Anaximandro de Mileto

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Arlindo Nascimento Rocha Graduado em Filosofia pela UNICV http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4300114T0 http://blaisepascalogenio.blogspot.com.br/ http://www.youtube.com/watch?v=vTa4MuEkTes

Transcript of Anaximandro de Mileto

Arlindo Nascimento Rocha

Graduado em Filosofia pela UNICVhttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4300114T0

http://blaisepascalogenio.blogspot.com.br/

http://www.youtube.com/watch?v=vTa4MuEkTes

ANAXIMANDRO DE MILETO

• Anaximandro foi discípulo de Tales, segundo filosofo da escola jônica, natural de Mileto.

Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político.

• Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. Autor do primeiro mapa da história e

iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o Ápeiron, o

infinito.

• Ao contrário de Tales não deu à gênese um caráter material. O apeíron é eterno e

indivisível, infinito e indestrutível, é o fundamento da geração de todas as coisas, a

ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio.

• Anaximandro imaginava a terra como um disco suspenso no ar. Diz-se também, que

preveniu o povo de Esparta de um terremoto.

VIDA

• Filho de Praxíades e discípulo de Tales, 14 ou 24 anos mais jovem que o mestre, mas

ambos morreram mais ou menos no mesmo ano.

• Nasceu na Cidade de Mileto em 610 a.e.c.. Segundo Diógenes Laércio, Anaximandro

tinha 64 anos por ocasião da 58ª olimpíada (547 a.e.c.) e logo depois morreu, é possível

fixar, que faleceu cerca de 545 a.e.c.

• Anaximandro foi político, professor, administrador e construtor de relógios solares, há

que diga que ele foi o inventor dos Gnômons (Relógios Solares), mas é uma teoria

bastante discutível uma vez que os gregos adotaram essa tecnologia além das dozes

horas do dia dos babilônicos.

• Mas de qualquer forma, foi Anaximandro quem introduziu os Gnômons na Grécia.

PREVISÃO DE UM TERREMOTO

• A previsão do terremoto de Anaximandro deve ter acontecido pela experiência a respeito

uma vez que Mileto estava dentro de uma zona sísmica.

• Diógenes Laércio afirma que Anaximandro foi o primeiro a definir um perímetro da terra e

do mar. Além de construir um mapa da terra habitada, que foi aperfeiçoada

posteriormente por Hecateo de Mileto.

• Seu mapa-múndi foi um desenho circular, em que as regiões conhecidas (Ásia e Europa)

formavam segmentos aproximadamente iguais e todo ele rodeado pelo oceano.

• Os conhecimentos geográficos de Anaximandro se baseavam nas notícias de

navegantes que seriam abundantes e variadas em Mileto, centro comercial e de

colonização.

• A Tradição considera Anaximandro, antes de tudo, um filósofo, sucessor e discípulo de

Tales, cuja filosofia devemos interpretar como um desenvolvimento interno do

racionalismo de seu mestre. :

IDEIAS FILOSÓFICAS

Anaximandro desenvolveu as seguintes ideias filosóficas:

• a) O ápeiron - Anaximandro afirma que o principio de todas as coisas existentes

não é nenhum de os denominados elementos (água, ar, terra, fogo), se não alguma

outra natureza ápeiron [indefinido o infinito]

• b) O cosmos - Do centro do ápeiron eterno se agrega espécies de elementos, sem

determinações, principalmente sem qualidades contrárias. Este cosmos é dinâmico

e temporal que tem sua origem e seu fim no ápeiron.

• c) A diversidade de mundos - Todas as fontes procedentes de Teofrasto (Simplício,

Hipólito e Ps. Plutarco) atribuem a Anaximandro ideia de mundos infinitos

(simultâneos e sucessivos).

• Em Anaximandro encontramos um problema semelhante ao de Tales de Mileto, pois em

ambos pensadores as atividades científicas e filosóficas recaem na mesma pessoa

subjetiva.

• Anaximandro poderia ser interpretado do ponto de vista científico como uma espécie de

cosmólogo, do mesmo modo que Tales poderia ser interpretado como um fisiólogo ou

biólogo.

• Mas a cosmologia de Anaximandro, é igual a physis de Tales e está coberta por ideias

filosóficas.

• As ideias de Anaximandro (o ápeiron, o cosmos, a dinâmica e temporalidade do mundo)

só adquirem uma escala adequada ao compará-las como um desenvolvimento interno

dos problemas presentes no racionalismo de Tales, de tal modo que se poderia afirmar

que muitos de suas ideias científicas estão cumprindo funções ontológicas, só podem ser

entendidas por meio de suas ideias filosóficas.

OBRAS

• É atribuído a Anaximandro a autoria de quatro livros:

• Sobre a natureza, Perímetro da terra, Sobre as estrelas filhas e uma Esfera celeste.

• A denominação Sobre a natureza era o título clássico que tendia a conferir-se

os escritos de todos aqueles que Aristóteles denominou fusikoí.

• Possivelmente o livro de Anaximandro não tinha título e os títulos de Suídas

seriam simplesmente capítulos de um livro fundamental. O que se parece certo,

a partir dos fragmentos subsistentes e dos testemunhos, que Anaximandro foi o

primeiro de que se tem noticia que escreveu um livro em prosa.

• A importância do escrito em prosa reside em que Anaximandro, como filósofo

que continua a tradição de Tales, inaugura um gênero literário novo, distinto do

verso utilizado pela tradição dos poetas e educadores.

DOUTRINAS

• O Ápeiron é o conteúdo da arché (origem de toda a matéria). O termo ápeiron é composto dapartícula privativa a e o término péra (limite, borda). Etimologicamente ápeiron significa semlimites.

• A ideia de ápeiron pode adquirir diferentes sentidos segundo os diferentes parâmetros quefizermos para o limitado:

• Assim, se tomamos como parâmetros o limitado dos objetos concretos do mundo dasformas (uma lâmina metálica, uma cinta), ápeiron será o que não tem bordas ouextremos, porque se uniu a um anel.

• Aristóteles e Aristófanes apontaram a associação do ápeiron com algo circular ouesférico, circulo pode ser tomado, por sua vez, como referencia do limitado (cosmosesférico limitado por uma superfície imersa em um espaço vazio), e, então o ápeiron seriauma esfera de raio infinito, sem limites. o ápeiron seria, pois, o circulo, o infinito emextensão espacial.

• Se tomarmos como modelo de limitado a água de Tales em quanto determinação do arché,então o ápeiron de Anaximandro será a negação que, em seu uso filosófico, se exerce sobre ametafísica de Tales. A água de Tales sim é algo determinado não pode ser arché. O ápeironaparece assim como uma alternativa ao monismo da substância e, por onde, não pode ser nemágua nem nenhum dos denominados elementos (ar, terra, fogo).

O Ápeiron

• O ápeiron nos apresenta assim como a fonte inesgotável de energia que garante a

transformação da unidade do cosmos.

• São duas as características do ápeiron de Anaximandro:

• Infinito e Indeterminado. Emquanto infinito o ápeiron é fonte de energia e movimento para

que no mundo não cesse a geração e declínio;

• O ápeiron não é nenhum dos denominados elementos (água, ar, fogo, terra), porém algo

indeterminado. Esta indeterminação é relativa ao mundo gerado em seu ventre como um

embrião na placenta.

• Ver mais: http://www.youtube.com/watch?v=REK6qdxnAuE

DOUTRINAS O Ápeiron

O COSMOS

• A segunda ideia de Anaximandro, que chega aos nossos dias é a ideia de cosmos. o

termo kósmo se traduz geralmente por “mundo” e por ”natureza” (“mundo natural”).

• O cosmos de Anaximandro é a unidade metafísica do mundo das formas, mas esta

unidade se realiza de um modo diferente como ocorria no mundo de Tales.

• O monismo da substancia de Tales unidade do mundo é a unidade própria da forma que

desaparecem umas em outras. Contudo, o monismo da ordem de Anaximandro, a

unidade do cosmos é a unidade das formas que aparecem: não de outras, mas do

ápeiron. O cosmos é, pois, a unidade que as formas devem manter para subsistir como

tais formas.

• O cosmos de Anaximandro é um sistema de relação temporal, pois a partir de onde há

geração para as coisas, há ali também a destruição, segundo a necessidade de acordo

com a disposição do tempo.

O COSMOS

• A dinâmica do cosmos se desenvolve conforme duas fases:

• A primeira é a formação do cosmos a partir do ápeiron,

• A segunda fase é a do retorno de todas as coisas ao ápeiron.

• Anaximandro explica a formação do cosmos a partir do ápeiron em duas etapas:

• Na primeira etapa se explica a formação da Terra.

• Na segunda serão a da formação das Esferas os anéis.

• Do ventre do ápeiron se segrega um gerador do calor e do frio, primeiro par de opostos.

O calor dá lugar ao fogo a massa ígnea que rodeia totalmente o frio como casca e fruta.

Esta esfera ígnea tem um movimento circular. O frio por sua vez se determina em outro

par de opostos: o sólido e o úmido. O sólido forma a Terra. O úmido se determina em

líquido (água) e gasoso (ar). Os quatro elementos (fogo, terra, água e ar) que formam

nosso cosmos foram gerados a partir das qualidade opostas.

FORMAÇÃO DA TERRA

• O movimento circular da esfera ígnea dá lugar a um redemoinho que origina a Terra a

partir do frio. A terra tem forma cilíndrica, como uma coluna de pedra, e o homem habita

uma de suas superfícies planas.

• A altura da Terra é um terço de seu diâmetro. No princípio, a Terra era rodeada de água

por todas as partes, mas o calor do fogo transforma parte da água em ar, e o resto se

converte em mar, caindo livre parte da terra.

• O mar é um resíduo da umidade primitiva. Depois uma parte da umidade se evaporou por

causa do sol e se converteu em ventos; enquanto a parte que cai nos lugares ocos da

terra, é mar.

• A Terra está no centro do universo, suspendida livremente, sem estar sustentada por

nada, movimentando-se em um espaço infinito, este movimento acaba neutralizado, pois,

por estar no centro, as forças de atração que atuam desde os distintos lugares da

abóbada se compensam entre si. Assim, a Terra tem que permanecer em seu lugar.

Anaximandro parte da ideia de movimento e deduz dela o repouso da Terra.

FORMAÇÃO DAS ESFERAS• A cobertura ígnea rodeia e tudo mais se desgarra para formar anéis separados. Este

rompimento se produz por causa do movimento da própria esfera ígnea ou, também,

porque a massa gasosa ao aquecer penetra na esfera ígnea.

• Estes anéis estão envoltos por uma massa atmosférica opaca e obscura; mas

apresentam orifícios ou aberturas a través dos quais brilha o fogo que aprisionam. O que

nós denominamos corpos celestes não são outra coisa que o fogo que nós percebemos a

través destes orifícios.

• A obstrução destes orifícios produziria segundo Anaximandro, os eclipses e as fases da

lua.

• Existem três classes de anéis:

• o do sol, o da lua, e dos planetas e estrelas fixas.

• O sol é o maior (distante da Terra 27 raios), depois o da lua (18 raios) seguidos

das estrelas fixas e dos planetas (9 raios)

ORIGEM DOS ANIMAIS E DO HOMEM

• Anaximandro enuncia uma tese evolucionista, mediante generatio aequivoca, sobre a origemdos animais.

• Os primeiros animais surgem da lama que se vai secando mediante o calor do sol e estavamrecobertos de uma pele ouriçada e espinhosa para proteger-se do mundo circundante.

• As mudanças das condições de vida ocasionam o desaparecimento da casca que rodeavaestes seres. Por outra parte, os homens e mulheres primitivos nasceram já adultos.

• Na lama esquentada pelo sol se originaram uns poucos peixes ou animais semelhantes aospeixes em cujo interior se haviam desenvolvido os homens que permaneceram ali até oamadurecimento.

• Anaximandro fundamenta esta tese no seguinte:

• se o homem houvesse chegado ao mundo na forma que chega atualmente, não haveriasobrevivido. A argumentação de Anaximandro deveria ser a seguinte:

• 1) Todos os seres podem valer-se por si mesmos ao nascerem, exceto o homem que necessita, aocrescimento, de um grande período de cuidados maternos.

• 2) Os primeiros homens necessitariam de uma proteção especial (biológica) que substituiria os cuidadosmaternos atuais.

• 3) Se houvessem tido essa proteção, a espécie humana não teria resistido.

• 4) mas a espécie humana resistiu.

• 5) Logo os homens primitivos não chegaram ao mundo na forma que chegam atualmente.

ORIGEM DOS ANIMAIS E DO HOMEM

• A dinâmica do cosmos em sua segunda fase consiste no retorno de todas as coisas ao

ápeiron. O próprio sistema conduz a sua destruição e absorção no ápeiron.

• Os anéis de fogo, e do sol particularmente, enquanto gira vão determinando uma

evaporação da água terrestre, que terminará por secar a terra (sufocando a vida que há

nela) e assim acabará com o próprio ar que envolve os anéis. Produzir-se-ia assim uma

espécie de morte térmica do universo.

• Em termos mais modernos, se poderia dizer que o cosmos de Anaximandro leva em seu

ventre a morte entrópica, seu desaparecimento pela conversão de todo o calor, em fogo.

• O cosmos de Anaximandro é um equilíbrio, uma ordem, uma entropia mínima, mas um

equilíbrio instável, porque não há perfeita e constante retribuição de uns términos a

outros.

• Por ele diz Anaximandro que o mundo é injusto e por ele (segundo o texto de Simplicio)

as coisas voltam de novo ao ápeiron segundo a ordem do tempo.

A MULTIPLICIDADE DOS MUNDOS

• A dinâmica do cosmos de Anaximandro nos mostra que este tem um começo e um fim. Oápeiron apresenta dialeticamente no principio e no fim do cosmos. Mas o principio édiferente da ideia do Nada e de criação, e no fim significa aniquilação. Por ele o ápeironnos apresenta como a conjunção de duas impossibilidades:

• A impossibilidade de um cosmos eterno;

• A impossibilidade da criação e aniquilação.

• Se o cosmos não é eterno e a aniquilação desse cosmos não é possível, então o fim docosmos tem que dar origem a novos mundos. Anaximandro concebe o ápeiron fora dotempo, mas integramente orientado no cosmos.

• O cosmos em que estamos começa e acaba, e o ápeiron dá lugar a novos mundos quecomeçam e acabam. Mas a multiplicidade dos mundos pode ser entendida comosimultânea ou como sucessiva.

• O principal problema que questiona a pluralidade dos mundos é sua compatibilidade como monismo, e Santo Agostinho não deixou de contrapor o pluralismo de Anaximandro e omonismo de Tales, pois acreditava (Anaximandro) que o princípio das coisas singularesera infinito e dava origem a mundos inumeráveis.

A MULTIPLICIDADE DOS MUNDOS• Se o ápeiron dá origem a infinitos mundos coexistentes no tempo (simultâneos), então não é

possível incluir Anaximandro no monismo milesiano. A unidade do ápeiron implica na unidadedo cosmos, mas esta unidade chocar-se-ia com a multiplicidade simultânea de mundossingulares. Para tanto a pluralidade de mundos coexistentes romperia a unidade do ápeiron emquanto esta se funda por referencia al cosmos.

• Sem embargo a multiplicidade sucessiva de mundos se parece compatível com o monismo,pois a unidade do ápeiron se mantém por referência a singularidade de cada mundo. Asucessão infinita de mundos pode ser entendida de duas maneiras:

• 1. Como continuidade cósmica. A sucessão entre dois mundos é uma continuidadecósmica. Mas se a sucessão entre dois mundos se mantém no plano cósmico entãoexiste uma continuidade de cosmos. Isso conduz à tese de que, em realidade, não existepropriamente uma pluralidade nem sucessiva nem simultânea de mundos (ideia decontinuo que havíamos atribuído a Tales de Mileto).

• 2. Como hiatos acósmicos. Entre mundo e mundo existiriam hiatos extra cósmicos(ápeiron). A ideia de inter-mundia (metakósmia) é uma ideia limite de cosmos, que nãopodemos conhecer em si e por isso nos apresenta como indeterminado.

• Mas a Ideia de metacosmia tampouco é incompatível com a de simultaneidade, no caso de quea multiplicidade de mundos isolados constitui um cosmos que tem como limite a ideia demetacosmos.

PRINCIPAIS FRAGMENTOS

I “... Nosso mundo é um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem noinfinito...”.

II “...O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito...”.

III “... As estrelas são porções comprimidas de ar, com a forma de rodas cheias de fogo, e emitemchamas a partir de pequenas aberturas ...'' .

IV ”... O Sol é um círculo vinte e oito vezes maior que a Terra; é como uma roda de carruagem, cujoaro é côncavo e cheio de fogo, que brilha em certos pontos de abertura como os bicos dos foles...''.

V “... O ilimitado é eterno...”

VI “... O ilimitado é imortal e indissolúvel...”

REFERÊNCIAS

• DIELS, Hermann; KRANZ, Walther. 9a. ed. Berlin: Weidmannsche Verlagsbuchhandlung,

1960. vol. I.

• GUTHRIE, W.K.C.. History of Greek Philosophy. Volume I. Cambridge: Cambridge

University Press, 1962.

• KIRK, G.S.; RAVEN, J.S. The Presocratic Philosophers. Cambridge: Cambridge

University Press, 1977.

• http://www.templodeapolo.net/civilizacoes/grecia/filosofia/presocraticos/filosofia_presocrat

icos_tales.html

• http://www.brasilescola.com/filosofia/anaximandro.htm

• http://educacao.uol.com.br/biografias/anaximandro.jhtm