Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas...

83
1 CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGOCIO EM ANGOLA Angola, 2015

Transcript of Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas...

Page 1: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

1

CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E

O AGRONEGOCIO EM ANGOLA

Angola, 2015

Page 2: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

2

REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (MINAGRI)

INSTITUTO DE INVESTIGACÃO AGRONÓMICA (IIA) - INSTITUTO DE INVESTIGACÃO VETERINÁRIA (IIV)

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA)

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO)

============================================================

PROJECTO DE COOPERAÇÃO TRIANGULAR SUL-SUL

“ANGOLA-BRASIL-FAO”

“Fortalecimento da Capacidade de Pesquisa e Inovação dos Institutos de Investigação

Agronómica e Veterinária”

CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O

AGRONEGOCIO EM ANGOLA

HUAMBO

2015

Page 3: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

3

CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGOCIO EM ANGOLA

HUAMBO, DEZEMBRO DE 2014.

Grupo Gestor da Estratégia do IIA

- Alberto Ferreira Londa, PhD

- Dibanzilua Nginamau, MSc

- Kiakanua Manuvanga, PhD

- Manuel Nzinga, Lic.

- Maria de Fátima do Nascimento, PhD

- Moniz Paulo Mutunda, PhD

- Nicolau Guilherme Caneta, PhD

- Pascoal Antonio Muondo, PhD

- Santos João da Costa Quizembe, PhD

IIV – Instituto de Investigação Veterinária

- Alexadrino Delgado Miranda, Lic

- Isabel Capitão Ferreira, Lic

- Joaquim Ipanga Nganza, MSc

- Joaquim Manuel Canduco, Lic

- Kinsukulu Landu Kama, MSc

- Luis Sandolo Samuel, Lic

- Maria da Conceição Teixeira, MSc

- Mateus Cazambi Cacalo, Lic

- Mavilde Pires, Lic

- Ruth Chiquemba Vihemba Valentim Silvino, Lic

- Tuzevo Zacarias, Lic

Convidado do IDA – Instituto de Desenvolvimento Agrário

- Avelino Mossande, Lic

Comitê Gestor do Projecto (CGP):

José Amaro Tati, Sec. de Estado de Agricultura, Presidente do CGP

Mpanzo Domingos, Coordenador Técnico

Carlos Henrique Canesin, Representante da EMBRAPA

Cecília Gonçalves Malaguti de Souza do Prado, Representante da ABC/Brasil

Cleonice da Costa, Diretora do IIV

Mamoudou Diallo, Representante FAO/Angola

Equipe de Consultores FAO/EMBRAPA

Antônio Maria Gomes de Castro, PhD

Suzana Maria Valle Lima, PhD

Luís Fernando Vieira, PhD

Marlon Vinícius Brisola, DSc

Page 4: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

4

CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO EM

ANGOLA

INDICE

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................

2. MARCO CONCEPTUAL .....................................................................................................

3. METODOLOGIA ...............................................................................................................

4. DIAGNÓSTICO DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA ............................................................. 4.1. ECOSSISTEMAS ........................................................................................................ 4.2. CONSUMIDORES FINAIS .......................................................................................... 4.3. CADEIAS PRODUTIVAS ............................................................................................. 4.4. FACTORES CRÍTICOS DO AGRONEGOCIO DE ANGOLA ............................................. 4.5. INCERTEZAS CRÍTICAS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA PARA 2025 ........................

5. CENÁRIOS 2025 PARA A INOVAÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO EM ANGOLA ......... 5.1 TEMAS DOS CENÁRIOS 5.2 CENÁRIO 1: MESA FARTA.......................................................................................... 5.3. CENÁRIO 2: MESA INCERTA .................................................................................... 5.4. CENÁRIO 3: MESA CARA.......................................................................................... 5.5. CENÁRIO 4: MESA VAZIA..........................................................................................

6. CONCLUSÕES .................................................................................................................

7. LITERATURA CONSULTADA ............................................................................................

ANEXOS

Page 5: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

5

1. INTRODUÇÃO

O Planeamento Estratégico de uma organização de pesquisa exige uma visão de futuro e

conhecimento do ambiente externo da instituição. A partir desses elementos é possível formular

estratégias para aumentar a vinculação da Instituição com os seus clientes e definir rumos

institucionais, e mobilizar os apoios que a organização necessita para obter sustentabilidade.

A análise do ambiente externo envolve dois grandes eventos: o diagnóstico dos sistemas que

influenciam e são influenciados pela organização e o prognóstico, ou visão de futuro, sobre as

oportunidades e ameaças relevantes desse ambiente. Em geral, a visão de futuro é construída

aplicando-se a metodologia de construção de cenários do ambiente externo da organização.

O Instituto de Investigação Agronómica (IIA) e o Instituto de Investigação Veterinária (IIV)

decidiram executar o Projecto de Cooperação Triangular Sul-Sul “Angola-Brasil--FAO”,

denominado Fortalecimento da Capacidade de Pesquisa e Inovação dos Institutos de Investigação

Agronómica e Veterinária, sob os auspícios do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (MINAGRI), em

cooperação com a EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) e a Agência

Brasileira de Cooperação (ABC) e da ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO

E AGRICULTURA (FAO). Em sua primeira etapa, o projecto tem como grande objectivo realizar o

planeamento estratégico do IIA e do IIV, como fundamento para o desenvolvimento organizacional

dessas instituições e da melhoria do desempenho da agricultura de Angola, via inovação

tecnológica e gerencial.

Como parte desse processo, foram construídos cenários alternativos do ambiente externo do IIA

e do IIV para o ano de 2025. Foram realizados workshops com a participação de representantes

do corpo técnico e gerencial do IIA e IIV, de especialistas nacionais e internacionais convidados e

dos consultores FAO/EMBRAPA, trabalhando sob os auspícios do projecto de cooperação vigente.

O foco do exercício foram os ecossistemas de Angola, os consumidores de produtos agrícolas do

País e as cadeias produtivas do agronegócio.

O resultado desse esforço é apresentado neste documento. Além do uso principal que será dado

ao produto obtido, o de referência sobre o futuro do ambiente externo do IIA e do IIV com vistas

à definição dos seus rumos e escolhas estratégicas, este documento poderá servir de referência

para outras entidades interessadas no desenvolvimento do agronegócio de Angola e dos seus

diversos componentes.

Page 6: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

6

2. MARCO CONCEPTUAL

A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de

conhecimento sobre o desempenho actual e passado dos eventos, fenómenos ou entidades em

análise. Esta fase do trabalho exige o conhecimento do comportamento de muitas variáveis inter-

relacionadas, com resultados antagónicos ou sinérgicos, que podem ser melhor trabalhadas a

partir da visão e das técnicas de análise de sistemas.

A gestão de organizações de pesquisa busca transformar as grandes finalidades da sociedade em

objectivos dos programas e projectos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), de forma que seus

contribuam para atender os objectivos maiores da sociedade. A dificuldade ocorre porque é

preciso interpretar a diversidade de interesses sociais relacionados com o processo de

estabelecimento desses objectivos. Outra dificuldade está relacionada com a utilização de

mecanismos apropriados para a transformação, geralmente por decomposição, desses objectivos

gerais em objectivos específicos de projectos de pesquisa e desenvolvimento, que somente

apresentarão seus resultados a médio ou longo prazo (Castro et Al., 2005).

Estes mesmos autores argumentam que a pesquisa agropecuária pode ser entendida como um

processo de apoio ao desenvolvimento do negócio agrícola como um todo e é definida, não apenas

em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas a todos os processos

interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus consumidores.

Estes processos e instituições ligados por objectivos comuns constituem sistemas que, por sua vez,

englobam outros sistemas menores ou subsistemas. O sistema mais abrangente é denominado de

negócio agrícola, complexo agroindustrial ou agribusiness (Davis & Goldberg, 1957). É composto

por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As cadeias produtivas possuem

entre os seus componentes, ou subsistemas, os sistemas produtivos, onde ocorre a produção dos

produtos agropecuários. Na preparação dos cenários do agronegócio de Angola, foram aplicados

os seguintes conceitos sistêmicos:

Negócio agrícola é o conjunto das operações de produção, processamento,

armazenamento, distribuição e comercialização de insumos e produtos agropecuários e

agroflorestais, incluindo serviços de apoio (assistência técnica, crédito etc.). Esse conceito

pode ser aplicado também a uma unidade geográfica.

Page 7: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

7

Cadeia produtiva são conjuntos de componentes interactivos, tais como sistemas

produtivos agropecuários e agroflorestais, fornecedores de serviços e insumos, indústrias

de processamento e transformação, distribuição e comercialização, além de consumidores

finais do produto e subprodutos da cadeia (Castro et Al., 1999).

Sistema produtivo é o conjunto de componentes interativos que objectiva a produção de

alimentos, fibras, energéticos e outras matérias primas de origem animal e vegetal. É um

subsistema da cadeia produtiva e refere-se às actividades produtivas “dentro da fazenda".

Numa cadeia produtiva, ocorre um fluxo de capital que se "inicia" nos consumidores finais do(s)

produto(s) da cadeia e direcciona-se ao elo final, e que, no caso da agricultura, é representado

pelos fornecedores de insumos. Este fluxo é regulado pelas transacções, as relações contractuais,

formais ou informais, efectuadas entre os indivíduos ou empresas componentes da cadeia.

O estudo das cadeias produtivas pode basear-se no exame e caracterização do comportamento

do fluxo de capital, nas transações, nas questões de apropriação e distribuição dos benefícios e

limitações entre os componentes e na tecnologia e gestão envolvidas nos processos produtivos

internos dos elos e segmentos.

A Figura 1 ilustra uma típica cadeia produtiva agropecuária, com os seus principais componentes

e fluxos. Distinguem-se os seus componentes mais comuns: o mercado consumidor, composto

pelos indivíduos que consomem o produto final (e pagam por ele); a rede de comercialização

grossista e retalhista; a indústria de processamento e/ou transformação do produto; as

propriedades agrícolas, com seus diversos sistemas produtivos agropecuários ou agroflorestais; e

os fornecedores de insumos (sementes, sêmen, adubos, pesticidas, máquinas, implementos e

outros serviços). Estes componentes estão relacionados a um ambiente institucional (leis, normas,

instituições normativas) e a um ambiente organizacional (instituições de governo, de crédito, etc.),

que em conjunto exercem influência sobre os componentes da cadeia.

Page 8: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

8

Figura 1 – Modelo geral de uma cadeia produtiva

(Fontes: Zylbersztajn, 1994; Castro et Al., 1995)

Um outro tipo de sistema importante para a actividade de pesquisa agropecuária é o sistema

natural ou ecossistema. A análise das condições naturais específicas de uma região e o processo

histórico das actividades humanas nela desenvolvidas permite elaborar uma caracterização da

situação de uso ou ocupação actual da área, seu potencial produtivo e, consequentemente, a

recolha de informações básicas para se estabelecer uma política para o seu desenvolvimento.

Consequentemente, o estudo e o conhecimento do comportamento dos ecossistemas são de

grande importância para o desempenho do sector produtivo agrícola, pecuário e florestal.

Primeiro, porque os ecossistemas exercem forte influência nos sistemas produtivos e na produção

final. Segundo, porque os ecossistemas são também potenciais fontes de produtos extrativos de

alto valor para a sociedade. Terceiro, porque a exploração agrícola, por sua vez, altera e impacta

estes sistemas naturais.

Tanto no primeiro caso, do sector produtivo primário interagindo com os sistemas naturais,

quanto no caso da exploração extrativista desses sistemas, é cada vez mais intensa a preocupação

com a sua sustentabilidade. A regra actual é "explorar sem destruir", ou seja, a produção de

alimentos, fibras e energéticos deve ser incrementada, para atender as crescentes demandas da

Page 9: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

9

população, sem comprometer, a médio e longo prazo, a capacidade produtiva e a qualidade dos

factores do ecossistema.

Os ecossistemas exercem forte influência sobre os sistemas produtivos e sobre os demais

componentes das cadeias produtivas. Eles envolvem e delimitam os demais sistemas, formando

um conjunto de "sistemas dentro de sistemas". A Figura 2 ilustra este conceito, definindo a

hierarquia entre o sistema natural, e os sistemas negócio agrícola, cadeias produtivas e sistemas

produtivos (Castro et Al., 1994).

Figura 2- Relação entre os sistemas pertinentes aos estudos prospectivos e os seus mercados.

Fonte: Castro et Al. (1995).

Os conceitos sistêmicos apresentados anteriormente foram usados como base conceptual para

diagnosticar o ambiente externo do IIA e do IIV,e para elaborar a sua visão de futuro (Castro et Al.,

2006). Como componentes do agronegócio de Angola, identificaram-se as cadeias produtivas e

respectivos consumidores de produtos agropecuários.

Também foi aplicado o conceito de ecossistema, para trabalhar o ambiente ecológico de Angola.

Neste caso, tanto na situação do sector produtivo primário interagindo com os ecossistemas,

SISTEMANATURAL

NEGÓCIOAGRÍCOLA

CADEIAPRODUTIVA

SISTEMAPRODUTIVO

MERCADOCONSUMIDOR

MERCADO DETECNOLOGIAS

CENTRO DE P&D

DEMANDAS OFERTA DE T,P,S

Page 10: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

10

quanto no caso da exploração extrativista destes sistemas, o conceito central a ser observado é o

da sustentabilidade ambiental, definida como:

Sustentabilidade ambiental é a capacidade de o sistema manter padrões de eficiência

produtiva agropecuária e qualidade de produto ao longo do tempo, o que significa manter

a integridade do meio ambiente.

Esta situação abre uma nova agenda de trabalho para a pesquisa agropecuária. A missão ampliada

dessa forma, do IIA e do IIV, torna-se muito mais complexa em função da heterogeneidade dos

problemas a equacionar. A definição e priorização das necessidades e aspirações da sociedade

tornam-se ambíguas, em alguns casos até antagónicas. Questões do tipo "preservar ou produzir"

são colocadas tanto no ambiente externo quanto no ambiente interno dos centros de P&D. Tal

situação exige o aprimoramento das abordagens para a determinação de demandas em relação à

pesquisa dos sistemas naturais e a posterior priorização dos projectos de P&D a executar (Lima et

al., 2001).

O CONCEITO DE FUTURO

A implementação de estratégias é um processo que tipicamente produz resultados no médio e

longo prazos. Portanto, é preciso falar de futuro quando se adopta um enfoque estratégico. O

futuro é algo abstrato, intangível, que ainda não ocorreu. Portanto, não pode ser descrito ou

quantificado e, menos ainda, é possível atribuir valor a dados obtidos sobre ele. O futuro é múltiplo

e incerto e não necessariamente uma projecção simples de tendências do passado (Schnaars,

1985). Sua conformação irá depender da interacção de variáveis de diversas naturezas

(económicas, sociais, políticas e tecnológicas, entre outras), cujo estado pode alterar-se de

maneira pouco previsível. Isto determinará o desempenho dos sistemas componentes do

ambiente externo das organizações, alterando seu equilíbrio actual para estados potencialmente

diferentes (Castro et al., 2001).

Futuro é o resultado de tendências históricas e eventos hipotéticos

(Johnson &Marcovicht, 1994).

Page 11: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

11

Uma análise prospectiva inclui o conjunto de conceitos e técnicas utilizados para se ter uma visão

antecipada sobre o comportamento das variáveis sociais, económicas, políticas, culturais e

tecnológicas e sobre suas interacções. As análises prospectivas podem ajudar muito as instituições

de P&D na identificação das necessidades futuras de conhecimentos e tecnologias de seus clientes

ou públicos-alvo (Lima et al., 2001).

A correcta identificação de necessidades de novos conhecimentos e tecnologias, por meio da

análise prospectiva, e o desenvolvimento de projectos consistentes com estas demandas podem

ser factores essenciais de sustentabilidade das organizações de P&D.

As técnicas mais utilizadas para se promover a reflexão sobre o futuro são a técnica Delphi e a

técnica de Cenários. No ambiente de ciência e tecnologia os cenários têm sido mais aplicados para

a formulação de estratégia. (Van der Heidjen, 1996; Castro et al., 2001). Por isso, foi a técnica

escolhida para apoiar a formulação dos Planos Estratégicos do IIA e do IIV. Os cenários foram

definidos como:

Cenários são caminhos possíveis em direção ao futuro.

(Henrique Rattner, citado por Castro et al., 2001)

Costa (2002) define os cenários como um conjunto de características e condições do ambiente

externo, esperado ou temido para o futuro, condicionando a funcionalidade, operações, estratégia

e sucesso da organização.

Algumas características dos cenários os tornam adequados à formulação de estratégia em

organizações de pesquisa e, ao mesmo tempo, orientam a aplicação dessa metodologia (Castro et

al., 2005; Van Der Heidjen, 1997):

• Produzem interpretações lógicas do futuro – cenários são exercícios de lógica, sobre o

que possa ocorrer a partir de tendências e relações de forças positivas e negativas;

• São centrados na incerteza (descontinuidades) – na escolha das variáveis críticas a serem

representadas nos cenários, dá-se preferência àquelas mais imprevisíveis;

• Ajudam em épocas de mudanças – indicam possíveis cursos de acção em resposta as

influências positivas ou negativas do contexto das organizações;

• São qualitativos e quantitativos - geram tendências, não se constituindo em instrumentos

de previsão matemática sobre o futuro;

Page 12: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

12

• Clarificam riscos – ao reduzir as incertezas, permitem a avaliação dos impactos dos

eventos e das decisões estratégicas tomadas;

• Promovem a flexibilidade e a capacidade de reacção – permitem a elaboração a priori, de

alternativas de posicionamento estratégico.

O horizonte temporal dos cenários deve corresponder, no mínimo, ao período previsto para o

planeamento estratégico. Em geral, em organizações de pesquisa, o horizonte temporal (do PE e

de seus cenários) é de cinco anos. No presente caso, para os cenários do agronegócio de Angola,

adoptou-se um horizonte temporal de dez anos, sendo os cenários construídos em 2014-15 com

alcance para o ano de 2025.

Page 13: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

13

3. METODOLOGIA

Para elaborar cenários é necessário categorizar as variáveis de maior relevância para o

desempenho dos sistemas do ambiente externo analisados, denominadas como factores críticos,

em tendências ou descontinuidades:

Tendências – variáveis que representam mudanças lentas e contínuas no ambiente externo

dos Institutos.

Descontinuidades – variáveis que representam mudanças bruscas, repentinas,

imprevisíveis. Alteram as condições do ambiente externo, exigindo mudança de estratégia

das organizações.

No presente exercício, o ambiente externo do IIA e do IIV foi decomposto em três grandes

subsistemas: os ecossistemas, os consumidores finais e as cadeias produtivas.

Previamente à realização da Construção de Cenários, foi realizado um Workshop de análise do

Ambiente Externo do IIA e do IIV. Durante este evento, grupos de pesquisadores dos Institutos

trabalharam em equipes formadas em cada um dos subsistemas a analisar, utilizaram informação

secundária, seus conhecimentos, e instrumentos de análise pré-desenhados, para definir factores

limitantes e impulsores ao desempenho de cada um dos sistemas.

A partir dessa análise, os impulsores e limitantes identificados foram transformados em variáveis

utilizando-se um instrumento especialmente elaborado para as avaliações de priorização e de

previsibilidade, contendo a denominação e descrição da variável, o estado actual da mesma e

espaço para avaliação da importância e do grau de previsibilidade de cada uma delas.

O produto do Workshop de Análise do Ambiente Externo foi utilizado como principal insumo para

o evento seguinte, o Workshop de Construção de Cenários do Ambiente Externo do IIA e do IIV,

realizado no Huambo, Angola, durante cinco dias de Dezembro de 2014. Este evento contou com

a participação dos especialistas indicados pelas Direcções dos Institutos (ver relação de

participantes ao início deste trabalho) para compor o Grupo Gestor de Estratégia do IIA e do IIV e

com os consultores FAO/EMBRAPA. A metodologia adoptada durante o Workshop está descrita,

de forma geral, no Quadro 1.

Page 14: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

14

Quadro 1: Método e técnicas para elaboração de Cenários do Ambiente Externo do IIA e do IIV.

No. de

ordem

MOMENTOS DA METODOLOGIA

TÉCNICA EMPREGADA

1 Tomar variáveis obtidas nas análises anteriores (sintetizadas na matriz de impulsoras e limitantes).

GGE* e GTs, matriz de priorização e de avaliação de previsibilidade e consultoria da Embrapa.

2 Definir os factores críticos (variáveis de maior impacto no desempenho) e as incertezas críticas (variáveis caracterizadas por um baixo grau de previsibilidade e base para os cenários).

Técnicas de escores, matriz de priorização e avaliação de previsibilidade.

Painel de juízes.

3 Criar modelos de relação de variáveis para orientar a formulação de estados futuros na etapa de análise morfológica.

Construção de modelos relacionais de variáveis.

Trabalho em equipe.

4 Realizar análise morfológica, indicando possíveis estados futuros alternativos para cada variável.

Matriz de análise morfológica.

Painel de especialistas.

5 Definir temas para os cenários Painel de especialistas.

6 Determinar o estado futuro das variáveis em cada cenário tema.

Painel de especialistas.

Matriz de análise morfológica.

7 Definir os cenários por tema. Analisar a consistência de cada cenário.

Painel de especialistas.

Matriz de análise morfológica.

8 Redacção dos cenários, versão 0. Trabalho em equipe.

9 Validação interna (versão 1) e externa (versão 2) dos cenários

Workshop com especialistas, painel de avaliadores, método de escores.

GGE, Consultoria Embrapa.

10 Publicação e uso dos cenários Edição e distribuição.

*GGE – Grupo Gestor de Estratégia

Dos momentos da metodologia, descritos no Quadro anterior, o primeiro é bastante simples: foi

utilizada a matriz de priorização e de avaliação de previsibilidade para determinar, no momento

seguinte, o grau de incerteza de cada um dos factores críticos definidos no instrumento. Para a

elaboração dos cenários do agronegócio de Angola, foram considerados os factores críticos

classificados pelos membros do GGE dos Institutos como descontinuidades.

Page 15: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

15

Uma vez definidas as descontinuidades, estas foram alocadas na Matriz de Análise Morfológica –

MAM (Castro et Al., 2005), tomando-se em conta os sistemas trabalhados (ecossistemas,

consumidores, cadeias produtivas). Os membros dos GGE do IIA e do IIV foram divididos em três

grupos, encarregues da elaboração de estados futuros para cada um dos sistemas em estudo.

Na matriz, a primeira coluna foi preenchida com os factores críticos classificados como

descontinuidades. Nas demais colunas, o GT responsável pela elaboração definiu estados futuros

plausíveis de cada variável. Foram elaborados quatro estados futuros para cada variável da matriz.

Este momento de elaboração dos cenários é talvez o mais crítico, em relação à qualidade do

produto desse exercício. Desenvolveram-se estímulos para a emergência de ideias criativas

utilizando-se modelos relacionais de influencias sobre as variáveis(apresentados no Anexo 1) e, ao

mesmo tempo, para propiciar um clima de discussão crítica, de modo que as ideias pudessem ser

examinadas sob a lógica da plausibilidade de conformação do futuro.

Os modelos relacionais (ver Figura 3), representam as variáveis impulsoras e limitantes do

ambiente externo do IIA e IIV. Além das variáveis impulsoras e limitantes, os modelos mostram

possíveis variáveis com influência sobre o estado futuro das impulsoras e limitantes.

Figura 3 –Exemplo de modelo para definição de estados futuros de variáveis

Variável impulsora oulimitante

Variáveis influentes no estado futuro

Definição da variávelimpulsora ou limitante

USOS DOS MODELOS

Guía para definição de estados futuros na

construção de cenários

Page 16: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

16

Em seguida, foram propostos temas para a elaboração dos cenários a partir dos estados futuros

elaborados pelos diversos GTs. Estes temas orientam a escolha dos estados das variáveis críticas

que devem compor cada um deles, selecionando-se aqueles estados que apresentam melhor

sintonia com o respectivo tema.

Foram construídos quatro cenários alternativos do ambiente externo do IIA e IIV para o ano de

2025, alternativas consideradas suficientes para orientar a visão de futuro na elaboração dos

Planos Estratégicos dos Institutos.

Antes de redigir os cenários, o GGE e os consultores FAO/EMBRAPA realizaram uma análise crítica

de consistência interna dos cenários, verificando se não havia conflitos entre as variáveis internas

ou entre estados de distintas variáveis em um mesmo tema.

A versão inicial dos cenários, denominada versão zero, foi submetida à validação interna, com a

participação de técnicos do IIA e do IIV1, dando origem à versão validada internamente,

denominada versão um.

A versão validada iknternamente (versão 1) foi submetida a uma Oficina de Validação externa,

composta por especialistas e representantes dos grupos de interesse (stakeholders) do IIA e do IIV,

realizada em Luanda, em julho de 20152. Durante esta Oficina, os cenários foram avaliados por

especialistas em cada um dos seus sub-sistemas componentes, utilizando um instrumento de

avaliação previamente elaborado.

Os resultados da validação, na forma de reações, percepções e sugestões para promover ajustes

finais no documento, foram tabulados e avaliados, sendo incorporadas as sugestões de mudanças

consideradas pertinentes pelos GGEs do IIA e do IIV, obtendo-se sua versão final.

1 Participaram do processo de validação interna 101 (cento e um) técnicos do IIA e do IIV. 2 Participaram do processo de validação externa 26 (vinte e seis) representantes de grupos de interesse (stakeholders).

Page 17: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

17

4. DIAGNÓSTICO DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA

A proposta de diagnóstico do ambiente externo, correspondente ao agronegócio de Angola,

implica na identificação das principais características dos ambientes naturais (ou biomas), dos

consumidores e das cadeias produtivas presentes no País. A caracterização de cada um desses

sistemas foi realizada com base em análise de informação primária e secundária colectadas pela

equipa do Instituto.

4.1. SISTEMAS NATURAIS

O conceito de Sistemas Naturais, ou Ecossistemas, para Minua (2006) é o de “Unidades funcionais

onde os componentes bióticos (fauna e flora) e o meio físico (ar, água e solo) se interagem numa

multiplicidade de processos ecológicos cujo conhecimento é fundamental para a sua

conservação”. Tal entendimento tem importância para a análise do agronegócio de Angola, em

função do seu fornecimento de recursos e serviços ambientais, tais como a utilização de áreas para

as práticas da agricultura e pecuária, a utilização de pastagens nativas e recursos hídricos, além do

impacto que as actividades causam sobre os solos, a flora e a fauna.

Na priorização dos Sistemas Naturais de Angola, se tomou como referência sua relevância social,

ambiental e econômica. Na priorização dos Sistemas Naturais de Angola, se tomou como

referência as suas relevâncias sociais, ambiental e económicas. A figura 4, apresenta os biomas

priorizados: (1) Zambezíaco e Miombo; (2) Mosaico de Floresta Congolesa e Savana (incorpora o

Mosaico Floresta e Savana, a Floresta Tropical e a Floresta de Montanha, Afromontana); e (3)

Planalto de Kalahari.

1. Zambeziaco e Miombo

Representa aproximadamente 77% do território angolano, caracterizando-se como o principal

ecossistema do país em extensão. Engloba as províncias da Huíla, Cunene, Bié, Moxico, Huambo,

Kuanza Norte, Kuanza Sul, Malanje, Lunda Sul, Luanda, Bengo, Cabinda (parcialmente), Benguela

e K. Kubango;

Page 18: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

18

Figura 4 - Representação dos ecossistemas de Angola Fonte: MINUA (2006)

2. Mosaico de Floresta Congolesa e Savana

2.1. Mosaico Floresta e Savana

Compreende 11% do território angolano, posicionando-se mais ao norte e detendo a segunda

maior extensão de terra entre os ecossistemas. Localiza-se na província do Zaire e parcialmente

do Uíge e Lunda Norte;

2.2. Floresta Tropical

Ocupa aproximadamente 4% do território angolano, em pontos descontínuos mais ao norte do

país. Ocupa aproximadamente 50% de Cabinda e Uige; e 30% de Zaire e Lunda Norte;

2.3. Afromontana

Ocupa aproximadamente 4% do território angolano, em pontos descontínuos mais centrais do

país. Localiza-se no Huambo e Bié;

3. Planalto Kalahari

Ocupa aproximadamente 1% do território angolano, em uma faixa ao sudoeste do país.

Representa uma zona de transição, ocupando um terço das províncias de Namibe, Huíla e

Benguela;

Page 19: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

19

Nesta priorização foram considerados com menor prioridade os ecossistemas menos expressivos

territorialmente e/ou menos importantes para o Agronegócio do país (Deserto Namibe e as Zonas

Húmidas e de Mangais).

4.1.1. Sistema Zambezíaco e Miombo

O Sistema Zambezíaco e Miombo ocupa uma superfície total de 95.157 mil ha, e possui como

principais actividades económicas agropecuárias, o milho, a mandioca, o feijão, o sorgo, o

massango, o arroz , a batata, a batata-doce, a produção de bovinos de corte e de leite, além de

caprinos, aves de corte e de aves de postura.

As actividades agropecuárias, contudo, ocupam apenas 6,4% da área disponível. Possui abundante

disponibilidade de água e razoável importância na constituição de seus ecossistemas nativos, tanto

em flora como em fauna. A pluviometria média no Ecossistema é de 1.400 mm e a temperatura

média anual é de 26º C (variação entre 18º e 22º), com humidade relativa de 80%.

São identificadas como oportunidades para o desenvolvimento de investigação e inovação

tecnológica a superação das limitações da baixa fertilidade dos solos, o desenvolvimento de

práticas agrícolas que evitem a erosão dos solos e sistemas de maneio para neutralizar o

desmatamento descontrolado.

Como principal factor impulsor ao desenvolvimento agrícola no Sistema Natural Zambezíaco e

Miombo, aponta-se a predominância do clima tropical húmido, aliada às características de solo e

topografia, passíveis da adoção de práticas agrícolas. Como factores limitantes, destacam-se a má

distribuição de chuvas, a presença de solos ácidos na maior parte das regiões, a ocorrência de

geadas em algumas áreas no período da seca e a propensão à degradação do solo.

Algumas características não agrícolas merecem destaque nesse sistema natural. Apesar da oferta

de água, próximo de 40% da população residente não possui água potável. A pobreza e o

crescimento demográfico desordenado prejudicam o meio ambiente, gerando poluição dos

mananciais hídricos e a crescente insuficiência dos serviços de recolha e tratamento de resíduos.

Destacam-se ainda, a exploração de minérios, a criação de aterros e o uso inadequado de

pesticidas, como elementos que alteram o sistema e degradam os solos e as águas. Contudo,

veem-se progressos institucionais, por exemplo, o pacote legislativo relacionado ao uso da terra e

meio ambiente.

Page 20: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

20

4.1.2. Mosaico de Floresta Congolesa e Savana

O Sistema Mosaico de Floresta Congolesa e Savana ocupa uma superfície total de 14.009 mil ha, e

possui como principais actividades económicas agropecuárias, o arroz, a mandioca, o feijão, a

produção de bovinos de corte e de leite, além das aves de corte e de aves de postura. Por

predominar o bioma floresta e haver uma fauna abundante, a caça destaca-se como fonte de

alimento da população rural. As actividades são substancialmente voltadas à subsistência.

No Sistema Mosaico de Floresta Congolesa e Savana a exploração de diamante é expressiva e cerca

de 20 mil ha são ocupados por essa actividade. Este facto torna-se importante devido ao forte

impacto que causa ao meio ambiente.

Possui abundante disponibilidade de água – sobretudo, por extensos rios que cortam a região

(Loge, Mbridge, Luangue, Chicapa, Zaire e Cuango). A pluviometria média no Ecossistema é de

1.400 mm e a temperatura média anual é de 25º C (variação entre 15º e 26º), com humidade

relativa de 80%.

As principais oportunidades para investigação e inovação tecnológicas estão relacionadas às

necessidades de soluções para a baixa profundidade e acidez do dos solos locais (onde

predominam os solos fersialíticos tropicais argiláceos), a erosão por adoção de práticas agrícolas

inadequadas e para o desmatamento não sustentável.

Como principal factor impulsor ao desenvolvimento agrícola no Sistema Natural Mosaico de

Floresta Congolesa e Savana, apontam-se os factores climáticos favoráveis a adoção de práticas

agrícolas, e como factores limitantes, a má distribuição de chuvas e a adoção de práticas não

agrícolas degradantes do solo e contaminação das águas.

Tal como no Sistema Natural Zambezíaco e Miombo, vê-se neste Sistema algumas características

não agrícolas que merecem destaque: a pobreza e o crescimento demográfico desordenado, a

crescente insuficiência dos serviços de recolha e tratamento de resíduos, a exploração de minérios,

o uso inadequado de pesticidas e as queimadas. Acrescentam-se ainda, como factores limitantes

ao desenvolvimento agrícola neste Sistema Natural, a falta de mecanismos eficientes de controle

da legislação de importação de pesticidas, fertilizantes e outros produtos químicos.

Page 21: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

21

4.1.3. Planalto de Kalahari

O Sistema Natural Planalto de Kalahari ocupa uma superfície total de 1.034 mil ha, e possui como

principais actividades económicas agropecuárias, o feijão, o massango, a massambala e a

produção de bovinos, ovinos e caprinos de corte e de leite. A caça também é destaque como fonte

de alimento da população rural. As actividades são prioritariamente voltadas à subsistência.

Devido as características edafoclimáticas e socioeconómicas da região, próxima às regiões

desérticas e semiáridas, o Sistema Natural Planalto de Kalahari possui as actividades pecuárias

(bovina, caprina e ovina) como as mais preponderantes no país.

Possui baixa e sazonal disponibilidade de água. Sua pluviometria média é de 600 mm anuais e a

temperatura média anual é de 23º C (variação entre 18º e 24º). Os solos são de média fertilidade

e baixa profundidade e elevada acidez. Destaca-se o elevado papel dos ventos como causadores

de erosão e dos animais como causadores de elevada compactação do solo.

As razões necessidades prioritárias para inovação estão relacionadas às características já

apontadas do solo e aos sistemas de pastoreio de animais criados na região.

A pobreza, a ausência de água potável para mais de 50% da população local e a presença de alguns

(embora poucos) empreendimentos agropecuários na região têm sido responsáveis por limitantes

ao desenvolvimento agrícola local. A falta de orientação técnica contribui ainda mais para o

agravamento do desempenho agropecuário na região.

4.2. CONSUMIDORES FINAIS

A população actual de Angola é de 24.383.301 habitantes, dos quais, 51,6% mulheres e 48,4%

homens, concentrando-se em Luanda 26,8% do total da população do país. As províncias de

Luanda, Huíla, Benguela, Huambo, Bié, Kuanza Sul e Uíge, juntas concentram 77% da população.

A densidade populacional média é de 19 habitantes por Km².

A análise feita sobre os consumidores finais resultou na identificação de três segmentos de

consumidores: Consumidores com Baixo Poder Aquisitivo, de Médio Poder Aquisitivo e de Alto

Poder Aquisitivo. Foram priorizados dois segmentos: Consumidores com Baixo Poder Aquisitivo e

de Alto Poder Aquisitivo.

Page 22: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

22

Um aspecto substancial é que a quase totalidade do mercado é abastecido por produtos

importados. Isso torna a sua aquisição mais cara – sobretudo pela concorrência com os produtos

de origem nacional, muito escassos.

A análise realizada indica que aproximadamente 35% da população urbana e 94% da população

rural de Angola possui baixo poder aquisitivo, com renda igual ou inferior à AKZ 26.500 mensal

(equivalente à uma cesta básica no país). Em consequência, estima-se que 35% da população

angolana corre o risco de desnutrição.

Neste contexto, Angola depara-se com uma fracção significativa de sua população com poder

aquisitivo limitado para o adequado consumo alimentar. Relativamente à população rural, há uma

parcela voltada ao autoconsumo e que vive da exploração dos recursos naturais. Já na população

urbana menos favorecida economicamente, o consumo escasso e/ou de produtos de má

qualidade é predominante.

No outro extremo, 20% da população é considerada como de alto poder aquisitivo, recebendo

mais de AKZ 100.000 por mês. Deste grupo, estima-se que mais de 90% residem em áreas urbanas.

Os dados apontam ainda que 32,4% deste grupo estão expostos ao risco de obesidade.

4.3. CADEIAS PRODUTIVAS

As cadeias produtivas agrícolas são definidas como:

Sistemas compostos por fornecedores de insumos, produtoresagropecuários, agro-indústrias, comerciantes grossistas e retalhistas que suprem os consumidores de alimentos e fibras.

Buscou-se analisar as cadeias de produtos de origem vegetal e animalque integram o Agronegócio

angolano e identificar, entre elas, aquelas que se destacam em importância para o país e

consequentemente para as acções de investigação dos Institutos. Seguiu-se à essa priorização, a

segmentação em cadeias básicas (aquelas que produzem alimentos para população angolana) e

de rendimento (aquelas cija finalidade é gerar renda para o país). O Quadro 2 apresenta as cadeias

priorizadas e classificadas por segmento.

Page 23: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

23

Quadro 2: Cadeias produtivas priorizadas pelo IIA e pelo IIV

Cadeias de Produtos Vegetais Cadeias de Produtos Animais

Básicas Rendimento Básicas Rendimento

Arroz Banana Bovinos de corte

Mandioca Caprinos

Milho Milho Ovinos

Feijão Bovinos de leite Bovinos de leite

Soja Soja Aves

Massango/Massambala Massango/Massambala Suínos

Entre as cadeias de produtos animais, as cadeias de grandes e pequenos ruminantes (bovinos,

caprinos e ovinos) destacam-se pela sua importância cultural. Praticamente em todo território

angolano criam estes animais, mas, os bovinos, especialmente, são mais importantes nas terras

mais ao sul do país. Esta prática tornou-se integrada ao contexto cultural do homem rural e sua

importância social e econômica. O maneio e a prática migratória, essencialmente extrativista, hoje,

se apresenta confrontante com a realidade das práticas intensivas de produção, em surgimento e

expansão em algumas regiões do país.

Os grupos raciais bovinos predominantes são oriundos de cruzamentos entre o zebu, o holandês,

o africânder e o charolês. Raras propriedades, contudo, fazem o uso de sistemas de cruzamento

orientados para a produção de corte ou leite, e os rebanhos predominantes são de números

reduzidos de animais. A produção de leite é basicamente para a subsistência e a adoção de

suplementação mineral ou energético-proteica é rara ou limitada, em função dos custos dos

insumos e da incipiente assistência técnica. Predominam as pastagens naturais e os sistemas de

produção, muitas vezes, são comunitários.

As características e práticas do maneio e uso dos bovinos podem também ser reproduzidas para

os criatórios de ovinos e caprinos. Para estes animais verificam-se ainda a oferta restrita de

vacinas, medicamentos e utensílios de ordem geral que atendam a demanda nacional, a custo

acessível. O desempenho produtivo e reprodutivo dos rebanhos, por conseguinte, é baixo e os

índices de mortalidade e morbidade, normalmente altos.

O efectivo bovino actual é incerto, mas acredita-se girar em torno de 4 milhões de cabeças. Este

efectivo, naturalmente não atende a demanda interna de Angola, levando a um volume de

importações anuais na faixa de 4,2 milhões de toneladas de carne congelada, 1,3 milhões de

toneladas de carne salgada e 3,0 milhões de toneladas de carne bovina processada.

Page 24: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

24

O consumo per capita anual de carne bovina é de 7 kg, sendo somente 6,4% atendido pela

produção interna. O preço médio do quilo de carne bovina é de $800 Kwanzas, sendo que

aproximadamente apenas 10% da população de baixo poder aquisitivo encontra e adquire o

produto, enquanto este percentual para a população de alto poder aquisitivo é de 80%.

Os números relativos à produção, comercialização, consumo e importação de carne de ovinos e

caprinos são incertos. Contudo, estima-se um consumo per capita de 2kg anuais, sendo que

somente 5,1% do consumo é atendido pela produção interna. O preço médio da carne ovina e

caprina varia de $500 Kwanzas a $1.000 Kwanzas, e cerca de 30% e 80% da população de baixo e

alto poder aquisitivo, respectivamente, encontram e adquirem o produto.

A produção de leite bovino apresenta sistemas de produção diferenciados. Além do sistema

tradicional, explorado nos criatórios de animais de raça “sanga”, rústica, com as características

próximas ao extrativismo, como referenciado acima, há sistemas mais avançados, nas conhecidas

bacias leiteiras, onde a produção é acompanhada de assistência técnica contratada, animais

oriundos de cruzamentos genéticos (inclusive de animais Jersey, Brown Swiss,, entre outras raças

europeias), alimentação balanceada e algum controle sanitário. Nestes sistemas, os produtores

também possuem algum nível de organização cooperativista e utilizam mão de obra contratada

e/ou familiar. A ordenha é manual e as pastagens são nativas.

O consumo per capita anual de leite bovino e caprino em Angola é de 7,6 litros, sendo que somente

apenas 0,4% do consumo é atendido pela produção interna. O preço médio do litro de leite é $250

Kwanzas, sendo que aproximadamente apenas 10% e 20% da população de baixo e alto poder

aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto.

A produção de aves para carne em escala industrial, em Angola, é praticamente inexistente,

devido aos altos custos de produção. A necessidade de importação de instalação, equipamentos e

insumos necessários à produção avícola define a perda de competitividade da avicultura nacional

frente ao frango e ovos importados. Contudo, a produção avícola tradicional, familiar e industrial

de postura permanece, apesar dos constrangimentos já apontados.

O consumo per capita anual de frango em Angola é de 3,4 kg, sendo que somente 0,3% do

consumo é atendido pela produção interna. Para o consumo de ovos, acredita-se que é próximo

de 7% o abastecimento pela produção interna. O preço médio do quilo de frango é $800 Kwanzas,

Page 25: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

25

sendo que apenas aproximadamente 1% da população de baixo e 80% dos consumidores de alto

poder aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto. Essa discrepância é reflexo do

alto preço do produto nacional.

De forma semelhante à realidade da avicultura, a suinocultura tecnificada claudica em Angola.

Algumas propriedades, contudo, sustentam a actividade com recursos externos e uso parcial de

subprodutos industriais. De maneira geral, o maior volume de carne suína não processada

consumida no país advém de criatórios próprios, de produtores familiares. A produção tecnificada,

em sua maioria, destina-se às poucas empresas processadoras, conhecidas por salsicharias.

O consumo per capita anual de carne suína é de 5,6 kg, sendo 12,5% do consumo atendido pela

produção interna. O preço médio do quilo de carne suína em Angola varia entre $500 Kwanzas e

$700 Kwanzas, sendo que aproximadamente 10% e 80% da população de baixo e alto poder

aquisitivo, respectivamente, encontra e adquire o produto.

Da mesma forma que as cadeias produtivas de produtos animais, as cadeias produtivas de

produtos vegetais priorizadas estão, em sua maioria, na mão de produtores familiares. Exceções

são as cadeias da soja e da banana, além de pequena parte da produção de algumas das demais

cadeias, que são exploradas por produtores nacionais e estrangeiros.

As demais cadeias produtivas prioritárias participam, em sua maioria, da cesta básica angolana e

são produzidas pela agricultura familiar.

A produção de arroz em Angola é realizada por meio da utilização de sementes da própria lavoura,

não havendo material melhorado para tal. O preparo da terra e a utilização de adubos e corretivos

são precários ou inexistentes, e todas as actividades de plantio, cultivo e colheita são feitas

manualmente. Não adotam sementes certificadas. As doenças e a precariedade nessas operações

determinam a baixa produtividade.

A produção de arroz em Angola é de 37 mil toneladas, produzidos em áreas com extensão média

inferior a 1 ha. Algumas poucas empresas agrícolas, de capital externo, produzem em áreas

superiores a 100 ha.

Seguindo os mesmos padrões técnicos de produção do arroz, as culturas da mandioca, do milho

e do feijão são realizadas em Angola. Nessas culturas, a consociação é uma prática comum e a

Page 26: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

26

dependência de crédito governamental (muito reduzido) apresenta-se como mais um dos factores

limitantes ao produtor.

No caso do feijão, o déficit de produção anual, que requer importação, é de aproximadamente 130

mil toneladas. O rendimento médio da produção é de 350 kg/ha.

Já o milho, produto consumido em Angola na forma de pirão, papa, fervido ou assado, e ainda

entra na composição da kissangwa (bebida local), tem produtividade média de 500kg/ha. Cerca de

75% da produção está concentrada nas províncias de Huíla, Huambo, Namibe, Kuanza Sul e Bié. A

produção interna, contudo, somente atende a 5,2% do consumo interno.

A mandioca é um produto que faz parte da cesta básica angolana. Como subprodutos da mandioca,

que entram na alimentação humana, destacam-se: a mandioca fresca, a crueira (farinha de

bombo), a farinha de musseque (garri), a kizaka (folhas de mandioca) e a kikwanga (farinha de

mandioca húmida processada). A cultura de mandioca é praticada em quase todo o país, com

maior destaque para as províncias do Uíge, Malange, Zaire, Kwanza Norte, Lunda Norte, Lunda Sul

e Cabinda, onde está concentrada 79% da produção total. O cultivo da mandioca é geralmente de

sequeiro, com rendimento médio de aproximadamente 4 ton / ha. Angola é autossuficiente na

produção de mandioca.

Outra cadeia vegetal priorizada é a da banana. Trata-se de um produto de ampla produção

nacional. A cadeia de banana fornece dois tipos de produtos: a banana fruta, que se consome in

natura, e a banana pão, que se usa como alimento. A banana é cultivada principalmente nas

províncias de Cabinda, Uíge, Zaire, Bengo, Luanda, Malange e Kwanza Norte, que produzem 90%

de banana pão e 10% de banana fruta consumidas no país. As províncias de Kwanza Sul e Benguela

fornecem 95% da banana fruta e 5% de banana pão e a província de Namibe produz somente

banana fruta. O país é autossuficiente na produção de banana.

Apesar da grande produção, o limitado uso de insumos em razão do baixo poder de compra dos

produtores de banana familiares, determina o fraco rendimento em algumas regiões e sítios

produtores. O risco de doenças, devido à ausência de assistência técnica no país também é

problema para a produção de banana em Angola.

O massango (milheto) e a massambala (sorgo) são produtos que entram na cesta básica de uma

parte da população angolana. As cadeias de massango e massambala têm expressão

Page 27: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

27

principalmente nas províncias de Namibe, Cunene, Huíla e Cuando Cubango, pertencentes aos

ecossistemas Planalto Kalahari e Deserto do Namibe. Não há muitos dados sobre sua produção e

consumo.

A soja é uma cultura essencialmente voltada para o rendimento, já que naturalmente não é

considerada para o consumo humano, embora haja iniciativas nesse sentido (produção de leite de

soja ou papa). Ela é cultivada como geradora de matéria-prima para obtenção de óleo alimentar

(componente da cesta básica do país) e para a fabricação de ração para a pecuária. Actualmente

o cultivo de soja é praticado timidamente nas províncias de Huambo e Bié por restritas empresas

de maior porte (EAFs). A província de Kwanza Sul alberga a Fazenda “CEDEAC” que explora 1.200

hectares de terras, dos quais 730 hectares são dedicados à cultura de soja. Angola tem produzido

anualmente cerca de 10 mil toneladas de soja, quantidade insuficiente para atender totalmente a

demanda do óleo alimentar consumido no país.

Para todas as cadeias, contudo, é apontada a falta de crédito e assistência técnica como elementos

limitantes a produção, e as condições edafoclimáticas, em geral, como elementos impulsores da

produção.

4.4. FACTORES CRÍTICOS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA

A técnica de construção de cenários, conforme apresentada anteriormente, tem como ponto de

partida o diagnóstico do ambiente externo, analisado a partir de suas dimensões relevantes para

o estudo em questão. No caso do presente estudo, que trata de desenhar planos estratégicos para

os Institutos de Investigação Agronómica (IIA) e de Investigação Veterinária (IIV) de Angola,

interessa desenvolver um diagnóstico do sector agrícola de Angola e identificar os impulsores, e

limitantes sobre os quais as políticas de desenvolvimento devem intervir.

Nesse contexto, definem-se Impulsores e Limitantes como:

Impulsores são forças que impactam positivamente o processo de desenvolvimento do

sector agrícola angolano;

Limitantes são forças que impactam negativamente o processo de desenvolvimento do

sector agrícola angolano;

Page 28: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

28

O sector agrícola, porém, é um sistema complexo, com dimensões de características diversas, que

para fins dessa análise interessa distinguir, e que no presente estudo são: a) Os Sistemas Naturais

ou Ecossistemas, que provêm os serviços ambientais necessários ao desenvolvimento agrícola e

cujo maneio e manutenção determinam sua sustentabilidade ambiental; b) Os Consumidores

Finais, que geram as principais demandas a serem atendidas pelos sistemas agrícolas, aí incluídas

não só as demandas materiais, mas também as demandas de desenvolvimento social e bem-estar;

e c) as Cadeias Produtivas, clientes mais directos das inovações geradas pela pesquisa e cuja

organização gera impactos sociais e económicos de grande relevância, seja no bem estar e nos

orçamentos familiares dos consumidores e produtores, seja no abastecimento de matérias primas

industriais, no abastecimento de alimentos, no poder aquisitivo da população e, em muitas

situações relevantes, na competitividade do país (por exemplo, em garantir mercados de

exportação ou mesmo a regularidade do abastecimento do próprio mercado interno).

Impulsores e limitantes, por seu turno, são vistos como estados de variáveis subjacentes, que

devem ser identificadas e definidas a partir de análises técnicas. Essas análises, em geral, permitem

identificar um conjunto grande de variáveis. Em particular, no presente estudo, a partir da análise

dos impulsores e limitantes, foram identificadas, no total, 40 variáveis, distribuídas pelas

respectivas dimensões, conforme segue:

- Ecossistemas: 5 variáveis

- Consumidores Finais: 7 variáveis;

- Cadeias Produtivas: 28 variáveis.

No caso do sistema agrícola de Angola, foram definidos os seguintes critérios de desempenho,

para suas respectivas dimensões:

a) Ecossistemas: sustentabilidade ambiental;

b) Consumidores Finais: bem estar e segurança alimentar;

c) Cadeias Produtivas: eficiência produtiva e competitividade.

Essas variáveis, que foram avaliadas como tendo altos impactos sobre os critérios de desempenho

são denominadas Factores Críticos.

O processo de identificação desses Factores Críticos envolveu a participação de um painel

multidisciplinar de especialistas que, utilizando um sistema de escores e o conhecimento pessoal

que detêm, avaliaram o peso relativo de cada variável identificada a partir da análise dos

propulsores e limitantes. No Quadro 3 são apresentados os Factores Críticos identificados.

Page 29: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

29

Quadro 3 - Factores Críticos identificados pela sua importância

ECOSSISTEMAS

Adequação de condições edafoclimáticas

Disponibilidade de água nos biomas priorizados

Impacto da produção agropecuária sobre os ecossistemas

Conservação da biodiversidade

CONSUMIDORES

Renda per capita

Regularidade da oferta de alimentos

Importação de alimentos

Preços dos alimentos

CADEIAS PRODUTIVAS

Uso de materiais de propagação melhorados

Uso de outros insumos

Uso de máquinas equipamentos

Preços dos insumos

Sistema nacional de importação e produção de insumos

Acesso a aquisição de insumos

Qualidade de insumos

Adequação do material genético à oferta ambiental

Disponibilidade de infraestrutura nas fazendas

Pragas e doenças em culturas e criações

Fontes de nutrição animal

Capacidade técnica e gerencial dos produtores

Gerenciamento do sistema produtivo

Disponibilidade de mão de obra

Geração de renda nas unidades produtivas

Sistemas de produção agropecuários

Qualidade da matéria-prima

Acesso a crédito rural

Acesso a assistência técnica

Vias de acesso as fazendas

Inversões em inovação tecnológica (pesquisa agropecuária e assistência técnica)

Rendimento da produção agrícola e pecuária

4.5. INCERTEZAS CRÍTICAS DO AGRONEGÓCIO DE ANGOLA PARA 2025

Para a construção de cenários, no entanto, certos factores críticos cuja projecção futura pode ser

visualizada como uma tendência que se projecta do passado ou cuja previsibilidade seja alta, não

são necessários. A construção de cenários envolve um processo de pensar o futuro a partir de

eventos de alta incerteza, reconhecidos como portadores de futuro, que possam assumir estados

Page 30: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

30

alternativos plausíveis e aos quais não se pode atribuir probabilidades de ocorrência. Dente os

Factores Críticos, identificaram-se os que representam eventos de grande incerteza e que podem

assumir estados diversos palusíveis no futuro. Esses são o que se denominam de Incertezas

Críticas.

O método utilizado para identificar as Incertezas críticas também consistiu na utilização de um

painel de especialistas, com grande conhecimento dos sistemas sendo analisados, que, utilizando

método de escores, julgaram o grau de previsibilidade de cada factor crítico. Os factores críticos

de menor grau de previsibilidade foram então identificados e utilizados na construção dos

cenários. No Quadro 4 são apresentadas as Incertezas críticas identificadas para a construção dos

cenários para o desenvolvimento agrícola de Angola.

Quadro 4 -Incertezas Críticas para a construção de cenários do desenvolvimento agrícola

de Angola

ECOSSISTEMAS

Adequação de condições edafoclimáticas

Disponibilidade de água nos biomas priorizados

CONSUMIDORES

Renda per capita

Regularidade da oferta de alimentos

Preços dos alimentos

CADEIAS PRODUTIVAS

Uso de materiais de propagação melhorados

Preços dos insumos

Sistema nacional de importação e produção de insumos

Disponibilidade de infraestrutura nas fazendas

Pragas e doenças em culturas e criações

Fontes de nutrição animal

Disponibilidade de mão de obra

Sistemas de produção agropecuária

Acesso a crédito rural

Inversões em inovação tecnológica (pesquisa agropecuária e assistência técnica)

Vias de acesso as fazendas

Em resumo, a obtenção das Incertezas Críticas para a construção dos cenários passa pelas fases

representadas na Figura 5.

Page 31: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

31

Figura 5- Fases envolvidas na obtenção das Incertezas Críticas para Construção de Cenários

Obtidas as Incertezas Críticas, seguiu-se a fase de construção dos estados para cada uma delas. O

número de estados a serem pensados não é rígido e depende das características do sistema sendo

estudado e do número de cenários com os quais se pretende trabalhar. Deve-se levar em conta

que um número grande de cenários torna a análise complexa e a distinção e fixação dos diferentes

futuros mais difícil.

Lembrando que a utilidade dos cenários é criar uma referência para alimentar discussões

estratégicas, em geral 3 ou 4 diferentes cenários é suficiente para avaliar possíveis alternativas de

futuros e estratégias para fazer frente aos desdobramentos antevistos. Essa fase é precedida da

definição do horizonte de tempo que deve balizar a construção dos cenários.

Page 32: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

32

5. CENÁRIOS 2025 PARA O AGRONEGÓCIO EM ANGOLA

Os Cenários oferecem ao analista a oportunidade de vislumbrar, como se estivesse no ano definido

como horizonte temporal – neste caso, o ano de 2025 - hipóteses qualitativas e complexas de

como estaria um conjunto de variáveis relevantes, nesta data, para o desenvolvimento agrícola e

a inovação tecnológica em Angola.

Os cenários combinam variáveis identificadas no diagnóstico como relevantes para o desempenho

de cadeias produtivas agropecuárias, sistemas de consumo final (consumidores) e ecossistemas

onde ocorre a exploração agrícola. Além de sua relevância, as variáveis consideradas nos cenários

têm um comportamento de baixa previsibilidade no futuro. Os cenários, então, podem ser

utilizados para manejar diversas possibilidades de trajectória para estas variáveis.

Os cenários também são limitados pela influência de variáveis externas (às cadeias produtivas, aos

sistemas de consumo e aos ecossistemas). Estas influências estão relacionadas a macrovariáveis –

denominadas temas – capazes de influenciar todas ou quase todas as incertezas críticas

identificadas durante o diagnóstico.

Na próxima secção, são definidos e descritos os temas seleccionados como condutores da

trajectória das incertezas críticas, nos quatro cenários desenhados para o Agronegócio de Angola,

em 2025.

5.1 TEMAS PARA OS CENÁRIOS 2025 PARA O AGRONEGÓCIO DE ANGOLA.

Temas são macro variáveis do contexto dos sistemas enfocados pelos Cenários (cadeias produtivas

agropecuárias, sistemas de consumo final (consumidores) e ecossistemas). Estas macrovariáveis

induzem mudanças de diversas naturezas no comportamento ou desempenho destes sistemas,

seja por sua acção directa ou indirecta.

Para a construção dos quatro cenários do Agronegócio de Angola, foram definidas duas

macrovariáveis: Prioridade para o Desenvolvimento Agrícola de Angola; e Prioridade para a

Inovação Tecnológica na Agricultura. Para cada uma destas macrovariáveis, foram descritos dois

estados extremos:

A. Em relação à Prioridade para o Desenvolvimento Agrícola de Angola:

a. Alta prioridade para o Desenvolvimento Agrícola;

b. Baixa prioridade para o Desenvolvimento Agrícola.

B. Em relação à Prioridade para a Inovação Tecnológica na Agricultura:

a. Alta prioridade para a Inovação Tecnológica;

b. Baixa Prioridade para a Inovação Tecnológica.

A partir da combinação destes estados de cada tema, foram desenhados quatro cenários:

Page 33: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

33

A. MESA FARTA: Cenário obtido a partir da combinação de alta prioridade para o

desenvolvimento agrícola e de alta prioridade para a inovação tecnológica;

B. MESA INCERTA: Cenário resultante da combinação de baixa prioridade para o

desenvolvimento agrícola e alta prioridade para a inovação tecnológica;

C. MESA CARA: Cenário resultante da combinação de alta prioridade para o desenvolvimento

agrícola e de baixa prioridade para a inovação tecnológica;

D. MESA VAZIA: Cenário obtido a partir da combinação de baixa prioridade para o

desenvolvimento agrícola e de baixa prioridade para a inovação tecnológica.

A Figura 6 ilustra estas combinações. A seguir se descrevem os cenários, apresentando-se

inicialmente um quadro geral relativo aos temas, e em seguida uma descrição de cada uma das

variáveis identificadas como incertezas críticas, em cada um deles.

Figura 6 – Ilustração dos temas para os cenários 2025 do agronegócio e da inovação em Angola.

Inov

ação

Tecn

ológ

ica

Desenvolvimento Agrícola

Alta

Prio

ridad

eBa

ixa

Prio

ridad

e

Baixa Prioridade Alta Prioridade

CENÁRIO 2: MESA INCERTA CENÁRIO 1: MESA FARTA

CENÁRIO 4: MESA VAZIA CENÁRIO 3: MESA CARA

Page 34: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

34

5.1.1. Caracterização do cenário 1: MESA FARTA

ALTA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA

AGRICULTURA

O modelo de desenvolvimento se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola

por meio de uma matriz produtiva diversificada, baseada tanto na exploração de recursos naturais,

tendo também como fontes de geração de renda a agricultura e a indústria.

O desenvolvimento agrícola, por sua vez, está fortemente vinculado ao conceito de inovação, ou

seja, ao desenvolvimento e transferência de tecnologias agropecuárias aos produtores rurais. A

inovação, pela incorporação destas tecnologias aos processos produtivos no campo permite o

aumento expressivo da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos

no país; a melhoria da atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos

nutricionais; e o cuidado com o meio ambiente, o provedor mais importante de recursos e serviços

necessários à agricultura, e de qualidade de vida para a população.

As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao

aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda

dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à

preservação de recursos naturais (água, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola

estão fortemente orientadas para estes objectivos.

A partir de 2015, os Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária trabalharam fortemente

na reestruturação de processos, produtos e serviços destinados à incorporação de inovação na

agricultura angolana, com base em seu Planeamento Estratégico, e iniciaram interacção intensa

com a organização de assistência técnica e extensão rural angolana (Instituto de Desenvolvimento

Agrário). Implantaram e acompanharam projectos de desenvolvimento da agricultura familiar, em

cooperação com iniciativas empresariais incentivadas pelo País.

A partir de 2016, IIA e IIV se associam a outras instituições públicas de investigação de outros

países, como a Embrapa, buscando alternativas tecnológicas já desenvolvidas que possam ser

adaptadas, de forma rápida, às condições edafoclimáticas de Angola. Este esforço permite a

liberação, em tempo muito reduzido, de novas tecnologias agropecuárias. Ao mesmo tempo, a

Page 35: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

35

ATER pública já obteve sucesso na incorporação destas novas tecnologias à agricultura familiar. Os

primeiros casos de sucesso ocorreram já em 2019.

Em outra dimensão de avanço da P&D em Angola, alguns dos projectos iniciados a partir de 2015

para o desenvolvimento de tecnologias adequadas às principais cadeias angolanas, às condições

dos produtores rurais e a exigências de sustentabilidade ambiental já apresentam resultados

exitosos. Algumas destas tecnologias começaram a ser entregues aos produtores – em conjunto

com outras condições necessárias ao desenvolvimento agrícola – a partir de 2020.

A actividade agropecuária começa a ser desenvolvida, em Angola, também por parceiros externos,

grandes empresas que decidem investir na produção de alimentos em Angola. Sua participação é

incentivada pelo governo angolano, desde que seu investimento contemple também projectos de

apoio à incorporação tecnológica e à estruturação produtiva de pequenos agricultores angolanos.

Estes projectos exigem o alcance de metas claras para o aumento de sua eficiência produtiva, ao

longo do tempo.

Ao longo de todo o período, o Governo tem alocado recursos em quantidade adequada, tanto para

o crédito agrícola, como para a P&D, a ATER, a infraestrutura de pesquisa e de atendimento ao

produtor rural. Para o futuro, o Governo também tem compromisso com investimentos

sustentáveis em infraestruturas de apoio ao sector agropecuário.

Há um aumento sensível na oferta de alimentos básicos para a população angolana. A importação

de alimentos, embora ainda necessária, sofre também redução importante. É marcante a redução

na importação de cereais necessários à alimentação humana no país.

5.1.2. Caracterização do cenário 2: MESA INCERTA

BAIXA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E ALTA PRIORIDADE PARA A

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA

O desenvolvimento socioeconómico de Angola se dá por meio de incentivos à inovação

tecnológica na agricultura, com a participação dos Institutos de Investigação Agronómica e

Veterinária (responsáveis pela P&D agropecuária) e pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário

(encarregue da assistência técnica e da extensão rural dirigida aos produtores angolanos).

Page 36: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

36

A base deste modelo – iniciado em 2015 - sustenta-se na crença de que a inovação, pela

incorporação de tecnologias aos processos produtivos no campo permite o aumento expressivo

da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos no país; a melhoria da

atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos nutricionais; e o

cuidado com o meio ambiente.

As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao

aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda

dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à

preservação de recursos naturais (agua, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola

estão fortemente orientadas para estes objectivos.

A alta expectativa induzida no sector agropecuário por estes planos e metas, no entanto, começa

a reduzir-se pela sua implantação apenas parcial. Esta redução é refletida, por exemplo, na

reestruturação incompleta dos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária tanto em

termos de recursos humanos como de sua infraestrutura física. O mesmo tem se verificado com a

reestruturação planejada para a organização pública de ATER, inicialmente considerada como

elemento importante da diversificação econômica angolana. O crédito agrícola sofre algum ajuste,

mas não suficiente para incentivar ou mesmo atender as necessidades de crédito da agricultura

familiar.

No início do período (por volta de 2017) foram feitas tentativas de adaptar tecnologias agrícolas

desenvolvidas no Brasil, para os ecossistemas angolanos. Algumas destas tentativas foram bem

sucedidas, e quase que imediatamente incorporadas aos sistemas de produção da agricultura

familiar. Devido aos problemas na formação de equipes de pesquisa com conhecimento adequado

às necessidades das cadeias produtivas, alguns dos projectos de P&D iniciados não impactaram a

agricultura como seria desejado.

O Governo incentiva projectos junto a empresas privadas que se propõem a investir na produção

de alimentos em Angola, desde que cumpridas metas de produção ao longo de sua duração. A

agricultura familiar não tem participação nestes projectos, apenas limita-se, de projectos

produtivos de iniciativa do governo.

Page 37: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

37

No entanto, com o passar do tempo, observa-se que objectivos e metas previstas serão alcançados

apenas parcialmente, e o país dependerá ainda por muito tempo da importação de alimentos.

Além disto, os investimentos no sector agropecuário não são claramente definidos como

prioridade, e existem muitas oscilações, a cada ano, no montante de recursos destinados aos

principais actores (produtores rurais, P&D, ATER), tanto em termos de quantidade de recursos

financeiros disponibilizados, como em termos de continuidade de recursos.

Como consequência, a agricultura angolana melhora um pouco (no que se refere às explorações

agrícolas permitidas à iniciativa privada), mas como um todo não alcança os objectivos previstos.

A necessidade de importação de cereais se reduz menos do que o esperado. Há incertezas quanto

ao suprimento de alimentos demandados pelos angolanos.

5.1.3. Caracterização do cenário 3: MESA CARA

ALTA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E BAIXA PRIORIDADE PARA A

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA

O modelo se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola por meio de uma

matriz produtiva diversificada, baseada tanto na exploração de recursos naturais, como tendo

também como fontes de geração de renda a agricultura e a indústria.

No início do período (2015), a ênfase no desenvolvimento agrícola foi acompanhada por um

grande entusiasmo com a perspectiva de que pudesse ser resultante de inovação tecnológica na

agricultura. Hoje, este modelo está distante de alternativas que privilegiam a inovação. A P&D e a

ATER, funções relevantes para a geração de tecnologias, sua transferência aos sistemas produtivos

e como resultado, a incorporação de tecnologias aos seus processos de produção, são

considerados como custos desnecessários ao desenvolvimento do sector agropecuário. Esta

situação foi o resultado da reestruturação incompleta e inadequada, especialmente dos Institutos

de Investigação Agronómica e Veterinária, que levaram os agentes políticos a um total descrédito

na inovação como alavanca para o desenvolvimento.

Em vez disto, por volta de 2019 abandona-se o esforço neste sentido, e se adopta como base para

o desenvolvimento agrícola (ainda considerado como de alta prioridade para o país), que ele seja

alavancado pelo aumento de recursos para crédito rural, importação de insumos a preços

subsidiados, e pela compra, pelo governo, da produção obtida pelos agricultores familiares.

Page 38: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

38

Este enfoque não tem preocupação com o alcance de metas de produção, e a produtividade de

cada fazenda não é nem mesmo conhecida. Tampouco há preocupação com a qualidade dos

produtos, e se observa perda relevante da produção durante o transporte até os mercados, devido

à inadequação de processos e formas de armazenamento durante o mesmo. Não existe cadeia de

frio, e a produção animal sofre anualmente perdas consideráveis para chegar até o seu destino

final.

Também não há preocupação com o meio ambiente. Como um dos exemplos mais frequentes, os

pequenos agricultores familiares na maior parte das vezes combinam a exploração agrícola com a

criação bovina, resultando em compactação dos solos de suas propriedades, o que dificulta

cultivos e reduz a produção.

O modelo, então, prevê a destinação de recursos directamente para a actividade agrícola, sem

incentivar a incorporação de tecnologias pelos produtores.

Os recursos dirigidos aos Institutos de Investigação Agronomica e Veterinária minguam, reduz-se a

sua autonomia para projectos de pesquisa e também para renovação de infraestrutura e

remuneração de pessoal. Seus escritórios de pesquisa não têm recursos nem mesmo para realizar

análise de solos. Vários pesquisadores deixam os Institutos, por outras posições dentro ou fora do

país. Situação semelhante vivem os funcionários da organização de assistência técnica e extensão

rural. Ambas as funções (pesquisa agropecuária e ATER), parecem condenadas à extinção, em

Angola.

Este modelo tem sido consistentemente implantado, nos últimos cinco anos. Apesar das críticas

de alguns sectores políticos do país, oferecem-se recursos directamente aos produtores familiares,

em grande quantidade e de forma sustentada. Até este momento, observa-se aumento muito

reduzido na produção de alimentos em Angola, e as necessidades de importação aumentam

muito. A necessidade de importação se reduz de forma quase insignificante, e o país não logra

produzir mais do que 60% do total de cereais necessários à alimentação humana em Angola.

5.1.4. Caracterização do cenário 4: MESA VAZIA

BAIXA PRIORIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

NA AGRICULTURA

Page 39: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

39

O modelo de desenvolvimento se propõe a avançar o desenvolvimento socioeconómico de Angola

com base em uma matriz produtiva concentrada, que privilegia a exploração de recursos minerais,

como o petróleo (e em menor extensão, os diamantes). O modelo também vem incentivando a

indústria angolana, mas em escala mais limitada.

Observa-se, durante todo o período, que há uma redução consistente de recursos disponibilizados

para o desenvolvimento agrícola, tanto no crédito rural, como em recursos para importação de

insumos, e em políticas de apoio à comercialização de produtos agropecuários.

Em relação à agricultura, este modelo está distante de alternativas que privilegiam a inovação. A

P&D e a ATER, funções relevantes para a geração de tecnologias, sua transferência aos sistemas

produtivos e como resultado, a incorporação de tecnologias aos seus processos de produção, são

consideradaos como custos desnecessários ao desenvolvimento do sector agropecuário.

Os recursos dirigidos aos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária minguam, reduz-se

a sua autonomia para projectos de pesquisa e também para renovação de infraestrutura e

remuneração de pessoal. Seus escritórios de pesquisa não têm recursos nem mesmo para realizar

análise de solos. Vários pesquisadores deixam os Institutos, por outras posições dentro ou fora do

país. Situação semelhante vivem os funcionários da organização de assistência técnica e extensão

rural. Ambas as funções (pesquisa agropecuária e ATER), parecem condenadas à extinção, em

Angola.

Como consequência, parte importante dos produtores rurais tem migrado para as cidades mais

próximas, abandonando muitas das explorações agropecuárias.

A demanda por alimentos, em Angola, está hoje totalmente dependente de importações. A partir

de 2021, são cada vez mais frequentes as crises de abastecimentos e os levantes populares

motivados pela falta de alimentos.

Page 40: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

40

5.2. CENÁRIO 1: ‘MESA FARTA’

O Cenário “Mesa Farta” foi construído buscando antever os desdobramentos futuros de um

processo de desenvolvimento de Angola, baseado na diversificação da economia, no contexto da

qual o país prioriza o desenvolvimento agrícola e a inovação tecnológica. Inovação é aqui

entendida como a produção e aplicação de conhecimento no sector agrícola, resultante de um

plano de desenvolvimento institucional e estratégico, para estabelecer capacidade nacional de

produzir Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tecnológico e promover sua adopção pelo sector

produtivo angolano, por meio da modernização e o fortalecimento da Assistência Técnica e

Extensão Rural (ATER) aos produtores. O objectivo último desse esforço é utilizar o potencial do

sector para contribuir para o desenvolvimento económico e social do país, melhorar a qualidade

de vida e a segurança alimentar de sua população e a competitividade de Angola como produtora

agrícola, tanto no quadro africano como no quadro mundial.

A construção do Cenário Mesa Farta pressupõe que o Governo Angolano desenvolverá um plano

de investimento para promover o Desenvolvimento Agrícola como um sector prioritário, aí

prevendo o investimento na reconstrução e fortalecimento da capacidade de P&D e de ATER, nas

infraestruturas de logística, de conservação, beneficiamento, e escoamento da produção e na

modernização e facilitação de acesso ao crédito rural, entre outras medidas institucionais de apoio

à produção e ao produtor. O foco maior será incrementar substancialmente a produção nacional,

visando reduzir a dependência de importações e as incertezas no abastecimento interno de

alimentos e de matérias primas de origem agrícola, enfatizando a sustentabilidade, o

desenvolvimento social e o desempenho produtivo como critérios de avaliação e

acompanhamento.

Nesse contexto foram selecionadas variáveis chaves, consideradas fundamentais para na

determinação da evolução das dimensões “Ecossistemas”, “Consumidores Finais” e “Cadeias

Produtivas”, e, em um esforço colectivo de experts e técnicos, estudado seu comportamento,

frente aos desdobramentos plausíveis dessas políticas, tendo por linha de base o ano de 2014 e,

como horizonte de tempo para sua evolução, o ano de 2025. Seguem os resultados dessa

construção.

Page 41: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

41

5.2.1. Ecossistemas no cenário 1: Mesa Farta

ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

O esforço para incentivar a agropecuária no país engloba também programas de atenção ao meio

ambiente, visando a conservação de recursos naturais essenciais, tais como solo e água. Também

se iniciam programas de P&D relacionados a práticas sustentáveis de uso do solo, acessíveis aos

pequenos produtores. Há um esforço também para aumentar o conhecimento sobre as variações

do clima em cada bioma e dos factores associados à sua previsibilidade. Em consequência,

observam-se melhorias substanciais no uso de práticas sustentáveis, no conhecimento dos

recursos e no seu uso em cada bioma. Estas melhorias, associadas ao aperfeiçoamento dos

modelos de previsão do clima, contribuem para a redução dos riscos relacionados a calamidades

ou eventos climáticos extremos, tais como inundações, secas e ciclones. Todas estas mudanças

favorecem a manutenção das condições edafoclimáticas favoráveis nos principais biomas

angolanos.

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

A disponibilidade total de água nos principais biomas de interesse agrícola de Angola, aí incluídas

a água doce disponível em rios permanentes, água da chuva e outros corpos de água permanentes,

tem se mantido ao longo da última década. Esse resultado deveu-se a programas governamentais

de gestão do recurso implantados com êxito no final da década passada, não obstante eventual

ocorrência de calamidades climáticas, tais como alguns períodos de seca, e do aumento do volume

de água tratada, ofertado para consumo humano.

A despeito da intensificação das actividades económicas tradicionais baseadas no petróleo, que se

mantêm como as mais importantes do país, a competição pelo uso da água não foi tão intensa a

ponto de provocar mudanças importantes na disponibilidade de água nos biomas. De fato há novas

iniciativas sendo implantadas para melhorar a gestão da água e mediar o esperado aumento da

demanda, tanto para uso humano como para o uso agrícola e para as demais explorações

económicas. Em consequência, a disponibilidade de água nos biomas tem se mantido adequada e

suficiente para o desenvolvimento do país até aqui, e deverá ser mantida, mesmo diante das taxas

relativamente elevadas de crescimento das demais actividades económicas e da demanda para

uso humano.

Page 42: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

42

5.2.2. Consumidores no cenário 1: Mesa Farta

RENDA PER CAPITA

Além do sector petrolífero, outros sectores económicos têm sido incentivados a participar da

geração de renda, havendo incentivos tanto para a agricultura tradicional quanto para a

agricultura empresarial. Situação semelhante é observada na indústria. Melhora bastante a oferta

geral de emprego em Angola, com salário melhores, tanto nos sectores agrícolas, como nos

sectores industriais e de serviços. O PIB de Angola continua apresentando crescimento substancial

no contexto das nações africanas e, como consequência, a renda per capita tem se elevado ao

longo da última década.

PREÇOS DOS ALIMENTOS

Há, de forma geral, uma maior oferta de alimentos (resultado da produção local complementada

por importação), melhorando a relação entre a oferta e a crescente demanda angolana, em

resposta aos incentivos oferecidos para o sector agropecuário e para os agricultores. Obtiveram-

se também reduções nos custos da produção doméstica em razão da intensificação tecnológica

dos sistemas produtivos familiares. Empresas agrícolas, por sua vez, que utilizam maior proporção

de insumos, também têm obtido rendimentos mais elevados devido à tecnologia adoptada. A

qualidade dos alimentos apresenta melhorias, ainda que modestas, e os preços dos alimentos

caem de forma sensível.

REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS

Como resultado de incentivos à agricultura, há uma maior oferta de alimentos produzidos em

Angola. Há também uma diminuição da sazonalidade (e irregularidade) da produção local,

resultante de melhorias no maneio das culturas e redução de perdas da produção provocadas por

secas. Os investimentos voltados à melhoria na estrutura de distribuição dos produtos alimentícios

contribuíram para regularizar o abastecimento em quase todos os pontos do país. A maior oferta

da produção doméstica de alimentos, para a qual contribuiu substancialmente a multiplicação de

empresas agrícolas no país, permitiu reduzir a necessidade de importação. De forma geral, a

combinação de todos esses factores contribui sensivelmente para a regularidade da oferta de

alimentos no país, reduzindo a possibilidade da ocorrência de problemas de segurança alimentar

em Angola a eventos pontuais.

Page 43: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

43

5.2.3. Cadeias produtivas no cenário 1: Mesa Farta

USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Foram realizados fortes programas de educação e capacitação de produtores, com impacto

positivo no nível educacional, técnico e gerencial dos produtores agropecuários. As empresas

agrícolas passaram a ser mais organizadas e aumentou a demanda por tecnologia, em particular

por materiais de propagação melhorados. A demanda crescente de alimentos, derivada do

aumento da população, levou o governo angolano a realizar investimentos consideráveis na

pesquisa, em particular na formação de pessoal e em infraestrutura. Os programas de

melhoramento genético vegetal e animal foram reestruturados, fortalecendo-se sua base

científica, resultando na produção de materiais melhorados, posteriormente adoptados pelos

produtores agropecuários. A adopção dessa tecnologia contribuiu consideravelmente para

aumentar os rendimentos da produção agrícola no País e estabilizar a produção e os preços dos

produtos.

PREÇOS DOS INSUMOS

A prioridade conferida ao desenvolvimento agrícola pelo governo angolano resultou na

implantação do programa de produção nacional de insumos, tirando proveito da capacidade

tecnológica da indústria nacional de petróleo, propiciando o desenvolvimento de tecnologias e da

produção de matérias primas e dos principais insumos agrícolas no país, respondendo às

necessidades nacionais. Por sua vez, o reforço institucional das organizações de pesquisa agrícola

resultou na geração de tecnologias adequadas para o uso de insumos nos sistemas produtivos. Por

seu turno, os incentivos governamentais, sob a forma de aumento do valor do crédito, seguro e

outros instrumentos de apoio à agropecuária propiciaram o crescimento da demanda de insumos,

ao mesmo tempo em que favoreceram o desenvolvimento de organizações colectivas de

produtores, fortalecendo-os para enfrentar o mercado fornecedor de insumos e barganhar

melhores preços. Outro factor importante na formação dos preços dos insumos foi a melhoria do

programa de importação dos insumos e máquinas a preços competitivos, que ajudou a controlar

os preços no mercado interno de insumos. Um factor indirecto, mas com grande importância na

adopção de tecnologias é o nível educacional. A alfabetização no meio rural, componente do

programa de desenvolvimento agrícola, teve um impacto positivo importante na adopção de

novas tecnologias, contribuindo para o aumento da demanda por insumos. Observa-se assim um

Page 44: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

44

círculo virtuoso: o mercado favorável, pelo aumento do consumo, propiciou economias de escala

na produção, levando à prática de preços relativamente menores de insumos, cuja maior adopção

resultou em aumentos de rendimentos dos produtores.

SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS

Como resultado da politica do Executivo Angolano em aumentar investimentos e incentivos na

estrutura nacional de produção, cresceu a produção nacional de insumos. Ao mesmo tempo, a

prioridade e os incentivos conferidos ao desenvolvimento agrícola e à inovação tecnológica,

propiciou uma crescente demanda nacional por insumos agrícolas, alimentada pela melhoria do

nível tecnológico dos produtores. O desenvolvimento da produção nacional de insumos agrícolas

teve como consequência alterações s na política de importação desses produtos, com a supressão

de incentivos e facilidades, que contribuíram para a diminuição das importações desses produtos.

Com a consolidação da produção nacional de insumos, as importações desses produtos passaram

a ter o papel de complementação do abastecimento doméstico e de estabilização dos preços no

mercado interno em caso de pressões inflacionárias no mercado interno.

DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS

A política de desenvolvimento agrícola, implantada pelo governo angolano, priorizou a

capacitação técnica e gerencial dos produtores, os investimentos em infraestrutura de acesso aos

mercados e escoamento da produção e, também, o acesso ao crédito agrícola de campanha e para

investimentos em infraestrutura nas fazendas. Como resultado dessas políticas, a produção

agrícola no País foi impulsionada, resultando em maior rentabilidade para os produtores. O

aumento de rentabilidade, por sua vez, levou a um aumento da área das explorações

agropecuárias, à compra de máquinas e equipamentos e à reabilitação e ampliação da

infraestrutura de movimentação, de processamento e de conservação e armazenamento da

produção.

PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES

Apesar das condições climáticas favoráveis a emergência de pragas e doenças em Angola, a

actuação da estrutura de inovação tecnológica do País resultou na melhoria da capacidade técnica

e gerencial dos produtores nas práticas de maneio e controle de pragas e doenças, tanto no uso

de pesticidas quanto nas práticas de maneio integrado. A transferência intensiva desses

Page 45: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

45

conhecimentos aos produtores permitiu amenizar os prejuízos causados por pragas e doenças ao

sector agropecuário e melhorar substancialmente a produtividade das culturas e criações.

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

As políticas de desenvolvimento agrícola incentivaram a introdução e a expansão da produção

interna de matérias primas para formulação de rações para alimentação animal. As instituições de

pesquisa e assistência técnica desenvolveram e transferiram aos produtores tecnologias de

produção de cereais e leguminosas e de aproveitamento de subprodutos da agricultura que

permitiram o desenvolvimento de uma indústria nacional de rações, com impactos bastante

positivos no desenvolvimento da produção animal do país, beneficiando principalmente os

produtores de aves e suínos. A redução obtida nos custos da alimentação animal promoveu o

aumento da produção nacional e o fortalecimento das cadeias produtivas de origem animal

angolanas, aumentando sua rentabilidade. Como resultados, Angola diminuiu substancialmente

as necessidades de importações de rações e seus ingredientes, bem como dos próprios produtos

finais de origem animal, como carnes, ovos, entre outros.

DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA

A prioridade conferida pelo Governo ao desenvolvimento das comunidades rurais resultou em

uma diminuição dos fluxos de migração para as áreas urbanas, fruto da melhoria das condições

sociais nas províncias do interior do país. Programas de capacitação e incentivo ao aproveitamento

local da mão de obra ajudaram a reter uma proporção maior da população rural nas suas zonas de

origem e a melhorar a oferta de mão de obra qualificada. Este incremento na capacitação,

associado aos investimentos em inovação tecnológica na produção agropecuária, proporcionaram

um aumento da remuneração e na oferta da mão de obra, assim como um incremento nos

rendimentos da produção agropecuária.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Em face da necessidade de aumentar a produção nacional e reduzir importações de alimentos, o

Governo priorizou a inovação tecnológica, investindo fortemente nas instituições de pesquisa e de

ATER. As instituições de pesquisa e de ATER se organizaram internamente, passando a trabalhar

de forma articulada e sistêmica. Foram aplicados recursos na geração e transferência de sistemas

de produção para as principais cadeias produtivas de alimentos, que atenderam as principais

Page 46: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

46

demandas do sector produtivo agrário do País. A boa articulação entre a pesquisa e ATER

possibilitou a introdução de novos métodos de transferência de tecnologia, o que acelerou a

adopção dos sistemas de produção recomendados pela pesquisa e ATER. A adopção dos sistemas

de produção contribuiu para o aumento da eficiência produtiva e da produção em geral.

ACESSO A CRÉDITO RURAL

Entre as medidas de incentivo à actividade agropecuária adoptadas pelo Governo de Angola,

constaram a facilitação para a instalação de empresas agropecuárias no país e a criação de

programa de crédito rural com taxas de juros adequadas às condições dos diferentes segmentos

de produtores em Angola. Aumentou-se sobremaneira o volume de recursos disponíveis dentro

deste programa (face aos programas anteriores), e foram criadas novas fontes de financiamento,

buscando atender a diferentes segmentos e suas demandas específicas. Por exemplo, há fontes

para o financiamento de infraestrutura nas fazendas, adequadas para pequenos e médios

produtores. Estendeu-se de forma importante a capilaridade da rede de financiamento. As normas

de crédito, inclusive em relação ao processo burocrático necessário à sua obtenção, foram

revistas, no sentido de facilitar a tramitação de novos pedidos. Como resultado, verifica-se no país

o aumento do acesso ao crédito, permeando toda a actividade agropecuária. Em consequência

observa-se um maior rendimento da actividade agropecuária e uma maior disponibilidade de

recursos para os segmentos de produtores mais vulneráveis.

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)

O fortalecimento de novos sectores económicos como geradores de renda para Angola levou a

uma priorização das actividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) agro-pecuário, bem como

para a assistência técnica e extensão rural (ATER), com forte participação do governo no

financiamento destas actividades. Aumentaram, dessa forma, as inversões do país em inovação

tecnológica para a actividade agropecuária. O governo investiu, também, na adequação e

manutenção de infraestrutura adequada para estas actividades. Essas inversões levaram a um

aumento da produção agropecuária em Angola, tanto em termos de rendimentos como de

qualidade de produtos, praticamente afastando os riscos de problemas no abastecimento e de

segurança alimentar em Angola.

VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS

Page 47: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

47

Como parte de sua decisão em fortalecer a actividade agropecuária, o governo implementou várias

formas de apoio ao produtor, disponibilizando crédito e programas para facilitar o acesso aos

mercados, tanto para a compra de insumos como para a venda de produtos. Há também uma

maior consciência nacional de importância da logística para garantir que os alimentos produzidos

no país cheguem aos distribuidores e ao consumidor final. Com esse objectivo aumentou o esforço

de planeamento e gestão da logística aí envolvida. O incentivo à participação de empresas na

actividade agropecuária estimulou o investimento privado em infraestrutura viária para acesso às

propriedades produtoras. Como contrapartida o governo angolano disponibilizou máquinas e

treinamento a trabalhadores locais para sua operação. Estas medidas levaram a um substancial

aumento e melhoria das vias de acesso (estradas secundárias e terciárias) às fazendas.

Page 48: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

48

5.3. CENÁRIO 2: ‘MESA INCERTA’

A base deste cenário – iniciado em 2015 - sustenta-se na crença de que a inovação, pela

incorporação de tecnologias aos processos produtivos no campo permite o aumento expressivo

da produção, da produtividade e da oferta regular de alimentos produzidos no país; a melhoria da

atenção a demandas de consumidores finais, inclusive em relação a aspectos nutricionais; e o

cuidado com o meio ambiente, o provedor mais importante de recursos e serviços necessários à

agricultura, e de qualidade de vida para a população.

As metas de longo prazo para o desenvolvimento da agricultura angolana se relacionam ao

aumento da eficiência agropecuária e da qualidade de suas matérias primas; ao aumento da renda

dos produtores rurais; à oferta regular de alimentos aos consumidores finais de Angola; e à

preservação de recursos naturais (água, terra, fauna e flora). Tanto a P&D como a ATER em Angola

estão fortemente orientadas para estes objectivos.

A alta expectativa induzida no sector agropecuário por estes planos e metas, no entanto, revela-

se ter impacto apenas parcial, em função da baixa prioridade conferida ao desenvolvimento

agrícola e suas ferramentas de intervenção no sector. Esta situação é refletida, por exemplo, na

reestruturação incompleta dos Institutos de Investigação Agronomica e Veterinária tanto em

termos de recursos humanos como de sua infraestrutura física. O mesmo tem se verificado com a

reestruturação planejada para a organização pública de ATER, inicialmente considerada como

elemento importante da diversificação econômica angolana. O crédito agrícola sofre algum ajuste,

mas não suficiente para incentivar ou mesmo atender as necessidades de crédito da agricultura

familiar.

5.3.1. Ecossistemas no cenário 2: Mesa Incerta

ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

É um cenário que se encaminha para depender quase que exclusivamente da actividade de

exploração de recursos minerais, a preocupação com a agricultura e com as condições

edafoclimáticas nos biomas é tarefa muito pontual, para poucos pesquisadores abnegados, mas

cujo esforço tem sido deixado de lado pelos gestores. O conhecimento gerado não é incorporado

na actividade agrícola. As práticas agrícolas usadas no passado se tornam ainda mais populares.

Page 49: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

49

Eventuais calamidades podem degradar ainda mais o meio ambiente. As condições

edafoclimáticas nos biomas pioram, em comparação com o que se observava em 2014.

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

A disponibilidade total (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água da chuva,

corpos de água permanentes) observada em 2014 está sendo alterada por: a) uma pequena

estação de seca, que durou um ano, a partir de 2015; b) aumento do uso da água para consumo

humano, graças a programas de governo que foram implantados com êxito, no final da década.

Estes factores – que reduziram a disponibilidade – foram contrabalanceados por: a) pouca ou

mesmo nenhuma mudança na actividade agrícola no país, o que significou baixa demanda por

água nesta actividade; e b) medidas de gestão do uso da água para consumo humano, evitando

perdas e garantindo qualidade. Como consequência, a disponibilidade de água nos biomas

priorizados se mantém adequado para as necessidades das actividades económicas que sustentam

hoje a economia do país.

5.3.2. Consumidores finais no Cenário 2: Mesa Incerta

RENDA PER CAPITA

O sector petrolífero mantém a mesma participação no PIB que a verificada por volta de 2014 (45%),

e o mesmo ocorre com outros sectores da economia (por exemplo, agricultura 10%, e indústria,

7%). Algumas medidas do governo indicam que o sector de recursos minerais pode ser ainda mais

importante no futuro próximo, e poucos empresários pensam em investir nestes sectores. O

crescimento da população se apresenta como esperado, e o crescimento da renda per capita se

reduz para 3,6%, em relação ao ano anterior, quase o mesmo valor que o da média de crescimento,

entre 2011 e 2019.

PREÇOS DOS ALIMENTOS

A pouca ênfase em políticas para a agricultura não provocou mudanças significativas em termos

de incentivos concretos aos produtores. Os pequenos agricultores sem incentivos concretos,

mantiveram seus padrões de produção. Algumas empresas se arriscam em empreendimentos

agrícolas, buscando oportunidades de mercado. Há forte importação de alimentos para atender a

demanda nacional, pouco suprida pela produção interna. Os preços de alimentos são voláteis,

Page 50: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

50

pela dependência de importações, e podem ocorrer problemas eventuais de abastecimento e

segurança alimentar.

REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS

O baixo apoio ao desenvolvimento agrícola desestimula a produção local, mantendo-a em seus

níveis históricos. Há ainda instabilidade, provocada pela pouca incorporação de inovações

tecnológicas aos sistemas produtivos do País. Ocorrem perdas provocadas por fenômenos

climáticos. Também há dificuldades a superar em relação à distribuição de alimentos. A

estagnação da produção local requer a importação de alimentos. A oferta de alimentos em Angola

continua irregular.

5.3.3. Cadeias produtivas no Cenário 2: Mesa Incerta

USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Foram realizados alguns programas de educação e capacitação de produtores, o que aumentou a

demanda do sector produtivo agropecuário por materiais de propagação melhorados. O Governo

OA investiu na pesquisa, o que permitiu a proposição e execução de alguns programas de

melhoramento genético vegetal e animal. Estes programas, entretanto, não lograram alinhar-se

as demandas dos produtores e produziram alguns materiais que tiveram problemas de adopção

por parte dos usuários. A pouca prioridade governamental ao desenvolvimento agrícola não

permitiu obter elevados índices de rendimento das actividades agropecuários de segmentos de

produtores.

PREÇOS DOS INSUMOS

Poucos investimentos públicos no sector agrícola não permitiram a pesquisa gerar adequadas

tecnologias de produção de matérias primas de insumos para responder a demanda dos

produtores. A pouca oferta nacional de insumos, favorecida pela falta de incentivos a á produção

nacional manteve o País na dependência de importações e os consequentes altos preços ao

produtor. A desmotivação provocada por este quadro negativo concorreu para a desestruturação

das organizações colectivas dos produtores. Expostos de forma isolada a um mercado baseado em

importações, os produtores tiveram que enfrentar altos preços de insumos, incompatíveis com os

seus sistemas de produção.

Page 51: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

51

SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS

No quadro da política do Executivo Angolano o desenvolvimento agrícola teve pouca ênfase, o que

resultou na estagnação da produção agropecuária, embora existisse inovação tecnológica

disponível. A estrutura nacional de produção de insumos não registou um impacto significativo na

oferta nacional, o que tem elevado as necessidades de importação para atender a demanda. O

governo diminuiu os incentivos e facilidades de importação de insumos para atender a demanda.

DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS

O governo estabeleceu uma política de capacitação que resultou num aumento substancial das

capacidades técnica e gerencial dos produtores. Todavia, esta política não foi acompanhada por

financiamentos de investimentos nas unidades produtivas, que seguiram com problemas para

processar, armazenar e transportar suas produções, pelas deficiências de infraestruturas nas

propriedades. Dessa forma, os incrementos de rendimento das explorações agropecuárias foram

limitados.

PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES

O conhecimento sobre a dinâmica das pragas e doenças existentes nos diferentes ecossistemas do

país cresceu nos anos recentes, em função da actuação da pesquisa agropecuária, que identificou

agentes causais e gerou tecnologias de controle químico com defensivos e formas de maneio

integrado de pragas e doenças. Todavia, os resultados da pesquisa não foram transferidos aos

produtores, por deficiências na estrutura de assistência técnica e na capacitação dos mesmos.

Assim, as condições climáticas favoráveis contribuíram para o desenvolvimento e disseminação

das pragas e doenças que não foram controladas, pela falta de capacitação dos produtores e pelas

dificuldades em adquirir os defensivos necessários para o controle.

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

A demanda por matérias primas aumentou consideravelmente, motivada pela pouca

disponibilidade de matérias primas de produção nacional. A importação de matérias primas não

atendeu a demanda, devido aos altos preços da sua aquisição, refletindo-se negativamente nos

custos de alimentação animal, mesmo com a introdução de inovação tecnológica nos sistemas de

produção animal. A rentabilidade da produção pecuária, que deveria ter aumentado, ficou

comprometida por este aumento de custos de produção.

Page 52: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

52

DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA

Os limitados investimentos governamentais não permitiram a criação no meio rural de programas

de capacitação e incentivo de mão de obra local, o que contribuiu para a manutenção da fuga da

população rural para as áreas urbanas. A disponibilidade de operários rurais não aumentou, uma

vez que a densidade populacional nas áreas rurais pouco se modificou. O pequeno aumento de

mão de obra qualificada contribuiu para um incremento localizado do rendimento da actividade

agropecuária, provocado pelo aumento da eficiência da mão de obra, nos locais onde os poucos

programas de qualificação da mão de obra foram executados.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

O Governo passou a priorizar a inovação tecnológica, investindo nas instituições de pesquisa.

Melhor organizadas internamente, estas passaram a trabalhar de forma sistêmica, desenvolvendo

sistemas de produção para as principais cadeias produtivas do País. Os sistemas desenvolvidos

satisfizeram as principais demandas por inovações tecnológicas por parte dos produtores. Porém

a falta de investimentos nas organizações de ATER e em políticas de apoio ao produtor rural, não

permitiram o enlace com as organizações de pesquisa. Como consequência, os sistemas de

produção da pesquisa foram pouco adoptados pelos produtores, que apresentaram poucos

avanços em eficiência produtiva e melhoria de rendimentos.

ACESSO A CRÉDITO RURAL

A agricultura não é sector priorizado nas políticas de governo, que prefere aprofundar a

participação do sector petrolífero, inclusive para atender às demandas alimentares da população,

por meio de recursos financeiros gerado por este sector. Por esta razão, o volume de recursos

disponíveis para o crédito agrícola continua baixo, são poucas e inadequadas as fontes de

financiamento, a rede de atendimento aos produtores interessados apresenta pouca capilaridade

e as normas de crédito dificultam a tomada de crédito pelos produtores. É muito pequena a

capacidade de acesso destes produtores ao crédito rural.

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)

A economia angolana não tem a matriz produtiva diversificada, como tanto se pregou durante os

últimos dez anos. O sector petrolífero é hoje praticamente o principal responsável pela geração de

renda no país. Como resultado, existem inversões em P&D e ATER, com base em investimentos do

Page 53: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

53

Governo e de institutos estrangeiros de incentivo à agricultura (especialmente fundações). A P&D

e a ATER melhoraram suas infraestruturas, as quais poderiam atender as demandas de produção

agropecuária do país, o que não tem ocorrido pelas deficiências estruturais apresentadas pelo

sector agrícola.

VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS

Dada a opção pela importação de alimentos, o governo não tem incentivado a construção ou

manutenção de vias terciárias para acesso às fazendas. As vias de acesso continuam precárias, por

depender de esforços locais ou individuais para se manter EM em operação. A produção nacional

é prejudicada, pelas dificuldades deos produtores escoarem suas produções e acessar mercados.

Page 54: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

54

5.4. CENÁRIO 3: ‘MESA CARA’

No ano de 2025, avanços no âmbito socioeconómico são facilmente percebidos em Angola, que

se mostra com uma matriz produtiva diversificada, onde a agricultura tem sua importância

assegurada. A balança comercial nacional proporciona divisas, que se transformam em projectos

de desenvolvimento agrícola, traduzidos na forma de ampliação da gama de recursos financeiros

para atender a demanda por maior produção de grãos, cereais, hortifrutigranjeiros e de produtos

geradores de proteína animal. Máquinas, infraestrutura e sistema logístico (abastecimento e

transporte) são prioritários entre as linhas de crédito. As importações de insumos e produtos são

mantidas, com o objectivo de garantir o abastecimento interno.

Apesar da pujança de projectos voltados ao sector agropecuário, vê-se a manutenção dos preços

altos no sector – tanto para os insumos, quanto para o produto final. As evidências se mostram

vinculadas a uma baixa produtividade, uma vez que pouca prioridade é dada pelo Estado para

políticas que favoreçam a inovação tecnológica. Faltam recursos financeiros para a geração de

projectos de pesquisa, além da ausência de programas de ampliação e capacitação de técnicos

para os institutos de pesquisa (sobretudo para atender as demandas do IIV e do IIA). Toda essa

realidade favorece a um quadro de incertezas para a sustentabilidade social e econômica de

Angola para o médio e longo prazos.

5.4.1. Ecossistemas no Cenário 3: Mesa Cara

ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

O clima de optimismo com a ampliação dos projectos de desenvolvimento socioeconómico

nacional – tendo a inclusão da agricultura como fonte de geração de renda para o país – amplia a

resposta de investimentos no sector produtivo agropecuário, entretanto deixa de lado programas

de inovação com atenção ao meio ambiente. Há poucas pesquisas, no país, que permitam derivar

políticas adequadas ao meio ambiente e programas necessários a uma agricultura sustentável. As

práticas agrícolas da agricultura de subsistência continuam a incluir queimadas, desmatamento,

exploração de madeira de forma indiscriminada para lenha, sobrepastejo, e acções negativas sobre

os solos, que causam erosões e afetam a sua qualidade. O esforço para compreender o clima e os

factores que podem contribuir para a sua maior previsibilidade e regularidade é também ainda

muito restrito. Aliadas a eventuais calamidades, as condições pelas quais são mantidos os sistemas

Page 55: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

55

de produção passam a resultar em impactos negativos sobre as actividades agropecuárias e a

segurança alimentar.

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

A disponibilidade total de água (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água

da chuva, corpos de água permanentes), observada em 2025 não sofreu a influência de

calamidades climáticas ao longo dos últimos anos, mas está sendo alterada pelo aumento sensível

do uso da água para consumo humano, graças a programas de governo voltados ao

desenvolvimento socioeconómico das áreas agrícolas, que foram implantados com êxito, e a

decidida implantação de medidas para a diversificação econômica em Angola, que levou a

explorações na agricultura e aumento no uso desta para irrigação. Contudo, tal esforço ameaça a

sua utilização no longo prazo, já que os investimentos em tecnologia para seu uso racional são

precários.

5.4.2.Consumidores finais no Cenário 3: Mesa Cara

RENDA PER CAPITA

Outros sectores são incentivados a participar da geração de renda em Angola. Alguns incentivos

são anunciados, tanto para a agricultura, como para a indústria. No entanto, estes anúncios não

se refletem em políticas que favoreçam o crescimento do PIB. A oferta de emprego, nestes

sectores, o crescimento da população, mais rápido do que o esperado. Embora haja uma crescente

procura por uma ocupação, especialmente por parte dos mais jovens, a renda per capita da

população, em geral, não se altera.

PREÇOS DOS ALIMENTOS

Na condição em que o país se encontra, vê-se uma agricultura ampliada, porém, pouco avançada

tecnologicamente. Mesmo com as iniciativas de apoio governamental ao desenvolvimento

agrícola, há uma continuidade na expressividade da agricultura de subsistência, com pouca

integração ao mercado. Poucas empresas agrícolas não são suficientes para dar conta de atender

a demanda crescente da população urbana, o que determina uma volatilidade da oferta de

alimentos e uma manutenção da necessidade de importação de produtos, muitas vezes, de

qualidade duvidosa. Por conseguinte, mantem-se altos os preços dos alimentos.

Page 56: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

56

REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS

Em consequência do quadro acima, há uma irregularidade na oferta de alimentos, uma vez que a

expressiva agricultura de subsistência não se destina às populações urbanas e a importação

também é dependente dos preços das commodities não agrícolas – especialmente o petróleo. O

facto é que há poucas empresas dedicadas à actividade agrícola voltada ao mercado no país e a

tecnologia de produção utilizada é inadequada e ineficiente. A sazonalidade agrícola é também

afectada pela presença de fenômenos climáticos, que levam a uma imprevisibilidade da produção.

5.4.3. Cadeias produtivas no Cenário 3: Mesa Cara

USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Em consequência da baixa prioridade governamental na pesquisa voltada a inovação tecnológica,

observa-se uma falta de materiais melhorados para atender à demanda da produção agrícola

nacional. Ainda assim, os poucos materiais gerados não foram adoptados pela maior parte dos

produtores, que não receberam incentivos e assistência técnica para sua aplicação – embora

houvessem incentivos para o avanço da produção agrícola de maneira geral.

PREÇOS DOS INSUMOS

A realidade do sector agropecuário em Angola mostrou que os incentivos ao desenvolvimento

socioeconómico da agricultura e os pequenos investimentos governamentais na pesquisa e na

produção e transformação de matérias primas para fabrico de insumos produziu alguma

tecnologia e produção nacional. Entretanto, tal situação gerou pouco impacto na redução de

preços destes insumos. Tal situação ocorre no mesmo tempo em que não se viu grandes mudanças

no processo de organização dos produtores em associações e cooperativas, elemento que

permitiu a continuidade da dificuldade de acesso aos mercados e a manutenção dos elevados

preços para aquisição de insumos. O elevado custo destes, aliados á pouca pesquisa no sector,

determinou o seu uso inadequado (normalmente reduzido), repercutindo na manutenção de

baixos rendimentos agropecuários.

Page 57: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

57

SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS

Em decorrência da incipiência da produção nacional de insumos – decorrente do fraco

investimento em pesquisa no sector – vê-se a manutenção de incentivos governamentais voltados

à importação e abastecimento de produtos importados.

DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS

Dentro da manutenção de uma política de reconstrução nacional, o Governo oferece crédito aos

produtores rurais para investimento em suas propriedades: instalação para maneio de animais,

vias internas, estrutura para armazenagem e processamento da produção etc. Todavia, esta

política não foi acompanhada por melhorias no sistema de inovação tecnológica do País, o que

determinou a incapacidade de gerar e transferir conhecimento técnico e gerencial aos produtores

financiados. O baixo nível de escolaridade dos produtores proporcionou ainda uma má gestão das

explorações agropecuárias, que embora tenham aumentado em tamanho, não lograram melhorar

em desempenho, gerando uma fraca rentabilidade para os produtores.

PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES

Face à prioridade conferida pelo Governo de Angola ao desenvolvimento agrícola nos últimos

anos, a implementação das vigilâncias fitossanitária e de sanidade animal em diferentes

ecossistemas do país permitiu obter algum conhecimento sobre a existência e a dinâmica das

pragas e doenças que afectam as produções vegetal e animal. Esta atitude ajudou os órgãos de

assistência técnica a estabelecer, junto aos produtores, estratégias técnicas e gerenciais para o

maneio sustentável de pragas e doenças de acordo com os defensivos, vacinas e medicamentos

disponíveis. Todavia, o pouco incentivo à inovação tecnológica neste campo resultou em poucos

avanços nesse controle, impedindo, consequentemente, em incrementos de produtividade nas

culturas e criações do país.

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

Embora o governo de Angola tenha investido no desenvolvimento agrícola, houve pouca aplicação

de investimentos público e privado na inovação tecnológica para o desenvolvimento de estudos e

técnicas de ampliação das fontes de nutrição animal. Tal condição preservou a manutenção dos

padrões de baixos rendimentos e de pouca rentabilidade na produção animal no País. A

disponibilidade de matérias primas alternativas e a utilização de aditivos sofreram poucas

Page 58: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

58

mudanças ao longo dos anos, repercutindo em baixa eficiência dos planteis e consequente

manutenção, ou até retração, na demanda.

DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA

O governo fez grandes investimentos nas zonas rurais e provocou, por esta razão, um regresso

massivo de populações rurais deslocadas às suas zonas de origem. Isto repercutiu em um aumento

na disponibilidade de mão de obra nas zonas rurais. Todavia, a baixa prioridade do governo

angolano para a inovação agropecuária impediu que as unidades de produção avançassem em

desempenho e, consequentemente, não demandassem maior efectivo de trabalhadores –

especialmente trabalhadores mais qualificados. O aumento da oferta de mão de obra com baixa

qualificação contribuiu para manter a remuneração dos trabalhadores rurais muito baixa.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Nos últimos anos, mediante o facto de ter sido conferido uma pequena prioridade a inovação

tecnológica na produção agropecuária de Angola, as organizações de pesquisa e de ATER não

lograram responder as demandas do sector rural e, por conseguinte, não geraram a transferência

de conhecimentos e tecnologias de forma sistêmica aos produtores. Baixa produtividade científica

e a pouca articulação entre a pesquisa e a assistência técnica comprometeram a credibilidade das

organizações, gerando uma demanda insatisfeita por inovação tecnológica. A pouca adopção

obtida baseou-se em práticas agrícolas isoladas e tradicionais, com resultados pouco expressivos

no que tange à melhoria da eficiência produtiva e a rendimentos da actividade.

ACESSO A CRÉDITO RURAL

O rendimento dos agricultores, em função do baixo incremento tecnológico em suas actividades,

continua, em geral, baixo, e leva a uma menor disponibilidade de recursos para todos os

segmentos. Isto ocorre, mesmo em presença de medidas governamentais para maior acesso ao

crédito pelo produtor, por meio de programas específicos voltados ao investimento e custeio das

actividades agrícolas. A diversificação destes programas permite a oferta de recursos adequados

às necessidades de agricultores familiares e de produtores empresarias; medidas que minimizam

a burocracia; qualificação de diferentes formas de crédito, para diferentes segmentos de

agricultores; aumento da capilaridade da rede de financiamento, com a instalação de agências

bancárias em locais mais remotos; além do aumento das fontes de financiamento.

Page 59: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

59

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA)

As decisões tomadas em relação ao fortalecimento da actividade agropecuária, pelo governo,

ainda não foram estruturadas em programas de governo bem definidos. Isto ocorre por que,

particularmente, ainda não está claro quais medidas serão tomadas em relação à P&D

agropecuária e à ATER, necessárias ao crescimento sustentado da agricultura. Não se sabe também

qual o montante da participação no financiamento destas actividades. A rede de financiamento

para a pesquisa agropecuária continua com a mesma estrutura de antes, sem aumentar sua

capilaridade. Entretanto, em 2025, a demanda pela produção agropecuária se amplia, visto que

muitas acções do governo de Angola favorecem o investimento e o incremento em custeio das

produções agrícolas.

VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS

Entre as medidas de fortalecimento do sector agropecuário, o governo anunciou aquelas que

seriam dirigidas a melhorar a interacção da produção local com os seus mercados mais próximos,

tanto para a compra de insumos como para a venda de seus produtos. Sabe-se que estão sendo

feitas discussões sobre a logística, o crédito para a melhoria de vias terciárias e o planeamento da

logística necessária aos interesses do sector.

Page 60: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

60

5.5. CENÁRIO 4: ‘MESA VAZIA’

Há uma redução consistente de recursos para o desenvolvimento agrícola, e também para a

inovação tecnológica na agricultura. Sem incentivos ou apoio, os agricultores migram durante todo

o período para as cidades próximas, abandonando as explorações agropecuárias. Não existe

preocupação, por parte do Governo, com a produção agropecuária local, e a oferta de alimentos

é praticamente dependente de importações. Esta situação provoca crises de abastecimento de

alimentos e intranquilidade social, pela falta de alimentos.

5.5.1. Ecossistemas no Cenário 4: Mesa Vazia

ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS, NOS BIOMAS PRIORIZADOS

A dependência do petróleo, deixando-se de lado outras actividades geradoras de renda, e a

imigração para as cidades de grande parte dos agricultores – além da escassez de recursos para a

pesquisa agrícola – deixa o meio ambiente totalmente sem assistência. As práticas dos agricultores

que ainda estão no campo poderiam ser melhor descritas como de extractivismo (e não

propriamente agrícolas). O conhecimento sobre os biomas e os factores que os influenciam é

muito reduzido. Calamidades eventuais têm potencial para aumentar sobremaneira a degradação

ambiental já existente. As condições edafoclimáticas para a agricultura pioram muito, neste

contexto.

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

A disponibilidade de água (somando-se a água doce disponível em rios permanentes, água da

chuva, corpos da água permanentes) observada em 2014 foi fortemente afectada pela ocorrência

de calamidades climáticas (tal como períodos de seca). Houve um aumento do uso da água para

consumo humano, graças a programas de governo que foram implantados com êxito, no final da

década. O país abandona o projecto de diversificação da economia de Angola, e intensifica

fortemente a exploração petrolífera, agora praticamente a única fonte de geração de renda. A

gestão da água é abandonada em prol dos resultados económicos. A disponibilidade de água nos

biomas está fortemente comprometida, e o país começa a discutir alternativas para solucionar o

problema.

Page 61: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

61

5.5.2. Consumidores finais no Cenário 4: Mesa Vazia

RENDA PER CAPITA

O sector petrolífero aumenta sua participação no PIB, a expensas de outros sectores como

agricultura e indústria. A população cresce, ainda que a taxas decrescentes. O sector petrolífero

não logra atender à demanda por emprego desta população. Aumenta o número de pobres em

Angola. A renda per capita verifica reduções relevantes, nos últimos anos. Em 2025, o crescimento

do PIB per capita é de apenas 2,4% em relação ao ano anterior.

REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS

A saída de grande parte dos agricultores angolanos do campo reduz fortemente a produção local.

Esta atende tão somente as regiões mais próximas, assim mesmo em pequenas quantidades. A

importação se faz essencial. No entanto, esta importação apresenta também dificuldades a ela

inerentes (como a volatilidade nos preços de alimentos, durante o ano), o que significa mais custos

para o país. Melhora um pouco a estrutura de distribuição, mas ainda há muitos locais com

dificuldade de acesso aos alimentos. Ainda se verifica irregularidade na oferta de alimentos em

Angola.

PREÇO DOS ALIMENTOS

Os agricultores angolanos - sem incentivos e com pouco alimento para sua própria sobrevivência

– migram (em grande proporção) para as cidades próximas. A oferta de alimentos passa a

depender pesadamente de importações. Há maior oferta, mas também maior irregularidade. Os

preços dos alimentos aumentam, com pequeno aumento em qualidade.

5.5.3. Cadeias produtivas no Cenário 4: Mesa Vazia

USO DE MATÉRIAS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Com a prevalência do baixo nível educacional dos produtores, associada à existência de um

número reduzido de empresas agropecuárias, a demanda de materiais melhorados continuou

baixa. Esta pequena demanda não incentivou o GOA a investir na pesquisa (formação do pessoal

e infraestruturas). Os programas de melhoramento genético vegetal e animal necessários para a

melhoria da situação não foram elaborados. Na ausência de programas de melhoramento

Page 62: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

62

genético, não foram produzidos novos materiais para a adopção. Como resultado, houve

diminuição de rendimentos das actividades agropecuárias.

PREÇOS DOS INSUMOS

Não houve investimentos públicos na pesquisa e de incentivos à produção, o que na falta de

tecnologia nacional e de incentivos manteve a produção nacional de insumos estagnada e uma

oferta nacional inexistente. Da mesma forma, a falta de investimentos na produção e

processamento agroindustrial de matérias primas para insumos não favoreceu a produção

nacional. Dessa forma, para atender a pequena demanda, o País apelou para importações,

dificultado por escassez de divisas e controles governamentais. Desestimulados, os produtores

desistiram do cooperativismo, ficando a mercê dos fornecedores de insumos e dos altos preços

praticados pelos mesmos.

SISTEMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E IMPORTAÇÃO DE INSUMOS

Grande parte das poucas empresas do sistema nacional de produção de insumos entraram em

falência, devido aos altos custos de matéria-prima e da pequena demanda por insumos no Pais.

Como consequência, a agricultura no País continuou a ser realizada com um baixo nível

tecnológico. Grande parte da demanda residual tem sido suprida por importações de insumos,

comprometendo a balança de pagamentos fortemente vinculada aos preços do petróleo.

DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS FAZENDAS

Devido à elevação do preço do petróleo no mercado mundial nos últimos anos, o Governo

Angolano reduziu o apoio financeiro prestado ao sector agro-pecuário, o que deixou os

agricultores sem programas de treinamentos e diminuiu o volume de crédito agrícola de

investimento para a melhoria de suas infraestruturas. As explorações mantidas com recursos

próprios se mantiveram muito pequenas em áreas de produção. A falta de capacitação técnica e

gerencial, combinada com a escassez de recursos, proporcionou rendimentos muito baixos das

explorações agropecuárias.

PRAGAS E DOENÇAS NAS CULTURAS E CRIAÇÕES

O déficit estrutural e organizacional das instituições ligadas a gestão dos assuntos fitossanitários

do país, e a pouca inovação tecnológica produzida no período limitou a produção e a disseminação

Page 63: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

63

de conhecimentos técnicos-científicos sobre pragas e doenças. A capacidade técnica e gerencial

dos produtores no uso racional dos defensivos disponíveis continuou muito limitada. Tendo em

conta a prevalência de condições climáticas favoráveis a ocorrência de pragas e doenças, as

produtividades das explorações foram muito baixas, em função dos prejuízos causados pela falta

de controle sanitário adequado.

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

A falta de conhecimentos e tecnologia sobre formulação de ração, por parte dos produtores de

gado, aliado aos altos preços de matérias primas tem gerado fortes impactos nos custos de

alimentação. A produção nacional de matérias primas é pequena, o que afecta a sua

disponibilidade para os poucos produtores interessados nesta tecnologia. A rentabilidade da

produção animal se manteve constante e baixa nos últimos anos, com impactos nos preços dos

produtos finais das cadeias produtivas ao consumidor de Angola.

DISPONIBILIDADE DE MÃO-DE-OBRA

Face as dificuldades orçamentárias, o governo não investiu no melhoramento das condições

socioeconómicas das zonas rurais, o que manteve a contínua migração da população rural para as

zonas urbanas, agravando ainda mais o déficit de mão de obra já existente. Os programas de

capacitação dirigidos precariamente para a população remanescente não ofereceram uma

contribuição relevante na capacitação dos operários, que pouco capacitados, continuaram a ser

mal remunerados. Este conjunto de factores negativos contribuiu para manter os rendimentos das

explorações agropecuárias muito reduzidos.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIOS

Com recursos crescentes da exportação de petróleo, o governo prefere suprir as necessidades de

alimentos do País com importações, conferindo pouca prioridade à inovação tecnológica. Houve

algum investimento nas organizações de pesquisa e de ATER, mas estes foram feitos de forma

errática e pouco planejada. As organizações seguiram trabalhando de forma isolada e pouco

sistêmica. As importações de alimentos, concorrendo com a produção nacional, desestimularam

os produtores, reduzindo suas demandas por inovação tecnológica. A pouca inovação que ocorreu

no período foi baseada em práticas isoladas, com pouco impacto na eficiência produtiva dos

produtores e na produção agrícola nacional.

Page 64: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

64

ACESSO A CRÉDITO RURAL

Como resultado de ausência de incentivos à actividade agropecuária, nos anos passados, e à

exclusividade do sector petrolífero como gerador de renda para o país, a agricultura foi fortemente

afectada, levando muitos produtores (a maioria) a deixar o campo. Por esta razão, foi reduzido o

volume de recursos disponíveis para o crédito rural, não se aumentou (as vezes se reduziu) a

capilaridade da rede de financiamento, há poucas fontes de recursos, e as normas de crédito não

se adequam às características dos produtores que permaneram no campo. O rendimento deste

segmento de produtores é muito pequeno, e muitas vezes não lhes permite atender a estas regras.

Torna-se muito difícil o acesso ao crédito rural, neste ambiente.

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA E

EXTENSÃO RURAL)

A agricultura angolana encolheu, nos últimos anos. Claramente, a actividade não é prioridade de

governo, e não pode contar com participação pública em seu financiamento. A demanda por

produção agropecuária reduziu-se, pois o consumidor angolano acredita que poderá sempre

contar com alimentos a seu dispor, por meio de importação. A infraestrutura de P&D e ATER não

foi renovada e se deteriora a cada dia. Praticamente não existem inversões em inovação

tecnológica agropecuária no país.

VIAS DE ACESSO ÀS FAZENDAS

Dada a opção pela importação de alimentos, o governo não incentiva, de forma alguma, a

construção ou manutenção de vias terciárias para acesso às fazendas. Há um esforço centralizado

para garantir que o alimento adquirido chegue ao consumidor final, no entanto, esteja ele onde

for. Neste sentido, e por esta razão, muitas das vias de acesso são recuperadas com financiamento

público.

Page 65: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

65

6. CONCLUSÕES

O exercício de prospecção sobre o futuro do agronegócio e da inovação tecnológica no período

2014-2025 em Angola permitiu construir quatro hipóteses de futuro para estes temas no País,

sendo uma hipótese muito optimista, que foi denominado de Mesa Farta, duas hipóteses de futuro

não tão brilhantes, batizadas de Mesa Incerta e Mesa Cara, e uma hipótese muito pessimista, Mesa

Vazia, cuja denominação já indica o seu grau de impacto negativo sobre o desenvolvimento da

agricultura em Angola e sobre os consumidores de produtos agrícolas do País.

Obviamente, tais hipóteses servem para indicar aos planejadores, gerentes e formuladores de

políticas públicas quais poderiam ser as consequências futuras de suas decisões actuais e quais

variáveis são mais influentes para determinar um futuro desejável, como sugerido pelo cenário

Mesa Farta, ou um futuro totalmente indesejável, como é o caso do cenário Mesa Vazia.

A construção do Cenário “Mesa Farta” indica que o futuro do sector agropecuário de Angola

poderia ser fortemente impulsionado pela intervenção do governo angolano na implantação de

uma política de diversificação da economia do país, no âmbito da qual o Desenvolvimento Agrícola,

tendo por base a inovação tecnológica, seria um dos eixos prioritários. O cenário indica os

impactos plausíveis que investimentos orientados por essa política poderiam ter sobre a

sustentabilidade ambiental, o desenvolvimento social da população (vistas como consumidores

finais da produção agrícola) e a evolução das cadeias produtivas agropecuárias do país.

Os resultados da análise dessa evolução temporal neste cenário optimista levariam às seguintes

situações:

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Na dimensão “Sustentabilidade”, as políticas de priorização do desenvolvimento agrícola e de

inovação tecnológicas, dirigindo os investimentos para as ações voltadas para garantir a

conservação das condições edafoclimáticas e a conservação de água nos biomas priorizados para

a produção agrícola, garantiriam a oferta dos serviços ambientais essenciais para a

sustentabilidade da actividade produtiva agrícola e ao mesmo tempo, áà preservação destes

biomas.

Page 66: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

66

DESEMPENHO SOCIAL

Na dimensão “Consumidores Finais” a implantação das políticas priorizadas - Desenvolvimento

Agrícola e Inovação - sobre o desenvolvimento social da população, (considerando como variáveis

críticas a renda per capita, os preços dos alimentos e a regularidade no abastecimento de

alimentos) poderia gerar os seguintes impactos plausíveis em 2025: a) Efeitos positivos

importantes sobre a renda “per capita” dos angolanos, em razão do aumento do PIB, devido à

contribuição do sector agrícola; b) Estabilização dos preços dos alimentos, com diminuição dos

custos finais para o consumidor e contribuição importante para o controle da inflação; c) Maior

regularidade da oferta, com diminuição de importações, e a superação dos problemas de

abastecimento e de segurança alimentar em Angola.

DESEMPENHO DAS CADEIAS PRODUTIVAS

O desempenho das cadeias produtivas, aferido pela eficiência produtiva e pela sua

competitividade, é a resultante de complexas interações entre variáveis associadas e dependentes

de inovação tecnológica e gerencial. A priorização do desenvolvimento agrícola, com inovação, em

Angola, portanto, significa desenvolver políticas amplas, que possam oferecer suporte nas várias

dimensões envolvidas, com persistência em um horizonte de tempo considerável. A presente

análise aponta acções que tornam plausíveis essas construções políticas, a exemplo do que já

ocorreu em outros países. Ademais, de construção dos desdobramentos futuros dessas políticas

no horizonte de 2025 mostra que os benefícios resultantes podem ser substancias, tanto em

termos de desempenho produtivo e competitividade, como em termos de retornos sociais e

ambientais.

Como resposta estratégica, o presente exercício sugere que o cenário Mesa Farta deve ser o

cenário aposta na construção de estratégia para os Institutos de Inovação Tecnológica de Angola

e o cenário Mesa Vazia é a hipótese a ser trabalhada pelos tomadores de decisão para que não

venha nunca a se concretizar.

Page 67: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

67

7. LITERATURA CONSULTADA

CASTRO, A.M.G. de; PAEZ, M.L.A.; GOMES, G.C; CABRAL, J.R. Priorização de demandas da

clientela de P&D em agropecuária. Anais do XVIII Simpósio Nacional da Gestão da Inovação

Tecnológica, (v1:3-20), USP/FEA/IA/PACTo, São Paulo, 1994.

CASTRO, A.M.G. de; COBBE, R.V.; GOEDERT, W. J. Manual de Prospeçâo de demandas para o

SNPA. Brasília: Embrapa/DPD, 1995. 75 p.

CASTRO, A.M.G. de; LIMA, S.M.V. & HOEFLICH, V. A. Cadeias Produtivas. Florianópolis, UFSC:

1999. (226p.)

CASTRO, A.M.G. de; LOPES, M. A.; LIMA, S.M.V.; BRESCIANI, J. C. y ROSINHA, R. Cenários do

Sector de Sementes e Estratégia Tecnológica. Revista de Política Agrícola, 13:No 3, p58-72,

Brasília, 2004.

CASTRO, A.M.G. de; LIMA, S.M.V. e BORGES, J. Planeamento Estratégico de Ciencia e Tecnologia.

Brasília, CGEE/MCT, 2005 (130p.)

CASTRO, A.M.G. de; LIMA, S.M.V. & CRISTO, C.M. Cadena produtiva: Marco Conceptual para

Apoiar la Prospectiva Tecnológica. In: Javier Medina Vásquez y Gladis Rincón Bergman. La

Prospectiva Tecnológica e Industrial. Bogotá, Colciencias/CAF, 191-202, 2006.

COSTA, E. A. DA Gestão Estratégica. Editora Saraiva, São Paulo, 2002. (292p.).

DAVIS J. A. & GOLDBERG, R. A. The concept of agribusiness. Boston: Harvard University, 1957.

(85p.)

JOHNSON, B. B. & MARCOVITCH, J. Uses and applications of technology futures in national

development: the Brazilian experience. Technological Forecasting and Social Change. V. 45, pp. 1-

30, 1994.

LIMA, S. M. V., CASTRO, A. M. G., MENGO, O., MEDINA, M., MAESTREY, A., TRUJILLO, V., ALFARO,

O. La dimensión de Entorno en la construcción de la sostenibilidad institucional. San Jose, Costa

Rica: ISNAR - Servicio Internacional para la Investigación Agrícola Nacional, 2001 p.141.

MINUA – Ministério de Urbanismo e Meio Ambiente. Relatório do estado geral do ambiente em

Angola, Luanda: Governo de Angola, 2006, p. 326.

SCHANAARS, S.P. How to develop and use scenarios. Long Range Planning 20:1:105-114, 1987.

Page 68: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

68

VAN DER HEIDJEN Scenarios. The Art of Strategic Conversation. Wiley & Sons, 1997.

ZYLBERSZTAJN. D. Políticas agrícolas e comércio mundial. "Agribusiness": conceito, dimensões e

tendências. In: FAGUNDES, H.H. (Org). Brasília: Instituto de Pesquisas Económicas Aplicadas-IPEA,

1994. (Estudos de Política Agrícola nº 28).

Page 69: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

69

ANEXOS

ANEXO 1 - MODELOS RELACIONAIS DE INFLUÊNCIAS SOBRE AS VARIÁVEIS “INCERTEZAS

CRÍTICAS”.

ANEXO 2 - TABELA DE VARIÁVEIS INCERTEZAS CRÍTICAS COM DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO

Page 70: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

70

ANEXO 1

CONSTRUÇÃO DE ESTADOS FUTUROS A PARTIR DE MODELOS DE RELAÇÕES

ENTRE VARIÁVEIS

Os estados futuros de factores críticos e de incertezas críticas foram construídos a partir da definição de

modelos de relações entre influências de diversas naturezas (social, econômica, ambiental, política) sobre

o factor ou incerteza em análise. Tais modelos representam as relações entre as influências consideradas

mais importantes sobre estes factores ou incertezas.

A premissa por trás de cada modelo é que estados diversos destas influências podem levar a estados

diversos do factor/incerteza.

Na sequência são apresentados os modelos utilizados.

Page 71: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

71

ECOSSISTEMAS

1. Influências sobre a variável “condições edafoclimáticas nos biomas priorizados”

2. Influências sobre a variável “disponibilidade de água nos biomas priorizados”

Frequência de eventos extremos: inundações,

secas prolongadas, furacões, tufões, etc.

Definição: Grau em que as condições edafoclimáticas são apropriadas para a realização de atividades agropecuárias, nos biomas priorizados.

Regularidade das estações e previsibilidade

do clima

Qualidade dos solos

Condições climáticas: temperatura, chuvas, evapotranspiração,

insolação

ADEQUAÇÃO DAS CONDIÇÕES

EDAFOCLIMÁTICAS NOS BIOMAS

Definição: Quantidade e distribuição dos recursos hídricos existentes no ecossistema, considerando as necessidades da produção agropecuária nestes

biomas.

Variabilidade do volume de água dos rios

Existência de corpos d´água subterrâneos, com suprimento regular e de

qualidade

Existência de rios permanentes

Regularidade do regime de chuvas

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

Page 72: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

72

CONSUMIDORES FINAIS

1. Influências sobre a variável “renda per capita”

2. Influências sobre a variável “regularidade de oferta de alimentos

3. Influências sobre a variável “preços dos alimentos”

Page 73: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

73

CADEIAS PRODUTIVAS

1. Influências sobre a variável “uso de materiais de propagação melhorados”

2. Influências sobre a variável “preços dos insumos”

3. Influências sobre a variável ”sistema nacional de produção e importação de insumos”

Inversões no desenvolvimento

de novos materiais

Definição: utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros).

Demandas dos sistemas

produtivos (vegetal e animal)

Programas de melhoramento

genético vegetal e animal

Transferência e adocão de novos

materiais

USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Incentivos a produçãonacional

Definição: Valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos agricultores.

Inversões públicas na oferta de materias

primaspara insumos

Oferta nacional de insumos e maquinas

agrícolas

Tecnología nacional de produção

Organização coletivados produtores

PREÇO DOS INSUMOS

Nivel tecnológico da

produçãoagropecuária

Definição: sistema para a importação e produção de insumos produtivos agropecuários (adubos, defensivos, rações, máquinas, vacinas, medicamentos, sementes e outros).

Incentivos e facilidades para importação de

insumos

Estrutura nacional de produção de insumos

Demanda nacional por insumos

SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO

DE INSUMOS

Page 74: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

74

4. Influências sobre a variável “disponibilidade de infraestrutura nas fazendas”

5. Influências sobre a variável “pragas e doenças em culturas e criações”

6. Influências sobre a variável “fontes de nutrição animal”

Disponibilidadede crédito de investimento

Definição: disponibilidade de infraestruturas nas fazendas, indispensáveis à produção agropecuária (ex., armazéns, silos, estradas, etc.)

Capacidadetécnica e

gerencial dos produtores

Rendimento da exploração

agropecuáriaTamanho da exploração

DISPONIBILIDADE DE INFRAESTRUTURA NAS

FAZENAS

Conhecimentosobre pragas e

doenças

Definição: ocorrência de pragas e doenças em cultivos e criações promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de

produção

Disponibilidadede defensivos e conhecimento

sobre uso

Condiçõesclimáticas e ambientais

Capacidadetécnica e gerencial

dos produtores

PRAGAS E DOENÇAS DE CULTURAS E CRIAÇÕES

Custos da alimentação

animal

Definição: disponibilidade de pastos, silagem e volumoso, de rações e de cereais para alimentação em produção animal.

Tecnologias e conhecimentos

disponíveis

Rentabilidade da produção animal

Disponibilidade de matérias primas

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

Page 75: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

75

7. Influências sobre a variável “disponibilidade de mão de obra”

8. Influências sobre a variável “sistemas de produção agropecuária”

9. Influências sobre a variável “acesso a crédito rural”

Rendimentos da atividadeprodutiva

Definição: oferta de mão de obra em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de plantios e criações.

Remuneração da mão de obra

Densidade populacionalnas áreas de produção

Programas de capacitação de mão de obra

DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA

Capacidade e organizaçãointerna da pesquisa

Definição: Conjunto de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos agropecuários dos produtores.

Inversões publicas em apoio a pesquisa e assistência técnica

Demanda por inovaçõestecnológicas

Articulaçãopesquisa/ATER

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Adequação das normas de

crédito

Definição: capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as atividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.

Rendimento da atividade

agropecuária

Capilaridade da rede de financiamento

Volume de recursos

disponibilizados

Fontes de financiamento

ACESSO A CRÉDITO RURAL

Page 76: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

76

10. Influências sobre a variável “inversões em inovação tecnológica (P&D e assistência técnica)

11. Influências sobre a variável “vias de acesso às fazendas”

Participação publica no

financiamento da inovação

Definição: aplicações de recursos financeiros dos setores público e privado em instituições de pesquisa agropecuária e de assistência técnica ao produtor rural.

Demanda por produção

agropecuária

Prioridade governamental

Infraestrutura de pesquisa e

assistência técnica

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNÓLÓGICA (P&D E ASSISTÊNCIA TÉCNICA)

Investimentos privados em

infraestruturas viárias

Apoio governamental ao

produtor

Definição: existência de estradas terciárias e outras vias, em condições de transito durante todo o ano, para aquisição de insumos e escoamento da

produção.

Disponibilidade de crédito e programas

governamentais

Disponibilidade de máquinas e

operadores locais

Planejamento e gestao de logistica

VIAS DE ACESSO A FAZENDAS

Page 77: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

77

ANEXO 2 - TABELA DE VARIÁVEIS INCERTEZAS CRÍTICAS COM DEFINIÇÃO E

DIAGNÓSTICO

ECOSSISTEMAS

VARIÁVEL DEFINIÇÃO DA VARIÁVEL

SITUAÇÃO ACTUAL (2014)

ADEQUAÇÃO DE CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

Grau em que as condições edafoclimáticas são apropriadas para a realização de actividades agropecuárias, nos biomas priorizados.

A falta de programas de conservação de solos, associada ao uso de práticas agrícolas inadequadas, queimadas, desmatação desflorestação, lenha e exploração de madeira são factores que contribuem negativamente na qualidade dos solos. As alterações climáticas que se verificam nos últimos tempos são consequência da irregularidade do ambiente climático como o aquecimento global, irregularidade das chuvas, variação na evapotranspiração e insolação, os quais concorrem negativamente na adequação das condições edafoclimaticas dos biomas. Estas alterações têm também influência na regularidade das estações e previsibilidade do clima. Por outro lado a degradação dos solos através da acidificação, perda de nutrientes, deterioração da estrutura, erosão e salinização, poluição por pesticidas e fertilizantes e desmatação constitui outro problema da degradação das condições edafoclimaticas e a frequência de ocorrência de inundações, secas prolongadas (estiagem) em algumas regiões do País. Há redução das condições edafoclimáticas para actividades agropecuárias, em alguns dos biomas priorizados.

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NOS BIOMAS PRIORIZADOS

Quantidade e distribuição dos recursos hídricos existentes no ecossistema, considerando as necessidades da produção agropecuária nestes biomas.

Nos biomas priorizados existem rios permanentes, com excepção do bioma do planalto de kalahari por ser uma zona predominantemente desértica. As quedas pluviometricas do bioma zambeziano ou Miombo e Floresta da Guine ou congolesa são regulares, mais tem-se registado ocorrências de estiagens. Existem lençóis freáticos disponíveis. Apesar da existência de rios permanentes, os seus caudais diminuem no período de Maio à Setembro. Esta diminuição depende das quedas pluviometricas. Angola é o terceiro país africano em reserva de águas; as cinco maiores bacias africanas são compartilhadas pelo país. Por outro lado, a água para consumo humano é muito restrita, tanto em quantidade per capita como em

Page 78: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

78

potabilidade. O governo tem planos e programas para resolver o problema do acesso à água potável. Em termos de actividades económicas, a agropecuária exerce pouca pressão sobre a disponibilidade deste recurso, dado o baixo uso de insumos que poderia comprometer as fontes de água. A irrigação também é limitada. A gestão da água, por outro lado, não é uma preocupação, em geral, nem dos consumidores nem de produtores rurais. Apesar disto, há quantidade e distribuição suficiente de recursos hídricos para a produção agropecuária, nos biomas priorizados.

CONSUMIDORES FINAIS

VARIÁVEL DEFINIÇÃO DA VARIÁVEL SITUAÇÃO ACTUAL (2014)

RENDA PER CAPITA

Valor médio recebido pelos indivíduos – por meio de trabalho ou subsídios sociais, empréstimos pessoais ou ajuda de terceiros – que pode ser destinado ao atendimento de suas necessidades.

Verifica-se crescimento do PIB e da população. No entanto, este crescimento é muito dependente do sector petrolífero, que gera quase 70% da riqueza nacional. Por outro lado, este sector gera apenas 1% dos empregos para a população economicamente ativa. A população é composta por uma maioria de pessoas jovens (com ainda muito tempo de vida ativa), mas a ritmo decrescente. A renda per capita é relativamente baixa.

PREÇOS DOS ALIMENTOS

Grau em que os preços de alimentos são acessíveis para a compra da maioria dos consumidores angolanos.

A relação entre oferta e demanda de alimentos é instável, dada a irregularidade da produção local, e a necessidade de compensar a falta de vários alimentos por meio de importação. Os custos da produção local são baixos – pelo pouco uso de insumos e o baixo custo da mão de obra. A qualidade dos alimentos não é nem muito alta, nem muito baixa, considerando o conjunto de alimentos produzidos no país e os importados. A reduzida previsibilidade da produção local (e a consequente necessidade de recorrer à importação), eleva os preços dos alimentos, em geral.

REGULARIDADE DA OFERTA DE ALIMENTOS

Estabilidade na comercialização de alimentos, ao longo do ano.

A produção interna de alimentos não satisfaz a demanda, em parte devido à sazonalidade de grande parte das culturas alimentares. A maioria dos alimentos são importados. Há falta de eficiência das estruturas de armazenamento, conservação e distribuição de alimentos. A oferta de alimentos é irregular. Angola é importador de alimentos. Entre os principais produtos alimentícios importados em 2010, estão os cereais em grão e esmagados (US$ 293 milhões); carne de aves (US$ 282 milhões); preparações alimentícias (US$ 276 milhões); gorduras e óleos animais e vegetais (US$ 163 milhões); açúcar e álcool (US$ 156 milhões); preparações de carnes, peixes e crustáceos (US$ 153 milhões); leite e laticínios (US$ 149 milhões); cerveja (US$ 145 milhões); vinhos, vermutes, vinagres (US$ 141 milhões); carne bovina (US$ 126 milhões); e carne suína (US$ 92 milhões). Em

Page 79: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

79

2013, estimou-se que o país produzia 50% dos cereais de que necessitava (estimado em 3 milhões de toneladas. O PNB 2013-2017 previu que no último ano contemplado o país alcançará 90% da produção demandada de cereais.

CADEIAS PRODUTIVAS

VARIÁVEL DEFINIÇÃO SITUAÇÃO ACTUAL (2014)

USO DE MATERIAIS DE PROPAGAÇÃO MELHORADOS

Utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros).

A utilização regular de material de propagação geneticamente melhorado, em plantios e criações (sêmen, reprodutores, matrizes, sementes, mudas e outros) depende da existência de programas de pesquisa em melhoramento genético. Existem no país programas de melhoramento genético vegetal e animal, porém pouco operacionais e muitas vezes sem bases cientificas sólidas. Aliado a isto, há pouca demanda dos sistemas produtivos vegetal e animal no uso de materiais melhorados, o que tem limitado os investimentos no desenvolvimento de novos materiais. Estes factores somados têm resultado numa débil transferência e adopção de novos materiais.

USO DE OUTROS INSUMOS

Utilização regular de adubos, defensivos, rações, vacinas e medicamentos, em plantios e criações.

A distribuição e a utilização de insumos para a produção agropecuária, no país é irregular e muito limitada. Poucas são as unidades produtivas que utilizam adubos, defensivos, vacinas e medicamentos. A maioria das áreas que se dedicam as actividades agrícolas adotam sistemas de produção tradicionais, não usam sementes, adubos ou defensivos. Da mesma forma, as pecuárias bovina, ovina e caprina não adotam pastagens plantadas, rações balanceadas ou uso adequado de vacinas e medicamentos. A produção de ovos e carnes de aves ou suínas em sistemas intensivos são poucas no país, apresentando uma restrita demanda por insumos dessa natureza.

USO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

Utilização regular de máquinas, equipamentos e implementos, em plantios e criações.

A predominância de actividades agrícolas e pecuárias pouco extensivas e tecnologicamente pouco avançadas na maioria dos sítios produtivos do país implica em restrição no uso de máquinas e equipamentos para auxílio à produção. Nas pecuárias bovina, caprina e ovina, o uso de pastagens nativas e a fraca ou ausência completa do uso de rações balanceadas leva a essa condição. A avicultura e a suinocultura também apresentam restrito uso de equipamentos, já que se restringem à pequeno número de produtores. Na agricultura, de maneira geral, de subsistência, limitam suas operações – na maioria das propriedades - às actividades manuais ou com o uso de tração animal.

PREÇOS DOS INSUMOS

Valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos produtores.

O valor de mercado dos insumos produtivos agropecuários, nacionais e importados, pago pelos agricultores é em geral, pela inexistência da produção nacional de insumos na formação da oferta. A falta de investimentos públicos na pesquisa e de incentivos à produção, não tem contribuído para a formação de uma tecnologia nacional de produção de insumos, gerando uma oferta nacional quase

Page 80: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

80

inexistente. Da mesma forma, os baixos investimentos na produção e processamento agroindustrial de matérias primas para insumos não tem favorecido o aumento da produção nacional. Dessa forma, para atender a pequena demanda, o País tem se suprido com importações, o que encarece sobre maneira os seus custos. A falta de dinamismo associativo e cooperativo dos produtores dificulta o acesso e a negociação de preços com o mercado fornecedor.

SISTEMA NACIONAL DE IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO DE INSUMOS

Sistema para a importação e produção de insumos produtivos agropecuários (adubos, defensivos, rações, máquinas, vacinas, medicamentos, sementes e outros).

A produção interna de insumos agrícolas é insignificante para atender a demanda, por isso, grande parte deles é importado, o que resulta em baixa disponibilidade, altos custos de aquisição e baixo nível tecnológico da agricultura e, consequentemente baixa produção. Embora haja incentivos aduaneiros na importação de insumos destinados a produção de alimentos, existe constrangimentos de ordem burocrática, no processo de desalfandegamento de produtos.

ACESSO À AQUISIÇÃO DE INSUMOS

Disponibilidade de pontos de comercialização de insumos nas proximidades das regiões de produção (adubos, defensivos, rações, máquinas, matrizes, sementes, e outros).

Devido à fraca demanda por insumos, consequentemente, a oferta é também restrita. A maior parte dos insumos demandados para as actividades agrícolas e pecuárias (adubos, defensivos, rações, sementes e outros) são ofertados em quantidades fracionadas, já que a produção efetua-se em quantidades pequenas, para lavouras e produções de subsistência. Sendo assim, o custo destes produtos, proporcionalmente, se eleva – o que eleva ainda mais a restrição em seu uso. A ausência de assistência técnica adequada impede, por conseguinte, a aquisição e a adoção de insumos em quantidades e formulações adequadas. Outro factor limitante ao acesso aos insumos está ligado à fragilidade da capilaridade das vias de acesso dos centros de importação e produção destes às localizações e sítios das unidades produtoras. As dificuldades de acesso a crédito aos produtores, na sua maioria, pequenos produtores, impedem ainda mais a aquisição adequada de insumos, máquinas e matrizes.

QUALIDADE DE INSUMOS

Adequação de características de sementes, adubos, defensivos, rações e material de propagação ao melhor desempenho de sistemas produtivos agropecuários.

A ausência de oferta suficiente de assistência técnica e, consequentemente, ausência do adequado conhecimento a respeito das demandas por insumos às diferentes actividades produtivas agropecuárias, nas diferentes regiões do país, limitam a produção potencial e corroboram com o fraco desempenho dos sistemas produtivos locais.

ADEQUAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO À OFERTA AMBIENTAL

Existência de variedades de plantas e raças de animais apropriadas aos biomas priorizados (Mosaico de Floresta Congolesa e Savanas; Zambesíaco e Miombo; Planalto de Kalahari)

DISPONIBILIDA-DE DE INFRAESTRU-TURA NAS FAZENDAS

Disponibilidade de infraestruturas nas fazendas, indispensáveis à produção agropecuária (ex., armazéns, silos, estradas, etc.)

Até o presente (2014), a disponibilidade de infra-estruturas nas fazendas (armazéns, silos, estradas) adequadas para a produção agropecuária é de maneira geral insuficiente. As vias secundárias e terciárias de acesso às fazendas encontram-se quase todas degradadas, o que dificulta o escoamento da produção. Esta situação é fruto de uma

Page 81: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

81

serie de factores, entre os quais os baixos rendimentos obtidos na maior parte das explorações agropecuárias, a limitada disponibilidade de crédito bancário para investimento nas propriedades, factores estes agravados pela fraca capacidade técnica e de gestão dos produtores para gerir suas pequenas explorações.

PRAGAS E DOENÇAS EM CULTURAS E CRIAÇÕES

Ocorrência de pragas e doenças em cultivos e criações promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de produção

Angola apresenta condições climáticas e ambientais favoráveis para o desenvolvimento e expansão das diferentes pragas e doenças em cultivos e criações, promovendo perdas de produtividade e/ou o aumento de custos de produção. A falta de conhecimentos sobre sua existencia, dinâmica e maneio, por parte dos técnicos e produtores, torna o país vulnerável aos danos causados por estes vetores. Apesar de existir disponibilidade de defensivos sintéticos, o alto custo da sua aquisição, assim como o desconhecimento dos produtores sobre o uso adequado dos mesmos , limita a capacidade de combate às pragas e doenças em culturas e criações. As perdas causadas por pragas e doenças não foram devidamente estimadas mas sabe-se que tem forte influencia negativa sobre a produção e a productividade no sector agro-pecuário.

FONTES DE NUTRIÇÃO ANIMAL

Disponibilidade de pastos, silagem e volumoso, de rações e de cereais para alimentação em produção animal.

Existe em Angola algum conhecimento e tecnologia sobre matérias primas para a produção de ração, mas ainda insuficientes para se obter um aproveitamento efectivo das matérias primas existentes, cuja disponibilidade é baixa. Como consequência, os custos da reção enfrentados pelos produtores são altos, o que tem limitado o seu uso. A alimentação dos ruminantes é feita com base em pastos naturais que são maioritariamente degradados, o que proporciona baixas produtividades na produção animal do País.

CAPACIDADE TÉCNICA E GERENCIAL DOS PRODUTORES

Nível de conhecimentos dos produtores sobre tecnologia e gestão de seus sistemas produtivos

GERENCIAMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO

Organização do processo e maneira de realizar as actividades de produção, em plantios e criações.

DISPONIBILIDADE DE MÃO-DE-OBRA

Oferta de mão de obra em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de plantios e criações.

A densidade populacional nas zonas rurais é baixa devido ao grande êxodo da população rural para as zonas urbanas. Isto influencia negativamente a disponibilidade da força de trabalho nas áreas rurais. Ademais, o nível de capacitação da mão de obra disponível é limitado e os programas de capacitação de mão de obra têm sido pouco efectivos em aumentar esta capacidade. Os baixos rendimentos auferidos pela exploração agropecuária não tem permitido uma remuneração atrativa para os operários rurais.

GERAÇÃO DE RENDA NAS UNIDADES PRODUTIVAS

Valor gerado pela venda de produtos agrícolas em função das dimensões das fazendas

Page 82: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

82

SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Conjunto de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos agropecuários dos produtores.

São conjuntos articulados de tecnologias (produtos e processos tecnológicos) disponíveis nas instituições de inovação tecnológica para incorporação aos processos produtivos dos produtores agropecuários. Em face de pouca demanda por inovação por parte da agricultura de subsistência praticada pela maioria dos agricultores de Angola, Pela forma como a pesquisa está sendo gerenciada, está em vigor um modelo difuso de geração de tecnologia, baseado em disciplinas científicas, que produz conhecimentos e tecnologias monodisciplinares. Por isso, a organização dos sistemas de produção fica a cargo dos produtores, sendo em sua maioria débeis e ineficientes. Não existe uma integração entre as instituições de pesquisa tecnológica e as de assistência técnica e extensão rural (ATER), resultando deste modo uma fraca e/ou inexistente transferência tecnológica aos produtores. As inversões públicas em inovação tecnológica (nas organizações de pesquisa e de ATER) têm sido limitadas, o que influencia fortemente a eficiência da produção agropecuária, os rendimentos da actividade e o desempenho geral da produção agropecuária de Angola.

QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA

Conjunto de características das matérias primas agropecuárias fornecidas para o processamento e transformação agroindustrial.

ACESSO A CRÉDITO RURAL

Capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as actividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.

Há em Angola uma ppolítica de crédito rural inadequada, com taxa de juros elevadas, período de carência curto, insuficiência de volumes financeiros disponibilizados, falta de instituições de crédito na proximidade, excesso de burocracia, baixo rendimento agro-pecuário originado pelas elevadas taxas de juro e ausência de seguro agrícola. Não existem cooperativas com capacidade de disponibilizar volumes importantes de créditos às organizações colectivas de produtores. É baixa a capacidade de obtenção de recursos para custeio, investimento e comercialização de produtos, para a actividade agropecuária.

ACESSO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA

Obtenção pelos produtores rurais de orientação e capacitação gratuita e de qualidade para as actividades de gestão e de produção agropecuária.

INVERSÕES EM INOVAÇÃO TECNOLOGICA (PESQUISA AGROPECUÁRIA E ASSISTÊNCIA TECNICA)

Aplicações de recursos financeiros dos sectores público e privado em instituições de pesquisa agropecuária e de assistência técnica ao produtor rural.

Há ampla demanda por produção agropecuária, já que o país importa parte importante dos alimentos que consome, produzindo hoje apenas um terço dos cereais que seriam necessários, para a alimentação humana e animal. O reforço da capacidade de pesquisa e inovação dos institutos de investigação (reabilitação e construção de infra-estruturas de apoio à pesquisa e formação do pessoal) mereceu a atenção do GOA. Por outro lado, há ainda forte necessidade de infra-estrutura de pesquisa e de assistência técnica aos produtores, ainda que o Programa de Desenvolvimento de Extensão Rural (PDER) esteja envidando esforço no aconselhamento dos produtores agro-pecuários. As inversões em inovação tecnológica

Page 83: Angola, 2015 · 6 2. MARCO CONCEPTUAL A formulação de estudos de futuro, com suas diversas técnicas, não prescinde de uma base de conhecimento sobre o desempenho actual e passado

83

ainda são insuficientes para dinamizar, como se espera, a agricultura em Angola.

VIAS DE ACESSO AS FAZENDAS

Produtividade da terra (medida em Kg ou t de produtos por hectare).

Em 2013, o Governo de Angola lançou o Plano Estratégico de Reabilitação e Conservação de Estradas Terciárias, previsto para ser concluído até 2014. Este Plano previa a recuperação de pelo menos 17 mil e 500 quilómetros de estradas terciárias e resultou da compatibilização das propostas dos governos provinciais e do INEA (Instituto de Estradas de Angola. A rede de estradas terciárias é constituída por cerca de 75 mil quilómetros de extensão. Até a conclusão destas estradas, o produtor rural conta com uma rede de estradas em muito mal estado de conservação.

RENDIMENTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA

Capacidade de obtenção de recursos financeiros, por meio de bancos, cooperativas, agroindústria, etc., para as actividades de custeio e investimento, e para a comercialização da produção agropecuária.