Andrés Guevara e a evolução gráfica do jornal O Povo - UFRGS
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Andrés Guevara e a evolução gráfica do jornal O Povo1 Rodrigo do Espírito Santo da CUNHA2
Resumo
A década de 1920 representou mudanças significativas dentro do jornalismo impresso no Ceará. Dos jornais existentes antes deste período, apenas o Correio do Ceará permaneceu em circulação. A renovação ficou constatada com o aparecimento de novos títulos como Diário do Ceará, A Tribuna, O Nordeste, O Ceará, Gazeta de Notícias e o jornal O Povo, do jornalista Demócrito Rocha. O jornal saiu às ruas pela primeira vez em janeiro de 1928, com objetivo inicial de se opor ao então presidente do Ceará, Moreira da Rocha, com o qual Demócrito mantinha desavenças. Não apenas isto: o jornal também procurou acompanhar os avanços gráficos e investindo também na sua aparência. Em 1944, contratou o paraguaio Andrés Guevara – conhecido por criar projetos gráficos para diversos jornais argentinos e brasileiros, como o Clarín e o Última Hora – para realizar uma das mais importantes reformulações gráficas do período, em parceria com o caricaturista brasileiro Augusto Rodrigues. O fato é o ponto inicial da pesquisa, que pretende acompanhar, ao longo da história do jornal, as principais mudanças que tornaram O Povo referência dentro do campo de design de notícias. Palavras-chave: história do jornalismo, design gráfico, editoração, jornais do Ceará
No início deste século, muitos jornais procuraram realizar uma reforma gráfica para resolver
um novo problema: acompanhar a nova maneira de leitura da população. As mudanças foram
acompanhadas através de pesquisas como a EyeTracking, da Poynter Institute, e do próprio
avanço tecnológico. Ao analisar as mudanças históricas na feição dos jornais desde o início
do século XX até os dias atuais, é possível entender como o design se tornou protagonista
destas mudanças. Antes, o jornal era apenas uma grande folha com muitas informações e um
senso de organização diferente do atual. De longe, o velho jornal parecia apenas uma massa
escura sobre a folha. Ao passar dos tempos, o design – e a tecnologia – inseriu elementos para
auxiliar na organização do discurso jornalístico, implementando fios, ornamentos, fotografia,
cores, brancos, infografia, ilustrações, fracionamento de conteúdo, peças etc.
1 Trabalho apresentado ao GT – História do Jornalismo, do VII Congresso Nacional de História da Mídia, Unifor, Fortaleza, 2009. 2 Rodrigo do Espírito Santo da Cunha – bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Faculdade Seama (AP), especialista em Design Gráfico pela Faculdade 7 de Setembro (CE). E-mail: [email protected].
Atualmente, os novos projetos gráficos estão ganhando elementos encontrados na internet,
como contatos de e-mail, nuvens de tags, enquetes eletrônicas e, inclusive, o QR Code (um
código de barra digital em 2D, utilizado agora em celulares e iPhone).
O jornal O Povo, objeto deste estudo que possui mais de 80 anos de existência, conseguiu
acompanhar por todas estas mudanças, entre as quais foram possíveis de ser relatadas
resumidamente através deste artigo. O texto tomou como base o que consideramos como
primeiro passo para a evolução gráfica do diário: o projeto implantado pelo paraguaio Andrés
Guevara.
A pesquisa foi realizada entre o ano de 2008 e início de 2009 e integrou uma das partes da
monografia de especialização sobre definição de gêneros jornalísticos através do design
gráfico, defendido em junho deste ano.
O trabalho levanta a questão da necessidade da pesquisa sobre a vida de Guevara, um dos
principais caricaturistas e reformadores da imprensa brasileira, de quem pouco se existe de
informação biográfica. Constatou-se, em pequenas entrevistas por e-mail, que até mesmo no
Paraguai e na Argentina não existem informações sistematizadas e as que existem, são
desencontradas. Cabe aqui um alerta para que seja realizada justiça histórica para o
aprofundamento das discussões sobre a vida e os trabalhos realizados por Andrés Guevara,
considerado pelo poeta Humberto de Campos como o “único paraguaio que venceu o Brasil”.
Nasce o jornal de Demócrito Rocha
A primeira edição do jornal O Povo circulou no dia 7 de janeiro de 1928. O impresso se
constituía de dezesseis páginas, com as dimensões de 44 centímetros de altura por 31 de
largura, diagramado em seis colunas de 4,5 centímetros (COSTA, 1988, p. 21). O fundador
foi o jornalista Demócrito Rocha (1888-1943), baiano da cidade de Caravelas. Chegou a
morar em Salvador e em Aracaju, onde estudou Odontologia. Mudou-se para Fortaleza no dia
21 de janeiro de 1912, onde concluiu os estudos. Em 1924, acaba incursionando no
jornalismo ao implantar a revista semanal Ceará Illustrado. Depois iria se tornar colaborador
do jornal O Ceará, de J. Matos Ibiapina, até abrir seu próprio veículo (PONTES, 2002).
Na década de 1920, Fortaleza abrigava diversos títulos de periódicos, tais como o Diário do
Ceará, A Tribuna, O Nordeste e o Gazeta de Notícias. O Ceará Illustrado fazia parte da
seleção das revistas literárias. A primeira edição foi publicada em 27 de abril de 1924 e
refletia a febre do modernismo brasileiro no período. Trabalhavam na revista o redator-chefe
Tancredo de Moraes e o gráfico Orlando Luna Freitas. Com oficina própria, a revista inovava
nos recursos gráficos, implantando cores nas capas, ilustrações e registros fotográficos
(clichês), além da ousadia nos textos sobre política, literatura, comportamento e humor (O
POVO, 2007, p. 144). Ainda não se conhece a data correta que a revista deixou de circular
(até então se conhece como último exemplar uma edição de dezembro de 1925).
FIGURA 1 – Charge de Andrés Guevara no jornal O Povo de 05/04/1945 FIGURA 2 – Charge de Andrés Guevara no jornal O Povo de 28/02/1945
O Povo nasceu como jornal político, com finalidade de denunciar os desmandos do então
Presidente do Ceará, o desembargador Moreira da Rocha. O jornal também chega a apoiar a
Coluna Prestes, a Revolução de 30, o “governo provisório” de Getúlio Vargas e a criação da
Ação Libertadora Nacional. Declarou-se contra o Golpe de 1937 e o Estado Novo. Com a
saída de Moreira da Rocha na presidência do Estado, em 12 de julho de 1929, O Povo
publicou uma edição especial de 62 páginas, trazendo na capa uma ilustração do novo
presidente Matos Peixoto, envolvido pelo brasão do Ceará, além do sol e de jangadas. É
considerada como a primeira capa gráfica (arte) do jornal.
Até então, as edições do jornal eram impressas por uma máquina francesa Alauzet, adquirida
de segunda mão, utilizando composição manual com tipos móveis comprados na casa C.
Forest & Cia. Ltda., de Recife. Em 1930, a Alauzet foi substituída por uma nova impressora
Dresden Leipzigen, também vendida pela C. Forest & Cia. A máquina alemã pesava 6,5
toneladas, com capacidade de imprimir 1.200 exemplares de quatro páginas por hora. A
máquina, batizada de “Planeta”, foi instalada na nova sede do jornal, na rua Major Facundo,
no Centro de Fortaleza .
Em 1931, são realizados os primeiros testes com impressão colorida: a marca do jornal – com
o P em formato de chicote, que envolvia as demais letras – saía na cor vermelha, porém os
custos da impressão frearam o projeto. Em novembro de 1936, o jornal realizou um concurso
para a escolha de seu novo logotipo, que ganhou um formato manuscrito, criado pelo artista
gráfico Raimundo de Paula Moreira.
Em outubro de 1941, O Povo adquiriu uma nova máquina de impressão: agora uma rotoplana
Duplex, de origem norte-americana, fabricada pela Duplex Printing Company. Com ela era
possível imprimir oito páginas, já dobradas e encadernadas. No mesmo período, o jornal
adquiria mais duas linotipos para composição à quente, que aposentaria os tipos móveis. O
sistema offset só iria chegar ao Ceará em 1970, com a Tribuna do Ceará.
Andrés Guevara e o primeiro projeto gráfico-editorial
Em 1944, após viagem ao Rio de Janeiro para acompanhar as novidades nos principais jornais
brasileiros, Paulo Sarasaste retorna ao Ceará com ideia de mudar O Povo. Sarasaste era amigo
de Demócrito Dummar e havia assumido a direção do jornal após a morte do seu fundador,
em novembro de 1943. Para realizar estas mudanças, foi contratado o trabalho do artista
plástico paraguaio Andrés Guevara (1904-1964)3 e do cartunista brasileiro Augusto
Rodrigues.
Guevara já era um conhecido na imprensa nacional. Havia chegado no Brasil, pela primeira
vez, em 1923, com apenas 19 anos. O Rio de Janeiro seria apenas uma escala para a Europa,
após receber um prêmio em Buenos Aires de uma bolsa de estudos no exterior. Segundo
Loredano (1988, p. 9), foi convencido para ficar mais tempo no Brasil pelo embaixador
paraguaio, Modesto Guggiari. Acabou ficando por sete anos. Neste período, tornou-se
caricaturista em quase todos os jornais e revistas de época: O Paiz, A Manhã, O Globo, O
Malho, Crítica, Paratodos..., Illustração Brasileira e Cruzeiro. Também ajudou a fundar
novas publicações como A Manha e Jazz.
FIGURA 3 – Encontro entre Andrés Guevara e o Barão de Itararé (Aparício Torelli), na redação da Folha Carioca, em 1944 (LIMA, 1963, p. 1472) FIGURA 4 – Guevara em foto publicada na Revista da Semana, em 17/06/1944 (LOREDANO, 1988, p. 11)
Com a Revolução de 1930, regressou a Buenos Aires só voltando ao Brasil em 1943 (ou
1944), conforme explica Loredano (1988, p. 10): Na sua segunda estada no Brasil, o desenhista Guevara tem menos importância do que o reformador gráfico da imprensa brasileira. Vindo de Buenos Aires e com um
3 Pouco se conhece de informações biográficas sobre Andrés Guevara. Existem dados desencontrados sobre o local e ano de nascimento. A Revista da Semana, em 1944, chegou a publicar que Guevara havia nascido na província de Villeta, no Paraguai, em 6 de abril de 1904. (LOREDANO, 1988, p. 7). Já Gesualdo (1969, p. 1969) declara que Guevara nasceu em Assunción, em 6 de janeiro de 1904. Guevara faleceu em Buenos Aires, em 1964, atuando também como conceituado artista plástico.
curso de artes gráficas feitos nos Estados Unidos no período da ausência, ele chegou cheio de novidades. Foi o introdutor no Brasil da ‘diagramação’ das páginas do jornal. O que até então se fazia, segundo Nássara, era ‘paginar’ as publicações: sem sistema, artesanal, lentamente. Guevara trouxe o cálculo e a tabela de correspondência entre a lauda datilografada (com um número preestabelecido de linhas e de batidas por linha) e a composição nos variados corpos tipográficos e larguras. E introduziu a folha milimetrada que permite a produção dos ‘espelhos’ das páginas.
O fato importante desta fase está em analisar que sua passagem pelo jornal cearense
antecedeu a dois importantes projetos gráficos realizados pelo caricaturista: a do jornal
argentino Clarín (lançado em 28 de março de 1945) e a do Última Hora, de Samuel Wainer
(cuja primeira edição data de 12 de junho de 1951). Andrés Guevara também desenvolver
layouts para os jornais Diário da Noite e a Folha Carioca.
A primeira mudança implantada por Guevara no jornal O Povo seria a possibilidade de
colocar a marca do jornal sobre fotografias, algo inédito para os tempos da tipografia. A capa
ganharia novos elementos, como chamadas para destaques internos, as estrelas para separar
notícias ou margear as chamadas, além de reestilização da própria marca do jornal, que
recebeu a possibilidade de passear pela diagramação da capa.
FIGURA 5 – Edição de 16/08/1944, com as primeiras mudanças realizadas por Guevara: inclusão das chamadas de capa, utilização das estrelas para separar notícias, chamadas de assuntos do dia seguinte e possibilidade de inserção do logotipo sobre fotografias. (Reprodução/O Povo). FIGURA 6 – Edição de 22/08/1944, destacando o enorme título Hitler sobrepondo a fotografia do ditador, além do próprio espaço com a caricatura de Augusto Rodrigues. (Reprodução/O Povo).
Segundo edição especial dos 80 anos, lançada pelo próprio jornal O Povo, estaria sendo
lançado o primeiro projeto gráfico mais técnico para um jornal em todo o Norte e Nordeste do
País. A nova edição, que saiu em 16 de agosto de 1944, ganhou novas colunas como
Mundianismo, Notícias do País e Do Rio para os Nossos Leitores. Guevara permaneceu por
alguns meses realizando charges e ilustrações para o jornal cearense. As charges, na maioria
ilustrando a derrota nazista na Segunda Guerra Mundial, eram publicadas na capa, ocupando
espaço considerável na diagramação.
Entre julho de 1944 a maio de 1945, O Povo também publicou charges do pernambucano
Augusto Rodrigues (1913-1993), do Divito (“Bonifácio, o Errado”), da British News Service
(BNS) e a agência Inter-Americana.
FIGURA 7 – Charge de Andrés Guevara publicado na capa do jornal O Povo, de 30/09/1944. Guevara continuou a publicar charges até abril de 1945. (Reprodução/O Povo).
Em janeiro de 1947, O Povo realizou uma nova mudança gráfica que pouco alterou as
mudanças implementadas pelo diagramador paraguaio. Na realidade, o projeto intensificou
alguns elementos gráficos como as estrelas, que passaram a ser utilizadas também como fios.
O cabeçalho sofre modificações: os títulos são obrigatoriamente diagramados em caixa alta,
com fontes sem serifa (com exceção da coluna social) e novas seções são incluídas, como a
Nota Cearense, do jornalista J. C. de Alencar Araripe. A marca agora ganha contorno preto,
inserida sobre uma caixa cinza de cantos arredondados.
Anos 1960 e muitas mudanças
A chegada da televisão provocou mudanças nos veículos impressos em todo o mundo. O meio
audiovisual não só permitiu acompanhar imagens em movimento, mas também apresentou
como característica principal a agilidade na divulgação dos fatos. A novidade chegou ao
Ceará em 26 de novembro de 1960, trazida pelos Diários Associados, com a inauguração da
TV Ceará, canal 2. No início, a programação ao vivo permitiu uma considerável produção
local, mas, com a chegada do videotape, esta programação foi substituída pelas produções do
eixo Rio-São Paulo.
FIGURA 8 – Evolução do logotipo do jornal.
1928 1936
1941 1966
1969 1971
1980 1992
1997 2007
Segundo Larequi (1944, p. 17), foi o momento em que as empresas jornalísticas encontram o
design como forma de atrair o leitor e reduzir o problema da perda de leitores provocada pelos
meios audiovisuais. “A competência dos meios audiovisuais, que apareciam como uma
ameaça para o jornalismo impresso, tem sido finalmente um remédio para melhorar a imagem
adormecida e ultrapassada que predominava sobre os jornais”.
Nesta década, O Povo já havia trocado de rotativa: agora era a vez da alemã Man, de 32
toneladas, capaz de imprimir até dezesseis páginas, em duas cores, com velocidade de 16 mil
exemplares por hora. A Man possibilitou uma mudança radical no projeto gráfico, a partir da
edição de 9 de julho de 1956. Primeiro seria a inclusão da cor vermelha – depois azul – em
destaques, anúncios e títulos. Depois o fim das continuações das matérias iniciadas na capa,
que cedeu lugar às chamadas de matérias que viriam no interior do jornal. Houve uma
alteração no tamanho do diário, que agora sai em 43x57 centímetros, com oito colunas. FIGURA 9 – Edição de 07/01/1947. (O POVO, 2007, p. 100)
FIGURA 10 – Edição de 07/01/1969. (O POVO, 2007, p. 100) FIGURA 11 – Edição de 07/01/1989. (O POVO, 2007, p. 101).
As mudanças se concluíram em janeiro de 1969, quando O Povo apresenta sua nova marca,
produzida pela agência Aliança Publicidade, de Recife (PE). O logotipo adotava letras
maiúsculas ao invés do formato manuscrito, com destaque para a letra V, maior que as
demais. O jornal passa a ter edições em 18, 20 ou 24 páginas.
As mudanças ocorridas na década de 1960 coincidiram com a chegada do primeiro curso de
jornalismo da Universidade Federal do Ceará e, consequentemente, para a profissionalização
dos jornais, que perderam mais o cunha político-partidário e receberam um objetivo mais
profissional. Além disso, a publicidade passou a ser responsabilidade de agências
especializadas: surgiram profissionais como Heitor Costa Lima, Blanchard Girão, Anastácio
de Souza, Eduardo Augusto Campos, Estácio e Eduardo Brígido, Tarcísio Tavares e Nazareno
Albuquerque. (NOBRE, 1975, p. 156).
Os diários se agitaram para mudar suas instalações – que todos situados no centro da cidade –
e implantar o novo sistema offset. O Tribuna do Ceará saiu na frente, com edição impressa na
nova tecnologia em 20 de abril de 1970. A edição de oito páginas teve caráter experimental, já
que as instalações só foram inauguradas oficialmente em 18 de maio daquele ano (COSTA,
1988, p. 113). Depois foi a vez dos Diários Associados, nos seus periódicos Unitário e
Correio do Ceará.
Para acompanhar os concorrentes, O Povo assina contrato com a empresa Hiehle Goss
Dexter, por intermédio da representante brasileira Companhia T. Janer, para aquisição da
rotativa Goss Comunity, que chegou ao jornal em 1971. A impressão tipográfica é substituída
pelo sistema eletrônico da IBM (a fotocomposição veio apenas em 1975). A tiragem do jornal
salta para 25 mil exemplares e o formato da página muda para 58x38 centímetros. A edição
especial, do dia 15 de dezembro, sai com 184 páginas (doze a mais que o previsto). A marca
também muda: agora o nome do jornal sai em branco, dentro de um quadrilátero preto, ao
lado da sigla OP. Em fevereiro de 1974, para atender exigências industriais – diminuição de
custos e otimização da distribuição –, o jornal passa a sair cedo pela manhã, seguindo
exemplo do Unitário, Gazeta de Notícias, O Estado e Tribuna do Ceará. Antes, era
vespertino.
Século XXI e a era da internet
Em janeiro de 1989, O Povo iniciou mais um processo de reformulação gráfica e editorial. “A
mais importante dos últimos 40 anos”, nas palavras do jornal. Para isto, o jornal contrata a
consultoria do designer cubano, naturalizado norte-americano, Mario García, referência no
assunto design de jornais. Neste ano, a marca preta permaneceu a mesma, porém ganhou duas
chamadas em cada lado (referentes aos suplementos), além dos boxes com informações de
preço, edição e número. Os textos das chamadas de capa perderam as serifas e as editorias
ganharam novas cabeças. Assim como a Folha de S.Paulo, a paginação foi identificada com
um símbolo numérico e uma letra correspondente ao caderno (exemplo: página 5A). O antigo
Caderno B recebeu então o nome de Vida & Arte. A cor predominava nos boxes e fios, assim
como nas fotografias.
Porém, maiores investimentos na aparência do jornal tomam contorno a partir de janeiro de
1997, quando O Povo inicia o que denominaria projeto Século XXI, com o propósito de
preparar o jornal para os desafios do novo século. Desta vez, o trabalho foi realizado em
conjunto com o escritório García Media, fundado em 1993 por Mario García – com sede na
cidade de Tampa, na Flórida. Em 2000, a empresa implanta novos escritórios em Buenos
Aires, na Argentina, e em Hamburgo, na Alemanha. A García Media já realizou trabalho de
redesign dos jornais The Wall Street Journal, Die Zeit, La Tribune, Libération, DeMorgen,
Folha de S.Paulo e The Miami Herald.
Entre as primeiras mudanças percebidas no novo projeto gráfico-editorial (termo utilizado
pelo próprio O Povo), está na marca, que ganha uma cor azul e uma leve inclinação na letra
“O” que, segundo García, dá idéia de movimento, agilidade e dinamicidade. Aos domingos, a
letra é destacada pela cor vermelha. As modificações são baseadas em pesquisas com leitores
realizadas pelo próprio jornal. No contexto editorial, a editoria de Cidades passa a abrir o
primeiro caderno e a editoria de polícia é extinta, sendo incorporada ao conteúdo cotidiano.
São incluídos elementos gráficos para destacar as matérias como O Cidadão, Para Entender o
Caso, Fale com a Redação, Frases, Pontos de Vista e Dicionário. A tipografia também é
alterada.
Em setembro de 2000, uma nova reformulação, incluída dentro do Projeto Século XXI. Cada
editoria ganha sua cor, passando a identificar inclusive as chamadas da capa. Internamente, as
matérias principais recebem uma cartola com a palavra-chave, sintetizando o assunto referido.
Foram criados resumos na abertura das matérias (abre), além da seção Breves com notícias
curtas, assim como a internet. Em julho de 2004, uma revisão no projeto: as editorias agora
passam a ser organizadas em núcleos e novos cadernos são criados (Buchicho!, Guia Vida &
Arte e Gol do Povo). O nome dos editores e os contatos são incluídos nos cabeçalhos de cada
editoria.
FIGURA 12 –Edição de 07/01/1997. (O POVO, 2007, p. 102) FIGURA 13 – Edição de 11/09/2000. (O POVO, 2007, p. 108) FIGURA 14 – Edição de 21/06/2004. (O POVO, 2007, p. 109)
A reformulação mais recente foi implantada em maio de 2007. O desenho do jornal, realizado
pela filial argentina da García Media, coordenada pelo designer Rodrigo Fino, mudou
radicalmente. Segundo explicação do próprio jornal, o redesign é baseado em dois conceitos-
chaves: o respeito às diferentes velocidades de leitura e a interatividade com o leitor. Para
isso, o jornal recebeu diversos elementos gráficos que permitiram agilidade na informação,
tais como os 2 minutos visuais, nuvens (imitando as tags da internet) e a seção E-mais. Na
interatividade, foram destacadas seções como Fale com a gente (agora no topo das editorias) e
o e-mail dos repórteres é divulgado em alguns textos.
Na capa, surge o balão colorido do Buchicho!, o elemento O Povo 24 Horas (integrando
destaques de outras mídias ligadas ao Grupo O Povo: rádios, TV, blogs e portal de internet),
além da própria tipografia. Para o novo projeto são utilizados a Ziggurat para os destaques,
Amplitude para títulos, legendas, quadros e colunas, e a Poynter para os textos. Ícones são
inseridos dentro da aparência gráfica: a seta (navegação), o sinal de mais (conteúdo) e a
exclamação (interatividade).
FOTO 15 – Edição de 29/09/2008. FOTO 16 – Edição de 13/04/2009.
O projeto Século XXI, permitiu a editoria de arte, coordenada pelos editores Andrea Araújo e
Gil Dicelli, receber dois prêmios Esso, na Categoria Nacional Criação Gráfica: em 2002, com
o caderno especial “Ave! Patativa”, após a morte de Patativa do Assaré; e em 2005, pelo
caderno especial “Amém – Karol Wojtila”, com a morte do Papa João Paulo II.
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