo que
aproximadamente apenas 10% da população de baixo poder aquisitivo encontra e adquire o
produto, enquanto este percentual para a população de alto poder aquisitivo é de 80%.
Os números relativos à produção, comercialização, consumo e importação de carne de ovinos e
caprinos são incertos. Contudo, estima-se um consumo per capita de 2kg anuais, sendo que
somente 5,1% do consumo é atendido pela produção interna. O preço médio da carne ovina e
caprina varia de $500 Kwanzas a $1.000 Kwanzas, e cerca de 30% e 80% da população de baixo e
alto poder aquisitivo, respectivamente, encontram e adquirem o produto.
A produção de leite bovino apresenta sistemas de produção diferenciados. Além do sistema
tradicional, explorado nos criatórios de animais de raça “sanga”, rústica, com as características
próximas ao extrativismo, como referenciado acima, há sistemas mais avançados, nas conhecidas
bacias leiteiras, onde a produção é acompanhada de assistência técnica contratada, animais
oriundos de cruzamentos genéticos (inclusive de animais Jersey, Brown Swiss,, entre outras raças
europeias), alimentação balanceada e algum controle sanitário. Nestes sistemas, os produtores
também possuem algum nível de organização cooperativista e utilizam mão de obra contratada
e/ou familiar. A ordenha é manual e as pastagens são nativas.
O consumo per capita anual de leite bovino e caprino em Angola é de 7,6 litros, sendo que somente
apenas 0,4% do consumo é atendido pela produção interna. O preço médio do litro de leite é $250
Kwanzas, sendo que aproximadamente apenas 10% e 20% da população de baixo e alto poder
aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto.
A produção de aves para carne em escala industrial, em Angola, é praticamente inexistente,
devido aos altos custos de produção. A necessidade de importação de instalação, equipamentos e
insumos necessários à produção avícola define a perda de competitividade da avicultura nacional
frente ao frango e ovos importados. Contudo, a produção avícola tradicional, familiar e industrial
de postura permanece, apesar dos constrangimentos já apontados.
O consumo per capita anual de frango em Angola é de 3,4 kg, sendo que somente 0,3% do
consumo é atendido pela produção interna. Para o consumo de ovos, acredita-se que é próximo
de 7% o abastecimento pela produção interna. O preço médio do quilo de frango é $800 Kwanzas,
25
sendo que apenas aproximadamente 1% da população de baixo e 80% dos consumidores de alto
poder aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto. Essa discrepância é reflexo do
alto preço do produto nacional.
De forma semelhante à realidade da avicultura, a suinocultura tecnificada claudica em Angola.
Algumas propriedades, contudo, sustentam a actividade com recursos externos e uso parcial de
subprodutos industriais. De maneira geral, o maior volume de carne suína não processada
consumida no país advém de criatórios próprios, de produtores familiares. A produção tecnificada,
em sua maioria, destina-se às poucas empresas processadoras, conhecidas por salsicharias.
O consumo per capita anual de carne suína é de 5,6 kg, sendo 12,5% do consumo atendido pela
produção interna. O preço médio do quilo de carne suína em Angola varia entre $500 Kwanzas e
$700 Kwanzas, sendo que aproximadamente 10% e 80% da população de baixo e alto poder
aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto.
Da mesma forma que as cadeias produtivas de produtos animais, as cadeias produtivas de
produtos vegetais priorizadas estão, em sua maioria, na mão de produtores familiares. Exceções
são as cadeias da soja e da banana, além de pequena parte da produção de algumas das demais
cadeias, que são exploradas por produtores nacionais e estrangeiros.
As demais cadeias produtivas prioritárias participam, em sua maioria, da cesta básica angolana e
são produzidas pela agricultura familiar.
A produção de arroz em Angola é realizada por meio da utilização de sementes da própria lavoura,
não havendo material melhorado para tal. O preparo da terra e a utilização de adubos e corretivos
são precários ou inexistentes, e todas as actividades de plantio, cultivo e colheita são feitas
manualmente. Não adotam sementes certificadas. As doenças e a precariedade nessas operações
determinam a baixa produtividade.
A produção de arroz em Angola é de 37 mil toneladas, produzidos em áreas com extensão média
inferior a 1 ha. Algumas poucas empresas agrícolas, de capital externo, produzem em áreas
superiores a 100 ha.
Seguindo os mesmos padrões técnicos de produção do arroz, as culturas da mandioca, do milho
e do feijão são realizadas em Angola. Nessas culturas, a consociação é uma prática comum e a
26
dependência de crédito governamental (muito reduzido) apresenta-se como mais um dos factores
limitantes ao produtor.
No caso do feijão, o déficit de produção anual, que requer importação, é de aproximadamente 130
mil toneladas. O rendimento médio da produção é de 350 kg/ha.
Já o milho, produto consumido em Angola na forma de pirão, papa, fervido ou assado, e ainda
entra na composição da kissangwa (bebida local), tem produtividade média de 500kg/ha. Cerca de
75% da produção está concentrada nas províncias de Huíla, Huambo, Namibe, Kuanza Sul e Bié. A
produção interna, contudo, somente atende a 5,2% do consumo interno.
A mandioca é um produto que faz parte da cesta básica angolana. Como subprodutos da mandioca,
que entram na alimentação humana, destacam-se: a mandioca fresca, a crueira (farinha de
bombo), a farinha de musseque (garri), a kizaka (folhas de mandioca) e a kikwanga (farinha de
mandioca húmida processada). A cultura de mandioca é praticada em quase todo o país, com
maior destaque para as províncias do Uíge, Malange, Zaire, Kwanza Norte, Lunda Norte, Lunda Sul
e Cabinda, onde está concentrada 79% da produção total. O cultivo da mandioca é geralmente de
sequeiro, com rendimento médio de aproximadamente 4 ton / ha. Angola é autossuficiente na
produção de mandioca.
Outra cadeia vegetal priorizada é a da banana. Trata-se de um produto de ampla produção
nacional. A cadeia de banana fornece dois tipos de produtos: a banana fruta, que se consome in
natura, e a banana pão, que se usa como alimento. A banana é cultivada principalmente nas
províncias de Cabinda, Uíge, Zaire, Bengo, Luanda, Malange e Kwanza Norte, que produzem 90%
de banana pão e 10% de banana fruta consumidas no país. As províncias de Kwanza Sul e Benguela
fornecem 95% da banana fruta e 5% de banana pão e a província de Namibe produz somente
banana fruta. O país é autossuficiente na produção de banana.
Apesar da grande produção, o limitado uso de insumos em razão do baixo poder de compra dos
produtores de banana familiares, determina o fraco rendimento em algumas regiões e sítios
produtores. O risco de doenças, devido à ausência de assistência técnica no país também é
problema para a produção de banana em Angola.
O massango (milheto) e a massambala (sorgo) são produtos que entram na cesta básica de uma
parte da população angolana. As cadeias de massango e massambala têm expressão
27
principalmente nas províncias de Namibe, Cunene, Huíla e Cuando Cubango, pertencentes aos
ecossistemas Planalto Kalahari e Deserto do Namibe. Não há muitos dados sobre sua produção e
consumo.
A soja é uma cultura essencialmente voltada para o rendimento, já que naturalmente não é
considerada para o consumo humano, embora haja iniciativas nesse sentido (produção de leite de
soja ou papa). Ela é cultivada como geradora de matéria-prima para obtenção de óleo alimentar
(componente da cesta básica do país) e para a fabricação de ração para a pecuária. Actualmente
o cultivo de soja é praticado timidamente nas províncias de Huambo e Bié por restritas empresas
de maior porte (EAFs). A província de Kwanza Sul alberga a Fazenda “CEDEAC” que explora 1.200
hectares de terras, dos quais 730 hectares são dedicados à cultura de soja. Angola tem produzido
anualmente cerca de 10 mil toneladas de soja, quantidade insuficiente para atender totalmente a
demanda do óleo alimentar consumido no país.
Para todas as cadeias, contudo, é apontada a falta de crédito e assistência técnica como elementos
limitantes a produção, e as condições edafoclimáticas, em geral, como elementos impulsores da
produção.
4.4. FACTORES CRÍTICOS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA
A técnica de construção de cenários, conforme apresentada anteriormente, tem como ponto de
partida o diagnóstico do ambiente externo, analisado a partir de suas dimensões relevantes para
o estudo em questão. No caso do presente estudo, que trata de desenhar planos estratégicos para
os Institutos de Investigação Agronómica (IIA) e de Investigação Veterinária (IIV) de Angola,
interessa desenvolver um diagnóstico do sector agrícola de Angola e identificar os impulsores, e
limitantes sobre os quais as políticas de desenvolvimento devem intervir.
Nesse contexto, definem-se Impulsores e Limitantes como:
Impulsores são forças que impactam positivamente o processo de desenvolvimento do
sector agrícola angolano;
Limitantes são forças que impactam negativamente o processo de desenvolvimento do
sector agrícola angolano;
28
O sector agrícola, porém, é um sistema complexo, com dimensões de características diversas, que
para fins dessa análise interessa distinguir, e que no presente estudo são: a) Os Sistemas Naturais
ou Ecossistemas, que provêm os serviços ambientais necessários ao desenvolvimento agrícola e
cujo maneio e manutenção determinam sua sustentabilidade ambiental; b) Os Consumidores
Finais, que geram as principais demandas a serem atendidas pelos sistemas agrícolas, aí incluídas
não só as demandas materiais, mas também as demandas de desenvolvimento social e bem-estar;
e c) as Cadeias Produtivas, clientes mais directos das inovações geradas pela pesquisa e cuja
organização gera impactos sociais e económicos de grande relevância, seja no bem estar e nos
orçamentos familiares dos consumidores e produtores, seja no abastecimento de matérias primas
industriais, no abastecimento de alimentos, no poder aquisitivo da população e, em muitas
situações relevantes, na competitividade do país (por exemplo, em garantir mercados de
exportação ou mesmo a regularidade do abastecimento do próprio mercado interno).
Impulsores e limitantes, por seu turno, são vistos como estados de variáveis subjacentes, que
devem ser identificadas e definidas a partir de análises técnicas. Essas análises, em geral, permitem
identificar um conjunto grande de variáveis. Em particular, no presente estudo, a partir da análise
dos impulsores e limitantes, foram identificadas, no total, 40 variáveis, distribuídas pelas
respectivas dimensões, conforme segue:
- Ecossistemas: 5 variáveis
- Consumidores Finais: 7 variáveis;
- Cadeias Produtivas: 28 variáveis.
No caso do sistema agrícola de Angola, foram definidos os seguintes critérios de desempenho,
para suas respectivas dimensões:
a) Ecossistemas: sustentabilidade ambiental;
b) Consumidores Finais: bem estar e segurança alimentar;
c) Cadeias Produtivas: eficiência produtiva e competitividade.
Essas variáveis, que foram avaliadas como tendo altos impactos sobre os critérios de desempenho
são denominadas Factores Críticos.
O processo de identificação desses Factores Críticos envolveu a participação de um painel
multidisciplinar de especialistas que, utilizando um sistema de escores e o conhecimento pessoal
que detêm, avaliaram o peso relativo de cada variável identificada a partir da análise dos
propulsores e limitantes. No Quadro 3 são apresentados os Factores Críticos identificados.
29
Quadro 3 - Factores Críticos identificados pela sua importância
ECOSSISTEMAS
Adequação de condições edafoclimáticas
Disponibilidade de água nos biomas priorizados
Impacto da produção agropecuária sobre os ecossistemas
Conservação da biodiversidade
CONSUMIDORES
Renda per capita
Regularidade da oferta de alimentos
Importação de alimentos
Preços dos alimentos
CADEIAS PRODUTIVAS
Uso de materiais de propagação melhorados
Uso de outros insumos
Uso de máquinas equipamentos
Preços dos insumos
Sistema nacional de importação e produção de insumos
Acesso a aquisição de insumos
Qualidade de insumos
Adequação do material genético à oferta ambiental
Disponibilidade de infraestrutura nas fazendas
Pragas e doenças em culturas e criações
Fontes de nutrição animal
Capacidade técnica e gerencial dos produtores
Gerenciamento do sistema produtivo
Disponibilidade de mão de obra
Geração de renda nas unidades produtivas
Sistemas de produção agropecuários
Qualidade da matéria-prima
Acesso a crédito rural
Acesso a assistência técnica
Vias de acesso as fazendas
Inversões em inovação tecnológica (pesquisa agropecuária e assistência técnica)
Rendimento da produção agrícola e pecuária
4.5. INCERTEZAS CRÍTICAS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA PARA 2025
Para a construção de cenários, no entanto, certos factores críticos cuja projecção futura pode ser
visualizada como uma tendência que se projecta do passado ou cuja previsibilidade seja alta, não
são necessários. A construção de cenários envolve um processo de pensar o futuro a partir de
eventos de alta incerteza, reconhecidos como portadores de futuro, que possam assumir estados
30
alternativos plausíveis e aos quais não se pode atribuir probabilidades de ocorrência. Dente os
Factores Críticos, identificaram-se os que representam eventos de grande incerteza e que podem
assumir estados diversos palusíveis no futuro. Esses são o que se denominam de Incertezas
Críticas.
O método utilizado para identificar as Incertezas críticas também consistiu na utilização de um
painel de especialistas, com grande conhecimento dos sistemas sendo analisados, que, utilizando
método de escores, julgaram o grau de previsibilidade de cada factor crítico. Os factores críticos
de menor grau de previsibilidade foram então identificados e utilizados na construção dos
cenários. No Quadro 4 são apresentadas as Incertezas críticas identificadas para a construção dos
cenários para o desenvolvimento agrícola de Angola.
Quadro 4 -Incertezas Críticas para a construção de cenários do desenvolvimento agrícola
de Angola
ECOSSISTEMAS
Adequação de condições edafoclimáticas
Disponibilidade de água nos biomas priorizados
CONSUMIDORES
Renda per capita
Regularidade da oferta de alimentos
Preços dos alimentos
CADEIAS PRODUTIVAS
Uso de materiais de propagação melhorados
Preços dos insumos
Sistema nacional de importação e produção de insumos
Disponibilidade de infraestrutura nas fazendas
Pragas e doenças em culturas e criações
Fontes de nutrição animal
Disponibilidade de mão de obra
Sistemas de produção agropecuária
Acesso a crédito rural
Inversões em inovação tecnológica (pesquisa agropecuária e assistência técnica)
Vias de acesso as fazendas
Em resumo, a obtenção das Incertezas Críticas para a construção dos cenários passa pelas fases
representadas na Figura 5.
31
Figura 5- Fases envolvidas na obtenção das Incertezas Críticas para Construção de Cenários
Obtidas as Incertezas Críticas, seguiu-se a fase de construção dos estados para cada uma delas. O
número de estados a serem pensados não é rígido e depende das características do sistema sendo
estudado e do número de cenários com os quais se pretende trabalhar. Deve-se levar em conta
que um número grande de cenários torna a análise complexa e a distinção e fixação dos diferentes
futuros mais difícil.
Lembrando que a utilidade dos cenários é criar uma referência para alimentar discussões
estratégicas, em geral 3 ou 4 diferentes cenários é suficiente para avaliar possíveis alternativas de
futuros e estratégias para fazer frente aos desdobramentos antevistos. Essa fase é precedida da
definição do horizonte de tempo que deve balizar a construção dos cenários.
32
5. CENÁRIOS 2025 PARA O AGRONEGÓCIO EM ANGOLA
Os Cenários oferecem ao analista a oportunidade de vislumbrar, como se estivesse no ano definido
como horizonte temporal – neste caso, o ano de 2025 - hipóteses qualitativas e complexas de
como estaria um conjunto de variáveis relevantes, nesta data, para o desenvolvimento agrícola e
a inovação tecnológica em Angola.
Os cenários combinam variáveis identificadas no diagnóstico como relevantes para o desempenho
de cadeias produtivas agropecuárias, sistemas de consumo final (consumidores) e ecossistemas
onde ocorre a exploração agrícola. Além de sua relevância, as variáveis consideradas nos cenários
têm um comportamento de baixa previsibilidade no futuro. Os cenários, então, podem ser
utilizados para manejar diversas possibilidades de trajectória para estas variáveis.
Os cenários também são limitados pela influência de variáveis externas (às cadeias produtivas, aos
sistemas de consumo e aos ecossistemas). Estas influências estão relacionadas a macrovariáveis –
denominadas temas – capazes de influenciar todas ou quase todas as incertezas críticas
identificadas durante o diagnóstico.
Na próxima secção, são definidos e descritos os temas seleccionados como condutores da
trajectória das incertezas críticas, nos quatro cenários desenhados para o Agronegócio de Angola,
em 2025.
5.1 TEMAS PARA OS CENÁRIOS 2025 PARA O AGRONEGÓCIO DE ANGOLA.
Temas são macro variáveis do contexto dos sistemas enfocados pelos Cenários (cadeias produtivas
agropecuárias, sistemas de consumo final (consumidores) e ecossistemas). Estas macrovariáveis
induzem mudanças de diversas naturezas no comportamento ou desempenho destes sistemas,
seja por sua acção directa ou indirecta.
Para a construção dos quatro cenários do Agronegócio de Angola, foram definidas duas
macrovariáveis: Prioridade para o Desenvolvimento Agrícola de Angola; e Prioridade para a
Inovação Tecnológica na Agricultura. Para cada uma destas macrovariáveis, foram descritos dois
estados extremos:
A. Em relação à Prioridade para o Desenvolvimento Agrícola de Angola:
a. Alta prioridade para o Desenvolvimento Agrícola;
b. Baixa prioridade para o Desenvolvimento Agrícola.
B. Em relação à Prioridade para a Inovação Tecnológica na Agricultura:
a. Alta prioridade para a Inovação Tecnológica;
b. Baixa Prioridade para a Inovação Tecnológica.
A partir da combinação destes estados de cada tema, foram desenhados quatro cenários:
33
A. MESA FARTA: Cenário obtido a partir da combinação de alta prioridade para o
desenvolvimento agrícola e de alta prioridade para a inovação tecnológica;
B. MESA INCERTA: Cenário resultante da combinação de baixa prioridade para o
desenvolvimento agrícola e alta prioridade para a inovação tecnológica;
C. MESA CARA: Cenário resultante da combinação de alta prioridade para o desenvolvimento
agrícola e de baixa prioridade para a inovação tecnológica;
D. MESA VAZIA: Cenário obtido a partir da combinação de baixa prioridade para o
desenvolvimento agrícola e de baixa prioridade para a inovação tecnológica.
A Figura 6 ilustra estas combinações. A seguir se descrevem os cenários, apresentando-se
inicialmente um quadro geral relativo aos temas, e em seguida uma descrição de cada uma das
variáveis identificadas como incertezas críticas, em cada um deles.
Figura 6 – Ilustração dos temas para os cenários 2025 do agronegócio e da inovação em Angola.
Inov
ação
Tecn
ológ
ica
Desenvolvimento Agrícola
Alta
Prio
ridad
eBa
ixa
Prio
ridad
e
Baixa Prioridade Alta Prioridade
CENÁRIO 2: MESA INCERTA CENÁRIO 1: MESA FARTA
CENÁRIO 4: MESA VAZIA CENÁRIO 3: MESA CARA
34
5.1.1. Caracterização do cenário 1: MESA FARTA
ALTA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA
AGRICULTURA
O modelo de desenvolvimento se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola
por meio de uma matriz produtiva diversificada, baseada tanto na exploração de recursos naturais,
tendo também como fontes de geração de renda a agricultura e a indústria.
O desenvolvimento agrícola, por sua vez, está fortemente vinculado ao conceito de inovação, ou
seja, ao desenvolvimento e transferência de tecnologias agropecuárias aos produtores rurais. A
inovação, pela incorporação destas tecnologias aos processos produtivos no campo permite o
aumento expressivo da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos
no país; a melhoria da atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos
nutricionais; e o cuidado com o meio ambiente, o provedor mais importante de recursos e serviços
necessários à agricultura, e de qualidade de vida para a população.
As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao
aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda
dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à
preservação de recursos naturais (água, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola
estão fortemente orientadas para estes objectivos.
A partir de 2015, os Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária trabalharam fortemente
na reestruturação de processos, produtos e serviços destinados à incorporação de inovação na
agricultura angolana, com base em seu Planeamento Estratégico, e iniciaram interacção intensa
com a organização de assistência técnica e extensão rural angolana (Instituto de Desenvolvimento
Agrário). Implantaram e acompanharam projectos de desenvolvimento da agricultura familiar, em
cooperação com iniciativas empresariais incentivadas pelo País.
A partir de 2016, IIA e IIV se associam a outras instituições públicas de investigação de outros
países, como a Embrapa, buscando alternativas tecnológicas já desenvolvidas que possam ser
adaptadas, de forma rápida, às condições edafoclimáticas de Angola. Este esforço permite a
liberação, em tempo muito reduzido, de novas tecnologias agropecuárias. Ao mesmo tempo, a
35
ATER pública já obteve sucesso na incorporação destas novas tecnologias à agricultura familiar. Os
primeiros casos de sucesso ocorreram já em 2019.
Em outra dimensão de avanço da P&D em Angola, alguns dos projectos iniciados a partir de 2015
para o desenvolvimento de tecnologias adequadas às principais cadeias angolanas, às condições
dos produtores rurais e a exigências de sustentabilidade ambiental já apresentam resultados
exitosos. Algumas destas tecnologias começaram a ser entregues aos produtores – em conjunto
com outras condições necessárias ao desenvolvimento agrícola – a partir de 2020.
A actividade agropecuária começa a ser desenvolvida, em Angola, também por parceiros externos,
grandes empresas que decidem investir na produção de alimentos em Angola. Sua participação é
incentivada pelo governo angolano, desde que seu investimento contemple também projectos de
apoio à incorporação tecnológica e à estruturação produtiva de pequenos agricultores angolanos.
Estes projectos exigem o alcance de metas claras para o aumento de sua eficiência produtiva, ao
longo do tempo.
Ao longo de todo o período, o Governo tem alocado recursos em quantidade adequada, tanto para
o crédito agrícola, como para a P&D, a ATER, a infraestrutura de pesquisa e de atendimento ao
produtor rural. Para o futuro, o Governo também tem compromisso com investimentos
sustentáveis em infraestruturas de apoio ao sector agropecuário.
Há um aumento sensível na oferta de alimentos básicos para a população angolana. A importação
de alimentos, embora ainda necessária, sofre também redução importante. É marcante a redução
na importação de cereais necessários à alimentação humana no país.
5.1.2. Caracterização do cenário 2: MESA INCERTA
BAIXA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E ALTA PRIORIDADE PARA A
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA
O desenvolvimento socioeconómico de Angola se dá por meio de incentivos à inovação
tecnológica na agricultura, com a participação dos Institutos de Investigação Agronómica e
Veterinária (responsáveis pela P&D agropecuária) e pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário
(encarregue da assistência técnica e da extensão rural dirigida aos produtores angolanos).
36
A base deste modelo – iniciado em 2015 - sustenta-se na crença de que a inovação, pela
incorporação de tecnologias aos processos produtivos no campo permite o aumento expressivo
da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos no país; a melhoria da
atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos nutricionais; e o
cuidado com o meio ambiente.
As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao
aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda
dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à
preservação de recursos naturais (agua, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola
estão fortemente orientadas para estes objectivos.
A alta expectativa induzida no sector agropecuário por estes planos e metas, no entanto, começa
a reduzir-se pela sua implantação apenas parcial. Esta redução é refletida, por exemplo, na
reestruturação incompleta dos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária tanto em
termos de recursos humanos como de sua infraestrutura física. O mesmo tem se verificado com a
reestruturação planejada para a organização pública de ATER, inicialmente considerada como
elemento importante da diversificação econômica angolana. O crédito agrícola sofre algum ajuste,
mas não suficiente para incentivar ou mesmo atender as necessidades de crédito da agricultura
familiar.
No início do período (por volta de 2017) foram feitas tentativas de adaptar tecnologias agrícolas
desenvolvidas no Brasil, para os ecossistemas angolanos. Algumas destas tentativas foram bem
sucedidas, e quase que imediatamente incorporadas aos sistemas de produção da agricultura
familiar. Devido aos problemas na formação de equipes de pesquisa com conhecimento adequado
às necessidades das cadeias produtivas, alguns dos projectos de P&D iniciados não impactaram a
agricultura como seria desejado.
O Governo incentiva projectos junto a empresas privadas que se propõem a investir na produção
de alimentos em Angola, desde que cumpridas metas de produção ao longo de sua duração. A
agricultura familiar não tem participação nestes projectos, apenas limita-se, de projectos
produtivos de iniciativa do governo.
37
No entanto, com o passar do tempo, observa-se que objectivos e metas previstas serão alcançados
apenas parcialmente, e o país dependerá ainda por muito tempo da importação de alimentos.
Além disto, os investimentos no sector agropecuário não são claramente definidos como
prioridade, e existem muitas oscilações, a cada ano, no montante de recursos destinados aos
principais actores (produtores rurais, P&D, ATER), tanto em termos de quantidade de recursos
financeiros disponibilizados, como em termos de continuidade de recursos.
Como consequência, a agricultura angolana melhora um pouco (no que se refere às explorações
agrícolas permitidas à iniciativa privada), mas como um todo não alcança os objectivos previstos.
A necessidade de importação de cereais se reduz menos do que o esperado. Há incertezas quanto
ao suprimento de alimentos demandados pelos angolanos.
5.1.3. Caracterização do cenário 3: MESA CARA
ALTA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E BAIXA PRIORIDADE PARA A
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA
O modelo se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola por meio de uma
matriz produtiva diversificada, baseada tanto na exploração de recursos naturais, como tendo
também como fontes de geração de renda a agricultura e a indústria.
No início do período (2015), a ênfase no desenvolvimento agrícola foi acompanhada por um
grande entusiasmo com a perspectiva de que pudesse ser resultante de inovação tecnológica na
agricultura. Hoje, este modelo está distante de alternativas que privilegiam a inovação. A P&D e a
ATER, funções relevantes para a geração de tecnologias, sua transferência aos sistemas produtivos
e como resultado, a incorporação de tecnologias aos seus processos de produção, são
considerados como custos desnecessários ao desenvolvimento do sector agropecuário. Esta
situação foi o resultado da reestruturação incompleta e inadequada, especialmente dos Institutos
de Investigação Agronómica e Veterinária, que levaram os agentes políticos a um total descrédito
na inovação como alavanca para o desenvolvimento.
Em vez disto, por volta de 2019 abandona-se o esforço neste sentido, e se adopta como base para
o desenvolvimento agrícola (ainda considerado como de alta prioridade para o país), que ele seja
alavancado pelo aumento de recursos para crédito rural, importação de insumos a preços
subsidiados, e pela compra, pelo governo, da produção obtida pelos agricultores familiares.
38
Este enfoque não tem preocupação com o alcance de metas de produção, e a produtividade de
cada fazenda não é nem mesmo conhecida. Tampouco há preocupação com a qualidade dos
produtos, e se observa perda relevante da produção durante o transporte até os mercados, devido
à inadequação de processos e formas de armazenamento durante o mesmo. Não existe cadeia de
frio, e a produção animal sofre anualmente perdas consideráveis para chegar até o seu destino
final.
Também não há preocupação com o meio ambiente. Como um dos exemplos mais frequentes, os
pequenos agricultores familiares na maior parte das vezes combinam a exploração agrícola com a
criação bovina, resultando em compactação dos solos de suas propriedades, o que dificulta
cultivos e reduz a produção.
O modelo, então, prevê a destinação de recursos directamente para a actividade agrícola, sem
incentivar a incorporação de tecnologias pelos produtores.
Os recursos dirigidos aos Institutos de Investigação Agronomica e Veterinária minguam, reduz-se a
sua autonomia para projectos de pesquisa e também para renovação de infraestrutura e
remuneração de pessoal. Seus escritórios de pesquisa não têm recursos nem mesmo para realizar
análise de solos. Vários pesquisadores deixam os Institutos, por outras posições dentro ou fora do
país. Situação semelhante vivem os funcionários da organização de assistência técnica e extensão
rural. Ambas as funções (pesquisa agropecuária e ATER), parecem condenadas à extinção, em
Angola.
Este modelo tem sido consistentemente implantado, nos últimos cinco anos. Apesar das críticas
de alguns sectores políticos do país, oferecem-se recursos directamente aos produtores familiares,
em grande quantidade e de forma sustentada. Até este momento, observa-se aumento muito
reduzido na produção de alimentos em Angola, e as necessidades de importação aumentam
muito. A necessidade de importação se reduz de forma quase insignificante, e o país não logra
produzir mais do que 60% do total de cereais necessários à alimentação humana em Angola.
5.1.4. Caracterização do cenário 4: MESA VAZIA
BAIXA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
NA AGRICULTURA
39
O modelo de desenvolvimento se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola
com base em uma matriz produtiva concentrada, que privilegia a exploração de recursos minerais,
como o petróleo (e em menor extensão, os diamantes). O modelo também vem incentivando a
indústria angolana, mas em escala mais limitada.
Observa-se, durante todo o período, que há uma redução consistente de recursos disponibilizados
para o desenvolvimento agrícola, tanto no crédito rural, como em recursos para importação de
insumos, e em políticas de apoio à comercialização de produtos agropecuários.
Em relação à agricultura, este modelo está distante de alternativas que privilegiam a inovação. A
P&D e a ATER, funções relevantes para a geração de tecnologias, sua transferência aos sistemas
produtivos e como resultado, a incorporação de tecnologias aos seus processos de produção, são
consideradaos como custos desnecessários ao desenvolvimento do sector agropecuário.
Os recursos dirigidos aos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária minguam, reduz-se
a sua autonomia para projectos de pesquisa e também para renovação de infraestrutura e
remuneração de pessoal. Seus escritórios de pesquisa não têm recursos nem mesmo para realizar
análise de solos. Vários pesquisadores deixam os Institutos, por outras posições dentro ou fora do
país. Situação semelhante vivem os funcionários da organização de assistência técnica e extensão
rural. Ambas as funções (pesquisa agropecuária e ATER), parecem condenadas à extinção, em
Angola.
Como consequência, parte importante dos produtores rurais tem migrado para as cidades mais
próximas, abandonando muitas das explorações agropecuárias.
A demanda por alimentos, em Angola, está hoje totalmente dependente de importações. A partir
de 2021, são cada vez mais frequentes as crises de abastecimentos e os levantes populares
motivados pela falta de alimentos.
40
5.2. CENÁRIO 1: ‘MESA FARTA’
O Cenário “Mesa Farta” foi construído buscando antever os desdobramentos futuros de um
processo de desenvolvimento de Angola, baseado na diversificação da economia, no contexto da
qual o país prioriza o desenvolvimento agrícola e a inovação tecnológica. Inovação é aqui
entendida como a produção e aplicação de conhecimento no sector agrícola, resultante de um
plano de desenvolvimento institucional e estratégico, para estabelecer capacidade nacional de
produzir Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tecnológico e promover sua adopção pelo sector
produtivo angolano, por meio da modernização e o fortalecimento da Assistência Técnica e
Extensão Rural (ATER) aos produtores. O objectivo último desse esforço é utilizar o potencial do
sector para contribuir para o desenvolvimento económico e social do país, melhorar a qualidade
de vida e a segurança alimentar de sua população e a competitividade de Angola como produtora
agrícola, tanto no quadro africano como no quadro mundial.
A construção do Cenário Mesa Farta pressupõe que o Governo Angolano desenvolverá um plano
de investimento para promover o Desenvolvimento Agrícola como um sector prioritário, aí
prevendo o investimento na reconstrução e fortalecimento da capacidade de P&D e de ATER, nas
infraestruturas de logística, de conservação, beneficiamento, e escoamento da produção e na
modernização e facilitação de acesso ao crédito rural, entre outras medidas institucionais de apoio
à produção e ao produtor. O foco maior será incrementar substancialmente a produção nacional,
visando reduzir a dependência de importações e as incertezas no abastecimento interno de
alimentos e de matérias primas de origem agrícola, enfatizando a sustentabilidade, o
desenvolvimento social e o desempenho produtivo como critérios de avaliação e
acompanhamento.
Nesse contexto foram selecionadas variáveis chaves, consideradas fundamentais para na
determinação da evolução das dimensões “Ecossistemas”, “Consumidores Finais” e “Cadeias
Produtivas”, e, em um esforço colectivo de experts e técnicos, estudado seu comportamento,
frente aos desdobramentos plausíveis dessas políticas, tendo por linha de base o ano de 2014 e,
como horizonte de tempo para sua evolução, o ano de 2025. Seguem os resultados dessa
construção.
41
5.2.1. Ecossistemas no cenário 1: Mesa Farta
ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
O esforço para incentivar a agropecuária no país engloba também programas de atenção ao meio
ambiente, visando a conservação de recursos naturais essenciais, tais como solo e água. Também
se iniciam programas de P&D relacionados a práticas sustentáveis de uso do solo, acessíveis aos
pequenos produtores. Há um esforço também para aumentar o conhecimento sobre as variações
do clima em cada bioma e dos factores associados à sua previsibilidade. Em consequência,
observam-se melhorias substanciais no uso de práticas sustentáveis, no conhecimento dos
recursos e no seu uso em cada bioma. Estas melhorias, associadas ao aperfeiçoamento dos
modelos de previsão do clima, contribuem para a redução dos riscos relacionados a calamidades
ou eventos climáticos extremos, tais como inundações, secas e ciclones. Todas estas mudanças
favorecem a manutenção das condições edafoclimáticas favoráveis nos principais biomas
angolanos.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
A disponibilidade total de água nos principais biomas de interesse agrícola de Angola, aí incluídas
a água doce disponível em rios permanentes, água da chuva e outros corpos de água permanentes,
tem se mantido ao longo da última década. Esse resultado deveu-se a programas governamentais
de gestão do recurso implantados com êxito no final da década passada, não obstante eventual
ocorrência de calamidades climáticas, tais como alguns períodos de seca, e do aumento do volume
de água tratada, ofertado para consumo humano.
A despeito da intensificação das actividades económicas tradicionais baseadas no petróleo, que se
mantêm como as mais importantes do país, a competição pelo uso da água não foi tão intensa a
ponto de provocar mudanças importantes na disponibilidade de água nos biomas. De fato há novas
iniciativas sendo implantadas para melhorar a gestão da água e mediar o esperado aumento da
demanda, tanto para uso humano como para o uso agrícola e para as demais explorações
económicas. Em consequência, a disponibilidade de água nos biomas tem se mantido adequada e
suficiente para o desenvolvimento do país até aqui, e deverá ser mantida, mesmo diante das taxas
relativamente elevadas de crescimento das demais actividades económicas e da demanda para
uso humano.
42
5.2.2. Consumidores no cenário 1: Mesa Farta
RENDA PER CAPITA
Além do sector petrolífero, outros sectores económicos têm sido incentivados a participar da
geração de renda, havendo incentivos tanto para a agricultura tradicional quanto para a
agricultura empresarial. Situação semelhante é observada na indústria. Melhora bastante a oferta
geral de emprego em Angola, com salário melhores, tanto nos sectores agrícolas, como nos
sectores industriais e de serviços. O PIB de Angola continua apresentando crescimento substancial
no contexto das nações africanas e, como consequência, a renda per capita tem se elevado ao
longo da última década.
PREÇOS DOS ALIMENTOS
Há, de forma geral, uma maior oferta de alimentos (resultado da produção local complementada
por importação), melhorando a relação entre a oferta e a crescente demanda angolana, em
resposta aos incentivos oferecidos para o sector agropecuário e para os agricultores. Obtiveram-
se também reduções nos custos da produção doméstica em razão da intensificação tecnológica
dos sistemas produtivos familiares. Empresas agrícolas, por sua vez, que utilizam maior proporção
de insumos, também têm obtido rendimentos mais elevados devido à tecnologia adoptada. A
qualidade dos alimentos apresenta melhorias, ainda que modestas, e os preços dos alimentos
caem de forma sensível.
REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS
Como resultado de incentivos à agricultura, há uma maior oferta de alimentos produzidos em
Angola. Há também uma diminuição da sazonalidade (e irregularidade) da produção local,
resultante de melhorias no maneio das culturas e redução de perdas da produção provocadas por
secas. Os investimentos voltados à melhoria na estrutura de distribuição dos produtos alimentícios
contribuíram para regularizar o abastecimento em quase todos os pontos do país. A maior oferta
da produção doméstica de alimentos, para a qual contribuiu substancialmente a multiplicação de
empresas agrícolas no país, permitiu reduzir a necessidade de importação. De forma geral, a
combinação de todos esses factores contribui sensivelmente para a regularidade da oferta de
alimentos no país, reduzindo a possibilidade da ocorrência de problemas de segurança alimentar
em Angola a eventos pontuais.
43
5.2.3. Cadeias produtivas no cenário 1: Mesa Farta
USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Foram realizados fortes programas de educação e capacitação de produtores, com impacto
positivo no nível educacional, técnico e gerencial dos produtores agropecuários. As empresas
agrícolas passaram a ser mais organizadas e aumentou a demanda por tecnologia, em particular
por materiais de propagação melhorados. A demanda crescente de alimentos, derivada do
aumento da população, levou o governo angolano a realizar investimentos consideráveis na
pesquisa, em particular na formação de pessoal e em infraestrutura. Os programas de
melhoramento genético vegetal e animal foram reestruturados, fortalecendo-se sua base
científica, resultando na produção de materiais melhorados, posteriormente adoptados pelos
produtores agropecuários. A adopção dessa tecnologia contribuiu consideravelmente para
aumentar os rendimentos da produção agrícola no País e estabilizar a produção e os preços dos
produtos.
PREÇOS DOS INSUMOS
A prioridade conferida ao desenvolvimento agrícola pelo governo angolano resultou na
implantação do programa de produção nacional de insumos, tirando proveito da capacidade
tecnológica da indústria nacional de petróleo, propiciando o desenvolvimento de tecnologias e da
produção de matérias primas e dos principais insumos agrícolas no país, respondendo às
necessidades nacionais. Por sua vez, o reforço institucional das organizações de pesquisa agrícola
resultou na geração de tecnologias adequadas para o uso de insumos nos sistemas produtivos. Por
seu turno, os incentivos governamentais, sob a forma de aumento do valor do crédito, seguro e
outros instrumentos de apoio à agropecuária propiciaram o crescimento da demanda de insumos,
ao mesmo tempo em que favoreceram o desenvolvimento de organizações colectivas de
produtores, fortalecendo-os para enfrentar o mercado fornecedor de insumos e barganhar
melhores preços. Outro factor importante na formação dos preços dos insumos foi a melhoria do
programa de importação dos insumos e máquinas a preços competitivos, que ajudou a controlar
os preços no mercado interno de insumos. Um factor indirecto, mas com grande importância na
adopção de tecnologias é o nível educacional. A alfabetização no meio rural, componente do
programa de desenvolvimento agrícola, teve um impacto positivo importante na adopção de
novas tecnologias, contribuindo para o aumento da demanda por insumos. Observa-se assim um
44
círculo virtuoso: o mercado favorável, pelo aumento do consumo, propiciou economias de escala
na produção, levando à prática de preços relativamente menores de insumos, cuja maior adopção
resultou em aumentos de rendimentos dos produtores.
SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS
Como resultado da politica do Executivo Angolano em aumentar investimentos e incentivos na
estrutura nacional de produção, cresceu a produção nacional de insumos. Ao mesmo tempo, a
prioridade e os incentivos conferidos ao desenvolvimento agrícola e à inovação tecnológica,
propiciou uma crescente demanda nacional por insumos agrícolas, alimentada pela melhoria do
nível tecnológico dos produtores. O desenvolvimento da produção nacional de insumos agrícolas
teve como consequência alterações s na política de importação desses produtos, com a supressão
de incentivos e facilidades, que contribuíram para a diminuição das importações desses produtos.
Com a consolidação da produção nacional de insumos, as importações desses produtos passaram
a ter o papel de complementação do abastecimento doméstico e de estabilização dos preços no
mercado interno em caso de pressões inflacionárias no mercado interno.
DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS
A política de desenvolvimento agrícola, implantada pelo governo angolano, priorizou a
capacitação técnica e gerencial dos produtores, os investimentos em infraestrutura de acesso aos
mercados e escoamento da produção e, também, o acesso ao crédito agrícola de campanha e para
investimentos em infraestrutura nas fazendas. Como resultado dessas políticas, a produção
agrícola no País foi impulsionada, resultando em maior rentabilidade para os produtores. O
aumento de rentabilidade, por sua vez, levou a um aumento da área das explorações
agropecuárias, à compra de máquinas e equipamentos e à reabilitação e ampliação da
infraestrutura de movimentação, de processamento e de conservação e armazenamento da
produção.
PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES
Apesar das condições climáticas favoráveis a emergência de pragas e doenças em Angola, a
actuação da estrutura de inovação tecnológica do País resultou na melhoria da capacidade técnica
e gerencial dos produtores nas práticas de maneio e controle de pragas e doenças, tanto no uso
de pesticidas quanto nas práticas de maneio integrado. A transferência intensiva desses
45
conhecimentos aos produtores permitiu amenizar os prejuízos causados por pragas e doenças ao
sector agropecuário e melhorar substancialmente a produtividade das culturas e criações.
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
As políticas de desenvolvimento agrícola incentivaram a introdução e a expansão da produção
interna de matérias primas para formulação de rações para alimentação animal. As instituições de
pesquisa e assistência técnica desenvolveram e transferiram aos produtores tecnologias de
produção de cereais e leguminosas e de aproveitamento de subprodutos da agricultura que
permitiram o desenvolvimento de uma indústria nacional de rações, com impactos bastante
positivos no desenvolvimento da produção animal do país, beneficiando principalmente os
produtores de aves e suínos. A redução obtida nos custos da alimentação animal promoveu o
aumento da produção nacional e o fortalecimento das cadeias produtivas de origem animal
angolanas, aumentando sua rentabilidade. Como resultados, Angola diminuiu substancialmente
as necessidades de importações de rações e seus ingredientes, bem como dos próprios produtos
finais de origem animal, como carnes, ovos, entre outros.
DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA
A prioridade conferida pelo Governo ao desenvolvimento das comunidades rurais resultou em
uma diminuição dos fluxos de migração para as áreas urbanas, fruto da melhoria das condições
sociais nas províncias do interior do país. Programas de capacitação e incentivo ao aproveitamento
local da mão de obra ajudaram a reter uma proporção maior da população rural nas suas zonas de
origem e a melhorar a oferta de mão de obra qualificada. Este incremento na capacitação,
associado aos investimentos em inovação tecnológica na produção agropecuária, proporcionaram
um aumento da remuneração e na oferta da mão de obra, assim como um incremento nos
rendimentos da produção agropecuária.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Em face da necessidade de aumentar a produção nacional e reduzir importações de alimentos, o
Governo priorizou a inovação tecnológica, investindo fortemente nas instituições de pesquisa e de
ATER. As instituições de pesquisa e de ATER se organizaram internamente, passando a trabalhar
de forma articulada e sistêmica. Foram aplicados recursos na geração e transferência de sistemas
de produção para as principais cadeias produtivas de alimentos, que atenderam as principais
46
demandas do sector produtivo agrário do País. A boa articulação entre a pesquisa e ATER
possibilitou a introdução de novos métodos de transferência de tecnologia, o que acelerou a
adopção dos sistemas de produção recomendados pela pesquisa e ATER. A adopção dos sistemas
de produção contribuiu para o aumento da eficiência produtiva e da produção em geral.
ACESSO A CRÉDITO RURAL
Entre as medidas de incentivo à actividade agropecuária adoptadas pelo Governo de Angola,
constaram a facilitação para a instalação de empresas agropecuárias no país e a criação de
programa de crédito rural com taxas de juros adequadas às condições dos diferentes segmentos
de produtores em Angola. Aumentou-se sobremaneira o volume de recursos disponíveis dentro
deste programa (face aos programas anteriores), e foram criadas novas fontes de financiamento,
buscando atender a diferentes segmentos e suas demandas específicas. Por exemplo, há fontes
para o financiamento de infraestrutura nas fazendas, adequadas para pequenos e médios
produtores. Estendeu-se de forma importante a capilaridade da rede de financiamento. As normas
de crédito, inclusive em relação ao processo burocrático necessário à sua obtenção, foram
revistas, no sentido de facilitar a tramitação de novos pedidos. Como resultado, verifica-se no país
o aumento do acesso ao crédito, permeando toda a actividade agropecuária. Em consequência
observa-se um maior rendimento da actividade agropecuária e uma maior disponibilidade de
recursos para os segmentos de produtores mais vulneráveis.
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)
O fortalecimento de novos sectores económicos como geradores de renda para Angola levou a
uma priorização das actividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) agro-pecuário, bem como
para a assistência técnica e extensão rural (ATER), com forte participação do governo no
financiamento destas actividades. Aumentaram, dessa forma, as inversões do país em inovação
tecnológica para a actividade agropecuária. O governo investiu, também, na adequação e
manutenção de infraestrutura adequada para estas actividades. Essas inversões levaram a um
aumento da produção agropecuária em Angola, tanto em termos de rendimentos como de
qualidade de produtos, praticamente afastando os riscos de problemas no abastecimento e de
segurança alimentar em Angola.
VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS
47
Como parte de sua decisão em fortalecer a actividade agropecuária, o governo implementou várias
formas de apoio ao produtor, disponibilizando crédito e programas para facilitar o acesso aos
mercados, tanto para a compra de insumos como para a venda de produtos. Há também uma
maior consciência nacional de importância da logística para garantir que os alimentos produzidos
no país cheguem aos distribuidores e ao consumidor final. Com esse objectivo aumentou o esforço
de planeamento e gestão da logística aí envolvida. O incentivo à participação de empresas na
actividade agropecuária estimulou o investimento privado em infraestrutura viária para acesso às
propriedades produtoras. Como contrapartida o governo angolano disponibilizou máquinas e
treinamento a trabalhadores locais para sua operação. Estas medidas levaram a um substancial
aumento e melhoria das vias de acesso (estradas secundárias e terciárias) às fazendas.
48
5.3. CENÁRIO 2: ‘MESA INCERTA’
A base deste cenário – iniciado em 2015 - sustenta-se na crença de que a inovação, pela
incorporação de tecnologias aos processos produtivos no campo permite o aumento expressivo
da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos no país; a melhoria da
atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos nutricionais; e o
cuidado com o meio ambiente, o provedor mais importante de recursos e serviços necessários à
agricultura, e de qualidade de vida para a população.
As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao
aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda
dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à
preservação de recursos naturais (água, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola
estão fortemente orientadas para estes objectivos.
A alta expectativa induzida no sector agropecuário por estes planos e metas, no entanto, revela-
se ter impacto apenas parcial, em função da baixa prioridade conferida ao desenvolvimento
agrícola e suas ferramentas de intervenção no sector. Esta situação é refletida, por exemplo, na
reestruturação incompleta dos Institutos de Investigação Agronomica e Veterinária tanto em
termos de recursos humanos como de sua infraestrutura física. O mesmo tem se verificado com a
reestruturação planejada para a organização pública de ATER, inicialmente considerada como
elemento importante da diversificação econômica angolana. O crédito agrícola sofre algum ajuste,
mas não suficiente para incentivar ou mesmo atender as necessidades de crédito da agricultura
familiar.
5.3.1. Ecossistemas no cenário 2: Mesa Incerta
ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
É um cenário que se encaminha para depender quase que exclusivamente da actividade de
exploração de recursos minerais, a preocupação com a agricultura e com as condições
edafoclimáticas nos biomas é tarefa muito pontual, para poucos pesquisadores abnegados, mas
cujo esforço tem sido deixado de lado pelos gestores. O conhecimento gerado não é incorporado
na actividade agrícola. As práticas agrícolas usadas no passado se tornam ainda mais populares.
49
Eventuais calamidades podem degradar ainda mais o meio ambiente. As condições
edafoclimáticas nos biomas pioram, em comparação com o que se observava em 2014.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
A disponibilidade total (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água da chuva,
corpos de água permanentes) observada em 2014 está sendo alterada por: a) uma pequena
estação de seca, que durou um ano, a partir de 2015; b) aumento do uso da água para consumo
humano, graças a programas de governo que foram implantados com êxito, no final da década.
Estes factores – que reduziram a disponibilidade – foram contrabalanceados por: a) pouca ou
mesmo nenhuma mudança na actividade agrícola no país, o que significou baixa demanda por
água nesta actividade; e b) medidas de gestão do uso da água para consumo humano, evitando
perdas e garantindo qualidade. Como consequência, a disponibilidade de água nos biomas
priorizados se mantém adequado para as necessidades das actividades económicas que sustentam
hoje a economia do país.
5.3.2. Consumidores finais no Cenário 2: Mesa Incerta
RENDA PER CAPITA
O sector petrolífero mantém a mesma participação no PIB que a verificada por volta de 2014 (45%),
e o mesmo ocorre com outros sectores da economia (por exemplo, agricultura 10%, e indústria,
7%). Algumas medidas do governo indicam que o sector de recursos minerais pode ser ainda mais
importante no futuro próximo, e poucos empresários pensam em investir nestes sectores. O
crescimento da população se apresenta como esperado, e o crescimento da renda per capita se
reduz para 3,6%, em relação ao ano anterior, quase o mesmo valor que o da média de crescimento,
entre 2011 e 2019.
PREÇOS DOS ALIMENTOS
A pouca ênfase em políticas para a agricultura não provocou mudanças significativas em termos
de incentivos concretos aos produtores. Os pequenos agricultores sem incentivos concretos,
mantiveram seus padrões de produção. Algumas empresas se arriscam em empreendimentos
agrícolas, buscando oportunidades de mercado. Há forte importação de alimentos para atender a
demanda nacional, pouco suprida pela produção interna. Os preços de alimentos são voláteis,
50
pela dependência de importações, e podem ocorrer problemas eventuais de abastecimento e
segurança alimentar.
REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS
O baixo apoio ao desenvolvimento agrícola desestimula a produção local, mantendo-a em seus
níveis históricos. Há ainda instabilidade, provocada pela pouca incorporação de inovações
tecnológicas aos sistemas produtivos do País. Ocorrem perdas provocadas por fenômenos
climáticos. Também há dificuldades a superar em relação à distribuição de alimentos. A
estagnação da produção local requer a importação de alimentos. A oferta de alimentos em Angola
continua irregular.
5.3.3. Cadeias produtivas no Cenário 2: Mesa Incerta
USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Foram realizados alguns programas de educação e capacitação de produtores, o que aumentou a
demanda do sector produtivo agropecuário por materiais de propagação melhorados. O Governo
OA investiu na pesquisa, o que permitiu a proposição e execução de alguns programas de
melhoramento genético vegetal e animal. Estes programas, entretanto, não lograram alinhar-se
as demandas dos produtores e produziram alguns materiais que tiveram problemas de adopção
por parte dos usuários. A pouca prioridade governamental ao desenvolvimento agrícola não
permitiu obter elevados índices de rendimento das actividades agropecuários de segmentos de
produtores.
PREÇOS DOS INSUMOS
Poucos investimentos públicos no sector agrícola não permitiram a pesquisa gerar adequadas
tecnologias de produção de matérias primas de insumos para responder a demanda dos
produtores. A pouca oferta nacional de insumos, favorecida pela falta de incentivos a á produção
nacional manteve o País na dependência de importações e os consequentes altos preços ao
produtor. A desmotivação provocada por este quadro negativo concorreu para a desestruturação
das organizações colectivas dos produtores. Expostos de forma isolada a um mercado baseado em
importações, os produtores tiveram que enfrentar altos preços de insumos, incompatíveis com os
seus sistemas de produção.
51
SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS
No quadro da política do Executivo Angolano o desenvolvimento agrícola teve pouca ênfase, o que
resultou na estagnação da produção agropecuária, embora existisse inovação tecnológica
disponível. A estrutura nacional de produção de insumos não registou um impacto significativo na
oferta nacional, o que tem elevado as necessidades de importação para atender a demanda. O
governo diminuiu os incentivos e facilidades de importação de insumos para atender a demanda.
DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS
O governo estabeleceu uma política de capacitação que resultou num aumento substancial das
capacidades técnica e gerencial dos produtores. Todavia, esta política não foi acompanhada por
financiamentos de investimentos nas unidades produtivas, que seguiram com problemas para
processar, armazenar e transportar suas produções, pelas deficiências de infraestruturas nas
propriedades. Dessa forma, os incrementos de rendimento das explorações agropecuárias foram
limitados.
PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES
O conhecimento sobre a dinâmica das pragas e doenças existentes nos diferentes ecossistemas do
país cresceu nos anos recentes, em função da actuação da pesquisa agropecuária, que identificou
agentes causais e gerou tecnologias de controle químico com defensivos e formas de maneio
integrado de pragas e doenças. Todavia, os resultados da pesquisa não foram transferidos aos
produtores, por deficiências na estrutura de assistência técnica e na capacitação dos mesmos.
Assim, as condições climáticas favoráveis contribuíram para o desenvolvimento e disseminação
das pragas e doenças que não foram controladas, pela falta de capacitação dos produtores e pelas
dificuldades em adquirir os defensivos necessários para o controle.
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
A demanda por matérias primas aumentou consideravelmente, motivada pela pouca
disponibilidade de matérias primas de produção nacional. A importação de matérias primas não
atendeu a demanda, devido aos altos preços da sua aquisição, refletindo-se negativamente nos
custos de alimentação animal, mesmo com a introdução de inovação tecnológica nos sistemas de
produção animal. A rentabilidade da produção pecuária, que deveria ter aumentado, ficou
comprometida por este aumento de custos de produção.
52
DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA
Os limitados investimentos governamentais não permitiram a criação no meio rural de programas
de capacitação e incentivo de mão de obra local, o que contribuiu para a manutenção da fuga da
população rural para as áreas urbanas. A disponibilidade de operários rurais não aumentou, uma
vez que a densidade populacional nas áreas rurais pouco se modificou. O pequeno aumento de
mão de obra qualificada contribuiu para um incremento localizado do rendimento da actividade
agropecuária, provocado pelo aumento da eficiência da mão de obra, nos locais onde os poucos
programas de qualificação da mão de obra foram executados.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
O Governo passou a priorizar a inovação tecnológica, investindo nas instituições de pesquisa.
Melhor organizadas internamente, estas passaram a trabalhar de forma sistêmica, desenvolvendo
sistemas de produção para as principais cadeias produtivas do País. Os sistemas desenvolvidos
satisfizeram as principais demandas por inovações tecnológicas por parte dos produtores. Porém
a falta de investimentos nas organizações de ATER e em políticas de apoio ao produtor rural, não
permitiram o enlace com as organizações de pesquisa. Como consequência, os sistemas de
produção da pesquisa foram pouco adoptados pelos produtores, que apresentaram poucos
avanços em eficiência produtiva e melhoria de rendimentos.
ACESSO A CRÉDITO RURAL
A agricultura não é sector priorizado nas políticas de governo, que prefere aprofundar a
participação do sector petrolífero, inclusive para atender às demandas alimentares da população,
por meio de recursos financeiros gerado por este sector. Por esta razão, o volume de recursos
disponíveis para o crédito agrícola continua baixo, são poucas e inadequadas as fontes de
financiamento, a rede de atendimento aos produtores interessados apresenta pouca capilaridade
e as normas de crédito dificultam a tomada de crédito pelos produtores. É muito pequena a
capacidade de acesso destes produtores ao crédito rural.
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)
A economia angolana não tem a matriz produtiva diversificada, como tanto se pregou durante os
últimos dez anos. O sector petrolífero é hoje praticamente o principal responsável pela geração de
renda no país. Como resultado, existem inversões em P&D e ATER, com base em investimentos do
53
Governo e de institutos estrangeiros de incentivo à agricultura (especialmente fundações). A P&D
e a ATER melhoraram suas infraestruturas, as quais poderiam atender as demandas de produção
agropecuária do país, o que não tem ocorrido pelas deficiências estruturais apresentadas pelo
sector agrícola.
VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS
Dada a opção pela importação de alimentos, o governo não tem incentivado a construção ou
manutenção de vias terciárias para acesso às fazendas. As vias de acesso continuam precárias, por
depender de esforços locais ou individuais para se manter EM em operação. A produção nacional
é prejudicada, pelas dificuldades deos produtores escoarem suas produções e acessar mercados.
54
5.4. CENÁRIO 3: ‘MESA CARA’
No ano de 2025, avanços no âmbito socioeconómico são facilmente percebidos em Angola, que
se mostra com uma matriz produtiva diversificada, onde a agricultura tem sua importância
assegurada. A balança comercial nacional proporciona divisas, que se transformam em projectos
de desenvolvimento agrícola, traduzidos na forma de ampliação da gama de recursos financeiros
para atender a demanda por maior produção de grãos, cereais, hortifrutigranjeiros e de produtos
geradores de proteína animal. Máquinas, infraestrutura e sistema logístico (abastecimento e
transporte) são prioritários entre as linhas de crédito. As importações de insumos e produtos são
mantidas, com o objectivo de garantir o abastecimento interno.
Apesar da pujança de projectos voltados ao sector agropecuário, vê-se a manutenção dos preços
altos no sector – tanto para os insumos, quanto para o produto final. As evidências se mostram
vinculadas a uma baixa produtividade, uma vez que pouca prioridade é dada pelo Estado para
políticas que favoreçam a inovação tecnológica. Faltam recursos financeiros para a geração de
projectos de pesquisa, além da ausência de programas de ampliação e capacitação de técnicos
para os institutos de pesquisa (sobretudo para atender as demandas do IIV e do IIA). Toda essa
realidade favorece a um quadro de incertezas para a sustentabilidade social e econômica de
Angola para o médio e longo prazos.
5.4.1. Ecossistemas no Cenário 3: Mesa Cara
ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
O clima de optimismo com a ampliação dos projectos de desenvolvimento socioeconómico
nacional – tendo a inclusão da agricultura como fonte de geração de renda para o país – amplia a
resposta de investimentos no sector produtivo agropecuário, entretanto deixa de lado programas
de inovação com atenção ao meio ambiente. Há poucas pesquisas, no país, que permitam derivar
políticas adequadas ao meio ambiente e programas necessários a uma agricultura sustentável. As
práticas agrícolas da agricultura de subsistência continuam a incluir queimadas, desmatamento,
exploração de madeira de forma indiscriminada para lenha, sobrepastejo, e acções negativas sobre
os solos, que causam erosões e afetam a sua qualidade. O esforço para compreender o clima e os
factores que podem contribuir para a sua maior previsibilidade e regularidade é também ainda
muito restrito. Aliadas a eventuais calamidades, as condições pelas quais são mantidos os sistemas
55
de produção passam a resultar em impactos negativos sobre as actividades agropecuárias e a
segurança alimentar.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
A disponibilidade total de água (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água
da chuva, corpos de água permanentes), observada em 2025 não sofreu a influência de
calamidades climáticas ao longo dos últimos anos, mas está sendo alterada pelo aumento sensível
do uso da água para consumo humano, graças a programas de governo voltados ao
desenvolvimento socioeconómico das áreas agrícolas, que foram implantados com êxito, e a
decidida implantação de medidas para a diversificação econômica em Angola, que levou a
explorações na agricultura e aumento no uso desta para irrigação. Contudo, tal esforço ameaça a
sua utilização no longo prazo, já que os investimentos em tecnologia para seu uso racional são
precários.
5.4.2.Consumidores finais no Cenário 3: Mesa Cara
RENDA PER CAPITA
Outros sectores são incentivados a participar da geração de renda em Angola. Alguns incentivos
são anunciados, tanto para a agricultura, como para a indústria. No entanto, estes anúncios não
se refletem em políticas que favoreçam o crescimento do PIB. A oferta de emprego, nestes
sectores, o crescimento da população, mais rápido do que o esperado. Embora haja uma crescente
procura por uma ocupação, especialmente por parte dos mais jovens, a renda per capita da
população, em geral, não se altera.
PREÇOS DOS ALIMENTOS
Na condição em que o país se encontra, vê-se uma agricultura ampliada, porém, pouco avançada
tecnologicamente. Mesmo com as iniciativas de apoio governamental ao desenvolvimento
agrícola, há uma continuidade na expressividade da agricultura de subsistência, com pouca
integração ao mercado. Poucas empresas agrícolas não são suficientes para dar conta de atender
a demanda crescente da população urbana, o que determina uma volatilidade da oferta de
alimentos e uma manutenção da necessidade de importação de produtos, muitas vezes, de
qualidade duvidosa. Por conseguinte, mantem-se altos os preços dos alimentos.
56
REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS
Em consequência do quadro acima, há uma irregularidade na oferta de alimentos, uma vez que a
expressiva agricultura de subsistência não se destina às populações urbanas e a importação
também é dependente dos preços das commodities não agrícolas – especialmente o petróleo. O
facto é que há poucas empresas dedicadas à actividade agrícola voltada ao mercado no país e a
tecnologia de produção utilizada é inadequada e ineficiente. A sazonalidade agrícola é também
afectada pela presença de fenômenos climáticos, que levam a uma imprevisibilidade da produção.
5.4.3. Cadeias produtivas no Cenário 3: Mesa Cara
USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Em consequência da baixa prioridade governamental na pesquisa voltada a inovação tecnológica,
observa-se uma falta de materiais melhorados para atender à demanda da produção agrícola
nacional. Ainda assim, os poucos materiais gerados não foram adoptados pela maior parte dos
produtores, que não receberam incentivos e assistência técnica para sua aplicação – embora
houvessem incentivos para o avanço da produção agrícola de maneira geral.
PREÇOS DOS INSUMOS
A realidade do sector agropecuário em Angola mostrou que os incentivos ao desenvolvimento
socioeconómico da agricultura e os pequenos investimentos governamentais na pesquisa e na
produção e transformação de matérias primas para fabrico de insumos produziu alguma
tecnologia e produção nacional. Entretanto, tal situação gerou pouco impacto na redução de
preços destes insumos. Tal situação ocorre no mesmo tempo em que não se viu grandes mudanças
no processo de organização dos produtores em associações e cooperativas, elemento que
permitiu a continuidade da dificuldade de acesso aos mercados e a manutenção dos elevados
preços para aquisição de insumos. O elevado custo destes, aliados á pouca pesquisa no sector,
determinou o seu uso inadequado (normalmente reduzido), repercutindo na manutenção de
baixos rendimentos agropecuários.
57
SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS
Em decorrência da incipiência da produção nacional de insumos – decorrente do fraco
investimento em pesquisa no sector – vê-se a manutenção de incentivos governamentais voltados
à importação e abastecimento de produtos importados.
DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS
Dentro da manutenção de uma política de reconstrução nacional, o Governo oferece crédito aos
produtores rurais para investimento em suas propriedades: instalação para maneio de animais,
vias internas, estrutura para armazenagem e processamento da produção etc. Todavia, esta
política não foi acompanhada por melhorias no sistema de inovação tecnológica do País, o que
determinou a incapacidade de gerar e transferir conhecimento técnico e gerencial aos produtores
financiados. O baixo nível de escolaridade dos produtores proporcionou ainda uma má gestão das
explorações agropecuárias, que embora tenham aumentado em tamanho, não lograram melhorar
em desempenho, gerando uma fraca rentabilidade para os produtores.
PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES
Face à prioridade conferida pelo Governo de Angola ao desenvolvimento agrícola nos últimos
anos, a implementação das vigilâncias fitossanitária e de sanidade animal em diferentes
ecossistemas do país permitiu obter algum conhecimento sobre a existência e a dinâmica das
pragas e doenças que afectam as produções vegetal e animal. Esta atitude ajudou os órgãos de
assistência técnica a estabelecer, junto aos produtores, estratégias técnicas e gerenciais para o
maneio sustentável de pragas e doenças de acordo com os defensivos, vacinas e medicamentos
disponíveis. Todavia, o pouco incentivo à inovação tecnológica neste campo resultou em poucos
avanços nesse controle, impedindo, consequentemente, em incrementos de produtividade nas
culturas e criações do país.
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
Embora o governo de Angola tenha investido no desenvolvimento agrícola, houve pouca aplicação
de investimentos público e privado na inovação tecnológica para o desenvolvimento de estudos e
técnicas de ampliação das fontes de nutrição animal. Tal condição preservou a manutenção dos
padrões de baixos rendimentos e de pouca rentabilidade na produção animal no País. A
disponibilidade de matérias primas alternativas e a utilização de aditivos sofreram poucas
58
mudanças ao longo dos anos, repercutindo em baixa eficiência dos planteis e consequente
manutenção, ou até retração, na demanda.
DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA
O governo fez grandes investimentos nas zonas rurais e provocou, por esta razão, um regresso
massivo de populações rurais deslocadas às suas zonas de origem. Isto repercutiu em um aumento
na disponibilidade de mão de obra nas zonas rurais. Todavia, a baixa prioridade do governo
angolano para a inovação agropecuária impediu que as unidades de produção avançassem em
desempenho e, consequentemente, não demandassem maior efectivo de trabalhadores –
especialmente trabalhadores mais qualificados. O aumento da oferta de mão de obra com baixa
qualificação contribuiu para manter a remuneração dos trabalhadores rurais muito baixa.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Nos últimos anos, mediante o facto de ter sido conferido uma pequena prioridade a inovação
tecnológica na produção agropecuária de Angola, as organizações de pesquisa e de ATER não
lograram responder as demandas do sector rural e, por conseguinte, não geraram a transferência
de conhecimentos e tecnologias de forma sistêmica aos produtores. Baixa produtividade científica
e a pouca articulação entre a pesquisa e a assistência técnica comprometeram a credibilidade das
organizações, gerando uma demanda insatisfeita por inovação tecnológica. A pouca adopção
obtida baseou-se em práticas agrícolas isoladas e tradicionais, com resultados pouco expressivos
no que tange à melhoria da eficiência produtiva e a rendimentos da actividade.
ACESSO A CRÉDITO RURAL
O rendimento dos agricultores, em função do baixo incremento tecnológico em suas actividades,
continua, em geral, baixo, e leva a uma menor disponibilidade de recursos para todos os
segmentos. Isto ocorre, mesmo em presença de medidas governamentais para maior acesso ao
crédito pelo produtor, por meio de programas específicos voltados ao investimento e custeio das
actividades agrícolas. A diversificação destes programas permite a oferta de recursos adequados
às necessidades de agricultores familiares e de produtores empresarias; medidas que minimizam
a burocracia; qualificação de diferentes formas de crédito, para diferentes segmentos de
agricultores; aumento da capilaridade da rede de financiamento, com a instalação de agências
bancárias em locais mais remotos; além do aumento das fontes de financiamento.
59
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA)
As decisões tomadas em relação ao fortalecimento da actividade agropecuária, pelo governo,
ainda não foram estruturadas em programas de governo bem definidos. Isto ocorre por que,
particularmente, ainda não está claro quais medidas serão tomadas em relação à P&D
agropecuária e à ATER, necessárias ao crescimento sustentado da agricultura. Não se sabe também
qual o montante da participação no financiamento destas actividades. A rede de financiamento
para a pesquisa agropecuária continua com a mesma estrutura de antes, sem aumentar sua
capilaridade. Entretanto, em 2025, a demanda pela produção agropecuária se amplia, visto que
muitas acções do governo de Angola favorecem o investimento e o incremento em custeio das
produções agrícolas.
VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS
Entre as medidas de fortalecimento do sector agropecuário, o governo anunciou aquelas que
seriam dirigidas a melhorar a interacção da produção local com os seus mercados mais próximos,
tanto para a compra de insumos como para a venda de seus produtos. Sabe-se que estão sendo
feitas discussões sobre a logística, o crédito para a melhoria de vias terciárias e o planeamento da
logística necessária aos interesses do sector.
60
5.5. CENÁRIO 4: ‘MESA VAZIA’
Há uma redução consistente de recursos para o desenvolvimento agrícola, e também para a
inovação tecnológica na agricultura. Sem incentivos ou apoio, os agricultores migram durante todo
o período para as cidades próximas, abandonando as explorações agropecuárias. Não existe
preocupação, por parte do Governo, com a produção agropecuária local, e a oferta de alimentos
é praticamente dependente de importações. Esta situação provoca crises de abastecimento de
alimentos e intranquilidade social, pela falta de alimentos.
5.5.1. Ecossistemas no Cenário 4: Mesa Vazia
ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS, NOS BIOMAS PRIORIZADOS
A dependência do petróleo, deixando-se de lado outras actividades geradoras de renda, e a
imigração para as cidades de grande parte dos agricultores – além da escassez de recursos para a
pesquisa agrícola – deixa o meio ambiente totalmente sem assistência. As práticas dos agricultores
que ainda estão no campo poderiam ser melhor descritas como de extractivismo (e não
propriamente agrícolas). O conhecimento sobre os biomas e os factores que os influenciam é
muito reduzido. Calamidades eventuais têm potencial para aumentar sobremaneira a degradação
ambiental já existente. As condições edafoclimáticas para a agricultura pioram muito, neste
contexto.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
A disponibilidade de água (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água da
chuva, corpos da água permanentes) observada em 2014 foi fortemente afectada pela ocorrência
de calamidades climáticas (tal como períodos de seca). Houve um aumento do uso da água para
consumo humano, graças a programas de governo que foram implantados com êxito, no final da
década. O país abandona o projecto de diversificação da economia de Angola, e intensifica
fortemente a exploração petrolífera, agora praticamente a única fonte de geração de renda. A
gestão da água é abandonada em prol dos resultados económicos. A disponibilidade de água nos
biomas está fortemente comprometida, e o país começa a discutir alternativas para solucionar o
problema.
61
5.5.2. Consumidores finais no Cenário 4: Mesa Vazia
RENDA PER CAPITA
O sector petrolífero aumenta sua participação no PIB, a expensas de outros sectores como
agricultura e indústria. A população cresce, ainda que a taxas decrescentes. O sector petrolífero
não logra atender à demanda por emprego desta população. Aumenta o número de pobres em
Angola. A renda per capita verifica reduções relevantes, nos últimos anos. Em 2025, o crescimento
do PIB per capita é de apenas 2,4% em relação ao ano anterior.
REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS
A saída de grande parte dos agricultores angolanos do campo reduz fortemente a produção local.
Esta atende tão somente as regiões mais próximas, assim mesmo em pequenas quantidades. A
importação se faz essencial. No entanto, esta importação apresenta também dificuldades a ela
inerentes (como a volatilidade nos preços de alimentos, durante o ano), o que significa mais custos
para o país. Melhora um pouco a estrutura de distribuição, mas ainda há muitos locais com
dificuldade de acesso aos alimentos. Ainda se verifica irregularidade na oferta de alimentos em
Angola.
PREÇO DOS ALIMENTOS
Os agricultores angolanos - sem incentivos e com pouco alimento para sua própria sobrevivência
– migram (em grande proporção) para as cidades próximas. A oferta de alimentos passa a
depender pesadamente de importações. Há maior oferta, mas também maior irregularidade. Os
preços dos alimentos aumentam, com pequeno aumento em qualidade.
5.5.3. Cadeias produtivas no Cenário 4: Mesa Vazia
USO DE MATÉRIAS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Com a prevalência do baixo nível educacional dos produtores, associada à existência de um
número reduzido de empresas agropecuárias, a demanda de materiais melhorados continuou
baixa. Esta pequena demanda não incentivou o GOA a investir na pesquisa (formação do pessoal
e infraestruturas). Os programas de melhoramento genético vegetal e animal necessários para a
melhoria da situação não foram elaborados. Na ausência de programas de melhoramento
62
genético, não foram produzidos novos materiais para a adopção. Como resultado, houve
diminuição de rendimentos das actividades agropecuárias.
PREÇOS DOS INSUMOS
Não houve investimentos públicos na pesquisa e de incentivos à produção, o que na falta de
tecnologia nacional e de incentivos manteve a produção nacional de insumos estagnada e uma
oferta nacional inexistente. Da mesma forma, a falta de investimentos na produção e
processamento agroindustrial de matérias primas para insumos não favoreceu a produção
nacional. Dessa forma, para atender a pequena demanda, o País apelou para importações,
dificultado por escassez de divisas e controles governamentais. Desestimulados, os produtores
desistiram do cooperativismo, ficando a mercê dos fornecedores de insumos e dos altos preços
praticados pelos mesmos.
SISTEMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E IMPORTAÇÃO DE INSUMOS
Grande parte das poucas empresas do sistema nacional de produção de insumos entraram em
falência, devido aos altos custos de matéria-prima e da pequena demanda por insumos no Pais.
Como consequência, a agricultura no País continuou a ser realizada com um baixo nível
tecnológico. Grande parte da demanda residual tem sido suprida por importações de insumos,
comprometendo a balança de pagamentos fortemente vinculada aos preços do petróleo.
DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS
Devido à elevação do preço do petróleo no mercado mundial nos últimos anos, o Governo
Angolano reduziu o apoio financeiro prestado ao sector agro-pecuário, o que deixou os
agricultores sem programas de treinamentos e diminuiu o volume de crédito agrícola de
investimento para a melhoria de suas infraestruturas. As explorações mantidas com recursos
próprios se mantiveram muito pequenas em áreas de produção. A falta de capacitação técnica e
gerencial, combinada com a escassez de recursos, proporcionou rendimentos muito baixos das
explorações agropecuárias.
PRAGAS E DOENÇAS NAS CULTURAS E CRIAÇÕES
O déficit estrutural e organizacional das instituições ligadas a gestão dos assuntos fitossanitários
do país, e a pouca inovação tecnológica produzida no período limitou a produção e a disseminação
63
de conhecimentos técnicos-científicos sobre pragas e doenças. A capacidade técnica e gerencial
dos produtores no uso racional dos defensivos disponíveis continuou muito limitada. Tendo em
conta a prevalência de condições climáticas favoráveis a ocorrência de pragas e doenças, as
produtividades das explorações foram muito baixas, em função dos prejuízos causados pela falta
de controle sanitário adequado.
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
A falta de conhecimentos e tecnologia sobre formulação de ração, por parte dos produtores de
gado, aliado aos altos preços de matérias primas tem gerado fortes impactos nos custos de
alimentação. A produção nacional de matérias primas é pequena, o que afecta a sua
disponibilidade para os poucos produtores interessados nesta tecnologia. A rentabilidade da
produção animal se manteve constante e baixa nos últimos anos, com impactos nos preços dos
produtos finais das cadeias produtivas ao consumidor de Angola.
DISPONIBILIDADE DE MÃO-DE-OBRA
Face as dificuldades orçamentárias, o governo não investiu no melhoramento das condições
socioeconómicas das zonas rurais, o que manteve a contínua migração da população rural para as
zonas urbanas, agravando ainda mais o déficit de mão de obra já existente. Os programas de
capacitação dirigidos precariamente para a população remanescente não ofereceram uma
contribuição relevante na capacitação dos operários, que pouco capacitados, continuaram a ser
mal remunerados. Este conjunto de factores negativos contribuiu para manter os rendimentos das
explorações agropecuárias muito reduzidos.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIOS
Com recursos crescentes da exportação de petróleo, o governo prefere suprir as necessidades de
alimentos do País com importações, conferindo pouca prioridade à inovação tecnológica. Houve
algum investimento nas organizações de pesquisa e de ATER, mas estes foram feitos de forma
errática e pouco planejada. As organizações seguiram trabalhando de forma isolada e pouco
sistêmica. As importações de alimentos, concorrendo com a produção nacional, desestimularam
os produtores, reduzindo suas demandas por inovação tecnológica. A pouca inovação que ocorreu
no período foi baseada em práticas isoladas, com pouco impacto na eficiência produtiva dos
produtores e na produção agrícola nacional.
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ACESSO A CRÉDITO RURAL
Como resultado de ausência de incentivos à actividade agropecuária, nos anos passados, e à
exclusividade do sector petrolífero como gerador de renda para o país, a agricultura foi fortemente
afectada, levando muitos produtores (a maioria) a deixar o campo. Por esta razão, foi reduzido o
volume de recursos disponíveis para o crédito rural, não se aumentou (as vezes se reduziu) a
capilaridade da rede de financiamento, há poucas fontes de recursos, e as normas de crédito não
se adequam às características dos produtores que permaneram no campo. O rendimento deste
segmento de produtores é muito pequeno, e muitas vezes não lhes permite atender a estas regras.
Torna-se muito difícil o acesso ao crédito rural, neste ambiente.
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA E
EXTENSÃO RURAL)
A agricultura angolana encolheu, nos últimos anos. Claramente, a actividade não é prioridade de
governo, e não pode contar com participação pública em seu financiamento. A demanda por
produção agropecuária reduziu-se, pois o consumidor angolano acredita que poderá sempre
contar com alimentos a seu dispor, por meio de importação. A infraestrutura de P&D e ATER não
foi renovada e se deteriora a cada dia. Praticamente não existem inversões em inovação
tecnológica agropecuária no país.
VIAS DE ACESSO ÀS FAZENDAS
Dada a opção pela importação de alimentos, o governo não incentiva, de forma alguma, a
construção ou manutenção de vias terciárias para acesso às fazendas. Há um esforço centralizado
para garantir que o alimento adquirido chegue ao consumidor final, no entanto, esteja ele onde
for. Neste sentido, e por esta razão, muitas das vias de acesso são recuperadas com financiamento
público.
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6. CONCLUSÕES
O exercício de prospecção sobre o futuro do agronegócio e da inovação tecnológica no período
2014-2025 em Angola permitiu construir quatro hipóteses de futuro para estes temas no País,
sendo uma hipótese muito optimista, que foi denominado de Mesa Farta, duas hipóteses de futuro
não tão brilhantes, batizadas de Mesa Incerta e Mesa Cara, e uma hipótese muito pessimista, Mesa
Vazia, cuja denominação já indica o seu grau de impacto negativo sobre o desenvolvimento da
agricultura em Angola e sobre os consumidores de produtos agrícolas do País.
Obviamente, tais hipóteses servem para indicar aos planejadores, gerentes e formuladores de
políticas públicas quais poderiam ser as consequências futuras de suas decisões actuais e quais
variáveis são mais influentes para determinar um futuro desejável, como sugerido pelo cenário
Mesa Farta, ou um futuro totalmente indesejável, como é o caso do cenário Mesa Vazia.
A construção do Cenário “Mesa Farta” indica que o futuro do sector agropecuário de Angola
poderia ser fortemente impulsionado pela intervenção do governo angolano na implantação de
uma política de diversificação da economia do país, no âmbito da qual o Desenvolvimento Agrícola,
tendo por base a inovação tecnológica, seria um dos eixos prioritários. O cenário indica os
impactos plausíveis que investimentos orientados por essa política poderiam ter sobre a
sustentabilidade ambiental, o desenvolvimento social da população (vistas como consumidores
finais da produção agrícola) e a evolução das cadeias produtivas agropecuárias do país.
Os resultados da análise dessa evolução temporal neste cenário optimista levariam às seguintes
situações:
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Na dimensão “Sustentabilidade”, as políticas de priorização do desenvolvimento agrícola e de
inovação tecnológicas, dirigindo os investimentos para as ações voltadas para garantir a
conservação das condições edafoclimáticas e a conservação de água nos biomas priorizados para
a produção agrícola, garantiriam a oferta dos serviços ambientais essenciais para a
sustentabilidade da actividade produtiva agrícola e ao mesmo tempo, áà preservação destes
biomas.
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DESEMPENHO SOCIAL
Na dimensão “Consumidores Finais” a implantação das políticas priorizadas - Desenvolvimento
Agrícola e Inovação - sobre o desenvolvimento social da população, (considerando como variáveis
críticas a renda per capita, os preços dos alimentos e a regularidade no abastecimento de
alimentos) poderia gerar os seguintes impactos plausíveis em 2025: a) Efeitos positivos
importantes sobre a renda “per capita” dos angolanos, em razão do aumento do PIB, devido à
contribuição do sector agrícola; b) Estabilização dos preços dos alimentos, com diminuição dos
custos finais para o consumidor e contribuição importante para o controle da inflação; c) Maior
regularidade da oferta, com diminuição de importações, e a superação dos problemas de
abastecimento e de segurança alimentar em Angola.
DESEMPENHO DAS CADEIAS PRODUTIVAS
O desempenho das cadeias produtivas, aferido pela eficiência produtiva e pela sua
competitividade, é a resultante de complexas interações entre variáveis associadas e dependentes
de inovação tecnológica e gerencial. A priorização do desenvolvimento agrícola, com inovação, em
Angola, portanto, significa desenvolver políticas amplas, que possam oferecer suporte nas várias
dimensões envolvidas, com persistência em um horizonte de tempo considerável. A presente
análise aponta acções que tornam plausíveis essas construções políticas, a exemplo do que já
ocorreu em outros países. Ademais, de construção dos desdobramentos futuros dessas políticas
no horizonte de 2025 mostra que os benefícios resultantes podem ser substancias, tanto em
termos de desempenho produtivo e competitividade, como em termos de retornos sociais e
ambientais.
Como resposta estratégica, o presente exercício sugere que o cenário Mesa Farta deve ser o
cenário aposta na construção de estratégia para os Institutos de Inovação Tecnológica de Angola
e o cenário Mesa Vazia é a hipótese a ser trabalhada pelos tomadores de decisão para que não
venha nunca a se concretizar.
67
7. LITERATURA CONSULTADA
CASTRO, A.M.G. de; PAEZ, M.L.A.; GOMES, G.C; CABRAL, J.R. Priorização de demandas da
clientela de P&D em agropecuária. Anais do XVIII Simpósio Nacional da Gestão da Inovação
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CASTRO, A.M.G. de; COBBE, R.V.; GOEDERT, W. J. Manual de Prospeçâo de demandas para o
SNPA. Brasília: Embrapa/DPD, 1995. 75 p.
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CASTRO, A.M.G. de; LOPES, M. A.; LIMA, S.M.V.; BRESCIANI, J. C. y ROSINHA, R. Cenários do
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69
ANEXOS
ANEXO 1 - MODELOS RELACIONAIS DE INFLUÊNCIAS SOBRE AS VARIÁVEIS “INCERTEZAS
CRÍTICAS”.
ANEXO 2 - TABELA DE VARIÁVEIS INCERTEZAS CRÍTICAS COM DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO
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ANEXO 1
CONSTRUÇÃO DE ESTADOS FUTUROS A PARTIR DE MODELOS DE RELAÇÕES
ENTRE VARIÁVEIS
Os estados futuros de factores críticos e de incertezas críticas foram construídos a partir da definição de
modelos de relações entre influências de diversas naturezas (social, econômica, ambiental, política) sobre
o factor ou incerteza em análise. Tais modelos representam as relações entre as influências consideradas
mais importantes sobre estes factores ou incertezas.
A premissa por trás de cada modelo é que estados diversos destas influências podem levar a estados
diversos do factor/incerteza.
Na sequência são apresentados os modelos utilizados.
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ECOSSISTEMAS
1. Influências sobre a variável “condições edafoclimáticas nos biomas priorizados”
2. Influências sobre a variável “disponibilidade de água nos biomas priorizados”
Frequência de eventos extremos: inundações,
secas prolongadas, furacões, tufões, etc.
Definição: Grau em que as condições edafoclimáticas são apropriadas para a realização de atividades agropecuárias, nos biomas priorizados.
Regularidade das estações e previsibilidade
do clima
Qualidade dos solos
Condições climáticas: temperatura, chuvas, evapotranspiração,
insolação
ADEQUAÇÃO DAS CONDIÇÕES
EDAFOCLIMÁTICAS NOS BIOMAS
Definição: Quantidade e distribuição dos recursos hídricos existentes no ecossistema, considerando as necessidades da produção agropecuária nestes
biomas.
Variabilidade do volume de água dos rios
Existência de corpos d´água subterrâneos, com suprimento regular e de
qualidade
Existência de rios permanentes
Regularidade do regime de chuvas
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
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CONSUMIDORES FINAIS
1. Influências sobre a variável “renda per capita”
2. Influências sobre a variável “regularidade de oferta de alimentos
3. Influências sobre a variável “preços dos alimentos”
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CADEIAS PRODUTIVAS
1. Influências sobre a variável “uso de materiais de propagação melhorados”
2. Influências sobre a variável “preços dos insumos”
3. Influências sobre a variável ”sistema nacional de produção e importação de insumos”
Inversões no desenvolvimento
de novos materiais
Definição: utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros).
Demandas dos sistemas
produtivos (vegetal e animal)
Programas de melhoramento
genético vegetal e animal
Transferência e adocão de novos
materiais
USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Incentivos a produçãonacional
Definição: Valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos agricultores.
Inversões públicas na oferta de materias
primaspara insumos
Oferta nacional de insumos e maquinas
agrícolas
Tecnología nacional de produção
Organização coletivados produtores
PREÇO DOS INSUMOS
Nivel tecnológico da
produçãoagropecuária
Definição: sistema para a importação e produção de insumos produtivos agropecuários (adubos, defensivos, rações, máquinas, vacinas, medicamentos, sementes e outros).
Incentivos e facilidades para importação de
insumos
Estrutura nacional de produção de insumos
Demanda nacional por insumos
SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO
DE INSUMOS
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4. Influências sobre a variável “disponibilidade de infraestrutura nas fazendas”
5. Influências sobre a variável “pragas e doenças em culturas e criações”
6. Influências sobre a variável “fontes de nutrição animal”
Disponibilidadede crédito de investimento
Definição: disponibilidade de infraestruturas nas fazendas, indispensáveis à produção agropecuária (ex., armazéns, silos, estradas, etc.)
Capacidadetécnica e
gerencial dos produtores
Rendimento da exploração
agropecuáriaTamanho da exploração
DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS
FAZENAS
Conhecimentosobre pragas e
doenças
Definição: ocorrência de pragas e doenças em cultivos e criações promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de
produção
Disponibilidadede defensivos e conhecimento
sobre uso
Condiçõesclimáticas e ambientais
Capacidadetécnica e gerencial
dos produtores
PRAGAS E DOENÇAS DE CULTURAS E CRIAÇÕES
Custos da alimentação
animal
Definição: disponibilidade de pastos, silagem e volumoso, de rações e de cereais para alimentação em produção animal.
Tecnologias e conhecimentos
disponíveis
Rentabilidade da produção animal
Disponibilidade de matérias primas
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
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7. Influências sobre a variável “disponibilidade de mão de obra”
8. Influências sobre a variável “sistemas de produção agropecuária”
9. Influências sobre a variável “acesso a crédito rural”
Rendimentos da atividadeprodutiva
Definição: oferta de mão de obra em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de plantios e criações.
Remuneração da mão de obra
Densidade populacionalnas áreas de produção
Programas de capacitação de mão de obra
DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA
Capacidade e organizaçãointerna da pesquisa
Definição: Conjunto de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos agropecuários dos produtores.
Inversões publicas em apoio a pesquisa e assistência técnica
Demanda por inovaçõestecnológicas
Articulaçãopesquisa/ATER
SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Adequação das normas de
crédito
Definição: capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as atividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.
Rendimento da atividade
agropecuária
Capilaridade da rede de financiamento
Volume de recursos
disponibilizados
Fontes de financiamento
ACESSO A CRÉDITO RURAL
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10. Influências sobre a variável “inversões em inovação tecnológica (P&D e assistência técnica)
11. Influências sobre a variável “vias de acesso às fazendas”
Participação publica no
financiamento da inovação
Definição: aplicações de recursos financeiros dos setores público e privado em instituições de pesquisa agropecuária e de assistência técnica ao produtor rural.
Demanda por produção
agropecuária
Prioridade governamental
Infraestrutura de pesquisa e
assistência técnica
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNÓLÓGICA (P&D E ASSISTÊNCIA TÉCNICA)
Investimentos privados em
infraestruturas viárias
Apoio governamental ao
produtor
Definição: existência de estradas terciárias e outras vias, em condições de transito durante todo o ano, para aquisição de insumos e escoamento da
produção.
Disponibilidade de crédito e programas
governamentais
Disponibilidade de máquinas e
operadores locais
Planejamento e gestao de logistica
VIAS DE ACESSO A FAZENDAS
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ANEXO 2 - TABELA DE VARIÁVEIS INCERTEZAS CRÍTICAS COM DEFINIÇÃO E
DIAGNÓSTICO
ECOSSISTEMAS
VARIÁVEL DEFINIÇÃO DA VARIÁVEL
SITUAÇÃO ACTUAL (2014)
ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
Grau em que as condições edafoclimáticas são apropriadas para a realização de actividades agropecuárias, nos biomas priorizados.
A falta de programas de conservação de solos, associada ao uso de práticas agrícolas inadequadas, queimadas, desmatação desflorestação, lenha e exploração de madeira são factores que contribuem negativamente na qualidade dos solos. As alterações climáticas que se verificam nos últimos tempos são consequência da irregularidade do ambiente climático como o aquecimento global, irregularidade das chuvas, variação na evapotranspiração e insolação, os quais concorrem negativamente na adequação das condições edafoclimaticas dos biomas. Estas alterações têm também influência na regularidade das estações e previsibilidade do clima. Por outro lado a degradação dos solos através da acidificação, perda de nutrientes, deterioração da estrutura, erosão e salinização, poluição por pesticidas e fertilizantes e desmatação constitui outro problema da degradação das condições edafoclimaticas e a frequência de ocorrência de inundações, secas prolongadas (estiagem) em algumas regiões do País. Há redução das condições edafoclimáticas para actividades agropecuárias, em alguns dos biomas priorizados.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS
Quantidade e distribuição dos recursos hídricos existentes no ecossistema, considerando as necessidades da produção agropecuária nestes biomas.
Nos biomas priorizados existem rios permanentes, com excepção do bioma do planalto de kalahari por ser uma zona predominantemente desértica. As quedas pluviometricas do bioma zambeziano ou Miombo e Floresta da Guine ou congolesa são regulares, mais tem-se registado ocorrências de estiagens. Existem lençóis freáticos disponíveis. Apesar da existência de rios permanentes, os seus caudais diminuem no período de Maio à Setembro. Esta diminuição depende das quedas pluviometricas. Angola é o terceiro país africano em reserva de águas; as cinco maiores bacias africanas são compartilhadas pelo país. Por outro lado, a água para consumo humano é muito restrita, tanto em quantidade per capita como em
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potabilidade. O governo tem planos e programas para resolver o problema do acesso à água potável. Em termos de actividades económicas, a agropecuária exerce pouca pressão sobre a disponibilidade deste recurso, dado o baixo uso de insumos que poderia comprometer as fontes de água. A irrigação também é limitada. A gestão da água, por outro lado, não é uma preocupação, em geral, nem dos consumidores nem de produtores rurais. Apesar disto, há quantidade e distribuição suficiente de recursos hídricos para a produção agropecuária, nos biomas priorizados.
CONSUMIDORES FINAIS
VARIÁVEL DEFINIÇÃO DA VARIÁVEL SITUAÇÃO ACTUAL (2014)
RENDA PER CAPITA
Valor médio recebido pelos indivíduos – por meio de trabalho ou subsídios sociais, empréstimos pessoais ou ajuda de terceiros – que pode ser destinado ao atendimento de suas necessidades.
Verifica-se crescimento do PIB e da população. No entanto, este crescimento é muito dependente do sector petrolífero, que gera quase 70% da riqueza nacional. Por outro lado, este sector gera apenas 1% dos empregos para a população economicamente ativa. A população é composta por uma maioria de pessoas jovens (com ainda muito tempo de vida ativa), mas a ritmo decrescente. A renda per capita é relativamente baixa.
PREÇOS DOS ALIMENTOS
Grau em que os preços de alimentos são acessíveis para a compra da maioria dos consumidores angolanos.
A relação entre oferta e demanda de alimentos é instável, dada a irregularidade da produção local, e a necessidade de compensar a falta de vários alimentos por meio de importação. Os custos da produção local são baixos – pelo pouco uso de insumos e o baixo custo da mão de obra. A qualidade dos alimentos não é nem muito alta, nem muito baixa, considerando o conjunto de alimentos produzidos no país e os importados. A reduzida previsibilidade da produção local (e a consequente necessidade de recorrer à importação), eleva os preços dos alimentos, em geral.
REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS
Estabilidade na comercialização de alimentos, ao longo do ano.
A produção interna de alimentos não satisfaz a demanda, em parte devido à sazonalidade de grande parte das culturas alimentares. A maioria dos alimentos são importados. Há falta de eficiência das estruturas de armazenamento, conservação e distribuição de alimentos. A oferta de alimentos é irregular. Angola é importador de alimentos. Entre os principais produtos alimentícios importados em 2010, estão os cereais em grão e esmagados (US$ 293 milhões); carne de aves (US$ 282 milhões); preparações alimentícias (US$ 276 milhões); gorduras e óleos animais e vegetais (US$ 163 milhões); açúcar e álcool (US$ 156 milhões); preparações de carnes, peixes e crustáceos (US$ 153 milhões); leite e laticínios (US$ 149 milhões); cerveja (US$ 145 milhões); vinhos, vermutes, vinagres (US$ 141 milhões); carne bovina (US$ 126 milhões); e carne suína (US$ 92 milhões). Em
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2013, estimou-se que o país produzia 50% dos cereais de que necessitava (estimado em 3 milhões de toneladas. O PNB 2013-2017 previu que no último ano contemplado o país alcançará 90% da produção demandada de cereais.
CADEIAS PRODUTIVAS
VARIÁVEL DEFINIÇÃO SITUAÇÃO ACTUAL (2014)
USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS
Utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros).
A utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros) depende da existência de programas de pesquisa em melhoramento genético. Existem no país programas de melhoramento genético vegetal e animal, porém pouco operacionais e muitas vezes sem bases cientificas sólidas. Aliado a isto, há pouca demanda dos sistemas produtivos vegetal e animal no uso de materiais melhorados, o que tem limitado os investimentos no desenvolvimento de novos materiais. Estes factores somados têm resultado numa débil transferência e adopção de novos materiais.
USO DE OUTROS INSUMOS
Utilização regular de adubos, defensivos, rações, vacinas e medicamentos, em plantios e criações.
A distribuição e a utilização de insumos para a produção agropecuária, no país é irregular e muito limitada. Poucas são as unidades produtivas que utilizam adubos, defensivos, vacinas e medicamentos. A maioria das áreas que se dedicam as actividades agrícolas adotam sistemas de produção tradicionais, não usam sementes, adubos ou defensivos. Da mesma forma, as pecuárias bovina, ovina e caprina não adotam pastagens plantadas, rações balanceadas ou uso adequado de vacinas e medicamentos. A produção de ovos e carnes de aves ou suínas em sistemas intensivos são poucas no país, apresentando uma restrita demanda por insumos dessa natureza.
USO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
Utilização regular de máquinas, equipamentos e implementos, em plantios e criações.
A predominância de actividades agrícolas e pecuárias pouco extensivas e tecnologicamente pouco avançadas na maioria dos sítios produtivos do país implica em restrição no uso de máquinas e equipamentos para auxílio à produção. Nas pecuárias bovina, caprina e ovina, o uso de pastagens nativas e a fraca ou ausência completa do uso de rações balanceadas leva a essa condição. A avicultura e a suinocultura também apresentam restrito uso de equipamentos, já que se restringem à pequeno número de produtores. Na agricultura, de maneira geral, de subsistência, limitam suas operações – na maioria das propriedades - às actividades manuais ou com o uso de tração animal.
PREÇOS DOS INSUMOS
Valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos produtores.
O valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos agricultores é em geral, pela inexistência da produção nacional de insumos na formação da oferta. A falta de investimentos públicos na pesquisa e de incentivos à produção, não tem contribuído para a formação de uma tecnologia nacional de produção de insumos, gerando uma oferta nacional quase
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inexistente. Da mesma forma, os baixos investimentos na produção e processamento agroindustrial de matérias primas para insumos não tem favorecido o aumento da produção nacional. Dessa forma, para atender a pequena demanda, o País tem se suprido com importações, o que encarece sobre maneira os seus custos. A falta de dinamismo associativo e cooperativo dos produtores dificulta o acesso e a negociação de preços com o mercado fornecedor.
SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS
Sistema para a importação e produção de insumos produtivos agropecuários (adubos, defensivos, rações, máquinas, vacinas, medicamentos, sementes e outros).
A produção interna de insumos agrícolas é insignificante para atender a demanda, por isso, grande parte deles é importado, o que resulta em baixa disponibilidade, altos custos de aquisição e baixo nível tecnológico da agricultura e, consequentemente baixa produção. Embora haja incentivos aduaneiros na importação de insumos destinados a produção de alimentos, existe constrangimentos de ordem burocrática, no processo de desalfandegamento de produtos.
ACESSO À AQUISIÇÃO DE INSUMOS
Disponibilidade de pontos de comercialização de insumos nas proximidades das regiões de produção (adubos, defensivos, rações, máquinas, matrizes, sementes, e outros).
Devido à fraca demanda por insumos, consequentemente, a oferta é também restrita. A maior parte dos insumos demandados para as actividades agrícolas e pecuárias (adubos, defensivos, rações, sementes e outros) são ofertados em quantidades fracionadas, já que a produção efetua-se em quantidades pequenas, para lavouras e produções de subsistência. Sendo assim, o custo destes produtos, proporcionalmente, se eleva – o que eleva ainda mais a restrição em seu uso. A ausência de assistência técnica adequada impede, por conseguinte, a aquisição e a adoção de insumos em quantidades e formulações adequadas. Outro factor limitante ao acesso aos insumos está ligado à fragilidade da capilaridade das vias de acesso dos centros de importação e produção destes às localizações e sítios das unidades produtoras. As dificuldades de acesso a crédito aos produtores, na sua maioria, pequenos produtores, impedem ainda mais a aquisição adequada de insumos, máquinas e matrizes.
QUALIDADE DE INSUMOS
Adequação de características de sementes, adubos, defensivos, rações e material de propagação ao melhor desempenho de sistemas produtivos agropecuários.
A ausência de oferta suficiente de assistência técnica e, consequentemente, ausência do adequado conhecimento a respeito das demandas por insumos às diferentes actividades produtivas agropecuárias, nas diferentes regiões do país, limitam a produção potencial e corroboram com o fraco desempenho dos sistemas produtivos locais.
ADEQUAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO À OFERTA AMBIENTAL
Existência de variedades de plantas e raças de animais apropriadas aos biomas priorizados (Mosaico de Floresta Congolesa e Savanas; Zambesíaco e Miombo; Planalto de Kalahari)
DISPONIBILIDA-DE DE INFRAESTRU-TURA NAS FAZENDAS
Disponibilidade de infraestruturas nas fazendas, indispensáveis à produção agropecuária (ex., armazéns, silos, estradas, etc.)
Até o presente (2014), a disponibilidade de infra-estruturas nas fazendas (armazéns, silos, estradas) adequadas para a produção agropecuária é de maneira geral insuficiente. As vias secundárias e terciárias de acesso às fazendas encontram-se quase todas degradadas, o que dificulta o escoamento da produção. Esta situação é fruto de uma
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serie de factores, entre os quais os baixos rendimentos obtidos na maior parte das explorações agropecuárias, a limitada disponibilidade de crédito bancário para investimento nas propriedades, factores estes agravados pela fraca capacidade técnica e de gestão dos produtores para gerir suas pequenas explorações.
PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES
Ocorrência de pragas e doenças em cultivos e criações promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de produção
Angola apresenta condições climáticas e ambientais favoráveis para o desenvolvimento e expansão das diferentes pragas e doenças em cultivos e criações, promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de produção. A falta de conhecimentos sobre sua existencia, dinâmica e maneio, por parte dos técnicos e produtores, torna o país vulnerável aos danos causados por estes vetores. Apesar de existir disponibilidade de defensivos sintéticos, o alto custo da sua aquisição, assim como o desconhecimento dos produtores sobre o uso adequado dos mesmos , limita a capacidade de combate às pragas e doenças em culturas e criações. As perdas causadas por pragas e doenças não foram devidamente estimadas mas sabe-se que tem forte influencia negativa sobre a produção e a productividade no sector agro-pecuário.
FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL
Disponibilidade de pastos, silagem e volumoso, de rações e de cereais para alimentação em produção animal.
Existe em Angola algum conhecimento e tecnologia sobre matérias primas para a produção de ração, mas ainda insuficientes para se obter um aproveitamento efectivo das matérias primas existentes, cuja disponibilidade é baixa. Como consequência, os custos da reção enfrentados pelos produtores são altos, o que tem limitado o seu uso. A alimentação dos ruminantes é feita com base em pastos naturais que são maioritariamente degradados, o que proporciona baixas produtividades na produção animal do País.
CAPACIDADE TÉCNICA E GERENCIAL DOS PRODUTORES
Nível de conhecimentos dos produtores sobre tecnologia e gestão de seus sistemas produtivos
GERENCIAMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO
Organização do processo e maneira de realizar as actividades de produção, em plantios e criações.
DISPONIBILIDADE DE MÃO-DE-OBRA
Oferta de mão de obra em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de plantios e criações.
A densidade populacional nas zonas rurais é baixa devido ao grande êxodo da população rural para as zonas urbanas. Isto influencia negativamente a disponibilidade da força de trabalho nas áreas rurais. Ademais, o nível de capacitação da mão de obra disponível é limitado e os programas de capacitação de mão de obra têm sido pouco efectivos em aumentar esta capacidade. Os baixos rendimentos auferidos pela exploração agropecuária não tem permitido uma remuneração atrativa para os operários rurais.
GERAÇÃO DE RENDA NAS UNIDADES PRODUTIVAS
Valor gerado pela venda de produtos agrícolas em função das dimensões das fazendas
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Conjunto de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos agropecuários dos produtores.
São conjuntos articulados de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos dos produtores agropecuários. Em face de pouca demanda por inovação por parte da agricultura de subsistência praticada pela maioria dos agricultores de Angola, Pela forma como a pesquisa está sendo gerenciada, está em vigor um modelo difuso de geração de tecnologia, baseado em disciplinas científicas, que produz conhecimentos e tecnologias monodisciplinares. Por isso, a organização dos sistemas de produção fica a cargo dos produtores, sendo em sua maioria débeis e ineficientes. Não existe uma integração entre as instituições de pesquisa tecnológica e as de assistência técnica e extensão rural (ATER), resultando deste modo uma fraca e/ou inexistente transferência tecnológica aos produtores. As inversões públicas em inovação tecnológica (nas organizações de pesquisa e de ATER) têm sido limitadas, o que influencia fortemente a eficiência da produção agropecuária, os rendimentos da actividade e o desempenho geral da produção agropecuária de Angola.
QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA
Conjunto de características das matérias primas agropecuárias fornecidas para o processamento e transformação agroindustrial.
ACESSO A CRÉDITO RURAL
Capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as actividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.
Há em Angola uma ppolítica de crédito rural inadequada, com taxa de juros elevadas, período de carência curto, insuficiência de volumes financeiros disponibilizados, falta de instituições de crédito na proximidade, excesso de burocracia, baixo rendimento agro-pecuário originado pelas elevadas taxas de juro e ausência de seguro agrícola. Não existem cooperativas com capacidade de disponibilizar volumes importantes de créditos às organizações colectivas de produtores. É baixa a capacidade de obtenção de recursos para custeio, investimento e comercialização de produtos, para a actividade agropecuária.
ACESSO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA
Obtenção pelos produtores rurais de orientação e capacitação gratuita e de qualidade para as actividades de gestão e de produção agropecuária.
INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)
Aplicações de recursos financeiros dos sectores público e privado em instituições de pesquisa agropecuária e de assistência técnica ao produtor rural.
Há ampla demanda por produção agropecuária, já que o país importa parte importante dos alimentos que consome, produzindo hoje apenas um terço dos cereais que seriam necessários, para a alimentação humana e animal. O reforço da capacidade de pesquisa e inovação dos institutos de investigação (reabilitação e construção de infra-estruturas de apoio à pesquisa e formação do pessoal) mereceu a atenção do GOA. Por outro lado, há ainda forte necessidade de infra-estrutura de pesquisa e de assistência técnica aos produtores, ainda que o Programa de Desenvolvimento de Extensão Rural (PDER) esteja envidando esforço no aconselhamento dos produtores agro-pecuários. As inversões em inovação tecnológica
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ainda são insuficientes para dinamizar, como se espera, a agricultura em Angola.
VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS
Produtividade da terra (medida em Kg ou t de produtos por hectare).
Em 2013, o Governo de Angola lançou o Plano Estratégico de Reabilitação e Conservação de Estradas Terciárias, previsto para ser concluído até 2014. Este Plano previa a recuperação de pelo menos 17 mil e 500 quilómetros de estradas terciárias e resultou da compatibilização das propostas dos governos provinciais e do INEA (Instituto de Estradas de Angola. A rede de estradas terciárias é constituída por cerca de 75 mil quilómetros de extensão. Até a conclusão destas estradas, o produtor rural conta com uma rede de estradas em muito mal estado de conservação.
RENDIMENTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA
Capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as actividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.