ANDREA KARINA GARCIA ESTRATÉGIAS DE COOPERAÇÃO ...
Transcript of ANDREA KARINA GARCIA ESTRATÉGIAS DE COOPERAÇÃO ...
Microsoft Word - inicio.novo.docx
ANDREA KARINA GARCIA
ESTRATGIAS DE COOPERAO INTERORGANIZACIONAL: UM ESTUDO TERICO PARA A CONSTRUO DE UM MAPA DO
CONHECIMENTO
CURITIBA 2010
Dissertao apresentada ao curso de Ps-Graduao em Cincia, Gesto e Tecnologia da Informao, Setor de Cincias Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paran, como parte das exigncias para a obteno do ttulo de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Newton Corra de Castilho Jnior
AGRADECIMENTOS
Agradeo CAPES, pelo suporte fornecido no decorrer do curso. Ao meu orientador, Prof. Newton, por ter acreditado no meu potencial; por ter me
orientado com liberdade para o meu exerccio enquanto pesquisadora; pela dedicao, pacincia e compreenso.
Profa Leilah, pela honra concedida a mim em compartilhar de seu conhecimento. Ao Prof. Joe, por ter contribudo de forma crucial para a finalizao desta dissertao. Aos meus familiares: meu pai, minha me, meus irmos e meu namorado Fernando,
por tudo. minha grande amiga e companheira de empreitada neste curso, Aline; por sua
amizade, apoio e troca de ideias que agregaram, e muito, ao meu conhecimento. s minhas irms de corao: Lorena e Cassiana; pela preocupao que sempre
demonstraram por mim; por terem lido e dado dicas fundamentais para a formulao do projeto aprovado para o ingresso neste curso.
RESUMO
Investiga, dentro de uma perspectiva histrica, as teorias que compem a Estratgia de Cooperao Interorganizacional, buscando subsdios tericos tanto na Administrao Estratgica quanto na Teoria Organizacional. Prope a construo de um quadro conceitual como um produto informacional, com o intuito de sistematizar o conhecimento gerado ao longo das ltimas dcadas, como um instrumento de consulta e apoio pesquisa. Para tanto, realiza um levantamento e uma reviso bibliogrfica preliminar da literatura clssica referente ao assunto, a qual servir como base para a gerao de parmetros para a estruturao de uma classificao. Posteriormente, arrola os estudos mais recentes na rea, enquadrando-os segundo indicadores gerados no primeiro momento da pesquisa. Desta forma, aproxima quatro campos do conhecimento: a Histria como pano de fundo, edificadora dos alicerces da pesquisa; a Cincia da Informao, atravs de seus instrumentos anlise e classificao; e a Economia e a Administrao que constituem os fundamentos do objeto emprico investigado. Palavras-chave: Estratgia de Cooperao Interorganizacional, Cincia da Informao, Administrao Estratgica Organizacional, Economia e competitividade.
ABSTRACT It investigates, within a historical perspective, the Cooperative Interorganizational Strategy theories based on Strategic Administration and Organizational Theory. It proposes the design of a conceptual framework as an informational product, with the objective of organizing the knowledge generated across the last decades as a research support tool. In order to accomplish this objective, it reviews a preliminary bibliography of the classical literature referring to the subject which will be the basis to generate parameters for the classification structure. Later, it enrolls the more recent studies in the area, classifying according to the indicators generated in the first phase of the research. By doing this, it explores four knowledge fields: the History as a background, building up the research foundations; the Information Science, through its classification and analysis tools; and the Economy and the Administration that compose the basis of this empiric investigation. Key-words: Cooperative Interorganizational Strategy, Information Science, Organizational Strategic Administration, Economy and Competitiveness.
SUMRIO 1 INTRODUO.............................................................................................................1 1.1 Cincia da Informao e Administrao Estratgica: arquitetando relaes..................1 1.2 Problema..........................................................................................................................5 1.3 Justificativa......................................................................................................................6 1.4 Objetivos.........................................................................................................................8 1.5 Estruturao da pesquisa.................................................................................................9 2 METODOLOGIA.......................................................................................................11 2.1 O pesquisador como um arteso intelectual..............................................................11 2.2 Reviso bibliogrfica versus pesquisa bibliogrfica.....................................................12 2.3 Estratgia de pesquisa...................................................................................................13 2.4 Fases da metodologia....................................................................................................18 2.5 Estratgia para a construo do mapa do conhecimento...............................................19 3 REVISO DE LITERATURA SOBRE ESTRATGIA ORGANIZACIONAL..21 3.1 Um breve contexto histrico.........................................................................................21 3.2 A Administrao Cientfica ..........................................................................................24 3.3 Embasamento econmico para a Administrao Estratgica .......................................27 3.3.1 Estratgia Competitiva..................................................................................................32 3.4 Embasamento da Teoria das Organizaes para a Administrao Estratgica ............49 3.4.1 Teoria da Dependncia de Recursos ............................................................................51 3.4.2 Aprendizagem Organizacional .....................................................................................53 3.4.3 Teoria das Redes Sociais...............................................................................................55 3.5 Estratgias de Cooperao Interorganizacional............................................................57 3.6 Aplicao das teorias econmicas sobre a Estratgia de Cooperao
Interorganizacional........................................................................................................59 3.6.1 Teoria do Poder de Mercado (Market Power Theory) .................................................60 3.6.2 Teoria dos Custos de Transao (Transaction Cost Theory) .......................................64 3.6.3 Teoria Baseada em Recursos (The Resource-Based View) ..........................................68 3.6.4 Teoria de Agncia (Agency Theory) .............................................................................70 3.7 Aplicao das Teorias Organizacionais sobre a Estratgia de Cooperao
Interorganizacional .......................................................................................................71 3.7.1 Teoria da Dependncia de Recursos ............................................................................72 3.7.2 Aprendizagem Organizacional .....................................................................................73 3.7.3 Teoria das Redes Sociais ..............................................................................................75 4 A CINCIA DA INFORMAO E OS MAPAS DE CONHECIMENTO..........77 4.1 O impacto econmico da exploso informacional e o surgimento de uma nova
cincia............................................................................................................................77 4.2 Abordando os mapas de conhecimento.............................. ..........................................82 5 A CONSTRUO DO MAPA DO CONHECIMENTO SOBRE ESTRATGIA
DE COOPERAO INTERORGANIZACIONAL................................................91 5.1 Estratgia para a construo do mapa do conhecimento: resgatando parte da
metodologia...................................................................................................................91
5.1.1 Confeco das fichas de leitura.....................................................................................91 5.1.2 Classificao das fichas de leitura.................................................................................93 5.1.3 Aspectos grficos..........................................................................................................93 5.1.4 Fundamentos tericos para a hierarquizao do conhecimento....................................95 6 CONSIDERAES FINAIS...................................................................................114 6.1 Contribuies da pesquisa...........................................................................................115 6.2 Limitaes da pesquisa................................................................................................115 6.3 Sugestes para novos estudos.....................................................................................116
REFERNCIAS........................................................................................................117
LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Esquema Ilustrativo da rvore de Porfrio........................................................84 FIGURA 2 Knowledge Map of Information Science............................................................86 FIGURA 3 A Histria da Historiografia Estrutural..............................................................89 FIGURA 4 Ficha de Leitura..................................................................................................92 FIGURA 5 Mapa do Conhecimento Estratgia de Cooperao Interorganizacional.........97 FIGURA 6 Embasamento Econmico para a Administrao Estratgica............................98 FIGURA 7 Embasamento da Administrao Cientfica para a Teoria
Organizacional...................................................................................................99 FIGURA 8 Embasamento da Teoria das Organizaes para a Administrao Estratgica:
Teoria da Dependncia de Recursos................................................................100 FIGURA 9 Embasamento da Teoria das Organizaes para a Administrao Estratgica:
Aprendizagem Organizacional........................................................................101 FIGURA 10 Embasamento da Teoria das Organizaes para a Administrao Estratgica:
Teoria das Redes Sociais.................................................................................102 FIGURA 11 Administrao Estratgica..............................................................................103 FIGURA 12 Viso Baseada em Recursos e seus Antecedentes.........................................104 FIGURA 13 Estratgia de Cooperao Interorganizacional...............................................105 FIGURA 14 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria do Poder de Mercado.............106 FIGURA 15 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria do Poder de Mercado.............107 FIGURA 16 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria dos Custos de Transao........108 FIGURA 17 Teorias de Estratgia de Cooperao: Viso Baseada em Recursos..............109 FIGURA 18 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria de Agncia .............................110 FIGURA 19 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria da Dependncia de Recursos..111 FIGURA 20 Teorias Estratgia de Cooperao: Aprendizagem Organizacional...............112 FIGURA 21 Teorias de Estratgia de Cooperao: Teoria das Redes Sociais...................113
1
1 INTRODUO
1.1 CINCIA DA INFORMAO E ADMINISTRAO ESTRATGICA:
ARQUITETANDO RELAES
Durante o sculo XX, a atividade de pesquisa e, consequentemente, a produo de
informao cientfica passou a ter um crescimento exponencial em praticamente todas as
reas, inclusive na Administrao. Outro fenmeno, atrelado exploso informacional, foi a
revoluo tecnolgica.
Embora seja possvel resgatar suas origens em manifestaes literrias e tericas
mais antigas, h certo consenso entre os autores com relao ao surgimento da Cincia da
Informao enquanto atividade disciplinar e profissional como consequncia do
crescimento exponencial da produo cientfica, posterior Segunda Guerra Mundial e
intimamente ligada indstria da informao, derivada do controle bibliogrfico e dos
servios informacionais, arquitetados com vistas ao pronto atendimento da pesquisa e do
desenvolvimento (MIRANDA, 2003, p. 183).
Ao resgatar as razes histricas para o desencadeamento deste processo de acmulo
de informaes, o investigador surpreendido com um grande paradoxo, configurado ao
longo de sculos, localizado na atitude para com o escrito, segundo Chartier (2002, p. 118).
De um lado, o medo da perda ou do surgimento de lacunas, o que proporcionou a criao de
formas para salvaguardar o patrimnio escrito da humanidade: recolhendo, fixando e
preservando, desde a procura de textos antigos, a cpia dos livros mais preciosos, a
impresso dos manuscritos, a edificao das grandes bibliotecas, a compilao dessas
bibliotecas sem muros que so as colees de textos, os catlogos e as enciclopdias
(CHARTIER, 2002, p. 118). No sculo XVIII, o desenvolvimento de organizaes de
fomento pesquisa, atrelado necessidade de que a busca pelo conhecimento fosse feita de
forma sistemtica, profissional, til e cooperativa (BURKE, 2003, p. 48 e 49) culminou na
ameaa que hoje presenciada, ou seja, a ameaa do excesso, que consiste no outro lado do
paradoxo. A proliferao pode tornar-se caos e abundncia, obstculos ao conhecimento
(CHARTIER, p. 119). Diderot (1980 apud MUSSO, 2004, p. 19), um dos responsveis pela
fundao da Enciclopdia, em seu texto inaugural, fala sobre a metfora da rede controlada
2
por seu centro ou submetida periferia, de forma que ao deslocar-se do centro periferia,
passar-se-ia da memria comunicao e do despotismo anarquia.
A fim de dominar tais obstculos so necessrios instrumentos capazes de selecionar,
classificar e hierarquizar. Esta tarefa foi incumbida a mltiplos atores sociais, a exemplo dos
autores que julgam seus pares e predecessores; os poderes responsveis pela censura; as
instituies que consagram ou excluem; e as bibliotecas que conservam ou ignoram
(CHARTIER, 2002, p. 119).
Se antes as funes de coletar, proteger, recensear e tornar acessvel a produo
escrita eram essencialmente atribudas s bibliotecas, as quais trabalhavam com o suporte
escrito, com a revoluo a sociedade passou a contar com novas tcnicas de armazenamento
e aprendizagem, a partir de suportes eletrnicos, as novas tecnologias de informao e
comunicao. Alm disso, o prprio conceito de biblioteca passou a ser revisto.
Neste contexto, surge a Cincia da Informao que, segundo Le Coadic (1996,
p.26), tem por objetivo atender as demandas ligadas aos estudos de propriedades gerais da
informao. Ela analisa os processos de construo, comunicao e uso da informao, com o
intuito de conceber produtos e sistemas que permitam a construo, a comunicao, o
armazenamento e o uso da informao.
Se vista por uma perspectiva cronolgica, a Administrao, enquanto cincia,
tambm tem sua origem em tempos recentes. Por outro lado, se for pensada sob a perspectiva
do seu tempo de obsolescncia, relacionada ao ciclo de uso, outro olhar sobre a disciplina
lanado. A Administrao Cientfica, proposta por Frederick Taylor, foi desenvolvida com
vistas ao aprimoramento da eficincia operacional no ambiente industrial. Sendo assim, a
Administrao, desde suas origens, passando pelo seu desenvolvimento e, inclusive, seu
tempo de obsolescncia ditada por uma demanda que pode ser poltica, social e, sobretudo,
de mercado. A rea de Estratgia, a qual surgiu justamente sob o contexto de uma maior
complexidade para as empresas, tanto com relao ao ambiente externo quanto interno, leva
esta constatao ao extremo. Embora seus estudos no acomodem o tempo cronolgico nem
mesmo de meio sculo, a rea teve uma evoluo considervel, a fim de acompanhar as
exigncias do mercado. Num primeiro momento com vistas competio, em outro,
cooperao, sem perder o foco, o objetivo final: a vantagem competitiva.
Desde a dcada de 1970, o conceito de Estratgia passou a fazer parte do dia-a-dia
dos administradores, tornando a prtica do planejamento estratgico difundida entre as
empresas tanto de grande quanto de mdio porte. Esta mudana foi provocada em funo do
reconhecimento de que o ambiente externo da empresa, cada vez mais, vinha se tornando
3
mutvel e descontnuo. Consequentemente, de modo isolado, os objetivos traados passaram a
ser insuficientes como regras de deciso, a fim de guiar a reorientao estratgica de uma
organizao, em meio a novos desafios, ameaas e oportunidades. As novas regras e
diretrizes para deciso, que orientam o processo de desenvolvimento de uma organizao, tm
sido chamadas de Estratgia (ANSOFF, 1990, p. 93).
No entanto, segundo Igor Ansoff (1990, p. 96), o conceito de Estratgia fugaz e
um tanto abstrato, pois sua formulao no cria qualquer ao produtiva concreta, muito
menos imediata. Alm disso, trata-se de um processo dispendioso tanto em termos financeiros
quanto ao tempo da administrao, reforando seu carter paradoxal com relao prpria
Administrao, a qual consiste numa atividade essencialmente pragmtica. Por este motivo,
tem sido alvo de discusses no meio acadmico, exatamente por se tratar de um conceito
subjetivo, no s em termos organizacionais, mas tambm em termos econmicos. Com
relao Teoria das Organizaes evidente a presena humana a ela atrelada. Por outro
lado, no mbito da Teoria Econmica, o debate mais acirrado, justamente por no se
evidenciar esta questo, haja vista a dicotomia formada neste campo do conhecimento: entre
ortodoxos e heterodoxos, assunto explorado de maneira mais detalhada durante o percurso da
pesquisa.
Segundo Richard Whittington (2002, p. 2), no existe muita concordncia a respeito
de estratgia. Por este motivo, em sua obra, o autor apresenta quatro abordagens para o
conceito. A abordagem Clssica a mais antiga e mais influente. Seus mtodos de
planejamento so racionais. Tem como representantes autores como: Ansoff (1965, 1991) e
Michael Porter (1985, 1996). A abordagem Evolucionria se apia em metforas
evolucionistas, substituindo a lei de mercado pela lei da selva. Ele enquadra Oliver
Williamson (1991) nesta corrente de pensamento. Os Processualistas enfatizam a natureza
imperfeita da vida humana. Assim, acomodam pragmaticamente a estratgia ao processo
falvel das organizaes e do mercado. Para finalizar, h a Sistmica. Trata-se de uma
abordagem relativista. Considera os fins e os meios da estratgia interligados s culturas e aos
poderes dos sistemas sociais.
A Estratgia um conjunto sistmico, defende Ansoff (1990, p. 97). um dos vrios
conjuntos de regras de deciso que servem para orientar o comportamento de uma
organizao, dando coerncia e direcionamento ao crescimento de uma organizao, de
acordo com o seu grau de complexidade. Quando qualitativos, os padres a serem traados
so chamados de objetivos. Quando quantitativos so chamados de metas. As regras que
definem a relao da empresa com o seu ambiente, referente a quais produtos e qual
4
tecnologia ela ir desenvolver, bem como onde e para quem tais produtos sero vendidos e de
que modo ela ir obter vantagens sobre seus concorrentes, so chamadas de Estratgia de
Negcios. Por outro lado, as regras que estabelecem as relaes internas e os processos
organizacionais so chamadas de Estratgia Administrativa. Por fim, as polticas operacionais
so aquelas que conduziro as atividades rotineiras da empresa (ANSOFF, 1990, p. 96).
Os estudos que fundamentaram o campo da Estratgia Organizacional, segundo
Vasconcelos e Cyrino (2000, p. 21), so os relacionados vantagem competitiva e Teoria
das Organizaes. Enquanto a primeira proveniente de estudos econmicos, a segunda
aborda as mudanas organizacionais.
No primeiro caso, as pesquisas apiam-se em fundamentos econmicos. Por este
motivo so comuns as abordagens de carter metodolgico, estruturadas e dirigidas
verificao emprica a partir de hipteses generalizveis, as quais serviro como premissas
que iro justificar a situao da empresa (de sucesso ou fracasso) em diferentes contextos.
No segundo, as contribuies esto atreladas s Cincias Sociais, sobretudo
Sociologia. Tais abordagens tm como preocupao central oferecer explicaes com relao
natureza da mudana organizacional a partir de mtodos qualitativos, os quais iro atuar
sobre os processos internos de adaptao, inovao e aprendizagem.
A Estratgia de Cooperao Interorganizacional se tornou uma rea em alta nos anos
90, assim como na dcada de 1980 o debate intelectual esteve centrado na Estratgia
Competitiva, sobretudo no que se refere s publicaes de Michael Porter. A razo para isto
mais profunda do que mera tendncia, pois neste perodo que a acelerao do processo de
globalizao se torna mais evidente. As tecnologias passam a mostrar uma tendncia
perturbadora de no durar por muito tempo, at que sejam substitudas por outras, tornando o
ciclo de vida dos produtos o menor j visto em uma sociedade, guiada pela energia incansvel
dos publicitrios (FAULKNER; DE ROND, 2000, p. 3).
Todas estas mudanas apontam para a necessidade de um maior capital de
investimento, mesmo se tratando de grandes firmas, para que elas possam regularmente
competir, alm da necessidade de atrair aliados que potencializem a tomada de espaos
maiores dentro do mercado global, atravs da unio de competncias necessrias para suprir
tais demandas (MURRAY; MAHON, 19931 apud FAULKNER; DE ROND, 2000, p. 3).
Por este motivo, a literatura de negcios, popular e acadmica, sobre as atividades
cooperativas, tem crescido nos ltimos anos. Embora, anteriormente, o termo aliana possa
1 MURRAY, E.; MAHON, J. F. Strategics alliances: gateway to the New Europe? Boston: Long Range Planning, 1993.
5
ter se referido estritamente a um tipo particular de relacionamento, agora ele serve como um
guarda-chuva, servindo para abrigar rtulos referentes aos diversos tipos de
relacionamentos cooperativos (FAULKNER; DE ROND, 2000, p. 3).
Faulkner e De Rond (2000) foram os responsveis por elaborar um dos mais
importantes e nicos estudos sobre as teorias de Estratgia de Cooperao
Interorganizacional. De acordo com uma base lgica de cooperao, so categorizadas trs
vertentes tericas:
1) o ponto de vista econmico que engloba teorias como: Teoria do Poder de
Mercado, Teoria dos Custos de Transao, Teoria de Agncia, Teoria Baseada em Recursos,
Teoria dos Jogos e Teoria das Opes Reais;
2) o ponto de vista da Teoria das Organizaes, dentre as quais figuram a Teoria da
Dependncia dos Recursos, a Teoria das Redes Sociais, a Teoria Estruturalista, os estudos
sobre aprendizagem organizacional e ecossistemas;
3) e os aspectos relacionados ao comportamento de cooperao: cultura, confiana e
comprometimento.
1.2 PROBLEMA
A importncia do profissional da informao para o desenvolvimento das foras
produtivas decorrente do seu papel estratgico de mediador entre estoques e usurios da
informao. Neste processo importante vencer as barreiras que possam dificultar a
comunicao da informao (FREIRE, 2006, p. 35).
Segundo Freire (2006, p. 36), de acordo com esta perspectiva, h um processo de
interao entre o texto, levando em considerao sua forma estrutural, e as estruturas
cognitivas do receptor a quem a informao se destina. Neste sentido, acrescenta a autora,
necessrio no perder de vista o contexto social em que tais sujeitos tecem suas categorias e
formas de expresso cultural. Destaca-se, portanto, outra misso do profissional da
informao: a de descobrir o limite mximo da conscincia possvel na comunicao da
informao, o qual resultante da experincia acumulada pelo usurio e determinada por sua
prtica social (FREIRE, 2006, p. 37).
6
A viso fundada no valor social da informao tambm reconhecida por Gernot
Wersig (1976). De fato, a presena de mediadores, sejam eles humanos ou aparatos
tecnolgicos, no processo de comunicao, faz com que haja o aumento da possibilidade de
rudos na transmisso da informao. Assim, os mediadores (agncias e agentes da
informao) devem procurar se antecipar s vrias situaes nas quais surgem barreiras de
comunicao que dificultam a correta recepo da informao pelos usurios (FREIRE,
2006, p. 40). Portanto, eles sero cada vez mais responsveis pelo papel de facilitadores da
comunicao de informao, aproximando produtores/emissores e usurios/receptores
(FREIRE, 2006, p. 43), de modo que os recursos disponveis sejam utilizados da melhor
maneira possvel e de forma ampla. Para tanto, faz-se importante considerar a possibilidade
terica e metodolgica sobre a existncia de um leque de opes de comunicao, cercado por
limites, impondo ao profissional a elaborao de estratgias de transmisso de informaes
relevantes para os usurios em potencial (FREIRE, 2006, p. 43).
Uma das atribuies do profissional da informao a de realizar a mediao entre o
usurio e a informao. Os elementos que compem a ao mediadora so os responsveis
por permitir a consonncia dos objetivos entre o que busca o usurio e o levantamento feito
pelo profissional, os quais, mediante um processo dialgico, acontecem antes mesmo da busca
(BARBOSA; VARELA, 2007, p. 116). Diante do exposto, coloca-se a seguinte questo:
Como sistematizar o conhecimento registrado na literatura referente s teorias que
compem a Estratgia de Cooperao Interorganizacional?
O pesquisador, ao formular uma pergunta a ser respondida, constituindo seu
problema de pesquisa, ajuda a facilitar a objetividade do aprofundamento de seus estudos nos
limites de uma realidade especfica.
1.3 JUSTIFICATIVA
Justifica-se a realizao deste estudo, em razo da necessidade de que novas
abordagens sobre o assunto sejam realizadas, pois poucos autores fizeram um levantamento
sobre a literatura produzida sobre Estratgia de Cooperao Interorganizacional, sobretudo
enfatizando suas conexes e evolues.
7
David Faulkner e Mark de Rond (2000) realizaram importante estudo sobre a rea, o
que justifica sua escolha como fio condutor do presente trabalho. Os autores constataram que
as pesquisas levantadas contribuem de forma singular para o entendimento do comportamento
cooperativo, mas a aceitao geral e a unificao terica ainda se encontram em processo de
construo (CHILD; FAULKNER2, 1998 apud FAULKNER; DE ROND, 2000, p. 4).
O mapeamento do conhecimento, Segundo Chaim Zins (2007b, p. 645), representa
importante papel na construo do aprendizado e disseminao do conhecimento, processos
que fazem parte da preocupao dos estudos da rea de Cincia da Informao e deste
trabalho. Por este motivo, foi escolhido como ferramenta de sistematizao do contedo
estudado. Alm do ponto de vista de Chaim Zins (2007a, 2007b), um dos autores que fazem
uso desta tcnica de sistematizao, explorada a viso de Christopher Lloyd (1995). A
apropriao parcial de ambas as propostas, maior por parte do segundo autor, por razes
discutidas neste tpico, resultou na apresentao da estruturao do mapa do conhecimento,
bem como uma discusso sobre os resultados obtidos.
Espera-se que a utilizao do mapa do conhecimento sobre Estratgia de Cooperao
Interorganizacional seja feita por pesquisadores e profissionais da informao, direcionado
tanto ao meio acadmico quanto ao ambiente corporativo, havendo a possibilidade de
interao entre ambas as instituies, atravs de parcerias, consultorias e treinamentos.
A informao estratgica, desde a dcada de 1990, tornou-se alvo de pesquisadores
de negcios e consultores, os quais defendiam que esta prtica poderia ser uma fonte de
vantagem competitiva. Trabalhadores do conhecimento, provenientes de diversas reas,
estariam incumbidos de construir um ambiente direcionado ao aprendizado, tornando-se
potencialmente mais capazes de atender s demandas da economia informacional (VON
KROGH, et al., 2001, p. 1).
A capacitao para o conhecimento favorece a criao de condies para que a
organizao possa sempre utilizar a melhor informao e conhecimento disponvel
(ALVARENGA NETO, 2008, p. 38). Deve-se enfatizar que o conceito de Estratgia
desenvolvido e aplicado de forma ampla, pelo alto escalo da empresa e difundido entre seus
departamentos. No entanto, cada departamento, baseando-se nestas diretrizes, implementa
suas prprias metas, a fim de alcanar os objetivos estabelecidos pelo nvel mais alto da
organizao. Neste sentido, para que haja uma harmonia entre os diversos nveis da empresa,
o conhecimento terico e prtico sobre Estratgia deve ser difundido. Investir em empresas de
2 CHILD, J., FAULKNER, D.O. Strategies of cooperation: managing alliances, networks e joint ventures. London: Oxford University, 1998.
8
conhecimento significa aprimorar capacidades, habilidades e ideias: o capital intelectual da
empresa (BEMFICA; BORGES, 1999, p. 236).
Uma das motivaes para a elaborao de tal pesquisa partiu do princpio do
reconhecimento de certa deficincia na interao entre o meio acadmico e empresarial, neste
aspecto, ao contrrio do que se v no campo da pesquisa com vistas ao desenvolvimento
tcnico. Este trabalho pode ajudar a facilitar o acesso a pesquisas importantes e atualizadas no
que se refere Estratgia de Cooperao Interorganizacional, trazendo a relao entre os
diversos materiais, para que o indivduo consiga ter acesso a mais adequada informao.
Consequentemente, a adoo destas ideias proporcionaria a empresa uma melhor capacitao
para a elaborao de sua estratgia, para a tomada de deciso e para o controle de erros, nos
mais diversos nveis.
No mbito pessoal, a autora, com formao acadmica perifrica rea de
concentrao do programa de mestrado escolhido, encontrou uma forma de usar os recursos
de sua rea, no caso, a Histria, para a elaborao de seu plano de pesquisa. Mesmo o prprio
objeto de pesquisa, as teorias que compem a Estratgia de Cooperao Interorganizacional,
no est sob os holofotes da rea, mas tangencia a disciplina de Cincia da Informao, ao
contribuir de forma direta para a Gesto da Informao. A autora deve reconhecer que a
juno entre estas trs reas se deu da seguinte forma: a antiga e persistente relao com a
Histria; o ingresso no curso de graduao em Gesto da Informao, passando ao mestrado
no ano seguinte, a fim de realizar um trabalho mais direcionado, motivado pela troca de ideias
com a Professora Leilah Bufrem, a quem atribuda grande admirao intelectual e pessoal;
por fim, a realizao da disciplina de Estratgia e Informao, ministrada pelo Professor
Newton Castilho, orientador desta dissertao, responsvel pelo despertar de um forte
interesse pela sua rea de atuao, devido ao seu admirvel profissionalismo e bom
relacionamento com seus alunos.
1.4 OBJETIVOS
Considerando a problemtica como um conjunto de fatores que fazem com que o
pesquisador conscientize-se de um determinado problema, veja-o de um modo ou de outro,
imaginando tal ou tal eventual soluo (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 98), este trabalho
teve como objetivo geral, portanto:
9
Sistematizar o conhecimento que envolve as teorias sobre a Estratgia de Cooperao
Interorganizacional.
O resultado gerado teve a pretenso de gerar um produto informacional que poder
servir de apoio para a recuperao da informao e facilitar o processo de ensino e
aprendizagem.
Um dos objetivos especficos deste trabalho, num primeiro momento, foi,
justamente, o de realizar o levantamento do conhecimento registrado na literatura sobre a
Estratgia de Cooperao Interorganizacional, bem como seus estudos antecedentes. A fim de
deixar claro ao leitor, o objeto de pesquisa investigado, portanto, foram as teorias de
Estratgia de Cooperao Interorganizacional. Para entender suas origens e seus
desdobramentos foi necessrio mergulharem tais teorias e os seus respectivos conceitos dentro
do processo histrico, numa perspectiva de anlise diacrnica.
Sendo assim, de forma sinttica, os objetivos especficos so:
realizar o levantamento dos principais tericos da Estratgia de Cooperao
Interorganizacional;
estabelecer as principais correntes de pensamento;
propor parmetros de comparao para o enquadramento dos autores da nova
gerao de acordo com suas influncias tericas e conceituais, baseados nos autores
clssicos;
elaborar um processo de relaes verticais e horizontais entre correntes de
pensamento, teorias e autores, alicerce para a construo do mapa do conhecimento.
1.5 ESTRUTURAO DA PESQUISA
O trabalho de pesquisa est estruturado da seguinte maneira: o captulo 2
constitudo pela investigao do prprio objeto de pesquisa: as teorias que compem a rea de
Estratgia de Cooperao Interorganizacional, abordando suas vertentes de origem, de um
lado, de estudos econmicos e, por outro, da Teoria das Organizaes. Trata-se da reviso de
literatura referente Estratgia, um dos sub-campos da rea da Administrao.
10
Segundo Alves (1992, p. 54), existem dois tipos de reviso de literatura. A primeira
aquela que o pesquisador realiza para o seu prprio consumo, a fim de atingir maior clareza
sobre as principais questes terico-metodolgicas pertinentes ao tema a ser desenvolvido; a
segunda aquela que vai integrar efetivamente o relatrio de estudo, como o caso. Desta
forma, justifica-se a extensa reviso realizada, tendo em vista a sua indiscutvel importncia,
sobretudo para um trabalho de cunho terico.
O captulo 3 traz o suporte terico da Cincia da Informao, na qual o mtodo de
sistematizao de conhecimento (mapa de conhecimento) apropriado por esta pesquisa se
inscreve. Discute, inclusive, as relaes interdisciplinares entre a Cincia da Informao e a
rea educacional, atravs do ponto de convergncia dos estudos de cognio e aprendizagem.
O Captulo 4 preocupa-se com a descrio metodolgica da pesquisa, quanto aos
seus fins: numa primeira etapa exploratria, segundo classificao de Trivinos (1994, p. 109).
Esta forma de estudo permite ao investigador aumentar suas experincias em torno de um
determinado problema.
A segunda etapa desta pesquisa descritiva. Esta modalidade exige do investigador
uma delimitao precisa de tcnicas, mtodos, modelos e teorias que orientaro a coleta e a
interpretao dos dados (TRIVINOS, 1994, p. 112), com o intuito de mapear o conhecimento
proposto.
Seguindo o roteiro metodolgico, o Captulo 5 descreve a proposta de construo do
mapa do conhecimento sobre as teorias de Estratgias de Cooperao Interorganizacional,
contedo explorado na primeira fase da pesquisa de maneira ampla e devidamente
aprofundada.
11
2 METODOLOGIA
2.1 O PESQUISADOR COMO UM ARTESO INTELECTUAL
A metodologia uma disciplina instrumental, sendo condio necessria para a
competncia cientfica. Alis, segundo Demo (1995, p. 59), poucas coisas cristalizam
incompetncia mais gritante do que a despreocupao metodolgica.
Primeiramente, a metodologia pe em xeque a cientificidade da produo cientfica,
haja vista slidas estruturas, aparentemente inquestionveis, como as posturas positivistas e as
estruturalistas. Em segundo lugar, pode-se questionar a construo do objeto cientfico,
dentro do contexto da discusso sobre objeto construdo (DEMO, 1995, p. 60). Sobre tal
questo, importante ressaltar o desvendamento da concepo de realidade, por trs da opo
metodolgica. Sendo assim, ajuda a esclarecer e definir o paradigma cientfico, contextualizar
o espao e o tempo, elucidar os fundamentos formais e histricos e antever horizontes
ideolgicos. Em terceiro lugar, Demo (1995, p. 60), comenta sobre os estudos sobre as
abordagens metodolgicas clssicas e atuais, como o empirismo, o positivismo, a dialtica, o
estruturalismo, o sistemismo, entre outras. De modo geral, acerca das possibilidades de
apreenso do conhecimento, so constatados, atravs do universo filosfico, dois grupos
oponentes: aqueles que negam ser possvel ao ser humano conhecer o mundo e outro formado
pelos pensadores que afirmam tal possibilidade, do conhecimento do universo e de suas leis
(TRIVINOS, 1994, p. 24).
O conhecimento cientfico real (factual), pois lida com ocorrncias ou fatos, ou
seja, toda forma de existncia. Constitui um conhecimento contingente, ao constatar que suas
proposies ou hipteses tm sua veracidade ou falsidade conhecida atravs da experincia e
no apenas pela razo como ocorre no conhecimento filosfico. Por se tratar de um saber
ordenado logicamente, formando um sistema de ideias, sistemtico (LAKATOS;
MARCONI, 2007, p. 80).
Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 80), as cincias possuem o objetivo de
distinguir a caracterstica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos e a funo
de aperfeioar a relao do homem com o seu mundo, atravs do crescente acervo de
conhecimentos.
12
Portanto, o mtodo cientfico indica uma estrada, uma via de acesso e,
simultaneamente, rumo e discernimento de direo ao pesquisador (OLIVEIRA, 1998, p. 17).
Methodos, segundo Chau3 (apud OLIVEIRA, 1998, p. 17), significa uma investigao
que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa;
procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado. Portanto, o
mtodo assinala um percurso escolhido entre outros possveis (OLIVEIRA, 1998, p. 17).
Segundo Mills4 (apud OLIVEIRA, 1998, p. 19), os bons pesquisadores so aqueles
que no se limitam observncia de regras, at mesmo porque, na maior parte das vezes,
enfrentam situaes que os manuais no poderiam antecipar. O ato de pesquisar, prossegue o
autor, no se restringe a absorver tcnicas e as pr em prtica. O cultivo da capacidade
imaginadora que separa o tcnico do pesquisador. E, somente a engenhosidade, portanto,
capaz de promover associaes antes no existentes. Isto subentende que haja uma capacidade
de aprimorar a percepo, de refinar a sensibilidade, de modo a ampliar os horizontes da
compreenso.
Todos estes aspectos convergem para a necessidade do pesquisador em se assumir
como um arteso intelectual, paciente, atento, sensvel e, ao mesmo tempo, despretensioso.
Aquele que capaz de zelar pela relao entre a teoria e a prtica (OLIVEIRA, 1998, p. 20).
Sendo esta uma pesquisa de carter terico, tais cuidados devem ser redobrados.
2.2 REVISO BIBLIOGRGICA VERSUS PESQUISA BIBLIOGRFICA
A pesquisa bibliogrfica indispensvel para os estudos histricos, dentro dos quais
este trabalho se inscreve, pois permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenmenos
mais ampla. Alm disso, as fontes sero essencialmente bibliogrficas, ou seja, livros,
peridicos, teses, dissertaes, entre outras, o que refora e justifica o seu carter
bibliogrfico.
Os livros, fontes bibliogrficas por excelncia, podem ser classificados como leitura
corrente ou de referncia. No primeiro caso, sero utilizadas as obras de divulgao, as quais
objetivam proporcionar conhecimentos cientficos e/ou tcnicos. O segundo caso abrange os
3 O autor no faz referncia obra especfica consultada. 4 O autor no faz referncia obra especfica consultada.
13
livros de consulta, ou seja, aqueles que possibilitam uma rpida obteno de informaes
requeridas (livros de referncia informativa) ou levam localizao das obras que as contm
(livros de referncia remissiva) (GIL, 2002, p. 44).
Outra categoria fundamental usada nas pesquisas bibliogrficas so as publicaes
peridicas, sendo, para os padres de investigao cientfica, as principais fontes
bibliogrficas.
Teses e dissertaes caracterizam-se como fontes importantes de consulta, pois
algumas se constituem por relatrios de investigaes cientficas originais ou acuradas
revises bibliogrficas. Da mesma forma, os anais de encontros cientficos, resultados de
encontros, tais como congressos, simpsios, seminrios e fruns, podem ser fontes
privilegiadas de informao.
Diferentemente da reviso bibliogrfica, a pesquisa bibliogrfica pode ser iniciada
apenas com uma definio conceitual. A reviso bibliogrfica limitada a definir os conceitos
operacionalmente, os quais serviro para construir a linha de raciocnio da pesquisa, de modo
que sua amplitude acaba se restringindo s definies conceituais referentes ao objeto. A
coleta de dados no pode iniciar antes que as variveis tenham sido circunscritas com dados
da realidade emprica (COOPER, 1989, p. 20).
A pesquisa bibliogrfica dispe da elegncia comparativa de ser capaz de avaliar a
relevncia conceitual de diferentes operaes e os cruzamentos de informaes, ou suas inter-
relaes, conforme estes aparecem na literatura ou simultaneamente ao estgio de coleta de
dados (COOPER, 1989, p. 20).
O maior desafio para uma pesquisa bibliogrfica eficaz a escolha adequada de
objetos relevantes pesquisa que incluem elementos, individuais ou agrupados, que o
pesquisador acredita representar o estudo. Uma definio rigorosa do objeto permite ao
pesquisador listar todos os seus elementos constituintes compondo seu status questiones, o
estado da questo. O objetivo do pesquisador embasar-se nas teorias apresentadas para
explicar um campo particular de fenmenos e compar-los com relao a sua amplitude,
consistncia interna e a natureza de suas predies (COOPER, 1989, p. 39).
2.3 ESTRATGIA DE PESQUISA
14
Yin (2001, p. 24) relaciona cinco tipos de estratgias de pesquisa: a) de experimento;
b) de levantamento; c) de anlise de arquivos; d) de pesquisa histrica; e) e estudo de caso. A
escolha da estratgia, segundo o autor, est diretamente relacionada a trs condies: 1) ao
tipo de questo a ser investigada; 2) ao controle que o pesquisador haveria de exercer sobre
eventos comportamentais efetivos; 3) e grau de enfoque na descrio de acontecimentos
passados em oposio a acontecimentos recentes.
Como j afirmado anteriormente, esta pesquisa apia-se na estratgia de pesquisa
histrica. Resta saber se esta escolha a mais adequada, de acordo com a perspectiva de Yin
(2001). Para tanto, necessariamente, deve-se retomar a questo de pesquisa para uma anlise
mais detalhada:
Como sistematizar o conhecimento registrado na literatura referente s teorias que
compem a Estratgia de Cooperao Interorganizacional?
As conjunes sugeridas pelo autor para dar incio questo de uma pesquisa
histrica so: como ou por que. Com relao aos outros dois itens apontados, ambos foram
eximidos de ateno, pois no apresentam relao com esta pesquisa. Neste sentido, a escolha
da estratgia justificada, por estar em consonncia com a viso metodolgica adotada.
Explorando ainda mais a questo, para entrar em contato com a literatura pertinente
foi necessrio fazer o levantamento e a seleo das fontes. Por este motivo, a pesquisa , com
relao aos fins, num primeiro momento, exploratria, segundo classificao de Trivinos
(1994, p. 109). Esta forma de estudo permite ao investigador aumentar suas experincias em
torno de um determinado problema, de modo a aprofundar seus estudos nos limites de uma
realidade especfica, buscando seus antecedentes para, em seguida, poder planejar uma
pesquisa descritiva ou experimental.
Para a fase da organizao dos dados, foi necessrio optar por um mtodo de
sistematizao. Trata-se, portanto, da segunda etapa da pesquisa, desta vez, descritiva, o que
exigiu da investigadora justamente uma delimitao precisa de tcnicas, mtodos, modelos e
teorias que conduziram a coleta e a interpretao dos dados (TRIVINOS, 1994, p. 112).
O desenvolvimento de uma pesquisa bibliogrfica varia em funo dos objetivos
estabelecidos. Portanto, convm, esclarece Gil (2002, p. 63), deline-los claramente, de modo
que as fases posteriores se processem de maneira satisfatria.
Segundo Gil (2002, p. 63 e 64), tal desenvolvimento precedido de quatro objetivos
principais:
15
1) Redefinio do problema: a fim de que o problema proposto fique com suas
arestas aparadas e, consequentemente, solidamente estabelecido. Para chegar a este
nvel de esclarecimento, a pesquisa bibliogrfica assume um carter exploratrio.
Neste caso, num primeiro momento.
Considerando a problemtica como um conjunto de fatores que fazem com que o
pesquisador conscientize-se de um determinado problema, veja-o de um modo ou de outro,
imaginando tal ou tal eventual soluo (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 98), este trabalho tem
como objetivo geral, portanto, sistematizar o conhecimento que envolve as teorias sobre a
Estratgia de Cooperao Interorganizacional.
Como tcnica a ser testada e verificada, foi escolhida a de mapeamento do
conhecimento. As diretrizes bsicas utilizadas foram os estudos de Christopher Lloyd (1995)
e Chaim Zins (2007a, 2007b). O resultado teve a inteno de gerar um produto informacional
que poder servir de apoio para a recuperao da informao e facilitar o processo de ensino e
aprendizagem.
Segundo Zins (2007b, p. 645), o mapeamento do conhecimento representa
importante papel na construo do aprendizado e disseminao do conhecimento, processos
que constituem parte da preocupao dos estudos da rea de Cincia da Informao. Neste
artigo, o autor apresenta um mapa do conhecimento sobre a Cincia da Informao, resultado
de um estudo Delphi crtico5, no qual ele explorou os fundamentos da Cincia da Informao.
Um dos objetivos especficos deste trabalho, num primeiro momento, foi,
justamente, o de realizar o levantamento do conhecimento registrado na literatura sobre a
Estratgia de Cooperao Interorganizacional, bem como seus estudos antecedentes. A fim de
deixar claro ao leitor, o objeto de pesquisa investigado, portanto, foram as teorias de
Estratgia de Cooperao Interorganizacional. Para entender suas origens e seus
desdobramentos foi necessrio mergulharem tais teorias e os seus respectivos conceitos dentro
do processo histrico, numa perspectiva de anlise diacrnica.
Sendo assim, de forma sinttica, os objetivos especficos so:
realizar o levantamento dos principais tericos da Estratgia de Cooperao
Interorganizacional;
estabelecer as principais correntes de pensamento; 5 O Delphi Crtico uma metodologia de pesquisa qualitativa que tem o objetivo de facilitar discusses crticas e moderadas entre os especialistas de uma determinada rea (o painel) (ZINS, 2007b, p. 527).
16
propor parmetros de comparao para o enquadramento dos autores da nova
gerao de acordo com suas influncias tericas e conceituais, baseados nos autores
clssicos;
elaborar um processo de relaes verticais e horizontais entre correntes de
pensamento, teorias e autores, alicerce para a construo do mapa do conhecimento.
2) Obteno de informaes acerca de tcnicas de coleta de dados, tendo, nesta
fase, o pesquisador os objetivos claramente traados: visa elaborar instrumentos
adequados para a coleta de dados. O primeiro passo localizar as obras que tratem
da elaborao destes instrumentos, bem como relatrios de pesquisa sobre
problemas correlatos; estes ltimos, com vistas a verificar se os instrumentos foram
eficientes para a obteno de dados significativos (GIL, 2002, p.64).
O trabalho de Faulkner e De Rond (2000) de grande importncia para o
entendimento do comportamento cooperativo, embora a aceitao geral e a unificao terica
ainda se encontram em processo de construo (CHILD; FAULKNER6, 1998 apud
FAULKNER; DE ROND, 2000, p. 4). Alm disso, serviu como fio condutor desta pesquisa
por levantar um problema a ela semelhante. Em razo da necessidade de que novas
abordagens sobre o assunto sejam realizadas, pois poucos autores fizeram um levantamento
sobre a literatura produzida sobre Estratgia de Cooperao Interorganizacional, sobretudo
enfatizando suas conexes e evolues, constituir a contribuio acadmica que este estudo
trar.
3) Obteno de dados em resposta ao problema formulado: h pesquisas em que
os dados obtidos a partir de fontes bibliogrficas so utilizados de forma exclusiva
(GIL, 2002, p. 64). o caso desta pesquisa.
O autor prope, primeiramente, uma leitura exploratria, a qual se procede a sua
seleo determinao do material que, de fato, interessa pesquisa. Esta fase exige uma
leitura atenta por parte do pesquisador. Ainda, no se trata de uma escolha rgida e definitiva,
pois possvel que se retorne outras vezes ao mesmo material, mas com propsitos diferentes,
devido ao surgimento de novas indagaes. Da mesma forma, h a possibilidade de que um
6 CHILD, J., FAULKNER, D.O. Strategies of cooperation: managing aliiances, networks e joint ventures. London: Oxford University, 1998.
17
texto excludo, a priori, venha a ser objeto de leitura posterior, por exemplo, em decorrncia
de alteraes de algum propsito do pesquisador (GIL, 2002, p. 68).
4) Interpretao dos dados: mediante consulta a trabalhos tericos, comparao
dos dados obtidos pelo pesquisador com aqueles trazidos por outros estudos, de
acordo com Gil (2002, p. 64), o resultado da pesquisa assume um carter mais amplo
e significativo.
Trata-se da fase de leitura analtica. Embora encarados como materiais de anlise
definitiva podem sofrer adio ou excluso, em decorrncia do nvel bastante aprofundado de
leitura a eles exigido. A finalidade da leitura analtica a de ordenar e sumariar as
informaes contidas nas fontes, de forma que estas possibilitem a obteno de respostas ao
problema de pesquisa (GIL, 2002, p. 68). Esta leitura de natureza crtica. Por este motivo,
importante que o pesquisador penetre no texto com a profundidade suficiente para identificar
as intenes do autor (GIL, 2002, p. 68).
Em termos prticos, podem-se estabelecer quatro diferentes momentos pelos quais
passa a leitura analtica, segundo Gil (2002, p. 69):
1) leitura integral do texto selecionado, para se ter uma viso geral da obra;
2) identificao das ideias-chaves (formulaes de maior relevncia);
3) hierarquizao das ideias (organizao das ideias, seguindo sua ordem de
raciocnio);
4) sintetizao das ideias. Consiste em recompor o todo decomposto pela
anlise (GIL, 2002, p. 69), a fim de solucionar o problema exposto.
A leitura interpretativa a ltima etapa do processo de leitura das fontes
bibliogrficas, naturalmente, a mais complexa, pois tem por finalidade relacionar as
afirmaes dos autores com o problema para o qual se prope uma soluo. A interpretao
dos dados deve ser feita a partir do acmulo de conhecimento significativo, originado de
pesquisas empricas ou teorias comprovadas (GIL, 2002, p. 70).
18
2.4 FASES DA METODOLOGIA
A fim de cumprir os objetivos propostos, a metodologia deste trabalho foi dividida
em duas fases, abarcando, logicamente, seus respectivos desdobramentos:
1) Fase exploratria:
a) Levantamento bibliogrfico:
Organizar uma bibliografia significa buscar aquilo cuja existncia ainda se ignora
(ECO, 2005, p. 42). Neste sentido, acrescenta Eco (2005, p. 42), o bom pesquisador aquele
que capaz de entrar numa biblioteca sem o domnio do tema e sair dali sabendo, no mnimo,
um pouco sobre ele.
Alm disso, para a identificao das fontes adequadas, a contribuio do orientador
fundamental. Ainda, recomenda-se a consulta a especialista ou pessoas que j realizaram
pesquisa na rea (GIL, 2002, p. 64). Alm de indicaes, elas podem oferecer apreciao
crtica a respeito do material a ser consultado, agregando valor a posterior anlise qualitativa.
Os livros de referncia informativa e os livros de referncia remissiva foram
buscados nas Bibliotecas do Setor de Cincias Sociais Aplicadas e Humanas da UFPR, bem
como os sistemas de servio das demais universidades pblicas, atravs do COMUT.
A busca pelos artigos de peridicos foi feita nas bases de dados disponveis na UFPR
como, por exemplo: CAPES, JStor (base interdisciplinar), ECONLIT (especializadas em
Economia e Administrao) e Proquest Direct (base interdisciplinar).
b) Leitura e anlise:
O mtodo de leitura para as pesquisas bibliogrficas deve seguir os seguintes
objetivos (GIL, 2002, p. 77):
a) identificar as informaes e os dados constantes do material impresso;
b) estabelecer relaes entre as informaes e os dados obtidos com o problema
proposto;
c) analisar a consistncia das informaes e dados apresentados pelos autores.
19
Embora seja necessrio certo grau de sistematizao do processo de leitura para uma
futura anlise qualitativa, ela no pode ser prejudicada por normas muito rgidas, sobretudo
quando no conseguem se adequar s peculiaridades individuais de cada teoria ou autor (GIL,
2002, p. 77). Gil (2002) faz esta crtica direcionada aos mtodos de pesquisa que constroem
taxonomias dos tipos de leitura.
2) Fase descritiva:
a) Construo do quadro referencial:
Trata-se da fase descritiva da pesquisa: a proposta de construo de um mapa do
conhecimento.
2.5 ESTRATGIA PARA A CONSTRUO DO MAPA DO CONHECIMENTO
Aps as trs fases de leitura a tomada de apontamentos, procedeu-se confeco de
fichas de leitura, sugerida por Gil (2002, p. 71), as quais serviram para:
a) identificar as obras consultadas e seus respectivos autores;
b) registrar do contedo das obras;
c) registrar de comentrios acerca das obras;
d) ordenar lgica do contedo.
O autor distingue dois tipos de fichas, as bibliogrficas e as de apontamentos. Ambas
devem compreender trs partes principais: cabealho, referncia bibliogrfica e texto.
a) Cabealho: constitudo pelos elementos de identificao das fichas;
b) Referncias bibliogrficas: obrigatoriamente, devem seguir as normas da
ABNT e da Universidade Federal do Paran, no caso.
20
c) Texto: nas fichas bibliogrficas, o texto constitudo pelos comentrios e nas
fichas de apontamento, pelas citaes, resumos e observaes pessoais
(SALVADOR, 19827 apud GIL, 2002, p. 75).
Elaboradas as fichas, passou-se a sua fase de classificao, a qual consiste em
coloc-las umas aps as outras, de forma tal que as questes semelhantes estejam to
prximas quanto possvel (GIL, 2002, p. 76). As fichas, tambm, foram agrupadas de acordo
com as seces, subseces e assim sucessivamente, o que facilitou a construo do mapa do
conhecimento.
Com relao aos aspectos grficos que foram utilizados para a confeco e
diagramao do mapa, h alguns aspectos que devem ser considerados, como: a organizao
das partes e titulao; disposio do texto; formato das tabelas; grficos e ilustraes; cores.
7 SALVADOR, A. D. Mtodos e tcnicas de pesquisa bibliogrfica. Porto Alegre: Sulina, 1982.
21
3 REVISO DE LITERATURA SOBRE ESTRATGIA ORGANIZACIONAL
3.1 UM BREVE CONTEXTO HISTRICO
O perodo denominado por Hobsbawm (1994) como a era das revolues
determinou para a Europa, inicialmente, a inaugurao de um novo tempo. Esta demarcao
compreende o perodo de 1789 a 1848 e identifica a vitria da revoluo burguesa em seu
amplo sentido: a consolidao da Revoluo Industrial britnica e do modo de produo
capitalista; no que se refere s instituies polticas, o momento da constituio do Estado
burgus, em decorrncia da Revoluo Francesa; no plano filosfico, a obra de Hegel celebra
a ousadia da burguesia que no hesitou em reivindicar-se sujeito da emancipao humana. No
campo artstico, o Romantismo o desafio altivo a todas as convenes formais (PAULA,
2005, online).
A Revoluo Industrial foi precedida e possibilitada pela expanso indita na
histria, at ento, do poder produtivo. A agricultura que j vinha passando por uma srie de
modificaes em seus mtodos de cultivo, desde o sculo XVI, foi praticamente reinventada,
acompanhando as transformaes que estavam ocorrendo no setor industrial. A produo
agrcola, auxiliada por polticas governamentais, como no caso precoce da Gr-Bretanha, logo
passou a se orientar segundo demandas de um mercado em franca expanso. Engana-se o
leitor que precipitadamente achar que a simples ampliao da viso de lucro foi um dos
fatores responsveis por esta mudana de mentalidade e, consequentemente, da busca por
novos mercados. O impulso para o ganho, a persecuo do lucro, do dinheiro, da maior
quantidade possvel de dinheiro, no tem, em si mesmo nada a ver com o capitalismo. Tal
impulso existe e sempre existiu entre garons, mdicos, cocheiros, artistas, prostitutas,
funcionrios desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores, mendigos, etc, afirma
Weber8 (2007, p. 26). Segundo o autor, um conjunto de fatores ligados ao desenvolvimento de
condies econmicas e sociais, sobretudo no que se refere ao ascetismo protestante, foi
8 O socilogo alemo Max Weber (1864-1920) um dos autores mais influentes no que se refere aos estudos sobre o surgimento e funcionamento do capitalismo e da burocracia. Sua obra inaugura uma das principais tendncias das cincias sociais, orientada para a compreenso do sentido da ao humana (SANDRONI, 1999, p. 639).
22
responsvel por esta mudana histrica. Este foi o ponto de partida para o desenvolvimento
auto-sustentvel de uma sociedade que agora passaria a ser urbana, industrial e capitalista.
De fato, transaes comerciais e de mercado j existiam. Por onde existiam os
financiamentos monetrios de corporaes, apareceram os agiotas, como na Babilnia, na
Grcia, na China e em Roma. Financiaram guerras e piratarias, contratos e operaes de
construo de todo tipo (WEBER, 2007, p. 28). Contudo, em nenhuma outra poca, o
comrcio teve a longevidade dos empreendimentos atuais, consistindo numa srie de projetos
meramente individuais (WEBER, 2007, p. 27). O capitalismo foi responsvel por trazer a
ideia de organizao industrial racional, voltada para um mercado regular e no para as
oportunidades especulativas de lucro. Alm disso, desenvolveu formalmente a organizao
capitalista racional do trabalho livre9 (WEBER, 2007, p. 28 e 29).
O desenvolvimento das possibilidades tcnicas influenciou fortemente o capitalismo.
Sua racionalidade dependente de tais fatores juntamente com a calculabilidade, ou seja, da
cincia moderna. Sua origem no atribuda a tais interesses, mas certas aplicaes sofreram
determinaes somente de acordo com este contexto. Como no caso da lgebra, adotada na
ndia, onde o sistema decimal foi inventado. Seu uso efetivo s foi desenvolvido pelo
capitalismo ocidental (WEBER, 2007, p. 31).
Embora o desenvolvimento do racionalismo econmico tenha sido dependente da
tcnica e do direito racional, ao mesmo tempo, dependeu da habilidade e disposio dos
indivduos em adotar novos critrios de conduta. Por exemplo, a moderna organizao
racional das empresas capitalistas foi viabilizada medida que ocorreu a separao entre a
moradia e o lugar dos negcios fato que dominava a vida econmica e, estritamente ligada
a isso, uma contabilidade racional, que separou legalmente as propriedades particulares e a
empresa (WEBER, 2007, p. 29). De um lado, algo que versava sobre o costume e, por outro, o
aprimoramento de uma tcnica.
O comrcio internacional tomou propores maiores no sculo XX, principalmente
com o avano no setor de transportes, promovido pela expanso da economia americana, o
que a tornou modelo de capitalismo industrial para o mundo. Organizaes empresariais
maiores e mais diversificadas, denominadas empresas multidivisionais (multi-unit firm),
passaram a existir (HICKSON; PUGH, 2004, p. 3). 9 As novas formas de organizao do trabalho que dariam origem luta de classes so o foco da Teoria Poltica Marxista. Karl Marx (1818-1883), filsofo e economista alemo, foi o mais eminente terico do comunismo. O Socialismo Cientfico, como tambm conhecido, considera que este conflito o motor da histria e que o Estado sempre um rgo a servio da classe dominante. Caberia classe operria, a classe dominada, como classe revolucionria de vanguarda, lutar pela conquista do Estado e implantar a ditadura do proletariado (SANDRONI, 1999, p. 369-371).
23
O capitalismo moderno exigiu dos novos gerentes o desenvolvimento de novas
estratgias, distintas das anteriores, feitas para um contexto de quase ausncia de competio.
Segundo Porter (1999, p. 7), a competio era quase inexistente. Quando ela existia, a
rivalidade no era significativamente intensa. Os mercados, em geral, eram protegidos,
fazendo com que prevalecessem as posies de dominao (PORTER, 1999, p. 7).
Esta mudana ocorreu em funo das transformaes da demanda e de mudanas
tecnolgicas, as quais acarretaram, respectivamente, no aparecimento dos mercados de massa
e da possibilidade de produo em grande escala. Portanto, as novas estruturas
organizacionais abriram caminho para a integrao da produo e da distribuio em massa
(HICKSON; PUGH, 2004, p. 3).
O modelo de produo em massa de Henry Ford espalhou-se para as indstrias do
mundo todo. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o princpio fordista ampliava-se para novos
tipos de produo, da construo de habitaes chamada junk food. Bens e servios, antes
restritos minoria, eram agora produzidos para um mercado de massa. O que antes era um
luxo tornou-se o padro de conforto desejado, pelo menos nos pases ricos. Em suma,
tornou-se possvel ao cidado mdio destes pases viver como s os muito ricos tinham
vivido na poca de seus pais (HOBSBAWM, 1995, p. 259).
Este surto econmico esteve atrelado revoluo tecnolgica do sculo XX. Nesta
medida, multiplicaram-se no apenas produtos preexistentes, mas outros inteiramente sem
precedentes. A guerra, atravs de suas demandas de alta tecnologia, preparou vrios processos
revolucionrios para posterior uso civil. O esprito cientfico havia alcanado o seu auge:
vrias ideias e tcnicas vieram a preparar terreno para a eletrnica e a tecnologia de
informao do ps-guerra (HOBSBAWM, 1995, p. 259 e 260).
A Administrao Cientfica (Taylor), os princpios administrativos (Fayol) e as
abordagens burocrticas (Weber) forneceram boas respostas nas dcadas de 1950 e 1960. O
motivo dado pelo fato de que as empresas americanas, neste perodo, tinham o mercado para
si, j que muitos pases haviam sido destroados pela guerra (DAFT, 1999, p. 14).
Em meados da dcada de 1970, a concorrncia internacional de alguns pases da
Europa, bem como o Japo, proporcionou um rude despertar (DAFT, 1999, p. 14) e a
competio se intensificou de forma drstica ao longo das ltimas dcadas, em praticamente
todas as partes do mundo (PORTER, 1999, p. 7). O acirramento da competio, em
decorrncia, tambm, da ruptura dos cartis e dos poderosos grupos empresariais, est
relacionado ao progresso econmico destes pases. Os setores mais competitivos do Japo,
por exemplo, se desenvolveram sob intensa competio interna. Estes pases passaram a
24
competir fortemente em mercados de automveis e eletrnicos, fazendo com que os Estados
Unidos at mesmo perdessem o domnio sobre estes segmentos (HARRISON, 2005, p. 26).
Isso se deve muito ao fato de que os Estados Unidos, mesmo sendo o pas com o mais forte
comprometimento em relao competio, possuem enormes fatias da economia sob extensa
regulamentao. Os setores de telecomunicaes, transportes e energia, entre outros, so
alguns exemplos vvidos do poder da competio para desencadear a inovao e impulsionar
taxas de progresso sem precedentes (PORTER, 1999, p. 7).
Segundo Porter (1999, p. 7), poucos so os setores remanescentes em que a
competio ainda no interferiu na estabilidade e na dominao dos mercados. Ainda,
continua o autor nenhuma empresa e nenhum pas tem condies de ignorar a necessidade de
competir. Alm disso, as fronteiras entre organizaes novamente se tornam mais difusas
com a ideia de cooperao, medida que at a concorrncia aprende a cooperar (DAFT, 1999,
p. 15).
Esta tenso fez com que, nos anos 80, novas ideias surgissem com relao cultura
corporativa: quadro de pessoal enxuto, flexibilidade, ateno e resposta rpida ao cliente,
empregados motivados e produtos de qualidade (DAFT, 1999, p. 14).
Neste contexto de mudanas histrico-econmicas, necessidades de aprimoramento
no ambiente empresarial surgiram, cabendo Administrao Estratgica fornecer tais
respostas.
3.2 A ADMINISTRAO CIENTFICA
A Administrao Cientfica, como uma preocupao prpria de sua poca, se deteve
inicialmente em fornecer explicaes acerca dos aspectos ligados diretamente ao trabalho nas
fbricas. Estudos sobre a racionalizao de tarefas, o tempo e os movimentos de produo
voltados para o aumento da produtividade e da eficincia so vistos na obra de Frederick
Taylor (1947)10. Henri Fayol, outra figura importante, incrementou seu argumento ao
defender que a racionalizao do trabalho envolve outros aspectos alm daqueles relacionados
ao produtiva propriamente dita.
10 Sua obra de maior relevncia, intitulada The Principles of Scientific Management, foi publicada em 1911 (SANDRONI, 1999).
25
Fayol11 (1981, p. 23) define que o conjunto das operaes de uma empresa dividido
em seis grupos: 1) operaes tcnicas: produo, fabricao, transformao; 2) operaes
comerciais: compras, vendas e permutas; 3) operaes financeiras: procura e gerncia de
capitais; 4) operaes de segurana: proteo de bens e de pessoas; 5) operaes de
contabilidade: inventrios, balanos, preos, custos e estatsticas; 6) operaes
administrativas: previso, organizao, direo, coordenao e controle. Sendo assim,
administrar significa prever, organizar, comandar, coordenar e controlar, sendo esta uma
responsabilidade tanto dos dirigentes quanto dos membros da empresa. Alm disso, cada
grupo de operaes corresponderia a uma capacidade especial que repousaria num conjunto
de qualidades e conhecimentos assim definidos: 1) qualidades fsicas: sade, vigor e destreza;
2) qualidades intelectuais: aptido para compreender e aprender; 3) qualidades morais:
energia, firmeza, responsabilidade, iniciativa e deciso; 4) cultura geral; 5) conhecimentos
especiais: relativos funo tcnica; 6) experincia: conhecimento proveniente da prtica
(FAYOL, 1981, p. 27).
Outros tericos, mais tarde, procuraram demonstrar que mais importante que estudar
os processos analisar o comportamento das organizaes. Uma afirmao importante, em
defesa deste ponto de vista, de que o poder de deciso no estaria limitado ao topo da escala
hierrquica, mas sim em todos os nveis da empresa, j visto em Fayol (1981, p. 26). Ao
aprofundar esta perspectiva, ele estaria relacionado s pessoas e no apenas aos agentes
produtivos. Neste momento, portanto, passariam a entrar em jogo os demais elementos que
compem a estruturao da empresa. Os pontos capitais de uma administrao cientfica
seriam prever (perscrutar o futuro a partir de um programa de ao); organizar (constituir o
organismo material e social da empresa); comandar (dirigir o pessoal); coordenar (unir e
harmonizar os atos); e controlar (de acordo com regras preestabelecidas) (FAYOL, 1981, p.
26). Neste contexto, estudos ligados Sociologia, como o de Max Weber e Wright Mills,
comearam a ganhar mais notoriedade (SANDRONI, 1999, p. 15). Esta vertente defende que
a Teoria Administrativa deve dar mais nfase s questes de cunho econmico, social e
poltico. A Sociologia Weberiana deu origem, mais tarde, Economia Sociolgica, a qual
considera o campo econmico como parte da estrutura social, caracterizado de acordo com os
mesmos tipos de instituies sociais (LLOYD, 1995, p. 80)
11 Sua obra inaugural, intitulada Administrao industrial e geral, foi publicada em 1916 (SANDRONI, 1999).
26
Com tantas mudanas ocorrendo em larga e escala e invadindo o ambiente global, as
quais atingiram diretamente o comportamento das empresas, houve a demanda de novas
tcnicas gerencias, sobretudo no mbito da alta gerncia A dupla tarefa de administrar de
forma eficiente uma grande empresa, geralmente multinacional, e guiar seu curso tornou-se
muito mais difcil para ser executada por um nico lder (HARRISON, 2005, p. 27). Novas
formas organizacionais bem como novas formas de trabalho e tcnicas gerenciais precisaram
ser fomentadas.
Segundo Harrison (2005, p. 27), as escolas de administrao responderam a tais
necessidades ofertando um curso intitulado poltica empresarial. Este curso aplicava
princpios administrativos gerais a diversas situaes empresariais, usando como metodologia
estudos de casos reais para o estudo hipottico. Nos Estados Unidos, no incio da dcada de
1970, professores e pesquisadores do assunto discutiam arduamente sobre as mudanas que
estavam ocorrendo neste campo e como poderiam responder a estas mudanas.
Consequentemente, em 1977, na Conferncia da Universidade de Pittsburgh, foi estabelecida
a disciplina conhecida como Administrao Estratgica.
Como observado, a Administrao Estratgia comeou a se desenvolver como um
corpo de conhecimento na segunda metade do sculo XX, sendo sustentada sobretudo por
teorias econmicas. Os primeiros estudos, relacionados vantagem competitiva, estiveram
voltados competitividade entre os setores. Tpicos como: concentrao de setores,
diversificao de produtos e poder de mercado faziam parte desta discusso (HARRISON,
2005, p. 27). Outras reas, como o Marketing, as Finanas e a Psicologia tambm
influenciaram a Administrao Estratgica.
A Estratgia tornou-se um campo acadmico. Segundo Porter (2004, p. 15), hoje,
repleto de ideias concorrentes, esse campo ocupa lugar de destaque entre os pesquisadores da
rea de Administrao. Alm disso, tornou-se tambm uma prspera rea de pesquisas entre
os economistas (PORTER, 2004, p. 15). Carvalho (2005, p. 25) concorda com a afirmao
de Porter ao dizer que a rea de Estratgia caracterizada por um grande pluralismo. Alm
disso, completa seu comentrio declarando que a teoria muitas vezes fica inconsistente.
Abordagens muito diferentes e originadas da mistura de diversas cincias fazem com que
sejam traados caminhos muito distintos um do outro. Por este motivo, Foss (1996) defende a
ideia de que a Economia deve exercer o papel mais distinto e amplo nas discusses.
Enfim, o gerenciamento estratgico o corao do corpo organizacional que serve
para guiar as construes e desconstrues responsveis pelas infinitas criaes que geram
riqueza para a sociedade contempornea (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1991, p. 6).
27
3.3 EMBASAMENTO ECONMICO PARA A ADMINISTRAO ESTRATGICA
A Escola Econmica Clssica foi fundada no sculo XVIII por Adam Smith e David
Ricardo. A noo de progresso de Smith foi responsvel por afirmar a inverso de valores
ticos que vinha se processando at ento. A busca racional dos prprios interesses passa a ser
vista como uma virtude, condio para a busca do bem-estar e da felicidade, o que caracteriza
a sociabilidade dada em um mercado livre (CARVALHO; LEO, 2008, online). De acordo
com sua concepo, os interesses atuantes na troca bastariam para assegurar a coeso social,
podendo vir a eliminar qualquer interveno poltica. Alm disso, a conquista do universo
natural, ou seja, a dominao da natureza pelo homem vista como algo positivo e valoroso,
o que justifica sua posio a favor do progresso.
Foi a partir da Escola Clssica que a Economia passou a ter um carter cientfico, ao
centralizar sua abordagem terica na questo do valor, cuja nica fonte original era
identificada no trabalho em geral, sendo esta a Teoria do Valor-Trabalho (SANDRONI,
1999, p. 212). A Teoria Econmica apresentada por Smith essencialmente uma teoria de
crescimento econmico que identifica a riqueza pelo trabalho produtivo (ALVES, 2006, p. 4).
David Ricardo, sucessor de Smith, foi o responsvel por aprofundar seus estudos. Mais tarde,
tais questes foram discutidas fervorosamente por Marx.
A Escola Clssica enfatizava a produo, deixando o consumo e a procura em
segundo plano de anlise. Segundo Sandroni (1999, p. 212), a definio do objeto de
investigao da Economia, de acordo com a obra de Smith, est indicada no prprio ttulo de
sua obra: uma investigao sobre a natureza e as causas da riqueza das naes,
considerando como riqueza os bens que possuem valor de troca e seu crescimento dependeria
essencialmente da produtividade do trabalho que, por sua vez, determinada em funo do
grau de especializao, da diviso do trabalho, e pela expanso do mercado e do comrcio. O
trabalho, portanto, fonte de todo valor e serviria, at mesmo, para determinar o valor de uma
mercadoria.
Contra a interveno estatal, a Escola Clssica apoiou-se no liberalismo e no
individualismo. A mo invisvel seria responsvel por assegurar a consistncia dos planos
individuais, contribuindo para o bem-estar geral e o bom funcionamento do sistema
econmico. A ao conjunta dos indivduos e empresas permitiria que as mercadorias fossem
produzidas num fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direo central
28
(RIZZIERI, 1999, p. 20). Em outras palavras, o mecanismo impessoal do mercado daria conta
de harmonizar os interesses individuais.
Stuart Mills foi o responsvel pela sistematizao e consolidao da anlise clssica.
Sua obra, embora de carter revisionista, trouxe novas premissas ao pensamento econmico,
entre elas a noo de justia social. Esta iniciativa o qualificou como um autor clssico de
transio, entre a Escola Clssica e as vertentes socialistas. A reinterpretao das leis que
governam a atividade econmica, em geral, e a distribuio da renda, em particular, talvez
representem a modificao mais importante efetuada por Stuart Mills tradio clssica
(RIZZIERI, 1999, p. 40).
Segundo Rizzieri (1999, p. 42), era evidente, no ltimo quartel do sculo XIX, a
urgncia da reabordagem dos princpios bsicos que orientavam a Cincia Econmica, em
face de novos fatos econmicos e das transformaes estruturais das economias das naes
industrializadas, entre os quais: 1) o capitalismo atomizado e concorrencial do incio do
sculo XIX que dera lugar a um capitalismo 'molecular' ou de grandes concentraes
econmicas, de forte tendncia monopolstica; 2) o Estado que abandonara sua passividade de
simples guardio da ordem para interferir progressivamente no campo econmico; 3) o salrio
real dos trabalhadores que denotava sensvel melhora, e os sindicatos que comeavam a surgir
legalmente, em defesa dos interesses profissionais dos empregados; 4) os pases ocidentais
que gozavam de notvel prosperidade, sem indcios das graves consequncias previstas pelos
clssicos pessimistas, como Malthus, Marx, entre outros.
Sob influncia do Positivismo, no sculo XIX, no que se refere as suas origens e
pressupostos comportamentais, a Microeconomia Neoclssica esteve estritamente ligada a um
modelo de ao racional, a partir do qual so buscadas explicaes para a conduta econmica
dentro do individualismo metodolgico, assumindo a oniscincia dos agentes envolvidos,
capacidade de mensurao subjetiva, maximizao da satisfao e equilbrio prvio dos
mercados. Havia a tentativa de explicar os fenmenos econmicos a partir de padres
especficos de comportamento justificados cientificamente.
A Economia Clssica e Neoclssica concentraram-se no s em torno da Teoria do
Valor, mas tambm na sua concepo enquanto cincia. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que
este perodo marcou a passagem da Economia como o estudo da produo de riqueza para um
domnio mais amplo, como a cincia que estuda a alocao de recursos escassos a fins
alternativos, levando em considerao as necessidades e os planos de ao dos agentes
econmicos (SAMUELSON, 1983).
29
Tambm conhecida como Escola Marginalista, a Escola Neoclssica predominou no
perodo entre 1870 e a I Guerra Mundial. Carl Menger (1871)12 (Escola Austraca), William
Jevons (1871)13 (Frana) e Leon Walras (1874)14 (Escola de Lausanne), sem deixar de
considerar suas especificidades, concordam que o sistema econmico composto por firmas e
consumidores, sendo que as transaes de compra e venda realizadas pelos indivduos so
consideradas nfimas em comparao com o volume agregado de transaes (HUNT;
SHERMAN, 1995). Sendo assim, defendem os tericos, as aes individuais no interferem
nas mudanas de preo do mercado. Walras foi o responsvel pela construo de uma teoria
geral abstrata para descrever o equilbrio econmico, expresso atravs de equaes funcionais
que combinavam a Teoria do Valor-Utilidade com a Teoria Matemtica precisa do equilbrio
de mercado. Apoiada numa ampla anlise esttica, sua teoria enfatiza a interdependncia dos
fatores econmicos, pois substitui a noo de causa (unilateral) pela funo (recproca),
abrindo caminho para a anlise macroeconmica contempornea (SANDRONI, 1999, p. 637).
Num mercado competitivo, para se obter o equilbrio partir-se-ia de um preo no
qual a oferta e a procura se igualassem. Neste sentido, Walras estava preocupado com a
questo do preo e no do valor. De acordo com esta perspectiva, sendo esta sua grande
contribuio Economia moderna, construiu um modelo matemtico do equilbrio geral como
um sistema de equaes simultneas em que h uma interdependncia dos preos, da procura
e da oferta (SANDRONI, 1999, p. 637).
As principais premissas para a modelagem da Teoria Neoclssica so: bens
homogneos; concorrncia perfeita; informaes simtricas dos agentes sobre os preos;
maximizao da utilidade dos consumidores; e a livre entrada no mercado de consumidores e
vendedores no longo prazo (RUBINFELD; PINDICK, 1999, p. 355). Somente o propsito e
o conhecimento dos agentes deveriam ser utilizados para explicar os movimentos da esfera
social (uma relao do nvel micro para o macro) (LLIS, 2005, p. 107). Abertamente, os
princpios da racionalidade e da cientificidade so assumidos. Segundo Jevons (1988 apud
FERNANDES, 2000, p. 25) claro que, se a Economia deve ser, em absoluto, uma cincia,
deve ser uma cincia matemtica. Neste sentido, concorda Walras (1983 apud
FERNANDES, 2000, p. 25) se a Economia Poltica Pura, ou a teoria (...) , como a mecnica
(...), uma cincia fsico-matemtica, ela no deve temer que se empreguem o mtodo e a 12 Ano em que desenvolveu a Teoria da Utilidade (SANDRONI, 1999).
13 Data de publicao de sua obra mais notvel: Teoria da Poltica Econmica (SANDRONI, 1999).
14 Data de publicao de sua obra mais notvel: Elementos da Economia Poltica Pura (SANDRONI, 1999).
30
linguagem das matemticas. (...) O mtodo matemtico no o mtodo experimental, o
mtodo racional (...).
importante ressaltar que os tericos neoclssicos esto preocupados em explicar
como os agentes tomam suas decises, por mais que para o mtodo por eles utilizado seja
importante esta determinao. O objetivo o de alcanar um resultado prtico a partir de
alguma funo-utilidade bem definida. Se o indivduo tem condies de maximizar uma
determinada funo-utilidade, no relevante para a pesquisa cientfica ortodoxa (LLIS,
2005, p. 111).
O comportamento mercantil esteve por muito tempo imerso nas relaes sociais,
tornando-se mais autnomo com o advento da modernizao. As solues trazidas pela
Economia Neoclssica, orientadas somente pelo clculo racional e pelo ganho individual,
acabaram por colocar a Economia numa esfera diferenciada e cada vez mais separada da
sociedade. A viso idealista dos mercados de concorrncia perfeita s sobreviveu por
considervel tempo devido prpria eliminao das relaes sociais da anlise econmica e
pela existncia de estruturas econmicas auto-reguladas (GRANOVETTER, 2007, online).
Dentro desta perspectiva, o sistema econmico perde o seu diferencial de sistema
social, ou seja, no sendo constitudo e caracterizado pelos indivduos e suas escolhas, de
modo a afastar os aspectos ligados a subjetividade humana (LLIS, 2005, p. 118).
Crticas s teorias neoclssicas comearam a surgir nas dcadas de 1920 e 1930.
Evidentemente, os fatos histrico-econmicos contriburam para acirrar este debate terico:
os problemas decorrentes da Primeira Grande Guerra e da crise de 1929 evidenciaram a
insuficincia da tradio clssica e neoclssica para solucion-los, afirma Rizzieri (1999, p.
48). Os pases ocidentais industrializados, alm da crise do ps-guerra, caracterizada pelo alto
ndice de desemprego, seriam ainda afetados pela Crise de 1929. O debate em questo
fomentou novas perspectivas de anlise, por exemplo, para o comportamento dos preos das
empresas situadas entre o monoplio puro e a concorrncia perfeita; o comportamento timo
do produtor e do consumidor; a teoria do monoplio e da concorrncia imperfeita; e os
problemas enfrentados pelas organizaes como resultado da concentrao do poder
econmico (RIZZIERI, 1999, p. 48).
A obra que rompeu com a tradio neoclssica foi a de John Keynes, a qual ganhou
projees no perodo entre guerras. Keynes apresentou um programa de ao governamental
para a promoo do pleno emprego. O impacto produzido foi de to extrema grandeza que sua
representatividade significou uma revoluo: a "Revoluo Keynesiana" (RIZZIERI, 1999, p.
49).
31
Das releituras de Adam Smith aos ps-keynesianos e de Marx aos ps-marxistas,
surgiram, no sculo XX, as terminologias Ortodoxia e Heterodoxia. A corrente ortodoxa
refere-se s escolas de pensamento econmico associadas Macroeconomia e s abordagens
de expectativas racionais. Baseia-se fortemente no Modelo Walrasiano, da Economia
Neoclssica do final do sculo XIX, alm das posteriores influncias da Economia
Keynesiana, do Monetarismo15 e da Escola de Chicago, que defende o livre-mercado.
A Economia desdobra-se em duas vertentes de acordo com a escolha do seu objeto
de estudo. A primeira, a Macroeconomia, estuda o sistema econmico responsvel por regular
a sociedade, enquanto a segunda, a Microeconomia, estuda o comportamento das unidades de
consumo (indivduos, famlias ou empresas) e suas respectivas produes, custos e preos dos
diversos bens, servios e fatores produtivos envolvidos no processo (GARFALO, 1999, p.
89). Esta diviso foi estabelecida na dcada de 1930.
O que diferencia a corrente ortodoxa da heterodoxa o fato da primeira ser descrita
como uma vertente orientada pela noo de equilbrio, racionalidade e individualismo. J a
segunda est associada aos aspectos ligados estrutura histrica, social e institucional. Os
ortodoxos preocupam-se, sobretudo, com a mensurao da atividade produtiva. Para tanto,
recorrem aos conhecimentos matemticos e estatsticos para a elaborao de estudos
economtricos. Por este motivo, considerado um sistema fechado que no permite o uso de
variveis que possam dar margem a interpretaes subjetivas, enquanto a Heterodoxia se
apresenta como um sistema aberto.
Existem vrias linhas dentro da corrente heterodoxa. Entre elas, o que se compartilha
a rejeio da Ortodoxia Neoclssica. Podem ser mencionados exemplos como: a Economia
Ps-Keynesiana; a Escola Austraca; a Economia Marxiana, que se refere a todas aquelas
inspiradas na obra de Karl Marx; entre outras.
O ps-keynesianismo surgiu a partir de um conjunto de formulaes e propostas de
economistas como Joan Robinson e Paul Davidson. Tendo como ponto de partida a obra de
Keynes e Kalecki, principalmente no que se refere crtica acerca do conceito de equilbrio,
foi desenvolvida uma outra Macroeconomia. Nesta distinta abordagem, a nfase dada
natureza dinmica da economia de mercado, sujeita incerteza. A dinmica dos mercados
que envolve uma noo de tempo cronolgico, nem sempre encontra-se em equilbrio e o
15 O monetarismo uma teoria econmica que, respaldada na Teoria Quantitativa do Dinheiro, de Irvin Fisher, se posiciona a favor da possibilidade de manuteno da estabilidade de uma economia capitalista a partir de instrumentos monetrios.
32
comportamento dos agentes econmicos em tais mercados nem sempre responde
adequadamente aos estmulos proporcionados (SANDRONI, 1999, p. 192).
A Escola Austraca, tambm conhecida como Escola de Viena, nasceu com as ideias
de Carl Menger e, posteriormente, de Friedrich von Wieser e Eugen von Bhm-Bawerk, os
quais deram prosseguimento a suas ideias. Embora existam peculiaridades entre suas vrias
geraes, a escola austraca reconhecida pela radical centralidade atribuda subjetividade
no que se refere construo de sua teoria do valor, que ser a base, por derivao, de sua
teoria da produo (PAULA, 2005, online). O ponto de partida de Menger so os
fundamentos psicolgicos do valor, tendo como pressuposto que a origem do valor se
encontrava no homem, ou seja, pertencia ao campo da subjetividade, se opondo Economia
Clssica.
3.3.1 Estratgia Competitiva
Os estudos sobre o comportamento competitivo esto, em grande parte, associados
Microeconomia. Mesmo dentro desta restrita rea de conhecimento, o conceito de competio
assume suas particularidades de acordo com cada escola, assumindo formas e caminhos