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ANDRÉA AMARAL ALVES Análise de desempenho econômico da produção orgânica de leite em uma propriedade no Distrito Federal Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária. Área de concentração: Produção Animal Orientadora: Ângela Maria Quintão Lana Co-orientador: Luiz Carlos Takao Yamaguchi Belo Horizonte UFMG-EV 2006

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ANDRÉA AMARAL ALVES

Análise de desempenho econômico da produção orgânica de leite em umapropriedade no Distrito Federal

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcialpara obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária.

Área de concentração:

Produção Animal

Orientadora:

Ângela Maria Quintão Lana

Co-orientador:

Luiz Carlos Takao Yamaguchi

Belo HorizonteUFMG-EV

2006

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FICHA CATALOGRÁFICA

A474a Alves, Andréa Amaral, 1959- Análise de desempenho econômico da produção orgânica de leite em uma

propriedade no Distrito Federal / Andréa Amaral Alves. - 2006.

55 p. : il.

Orientadora: Ângela Maria Quintão Lana Co-orientador: Luiz Carlos Takao Yamaguchi Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,

Escola de Veterinária. Inclui bibliografia.

1. Leite – Produção – Teses. 2. Leite – Aspectos econômicos – Teses.3. Leite – Custos – Teses. 4. Leite – Produção orgânica – Teses. I. Lana,Ângela Maria Quintão. II. Yamaguchi, Luiz Carlos Takao. III. UniversidadeFederal de Minas Gerais. Escola de Veterinária. IV. Título.

CDD – 338.177

Permite-se a reprodução total ou parcial, sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

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ASSINATURA DA BANCA

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GESTAÇÃOComparo a elaboração de uma dissertação ou de uma tese, a uma gestação

prolongada e aos cuidados com um recém-nascido. Todos os processos me foramextremamente familiares...

Acariciamos a idéia inicial, colhemos opiniões e projetamos os mínimosdetalhes. Escolhe-se com antecedência até o padrinho, que será nosso orientador.

Nos apaixonamos pelo assunto, enjoamos diversas vezes, emagrecemos,engordamos, enfim, chega-se a momentos de arrependimento de tanto que nossas vidasse alteram! Quando estamos distraídos e prestamos atenção em nossos pensamentos esensações, lá está ela, mexendo de vez em quando, dando sinal de vida, lembrando anossa responsabilidade... Finalmente os meses vão se passando e a gente vai preparandotudo, coletando os dados (como se faz com o enxoval tão cuidadosamente montado),sonhando como ela será depois que vier ao mundo. Chega o grande momento que nãopode mais ser retardado e ela nasce! Meio estranha, desarrumada, parece que não vaidar em nada, mas é nossa idéia brotando no papel... Horas e horas a fio de dedicação.Noites de sono perdidas, o corpo dolorido por ficar sentado, escrevendo, corrigindo...Prestando atenção em mínimos detalhes.

Passam-se os dias... Às vezes a gente ama, e em outras odeia, querendo sumir.Depois vem o arrependimento e voltamos solícitos a cuidar de nossas idéias e palavras.

E ela vai se desenvolvendo, crescendo, tomando forma. As 10 páginas iniciais jáse multiplicaram em 20, 30, 40 ou mais. Se a gente sai de casa, o pensamento continualigado e vem àquela idéia e a vontade de voltar rápido, pra alimentar nosso texto maisum pouco.

Foram quase 24 meses entre a gestação e a criação. Olho agora toda ansiedadedesses dias traduzida em palavras no papel, e sinto orgulho. É mais um filho que cuideie que está independente. Agora sai das minhas mãos e pode ir para o mundo, levandoidéias em forma de textos, gráficos, quadros e tabelas. Faz parte do meu legado para omundo...

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DEDICATÓRIA

Dedico essa Dissertação de Mestrado a toda minha família que sempre esteve ao meu lado nosmomentos mais difíceis de minha vida, dando apoio para que eu tivesse coragem de ir em frentee lutar pelo resgate dos meus ideais e de minha identidade profissional.Dedico com igual importância esse meu trabalho, ao Amor que rege a vida no planeta e que, emseu eterno processo construtivo se ampliou dentro do meu ser, até se tornar infinito eincondicional. Com sua força infinita foi a luz que iluminou meu caminho mostrando que eutinha capacidade para reagir, brotar das cinzas e construir novos sonhos. Pesquisar soluçõesviáveis para a agropecuária que sejam ao mesmo tempo, sustentáveis e preservacionistas para asgerações futuras é um destes sonhos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente à Energia que move o Universo. Sem Ela qualquer forma de vida nãoseria possível. Agradeço a Deus!Agradeço meus pais, Luiz Carlos e Alaíde, que serviram como instrumento da Energia, para queminha vida fosse possível. É a continuidade estendida!Agradeço aos meus três filhos: Ana Clara e Maria Luíza pelas palavras de incentivo constante,que foi contínuo mesmo à distância e ao Luiz Marcelo pela companhia, compreensão pelashoras roubadas e paciência na hora da "ajuda" no computador. Obrigada meus filhos, sintoorgulho imenso de vocês!Agradeço ao Carlos Antônio, o companheiro por tantos anos e depois o apoio de base quepossibilitou minha caminhada até essa conquista.Um agradecimento especial e carinhoso à Prof. Dr. Ângela Maria Quintão Lana da EV-UFMG,que aceitou ser a orientadora do meu mestrado; por sua compreensão, suas ponderações ecolocações tão pertinentes nos vários momentos.Agradeço ao Dr. Luiz Carlos Takao Yamaguchi, da Embrapa Gado de Leite, por ter aceitadoco-orientar minha dissertação e pela paciência em compartilhar seus conhecimentos.Agradeço ao Dr. Luís Januário Magalhães Aroeira, da Embrapa Gado de Leite, a quem muitoadmiro e que com o passar do tempo se tornou um grande amigo e "mentor". Seu apoio ecrédito abriram portas preciosas para mim.Agradeço ao meu grande amigo e compadre Dr. Miguel Houri Neto, por sua mão, conselhos epalavras carinhosas de incentivo quando parecia que tudo ia entrar em "curto-circuito".Um agradecimento sincero ao Prof. Dr. Edmundo Benedetti, da Universidade Federal deUberlândia, que um dia me aconselhou a pesquisar sobre sistemas de produção orgânica de leite.Agradeço ao Engenheiro Agrônomo Luiz Antônio Gomes, de Ituiutaba, catalisador regional deuma nova maneira de se pensar em agricultura e que sempre foi tão solícito e colaborador, bemcomo aos produtores Joe Carlo Viana e Aniceto Antônio Franco , que foram tão gentis seprontificando a compartilhar e ajudar, disponibilizando suas propriedades para a coleta dedados, e ao Luiz Felipe, estagiário da Embrapa, que tanto colaborou na análise desses dados.Enfim, a todas as pessoas que participaram de alguma maneira dessa trajetória e que não citeiaqui, mas que têm do mesmo modo igual importância em meu coração.

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EPÍGRAFES

Ao longo do tempo em que trabalhei com a dissertação fui selecionando frases que diziam empoucas palavras sínteses do meu pensar. Como sou prolixa, não consegui escolher apenas uma,já que o meu motivar era tão holístico..

"A colheita é junto, o capinar é sozinho". (João Guimarães Rosa)

"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende um pouco". (JoãoGuimarães Rosa)

"Nós olhamos não para as coisas que são vistas, mas para as coisas que não são vistas.Porque as coisas que são vistas são transitórias mas as coisas que não são vistas, são eternas".(Ap. Paulo, II, Cor. 4.18)

"Toda ciência seria supérflua se a aparência e a forma das coisas fosse totalmenteidêntica à sua natureza". (Carl Marx)

"O homem é um ser social e assim creio que deva amar acima de todas as coisasterrenas (...) de amar também a todos os seres vivos: animais e plantas, pois eles sãosemelhantes ao homem, ramos da enorme árvore da vida. Essa árvore tem uma raiz comum,cuja origem nós desconhecemos embora saibamos que surgimos dela. Deve amar também osobjetos inanimados, pois eles também fazem parte do habitat humano. Embora a ciência tenhadescoberto a cura para muitos males, não conseguiu até o momento acabar com uns dos maissérios problemas do homem. Ela nada pode fazer para curar o homem da corrupção e dainsegurança ou pode evitar a dor do fracasso ou o pesadelo da morte". (Toynbee)

"A característica distinta da Revolução Industrial no século XVIII, foi a de utilizar eenergia inanimada como força motriz, substituindo a energia muscular do homem e do animal.O homem tornou-se então capaz de transformar o meio ambiente a fim de torná-lo adequado àssuas necessidades, dominando a natureza e isso parece ser definitivo e irreversível. A não serque o homem se autodestrua, continuará a violar e destruir a natureza em todas as partes domundo num efeito cumulativo, devido ao avanço da tecnologia e à explosão demográficapossibilitada por esse avanço tecnológico". (Toynbee)

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SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................................. 171 INTRODUÇÃO................................................................................................... 192 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 202.1 PECUÁRIA LEITEIRA NO BRASIL.................................................................. 202.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL : NOVO PARADIGMA.................. 212.3 AGRICULTURA CONVENCIONAL VERSUS AGRICULTURA

ALTERNATIVA................................................................................................... 242.4 PRODUÇÃO ORGÂNICA................................................................................... 242.5 PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO....................................................................... 262.6 AGROPECUÁRIA ORGÂNICA.......................................................................... 272.6.1 Panorama atual da produção orgânica de leite no Brasil....................................... 282.6.2 Perfil das propriedades orgânicas produtoras de leite no Brasil............................ 292.7 PANORAMAS E PERSPECTIVAS DE MERCADO.......................................... 302.7.1 Mercado internacional........................................................................................... 302.7.2 Mercado nacional.................................................................................................. 312.8 O AGRONEGÓCIO DO LEITE........................................................................... 322.9 CUSTOS DE PRODUÇÃO.................................................................................. 332.9.1 Análise dos custos de produção – Sistema tradicional.......................................... 332.9.2 Custos de produção – Análise segmentada........................................................... 333 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................ 363.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE....................................................... 363.2 MANEJO PECUÁRIO.......................................................................................... 373.2.1 Manejo dos pastos................................................................................................. 373.2.2 Alimentação e suplementação............................................................................... 383.2.3 Manejo Reprodutivo.............................................................................................. 393.2.4 Ordenha................................................................................................................. 393.2.5 Secagem................................................................................................................. 393.2.6 Manejo dos bezerros.............................................................................................. 393.2.7 Manejo sanitário e profilático................................................................................ 403.3 OBTENÇÃO E ANÁLISE DE DADOS............................................................... 404 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 425 CONCLUSÕES....................................................................................................

ANEXOS...............................................................................................................5357

LISTA DE FIGURASFigura 1 Países com maiores áreas sob cultivo orgânico no mundo.................................... 32

LISTA DE QUADROSQuadro 1 Calendário Profilático da Fazenda Malunga nos anos de 2002, 2003 e

2004........................................................................................................................ 60

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LISTA DE TABELASTabela 1 Receitas, Despesas e COE da Fazenda Malunga em 2002 e 2003....................... 43

Tabela 1a

Tabela 2

Receitas, Despesas e COE da Fazenda Malunga em 2002 e 2003

Custo do Capital Imobilizado da Fazenda Malunga em 2002 e 2003..................

45

46

Tabela 3 Análise da Renda Líquida Total em 2002 e 2003................................................. 48

Tabela 3a

Tabela 4

Análise da Renda Líquida Total em 2002 e 2003..................................................

Análise da Renda Líquida da Atividade Leiteira da Fazenda Malunga, expressos

em equivalentes litros de leite...............................................................

49

50

Tabela 4a

Tabela 5

Análise da Renda Líquida da Atividade Leiteira da Fazenda Malunga, expressos

em equivalentes litros de leite...............................................................

Indicadores de medidas e desempenho técnico da Fazenda Malunga nos anos de

2003,2004 e 2005..............................................................................................

50

51

Tabela 6 Indicadores de Desempenho Econômico da Fazenda Malunga nos anos de 2002

e 2003..................................................................................................................... 51

Tabela 7 Indicadores de desempenho selecionados para aferir a eficiência econômica da

atividade leiteira em alguns estados do Brasil....................................................... 52

LISTA DE GRÁFICOSGráfico 1 Despesas (em R$) da Fazenda Malunga em 2002 e 2003..................................... 44

Gráfico 2 Despesas em % na Fazenda Malunga em 2002 e 2003......................................... 44

Gráfico 3 Análise da renda líquida 2002 e 2003 da Fazenda Malunga................................. 48

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SIGLAS

CF- Custo Fixo

CO- Custo de Oportunidade

CP- Curto Prazo

CV- Custos Variáveis

COE-. Custo Operacional Efetivo

COF- Custo Operacional Fixo

COT- Custo Operacional Total

CT- Custo Total

CTMe- Custo Total Médio

RL- Renda Líquida

RLT- Renda Líquida Total

RLOp- Renda Líquida Operacional

LSN- Lucro Super Normal

LN- Lucro Normal

LP- Longo Prazo

MB- Margem Bruta

PE- Ponto de Equilíbrio

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RESUMO

Com o agravamento da crise ambiental global, aumenta a necessidade de ações queredirecionem os processos produtivos atuais. Na agropecuária um dos maiores desafios éadequar a produção de alimentos à demanda da população e ao mesmo tempo manter asustentabilidade, preservação do meio ambiente e garantir a conservação dos recursos naturaispara as gerações futuras. A agropecuária orgânica preconiza essa diversificação esustentabilidade. Os custos de produção permitem a análise de rentabilidade dos recursosempregados numa atividade e auxilia no processo de tomada de decisão do produtor. Para aavaliação da viabilidade econômica da produção orgânica de leite foram analisados nesseestudo, os dados obtidos na Fazenda Malunga, Distrito Federal, no período de 2002 a 2004. Oresultado da Renda Líquida Total (RLT) apresentou uma média geral positiva por litro de leitenos três anos analisados, considerando o preço do leite a R$ 0,40, (preço histórico pago ao leiteconvencional, na região) e a R$ 0,80 (preço histórico pago ao leite orgânico na região).Indicadores de medidas, de desempenho técnico e econômico são apresentados. Os índices deprodutividade são semelhantes aos das propriedades sob manejo convencional. Um preçodiferenciado pago ao produtor por um produto de maior qualidade, sem dúvida seria um atrativoa mais para a conversão ao sistema orgânico de produção, tornando-se uma opçãoprincipalmente para pequenos produtores e agricultura familiar.

Palavras-chave: agroecologia, análise econômica, custos de produção, pecuária orgânica

ABSTRACT

With the worsening of the environmental crises there is un crease of action to give a newdirections to the current productive processes. One of the major challenges of the modernagriculture consists in matching properly the food production to the increasing demands of thepopulation and at the same time keeping the sustainability and the environmental preservation,thus guaranteeing the natural resources maintenance for the next generations. The organicagriculture advises about diversification and sustainability as well as the search for economicfeasibility. For the evaluation of such economic feasibility, data from the farm called “Malunga”(a farm at the Federal District) were appraised, between 2002 and 2004. The results of NetOperating Revenue (NOR) displayed a positive general average per liter of milk for the threeyears taken in account, considering the milk price at R$ 0.40 (being the historical price of theconventional milk in that region) and at R$ 0.80 (being the historical price of organic milk inthat region). The productivity indicators were similar to those observed in traditional properties.Therefore, the higher prices paid for the differentiated product can become an attractive factorfor moving to the organic system, turning out to be an option for the familiar agriculture.

Keywords: agroecology, economic evaluation, production costs, organic cattle farming

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com Pádua (2005), o caosambiental que tem assolado não só o Brasilmas também o resto do planeta, é o resultadode "uma explosão da natureza". O autor vê oaquecimento global como a reação à atuaçãodo homem e que os fenômenos naturaisdevastadores devem tornar o ambiente umtema tão importante para o século 21 comofoi a questão social nos 200 anosanteriores... "o consumo desenfreado estáagravando os problemas ambientais". ..."oagronegócio forjou uma imagem falsa demodernidade no Brasil, que não condiz coma realidade do setor, como se constatou coma recente crise de aftosa no país", e concluique "é necessário se entender o lugar do serhumano no sistema de vida do planeta ecomo a defesa de nossos interesses não podese chocar com a manutenção desse sistema,que é a condição para a nossa vida."

Um dos maiores desafios da atualidade naagropecuária é adequar a produção dealimentos de forma a atender a demanda dapopulação e ao mesmo tempo manter asustentabilidade e preservação do meioambiente. Existe um reconhecimento, não sóda comunidade técnico-científica comotambém dos governos acerca da necessidadeda adoção de ações que promovam umredirecionamento das atividadesagropecuárias, a fim de garantir aconservação dos recursos naturais para asgerações futuras (Aroeira et al. , 2003).A agropecuária orgânica busca adiversificação e sustentabilidade dapropriedade. Essa diversificação pode trazeruma otimização desde que determinadosprocedimentos sejam adotados (nãoutilização de agrotóxicos; preservaçãoambiental; utilização de homeopatia efitoterapia; compostagem de esterco epalhadas; etc.), visando à geração de umsistema de produção coordenado eintegrado. O planejamento e a eficiênciagerencial são requisitos fundamentais para

um bom aproveitamento do potencial dapropriedade, e permitirá uma maiorindependência do produtor, aos insumosexternos e conseqüentemente, aminimização de custos.

Os prejuízos provocados pelos resíduos deagrotóxicos nas lavouras e a presença deantibióticos e hormônios nas carnes e noleite, à saúde humana ,têm sidocomprovados por inúmeras pesquisasmédicas (Santos, 2000), aumentando aprocura por alimentos produzidos de umamaneira mais natural e sem tantos aditivos epesticidas.

O sistema orgânico de produção é umprocesso produtivo relativamente recente naagropecuária nacional, possuindo aindapoucos trabalhos de pesquisas eapresentando demanda crescente por partede consumidores preocupados com aqualidade e a segurança de sua alimentação.Ainda com pouca oferta no mercado epagamento de preços diferenciados, essetipo de produção pode se tornar umaalternativa viável para um grande número depequenos produtores e para a agriculturafamiliar.

A economia globalizada está desafiando osprodutores brasileiros a se tornaremempreendedores rurais eficientes, eficazes ecompetitivos. Buscar ganhos deprodutividade, aumento de escala deprodução, redução de custos e melhoria daqualidade são propósitos que devem ter osempreendedores rurais e suas organizaçõesse desejarem permanecer no mercado(Almeida e Yamaguchi, 1999).

A produção orgânica de leite no Brasil éincipiente, mas constitui um subnicho demercado que cresce 30% ao ano no País. Ovolume produzido ainda é insignificantediante dos 23 bilhões de litros de leiteconvencional produzidos em 2004, masdevido às características peculiares à

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produção e ao crescimento do mercadoorgânico, possui um grande potencial decrescimento.Dados sobre custos de produção têm sidousados para muitas finalidades e podemservir para análise de rentabilidade dosrecursos empregados numa atividadeprodutiva, sendo úteis ao processo detomada de decisão do produtor. A análiseeconômica é o processo pelo qual o produtorrural passa a conhecer os resultados obtidosem termos monetários de cada exploraçãoem nível de empresa rural (Reis, 2002).

Essa dissertação versa sobre o sistema deprodução orgânica como uma alternativapara a produção de leite de um modo maisconservacionista e sustentável. Realizou-se aanálise técnica-econômica de umapropriedade leiteira sob manejo orgânico,bem como considerações sobre anecessidade de adequação do produtor ruralao agronegócio do leite, que é um mercadocada vez mais competitivo, buscandoredução de custos e agregação de valores àsua produção, o que poderia ser alcançadocom a implantação desse sistema produtivo.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Pecuária Leiteira no Brasil

Especialistas de mais de 40 países reuniram-se na sede da FAO (órgão das NaçõesUnidas para agricultura e alimentação), emRoma, no mês de agosto de 2002, paradiscutir as perspectivas para a produção, oconsumo, e o comércio mundial de leite até2010. No evento foram apresentadas asperspectivas de cada região, a partir dasconjunturas da década passada e da atual,bem como a projeção para os próximosanos. O segundo país com maior previsão decrescimento na produção de leite éjustamente o Brasil, com o incremento de9,5 bilhões de litros, refletindo uma taxa decrescimento anual de 3,6 % ao ano. Pelasprevisões, o Brasil atingirá a produção de29.129 bilhões de litros e estará consumindo

30.961 bilhões de litros em 2010, o quesignifica um incremento de 9,2 bilhões delitros com taxa de crescimento anual de3,3% (Carvalho, 2002).

A inclusão do leite em projetos do governo,visando a atender as populações carentes oude baixa renda é uma das formas deproporcionar e garantir maior estabilidadede preços no setor lácteo. Estima-se quecom a implementação desses programas, oconsumo interno sofrerá um incremento de,aproximadamente, cinco bilhões de litros deleite, podendo garantir preços mais atrativospara a classe produtiva, incentivando osinvestimentos para incrementar aprodutividade (Vilela, 2002). O aumento daprodução de leite é imprescindível e urgentepara atender diretamente aos programas eindiretamente à geração de empregos e afixação do homem no campo. Porém, deve-se estar atento para que este aumento daprodutividade por meio da intensificação daexploração não venha a agredir ainda mais omeio ambiente.

Um estudo apresentado em 2005 pelaUniversidade de São Paulo, demonstrou quea cadeia produtiva láctea brasileiramovimentou R$ 64,78 bilhões em 2004, e aprodução foi de cerca de 23,5 bilhões delitros. Esse levantamento demonstrou, porexemplo, que para conseguir esse volume,foram gastos mais de R$ 10 bilhões eminsumos agropecuários, como produtosveterinários, rações, inseminação artificial,máquinas e equipamentos. Do total de leiteproduzido, 33,7% foi destinado paraprodução de queijos, que movimentam cercade R$ 5,54 bilhões, 18,7% para leite UHT(longa vida), com valor de R$ 5,87 bilhões eleite em pó, que consumiu 18,6% daprodução movimentando mais de R$ 3,54bilhões em 2004. Outros derivados, comoleite A e B, manteiga e iogurtes consumiramcerca de 2,3 bilhões de litros de leite emovimentaram, em 2004, mais de R$ 4,4bilhões. Outros dados apontam que rações econcentrados movimentaram R$ 2,14

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bilhões dentro da cadeia, o mercado devacas e novilhas para leite ou reprodução foide R$ 4,3 bilhões e as transportadoras deleite faturaram quase R$ 1 bilhão com osetor (PENSA, 2005).

O baixo potencial produtivo da maioria daspastagens, inclusive nas principais baciasprodutoras de leite do País, constitui umadas principais limitações na produção deleite do rebanho bovino brasileiro. Nosúltimos 25 anos as áreas de pastagenscultivadas no Brasil aumentaram 151%,atingindo 100 milhões de hectares emmeados da década de 90. Dessas pastagenspelo menos 50% estão degradadas ou eminício de degradação. Além das pastagenscultivadas existem extensas áreas depastagens naturais ou naturalizadas (78milhões de hectares), que apresentam baixacontribuição para atividades agropecuáriasou florestais (Zimmer, 1997). O índice deprodutividade das pastagens brasileiras ébaixo devido, principalmente, à carência denitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes dosolo que mais limitam a produção. Outrofator limitante refere-se ao fato de que namaioria das regiões fisiográficas brasileirasverificam-se duas estações climáticas bemdistintas: a chuvosa, em que a umidade, atemperatura e a luminosidade sãogeralmente favoráveis ao crescimento dasespécies tropicais, e a da seca, em que essesfatores são quase sempre adversos. Comoconseqüência, ocorre marcanteestacionalidade anual de produção deforragem (Alvim et al., 1986, Botero, 2001).

Os baixos índices técnicos do setor leiteirocomo, por exemplo, taxa de lotação médiade 0,5 UA/ha de pastagem e produtividadeaproximada de 1.200 kg/vaca/ano de leite,evidenciam que aumentos da produtividadepodem atender às necessidades que oaumento de consumo demandará semacréscimos na área a ser explorada.

Calegar (1998) cita como uma das restriçõesao aumento da competitividade da atividade

leiteira nacional o deficiente sistema deassistência técnica ao produtor por parte dossetores público e privado. Segundo Gomes(1997), uma das deficiências básicas dosistema de assistência técnica está na falhadas escolas e Universidades, que sepreocupam mais em formar profissionaiscom grande capacidade técnica, mas compouca visão administrativa e gerencial dosempreendimentos rurais. O tipo deassistência técnica dos órgãosgovernamentais, nos anos 60 a 80, éapontado como o responsável pela posturade passividade e dependência adquiridaspelo produtor. O modelo convencional epaternalista de assistência técnicasubestimou a decisiva importânciaestratégica de proporcionar uma adequadacapacitação do produtor rural na utilizaçãodos recursos existentes na sua comunidadee, sobretudo na sua propriedade, para quepudesse emancipar-se daqueles fatoresexternos que lhes eram prescindíveis ouinacessíveis (Bezerra, 1999).

Ferreira (1985), citado por Noronha eXavier (1999), entende que o objetivo daassistência técnica e dos órgãos e entidadesresponsáveis pela pesquisa deve ser o delevar ao produtor uma orientação capaz detrazer soluções que atinjam o objetivoprincipal da produção, isto é, o baixo custo.Isto poderá ser alcançado através de umsistema de produção adequado às condiçõesda cada região, procurando melhorar aeficiência produtiva e reprodutiva dorebanho. Da pesquisa também podem serdisponibilizados para os produtores,levantamentos de dados do cenárioeconômico, e novas alternativas deprodução. Na base da cadeia produtiva doleite a eficiência gerencial do produtor passaa constituir-se num dos fatores decisivospara a consolidação, sustentabilidade eeficácia do seu empreendimento.

2.2. Desenvolvimento sustentável : novo paradigma

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Ao analisar o futuro da sociedade na Terra,Toynbee (1974) conclui que o homem temviolado e destruído a natureza em todas aspartes do mundo devido a um efeitocumulativo de duas causas distintas, porémrelacionadas: o avanço acelerado datecnologia e a explosão demográficapossibilitada por esse avanço tecnológico. Aconquista humana da natureza tem sidobrilhante, mas o uso, inadequado edesastroso.

A necessidade de se mudar os paradigmasde desenvolvimento foram evidenciadas noevento Rio-92 (Conferência das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente eDesenvolvimento), na qual ficoureconhecida a importância de se caminharpara a sustentabilidade no desenvolvimentodas Nações, a partir do comprometimentocom a Agenda 21, corroborada peloProtocolo de Kyoto de 1997, que envolve aresponsabilidade de uma série de Naçõesindustrializadas de reduzir suas emissões degás carbônico em 5,2% com relação aosníveis de 1990, para o período de 2008-2012(Aroeira et al. , 2003).

As preocupações da comunidadeinternacional com os limites dodesenvolvimento do planeta datam dadécada de 60, quando começaram asdiscussões sobre os riscos da degradação domeio ambiente. Tais discussões ganharamtanta intensidade que levaram a ONU em1972 a promover uma Conferência sobre oMeio Ambiente em Estocolmo. No mesmoano, Dennis Meadows e os pesquisadores do“Clube de Roma” publicaram um trabalhointitulado "Limites do Crescimento". Oestudo concluía que se mantidos os níveis deindustrialização, poluição, produção dealimentos e exploração dos recursosnaturais, o limite de desenvolvimento doplaneta seria atingido, no máximo, em 100anos, provocando uma repentina diminuiçãoda população mundial e da capacidadeindustrial (Economianet a, 2005).

Em 1973, o canadense Maurice Stronglançou o conceito de ecodesenvolvimento,cujos princípios foram formulados porIgnacy Sachs. Os caminhos desse novoconceito de desenvolvimento seriam seis:satisfação das necessidades básicas;solidariedade com as gerações futuras;participação da população envolvida;preservação dos recursos naturais e do meioambiente; elaboração de um sistema socialque garanta emprego, segurança social erespeito a outras culturas e programas deeducação. Esta teoria referia-seprincipalmente às regiões subdesenvolvidas,envolvendo uma crítica à sociedadeindustrial. Foram os debates em torno doecodesenvolvimento que abriram espaço aoconceito de desenvolvimento sustentável(Economianet a, 2005).

O Relatório Brundtland, de 1987, publicadopela Comissão Mundial para o MeioAmbiente e Desenvolvimento1 lançou umnovo desafio à humanidade: odesenvolvimento sustentável. O relatório dizque “Desenvolvimento sustentável édesenvolvimento que satisfaz asnecessidades do presente sem comprometera capacidade de as futuras geraçõessatisfazerem suas próprias necessidades”.Basicamente esse conceito procuratransmitir a idéia de que desenvolvimentodeve conciliar por longos períodos ocrescimento econômico e a conservação dosrecursos naturais, tornando-se uma espéciede ideal ou um novo paradigma dasociedade contemporânea (Ehlers, 1999).

Pode-se perceber que tal conceito não dizrespeito apenas ao impacto da atividadeeconômica no meio ambiente.Desenvolvimento sustentável se refere

1 A Comissão Mundial para o Meio Ambiente eDesenvolvimento (CMMAD) foi criada em 1983 pelaONU, com o intuito de "propor estratégias ambientais

de longo prazo para obter um desenvolvimento

sustentável por volta do ano 2000".

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principalmente às conseqüências dessarelação na qualidade de vida e no bem-estarda sociedade, tanto presente quanto futura.Atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico noqual se apóia a idéia de desenvolvimentosustentável. A aplicação do conceito àrealidade requer, no entanto, uma série demedidas tanto por parte do poder públicocomo da iniciativa privada, assim comoexige um consenso internacional. É precisofrisar ainda a participação de movimentossociais, constituídos principalmente naforma de Organizações NãoGovernamentais (ONGs), na busca pormelhores condições de vida associadas àpreservação do meio ambiente e a umacondução da economia adequada a taisexigências (Economianet b, 2005).

Segundo o Relatório Brundtland, uma sériede medidas deve ser tomada pelos EstadosNacionais: a) limitação do crescimentopopulacional; b) garantia de alimentação emlongo prazo; c) preservação dabiodiversidade e dos ecossistemas; d)diminuição do consumo de energia edesenvolvimento de tecnologias queadmitam o uso de fontes energéticasrenováveis; e) aumento da produçãoindustrial nos países não-industrializados àbase de tecnologias ecologicamenteadaptadas; f) controle da urbanizaçãoselvagem e integração entre campo ecidades menores; g) Satisfação dasnecessidades básicas. Em nívelinternacional, as metas propostas peloRelatório são as seguintes: h) asorganizações do desenvolvimento devemadotar a estratégia de desenvolvimentosustentável; i) a comunidade internacionaldeve proteger os ecossistemassupranacionais como a Antártica, osoceanos, o espaço; j) guerras devem serbanidas; k) a ONU deve implantar umprograma de desenvolvimento sustentável(Economianet b, 2005).

No setor agropecuário, o qualificativo"sustentável" também passou a atrair aatenção de um número crescente deprofissionais, pesquisadores e também deprodutores em busca de um novo padrãoprodutivo que garantisse a segurançaalimentar sem agredir o meio ambiente,demonstrando uma insatisfação com o status

quo da chamada agricultura "convencional"ou moderna (Ehlers, 1999). Surge então oconceito de Agroecologia, uma novaabordagem da agricultura que integradiversos aspectos agronômicos, ecológicos esocioeconômicos na avaliação dos efeitosdas técnicas agrícolas sobre a produção dealimentos e na sociedade como um todo. Omodelo de agricultura sustentável é baseadonos conhecimentos empíricos dosagricultores, acumulados através de muitasgerações, aliado ao conhecimento científicoatual para que em conjunto, técnicos eagricultores possam fazer uma agriculturacom padrões ecológicos (respeito ànatureza), econômicos (eficiênciaprodutiva), sociais (eficiência distributiva) ecom sustentabilidade em longo prazo(Ambiente Brasil, 2005).

Segundo Veiga (1991) e Ehlers (1999),apenas nos séculos XVIII e XIX com oinício da agricultura moderna é que algunspovos começaram a produzir em maiorescala, colocando fim a um longo período deescassez de alimentos. Já em meados de1920, surgem diversos movimentos queresistiram ao amplo desenvolvimentocientifico e tecnológico da chamadaSegunda Revolução Agrícola, quandocomeçava a se consolidar o padrãoprodutivo que vem sendo praticado nasúltimas décadas de emprego intensivo deinsumos industriais. Esse padrão, que foiintensificado após a Segunda GuerraMundial, culminou na década de 70 com aRevolução Verde. Esse termo deriva dosenormes avanços da engenharia genéticaaplicada à agricultura que possibilitaram aprodução de variedades vegetais altamenteprodutivas, desde que utilizadas com um

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conjunto de práticas e de insumos que ficouconhecida como "pacote tecnológico"(Ehlers 1999), mas que com o passar dotempo mostrou ser de alto impactoambiental já que não é uma práticapreservacionista.

2.3. Agricultura convencional versus

agricultura alternativa

Na passagem do século XX, predominavano setor produtivo e na comunidadeagronômica o otimismo diante das teorias deLiebig, que introduziu a prática da adubaçãoquímica na agricultura. O quimismo deLiebig em 1840, desprezava totalmente opapel da matéria orgânica na nutrição dasplantas e afirmava que a insolubilidade dohúmus era uma evidência de sua inutilidadenos processos de crescimento vegetal.Foram pressupostos que alimentaram opensamento de que o aumento da produçãoagrícola seria diretamente proporcional àquantidade de substâncias químicasincorporadas ao solo, indo de encontro aosseculares postulados aristotélicos no qual anutrição dos vegetais se dava através deraízes, que absorvem do solo partículasinfinitamente pequenas constituídas emgrande parte pelo mesmo material dasplantas (Ehlers, 1999).

O impacto das descobertas atingiu o cerneda estrutura de produção vigente desde aPrimeira Revolução Agrícola, que era afusão da agricultura e da pecuária. Osagricultores passaram a substituir aadubação orgânica pela química, facilitandoa adubação do solo e reduzindo a mão-de-obra, o que foi viabilizado pelo grandeinteresse do setor industrial em ampliar avenda de seus produtos. Várias mudançasforam fomentadas na agricultura e no setorprodutor de insumos nesse período, quandoentão se consolidaram as práticas deutilização de agrotóxicos, fertilizantesquímicos, motomecanização e omelhoramento genético, culminando na

Revolução Verde estabelecida na década de70 (Ehlers, 1999).

Com a preocupação crescente relacionadatanto aos problemas socioeconômicos comoaos ambientais (erosão dos solos,contaminação dos recursos naturais e dosalimentos e destruição de florestas), queapareceram como conseqüências inerentes àprodução agrícola intensiva, surgiramsistemas alternativos2 com propostasambiciosas para a produção de alimentos emharmonia com o meio ambiente. Emcomum, todos apresentam forte preocupaçãocom os destinos do homem e do meioambiente, sendo a agricultura orgânica amais conhecida desse segmento, porapresentar soluções viáveis e compatíveiscom a necessidade de se obter umalucratividade compensatória aos produtores(Aroeira et al. , 2003).

2.4. Produção Orgânica

A história da agricultura orgânica que é umadas mais difundidas vertentes alternativas,remonta ao início da década de 20 com otrabalho do pesquisador inglês AlbertHoward, que, em viagem à Índia, observouas práticas agrícolas de compostagem eadubação orgânica, utilizadas peloscamponeses hindus, relatando-asposteriormente em seu livro "Um testamento

agrícola", de 1940 (Paschoal, 1994). Aimportância da utilização de matériaorgânica nos processos produtivos, e a visãode que é no solo que ocorrem uma série deprocessos vivos e dinâmicos essenciais paraa saúde das plantas, vai de encontro à visãoda agricultura na época, o que veio causarhostilidade na comunidade científica, massendo aceito por um grupo reduzido dedissidentes do padrão predominante. Suas

2 Nos anos 70, as evidências cada vez mais freqüentesdos efeitos adversos provocados pela agriculturaconvencional, fortalecem as vertentes da agriculturaalternativa. Na Europa consolidam-se as vertentes dabiodinâmica, orgânica e biológica, e no Japão aagricultura natural.

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idéias se difundem pela Europa, sendoaprimoradas por vários pesquisadores eposteriormente para os Estados Unidos daAmérica (EUA), através de Jerome IrvingRodale, que propaga os ensinamentos deHoward, iniciando o movimento orgâniconesse país (Paschoal, 1994; Ehlers, 1999).

Outro método alternativo de agriculturasurgiu em 1941 na Suíça, com os trabalhosdo biologista Hans Müller e do médicoalemão Peter Rush, e ficou conhecido comoagricultura organobiológica ousimplesmente agricultura biológica, como écomumente usado nos países de línguagermânica. O método preconiza acompostagem na superfície do solo e testesmicrobiológicos para avaliação dafertilidade do solo (Paschoal, 1994). Namesma época, na França, Claude Aubertdifundiu o conceito e as práticas daagricultura biológica, na qual os produtossão obtidos pela utilização de rotação deculturas, adubos verdes, estercos, restos deculturas, palhas e outros resíduos vegetaisou animais, bem como controle natural depragas e doenças. O uso de fertilizantes,adubos e defensivos sintéticos é suprimidono manejo das lavouras. Aceleradoresartificiais de crescimento ou engordatambém são abolidos no manejo de animais,somente sendo aplicadas as vacinasobrigatórias. A fitoterapia, a homeopatia e aacupuntura são os tratamentos utilizados emcasos de doenças (Ormond et al., 2002).

Um sistema de produção orgânica, éportanto, um conjunto de processos deprodução agrícola que parte do pressupostobásico de que a fertilidade é função direta damatéria orgânica contida no solo. A ação demicroorganismos presentes nos compostosbiodegradáveis existentes ou colocados nosolo possibilita o suprimento de elementosminerais e químicos necessários aodesenvolvimento dos vegetais cultivados.Complementarmente, a existência de umaabundante fauna microbiana diminui osdesequilíbrios resultantes da intervenção

humana na natureza. Alimentação adequadae ambiente saudável resultam em plantasmais vigorosas e mais resistentes a pragas edoenças.

Altieri (2001) considera que o objetivo étrabalhar e alimentar sistemas agrícolascomplexos, onde as interações ecológicas esinergismos entre os componentesbiológicos criem as condições de umidade,aeração e equilíbrio do meio ambiente. Essainteração e sinergismo são fatoresdeterminantes para a sobrevivência dessesmicroorganismos e, conseqüentemente, suautilização como agentes protetores epreservadores do solo. Por essa razão, umadas principais práticas utilizadas noscultivos orgânicos é o fornecimento e/oupreservação de microorganismos do solo,para que as condições ideais detransformação biológica sejam asseguradas.A utilização de insumos que tenham comobase recursos minerais não-renováveis oucompostos sintéticos não é compatível comesse processo, pois representa umaintervenção brusca nas características dosolo, na fisiologia das plantas e animais e,conseqüentemente, no ambiente.

O apelo conservacionista e dasustentabilidade tem atraído grande númerode produtores em todo o mundo, comdiferentes motivações desde então. Sholubiet al. (1997), pesquisando o perfil dosagricultores orgânicos em Ontário, Canadá,observou que as principais motivações paraa conversão foram a consciência ambiental eo alto preço dos fertilizantes sintéticos. JáOosting et al. (2002), ao analisarem acontribuição da sustentabilidade ecológica esociocultural de fazendas de leite orgâniconos Países Baixos, concluiu que a emissãode CO2 (g/ CO2 por litro de leite) foi de 14%e o potencial de acidificação (g/SO2 /litro)foi 40% menor para os orgânicos,comparados aos sistemas convencionais; eque o conceito multifuncional do uso daterra e conservação da natureza é observado,

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atendendo às demandas sociais para asustentabilidade.

2.5. Processo de CertificaçãoCom o crescimento do mercado e a entradados produtos orgânicos nas prateleiras dossupermercados (massificação do consumo),o produtor perdeu o contato direto com oconsumidor. Deste distanciamento surgiu anecessidade de algum tipo de garantia queatestasse a qualidade do produto e quecertificasse ser ele realmente produzidoorganicamente. Desse modo surgiram então,normas para a produção e processos decertificação dos produtos orgânicos. Ainiciativa surgiu na Europa e se espalhou porvários outros países. No Brasil, apesar dealgumas certificadoras já atuarem, aregulamentação da produção orgânica só seiniciou a partir da Instrução Normativa no 7do MAPA, sancionada em 17 de maio de1999.

Na década de 80, na Europa surgiramprodutores que na tentativa de diferenciarseus produtos, passaram a modificar a formaintensiva de produção (que já se encontravaem crise e duramente questionada pelosmovimentos ecológicos emergentes naépoca) e a oferecerem produtos cujo modode produção era compatível com a natureza,não agredindo o meio ambiente. Nesseperíodo apareceram novos termos incluídosnas embalagens que preconizavam o sistemado qual havia se originado aquela produção:bio, biológico, orgânico, ecológico e natural.Devido à ausência de uma legislação quepudesse uniformizar e controlar a rotulagemnos países europeus, começaram a surgiroportunistas e até mesmo fraudadores, seaproveitando da desorientação dosconsumidores. Isso significava umaconcorrência desleal com os produtosprovenientes realmente de uma agriculturanão intensiva, mas que já demonstravam serde procura crescente (Rodrigues, 2003).

Em junho de 1991 surge então umregulamento do Conselho da CEE na União

Européia, estabelecendo regras quanto aomodo orgânico de produção dos produtosagrícolas e gêneros alimentícios, rótulos eembalagens (Rodrigues, 2003). Em julho de1999, outro regulamento define as regras deprodução orgânica de animais e de produtoscontendo ingredientes de origem animal,destinados à alimentação humana. Aterminologia utilizada a partir de então paracaracterizar os produtos oriundos daagricultura biológica incluem bio ou eco ecom a variedade de línguas oficiais naUnião Européia: ecológico em espanhol;Ûkologisk em dinamarquês; ökologisch oubiologisch em alemão; biologisch emholandês; biológico em português,luonnonmukainen em finlandês; ekologiskem sueco. Com o estabelecimento dessesregulamentos para a produção orgânica3

asinstituições européias sentiram necessidadede também regulamentar os produtosagrícolas tradicionais, tudo isso aliado àcrescente pressão da sociedade após oadvento da “vaca louca” e o risco quesignificou para os consumidores. Diversosregulamentos surgiram estabelecendo selosque garantiam a certificação de origem,indicações geográficas, produtos específicose especialidades tradicionais garantidasdestinadas à alimentação humana, eestabeleceram-se normas que regularam omodo de produção orgânica de produtosvegetais e animais (Rodrigues, 2003).

A maioria das instituições envolvidas noprocesso de certificação são ONGs quecongregam produtores, consumidores etécnicos. Existem atualmente no Brasil,cerca de 20 certificadoras que, de acordocom a nova legislação, terão que se adequar

3 Na Comunidade Européia os produtos orgânicos sãomais freqüentemente conhecidos pela terminologia debiológicos, devido à denominação de váriosmovimentos surgidos como variantes do processoorgânico de produção. Nos EUA e nos outros países aterminologia que se instituiu foi orgânico, já que osentido da palavra reporta à idéia da propriedade sercompreendida e manejada em sua totalidade, como umorganismo vivo.

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à legislação para que sejam reconhecidaspelo MAPA e possam ser credenciadas.Dentre as mais conhecidas pode-se destacar:Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento– IBD/SP; Associação de AgriculturaOrgânica – AAO/SP; Associação deAgricultura Ecológica – AGE/DF;Associação dos Produtores Biológicos –ABIO/RJ; Minas Orgânica – MO/MG;AOPA/PR; COOLMEIA/RS e FundaçãoMokiti Okada/SP, dentre outros.

Poucas dessas são reconhecidas pelosdiversos órgãos controladores da UniãoEuropéia, EUA e Japão principalmente, masos produtos que trazem o selo decertificadoras reconhecidas podem serexportados, desde que atendam as normaspré-estabelecidas por cada país importador,devendo haver uma adequação nos períodosde conversão e processos produtivos. Asinúmeras exigências desses países sãovariáveis e se modificam freqüentemente,dificultando a importação principalmente deprodutos oriundos de países do terceiromundo, explicando talvez a razão dadificuldade e os altos custos que ocorremnos processos de certificação paraexportação4.

2.6. Agropecuária orgânica

De todos os problemas ambientais no Brasil,advindos do avanço da agropecuárianacional, o mais importante sem dúvida, é aerosão hídrica que vem a cada ano seagravando, comprometendo os recursosnaturais e pondo em risco a produçãoeconômica, além de degradar o seu maisimportante recurso: o solo (Fernandes,1997). Em decorrência desse quadro, oscursos d'água vêm sofrendo constante ecrescente contaminação, principalmente nasáreas ribeirinhas, o mesmo ocorrendo com olençol freático, reduzindo com isso adisponibilidade para irrigação eabastecimento (Lopes Assad, 1993).

4 Comunicação pessoal.

Outro grande problema ambiental tambémrelacionado com a agropecuária brasileira, éo alto índice de degradação de pastagens, jáque um número reduzido de pecuaristasrecupera as pastagens de suas propriedades.De acordo com MACEDO, (1995) eMACEDO et al. (2000), uma pastagemdegradada é aquela que está em processoevolutivo de perda de vigor e produtividadeforrageira, sem possibilidade de recuperaçãonatural, tornando-se incapaz de sustentar osníveis de produção e qualidade exigidospelos animais, bem como de superar osefeitos nocivos de pragas, doenças e plantasinvasoras. Persistindo esse processo, poderáhaver uma degradação total do solo e dosrecursos naturais, com prejuízosirrecuperáveis para toda sociedade.

A agropecuária orgânica é conceituada comoum método que visa o estabelecimento desistemas agrícolas ecologicamenteequilibrados e estáveis, economicamenteprodutivos em grande, média e pequenaescala, de elevada eficiência quanto àutilização dos recursos naturais de produçãoe socialmente bem estruturados, queresultem em alimentos saudáveis, livres deresíduos tóxicos, produzidos em totalharmonia com a natureza e com as reaisnecessidades da humanidade (AmbienteBrasil, 2005).

Um dos temas enfatizado pelo sistema deagropecuária orgânica é a exploração depolicultivos que estimulem a biodiversidade.A viabilização desta estratégia apóia-se nainstalação de sistemas de produçãodiversificados por meio da manutençãodesses policultivos (anuais e perenes),associados sempre que possível, com aprodução animal, ao contrário do manejoadotado nos sistemas convencionais queenfatizam a monocultura. Nestes sistemas aalimentação do rebanho deve ser equilibradae suprir todas as necessidades dos animais.O consórcio de gramíneas e leguminosas napastagem, a diversificação de espéciesvegetais, a implantação de sistemas

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agroflorestais (SAFs) ou de sua modalidade,os sistemas silvipastoris (SSP), são opçõesque podem estar incrementando a produçãode leite em propriedades que se convertemdos processos tradicionais e convencionaisde produção para os recomendados pelaprodução orgânica, além de evitar o uso deadubos químicos e permitir a preservação domeio ambiente (Aroeira et al., 2003).

Outra preocupação é com os princípiosetológicos relacionados à espécie animalutilizada na exploração. No caso da criaçãode bovinos a adoção de SSPs irá propiciarmelhores resultados já que o confortotérmico bovino situa-se na faixa de 21oC,com uma tolerância de até 36oC. Acimadisso, instintivamente, o animal passa acomer menos para evitar o calor que seforma no rúmen devido à fermentaçãobacteriana (Pires e Novaes, 2005). Vacascom acesso a abrigos de sombreamento, emregiões tropicais, produzem de 8% a 59% amais de leite, se comparadas às quepermanecem à exposição direta do sol. Issodecorre, principalmente, em função dadiminuição do estresse térmico, aumento noconsumo de alimentos, ganhos nareprodução e resistência imunológica. Osmesmos princípios aplicam-se ao gado decorte, sendo que vários trabalhos indicamganho de peso superior em animais sobpastagens sombreadas, em comparação aoscriados a pleno sol (Naäs, 2003).

Como no sistema de pecuária orgânica alémdo conforto animal, busca-se também adiversificação da propriedade, preconizandoum manejo que utilize o policultivo,pastagens, sistemas agroflorestais, rotaçõesde culturas, cultivos de cobertura, uso decompostos e esterco, adubação verde,quebra-ventos e áreas de reserva florestal, éesperado que com a adoção dessas práticashaja potencialização da reciclagem denutrientes, melhora do microclima local,diminuição de patógenos e insetos-praga,diminuição do estresse animal, eliminaçãode determinados contaminantes bem como a

conservação da fertilidade do solo e daqualidade da água.O sistema orgânico de produçãoagropecuária e industrial é todo aquele emque se adotam tecnologias que otimizem ouso de recursos naturais e socioeconômicos,respeitando a integridade cultural e tendopor objetivo a auto-sustentação (..)minimização da dependência de energiasnão renováveis, eliminação de agrotóxicos,organismos geneticamente modificados(OGMs) ou radiações ionizantes emqualquer fase da produção, armazenagem econsumo (Brasil, 1999).

2.6.1. Panorama atual da produçãoorgânica de leite no BrasilNa década de 70, a produção orgânica noBrasil estava diretamente relacionada amovimentos filosóficos, que buscavam oretorno do contato com a terra como formaalternativa de vida. Com a crescenteconscientização sobre a preservaçãoecológica e a busca por uma alimentaçãocada vez mais saudável, houve um aumentodos consumidores de orgânicos e, a partirdos anos 80, organizaram-se cooperativas deprodução de produtos naturais e a cada ano,tem aumentado mais esse movimentoacompanhando a tendência mundial(Ormond et al. 2002; FISA, 2005).

Segundo o BNDES (Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social), oBrasil dispõe aproximadamente de 900 milhectares de áreas sob manejo orgânico alémdas áreas de extrativismo naturalincorporadas recentemente, o que representaum total de mais de sete mil propriedadesrurais produtoras de orgânicos. Essecrescimento se deve, principalmente àadequação do sistema de produção orgânicaàs características de pequenas propriedadescom gestão familiar, seja pela diversidade deprodutos cultivados em uma mesma área,seja pela menor dependência de recursosexternos, com maior utilização de mão-de-obra e menor necessidade de capital. É ummodelo que, além de fixar o homem no

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campo, melhora o meio ambiente, promovea coletividade, valoriza o empreendedorismoe se preocupa com a educação e a qualidadede vida dos agricultores e da população emgeral (Planeta Orgânico, 2005).

Apesar de possuir uma das áreas maisextensas do mundo dedicada à agriculturaorgânica, a produção do “leite orgânico”ainda é incipiente, não chegando a 0,1% daprodução brasileira de leite. Estima-se que aprodução certificada seja de 5,5 milhõeslitro/ano, o que pode sofrer alterações já quenão existem levantamentos oficiais, e alegislação brasileira ainda não se adequou àrotulagem do produto e muitos produtoresrealizam venda direta ao consumidor (Alves,2005).

Diversos fatores contribuem para essapequena participação nos índices deprodução, desde a deficiência na legislação,que caracterizou oficialmente a produçãoorgânica brasileira apenas em novembro de2003, o desinteresse das empresas receptorasem processá-lo disponibilizando um baixovolume a ser oferecido à população, bemcomo aos poucos trabalhos de extensão ruralviabilizando o processo para pequenosprodutores (Mittmann, 2002).

A produção animal sob sistema orgânicocertificado ainda é pouco difundida no País,mas já existem criações de cabras e vacasleiteiras, produção de bovinos de corte, bemcomo a produção de ovos e mel, embora empequena escala, sendo a maioriacomercializada na venda direta aoconsumidor, ou nos canais tradicionais, sema qualificação orgânica. Além disso, pode-seconstatar uma carência de pesquisascientíficas adequando a produção animalcom às normas preconizadas pela legislaçãoda agricultura orgânica e a realidade tropicalno que diz respeito à alimentação, adubaçãode pastagens, padrões raciais e cuidadossanitários com o rebanho, enfocando ocontrole de endo e ecto parasitos e mamites,utilizando como alternativas a homeopatia e

a fitoterapia (Alves, 2005). Com aconsolidação cada vez maior daconscientização dos consumidores sobre aqualidade do alimento ingerido e dademanda por uma produção agropecuáriapreservando o meio ambiente, acredita-seque haja um incremento na produçãoorgânica de leite. Além do mais, o incentivoà produção orgânica consiste em uma dasprioridades do governo brasileiro, comvistas ao mercado mundial de orgânicos quemovimentou, em 2004, cerca de 26,5 bilhõesde dólares.

2.6.2. Perfil das propriedades orgânicasprodutoras de leite no BrasilÓrgãos de pesquisa, principalmente aEmbrapa Gado de Leite, têm realizadolevantamentos em regiões brasileiras(principalmente Sudeste e Centro-Oeste)onde se encontram propriedades comprodução orgânica certificada, objetivandotraçar o perfil dessas propriedades.Trabalha-se também, com Unidades deObservação (UO), onde estão sendodesenvolvidos e acompanhados projetos depesquisa visando produzir tecnologiasadaptáveis a um sistema orgânico deprodução de leite.

Os números levantados por pesquisarecentemente (Aroeira et al., 2005) em 12propriedades nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, sugerem as seguintesmédias: a área total das propriedades é de325 ha, sendo que 138 ha são dedicados àatividade leiteira. O proprietário possui, emmédia 49 anos, mais de 50% têm nívelsuperior e em metade das fazendas há aparticipação da família no trabalho eprodução de algum tipo de derivado do leite.O rebanho é composto por 60% de animaismestiços, Europeu x Zebu e 40% de animaiszebuínos. A média de produção por vaca éde 9,2 kg/dia na época das chuvas e 8,2kg/dia na seca. O tanque de expansão éutilizado em 70% das propriedades. Cercade 60% das propriedades vendem o leitepara cooperativas e 40% das propriedades

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vendem diretamente para o consumidor emfeiras ou entrega em domicílio. Aalimentação dos animais em grande partebaseia-se em pastagens de Brachiaria spp.Na seca os volumosos utilizados são o capimNapier (Pennisetum purpureum), cana-de-açúcar e silagem de sorgo. Em 40% daspropriedades são empregados vários tipos deleguminosas como complementaçãovolumosa. Os concentrados mais utilizadossão os farelos de soja, algodão, milho outrigo, adquiridos de fontes convencionais.As vacinações obrigatórias são utilizadas eos medicamentos são em sua maioriahomeopáticos (compostos na forma deisoterápicos) e fitoterápicos. A incidência deectoparasitas é baixa, bem como aocorrência de mamites, de acordo com orelato de 100% dos entrevistados. Quanto aomanejo reprodutivo, 70% das propriedadesutilizam inseminação artificial e 30%empregam monta natural controlada. Hádiversificação de atividades, e em média40% da receita total da propriedade éproveniente da produção de leite; e orestante divide-se em venda de animais derecria e engorda, piscicultura, avicultura eprodução de hortaliças. O leite certificadoalcança até três vezes o valor do produtoconvencional quando vendido diretamenteao consumidor. Já quando captado porlaticínios e cooperativas, é valorizado em50% em relação ao convencional. Oprodutor orgânico procura assistênciatécnica e se atualiza consultando publicaçõesespecíficas da área, demonstrando bonsconhecimentos sobre as normas deprodução, já que existe um trabalho deconscientização das certificadoras. Osmaiores problemas apontados pelosprodutores entrevistados são em relação àmanutenção adequada de alimentação,genética e cuidados sanitários com orebanho. A pesquisa concluiu que apesar dabaixa produção atual, há uma perspectiva deincremento nesse sistema de produção.Resultados de pesquisas objetivandosoluções para os problemas detectados

contribuirão para o fomento da produção(Aroeira et al., 2005).

2.7. Panoramas e perspectivas demercado

2.7.1. Mercado internacionalA indústria de alimentos orgânicos está setornando global, com grandes corporaçõesmultinacionais exercendo uma influênciacada vez maior. A maioria destascompanhias que comercializam produtosvindos de sistemas convencionais, entrou naindústria de alimentos orgânicos através deaquisição ou de investimento emcompanhias dedicadas à produção deorgânicos (Milk Point, 2003).

O maior crescimento em vendas dealimentos e bebidas orgânicos foi observadona América do Norte, onde o mercado temsido incrementado pela implementação doPrograma Nacional de Orgânicos (NOP). ONOP tem fomentado a produção orgânica dopaís e os produtores de orgânicos estão setornando mais visíveis para os principaisvarejistas. Os norte-americanos estãocomprando alimentos e bebidas orgânicos àmedida que estão vendo estes produtoscomo mais saudáveis e mais naturais do queos alimentos não orgânicos.

O mercado da Europa Ocidental paraalimentos e bebidas orgânicos está emsegundo lugar. Em 2004 a UE lançou umplano de ação para estimular produção deorgânicos com o objetivo de facilitar odesenvolvimento da produção agrícolaorgânica propondo uma lista de 21 medidaspolíticas concretas para seremimplementadas tais como: uma melhora nasinformações sobre a produção orgânica,otimização do suporte público viadesenvolvimento rural, melhoria nos padrõesde produção e fortalecimento de pesquisas.

A produção de alimentos orgânicos estáaumentando em muitas regiões do mundo,com quase 23 milhões de hectares de

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propriedades rurais manejadas atualmentedentro do sistema orgânico. Muito desteaumento está ocorrendo nos países doterceiro mundo, onde alguns produtoresrurais estão sendo atraídos pelos benefíciosde exportação da produção de alimentosorgânicos (Meat News, 2004).

Segundo dados da FAO, o mercado deprodutos orgânicos movimentou 25 bilhõesde dólares no ano de 2003. Mais do que essacifra, o que impressiona é o seu poder decrescimento: cerca de 30% ao ano (OrganicMonitor, 2004). Dados da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) indicam que aprodução de alimentos sem agrotóxicos eoutras substâncias químicas movimentavaem 2001 o equivalente a US$ 24 bilhões,sendo US$ 6,2 bilhões somente no mercadoeuropeu. A expectativa é que atualmente amovimentação já supere US$ 30 bilhões emtodo o mundo. O mercado mais promissor éo dos Estados Unidos. Estima-se que em2008 esse país esteja movimentando omesmo volume que o resto do mundo. NoJapão e na Europa o crescimento foi de 20%.

A Alemanha, grande consumidora deprodutos sem agrotóxicos e organizadora damaior feira mundial do setor a Biofach ,concentra 20,4 mil importadores nessesegmento, que compram principalmentecafé, frutas secas, cereais, legumes, ervas,óleos, castanhas, açúcar e cacau. O paíspossui 16,5 mil fazendas de produçãoorgânica, totalizando 735 mil hectares(Sebrae, 2005).

2.7.2. Mercado nacionalGraças ao solo e clima favoráveis, além dagrande biodiversidade, o País já tem asegunda maior área de produção deagricultura orgânica do mundo, com 6,5milhões de hectares, atrás apenas daAustrália. Até 2002, o País ocupava o 34ºlugar na classificação dos maioresprodutores mundiais de orgânicos. Em umaanálise geral sobre o panorama daagricultura orgânica mundial, o relatório da

SÖL (Fundação Agricultura e Ecologia daAlemanha) informa que o Brasil tinha noano de 2003, 19.003 propriedades e 841.769hectares sob manejo orgânico (Willer &Yussefi, 2004) o que colocava o país em 5ºlugar na lista dos países com maior áreaplantada sob cultivo orgânico. Em 2005passou a ocupar o 2º lugar. O salto noranking, como pode ser observado na Figura1, foi impulsionado pela inclusão de 5,7milhões de hectares do extrativismosustentável (castanha, açaí, pupunha, látex,frutas e outras espécies das matas tropicais,principalmente da Amazônia), no cálculo daárea da agricultura orgânica brasileira,segundo constatação da Coordenação deAgroecologia do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Um levantamento do Sebrae (2005) apontouque além das áreas de extrativismosustentável, mais 900 mil hectares estãoplantados com outras culturas orgânicas e oPaís possui aproximadamente 20 milprodutores de orgânicos sendo que namaioria prevalece a agricultura familiar.Abacaxi, banana, café, mel, leite, carnes,soja, palmito, açúcar, frango e hortaliças sãoalguns dos principais produtos da agriculturaorgânica brasileira.

A Associação dos Produtores eProcessadores de Orgânicos do Brasil estimaque 2,5% da população possuem condiçõessocioeconômicas para o consumo deste tipode alimento. No mercado interno, aexpectativa é de aumento da demanda,principalmente a partir de programas demerenda escolar orgânica que já estão emdesenvolvimento nos estados do Paraná,Santa Catarina e Mato Grosso.

De acordo com o MAPA, a cultura orgânicabusca a sustentabilidade sócio-ambientalaliada à preservação da natureza, garantindoassim a manutenção da atividadeagropecuária para as gerações futuras. Para aviabilização e concretização de projetosjunto à comunidade rural, foi criada a

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Câmara Setorial da Cadeia Produtiva daAgricultura Orgânica, em março de 2004, edo processo participativo de regulamentaçãoda Lei de Agricultura Orgânica, em que oBrasil trabalha o conceito de equivalênciacom as normas internacionais para a

atividade. Além disso, foi criado o Pró-Orgânico (Programa de Desenvolvimento daAgricultura Orgânica), para fortalecer eestimular o segmento (Sebrae, 2005).

2 .9 6 0 .00 0

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8 4 1.76 9 76 0 .0 0 0 72 4 .52 3 6 9 6 .0 55 6 6 5.0 55 50 9 .0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00

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A ust rál ia A rg ent ina It ália EU A *B r as il(2 0 0 5)

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U rug uai Gr ã-B r et anha

A lemanha Esp anha França

Fonte: © SÖL 2004 (adap tação)

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Figura 1. Países com maiores áreas sob cultivo orgânico no mundo em 2003 e posição do Brasil

em 2005* Incorporação das áreas de extrativismo no Brasil em 2005 (adaptação)

Apesar do crescimento deste setor no Brasil,registrado pela IFOAM (InternationalFederation of Organic AgricultureMovements), um levantamento do BNDES(Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social) aponta que aagricultura orgânica é responsável porapenas 1% da produção total de alimentosno País. Em 2002, havia cerca de sete milprodutores certificados. Somando-se a essesos que não buscaram certificação, estima-seque sejam 13 mil produtores orgânicos.Dados do Mapa revelam que 2% do mercadode hortifrutigranjeiros no Brasil é deprodutos orgânicos, contra 20% na Europa.A mesma Associação estima que apenas2,5% da população possui condiçõessocioeconômicas para o consumo deste tipode alimento, e em sua maioria são pessoascom níveis mais altos de salários e

escolaridade e portanto com maior acesso àsinformações.

2.8. O Agronegócio do Leite

Conforme Souza (1986), a administração éuma ciência e também uma arte. Ciênciaporque possui um referencial teóricopróprio, possível de ser tratado pelo métodocientífico. E arte por incluir na resolução dosproblemas que surgem nas organizações , ahabilidade humana, a sensibilidade eintuição. A Administração Rural é vistacomo um ramo da ciência da administraçãoque estuda os processos das decisões e açõesadministrativas em organizações rurais,possibilitando acesso às teorias da ciênciaadministrativa ao considerar a "organizaçãorural" num todo, inserida no ambiente que aspermeia a outras empresas rurais,

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cooperativas agrícolas e outras instituições ,que de uma forma ou outra possueminterfaces com a empresa rural, fazendoparte do Complexo Agro Industrial(Andrade, 2001).

As organizações rurais possuem ambientepróprio e diferenciado que deve serconsiderado quando de suas aplicações naadministração de tais empreendimentos.Características tais como: o emprego daterra como fator de produção; fortedependência da fertilidade do solo e dascondições climáticas; ciclo de produçãodependente de condições biológicas;irreversibilidade do ciclo produtivo;produção associada; sistema de posse daterra; oferta estacional para atender umademanda permanente; perecibilidade doproduto; e riscos de natureza meteorológica,biológica e mercadológica devem ser objetode análise cuidadosa para o adequado uso doinstrumental analítico da ciênciaadministrativa (Andrade, 2001; Yamaguchiet al., 2005).

Aliados a estas peculiaridades existeminúmeros outros fatores que interferem naeficiência do processo produtivoagropecuário. Alguns desses fatores, sãoplena ou parcialmente controláveis em nívelde unidades de produção e conhecidos comofatores internos, tais como tamanho elocalização do empreendimento; linhas deexploração; produção e produtividade; mão-de-obra; infra-estrutura (máquinas, motores,equipamentos, benfeitorias e instalações);vias internas de acesso; etc. Outros,totalmente fora de controle, embora estejamintimamente relacionados com a unidade deprodução são conhecidos como fatoresexternos, tais como preços dos produtos,insumos e serviços; mercado ecomercialização; infra-estrutura detransporte e armazenamento; crédito eseguro rural; pesquisa e assistência técnica;macropolíticas governamentais e outros(Yamaguchi et al., 2005).

Na opinião dos especialistas que tratamdeste assunto, a nova abordagem daadministração rural deve incorporar umavisão sistêmica do complexo agropecuáriosignificando que o administrador deve teramplo conhecimento da organização e doambiente em que ela se encontra inserida.Uma empresa rural pode ser mais bemadministrada quando subdividida em quatroáreas empresariais: produção; recursoshumanos; finanças; comercialização emarketing. Além disso, deve ser levada emconta a importância de se considerar asfunções básicas da administração queenvolve planejamento, organização, direçãoe controle (Andrade, 2001).

A análise fundamentada na noção de cadeia,ao descrever o fluxo de produção de umdeterminado produto, revela a possibilidadede existirem situações típicas deconcorrência no mercado. No ambienteoperacional do setor rural, em que aconcorrência é formada por outras empresasrurais explorando uma mesma atividade, oconjunto desses produtores forma ummercado de concorrência imperfeita:existem muitos produtores e poucoscompradores, não havendo claraidentificação dos concorrentes, já que elessão inúmeros. O setor rural é um exemplotípico de indústria fragmentada, em quenenhuma empresa possui uma parcelasignificativa de mercado e nem podeinfluenciar fortemente no resultado daindústria como um todo (Sette, 1998).

2.9. Custos de produção

2.9.1 Análise dos custos de produção:Sistema tradicionalOs custos de produção são utilizados paraverificar se e como os recursos empregadosem um processo de produção estão sendoremunerados, possibilitando tambémverificar como está a rentabilidade daatividade em questão, comparada aalternativas de emprego de tempo e capital(Reis, 2002). O conhecimento dos custos

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permite ao empresário e/ou técnico analisareconomicamente a atividade e por meiodessa análise passar a conhecer comdetalhes e a utilizar, de maneira inteligente eeconômica, os fatores de produção (terra,trabalho e capital). Sendo assim olevantamento desses custos pode servir deauxílio para se localizar os pontos deestrangulamento e atingir os seus objetivosde maximização de lucros ou minimizaçãode custos (Lopes, 2003). Dados sobre custosde produção têm sido usados para muitasfinalidades e podem servir para análise derentabilidade dos recursos empregadosnuma atividade produtiva, útil ao processode tomada de decisão do produtor.

Por tradição, o custo de produção de leitetem sido estimado a partir do custo total daatividade leiteira que envolve a produção deleite propriamente dito e a produção defêmeas para reposição do plantel de vacas.Para obter o valor relativo somente ao custodo leite tem-se utilizado o artifício sugeridopor Gomes et al., (1989). Trata-se deconsiderar como custo do leite o percentualde participação da renda do leite na rendabruta da atividade, pressupondo rebanhoestabilizado ou promovendo ajustes norebanho quando não estabilizado.

Contudo, tem-se observado, na prática, queeste artifício induz a erros na estimativa docusto de produção de leite, além de mostrar-se ineficaz enquanto instrumento de apoio àdecisão e gestão da atividade leiteira,principalmente, quando se tem umempreendimento tão complexo quanto o daprodução de leite, que envolve tantas outrasatividades agrícolas (culturas forrageirasanuais e perenes) quanto pecuárias (cria erecria de fêmeas para reposição do plantelde vacas). Desse modo, percebe-se que ocusto para produzir um litro de leite comeficiência econômica depende da eficiênciade como é organizada e administrada cadauma das atividades agrícolas e pecuárias quecompõem o sistema global de produção deleite. Fica evidente também que o custo de

produção de leite estimado de formatradicional tem pouco sentido e utilidadeenquanto instrumento referencial na tomadade decisão e gestão profissional da atividadeleiteira (Yamaguchi et al., 2005).

A análise econômica é o processo pelo qualo produtor rural passa a conhecer osresultados obtidos em termos monetários decada exploração em nível de empresa rural.Através desses resultados, que levam àquantificação da renda da atividade, pode-seobter o perfil de sustentabilidade da empresaao longo do tempo. O lucro super normal(LSN) é a situação em que a atividade estáobtendo retornos maiores que as melhoresalternativas possíveis de emprego do capital,indicando que a empresa pode expandir-seno médio ou no longo prazo. A receitamédia ou o preço é maior que o custo totalmédio (CTMe). O lucro normal (LN) sugereque a atividade está obtendo retornos iguaisaos que seriam obtidos nas alternativas domercado para aplicação de recursos, sendoque a receita média ou o preço é igual aoCTMe. É o próprio custo de oportunidade,significando estabilidade (Lopes, 2003). Nocaso do preço do produto ou a receita médiada atividade (que considera o preço doproduto mais o valor médio das vendas desubprodutos) não cobrir os custos totaismédios, pode-se utilizar o custo operacionalpara análise da rentabilidade doempreendimento, utilizando-se assim oconceito de resíduo, que é a margem delucro de cada unidade produzida (Reis,2002).

2.9.2. Custos de produção: Análisesegmentada

Um sistema representa um conjunto deelementos quaisquer ligados entre si porcadeias de relações de modo a constituíremum todo organizado - visão interna - ouainda por uma visão externa representandoum todo organizado dinamicamenterelacionado com o meio externo,continuamente sujeito a mudanças e queapresenta um conjunto de atributos e de

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modos de ação ou comportamento (Gastal,1980; Salazar, 2001). Com a evolução dasteorias que regem a administração geral, ossistemas fechados propostos inicialmente,foram evoluindo para propostas panorâmicasmais preocupadas com as relaçõesinterorganizacionais, que serviram comofundamento das teorias estruturalista e desistemas. Um sistema é portanto, uma redelógica destinada a atingir objetivos; eorganização é um sistema de atividadesconscientemente organizadas por duas oumais pessoas (Salazar, 2001). Devido àabordagem multidisciplinar da teoria geraldos sistemas e o seu enfoque universal, éuma metodologia adaptável às diversasciências, sendo assim um meio ou métodode estudo muito eficiente denominadopesquisa ou análise de sistemas (Gastal,1980).

De acordo com Yamaguchi et al (2002), umsistema de produção pode ser consideradocomo uma "caixa preta", em que os insumose os produtos são conhecidos e mensuráveis,embora o processo de transformação dosinsumos em produtos seja desconhecido.Gastal (1980) considera que a análise desistema consiste em ir abrindo alguns doscompartimentos que compõem a "caixapreta" e que correspondem a parcelas doprocesso de transformação. Quando tudo foraberto haverá possibilidade de se conhecertodo o processo de transformação, ou seja, aanálise completa do sistema.

A análise econômica segmentada do sistemaglobal da produção de leite é proposta porYamaguchi et al. (2002) e Yamaguchi et al.(2005) como uma alternativa vantajosa aoprocedimento tradicional de se analisar aatividade como um todo, já que permiteestudar os processos de transformaçãoocorridos nos vários setores que compõem osistema global e apropriar os custosocorridos em cada um deles. Na novaabordagem os fluxos de caixa sãoelaborados a partir do registro de valoresmonetários que refletem as entradas e saídas

de recursos e produtos da empresa, numdado período de tempo tratando-se de umregistro ex-ante, cuja elaboração é realizadaa partir de projeções de gastos futuros, pelomenos de doze meses. Sua elaboração ébaseada nos indicadores técnicos,zootécnicos, preços de produtos e insumosque, pressupõe-se, irão prevalecer nospróximos doze meses. Os fluxos de caixaassim elaborados são de utilidade comoinstrumento auxiliar de gestão, poispermitem antever despesas e receitas daempresa; posição financeira; época de maiordemanda de dinheiro; investimentos;eventuais divergências entre entradas esaídas; comparar as execuções financeirasplanejadas com as realizadas e fornecerelementos para estimativas de custos ex-

ante.

O prazo é o período gasto para a produçãode certa atividade agrícola. Para apropriaçãode custos faz-se distinção entre custo decurto prazo (CP) e de longo prazo (LP),onde se considera o CP como tempo mínimonecessário para completar o ciclo deprodução e obtenção do produto oriundo daaplicação dos recursos, e o LP o período emque as aplicações dos recursos utilizadosdemoram mais do que uma safra ou anoagrícola para fazer sua reposição (Reis,2002). Matsunaga (1976) e Reis (2002)relacionam e qualificam os vários tipos decustos que ocorrem na empresa rural:

• Os custos fixos (CF)correspondem aos recursos nãoassimilados totalmente pelo produto,participando apenas com a parcela de suavida útil e serão reembolsados a longoprazo, não sendo facilmente alteráveis nocurto prazo. Enquadram-se nessacategoria, a terra, benfeitorias, máquinas,impostos e taxas dentre outros.

• Os custos variáveis (CV)referem-se aos insumos que seincorporam totalmente ao produto no CPe exigem dispêndios de custeio durante operíodo considerado.

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• O custo de oportunidade (CO) édefinido como o retorno que o capitalutilizado na atividade agrícola estariaproporcionando se fosse aplicado emoutras alternativas, tais como taxas dejuros da caderneta de poupança, aluguelde terra ou outro tipo de rentabilidade.

• O custo operacional é o custo detodos os recursos que exigem desembolsomonetário por parte da atividadeprodutiva para sua recomposição, taiscomo gastos com insumos, mão-de-obra,manutenção, despesas gerais bem comoas depreciações dos recursos fixos. Podeser dividido em custo operacional fixo(COF) composto pelas depreciações ecusto operacional variável tambémdenominado como efetivo (COE)constituído pelos desembolsos.• O custo total (CT) representa a

soma de todos os custos com fluxos deserviços de capital (depreciações) einsumos (despesas) utilizados para aprodução do produto agrícola.

Na estrutura do custo de produção sãoapropriadas as despesas operacionais quecorrespondem aos desembolsos efetivamenterealizados na condução das atividadesplanejadas. Em outras palavras, são oscustos variáveis acrescidos de alguns custosque a rigor seriam fixos na metodologiatradicional, mas que representaramdesembolsos diretos, por exemplo: gastoscom administração; assistência técnica;impostos; taxas; entre outros. Na estruturade custo de produção de LP, sãoconsiderados além do custo de produção deCP os custos do capital imobilizado,representados pelas depreciações eremunerações, conforme sugerem Noronha(1987) e Hoffmann (1987).

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Caracterização da propriedade

O trabalho foi desenvolvido nos períodos de2002 a 2004 na Fazenda Malunga, situadana Colônia Agrícola Lamarão, RegiãoAdministrativa Paranoá no PAD-DF, a 70km de Brasília, que possui uma área total de101 hectares. A propriedade encontra-segeograficamente localizada entre osparalelos 15º30’ e 16º03’ de latitude sul e48º12’de longitude extremo oeste e 47º25’delongitude extremo leste. O clima é tropicalde altitude, concentrando-se as precipitaçõesno verão. O período mais chuvosocorresponde aos meses de novembro ajaneiro, e o período seco ocorre no inverno,especialmente nos meses de junho a agosto,com índice médio pluviométrico anual de1500 mm e temperaturas médias entre 18ºCa 25ºC. A altitude média é de 1.100 m , comaplainamentos conhecidos como chapadas,que são o relevo predominante do PlanaltoCentral. O tipo de solo e vegetaçãopredominante é o cerrado típico. Como nãopossui uma reserva averbada, paga umarrendamento separado à FundaçãoZoobotânica de Brasília. A área depreservação permanente está sendorecomposta através do manejo de umaagrofloresta.

O proprietário é engenheiro florestal, eadotou o sistema orgânico por ser umprocesso livre de agrotóxicos eecologicamente correto, visando à qualidadedos alimentos que produz. Sua esposa éengenheira agrônoma e também trabalha napropriedade, sendo responsável pela áreaadministrativa e de comercialização. É umapropriedade agroecológica que prioriza aintegração de atividades e diversificação deculturas. Está presente no mercado regionalhá mais de 18 anos produzindo hortaliças,frutas, laticínios, aves e ovos caipiras,distribuindo para seus clientes mais de 20toneladas de alimentos mensalmente.

A propriedade foi escolhida para seranalisada por fazer parte de uma empresa,Estância Malunga, já consolidada nomercado de produção orgânica há bastante

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tempo e também por possuir algum grau desistematização de dados e informações, oque nem sempre é possível encontrar empropriedades de pequeno porte no país. Porser uma empresa que se encontra em francocrescimento, essa sistematização se tornauma necessidade premente para aadministração adequada.

O principal objetivo da propriedade, etambém sua maior fonte de renda, é aprodução de hortaliças e, ocasionalmente defrutas. A pecuária de leite era mantidaprincipalmente para a produção do estercoutilizado nas hortas. Devido ao volumecrescente de produção e venda do leiteproduzido, tem sido uma fonte de renda,dominando praticamente o mercado regionalde leite e produtos lácteos orgânicos emBrasília, bem como a comercialização dosanimais nascidos na fazenda. Esses animaisdas raças Gir e Girolanda, representam oresultado da seleção genética que tem sidorealizada na fazenda pelo proprietário aolongo dos anos, bem como o incremento quevem recebendo a raça Gir para produção deleite nas regiões do cerrado. O rebanho daFazenda Malunga é registrado na ABCZ,que uma vez por mês realiza o controleleiteiro desse gado, registrando aprodutividade de cada vaca presente nafazenda.

O leite é beneficiado e embalado napropriedade, sendo vendido no varejo comoleite orgânico pasteurizado. São produzidose comercializados também alguns tipos dederivados, como queijos Minas padrão,Minas frescal, iogurte e outros.

Uma equipe de 35 funcionários trabalha nafazenda e além de salários fixos recebemparticipação nos lucros de cada setor em quetrabalham. Esses funcionários, de acordocom o número de filhos, recebem umaquantidade previamente estipulada de leite ederivados bem como de hortaliças, que sãoretirados no setor de beneficiamento,promovendo um item a mais na qualidade de

vida para quem trabalha na propriedade epara seus familiares.

A propriedade é certificada pela Associaçãode Agricultura Orgânica (AAO), pelaAssociação de Agricultura Ecológica doDistrito Federal (AGE) e se encontraatualmente em negociação com certificaçãopelo Instituto Biodinâmico deDesenvolvimento (IBD).

3.2. Manejo pecuário

O manejo dos animais da fazenda segue asnormas que regulamentam a pecuáriaorgânica. A raça utilizada é a Gir leiteiro,por ser totalmente adaptada ao clima epastagens tropicais e com grande resistênciaa endo e ectoparasitas, o que facilita omanejo orgânico desses animais. É utilizadoum touro Gir para monta natural e repassedas vacas e também inseminação artificialcom semens da raça Holandesa (obtenção deanimais meio sangue) e da raça Gir,(melhoria na seleção genética). As crias quenão são utilizadas na reposição do plantel,são vendidas na região, alcançando bonspreços devido ao alto valor zootécnico quepossuem.

3.2.1. Manejo dos pastosA área é dividida em 104 piquetes deaproximadamente 4000 m2, que formam trêssetores com 30 piquetes cada um. O restanteé utilizado com o plantio de hortaliças.Utiliza-se cerca elétrica com potênciaelevada, já que existe muita vegetação altajunto aos arames. Aos poucos têm sidoimplantadas cercas vivas nessas subdivisões.O sistema de pastejo é o rotacionado, sendoque nos períodos da chuva (novembro aabril) o tempo de descanso de cada piquete éde 30 dias e, na época da seca (maio aoutubro), de aproximadamente 60 dias. Essemanejo poderá ser alterado de acordo com asalterações climáticas e o tipo de solo ecapim desses piquetes.

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Os pastos foram formados segundo asrecomendações para correção de acidez efosfatagem, seguindo as normativas daprodução orgânica. Para implantação daspastagens, no primeiro momento utilizou-sesó um tipo de capim, que ao longo do tempofoi sendo substituído por outros que seadaptavam melhor na fazenda. Atualmenteos piquetes têm uma composição variada,predominando Brachiaria ruiziziensis ebrizanta, grama estrela e Tifton (gêneroCynodon) e leguminosas consorciadas deporte baixo, entre as quais: estilosantes(Stylosantehes guayanensis), amendoimforrageiro (Arachis pintoi) e calopogônio(Calopogonium mucunoides). Dentro dospiquetes e nos corredores encontram-seleguminosas arbustivas, como o guandu(Cajanus cajan) e leucena (Leucaena

leucocephala), além de árvores de maiorporte, como baru, guapuruvu, angico,sucupira e amora.

Os rodízios nos piquetes são distribuídosentre as várias categorias de animais que sãodivididos nos seguintes lotes:Lote 1- vacas recém paridas e vacaspróximas ao parto;Lote 2- Vacas com mais de 120 dias delactação;Lote 3- Vacas secas e novilhas prenhes;Lote 4- Novilhas em recria;Lote 5- Bezerros e bezerras em recria.No verão, quando os capins se desenvolvembem, o lote 1 entra primeiro nos piquetes doprimeiro setor, onde irão comer as pontasdos capins, mais ricas em proteínas. O lote 2entra no dia seguinte e faz o repasse. Oslotes 3 e 4 vão para um segundo setor,também composto de 30 piquetes, e seguema mesma dinâmica: lote 3 entra primeiro eno dia seguinte entra o lote 4. O lote 5 émanejado no terceiro setor, com 12 piquetespróximos ao curral e quando os animaischegam ao peso de reprodução entram parao lote 4. Os bezerros são também apartadose divididos em lotes de 0-30 dias, 30-90 diase 90-180 dias, quando então passam afreqüentar os piquetes do sistema. Até então

ficam em pequenos piquetes próximos aocurral. Esse tipo de manejo passou pordiversos ajustes e treinamento dosfuncionários para ser adaptado às condiçõesda fazenda.

Devido às variações climáticas comuns àregião de cerrado, dividiu-se o manejo emquatro épocas distintas: Chuvas - denovembro a fevereiro; Transição I - demarço a maio; Seca - de maio a setembro;Transição II - de setembro a outubro. Noperíodo das águas, o gado passa 95% dotempo nos pastos, vindo para o curral apenasno momento das ordenhas No período detransição I, permanecem 30% do tempo nocurral onde recebem complementação e 70%do tempo nos piquetes onde ainda existebastante forragem verde. Na seca, o gadopassa 80% do tempo no curral, onde secoloca palha para a cama com o intuito decoletar o esterco e a urina para formação doscompostos que serão utilizados nas hortas.No restante do tempo os animais vão para ospiquetes onde conseguem comer pequenaquantidade de forragem. No período detransição II o gado fica 95% do tempo nocurral e 5% do tempo em dois ou trêspiquetes que são reservados para quepossam se exercitar. No período das chuvasé realizado o armazenamento do excedenteatravés de silagem do capim produzido nacapineira e planta-se mandioca, abóboras eguandu.

3.2.2. Alimentação e suplementaçãoOs concentrados em sua maioria, sãoproduzidos na fazenda, com exceção da soja,que é adquirida de produtores convencionaisna região, e que mais recentemente vemsendo adquirida de produtores orgânicos doParaná. Os animais têm acesso aos pastosdurante o ano todo. Na época das chuvasrecebem sal mineral energético preparado nafazenda, segundo uma fórmula sugerida pelaEmbrapa, e utilizando-se raspa de mandiocacomo substituto do milho desintegrado. Naépoca da seca, é fornecido aos animais umsal proteinado, também preparado na

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fazenda, no qual, além da mandioca éacrescentado farelo de soja e de algodão. Acapineira de capim Napier tem uma área de4 ha, e a cana-de-açúcar ocupa 3 ha sendoutilizados como suplementação de volumosopara os animais.

3.2.3. Manejo ReprodutivoO critério adotado para determinar acobertura da novilha é o peso acima de300kg. As novilhas diagnosticadas gestantessão manejadas junto com as vacas secas.Entre 30 e 40 dias antes do parto previsto,são manejadas junto com as vacas emlactação. As novilhas são escolhidas parapermanecerem no plantel a partir da segundacria. Devido à seleção que tem sidorealizada ao longo dos anos, a idade médiada primeira cria, que era de 48 meses, caiupara 36 meses.

A observação de cio é feita pela manhã e àtarde durante a ordenha e no pasto.Atualmente um touro e um rufião estãosendo utilizados devido aos problemas defertilidade da raça Gir. No caso deinseminação artificial, os procedimentosusuais são realizados. O Intervalo entrePartos (IP) é em média 414 dias (13,8meses). Como não existe pasto maternidadeas vacas prenhes são colocadas 30 dias antesde parir junto com as vacas recém paridas.

3.2.4. OrdenhaA ordenha na propriedade é realizada emsala coberta, piso de cimento e com apresença de pia, sabão e toalha de papel parahigienização das mãos do ordenhador. Aágua é encanada e tratada pela CAESB(Companhia de Abastecimento de Água eEsgoto de Brasília). São realizados o pré epós dipping com água e desinfetante Quilole os tetos são enxutos com toalha de papeldescartável.

São realizadas duas ordenhas ao dia: às 5horas e às 15 horas e é do tipo balde ao pé,com capacidade para duas vacas. Nomomento da ordenha recebem uma mistura

de farelo de soja, farelo de milho e salmineral e os bezerros ficam junto às mães. Avaca é contida pelo ordenhador quehigieniza os tetos, realizando logo após,teste na caneca de fundo preto equinzenalmente o teste de CMT, paradetecção de mamites. Uma das teteiras daordenhadeira é dobrada, ficando um tetolivre para o bezerro mamar durante aordenha. É realizado um rodízio dos tetosque são deixados para os bezerros. Até aunidade de beneficiamento, o leite étransportado em latões. O leite ordenhadopela manhã é beneficiado na mesma manhã,enquanto que o leite ordenhado à tarde ficaarmazenado no tanque de expansão até amanhã seguinte, quando será processado.

A limpeza é realizada após cada ordenha,sendo que os dejetos escoam para um poço,com a finalidade de se produzir composto eadubo para as hortas e capineiras. Todo otrabalho de ordenha é realizado por apenasum empregado treinado, que recebe além dosalário fixo, 1% do valor bruto da produçãoleiteira.

3.2.5. SecagemA secagem é feita 60 dias antes do parto. Ainfusão de antibióticos de longa duração emum ou mais quartos do úbere (terapia davaca seca), não é realizada na fazenda, alémde não ser permitida no sistema orgânico. Asecagem é realizada com a interrupção daordenha e retirada do concentrado. Emalguns casos, com vacas de alta produção,pode ser necessário diminuir de duas parauma ordenha, ou uma vez a cada dois diaspor poucos dias antes que ela sejainterrompida de vez. Caso seja observadoalgum sinal de desconforto ou inchamentoexcessivo, é realizada ordenha manual paraesgotar o úbere.

3.2.6. Manejo dos bezerrosLogo após o nascimento o animal recebe oscuidados de rotina, tais como: cura doumbigo com iodo e observação se está

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mamando o colostro. O bezerro permanececom a mãe por aproximadamente sete dias,mamando à vontade. A vaca é ordenhadaapenas para retirar o excesso de leite. Osistema é o de aleitamento naturalcontrolado, sendo oferecido ao bezerro aténoventa dias, um teto em rodízio. Depoisdessa idade, passa a fazer apenas o repassena mãe após a ordenha. Aos quinze dias, obezerro começa a receber concentrado, fenoe capim. O desmame ocorre aos sete meses.Nos animais puros não é feita a descorna enos mestiços é realizada aos 20 dias.

Após o nascimento, de 30 em 30 dias,realiza-se a pesagem. Aos quatro meses sãotatuados e recebem brincos de identificação.Os bezerros têm acesso a volumoso de boaqualidade, concentrado, feno e água pura.Utiliza-se feno de guandu, estilosantes,tifton, capim elefante e parte aérea demandioca.Os bezerros permanecem em pequenospiquetes, próximo ao curral. São separadosem três lotes: 0-30; 30-90; 90-180 dias e apartir dessa idade, entram para o lote debezerros em recria. O lote de 0-30 diaspermanece em casinha coletiva. O lote de90-180 dias começa a freqüentar os piquetesda propriedade.

3.2.7. Manejo sanitário e profiláticoAs vacas que apresentarem algum quadro demastite recebem tratamento com produtohomeopático (nosódio) manipulado. Sãoadicionadas 60 gotas deste produto paracada kg de açúcar cristal. Adiciona-se umacolher de sopa do preparado ao concentradodas fêmeas. O nosódio é utilizado não só notratamento de mastite, como também paraprevenção de novos casos. Em casos demastite nos quais o tratamento com produtoshomeopáticos não obteve sucesso, éutilizado o tratamento convencional com ouso de antibióticos. Porém, quando este usose faz necessário, é utilizado um período decarência três vezes maior que orecomendado pelo fabricante do antibiótico,

e a certificadora é automaticamente avisadado uso e dos motivos da intervenção.

A homeopatia e a fitoterapia são utilizadastambém no tratamento de doenças comodiarréia e pneumonia. Nos casos em que oquadro clínico do animal é mais grave, aalopatia é utilizada, mas sempre com oacompanhamento de um veterinário o e oconsentimento da certificadora. A utilizaçãode medicamentos é controlada por meio defichas, que devem ser apresentadas àcertificadora. O calendário profiláticoadotado na propriedade pode ser observadono Quadro 1 em Anexos.

3.3. Obtenção e análise de dados

Os dados utilizados nesse estudo foramobtidos mediante a um CD-ROM decompilação de dados, elaborado pelo técnicoque prestava assistência na fazenda noperíodo de 2001 a 2003. Alguns dadosforam obtidos com aplicação de questionáriopreviamente elaborado e por entrevistasrealizadas com o proprietário durante visitasà propriedade.

Como o objetivo do trabalho é de apresentaruma análise de custos da produção orgânicade leite, a coleta e análise dos dados foramfocadas no setor de produção de leite daFazenda Malunga, já que a empresa EstânciaMalunga possui outros setores, como os debeneficiamento e comercialização dederivados lácteos e horticultura.

Os períodos considerados foram relativosaos anos agrícolas de 2002 e 2003,compreendidos entre os meses de maio aoutubro (entressafra) e novembro a abril(safra) de cada um dos anos considerados. Oano agrícola de 2004 foi baseado eminformações obtidas através de entrevistascom o proprietário. A análise realizada foiferramenta desenvolvida em planilhas deExcel da Microsoft, por meio dametodologia de Corte Transversal (Cross-Section), (Yamaguchi, 1996).

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Visando atender a metodologia aplicada,buscou-se coletar dados da estruturaexistente na fazenda que se relacionassemcom a produção de leite: benfeitorias einstalações de modo geral; máquinas;motores e equipamentos; animais deprodução; animais em recria, bem comopastagens e forrageiras cultivadas paraprodução de alimentos volumosos. Devidoàs características peculiares da forma desistematização dos dados nessa propriedade,a análise detalhada e segmentada de cadasetor de produção como sugerida porYamaguchi et al (2002) e Yamaguchi et al.(2005), não pôde ser aplicada na formaoriginal, optando-se pela análise global daatividade e analisando alguns indicadores dedesempenho técnico e econômico.Para os cálculos de custos considerou-se ocurto prazo e o longo prazo. No caso docurto prazo os custos foram consideradosfixos e variáveis. Como custos fixosconsideram-se aqueles que permaneceminalteráveis durante um período de tempo,independentes do nível de produção, mesmoque o recurso não seja utilizado, e que nãoestão sob controle do administrador no curtoprazo. Eles não se incorporam ao produto nocurto prazo, com duração superior a ele e arenovação só se verifica no longo prazo. Oscustos variáveis são aqueles que oadministrador controla no curto prazo, e quepodem ser aumentados ou diminuídos pelaação do administrador e irão aumentar como aumento de produção (sementes, ração,sanidade, mão-de-obra e outros).

Para o cálculo da depreciação anual docapital imobilizado em benfeitorias einstalações; máquinas, motores eequipamentos; forrageiras e animais deprodução, utilizou-se os critérios eprocedimentos do trabalho de Yamaguchi etal. (2002), através do método que consideraa aplicação das cotas e foi computada aseguinte fórmula:

( )( )

−+−=

1r1

rVVD

nfia

em que Da = Depreciação anual; Vi = Valorinicial do bem; Vf = Valor final do bem(valor de sucata); r = Taxa de juros; e n =Vida útil do bem

Como remuneração pelo uso do fator terra edemais itens do capital imobilizado, foiimputada uma taxa anual de 6% sobre ocapital médio imobilizado segundo afórmula:

rx 2)V V

Rfi

a��� �

em que Ra = Valor da remuneração anual

Para o cálculo do Custo Operacional Efetivo(COE) foram consideradas todas as despesasrealizadas no curto prazo, ou seja, asdespesas ocorridas dentro dos anos agrícolasconsiderados para o processo produtivo.

Como Receita, considerou-se a venda doleite para o setor de beneficiamento daempresa Estância Malunga, no valor médiode R$0,40, que era o valor histórico pago aoleite convencional nos períodos de 2002 e2003 e era também o valor contabilizadopelo escritório. O preço de venda nomercado do leite beneficiado era, em média,R$ 1,90. A venda de animais não foiconsiderada separadamente, fazendo partedas receitas também, já que constitui umagrande fonte de renda para a fazenda e osetor de produção de leite. Como o rebanhoestava estabilizado durante os dois períodosanalisados, ocorria apenas reposição doplantel de acordo com a seleção que estavasendo realizada pelo proprietário, e orestante dos animais eram vendidos comoanimais de produção para as fazendas daregião.

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O Custo Operacional Total (COT) foi obtidoatravés da soma do COEF e dasdepreciações calculadas para máquinas,benfeitorias e animais de serviço. Para ocálculo da Renda Líquida (RL), optou-sepela Renda Líquida Total (RLT) obtida daseguinte fórmula:

RLT = RBT – CT

em que RBT = Renda Bruta Total e CT =Custo Total

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apuração dos custos constitui importanteinstrumento de gestão da atividade leiteira,fornecendo elementos que permitem estudaros processos de transformação ocorridos emcada setor e apropriando os custos incorridosem cada um deles. A análise dos custospermite ajustes e organização do processoprodutivo em cada setor considerado, de talforma que a otimização do sistema global éalcançado à medida que se obtém aotimização em cada um deles (Yamaguchi etal., 2005). O termo custo significa, para finsde análise econômica, a compensação que osdonos dos fatores de produção utilizados poruma empresa para produzir determinadobem, devem receber para que eles continuemfornecendo esses fatores à empresa(Hoffmann et al., 1987).

A Estância Malunga classifica suas áreas deprodução para efeito de contabilidade, emtrês setores: Primário (produção de leite edas hortaliças); Secundário (beneficiamento)e Terciário (comercialização). Considera-seno caso da produção de leite, que há umaremuneração realizada pela empresa àFazenda Malunga pelo leite produzido.Apesar de ser leite orgânico e por issocomercializado com valores diferenciados, opreço bruto (R$ 0,40) considerado é o

mesmo que os laticínios pagavam aosfornecedores de leite convencional nosperíodos considerados.

O preço histórico pago aos produtores deleite orgânico, tem sido em média R$ 0,80.Nas análises a seguir, serão elaboradastabelas com o preço real considerado e como preço histórico para fins comparativos.

Na Tabela 1 podem-se observar os valoresobtidos com a venda do leite para a EstânciaMalunga, os valores recebidos pela vendados animais, bem como as despesasocorridas ao longo de cada um dos dois anosagrícolas, que vão representar os CustosVariáveis (CV).

No ano de 2002, a participação da venda deanimais no percentual da Receita foi maiselevada, devido ao descarte dos animais quenão se adequavam à seleção que estavaocorrendo na propriedade. O rebanho nosdois anos em questão se manteveestabilizado em 96 fêmeas nas quatrocategorias (vacas em lactação, vacas secas,novilhas e bezerras). Como a meta doprodutor é o aumento da produtividade dasvacas e selecionar os animais queapresentem maior volume de produção porlactação, no ano de 2003 houve um customaior com a aquisição de concentrados paraque isso pudesse ser alcançado, significandoum aumento de 63,12% nos custos relativosao concentrado em relação ao ano de 2002.

A mão-de-obra apresentou um acréscimo de35,52% no ano de 2003, principalmente noperíodo da safra que foi 80,12% maior queno período da safra de 2002. Esse aumentorelativo pode ser explicado pela contrataçãode mão-de-obra temporária para a reformados pastos e das cercas. Nos outros períodosse manteve estável apenas com a mão deobra normalmente utilizada para a produção.

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Tabela 1 Receitas, Despesas e COE da Fazenda Malunga em 2002 e 2003

RECEITAS 2002 % 2003 %

Venda de Leite (R$ 0,40/L) 23.547,60 34,10 24.480,00 39,06

Venda de Animais 45.500,00 65,90 38.200,00 60,94

TOTAL DE RECEITAS 69.047,60 100 62.680,00 100

DESPESAS

Mão-de-obra 12.437,03 39,93 16.855,01 36,75

Concentrado / Sal Mineral 10.565,09 33,92 17.233,71 37,58Sanidade Animal 756,60 2,43 728,95 1,59

Energia e Combustível 741,99 2,38 1.141,19 2,49Assist. Técnica 1.171,00 3,76 854,00 1,86

Certificação 119,58 0,38 1.579,20 3,44Impostos e Taxas 1.359,31 4,36 1.565,62 3,41

Forragens 2.143,49 6,88 3.946,77 8,6Inseminação 414,90 1,34 401,50 0,88

Consertos e Reparos 1.035,41 3,32 857,67 1,53Outros 401,00 1,30 702,71 1,87

TOTAL DO COE 31.145,40 100 45.866,33 100 Fonte: Dados da Fazenda Malunga

Os Gráficos 1 e 2 apresentam colunascomparativas, um em valores monetários e ooutro em percentual, dos custos de produçãonos dois anos analisados. Observa-se que amaior parte do gasto para produção do leiteé com a mão-de-obra e concentrado/salmineral, sendo que pelos valores percentuaisrepresentados no Gráfico 2, significam73,85% e 74,33% do total dos custos nosanos agrícolas de 2002 e 2003respectivamente

Já o item certificação, apesar de nãorepresentar grande parcela no montante doscustos variáveis, sofreu aumento

considerável. Em 2002 o processo decertificação realizado pela AGE-DF jáestava pronto, significando um total deR$119,00, que era correspondente apenas àstaxas de utilização do selo. Em 2003 afazenda passou a ser inspecionada pelaAAO/SP, que por ser uma certificadora denível internacional e de outro estado, possuicustos mais elevados. As despesas iniciaiscom certificação são mais onerosas já queincluem o deslocamento do inspetor em duasou três visitas no mesmo ano. De acordocom o proprietário em 2004 esse valor caiupara aproximadamente R$ 800,00.

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0,00

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

12.000,00

14.000,00

16.000,00

18.000,00

20.000,00

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2002

2003

Gráfico 1. Colunas Comparativas das despesas (em R$) da Fazenda Malunga em 2002 e 2003

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

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2002

2003

Gráfico 2. Colunas comparativas das despesas em % na Fazenda Malunga em 2002 e 2003

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Na tabela 1a onde se considera o preço deR$0,80/L observa-se que, devido ao preçodiferenciado pago ao leite, a participação davenda de animais em Receitas ficou menor

que o preço recebido pelo leite, nos doisanos considerados. Já o item Despesas nãovariou, pois os custos independem dosvalores recebidos pela venda do leite.

.Tabela 1a. Receitas, Despesas e COE da Fazenda Malunga em 2002 e 2003

RECEITAS 2002 % 2003 %

Venda de Leite (R$ 0,80/L) 47.095,20 50,86 48.960,00 56,17

Venda de Animais 45.500,00 49,14 38.200,00 43,83

TOTAL DE RECEITAS 92.595,20 100 87.160,00 100

DESPESAS

Mão-de-obra 12.437,03 39,93 16.855,01 36,75

Concentrado / Sal Mineral 10.565,09 33,92 17.233,71 37,58Sanidade Animal 756,60 2,43 728,95 1,59

Energia e Combustível 741,99 2,38 1.141,19 2,49Assist. Técnica 1.171,00 3,76 854,00 1,86

Certificação 119,58 0,38 1.579,20 3,44Impostos e Taxas 1.359,31 4,36 1.565,62 3,41

Forragens 2.143,49 6,88 3.946,77 8,6Inseminação 414,90 1,34 401,50 0,88

Consertos e Reparos 1.035,41 3,32 857,67 1,53Outros 401,00 1,30 702,71 1,87

TOTAL DO COE 31.145,40 100 45.866,33 100 Fonte: Dados da Fazenda Malunga

Na tabela 2, calculou-se o Custo do CapitalImobilizado nos anos agrícolas de 2002 e2003, para que se chegasse ao custo total daatividade. Em 2002, o proprietário investiuem cercas subdivisórias para que houvessecondições de aplicar o manejo rotacionadodos pastos e conseqüentemente melhorar oaproveitamento das forrageiras. As áreas deplantio de capineira e cana também foramaumentadas, bem como reforma dos pastos eincorporação de leguminosas. Iniciou-se aconstrução de um curral para expor osanimais aos compradores interessados, jáque a demanda aumentou e não havia infra-estrutura adequada para esse tipo decomércio. O valor gasto com esseinvestimento foi excluído dos cálculostotais, pois o aporte de capital não seoriginou da fazenda e sim da empresa. Porserem benfeitorias depreciáveis em longoprazo, haveria incorporação de outroscálculos de depreciação e o proprietário

resolveu que seria um momento decisório ede maior investimento na fazenda, já que afazenda teria que ser auto-suficiente eestável em termos de rendimentos.Durante o ano de 2003, não ocorreraminvestimentos de maior porte no setor deprodução de leite, já que nesse período oenfoque maior foi para os outros setores daEstância. De acordo com o proprietário, aempresa se encontrava num limite decisórioe precisava expandir. O que ele esperava eraque houvesse retorno dos investimentosrealizados anteriormente e isso só poderiaser sentido após um período deconsolidação.No ano de 2004 o resultado esperado foialcançado, uma vez que a produção de leiteaumentou para 88.710 L/ano e o número devacas em lactação se manteve semelhanteaos outros anos. Houve também reflexo naprodução devido ao processo de seleção dasnovilhas que já vinha sendo realizado

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Tabela 2 Custo do Capital Imobilizado da Fazenda Malunga em 2002 e 2003

2002 % 2003 %

COE 31.145,40 81,12 45.866,33 86,37

DEPRECIAÇÕES

Máquinas 3.337,08 8,70 3.333,02 6,28

Benfeitorias 3.859,63 10,05 3.858,11 7,26

Animais de Serviço. 50,00 0,13 50,00 0,09

Total do COT 38.392,11 100,00 53.107,46 100,00

COT 38.392,11 68,67 53.107,46 75,63

REMUNERAÇÕES

Máquinas 1.042,70 1,86 844,13 1,21

Benfeitorias 2.149,00 3,85 1.906,86 2,71

Animais Produção e Serviço 5.466,00 9,77 5.466,00 7,78

Terra 7.500,00 13,41 7.500,00 10,68

Capital Circulante 1.361,80 2,44 1.398,99 1,99

Custo Capital Imobilizado 55.911,61 100,00 70.223,44 100,00

Fonte: Dados da Fazenda Malunga

De acordo com os dados que sãodisponibilizados nas propriedades e quepodem ser utilizados para uma análiseeconômica, deve-se tentar adequar osresultados obtidos aos procedimentosusualmente utilizados. No caso da FazendaMalunga, a segmentação por setores taiscomo Produção de Leite, Produção deNovilhas e Produção de AlimentosVolumosos como é indicado por Yamaguchiet al. (2002) e Yamaguchi et al. (2005), nãose torna possível, já que a manutenção deregistros na propriedade não é realizadadetalhadamente e o volume de venda dosanimais é grande, ocorrendo ao longo do anotodo. O custo de produção das novilhassempre se altera devido ao grandemovimento de venda dos animais queacontece de acordo com as oportunidadesque surgem. Na produção de volumososmuitos dados estavam disponíveis, mas nãose tornou possível levantar o volume e ocusto total devido ao grande aporte, para acomplementação alimentar dos animais, deresíduos das hortaliças que sãocomercializadas já limpas e embaladas. Aquantidade desses resíduos é muito variávele não é quantificada. A análise global daatividade se torna então mais viávelindicando qual é a realidade da fazenda,

apesar de não apresentar informações tãoprecisas.

Para análise da Renda Líquida (RL), optou-se pela Renda Líquida Total (RLT) e não aOperacional (RLOp). Portanto, não foiconsiderada a remuneração doadministrador, que será remunerado com olucro liquido, mas manteve-se aremuneração de capital circulante. Existeuma integração muito grande da Fazendacom as atividades secundárias e terciárias daEstância Malunga, não sendo possíveldeterminar a quantidade de subprodutosoriundos da Fazenda que vão para a Estânciae vice-versa (compostos para adubação,resíduos das hortaliças, etc). O leite que édestinado para o consumo interno écontabilizado no setor de laticínio, já que osfuncionários recebem aí as cotas a que têmdireito. A remuneração do administradorteria que ser analisada em conjunto com todaatividade da empresa, pois o tempodisponibilizado pelo mesmo distribui-sediariamente para a administração de toda apropriedade, e varia conforme a necessidade.De acordo com Vale & Gomes (2005), comono custo total (CT) são incorporados oscustos de oportunidade (CO), ou seja, aremuneração do capital investido, uma RLT

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positiva significa que a opção do produtorem alocar seus recursos para a produçãoagrícola proporciona melhor retorno emrelação ao que obteria, caso tivesse adotadoo uso alternativo. Da mesma forma, a RLTnegativa implica que o produtor, no mínimo,deixou de ganhar, ao optar pelo emprego dosrecursos produtivos na agricultura, poisobteria melhor resultado no uso alternativo.Finalmente, a RLT nula significa que oretorno do capital investido na empresaproporcionou o mesmo retorno que seriaobtido, se o produtor tivesse optado pelo usoalternativo.

A RL é um dos indicadores maisimportantes para a análise econômica deuma atividade, já que o CT engloba oscustos de oportunidade do capital. Apesar daRL não ser indicativa se houve ou nãoprejuízo financeiro no processo produtivo, eas análises são comparativas ao retorno quese obteria com o capital aplicado em outrasopções (no caso desse estudo foi aremuneração da Caderneta de Poupança,considerando juros de 6% ao ano), podehaver uma complementação com outrosindicadores. A análise da RLT permitechegar às seguintes conclusões; a) se a RLTda exploração for positiva, pode-se concluirque essa é estável e com possibilidade deexpansão (LSN); b) se o valor da produçãodas explorações for igual ao total de custos,ou seja, RLT igual a "zero", a propriedadeestará no ponto de equilíbrio e em condiçõesde refazer no longo prazo, seu capital fixo(LN); c) se RLT for negativa, mas emcondições de suportar os custos variáveis(MB > 0), pode-se concluir que o produtorpoderá continuar produzindo pordeterminado período, embora com umproblema crescente de descapitalização. AMargem Bruta (MB) é o resultado dadiferença entre o valor da produção obtida eos custos variáveis atribuídos à exploraçãono período considerado (Reis, 2002; Vale &Gomes, 2005).

A Tabela 3, mostra a Análise da RendaLíquida Total em 2002 e 2003, onde seobserva um rendimento negativo em 2003,já que houve investimento maior no itemConcentrados, como foi apresentado naTabela 1, não proporcionando aumentoimediato na produção de leite. Esseacréscimo foi observado apenas no anoseguinte, em que o volume de 61.200 L/anode 2003 passou para 88.710 L/ano em 2004mantendo-se praticamente o mesmo númerode animais no rebanho.

Tabela 3. Análise da Renda Líquida Total em2002 e 2003DISCRIMINAÇÃO 2002 2003Total do COT 38.392,11 53.107,46Remunerações 17.511,50 17.113,98Custo Total 55.911,61 70223,44Venda de leite 23.547,60 24.480,00Venda de animais 45.500,00 38.200,00Renda Bruta 69.047,60 62.680,00Renda Líquida Total 13.135,99 -7.543,44

Fonte: Dados da Pesquisa

No ano de 2002 a RLT foi de R$13.135,99,demonstrando que a exploração era estávelcom LSN, sendo que a MB foi de R$37.902,20. No ano de 2003 a RLT foinegativa em R$7.543,44 mas a MB foipositiva, R$16.813,67, significando que nocurto prazo a atividade está se remunerando.Para conclusões no longo prazo, devem seranalisados que apesar do ano de 2003 terapresentado prejuízo econômico com a RLTnegativa, no ano de 2004 a receita com aprodução de leite (R$35.484,00) e a vendade animais (R$35.500,00) foi deR$70.984,00 e a MB foi aproximadamenteR$17.876,00, considerando que, de acordocom o proprietário, não houve grandesalterações no COT em relação ao ano de2003. A RLT, considerando-seaproximadamente os mesmos CV e CF de2003 foi positiva R$760,56, que seriaconsiderado próximo de "zero" com LN,indicador do ponto de equilíbrio e emcondições de refazer, no longo prazo, ocapital fixo.

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O Gráfico 3 apresenta as colunascomparativas dos custos e das receitas de

2002 e 2003 em valores monetários.

-10.000,00

0,00

10.000,00

20.000,00

30.000,00

40.000,00

50.000,00

60.000,00

70.000,00

80.000,00

COE

Deprec

iaçõe

s

Total d

o COT

Remun

eraçõ

es

Custo

Total

Renda

Bru

ta

Renda

Líq

uida

Especificações

R$ 2002

2003

Gráfico 3. Análise comparativa (R$) dos custos e das receitas de 2002 e 2003 da FazendaMalunga com a remuneração do leite a R$0,40/L

Na Tabela 3a, quando se considera o valorde R$ 0,80 pelo litro de leite produzido, orendimento de 2002 aumentou para R$36.368,59, possibilitando uma remuneraçãorazoável para o administrador. No ano de2003 esse rendimento sofre uma redução de46,16%, reflexo do aumento do COT, masmesmo assim se manteve positivo,permitindo a remuneração do administrador.No Gráfico 3a esse acréscimo nos resultadosdos valores dos rendimentos em 2003 e 2004pode ser observado através de colunascomparativas entre os dois anosconsiderados.

Tabela 3a. Análise da Renda Líquida Total em2002 e 2003

DESCRIÇÃO 2002 2003Total do COT 38.392,11 53.107,46Remunerações 17.511,50 17.113,98Custo Total 55.911,61 70223,44Venda deleite(R$0,80) 47.095,20 48.960,00Venda de animais 45.500,00 38.200,00Renda Bruta 92.595,20 87.160,00Renda LíquidaTotal 36.683,59 16.936,56 Fonte: Dados da Pesquisa

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0,00

10.000,00

20.000,00

30.000,00

40.000,00

50.000,00

60.000,00

70.000,00

80.000,00

90.000,00

100.000,00

COE

Deprec

iaçõe

s

Total d

o COT

Remun

eraçõ

es

Custo

Total

Renda

Bru

ta

Renda

Líq

uida

Especificações

R$ 2002

2003

Gráfico 3a Análise comparativa (R$) dos custos e das receitas de 2002 e 2003 da FazendaMalunga com a remuneração do leite a R$0,80/L

O custo unitário da produção de leite foiestimado a partir do custo total da atividadeleiteira e pode ser observado na Tabela 4.Como está se considerando a análise total daatividade, e é uma característica peculiar dapropriedade, a venda de animais apresentouuma participação relativamente alta nopercentual total da receita (65,9%; 60,94%respectivamente e 50,01% no ano de 2004).Essa comercialização não é em função dedescarte de animais não produtivos ou paraajustamento do fluxo de caixa. Faz parte daatividade também, já que o proprietárioseleciona animais puros para seremvendidos, bem como tem realizado umaseleção dos animais mais produtivos.

Yamaguchi et al. (2005), consideram que osresultados obtidos do custo de produção deleite no método tradicional podem conter

erros de estimativa em função do maior oumenor número de animais descartados,apresentando falsa renda positiva, sugerindoque há a necessidade de um ajustamentoprévio do rebanho para que a análise possaser realizada. No caso da Fazenda Malungao montante recebido pela venda de animais,sofreu variação de um ano para o outro,devido ao descarte e oscilações de preçosdos animais em 2002, e variações nosnascimentos e sexo dos bezerros. Como jáfoi dito anteriormente, o rebanho se manteveestabilizado, havendo substituição das vacasque não se adequavam à seleção para a metaesperada na propriedade, de uma média porlactação de 3000kg/ano. Os resultados darenda líquida unitária em litros de leitedemonstram que a renda obtida com a vendado leite, mesmo se considerando como valorde leite convencional (R$0,40/L), pode

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remunerar o empresário pelos seus serviçoscomo empreendedor e pelos riscosincorridos.

Ao se observar os dados da Tabela 4a onde opreço foi de R$ 0,80, a tendência da RL

unitária foi de aumento, remunerandoconsideravelmente o administrador edemonstrando a viabilidade econômica daatividade.

Tabela 4: Análise da Renda Líquida da Atividade Leiteira da FazendaMalunga, expressos em equivalentes litros de leite

DESCRIÇÃO 2002 2003 2004*

Custo total unitário da atividade (R$/L ) 0,95 1,14 0,79Menos venda de animais (R$/L) 0,63 0,70 0,39Custo total unitário do leite (R$/L ) 0,32 0,44 0,40Preço unitário recebido (R$/L) 0,40 0,40 0,40Renda líquida unitária (R$/L ) 0,08 -0,04 0,00Fonte: Dados da pesquisa* Dados obtidos por comunicação pessoal do proprietário

Tabela 4a. Análise da Renda Líquida da Atividade Leiteira da FazendaMalunga, expressos em equivalentes litros de leite

DESCRIÇÃO 2002 2003 2004*

Custo total unitário da atividade (R$/L ) 0,95 1,14 0,79Menos venda de animais (R$/L) 0,63 0,70 0,39Custo total unitário do leite (R$/L ) 0,32 0,44 0,40Preço unitário recebido (R$/L) 0,80 0,80 0,80Renda líquida unitária (R$/L ) 0,48 0,36 0,40Fonte: Dados da pesquisa* Dados obtidos por comunicação pessoal do proprietário

Na Tabela 5, foram selecionados algunsindicadores de medida e de desempenhotécnico da atividade leiteira da propriedade,para efeito de comparação com dadoshistóricos da atividade leiteira nacional. Naanálise dos dados referentes aos indicadores,observa-se que mesmo sendo umapropriedade considerada de pequeno porte,os índices de produtividade são semelhantesa propriedades de grande porte. Comparandocom índices da Fazenda Calciolândia emUberaba-MG, que é uma das propriedades

mais antigas e tradicionais do país emseleção de Gir leiteiro (Calciolândia...2005)e que possui uma média total no rebanho de8/L/dia, pode-se observar que a média deprodução dos três anos avaliados na FazendaMalunga é semelhante. O manejo daFazenda Calciolândia é semelhante, sendoque o pastejo rotacionado foi implantadodesde 1992 e os animais recebem volumosono cocho como complementação na épocada seca, e concentrado durante a ordenha.

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Tabela 5: Indicadores de medidas e desempenho técnico da Fazenda Malunga nos anos de2002, 2003 e 2004

DESCRIÇÃO ANO2002 2003 2004

INDICADORES DE MEDIDASRebanho total (cab.) 98 98 102Leite produzido (1000 L/ano) 58,86 61,2 88,7Ponto de Equilíbrio (1000 L/ano) 48,56 68,8 88,7Produção diária de leite (L) 161,2 167,6 243,1

INDICADORES DE DESEMPENHOProdução por ha (L/ha/ano) 1.308 1.360 1.774,2Taxa de lotação (UA/ha) 2,17 2,17 2,26Produção média anual L/ano (280 dias lactação) 2.030 2.110 3.058Média diária produção por vaca (L/dia) 7,25 7,53 10,92

Fonte: Dados da pesquisa

O Ponto de Equilíbrio (PE) ou denivelamento significa a quantidade de leiteque deve ser vendida para cobrir os custosde produção. Pode-se observar que em 2003o PE foi maior que a quantidade produzidade leite, reflexo dos altos custos de produçãodeste ano, apresentando o nível zero no anode 2004, onde o custo se equilibrou com aprodução. Qualquer valor obtido acima doPE significa lucro líquido, o que se observano ano de 2002. Se considerarmos aremuneração de R$ 0,80 o PE para cada anose reduz em 50%, demonstrando que o anode 2003, em que o volume de leiteproduzido foi menor que o PE (61.200L/ano), passa a ser rentável também (34.400L/ano), bem como o ano de 2004. A Tabela6 apresenta alguns indicadores para análisedo desempenho econômico da propriedade ea Tabela 7 traz os indicadores dedesempenho em alguns estados do Brasil.

Tabela 6. Indicadores de DesempenhoEconômico da Fazenda Malunga nos anos de2002 e 2003

INDICADORES 2002 2003

Taxa de Remuneração do Capital 0,048 0,02

Capital Imobilizado/L 4,57 4,28

Giro do Capital Imobilizado 0,25 0,23

Fonte: Dados da Pesquisa

Ao se comparar com os desempenhos daspropriedades de alguns estados brasileiros, ovalor da Taxa de Remuneração de Capitalem 2002 e 2003, se aproxima dos valoresencontrados para o estado de São Paulo, queapresentou o menor valor. Essa taxa vaiindicar o retorno médio anual do ativoimobilizado na atividade total, estandorelacionada com a RLT. O aumento dosvalores da Taxa de Remuneração de Capitaldependerá do aumento da RLT.

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A média do Capital Imobilizado por litro deleite nos dois anos analisados, 4,42/L, ficoumuito acima das médias nacionais,demonstrando um alto nível de ociosidadedesse capital. Como está diretamenterelacionado com o volume de leite

produzido, se o produtor alcançar as metaspretendidas a tendência é que esse índicediminua aumentando o desempenho daatividade leiteira dentro da Estância (Tabela7).

Tabela 7. Indicadores de desempenho selecionados para aferir a eficiência econômica da atividade leiteiraem alguns estados do Brasil

Estado Variável1 2 3 4 5

Abaixo da Média 0,84 2.854,92 0,01 0,81 0,22n 17 17 16 21 15

Média Geral 1,69 6.034,23 0,07 1,12 0,34n 30 30 30 30 30

Acima da Média 2,80 10.191,79 0,13 1,84 0,46n 13 13 14 9 15

Abaixo da Média 0,55 2.446,44 0,05 0,74 0,29n 15 17 16 17 15

Média Geral 1,00 4.565,65 0,11 1,02 0,42n 30 30 30 30 30

Acima da Média 1,45 7.336,93 0,18 1,39 0,56n 15 13 14 13 15

Abaixo da Média 2,28 15.500,93 0,06 0,55 0,39n 18 19 15 17 17

Média Geral 3,21 22.159,67 0,14 0,71 0,53n 30 30 30 30 30

Acima da Média 4,62 33.661,13 0,22 0,91 0,71n 12 11 15 13 13

Abaixo da Média 1,74 11.315,58 0,06 0,69 0,40n 33 33 30 37 34

Média Geral 3,31 23.066,08 0,16 1,09 0,66n 42 42 42 42 42

Acima da Média 4,65 35.396,46 0,24 1,42 0,79n 9 9 12 5 8

Abaixo da Média 0,88 4.738,10 -0,02 0,98 0,18n 16 20 19 18 19

Média Geral 1,58 8.787,80 0,02 1,44 0,29n 30 30 30 30 30

Acima da Média 2,38 16.887,20 0,09 2,13 0,47n 14 10 11 12 11

Indicador1

GO

SP

RS

PR

MG

1. Taxa de Lotação das Pastagens (Número de vacas em lactação/Área de pastagens).2. Produtividade das Pastagens (Produção anual de leite/Área de pastagens).3. Taxa de Remuneração do Capital (Margem líquida/Valor do ativo imobilizado).4. Ativo imobilizado por litro de leite (Valor do ativo imobilizado/Produção de leite).5. Giro do Ativo Imobilizado (Faturamento/Valor do ativo imobilizado).Fonte: Yamaguchi et al. (2005)

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O Giro do Capital Imobilizado apresentouresultados próximos aos índices de Goiás eSão Paulo. Como o valor pago ao leiteproduzido organicamente, foi consideradocomo o valor pago ao leite convencional,R$0,40, o aumento para R$0,80/L,proporcionaria a duplicação da receita obtidacom a venda de leite. Esse valor é pago pelolaticínio de Uberaba aos produtorescertificados A duplicação dos índices doGiro do Capital Imobilizado da propriedadeficaria com valores próximos aos índicesmédios de Minas Gerais e Paraná,tradicionais produtores leiteiros,aumentando a velocidade do Giro de CapitalImobilizado.

5. CONCLUSÕES

O valor recebido pelo leite orgânicoproduzido na Fazenda Malunga foiconsiderado para análise como sendoR$0,40/L, que é o valor contabilizado naempresa. O valor sugerido de R$0,80, que épreço histórico pago aos produtores de leiteorgânico na região do Triangulo Mineiro,São Paulo e Paraná, permitiria um aumentosubstancial na RB relativa ao total recebidopelo leite e conseqüentemente a RLT. Aprodução orgânica de leite pode ser umaalternativa viável para a realidade brasileirade pequenas propriedades e até mesmo paraa agricultura familiar, mas deve-se levar emconsideração que dependerá doenvolvimento do produtor e seucomprometimento com a conversão aosistema orgânico.

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ANEXOS

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Quadro 1 - Calendário Profilático da Fazenda Malunga nos anos de 2002, 2003 e 2004

Atividade Quando realiza Observação

Cura do umbigoNo dia do nascimento e pormais dois dias

Tintura de iodo

Fornecimento do colostro 1 semanaBezerro permanece com a mãe,cerca de 3 dias

Tratamento diarréia 1 litro ao longo do dia

Soro:5colheres de açúcarhomeopatizado + 1 colher sal +1 colher bicarbonato + 3gotaslimão, via oral em 1litro deágua.

Vermifugação bezerros 90 dias Medicamento alopático

Vermifugação adultos ConstanteTronco e folha de bananeirapicados no cocho

Quando há alta infestação200ml de óleo de Nim em 10lde água

Banho carrapaticida e mosca-de-chifre

ConstanteAçúcar homeopatizadoadministrado no sal mineral400g de em 20kg de sal

Prevenção e tratamento mastite ConstanteAçúcar homeopatizadoadministrado no concentrado

CMT Quinzenalmente Antes da ordenhaCaneca de fundo escuro Diariamente Antes da ordenha

Vacina brucelosePrimeira vacinação entre 4 e 8meses. Anualmente.

As fêmeas e os reprodutores

Vacina aftosa Maio/ Novembro Conforme calendário MAPAVacina Paratifo 30 dias antes do parto Bezerros aos 15 e aos 30 dias.Exame Brucelose 2 vezes ao ano Vacas acima de 24 mesesExame Tuberculose 2 vezes ao ano Todos os animais

Fonte: Fazenda Malunga