Ângela Ferreira: A diversidade de meios na unicidade de ideias'

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  • 7/28/2019 ngela Ferreira: A diversidade de meios na unicidade de ideias'

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    RuthRosengarten/ngelaFerreira

    ngelaFerreira:Adiversidadedemeiosnaunicidadedeideias ,www.artlink.pt

    Dezembro,2000

    Thiswebsitenolongerexists

    Entrevistapore-mailcomngelaFerreira.

    Ruth Rosengarten: Ao longo da ltima dcada, tens utilizado variadssimos suportes; alis muitas

    vezesvriossuportesdentrodomesmotrabalho.Masapesardisso,osentidodoteutrabalhotem

    sido coerente e coesivo, articulado volta de um discurso especfico. Lidas com questes de

    identidade,ou pelomenosdeidentificaoe dasuaproblematizao.Umadas tuas preocupaes

    recorrentespareceseradesconstruodosmitosdaidentidadeportuguesa,edaformacomoessa

    foifomentadaduranteoperodosalazarista,operododacolonizao.Estouapensarconcretamente

    emEmigraode1994,PortugaldosPequenitos de1995,MantadeTrapos (aquelabandeirairnica!)

    de1997,Amnsiade1997eKanimambode1998enosvdeosSemTtulo,1998eHouse:UmRetrato

    ntimode1999.Podiasfalarumpoucodestatuapreocupaocomaideiadaidentidadeculturalem

    geral,ecomapresenaportuguesaemfricaemparticular?

    ngelaFerreira:Obviamente,todaaquestodaidentidadenoapareceudeumdiaparaoutronomeu

    trabalho.Nemseisepropriamentede'identidade'quesetrata,squeestetermotilporserum

    termo de referncia constante nos discursos existentes, nomeadamente na poltica cultural. E, na

    medidaem queo termo'identidade'equacionaosassuntosquesurgemnomeutrabalho, subscrevo

    este termo. Talvez esta seja uma boa oportunidade para eu prpria examinar de uma forma mais

    profundaaspreocupaessubjacentesminhaobra.Noincio,quandocomeceiatrabalhar,osmeus

    interessessituavam-seclaramenteemduasreas:apolticaporumladoeaculturapopularporoutro,e

    obviamente,emtodaequalquersobreposiodessasduasreas.Quandodigo'culturapopular',estou-

    meareferiraumadefiniodo'popular'queadvmdapolticadaEsquerdaaculturapertencendo

    maioria.(IstoquandoaindavivianafricadoSul).QuandovimviverparaPortugalnosprincpiosdos

    anos90,aminhaprimeiraabordagemfoiadeanalisarobjectosartefactospopulareseprocurarneles

    algumsentidoescultrico.Quandocomecei amesentirem casa, fuilevada pelaminha sensibilidade

    polticaaidentificareadesejarpesquisaroslaos(passadosepresente)entrePortugalefrica.As

    coisascomearamafazerverdadeiramentesentidoquandocomeceiaestudarapinturamuralfeitapor

    AlmadaNegreiros,oqueseveioarepercutirnomeutrabalhoEmigraode1994,porqueapercebi

    quepodialidarnoscomumcontedopoltico,masquetambmestavaalidarcomumapeada

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    chamadaarte'erudita'quetinhasidoapropriadaenquantoartefactopopular.Reconheci,pelaprimeira

    vez, uma linha autobiogrficaquepodia ser traada, e abriram-seoshorizontespara mim. O que

    interessanteque,comodizes,todaaideologiapolticasalazaristaerabaseadaemvalorestradicionais;

    haviaumaespciedeespritodeexultaoquepairavanaalturaeessetornou-sepoisocontextodo

    meuestudoqueseveioadefinircomoumestudosobreaidentidade.EmPortugal,ocolonialismoeo

    salazarismoestointimamenteligadosaumacertavisodePortugalidade,passandoestaquestoa

    serapreocupaocentraldomeutrabalho.Eassim,aquiloquefaziatransformou-senumaespciede

    pesquisa histrica, autobiogrfica e poltica. Os meus trabalhos enfatizam uma ou outra dessas

    vertentes.Massempresentiqueestesvertentesacabamporfazerpartedamesmacoisa.Eda,talvez,a

    coesodomeutrabalhoqueturefereseapesardosseusmltiplossuportesfsicos.

    RR:Ocontedoautobiogrficodotrabalho,apesardemediado,filtradopordispositivosconceptuais,

    est semprepresente.OraemAmnsia,oraemKanimambo,oraem Crossing the line.Serquea

    autobiografiaumaformadeagarrarnumtemaobjectivo,delhedarlegitimidade,umpontode

    partidanasubjectividade?

    AF:O contedo autobiogrfico foiaparecendonaminhaobra; algo que fuiapurando ao longo do

    tempo.Pensoquefazpartedaminhacrescenteintenodeimbuirostrabalhoscomumsentidode

    subjectividade,quemeparecia deles estar ausente. Talvezesta fosse amaneiramais verdadeirade

    integrar uma viso pessoal em matrias que so muitas vezes vistas como meramente factuais.

    Tambmtemavercomaquiloqueme interessavatransmitir.Sepensarmosquehumamensagem

    semprepresenteemqualquerobradearte,entoparamimimportantequeelanosejatoretrica

    elinearquesetornedesinteressante.

    RR: Mensagem uma palavra que me desagrada no que diz respeito a obras de arte. E

    demasiadamentepanfletrio.Noestoude tododeacordocoma ligao programtica,directaou

    necessriadaideiademensagemaobrasdearte...Voltandoquestoautobiogrfica,parati,o

    ponto departidanaautobiografia parece ser uma formadepersonalizar o contedo daquilo que

    denominasdemensagem.

    AF:Achoqueoaspectoautobiogrficodomeutrabalhotentealudiraformaspessoaiseindividualizadas

    deinterpretareventosexternos.Eissosim,interessa-mebastante,poisparece-mequedessamaneira

    podereichegarspessoasquevmessestrabalhos.Paraalmdisso,oladodeinterpretaodeeventos

    umadasminhaspreocupaes.Noparamimbvioquetodosnspossamoscomentartudooque

    presenciamos. Com certeza que temos o direito de o fazer, mas no temos necessariamente a

    informaoouacompreensonecessriasparaofazerdaformamaissalutar.Adecisode trabalhar

    comassuntos pertinentesdaminha prpria histria retira essa dvidadomeu campo de aco.Ao

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    trabalharcomaquiloqueconheo,pensoque,dealgumaforma,meprotejoemrelaoaqualquer

    atitude mais pretensiosa, paternalista oumesmo sensacionalista. Na verdade simples. Trata-se de

    trabalharcomaquiloqueseconheceintimamente.

    RR:Almdestecomponenteautobiogrfico,maisoumenosevidente,maisoumenosmediada,nesta

    tualtimaobra,umainstalaodevdeointituladaPega2000talcomonosvdeosSemTtulo1998

    e Crossing the Line realizado em conjunto com a artista australiana Narelle Jubelin h um

    componentenovo,umnovopontodepartida,queautilizaodoteuprpriocorpo.Euseiquea

    dana te interessa bastante, alis isso bvio na tua coreografia realizadaem frentedo Estdio

    NacionalemSemTtulo1998...Essautilizaodaperformanceumarupturaradicalnoteutrabalho.

    Podiascomentar?

    AF: Nesta minha ltima pea, voltei intencionalmente utilizao de performance. Digo

    intencionalmenteporqueparamimeraimportantevoltaraexperimentaraperformancedeumaforma

    que desse continuao a minha pea Sem Ttulo 1998 (a do Estdio Nacional). A razo dessa

    importncia nasce daprpria natureza dovdeoSemTtulo1998eaparecequaseintuitivamenteno

    meutrabalho.Hmuitoquevinhaquestionandooladocerebraldomeutrabalhoearigidezdecritrios

    de contedo que eu impunha a mim prpria. Aos poucos, fui tentando entender o que prendia

    verdadeiramente,tantodemimprpriacomodoespectador.Naalturaemquefiz SemTtulo1998,

    achoquepressentiaque,simultaneamentecomasideias,teriadehaveralgomuitopessoalequase

    irracional a funcionar para quea obra ganhasse fora e ultrapassasse o seumero poder intelectual.

    NadafuncionaisoladamenteehmuitoquemeintrigavaabelezaarquitectnicadoEstdioNacionale

    oseupodersignificativo(amemriahistrica/poltica).Desdehmuitoquetambmsentiaumaespcie

    devontadedeirlfazerginastica.Reviverummomentodaminhainfncia.Quasecomoqueexorcizara

    memriadaminhainfncia.Talveztenhasrazo,tenhotidosempreumgrandeenvolvimentocomo

    corpo,nosentidodegostardebrincarcomasuaaplicaoexpressivaatravsdasminhastentativas

    falhadasnareadadana.Adescobertadeumaformadeutilizaromeucorpocomoveculonomeu

    trabalho, vai ao encontro de variadssimas ambies que aparentemente estavammais escondidas.

    Trabalharassimfoiparamimumagrandelibertao,comoqueabrirnovoscaminhosnomeutrabalho.

    Alis,omesmo sepode dizerdautilizaode vdeoqueserve simultaneamente para documentare

    criar.Estesvdeosnosomeramentedocumentaesdeperformances.Elessotrabalhados(trabalho

    demontagemnocomputador)comoobrasplsticasautnomasqueambicionamultrapassar amera

    documentao.

    RR: Pega 2000 um vdeo em que te aproprias de uma bravura e de uma linguagem corporal

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    associadas ao machismo em geral e masculinidade portuguesa em particular - as pegas que

    distinguematouradaportuguesadaespanhola.Acabaporserumaobraquefascinaporcausada

    ambiguidadesexualquesugere.Aqui,deumaformaextremamentedepuradaesinttica,adicionas

    desconstruo da identidade cultural/nacional umadesconstruo dos tradicionais papis sexuais,

    alisdaprpriasexualidade.Humatravessiadepapissexuaisentreomasculinoeofeminino

    queacabaporserindiscutivelmente,elaprpria,ertica.Sinto,comotuprpriasentes,umagrande

    liberdadenisso,nessatuaabordagemdasexualidade.Comoquesurgiu?

    AFBem,agorasim,vamosconversarsobreocontedo.Claroquemaisumavez,estetrabalhonascede

    umaconjunturadesituaes.Amaisbviaemaisprementeofactode,desdeoinciodesteano,ter

    voltado a viver na frica do

    Sul.AbordarumassuntocomoatouradaestandoeudentrodePortugaleradifcildemais.Aconscincia

    daspossveisratoeirasdepiroseira,dekitsch,eramfortesdemaisparamedeixartrabalharlivremente.

    Quando j estava fora de Portugal, apercebi-me que o meu sentido de identidade estava a ser

    realinhadodenovo.Comosabes,istovaisendoumhbitonaminhavida.Assimparece-mequeosdez

    anosqueapasseifizeramdemimumaportuguesa,paraminhagrandesurpresa!Quantotouradae

    pega: tm sido sempre assuntos de culto popular que me tm agarrado e seduzido. Neste caso, a

    verdadeiraseduodenoentender.Atouradacomoideiaumritualqueeunoentendoequeacho

    mesmoofensivo.Istoparafalardoseuladomaiscrueleanimalesco.Poroutrolado,umespectculoriqussimodesimbologiasculturais,desexualidade,enos.Claroqueapegainteressava-memaispela

    suaespecificidadeterritorial,etambmporquetalvezsejaonicomomentoemqueoconfrontoentre

    homemeanimalumencontroequilibradoOu seja,tantooanimalcomoohomempoderoacabar

    dominadoresoudominados. Claro que, no final, o animal perde sempre,mas por uma fraco de

    segundos, o espectadorenvolve-senuma verdadeiraemoodebravura. Quanto masculinidade,

    sexualidadeelinguagemcorporal:claroqueissoexistenatouradatoda.Interessa-memaisofactode

    que estamos perante clichs de masculinidade que so encenados, por assim dizer, como uma

    linguagemcorporalquaseerticaemuitasvezesfeminina.Paramim,essacontradioumafonterica

    depossveisideiaseissoquepretendoafirmareexplorarnovdeo.

    RR:Existeumestudoantropolgicofamosssimo,deJulianPitt-Rivers,datouradaespanhola,falando

    precisamentedestaambiguidadesexualsimbolizadapelatourada,encenadanela...

    AF:TalcomoostabuspolticosexistentesemPortugal sobreassuntos ligados colonizao,existem

    tambmtabussobrea sexualidade. Claroqueparamim, foi umactocorajoso fazerum desfilequase

    erticoparatodaagentever!Masogozofoiessemesmo,oconfrontocomasideiastinhadepassarpor

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    algomuitopessoalentimo.Novimelhormaneiradeofazer.Naverdadefunciona,sim,comoumacto

    delibertao.Comoqueseeutivessearejadoosmeuspoderessexuais,ter-me-iasentidoliberta...

    RR:Oqueperigosonestetrabalhotambmofactodeeleestarbeiradonarcisismo...Desdeo

    princpiodesteanoquevivesnovamentenaCidadedoCabo,nafricadoSul.Foidifciloregressoa

    umacidadeondenoviviasjhumadcada?Amudanadevidaafectouoteutrabalho?

    AF:Claroquefoidifcil.Emprimeirolugar,comojdisseacima,proporcionouumatotalreavaliaodo

    meuprpriosentidodeidentidade,eparagrandesurpresaminha,sinto-mecadavezmaisportuguesa.

    Emsegundolugar, temafectadotambmomeutrabalhoqueest intrinsecamenteligadosminhas

    origenseminhahistriapessoal.Africanuncadeixoudeserotemadomeudiscursoecontinuei

    sempreamostrarea fazertrabalhonafricadoSul,oraemDoubleSidedII,oranasduasBienaisde

    Joanesburgo, em1995 e 1997. No entanto, o local geogrfico ondemesituo sempre tem tidouma

    enormeinfluncianosassuntoseleitoscomopontosderefernciaoupontosdepartidadaminhaobra.

    Assim,mudandode lugar geogrfico, fiquei umpouco baralhada,pelomenos duranteuns tempos.

    Nitidamente, nosouumadessas artistas queconsegue trabalharpor toda a parte,at nosavies!

    Nestemomento,jestounafaseondeconsideroqueamudanavaienriqueceromeutrabalho.No

    me considero to presa territorialmente, mas antes, liberta para lidar com os assuntos que me

    interessam.BastapensaremPega2000.

    RR:Pois,exactamente. Jreferisteo factodequetrabalharutilizandoa touradacomotemaera-te

    inconcebveldentrodePortugal.Muitasvezes,adistnciaenriquecedora...

    AF:Sim,foiadistnciaquepermitiuqueeuabordasseatourada.Comoobvio,sintofaltadaestrutura

    todamontadaquetinhaemLisboa,mascomeoaconseguirsubstitu-la.Continuoamantercontactos

    dirioscomtodosetudoemPortugal,viae-mail.Noentantonodeixodemesentirumaportuguesano

    estrangeiro e apesar de conhecer muito bem a frica do Sul e tambm por causa das grandes

    mudanasqueaquiseviveramevivemsinto-mecomoqueestrangeiranumstionovo.

    RR:Comosabes,eutenhovividosituaesparecidas:nuncamesentitoconscientedeserjudia,ou

    deterlaosfortescomafricadoSul,comoquandofuiviverparaPortugal.Ficamosconscientesde

    queaidentidadenoumacoisafixa,quemuitasvezesforjadaemrespostaaqualquercoisaou

    qualquer situao, em relao ax, no contexto de y, por assim dizer. Como j afirmaste, -te

    importante manter os teus laos com Portugal. Depois da Pega 2000, ainda fizeste um trabalho

    ambicioso para a exposioMoreWorks about Buildings and Food, comissariada por Pedro Lapa.

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    Podias-nosfalarumpoucodestanovaobra,emqueretomasumtemaaarquitecturaquete

    caro?

    AF: Para mim o trabalho em Portugal um dado assumido. No vejo a distncia fsica como um

    impedimentodestaminhanecessidade edaminharealidadeprofissional. Foi emPortugalquecresci

    comoartistaeemPortugalqueaverdadeiraorigemdomeutrabalhosesitua.Claroquenssomos

    todosconstitudosdemuitasfacetasdiferenteseeununcaperdereiesteladoestrangeiradodaminha

    vida,poisnonascinemestudeiemPortugal.Masfoiaquemeformeicomoartistaepretendomanter

    essecentrodeidentidademuitoclaro,porqueparamimmuitoimportante.Tenhovriosprojectosem

    monestemomentoeumdelesfoiincludonaexposio MoreWorksaboutBuildingsandFood.na

    verdadeumprojectograndeequemeentusiasmoumuito.

    RR:TambmestsenvolvidanumgrandeprojectoparaoMuseuSoaresdosReis,paraoPorto2001.

    Emqueconsisteestenovoprojecto?

    OprojectodoMuseuSoaresdosReismesmomuitoimportanteebastanteestimulanteparamim.O

    convitefoifeito,pensoeu,nasequnciadoprimeirotrabalhoquefiznoPorto, Marquises(1993)edo

    meuprojectopblico,Kanimambo (Expo98).Nombitodegrandes remodelaese construesque

    estoaserfeitasnoMuseuSoaresdosReis,adirectoradomesmo,LciaAlmeidaMatos,desafiou-meaplanear um projecto que tivesse algo a ver com as obras

    domuseu. A proposta inclua desde logo uma abordagem do prprio processo e do registo desse

    processo. Seria o primeiro de uma srie de trabalhos includos no mbito de uma proposta mais

    alargada do museu intitulada Visitas Privadas. Eu e a Lcia Almeida Matos definimos ento uma

    propostaqueresultarnum projecto comumaabordagemcontemporneaoqual ser compostode

    duaspartes:umapublicaoeum vdeo.Omeutrabalhoconsisteemregistarmaterialde referncia

    (documentaodamaisvariadaespcie)trabalhandoemcolaboraocomoutrosartistaseautorese

    criarumvdeoquenofinalsejaumaobraplstica.

    RR: Com isto queres dizer que o vdeo no ser simplesmente um documento do processo de

    recolha?

    AF: Exactamente. Essas duas partes estaro intrinsecamente ligadas. Estou a gostarmuito de estar

    envolvidanesteprojectoporvariadssimasrazeseconsideroumprivilgiotersidoconvidada.to

    raroumaartistagozardeumperodolongoparadesenvolverumaobra.Cadavezmaismeinteressam

    trabalhosquepossamdecorreraolongodotempo.Achoquehojeemdiasassimqueseconsegue

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    umtrabalhotendoporbaseumainvestigaoprofundaecomresultadospertinentesesuficientemente

    complexos.Otempodeixa-nostomardecisesevoltaratrs,alterandoumaseconfirmandoasqueso

    desejadas.Oqueacontecemuitasvezes,comtrabalhosmaisimediatos(queporventuratambmtero

    assuasvantagens),queaartistaarriscamuitomaisemtermosdecertezas.

    RR:Tomascomopontodepartidaparaoteutrabalhoanooqueopapeldaobradeartehojeem

    diaodeproduzirsentidonummbitopoltico,ouentoantropolgico.Comoqueesteprojecto

    encaixa nas tuas preocupaes com a arquitectura e com as mudanas urbansticas nas cidades

    contemporneas?Comojdisseste,vaisterquetrabalharemconjuntocomoutraspessoas...como

    encarasestaideia?

    F: Desde huns tempos que tenho vindo a tirarmais partidodeprojectosque impliquem alguma

    colaborao.Trabalharisoladamentenumateliertorna-secadavezmenossatisfatrioparamim.No

    meinteressaparticularmenteoassuntodeautoriamassimpartilharconhecimentoseganharcomisso.

    Os crditos,claro, so para ser dados onde so devidos. Neste caso, por exemplo, conto j com a

    colaboraodeMrioValente,FernandoJosPereira,IsabelAlmeidaeJooFernandes,paraalmde

    outrasajudaspreciosasdentrodoMuseu.Ofactodetrabalhardentrodeumainstituiotambmum

    grandeprazer. um trabalho quevemnuma linhamuito fortedasminhaspreocupaes urbanase

    sociais.