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MINISTRIO DA SADE COORDENAO GERAL DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS

GUIA CURRICULAR PARA FORMAO DE TCNICO EM HYGIENE DENTAL PARA ATUAR NA REDE BSICA DO SUS

REA CURRICULAR I

PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SADE - DOENA BUCAL

BRASLIA -1994

1994, Ministerio da Sade Srie Formao de Recursos Humanos de Nvel Mdio em Sade, THD; 1 S permitida a reproduo total, com identificao de fonte e autoria. Tiragem: 5.000 exemplares Edio: Coordenao Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o SUS Endereco: Esplanada dos Ministrios Bloco G 6 andar Sala 639 70058-900 Brasilia DF Brasil Telefones: (061) 315.2846 (061) 315.2308 Fax: (061) 315.2862 Impresso corn recursos do Acordo de Cooperao Tcnica Brasil/PNUD Projeto BRA/90032 Desenvolvimento Institucional do Ministrio da Sade Projeto Nordeste Acordo de Emprstimo BIRD 3135/BR Impresso no Brasil - Printed in Brazil ISBN 85-334-0080-2

FICHA CATALOGRFICA

APRESENTAO

O atual contexto de consolidao do SUS exige deciso e soma de esforcos a fim de garantir suas diretrizes e principios, que orientam, em ltima instncia, a melhoria da qualidade da assistncia prestada a populao. O Ministrio da Sade, no exercicio de sua competncia de Gesto Nacional desse Sistema, definiu como prioridade, atravs do Programa deTrabalho da Coordenao Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o SUS, o apoio aos Estados e Municipios para a profissionalizao do trabalhador da rede bsica do SUS, atravs, inclusive, da elaborao de material didtico (currculos integrados) especifico que viabilize o processo de formao tendo em vista as especificidades da clientela. Tal processo de formao se caracteriza pela concepo pedaggica de integrao ensino-servio, onde a realidade local se torna a "referncia problematizadora" e as aes educativas consistentes com a proposta da Reforma Sanitria, no sentido de reorientar e qualificar a prtica profissional. Essa proposta de formao j vem sendo desenvolvida, com exito, na rea de enfermagem, atravs do Currculo Integrado para Formao de Auxiliar de Enfermagem e da Capacitao de Enfermeiros em Sade Pblica para o SUS. O programs ora apresentado, Guia Curricular para Formao de Tcnico em Higiene Dental para atuar na Rede Bsica do SUS insere-se no esforco de valorizar os profissionais de sade de nivel mdico na rea de odontologia e de priorizar as medidas de preveno e controle das doenas bucais, com base nos principios de descentralizao, equidade, integralidade e universalizao, definidos pelo SUS, e ainda de buscar novos modelos assistenciais que levem em considerao as necessidades da populao, as caracteristicas dos servios e dos trabalhadores de sade bucal. Com essa publicao, a Coordenao Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o SUS do Ministrio da Sade espera estar trabalhando no sentido de fortalecer o Sistema Unico de Sade.

Joana Azevedo da Silva Coordenadora Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos pars o SUS

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SUMRIOApresentao.................................................................................................... Introduo......................................................................................................... Primeira Unidade Concentrao................................................................................................. Disperso....................................................................................................... Avaliao........................................................................................................ Textos de Apoio.............................................................................................. Processo Sade Doena........................................................................ Mecanismos de Defesa (Noes Bsicas)................................................. Segunda Unidade Concentrao................................................................................................. Disperso...................................................................................................... Avaliao....................................................................................................... Textos de Apoio Noes de Anatomia e do Funcionamento do Corpo Humano................... A Cavidade Bucal (Anatomia e Funcionamento)........................................ Anatomia Dentria..................................................................................... Anatomia do Periodonto............................................................................. Terceira Unidade Concentrao................................................................................................ Disperso....................................................................................................... Avaliao........................................................................................................ Textos de Apoio A Evoluo da Odontologia........................................................................ A Ergonomia na Odontologia..................................................................... Riscos Ocupacionais em Odontologia e sua Preveno.............................. Quarta Unidade Concentrao................................................................................................ Disperso...................................................................................................... Avaliao....................................................................................................... 159 169 171 129 137 147 119 123 125 67 81 89 111 51 61 63 33 41 13 27 29 03 07

Textos de Apoio Doenas Transmissveis e No-Transmissveis................................................ 189 Relaes entre os Seres Vivos.......................................................................... 195 A Contaminao na Prtica Odontolgica e seu Controle................................ 201 Manuteno do Equipamento Odontolgico...................................................... 231

Quinta Unidade Concentrao........................................................................................................ 243 Disperso............................................................................................................... 267 Avaliao................................................................................................................ 269 Textos de Apoio Noes sobre Semiologia.................................................................................. 279 Placa Bacteriana................................................................................................ 285 A Crie............................................................................................................... 291 O Flor e a Crie............................................................................................... 301 Selantes de Cicatrculas e Fissuras.................................................................. 309 A Dieta e a Crie............................................................................................... 313 As Alteraes Gengivais e seu Controle........................................................... 319 A Doena Periodontal e o seu Controle............................................................ 327

Sexta Unidade Concentrao.......................................................................................................... 341 Disperso................................................................................................................ 345 Avaliao................................................................................................................. 347 Texto de Apoio Epidemiologia Bucal.......................................................................................... 349

Avaliao Geral da rea I.......................................................................................... 363

INTRODUOO Tcnico em Higiene Dental uma habilitao de 2 Grau, aprovada pelo Conselho Federal de Educao (CFE) atravs do parecer n 460, de 06 de fevereiro de 1975. O currculo mnimo para a formao do Tcnico em Higiene Dental constitudo por urn elenco de matrias profissionalizantes e instrumentais com base na estruturao das atividades, que visam desenvolver conhecimentos, aquisio de habilidades e destrezas requeridas pelo perfil profissional desta habilitao, para atuar na rea da sade bucal. Todo esse conjunto de atividades pedaggicas est estruturado em unidades didticas que se agrupam em reas curriculares. Deste modo, o Currculo Integrado para Formao do Tcnico em Higiene Dental composto das reas I, II e III. Cada uma das unidades didticas abrange conhecimentos, habilidades e destrezas de um conjunto de praticas especficas que compem o perfil profissional. So compostas por uma srie de atividades, organizadas em forma sequenciada, levando os alunos a integralizar os conhecimentos e desenvolver condies para desempenharem suas funes. Textos complementares sistematizam o conhecimento ao final de cada unidade. REA CURRICULAR I - "Prevenindo e Controlando o Processo Sade-Doenca Bucal" Abrange o processo sade-doena na sua dimenso social; os principais problemas de sade geral e bucal da populao; o estudo da anatomia e do funcionamento do corpo humano, em especial da cavidade bucal; as relaes do corpo com o trabalho odontolgico, destacando os riscos ocupacionais a que os trabalhadores em sade bucal esto expostos; a prestao de cuidados odontolgicos que visam romper a cadeia de transmisso de doenas; o manuseio de arquivos e documentos relativos ao atendimento odontolgico dos pacientes; as manifestaes das doenas bucais (especialmente da care e doena periodontal) nas populaes; e a prtica do tcnico em higiene dental para o controle e preveno dessas doenas. REA CURRICULAR II - "Participando do Processo de Recuperao da Sade Bucal" Abrange a prestao de servicos odontolgicos, em nvel clnico, nas reas de endodontia, radiologia, exodontia e urgncia, bem como a prestao de primeiros socorros; o estudo da ocluso dentria e sua aplicao aos procedimentos restauradores; execuo de restauraes dentrias definitivas (amlgama, cimento de silicato, cimento de ionmero de vidro, resinas auto e fotopolimerizveis) e provisrias (IRM, cimento fosfato de zinco, cimento de xido de zinco-eugenol, etc.); o estudo da relao entre as restauraes e o periodonto. REA CURRICULAR III - "Participando do Planejamento e Administrao dos Servicos de Sade" Abrange a organizao, programao, execuo e avaliao do processo de trabalho de odontologia no coletivo dos trabalhadores de sade da unidade. A grade curricular para a formao do Tcnico em Higiene Dental, aprovada pela Cmara de 1 e 2 Graus, do Conselho Federal de Educao (Parecer n 460/75), estabelece o mnimo de matrias profissionalizantes, a saber:

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DISCIPLINAS PROFISSIONALIZANTES 1. 2. 3. 4. 5. Higiene Dentria Tcnicas Auxiliares em Odontologia Odontologia Social Material, Equipamento e Instrumental Fundamentos de Enfermagem

DISCIPLINAS INSTRUMENTAIS 1. Biologia, com Parasitologia 2. Qumica enfase em Anatomia e Fisiologia Humanas, Microbiologia e

Dessa maneira, os contedos da grade curricular so contemplados, integrando conhecimentos e associando-os s praticas profissionais. Esse plano pedaggico articula dinamicamente ensino e trabalho, prtica e teoria, alternando momentos de concentrao e de disperso. Nos momentos de concentrao, os alunos reunidos num mesmo espao fsico realizam, sob a orientao do Instrutor/Supervisor, uma srie de atividades programadas corn a finalidade de discutir questes referentes a sua pratica profissional, inclusive novos conhecimentos e habilidades. J nos momentos de disperso, os alunos voltam ao seu ambiente de trabalho e realizam uma srie de atividades, tambm programadas, e sob a superviso do Instrutor/Supervisor. Os perodos de concentrao e disperso estabelecem urn contnuo entre prticareflexo-pratica, fazendo com que esta opo educativa permita a real integrao entre prticateoria, o imediato teste da prtica e a busca de solues especficas e originais para diferentes situaes. Finalmente, para acompanhar e documentar todo esse processo de ensinoaprendizagem dos alunos, estao previstos nesta proposta curricular vrios instrumentos de avaliao, adequados a diferentes situaes que, para cumprirem suas finalidades (fazerem parte do processo pedaggico), requerem do Instrutor/Supervisor uma observao dirigida e atenta dos alunos, nos perodos de concentrao e disperso.

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PRIMEIRA UNIDADE

PRIMEIRA UNIDADE

PROPSITOIniciar, a partir de sua viso de mundo, uma reflexo sobre os problemas de sade da populao e desenvolver a capacidade de observao e comunicao com pessoas e grupos. Ao mesmo tempo, pretende estimular a percepo da relao existente entre os modos de vida e de trabalho e os problemas de sade da populao, com destaque para as questes de sade bucal.

OBJETIVOS1 Identificar os modos de viver do homem e sua relao com os problemas de sade geral e bucal. 2 Perceber formas de comunicao com o seu grupo, com a populao e entre profissionais de sade e usurios. 3 Identificar como as caractersticas individuais interferem com os problemas de sade das pessoas.

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PRIMEIRA UNIDADECONCENTRAO

SEQNCIA DE ATIVIDADES I 1 Discutir as seguintes questes: Como so as condies de vida e de trabalho das pessoas de sua comunidade? Como elas resolvem seus problemas de sade geral e bucal? De que adoecem e morrem estas pessoas e porque isto ocorre? 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR I Dividir em pequenos grupos. Apoiar as discusses dos grupos, estimulando o relato das vivncias e o registro das concluses. Enfatizar, ainda, durante as discusses, os aspectos referentes habitao, alimentao, diverso, transporte, uso dos servios de sade, prticas populares, tipo de trabalho e durao, salrio ou outras formas de remunerao.

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Sintetizar os resultados das discusses dos grupos, registrando-as em cartaz ou outro material visual

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Trabalhar com todo o grupo, orientando-o quanto a classificao das doenas, de acordo com as categorias transmissvel e no-transmissvel e quanto s suas causas segundo alimentao, condies de trabalho, microorganismos, mstica, moradia e outras. Classificar as prticas de sade segundo a natureza: mgicas e/ou religiosas (benzeduras, rezas, despachos, etc.); medicamentos (chs, ervas, remdios em geral, etc.); privao, restrio ou recomendao de alimentos e condies ambientais; busca de ajuda especializada formal (mdicos, enfermeiros, outros) e informal (curandeiros, padres, benzedeiras, parteiras, etc.). Classificar o tipo de trabalho de acordo com a atividade econmica: agropecuria, industrial, minerao, comrcio, servios (educao, sade, transporte, etc.) e informal (biafria, biscateiro, vendedor ambulante, domstico e outros). Destacar dentro de cada setor as ocupaes mais significativas na sua regio.

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Discutir as seguintes questes: "A populao conhece os seus problemas de sade (de qu e porqu adoece) e busca formas de resolv-los". "A populao no identifica seus problemas de sade (de qu e porqu adoece) e no busca formas de resolv-los".

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Dividir os participantes em dois grupos e encarregar a cada um a discusso de uma das questes e apresentar as concluses .

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Apresentar as concluses parciais de cada grupo.

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Trabalhar com todo o grupo. Ajudar a sistematizar os resultados, buscando extrair as alternativas apresentadas e a importncia de test-las junto populao.

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Discutir como as concluses do grupo podem ser comprovadas.

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Ainda com o grande grupo, levantar sugestes das diferentes formas de ouvir a populao e orientar na escolha dos instrumentos mais adequados para a obteno das informaes (observao, entrevista, questionrio, etc.). Discutir quais e quantas pessoas sero abordadas, o contedo e a tcnica que sero adotadas.

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Dramatizar a forma mais adequada de levantamento de opinio junto populao.

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Dividir em pequenos grupos, orientando para que cada um dramatize a forma levantada. A partir de cada apresentao, registrar elementos a elas relativos (tcnica de abordagem e cumprimentos dos objetivos). Conduzir a discusso, ainda em grupo, para a identificao de questes inadequadas relativas ao processo de comunicao e cumprimento do contedo proposto.

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Realizar o levantamento de opinio junto populao. Apresentar os resultados obtidos no levantamento.

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Organizar a atividade, de preferncia em duplas. Observar e registrar pontos importantes referentes comunicao e aos objetivos da atividade, destacando situaes que possam merecer uma nova dramatizao que facilite a elucidao e anlise dos fatos encontrados. Trabalhar com todo o grupo na montagem de um quadro, agrupando as doenas levantadas segundo as suas causas e as formas de resoluo apontadas pela populao. Estimular a discusso, refletindo sobre o porqu das diferenas encontradas no perceber e enfrentar os problemas de sade, associando-os com os modos de vida da populao (moradia, trabalho, questes religiosas e culturais, educao, lazer, etc.).

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Comparar os quadros obtidos nos itens 2 e 8.

9 e 10

10 Sistematizar o resultado da discusso.

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11 Refletir em torno das seguintes situaes: Numa favela, sem infra-estrutura bsica, muitos de seus moradores (adultos e crianas) desenvolveram um quadro de diarria de origem infecciosa. Ao procurarem um posto de sade mais prximo, algumas pessoas foram atendidas e obtiveram o diagnstico e tratamento para a doena. Entretanto, nem todos puderam seguir as orientaes do mdico. Os vizinhos e amigos, acometidos do mesmo mal, foram trocando idias e informaes obtidas sobre o que estava acontecendo e as formas de resolver o problema. Quando as autoridades sanitrias detectaram a origem da doena, medidas de controle foram tomadas. Mas, para uma parcela da populao, a enfermidade gerou conseqncias irreversveis.

11 Dividir os treinandos em dois grupos. Cada grupo deve refletir sobre uma das situaes, de acordo como roteiro apresentado. Roteiro para reflexo: Estimular a discusso, buscando levantar pontos que evidenciem a ligao do modo de vida da populao com a doena manifestada. Enfatizar questes ligadas a: condies de vida referentes ao trabalho, renda, consumo (moradia, alimentao, vesturio, educao, lazer, saneamento); fatores ligados ao aparecimento e propagao da doena; abrangncia individual e coltiva do problema e busca de ajuda formal e informal; persistncia ou no do problema e formas possveis de controle e cura.

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A caixa d'gua de um prdio localizado numa rea nobre da cidade foi contaminada. Este prdio possui uma estrutura fsica de grande porte (parque infantil, sauna, salo de jogos, reas ajardinadas, etc.). Alguns dos moradores, adultos e crianas, iniciaram um processo de clica intestinal e diarria de origem infecciosa que os fez imediatamente procurar um mdico para diagnosticar e tratar a doena. Embora essas medidas tenham sido tomadas, o foco de infeco persistiu. O porteiro, observando o movimento e ouvindo parte das conversas, comentou com o responsvel pela administrao que muitas pessoas do prdio estavam tendo o mesmo problema de sade. Foi buscada ajuda especializada e, atravs de uma rpida investigao foi reconhecida origem do problema e tomadas atitudes adequadas para solucion-lo. Roteiro para reflexo: Quem adoeceu e como estas pessoas vivem? Quais os fatores que levaram essa populao a adoecer? Quais as conseqncias desse problema para a populao? Registrar as respostas

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12 Apresentar os resultados das discusses.

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Registrar em forma de quadro comparativo as principais questes levantadas em cada grupo

13 Leitura e discusso do texto "Processo Sade-Doena".

. 13 Realizar a atividade de leitura em pequenos grupos e solicitar aos grupos que faam o resumo do texto estudado. 14 Acompanhar a atividade, esclarecendo dvidas. 15 Apresentar o filme e estimular a discusso, posteriormente.

14 Discusso referente leitura do texto. 15 Assistir e discutir ao filme "Ilha das Flores".

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SEQNCIA DE ATIVIDADES II 1 Discutir o seguinte caso: Num poro de uma casa antiga funciona uma pequena fbrica onde trabalham oito costureiras com uma jornada de 10 a 12 horas/dia, recebendo salrio minimo e o referente s horas-extras. D. Rita, uma das costureiras, casada, me de seis filhos, mora numa favela e apresentou sintomas de tuber-culose (febre, tosse, can-sao), posteriormente confirmado com o exame de escarro. Pa-ssados alguns dias, um de seus filhos, alcolatra, apresentou a mesma doena, embora o restante da famlia no tenha manifestado o problema. Roteiro para reflexo: Identificar as condies que levaram D. Rita a adoecer. Por que nem todos de seu convvio adoeceram? Registrar as respostas. 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR II Trabalhar em pequenos grupos. Estimular a discusso no sentido de refletir: condies de vida, jornada e ambiente de trabalho, salrio, moradia, alimentao, transporte, lazer, educao, etc.; os fatores que interferem na resistncia das pessoas: sexo, enfermidade, estado nutricional, idade, fatores genticos, comdies de imunidade, uso de drogas, lcool etc.

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Apresentar os resultados das discusses.

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Trabalhar com todo o grupo ajudando a estabelecer o conceito de resistncia, relacionando-o com condies de vida. Realizar a atividade em pequenos grupos e solicitar o resumo do texto estudado.

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Leitura e discusso do texto "Mecanismos de Defesa (Noes Bsicas)".

3

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Discusso referente a leitura do texto.

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Acompanhar a atividade, esclarecendo dvidas.

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SEQNCIA DE ATIVIDADES III 1 Discutir as seguintes questes: Quais so os problemas que aparecem na boca? Por que as pessoas perdem os dentes? Como as pessoas resolvem seus problemas de sade bucal? 2 Sintetizar os resultados das discusses do item anterior, Registrando-os em cartazes ou outro material visual. 2 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR III Dividir a turma em pequenos grupos, estimulando o relato das vivncias e o registro das concluses.

Trabalhar com todo o grupo, orientando a listagem das doenas de acordo com a localizao: nos dentes, gengivas, lngua, lbios, bochechas, etc. e relacionando as causas, segundo: microorganismos, traumas, hbitos de higiene, alimentao, sistmicas, condies de vida, trabalho, fatores culturais, acesso ou no assistncia odontolgica, s polticas de fluoretao e informao, prtica profissional. Classificar as prticas para resolver os problemas de sade bucal segundo a natureza: mgicas e/ou religiosas (benzeduras, simpatias, rezas, despachos, etc.); medicamentos (chs, bochechos, pastas dentrias, antisspticos bucais, remdios em geral, etc.); busca de ajuda especializada (dentistas, mdicos, farmacuticos e outros) e informal (prticos etc.); restrio de alimentos (doces, gelados, etc.); aplicao de calor e frio; demandas de ajuda institucional (fluoretao das guas etc.).

3 Debater a seguinte questo: Os problemas de sade bucal interferem nas condies de vida das pessoas? Registrar o resultado do debate.

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Trabalhar com todo o grupo, estimulando a discusso livremente. Sistematizar os resultados

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Debater: O usurio percebe as questes discutidas no item anterior da mesma forma que o grupo? Realizar um levantamento de opinies junto aos usurios sobre seus problemas de sade bucal.

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Estimular a discusso, o relato de experincias e a importncia de testar os dados junto ao usurio. Registrar as concluses. Orientar o levantamento de opinio com o usurio, com base, entre outros, nos seguintes aspectos: a) Quando doente? sente sua boca

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5

b) Quais fatores levam ao aparecimento de doenas na boca? c) Quais as conseqncias dos problemas e como so resolvidos?

Discutir como e quando abordar o usurio. Orientar a tabulao das respostas obtidas (agrupamento segundo suas semelhanas e quantificao).

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Relatar algumas situaes vividas na abordagem ao usurio.

6

Destacar pontos importantes referentes comunicao e ao contedo da atividade desenvolvida.

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Apresentar o resultado dos dados levantados e tabulados.

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Analisar e sistematizar as respostas, ressaltando os seguintes aspectos: o valor da doena bucal como impedimento para exercer atividades, as dificuldades nas relaes pessoais, etc.; fatores relacionados s questes individuais (cuidado pessoal, resistncia, alimentao, consumo de acar, etc.), s questes sociais (condies de vida e de trabalho, remunerao, consumo, acesso e qualidade dos benefcios sociais; gua fluoretada; questes do servio (acesso e qualidade do tratamento, etc); acesso informao; conseqncias para a sade geral e bucal (dor; halitose; processos infecciosos e sua repercusso sistmica; perda dentria; alteraes da fala; esttica; hbitos e mastigao; aspectos relativos ao trabalho, s relaes pessoais, lazer, etc.); formas de resoluo (busca de ajuda formal e informal etc.).

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Comparar os resultados da discusso do item 4 com as concluses referentes ao levantamento junto ao usurio.

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Estimular a discusso, refletindo sobre o porqu das possveis diferenas encontradas, ressaltando a percepo do usurio sobre os problemas de sade bucal. Relacionar com a questo de sade geral. Trabalhar com todo o grupo, solicitando a cada aluno que expresse sua opinio.

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Refletir sobre as seguintes questes: Como voc se sente diante da situao vivida pelos usurios? Qual o seu papel, enquanto profissional de sade e cidado, diante das questes levantadas pelos usurios?

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10 Assistir ao filme "TV - Memria Popular".

10 Apresentar o filme e estimular a discusso, posteriormente. 25

PRIMEIRA UNIDADE DISPERSO

SEQNCIA DE ATIVIDADES 1 No seu local de trabalho, realizar um levantamento de opinio junto sua comunidade, a cerca de seus problemas de sade, incluindo a sade bucal. Registrar suas novas observaes sobre a relao entre modos de viver e problemas de sade. 1 e 2

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR Apoiar o trabalho, se possvel tendo contato direto com a situao observada. Discutir com os alunos as diferenas de contextos sociais no levantamento, estimulando para que sejam feitos os necessrios ajustes mtodolgicos. Observao: Esta atividade s deve ser aplicada quando os alunos so procedentes de outras localidades

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FICHA DE AVALIAO NO PROCESSO

PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SADE-DOENA BUCAL

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30 FICHA DE AVALIAO NO PROCESSO

PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SADE-DOENA BUCAL

INSTRUES: Esta ficha se destina ao registros de fatos significativos relacionados com os conhecimentos trabalhados pelos alunos; tais fatos devero refletir ao domnio ou no de conhecimento tcnicos, atitudes positivas ou negativas; ser usada durante a superviso; aps a observao, dever ser feita uma entrevista para reflexo e reorientao cujos resultados sero tambm, registrados para futuras comparaes.

TEXTOS DE APOIO PRIMEIRA UNIDADE

Texto 1 PROCESSO SADE-DOENACludia M. Silva (i) I - Introduo A concepo mais difundida de sade a de um estado de harmonia e equilbrio funcional do corpo. Tudo o que faz o ser humano sofrer, que o limita e impede de exercer suas atividades normais, d ao homem a conscincia de um corpo que deixou de "funcionar em silncio" e que, portanto, d mostras de alteraes que podem significar um estado de doena. No entanto, "no sentir nada", nem sempre significa ausncia de doenas, pois vrios processos e leses podem permanecer "calados" por muito tempo sem serem percebidos por seus portadores. A relao existente entre sade e doena no apenas uma relao de bom e mau funcionamento do corpo, mas uma interao muito mais ampla do homem com os ambientes (fsicos e sociais) que o cercam, da sua maneira de relacionarse com outros homens, da sua condio de trabalho (tipo e caractersticas, condies fsicas para exerc-lo e a relao pessoal com o trabalho - gostar de realiz-lo); da forma como organizada a produo de riquezas e de como essas riquezas so repartidas e compartilhadas por todos, das possibilidades que ele possui para se expressar, para desenvolver seu potencial criativo e desenvolver-se como pessoa. A busca de uma concepo de sade tambm a procura da compreenso do processo de vida dos homens ao longo da histria. II - Sade-doena na histria As vrias fases do desenvolvimento da humanidade caracterizam-se por diferen____________ (*) Cirugi-Dentista - Ministrio da Sade, SMS/BH; SES/MG.

tes maneiras do homem relacionar-se com a natureza (para transform-la e atender s suas necessidades) e com os outros homens. Essas formas de relaes estabelecidas vo influenciar profundamente as condies de vida dos homens, e conseqentemente, os tipos de doenas a que estaro sujeitos. Em outras palavras, as doenas que afetam a humanidade no so as mesmas no decorrer dos tempos. A vida da humanidade, de uma maneira genrica, pode ser dividida em perodos: o nmade, o agropecurio e o industrial. No perodo nmade, que durou cerca de 10 mil anos, os homens viviam em tribos e se alimentavam da caa, da pesca e da coleta de razes e frutos. A diviso do trabalho baseava-se na distribuio das tarefas por sexo e idade: a coleta era uma atividade das mulheres e crianas e a caa dos homens. Os instrumentos de trabalho feitos de pedra, madeira e ossos, eram simples e com eles os homens iam caa de animais selvagens ou desenterravam razes alimentcias. A vida, nessa fase, era curta e a alta mortalidade era devida a acidentes de caa, guerra entre as tribos, homicdios, infanticdios e fatores ligados s condies atmosfricas chuvas, furaces, terremotos, etc.). Com o passar dos tempos, o homem de nmade tornou-se fixado e estabelecido na terra onde vivia. Iniciouse ento, a criao de animais (aves, porcos, ovelhas, etc.) e a agricultura. A descoberta da agricultura e da pecuria significou uma profunda mudana na vida dos homens: a distribuio do trabalho passou a ser determinada pelas relaes de parentesco entre os indivduos e grupos; o aumento da produo de alimentos provocou um aumento na populao e propiciou o aparecimento de um excedente de produo, que era guardado 33

para ser consumido em ocasies de festas. Como havia a produo excedente, foi pos-svel que alguns homens se dedicassem a outro tipo de trabalho: surgiram os artesos, que se dedicavam s invenes (arado, irrrigao, utenslios em geral, etc.). Neste passado remoto, a terra e a produo eram coletivas e os homens viviam como, ainda hoje, vivem certas tribos indgenas que no tiveram nenhum contato com a civilizao. Com a primeira grande revoluo agrcola, a maioria das terras cultivveis da Europa Ocidental e Central foi dividida em reas conhecidas como "feudos". Um feudo consistia apenas de uma aldeia e centenas de acres de terra arvel que a circundavam. Cada propriedade feudal tinha um dono (o senhor feudal) e a rea de terra cultivvel era dividida em duas partes: uma parte (cer-ca de 1/3 da terra) pertencia ao senhor, a outra ficava com os arrendatrios que a cultivavam. Os homens que arrendavam as terras do senhor feudal trabalhavam no s em suas terras mas tambm nas do senhor, durante dois ou trs dias por semana. Os homens e suas famlias fabricavam seus mveis, vesturios e demais objetos que necessitassem. Os excedentes produzidos eram geralmente trocados em mercados locais, mantidos junto a um mosteiro ou um castelo. O aumento e agregao da populao criaram condies para a propagao e transmisso de doenas como a clera, a tuberculose, a disenteria, a malria e a peste, que em 1348 matou 1/4 da populao da Inglaterra. Nesta fase, a ausncia completa de medidas sanitrias favorecia ainda mais a contaminao da gua por dejetos e produtos da degradao (lixo). Com o crescimento das cidades, seus habitantes passaram a se ocupar principal-mente do comrcio e da indstria. Surgiu ento uma nova diviso do trabalho entre o campo e a cidade: o campo se concentrava na produo agrcola para abastecer a cidade, que por sua vez se concentrava na produo industrial e no comrcio 34

A Revoluo Industrial, iniciada na In-glaterra a partir de 1750, a peste que assolava os homens do campo e o desejo de se libertar dos senhores feudais, levaram milhares de homens a sarem dos campos e se concentrarem nas cidades, em busca de trabalho. Um dos motivos que levou as indstrias a se estabelecerem nas cidades porque nela moravam os homens mais ricos, com dinheiro para aplicar no novo negcio ou para comprar os produtos industrializados. Novas relaes de trabalho foram criadas: os donos das indstrias empregavam o operrio em troca de um salrio, com o qual o trabalhador deveria se sustentar e sua famlia. No campo, muitas terras antes destinadas ao cultivo de alimentos, foram reservadas para os rebanhos de carneiros fornecedores de l, matria prima para as indstrias, pro-vocando uma queda na produo de alimentos, que se tornaram mais caros; e na cidade no havia infra-estrutura bsica para atender populao que se agigantava. As condies de vida eram pssimas: gua impura, esgoto a cu aberto, casas superlotadas, sujas e em mau estado; homens usando roupas esfarra-padas; comida insatisfatria, tanto na qualidade quanto na quantidade; crianas trabalhando desde os 5 anos de idade. Somam-se a isso as condies insalubres de trabalho, as longas jornadas e o baixo salrio pago aos trabalhadores. Nesta situao, as epidemias de doenas infecciosas e parasitrias se alastravam e eram causas da grande maioria de bitos. De 1847 a 1854, a clera matou milhares de pessoas na Europa, principalmente na Inglaterra. Pode-se afirmar que a preocupao com a sade pblica teve origem nessa poca, uma vez que a proximidade e a mistura das pessoas na cidade expunha a todos (ricos e pobres), sem exceo, ao risco de adoecer e morrer. Por isso, as autoridades comearam a tomar medidas sanitrias para melhorar as condies de vida da populao em geral e assim, dificultar o aparecimento e a propagao de doenas. Atualmente, nos pases do primeiro mundo, o desenvolvimento industrial e da sociedade provocaram mudanas profun-

das nas condies de vida das pessoas e, conseqentemente, alteraram o quadro de doenas nas populaes. Dentre essas mudanas pode-se destacar: infra-estrutura bsica generalizada; melhores condies de trabalho (melhores salrios, menos horas e dias de trabalho semanal), moradia, vesturio, alimentao, educao, lazer; acesso a assistncia mdica e hospitalar; cuidados materno-infantis; erradicao das doenas infecciosas; controle ambiental (poluio do ar e da gua, desmatamentos, etc.). Todos estes fatores contriburam para elevar a expectativa mdia de vida das populaes, em alguns pases, acima dos 70 anos de idade. As mortes por doenas infecciosas e parasitrias tornaram-se raras, predominando-se as doenas vasculares, cardacas, pulmonares, hereditrias, mentais e tumores malignos. Em muitos pases desenvolvidos, existem parcelas da populao que vivem em estado de misria, onde as condies de sade so precrias. Cabe ressaltar que o desenvolvimento do primeiro mundo se d tambm s custas da explorao do terceiro mundo (os pases subdesenvolvidos), fazendo com que a misria das populaes caminhe lado a lado com as doenas infecciosas e parasitrias, alm de ocorrerem s doenas tpicas dos pases industrializados. Nos pases industrializados ou em fase de industrializao, as indstrias se constituem fontes geradoras de doenas: produzem doenas profissionais acarretadas pelo tipo de trabalho que a pessoa executa, ou pela qualidade do ambiente em que trabalha; produzem acidentes de trabalho, provocando doenas, invalidez ou morte; fabricam produtos txicos que so consumidos pela populao: bebidas alcolicas, cigarros, etc. que podem provocar doenas cardio-vasculares, pulmonares, hepticas, cncer e outras;

alteram a qualidade dos alimentos e o padro alimentar dos indivduos: produzem alimentos sem fibras, ricos em conservantes e corantes, com baixo valor nutritivo; estimulam o consumo de acar e gorduras, podendo provocar lceras gstricas, obesidade, doenas dentrias, cncer, etc.; poluem o meio ambiente com seus resduos txicos e com o excesso de barulho, o que pode acarretar doenas genticas, pulmonares, do aparelho auditivo, do sistema nervoso, cncer, etc.. Os homens na sociedade moderna possuem uma grande variedade de atividades relacionadas a outros setores da economia (construo civil, administrao, setor bancrio e comercial, publicitrio, servios pblicos, profissionais liberais, etc.) que, nas suas especificidades, tambm oferecem riscos de acidentes de trabalho, doenas profissionais ou exposio a agentes fsicos, qumicos, biolgicos e psicolgicos que predispem a uma srie de doenas, como, por exemplo, problemas pulmonares, circulatrios, visual, auditivo, de coluna, do sistema nervoso, etc.. III - Sade-doena como reflexo do processo de vida As condies de sade esto estreitamente relacionadas com a maneira pela qual o homem produz seus meios de vida atravs do trabalho, e satisfaz suas necessidades, atravs do consumo. A sade de uma populao, genericamente, depende da qualidade e do acesso ao consumo de certos bens e servios de subsistncia, que se constituem, basicamente, de moradia, alimentao, educao e assistncia em sade. Moradia Moradia no significa apenas a casa onde o homem habita. As ruas, os animais, o ar ambiente, a gua, o clima e as caractersticas geogrficas (relevo, hidrografia, 35

etc.), os meios de transporte, os lugares de trabalho, educao e lazer, enfim, todo o conjunto de ambientes por ele freqentado ou que o cerca, definem o seu morar. Os modos de morar incluem, tambm, o convvio com outras pessoas e demais seres vivos do meio. Nesse sentido, a morada do homem a prpria localidade (rural ou urbana) em que ele vive. No Brasil, a partir de 1930, o grande aumento da industrializao em torno das grandes cidades, onde havia maior potencial de desenvolvimento econmico, estimulou o xodo da populao rural, provocando sucessivas urbanizaes. Essas concentraes de pessoas observadas nas grandes cidades deve-se ao fato de que as possibilidades (oferta) de empregos tambm concentravam-se nas cidades e diluam-se no campo. A distribuio da populao brasileira nas regies muito desigual, havendo maior concentrao nas regies Sudeste e Sul, economicamente mais ricas: mais ou menos 61% dos brasileiros vivem nestas regies que representam, juntas, apenas 18% da rea total do Pas. O xodo rural traz, muitas vezes, trs tipos de conseqncias para a sade das populaes da cidade: os imigrantes levam doenas que antes no afetavam as populaes das regies para as quais eles se dirigem e passam a habitar (por exemplo, a esquistossomose); auxiliam na disseminao de certas endemias regionais (por exemplo, a malria); e aumentam a necessidade de atendimentos de sade, em nvel hospitalar e ambulatorial, criando novas necessidades de atendimento mdico-sanitrio devido a diversificao do quadro de doenas. O crescimento acelerado dos grandes centros urbanos, sem uma infra-estrutura de servios pblicos (saneamento, habitao, escolas, transportes, servios de sa-

de, etc.) suficientes para atender a toda a populao, particularmente as que se mantm marginalizadas em favelas, cortios, etc., agrava consideravelmente a qualidade de vida de seus habitantes. Muitas doenas infecciosas e parasitrias, como a febre tifide, clera, hepatite, febre-amarela, esquistossomose, dentre outras, so transmitidas atravs da gua e alimentos contaminados. A diarria, especialmente, responsvel por cerca de mil mortes por ano, de crianas menores de um ano, no Brasil. Na grande cidade, alm dos problemas de sade provocados pela falta de infra-estrutura bsica, o grande nmero de veculos nas ruas, a poluio (sonora, visual e atmosfrica), a presena de animais como o rato, a barata e uma enorme variedade de outros insetos, o aumento da violncia e criminalidade, a falta de espao para o lazer, para o contato com a natureza, aumentam ainda mais o risco de adoecer das populaes. Nas pequenas cidades do interior ou nas zonas rurais, a situao tambm muito grave: persistem doenas como a malria,doena de chagas, esquistossomose, sarampo, todas elas relacionadas com as precrias condies de vida da populao (casas de pau-a-pique, taipa ou de barro, ausncia de canalizao de esgotos, utilizao de gua infectada para banhos, lavagem de roupas e preparao de alimentos). A pobreza, a falta de casa, comida e educao adequados, a higiene deficiente e a ausncia de saneamento levam debilidade orgnica e, conseqentemente, pre-dispem a populao s infeces, alta mortalidade infantil e a um desenvolvimento fsico e mental deficientes. Finalmente, com relao moradia do homem, deve-se assinalar que as caractersticas geogrficas e climticas de uma regio podem influenciar no quadro de doenas da populao, uma vez que criam condies diferenciadas para o aparecimento de insetos e outros agentes transmissores de doenas. Por exemplo: o clima quente e mido, a presena da floresta Amaznica e

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uma rede fluvial rica so condies que favorecem o aparecimento do inseto (mosquito Anpheles), transmissor da malria, no norte do Brasil. Alimentao A alimentao , sem dvida, um fator relevante que contribui para o estado de sade-doena das pessoas. Os organismos debilitados so muito menos resistentes aos microorganismos invasores. O sarampo e a diarria, por exemplo, so doenas ino-fensivas em crianas bem nutridas, mas so graves e fatais em crianas subnutridas. A Organizao Mundial de Sade concluiu que "nos pases em desenvolvimento, a metade ou 3/4 de todas as mortes infantis so resultantes do binmio subnutrioinfeco...". Concluiu, tambm, que "antes da existncia das vacinas, praticamente todas as crianas do mundo contraiam sarampo, mas a mortalidade era 300 vezes maior nos pases mais pobres do que nos pases mais ricos. A razo (...) " o fato de que em co-munidades pobres e de alimentao prec-ria, os micrbios atacam um hospedeiro incapaz de resistir. O mesmo acontece com as infeces intestinais e respiratrias, pelos quais os pobres e subnutridos pagam pesado tributo". Uma alimentao adequa-da a melhor vacina contra a maioria das doenas infecciosas. Alm de predispor o organismo s infeces, a subnutrio afeta o crescimento da criana e seu sistema nervoso, provocando a debilidade mental. Nos dizeres do Prof Nelson Chaves': "Em 1973, denunciei uma diminuio na estatura do homem e da criana na Zona da Mata. Uma criana de sete anos, comparada com o padro normal, tem uma deficincia de 45% na estatura. Com a carncia de protenas, vitamina D, clcio e fsforo, est se estabelecendo um verdadeiro nanismo. Se ____________1 Patarra, I. Fonte no Nordeste Brasileiro Marco Zero, Rio de Janeiro

voc comparar a estatura de rapazes da praia de Boa Viagem, em Recife (bairro rico), com os rapazes de um morro do Recife, existe uma diferen-a fantstica. Tambm encontramos debilidade mental em crianas prescolares nos estudos que conduzimos. Mutilao cerebral deficincia mental irreversvel. As crianas j nascem com reduo de 40% a 60% das clulas nervosas. Como essas clulas no se reproduzem aps o nascimento, sero pessoas mutila-das cerebralmente. E isso no tem remdio. Nas escolas, essas crian-as ficam repetindo de ano e a maioria abandona os estudos por incapacidade de aprender. De modo que se forma uma gerao de nanicos e de mutilados cerebrais. Seu volume grande e crescente porque a fome est aumentando com a inflao e o preo dos alimentos". Educao A baixa escolaridade tambm exerce um papel na disseminao das doenas. Higiene inadequada, imunizaes deficientes ou no praticadas, padro alimentar errneo, no que diz respeito me e ao recm-nascido, so exemplos tpicos de situaes onde o desconhecimento da me e da famlia interferem no aparecimento de doenas. Entretanto, difcil dizer se os problemas de sade gerados tm origem no desconhecimento ou se so devidos s condies scio-econmico-culturais da famlia. O censo de 1980 revelou que no Brasil sete milhes e quinhentas mil crianas entre 7 e 14 anos no estudam. No Nordeste, 44,3% da populao com mais de 14 anos so analfabetos. Apenas 3,6% dos alunos matriculados no primeiro grau chegam oitava srie, e no setor rural, apenas 1,9% da populao chega quarta srie do pri-meiro grau.

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Assistncia sade A assistncia em sade significa qualquer ao ou medida de controle que objetive melhorar a qualidade de vida do indivduo e das populaes.A preocupao com a sade pblica, como j foi visto, teve incio quando os aglomerados urbanos propiciavam a propagao de muitas doenas infecciosas, matando milhares de pessoas. Na segunda metade do sculo XIX, a introduo de medidas higinicas fez diminuir as doenas transmitidas pela gua e alimentos contaminados.At 1900, o grande avano conseguido pelos pases desenvolvidos foi a canalizao da gua e dos esgotos. Em seguida, a higiene alimentar e a esterilizao no engarrafamento e no acondicionamento do leite e de outros produtos alimentares, bem como o controle da poluio ambiental, concorreram para a melhoria das condies de sade da populao. No Brasil, segundo dados de Gentile de Mello', menos de 70% dos domiclios urbanos e menos de 15% dos rurais possuem canalizao interna de gua. Apenas 40% dos domiclios urbanos e menos de 5% dos rurais possuem instalaes adequadas de esgotos. S 15% dos domiclios urbanos tem fossa. Um estudo realizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento do Rio de Janeiro, em 1982, nas 364 favelas existentes na cidade, mostrou que no h saneamento bsico em quase todas elas: os detritos e esgotos circulam em valas abertas. Mais de 50% da populao sofre das doenas provocadas pela falta de saneamento. A medicina, atravs do descobrimento dos micrbios e dos mtodos de exterminlos, das vacinas, dos antibiticos, de uma grande variedade de medicamentos e equipamentos, contribuiu para o controle e a erradicao de muitas doenas. Entretanto, cabe ressaltar que, muito antes da descoberta da penicilina (usada para o tra_________________2 GENTILE, C.M. A Sade da Populao: Situao Atual e Perspectivas. Doc. Centro de Estudos Superiores de Londrina (mimeo).

tamento da tuberculose), houve grande reduo da doena na Inglaterra. A primeira e grande razo do declnio da mortalidade causada por esta e por outras doenas infecciosas foi a melhoria das condies de vida das populaes: melhores salrios, alimentao, moradia, etc.. No aspecto individual, a medicina desempenha importante papel no alvio de sintomas, no cuidado de doentes, no atendi-mento das emergncias, nas cirurgias e na cura de algumas enfermidades. Mas, de uma maneira geral, a medicina pouco contribui para reduzir a mortalidade. As contribuies que ela trouxe foram, em grande parte, anuladas pelas doenas iatrognicas por ela provocadas. Segundo Ricardo Veronesi3, no Brasil morre-se mais de infeces hospitalares que de tuberculose, sarampo, ttano, meningite, difteria, poliomielite e acidentes de automveis. A iatrognese clnica, isto , a alterao fsica (doena) causada diretamente pelos mdicos em suas tentativas de cura, tambm muito comum de acontecer. Consideraes finais O atual estgio de desenvolvimen-to em que se encontra a sociedade brasileira apresenta caractersticas semelhantes quelas encontradas na Europa do Sculo XIX:rpida urbanizao, falta de saneamento, altas taxas de desemprego e subempregos, ndices elevados de aglomerao dentro das casas, baixos salrios, analfabetismo. Dentre outros fatores, isto mostra a extrema desigualdade na repartio da renda nacional, resultando na massificao da pobreza e na crescente deteriorao das condies de sade da populao. As situaes de doenas e mortalidade da populao de baixa renda (rural e urbana) exprimem uma realidade em que predominam a misria, a fome, o alcoolismo, a violncia, onde grandes massas populacionais esto cada vez mais excludas do processo de de_________________3 VERONESSI, Ricardo - No Brasil Infeco Hospitalar Mata Mais Que Muitas Doenas. Outubro 1982.

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senvolvimento. Deve-se ressaltar que o nvel de vida de uma populao no se mede apenas pelo grau de remunerao de seus trabalhadores. O Estado se faz presente como captador e distribuidor de um fundo pblico destinado vida coletiva: transportes, educao, sade, habitao, saneamento, aposentadorias, penses, etc., que so controlados ou geridos pelas diversas instncias do Governo (Municipal, Estadual ou Federal).Assim, os fundos pblicos destinados a subsidiar bens e servios so de muita importncia na determinao do padro de vida (e de sade) da populao. A insuficincia ou precariedade desses servios, associados aos baixos salrios, tm reflexos diretos e imediatos nas condies gerais de sade dos indivduos. Assim, a diminuio da mortalidade por doenas infecciosas, que ocorreu na Europa no sculo passado, no aconteceu porque os homens ficaram menos expostos aos microorganismos, nem por causa dos antibiticos ou das vacinas. O declnio ocorreu porque houve melhoria das condies scio-econmicas das populaes, atravs de uma melhor distribuio de renda, de uma poltica voltada para as questes sociais. Alm disso, houve uma crescente tomada de conscincia dos direitos de cidadania entre os indivduos. Entretanto, se o corpo humano o primeiro e principal instrumento de trabalho do homem, e se ele continua sendo valorizado apenas pelo que pode produzir, preciso avanar muito mais no sentido de redimensionar seu valor e perceb-lo nas suas vrias potencialidades para a realizao do homem.

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Texto 2 MECANISMO DE DEFESA (NOES BSICAS)Cladia M. Silva (*)

I Introduo Todos os seres vivos procuram constantemente manter seus organismos ajustados em relao ao ambiente em que vivem. Para isso, eles dispem de sistemas de controle que mantm o corpo em condies compatveis com a vida. Quando as agresses do meio ambiente ameaam a integridade do ser vivo, seus mecanismos de defesa so acionados na tentativa de reestabelecer o equilbrio necessrio sua sobrevivncia. Se estes mecanismos de defesa falham, instalase a doena. Como foi visto anteriormente, a doena um processo relacionado mltiplas causas: quando uma pessoa adquire a doena tuberculose, por exemplo, isto no se deve exclusivamente ao fato dela ter-se contaminado com o microorganismo causador da doena. A interao deste fato com os fatores relacionados s condies de vida da pessoa (condies sanitrias, alimentao, caractersticas do trabalho, renda e consumo, moradia, resistncia fsica, condies emocionais, etc.) vo atuar no processo de instalao da doena. II - Como os indivduos se defendem: fatores ligados a estrutura e ao funcionamento do corpo 1. Pele e mucosas

e substncias qumicas; as membranas mucosas oferecem menor resistncia penetrao desses agentes, sendo muitas vezes a porta de entrada para vrios agentes patognicos. 2. rgos do sentido

O tato, olfato, paladar, audio e viso contribuem na defesa dos indivduos, ativando uma ao de fuga quando h ameaa de perigo. Exemplos: retirada da mo quando se toca algum objeto quente; arejamento de ambientes com cheiro de gs, fechamento dos olhos na presena de muita luz e fumaa; etc... 3. Reflexos:

Muitos reflexos so importantes mecanismos de defesa: a tosse e o esprito representam um esforo para limpar as vias respiratrias de substncias irritantes; as secrees mucosas, como as lgrimas, tm substncias especficas contra micrbios patognicos. 4. Suco gstrico

Contm substncias capazes de destruir muitos microorganismos e neutralizar agentes txicos. 5. Fgado

Transforma certos tipos de venenos orgnicos em produtos inofensivos que so excretados pelo organismo. 6. Aparelho respiratrio

A pele e as membranas mucosas intactas fornecem ao corpo uma importe barreira contra muitos microorganismos ______________(*) CirurgiDentista Ministrio da Sade, SMS/BH; SES/MG.

O movimento ciliar do trato respiratrio ajuda a impedir que partculas estranhas penetrem nos pulmes.

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Rins, glndulas sudorparas, intestinos, bilis

Eliminam substancias txicas atravs de suas excrees. 8. Ossos

Venenos metlicos, como o chumbo, so rapidamente removidos da circulao e armazenados nos ossos, de onde so lentamente mobilizados e excretados por um longo perodo de tempo. 9. Tolerncia

e destruir qualquer agente agressor, seja ele uma bactria, um organismo pluricelular ou uma partcula qualquer. Esse fenmeno chamado fagocitose. Outras clulas do sangue, os eosinfilos e basfilos (tambm clulas brancas), e as plaquetas contribuem de maneira significativa para o desempenho deste sistema. Os agentes nocivos que escapam da fagocitose so transportados pelos vasos linfticos at os ndulos linfticos perifricos (gnglios), que so filtros que removem bactrias e outras toxinas antes que elas atinjam a corrente sangunea. Se essas barreiras regionais falham e os agentes agressores chegam a corrente sangunea, as clulas brancas do sangue e outros fagcitos entram em ao, realizando tambm a fagocitose. 2. O sistema especfico atua formando substancias chamadas anticorpos, que se combinam com os agentes agressores persistentes no organismo at tornados vulnerveis fagocitose e a digesto pela clula. Este sistema possui trs caracteristicas: especificidade: a capacidade de produzir anticorpos especficos para cada tipo de invasor; heterogeneidade: significa que cada tipo de clula desse sistema possui uma capacidade prpria de responder aos agentes nocivos, diferentes para cada um destes agentes; memria: a capacidade que o sistema imunolgico especfico possui de reconhecer um elemento estranho que j atacou anteriormente o organismo, e responder a uma segunda agresso deste elemento de maneira mais rpida e intensa. Clulas altamente sofisticadas, chamadas linfcitos so responsveis pelas diferentes respostas do sistema imunolgico especifico. H dois tipos de linfcitos: B e T. Os linfcitos do

O organismo desenvolve tolerncia a alguns tipos de agentes qumicos, tais como a nicotina e o arsnio., de tal forma que se requerem cada vez mais doses maiores para produzirem seus efeitos txicos. III - Mecanismo de defesa especial: o sistema imunolgico O sistema imunolgico, formado por diferentes clulas e tecidos, tem as funes de defender o organismo contra diversos tipos de agresses e impedir que alteraes ocorridas nas clulas do corpo (por enveIhecimento ou anor-malidade) perturbem seu funcionamen-to. Didaticamente o sistema imunlo-gico dividido em inespecifico e especifico, que, embora agindo diferen-temente um do outro, esto intimamente relacionados, auxiliando-se e comple-tando-se mutuamente. 1. O sistema inespecifico atua desen-volvendo uma reao inflamatria no local da agresso. Esta inflamao, caracterizada pelo aumento do fluxo sanguneo na rea afetada (edema, calor, rubor e dor) representa um esforo do corpo para deter e des-truir os invasores. Certas clulas, especialmente os macrfagos (encontrados principalmente na medula ssea, sangue, fgado, pulmes, bao, e sistema nervoso) e os neurfilos (clula branca do sangue) se dirigem para o local da invaso e tentam engolfar

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tipo B so os responsveis pela formao dos anticorpos, que so tambm denominados imunoglo-binas. Existem cinco tipos de imunoglobinas, com caractersticas e funes especficas: IgG, IgM, IgD, IgE, IgA. A IgA est presente na saliva, e atua na defesa das infeces que ocorrem na cavidade bucal. Os linfcitos do tipo T so responsveis pela destruio de clulas do prprio organismo que por alguma razo foram alteradas (num cncer, por exemplo) e pela produo de substncias que, dentre outras funes, so capazes de matar clulas infectadas por microorganismos. IV - Imunidade, susceptibilidade e resistncia: A capacidade que o organismo possui de formar anticorpos especficos contra um determinado agente que se chama imunidade (natural ou adquirida). Imunidade Natural: h certas espcies e raas de seres vivos que so naturalmente imunes a muitas doenas. Por exemplo: o homem naturalmente imune a muitas doenas que afetam alguns animais e viceversa. Imunidade Adquirida: a formao de anticorpos especficos a partir do contato do indviduo com os agentes causadores de doena, com as vacinas ou com os soros imunes. A imunidade adquirida pode ser de dois tipos: Imunidade passiva; e Imunidade ativa. A imunidade adquirida passiva de curta durao (alguns dias a vrios meses). Pode ser obtida por transmisso materna (atravs da placenta), ou por inoculao de anticorpos protetores especficos (por exemplo: soro antitet-nico, soro antidiftrico, etc.). A imunidade adquirida ativa dura me-

ses ou anos e pode ser adquirida como conseqncia de uma doena sofrida pelo indivduo (sarampo, caxumba, varicela, etc.); a partir da exposio do organismo aos agentes patolgicos, sem que a doena chegue a manifestar-se clinicamente; ou ainda atravs de uma imunizao (por meio das vacinas). As conseqncias da interao entre o corpo humano e o agente agressor variam bastante de acordo com as caracteristicas do individuo. A susceptibilidade do organismo depende de fatores genticos, fatores gerais de resistncia s doenas e condies de imunidade especifica para cada tipo de doena. Uma pessoa ou um animal considerado susceptvel quando no possui resistncia contra um agente patognico determinado, que o leva a adoecer quando em contato com este agente. Resistncia o conjunto de mecanismos corporais que servem de defesa contra a invaso ou multiplica-o de agentes infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus produtos txicos. 1. Fatores que interferem na sus-ceptibilidade ou resistncia dos indivduos: idade: a ocorrncia e a gravidade das doenas variam de acordo com a idade do individuo: os dois extremos (recm-nascidos e pessoas idosas) so mais susceptveis a certos tipos de doenas. Por exemplo: poliomielite e sarampo, nas crianas e hipertenso arterial e tumores nos velhos; sexo: as variaes na ocorrncia e distribuio das enfermidades de acordo com o sexo refletem, na maioria das vezes, o grau de exposio aos riscos de adoecer, que diferente entre homens e mulheres. Por exemplo: so as mulheres que geralmente cuidam de um doente na famlia; a gravidez predispe a infeco das vias urinarias e pode agravar outras doenas preexistentes. Algumas doenas so mais comuns nas mulheres: Diabetes Mellitus, clculos biliares, obe-

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sidade e artrite. Nos homens, a lcera pptica, a hrnia inguinal, cardiopatias e o cncer de pulmo, so mais comuns; grupo tnico a grupo familiar: h variaes geneticamente determinadas que podem aumentar ou diminuir a resistncia dos indivduos. Entretanto, difcil demonstrar que as diferenas na ocorrncia das doenas so geneticamente determinadas, j que devese levar em conta todos os fatores ambientais e scio-econmicos envolvidos na causalidade das doenas. Um exemplo tpico com relao a grupos tnicos a maior resistncia que os povos caucasianos desenvolveram a tuberculose, comparando-os com a raa negra. Do mesmo modo que acontece com os grupos tnicos, os indivduos de uma mesma famlia podem diferir entre si corn relao susceptibilidade as doengas. Provavelmente, esta diferenga geneticamente determinada, ja que as influencias ambientais so , geralmente, as mesmas para toda a famlia (dieta, educao, condio scio-econmica, etc.); nutrio: estado nutricional e infeces esto intimamente relacionados, sendo que um agrava o outro. Exemplos: desnutrio intensa acompanhada de baixa ingesto de nitrognio, diminui a resposta imune do individuo, aumentando sua susceptibilidade as infeces bacterianas; crianas subnutridas apresentam o sarampo de forma mais grave. A obesidade tambm esta qualificada como causa da reduo da esperana de vida: prdispe a cardiopatia coronariana, hipertenso arterial e Diabetes Mellitus; enfermidade: comum que uma doena contribua para a instalao de outra. Exemplo: broncopneumonia bacteriana em pessoas corn enfermidade crnica de origem no infecciosa; susceptibilidade do diabtico as infeces bacterianas; gripes virticas

que podem propiciar o desenvolvimento de uma pneumonia bacteriana, etc.. Outros fatores tambm podem de uma forma ou de outra interferir na susceptibilidade ou na resistncia individual das pessoas, tais como o use de drogas, lcool, certos medicamentos, etc.. Nas populaes, a quantidade de individuos susceptveis um fator muito importante que tem influencia na propagao das doengas, principalmente daquelas que passam de um individuo para outro. Os estados de susceptibilidade e resistncia iro depender tambm das condies de vida da populao, e variaro de acordo corn os vrios tipos de doenas.

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BIBLIOGRAFIA1. 2. BARROS FILHO, Sebastio Duarte de. Sistema Imunolgico (Noes Bsicas). Braslia, 1985. mimeo. BRETA, Gustavo. Conceitos Bsicos de Imunologia e a sua Aplicao na Compreenso dos Mecanismos Fisiopatogenicos das Doenas Infecciosas ado Uso de Vacinas. In: Capacitao de Enfermeiros em Sade Publica para o Sistema nico de Sade. Controle das Doenas Transmissveis. 1 ed. Braslia, 1992. GOWDAK, Demtrio. Corpo Humano: Estrutura HEREDITARIEDADE. So Paulo: FTD S.A. e Funes SAUDE

3. 4.

ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SAUDE/OMS. Princpios de Epidemiologia para el Control de Enfermidades. In: Capacitao de Enfermeiros em Sade Publica para o Sistema nico de Sade. Controle das Doengas Transmissveis. 1 ed. Braslia, 1992. SA, Eliana Maria de Oliveira. Os Padres Individuais da Resistncia. Belo Horizonte, 1990. mimeo. VASCONCELOS, Jos Luiz e GEWANDSZNAJDER, Fernando. Programas de Sade. So Paulo: Atica S.A., 1990.

5. 6.

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SEGUNDA UNIDADE

SEGUNDA UNIDADE

PROPOSITOEstudar o corpo humano a partir de seu funcionamento. Pretende ainda estudar a Anatomia Bucal, especialmente dos dentes e periodonto.

OBJETIVOS1 Estudar o funcionamento do corpo humano (sistemas digestivo, respiratrio, circulatorio, Iinftico, nervoso, muscular, endcrino, reprodutivo, esqueltico, urinrio, sensorial e tegumentar). 2 Estudar a anatomia e as funes da cavidade bucal.

3 Descrever as caractersticas anatmicas e funcionais da dentio humana (permanente e decdua). 4 Conhecer os tecidos dentrios: esmalte, dentina, cemento e polpa. 5 Conhecer a seqncia da erupo dentaria e a notao grfica dos dentes permanentes e decduos. 6 Conceituar e descrever as funes do periodonto.

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SEGUNDA UNIDADE CONCENTRAOSEQNCIA DE ATIVIDADES I 1 Debater as seguintes questes: Qual o valor e a serventia do corpo? O que ajuda a conservar o corpo e o que o estraga? 2 Discutir as seguintes questes: Como o corpo por dentro e por fora? Como ele funciona, por exemplo, quando um alimento colocado na boca? 2 1 ORIENTAO PARA O INSTRUTOR I Solicitar o registro individual das opinies. A seguir, trabalhar com todo o grupo estimulando a discusso livremente. Sugere-se: 10 minutos para o registro individual e 30 minutos para discusso em grande grupo. Trabalhar em pequenos grupos. Estimular a expresso atravs de desenhos, esquemas, etc.. Solicitar a descrio do funcionamento do corpo, no exemplo dado, abordando todos os mecanismos e sistemas envolvidos na transformao do alimento para ser utilizado pelas clulas do corpo e o mecanismo de eliminao dos resduos. Avaliar o grau de conhecimento dos treinandos com relao localizao e funcionamento dos rgos do corpo. Ajudar na montagem de um desenho localizando os rgos internos e externos do corpo e associando-os segundo suas funes e interaes. Classificar os sistemas do corpo, utilizando outros recursos visuais.

3

Apresentar trabalhos.

o

resultados

dos

3

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4

Ler o texto "Anatomia e Funcionamento do Corpo Humano".

4

Orientar a atividade em pequenos grupos. Aps a leitura, sugerir a cada grupo a apresentao de uma parte do texto. Se houver possibilidade, usar recursos tais como: desenhos, slides, etc. Apresentar o filme e estimular a discusso posteriormente

5

Assistir ao filme "O corpo e seus sistemas".

5

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SEQNCIA DE ATIVIDADES II 1 Discutir a seguinte questo: Qual a importncia da boca para voc? 2 Como voc se sente quando sua boca tocada por um profissional de sade bucal? Quais as condies que favorecem o aparecimento das sensaes relatadas no item anterior? 2 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR II Trabalhar com todo o grupo estimulando o relato de opinies. Registrar as respostas.

Estimular o relato das experincias e registrar as respostas.

3

3

Atentar para os seguintes aspectos: comportamento profissional (postura, segurana, domnio, situaes de stress, etc.); a comportamento do paciente (medo, dor, experincias anteriores, traumas, etc.); condies de trabalho (aspecto do ambiente, recursos disponveis, etc.); relao paciente-profissional (troca de informaes, dilogo, respeito, etc.).

4

Acompanhar no servio, o atendimento odontolgico de um usurio do momento em que chega na unidade de sade at a sua sada. Registrar as respostas.

4

Orientar a atividade com base na discusso do item 3.

5

Apresentar os observaes.

resultados

das

5

Orientar a atividade.

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6

Discutir as formas de abordar o usurio antes, durante e aps o atendimento odontolgico.

6

Trabalhar com todo o grupo. Enriquecer a discusso chegando ao entendimento da boca como um importante meio de relao do homem com o mundo. Ressaltar as modificaes que uma situao de dor e medo podem provocar no comportamento do paciente e os cuidados que os profissionais devem ter na conduo destas situaes. Discutir, ainda, aspectos referentes ao preparo psicolgico dos pacientes (especialmente crianas), condutas de atendimento, encaminhamentos e a importncia do inter-relacionamento com outros profissionais de sade da unidade (mdicos, enfermeiras, psiclogos, assistentes sociais, auxiliares, etc.). Registrar as respostas.

.

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SEQNCIA DE ATIVIDADES III 1 Observar e listar as estruturas presentes na cavidade bucal, relacionando-as com suas funes. Retomando a discusso da Seqncia I, item 2, letra b, descrever o que acontece com o alimento dentro da boca, ressaltando a ao das estruturas bucais sobre ele. 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR III Trabalhar com todo o grupo. Utilizar espelhos para o autoexame.

2

2

Em pequenos grupos, orientar na identificao dos elementos envolvidos na mastigao e deglutio: (msculos, ossos, dentes, bochechas, gengiva, mucosa, lngua (movimento e paladar), palato, glndulas salivares, inervao e irrigao sangnea. Trabalhar em grande grupo avaliando o grau de conhecimento dos treinandos. Utilizar recursos visuais para auxiliar na identificao das estruturas anatmicas da cavidade bucal, relacionando-as com suas funes.

3

Apresentar o resultado da discusso.

3

4

Leitura e discusso do texto "A Cavidade Bucal (Anatomia e funcio-namento)"

4

Realizar a atividade de leitura em pequenos grupos. seguir, realizar a discusso com todo grupo. Solicitar que os alunos faam, individualmente, uma sntese do texto.

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SEQNCIA DE ATIVIDADES IV 1 Analisar um desenho da cavidade bucal e a partir da observao da prpria boca, verificar: Quantos dentes esto prsentes na sua boca? E no desenho? Quais dentes so iguais e quais diferem entre si? Qual a funo de cada grupo dental? 2 Observar e identificar em diferentes dentes humanos: grupos dentais (nomenclatura e localizao nas arcadas); diferenas no tamanho, forma e cor dos grupos dentais e nos dentes individualmente. Registrar respostas. 3 Apresentao do resultado das atividades do item anterior. 3 2 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR VI Apresentar um desenho da cavidade bucal e orientar a observao individualmente.

Trabalhar em pequenos grupos. Distribuir entre eles os vrios tipos de dentes previamente selecionados. Solicitar aos alunos que faam a montagem dos dentes, segundo seus prprios critrios e experincias.

Avaliar o grau de conhecimento dos alunos. Acrescentar informaes sobre os diferentes grupos dentais (nomenclatura, posio nas arcadas, nmero de dentes de cada grupo, diferenas de forma, cor, tamanho, nmero de razes, superfcies dentais e partes do dente). Discutir ainda o porqu das variaes que ocorrem entre os dentes, de acordo com suas funes. Utilizar recursos visuais.

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4

A partir de observaes, desenhar ou modelar dentes.

4

Trabalhar com pequenos grupos. Distribuir entre eles o material necessrio e orientar na escultura das superfcies dentais, destacando: ngulos proximais, sulcos, fissuras, fossas, tubrculos, etc.. Reforar as diferenas entre os dentes das arcadas superior e inferior. Orientar a atividade para que cada grupo desenhe ou modele, no mnimo, um elemento de cada grupo dental. Sugere-se que esta atividade possa ser executada a partir do preenchimento com cera nas cavidades de dentes cariados, onde os alunos possam reconstruir as superfcies danificadas. Avaliar os. trabalhos, acrescentando informaes e esclarecendo dvidas.

5

Apresentao dos resultados da atividade do item anterior. Observar em dentes seccionados as estruturas internas e externas que os compem.

5

6

6

Trabalhar com todo o grupo. Ajudar os treinandos na identificao dos tecidos que compem um dente utilizando canetas hidrocor. Atentar para as junes amelo-cementria e amelodentinria. Identificar a cmara pulpar, o canal radicular e o forame apical. Atentar para as diferenas anatmicas entre dentes uni, bi e trirradiculares. Trabalhar com todo o grupo, registrando as respostas.

7

Debater a seguinte questo com base em sua experincia: A dentio da criana (decdua) igual dentio do adulto (permanente)? Por qu?

7

8

Observar dentes decduos e descrever suas caractersticas (semelhanas e diferenas com relao dentio permanente).

8

Trabalhar com pequenos grupos. Apresentar dentes decduos e estimular a observao e descrio dos dentes. Apresentar, tambm, dentes seccionados para serem observados, analisados e coloridos os seus diferentes tecidos.

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9

Apresentar o resultado das discusses do item anterior.

9

Acompanhar a apresentao registrando as respostas. Acrescentar informaes e esclarecer dvidas.

10 Discutir como e quando ocorre a troca de dentes na criana

10 Estimular a discusso em grande grupo. Acrescentar informaes sobre o processo de exfoliao dentria utilizando recursos visuais. 11 Trabalhar com todo o grupo, registrando as respostas. Chegar ao conceito de periodonto, identificando as partes que o compem e suas funes. Utilizar recursos visuais. 12 Orientar a atividade de leitura em pequenos grupos.

11 A partir de observaes e da experincia prvia, descrever como os dentes esto fixados na boca.

12 Ler os textos "Anatomia Dentria" e "Anatomia do Periodonto".

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SEGUNDA UNIDADE DISPERSO

SEQNCIA DE ATIVIDADES 1 Montar os arcos dentrios superior e/ ou inferior, utilizando dentes permanentes extrados. Se possvel, mont-los em gesso. Elaborar snteses dos textos estudados nesta unidade, e se possvel, montar cartazes ilustrativos acerca dos temas abordados. 1

ORIENTAO PARA O INSTRUTOR Orientar a atividade, rediscutindo com os alunos as caractersticas anatmicas dos dentes e suas posies nos arcos dentrios. Acompanhar a atividade ajudando os alunos na identificao das idias principais de cada texto.

2

2

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FICHA DE AVALIAO NO PROCESSO

PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SADE-DOENA BUCAL

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64 FICHA DE AVALIAO NO PROCESSO

PREVENINDO E CONTROLANDO O PROCESSO SADE-DOENA BUCAL

TEXTOS DE APOIO SEGUNDA UNIDADE

Texto 3 NOES DA ANATOMIA E DO FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANOCludia M. Silva (*) Introduo Desde a antiguidade o homem preocupa-se em conhecer seu corpo, como formado e como funciona. Cada povo, de acordo com sua viso de mundo (cultura, religio, organizao social, etc.), desenvolveu estudos e conceitos sobre o corpo, a partir, principalmente, da necessidade de curar doenas ou ferimentos em campos de batalha. Hipcrates, um grego do sculo V a.C., definiu o corpo como um agrupamento de partes correlatas. O desenvolvimento do estudo do corpo levou ao aparecimento de uma cincia chamada Anatomia, que aprofundou o estudo da constituio e do desenvolvimento dos seres vivos. O termo Anatomia significa "cortar em partes", e por isso, o corpo foi dividido em partes, que so chamadas sistemas (sistemas tegumentar, esqueltico, muscular, nervoso, circulatrio, digestivo, urinrio, endcrino, sensorial e reprodutor). Entretanto, muito mais importante do que dar nomes a estas partes o fato de que os sistemas atuam uns sobre os outros e a falha de um pode prejudicar ou destruir os demais. O corpo de cada pessoa a sua marca particular, que claramente o diferencia de qualquer outro ser humano no presente ou passado. No existe um critrio absoluto sobre o normal: ocorrem variaes entre os indivduos, que so determinadas por vrios fatores, como por exemplo, a idade (desde a fase intra-uterina at a velhice), a raa (branca, negra, amarela), a hereditari__________________ (*) Cirugi-Dentista Ministrio da Sade, SMS/BH; SES/MG. edade, o ambiente social, a experincia de vida de cada um. Assim, por exemplo, o tamanho do corpo basicamente determinado pela estrutura do esqueleto, que em grande parte, uma herana de famlia e de raa. Mas o tamanho pode tambm ser muito afetado pelas condies do meio social em que vive o homem (condies adequadas de alimentao e sobrevivncia) ou ainda por doenas hereditrias ou adquiridas, que afetam a produo do hormnio do crescimento, o que modificar o desenvolvimento do corpo. Em certo sentido, o corpo est prdeterminado pela herana gentica, porm o tempo, o ambiente fsico e social e as experincias de vida de cada um que determinaro o que lhe ocorrer. O corpo humano pode assim ser definido como um "aparelho delicado e complexo, que realiza atividades desde escalar uma montanha at compor uma sinfonia". De maneira simples e didtica, o corpo dividido externamente em: cabea; pescoo; tronco: trax e abdmem; membros superiores: raiz: ombro; parte livre: brao, antebrao e mo; membros inferiores: raiz: quadril parte livre: coxa, perna e p.

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O sistema tegumentar ou pele Todo o corpo revestido por uma camada especial chamada pele, que serve a vrios objetivos. Na pele se traduzem vrios sinais da condio geral dos indivduos, dentre os quais esto a flacidez, o excesso ou a falta de gordura; sua textura pode refletir deficincia de nutrio ou mau funcionamento das glndulas. Sua cor pode indicar a presena de febre ou outras doenas. Erupes cutneas podem denunciar muitas infeces comuns. Pele grosseira e rugas so sinais de envelhecimento. A pele, no entanto, no s reflete como contribui ativamente para a sade do corpo. um rgo to vital quanto o corao, o fgado ou os pulmes e, como cada um deles, tem suas prprias responsabilidades especiais: relativamente impermevel, o que permite ao homem viver em ambiente de baixa umidade; 60% de sua composio lquida, impedindo que o corpo seque; abriga as terminaes nervosas que recebem estmulos sensoriais do meio ambiente; , ao mesmo tempo, um radiador e conservador de calor, auxiliando a regular a temperatura do corpo; uma barreira que defende o corpo contra agresses do exterior e organismos causadores de doenas; e tem notvel capacidade de refazer-se quando sofre ferimento ou leso (o processo de cura to completo que, por exemplo, quando a ponta de um dedo se machuca, at mesmo as impresses digitais se refazem em sua forma original). Duas camadas so reconhecidas na pele: a primeira, mais superficial, a epiderme, a outra, a derme. Uma das funes bsicas da epiderme defender o cor-

po contra foras abrasivas e destruidoras do meio ambiente, e para isto, se adapta s condies e funes de cada parte do organismo: para proteger a extremidade dos dedos das mos e dos ps, forma as unhas; para impedir o desgaste nos pontos de presso, forma calos; sobre as juntas de dedos, de cotovelos e joelhos, pregueada para permitir-lhes flexibilidade. As clulas da epiderme so continuamente substitudas por clulas produzidas em sua camada inferior; nesta camada, existem as clulas que produzem a melanina, que um pigmento que d cor pele. A derme ricamente vascularizada e inervada. Nesta camada encontram-se tambm as razes do cabelo, glndulas sudorparas (produzem suor), glndulas sebceas (produzem leo) e glbulos de gordura. As glndulas sudorparas tm importante funo de regular a temperatura do corpo. So muito abundantes nas palmas das mos e plantas dos ps. As glndulas sebceas no existem nas palmas das mos e nas plantas dos ps. Sua secreo (sebo ou leo) serve para lubrificar a pele e os plos. A derme recebe os estmulos sensoriais e os transmite ao crebro como impulsos nervosos. Esses estmulos so provocados por meio de presso, mudanas de temperatura e leso dos tecidos, e produzem sensaes de tato, calor, frio, dor e presso. Essas sensaes so percebidas quando receptores especiais presentes na derme ou no tecido subcutneo so estimulados. Abaixo da derme h um tecido adiposo, cuja quantidade varia nas diferentes partes do corpo, chegando a no existir em algumas, como nas plpebras. Essa gordura contribui para impedir a perda de calor e constitui reserva de material nutritivo. Colorao da pele A cor da pele depende da quantidade de pigmentos, da vascularizao e da es-

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pessura das camadas mais superficiais da epiderme. O pigmento mais importante para dar cor pele a melanina, e sua quantidade na pele varia com a raa. A cor da pele se intensifica aps uma inflamao, exposio ao calor, aos raios solares ou aos raios-X. As sardas e pintas so acmulos localizados de melanina, sendo que comum encontrar pigmentao de melanina em gengivas de pessoas negras ou mestias. Anexos da pele So os plos, as unhas e as mamas. Os plos cobrem considervel parte da pele, mas esto ausentes em algumas partes do corpo (palma das mos, planta dos ps). Como ocorre com a pele, a colorao dos plos depende da quantidade de pigmento existente neles. As unhas so placas curvas, formadas por um tecido duro (queratinizado) com funo protetora. As mamas so formadas por glndulas cutneas modificadas, especializadas na produo de leite, aps a gestao. O esqueleto humano O esqueleto o conjunto de ossos e cartilagens que se interligam para formar o arcabouo do corpo de qualquer animal. O esqueleto do homem assumiu sua forma h mais de um milho de anos. So 206 ossos (no adulto) que fixam os msculos e protegem rgos vitais, como por exemplo, corao, pulmes e crebro. Apresentam vrias formas e tamanhos, desde as chapas lisas do crnio at os anis ocos da coluna vertebral. O esqueleto sustenta e d a conformao do corpo; local de armazenamento de clcio e fosfato e de produo de certas clulas do sangue. Finalmente, um sistema de alavancas que, movimentado pelos msculos, permite os deslocamentos do cor-po. Os ossos so altamente vascularizados e classificam-se, segundo suas formas, em:

osso longo: aquele que apresenta um comprimento consideravelmente maior que sua largura e espessura. Exemplos: fmur, rdio e mero; osso laminar: o que apresenta comprimento e largura equivalentes. Exemplos: ossos do crnio e dos quadris; osso curto: o que apresenta comprimento, largura e espessura semelhantes. Exemplos: ossos do dedo; osso irregular: apresenta forma complexa. Exemplo: as vrtebras; osso pneumtico: apresenta uma ou mais cavidades contendo ar. Estas cavidades recebem o nome de seios. Os ossos pneumticos esto situados no crnio. Exemplo: osso maxilar; ossos sesamides: ossos de certas articulaes. Exemplo: pateta (rtula). Os ossos so unidos por ligamentos e encaixados, de uma extremidade a outra, por articulaes. Onde o movimento essencial, como nos ombros e quadris, as articulaes so flexveis; onde o movimento dos ossos seria perigoso, como no crnio, as articulaes so rgidas. Nele a nica articulao mvel a do osso mandibular, que ser estudada posteriormente. Os ossos que protegem os vrios rgos internos esto especialmente adaptados para essas funes. No crnio, os ossos que cercam o crebro so chapas espessas, que se fundem quando o crebro atinge seu tamanho mximo. Na plvis (no homem e na mulher) os ossos so encaixados e fortemente ligados por juntas cartilaginosas: na mulher, durante a ltima fase da gravidez, essas juntas se soltam para facilitar o parto. Na caixa torcica, que se destina a proteger o corao, pulmes, fgado e o bao, as costelas esto curvadas para garantir a proteo. Mas, ao mesmo tempo que protege rgos importantes, o trax expan69

de-se e contrai-se permitindo movimentos da respirao.

os

Os ossos so muito fortes e, ao mesmo tempo, muito leves. Em um homem que pesa 72 kg, somente cerca de 13 kg representam o peso de seus ossos. Essa leveza devida, em parte, sua porosidade e, em parte, pela forma de tubo dos ossos dos braos e pernas. A fora do osso devida sua composio: mais ou menos metade de seu peso consiste em clcio, fosfato e outros minerais; cerca de 1/4 de seu peso composto por um tipo de protena chamada colgeno e, quase todo o restante do peso do osso, representando pela gua. O contedo mineral do osso responsvel tambm por sua dureza: as hastes dos ossos compridos so quase to duras quanto o granito. O osso o componente mais dura-douro do corpo. Msculos Os msculos so estruturas que movem os segmentos do corpo. Os ossos, junturas e msculos formam o aparelho locomotor, mas somente os msculos so ativos nos movimentos. Alm disso, eles mantm unidas as peas sseas, determinando a posio e a postura do esqueleto. A funo bsica do msculo a contrao e todas as funes do corpo dependem da atividade muscular. Essas funes incluem movimentos esquelticos, contrao cardaca, contrao dos vasos sanguneos, movimentos intestinais (peristaltismo) e muitas outras. Trs tipos diferentes de msculos so responsveis por estas atividades: msculo esqueltico; msculo liso; msculo cardaco. Os msculos esquelticos determinam os movimentos do esqueleto e, por esta razo, so responsveis pelo movimento de partes diferentes do corpo. Esses movimentos resultam de um ato da vontade consciente. Por isso mesmo, estes msculos so chamados voluntrios e, devido s suas caractersticas anatmicas, so tambm 70

chamados de msculos estriados pois apresentam estrias microscpicas. A maior parte dos msculos esquelticos est ligada aos ossos por meio dos tendes e, em geral, so aos pares. Enquanto um msculo fica relaxado, o outro puxa o osso, colocando o corpo em movimento. Os msculos do esqueleto variam em tamanho e forma para se adaptarem s funes especficas que exercem. Na parte inferior do peito est o diafragma, que o principal msculo da respirao; est tambm ligado tosse, espirro, riso e suspiro. Msculos compridos em forma de correia, no pescoo, mantm a cabea ereta. O msculo mais comprido do corpo est na coxa e chamado sartrio. Ele e mais 4 faixas de msculos de cada lado dele (os quadrceps), no s movem as pernas, como auxiliam a manter o equilbrio. Um msculo esqueltico pode entrar em ao em centsimos de segundos, exercer uma fora de trao enorme sobre o osso ao qual esteja ligado e, quando preciso, sustentar muitas vezes o seu prprio peso. A musculatura lisa no apresenta estrias. A maioria dos rgos internos do corpo contm msculos lisos, que no tem relao com o esqueleto sseo e funcionam sem o controle consciente do indivduo (por isso so involuntrios). So chamados viscerais por serem encontrados nas paredes das vsceras de diversos sistemas do organismo, como intestinos, bexiga, vescula biliar, ureteres, etc.. Mas, tambm, podem ser encontrados em outras partes do corpo, como por exemplo, em vasos sanguneos ou nos msculos piloeretores (que causam a ereo dos pelos), etc.. O msculo cardaco tem um aspecto estriado, caracterstico dos msculos esquelticos, mas suas fibras se interligam, semelhante ao que ocorre nos msculos lisos viscerais e, a maioria dessas fibras capaz de contrair-se ritmicamente. Sistema digestivo Para que o corpo se mantenha vivo necessrio que ele receba um suprimento adequado de material nutritivo. A maior parte

dos alimentos ingeridos precisa sofrer transformaes para ser absorvido pelas clulas, que produziro a energia que o corpo precisa para realizar suas vrias atividades. O processo de transformao do alimento chamado digesto. O sistema digestivo composto por um canal alimentar e rgos anexos. Esquematicamente tem-se: Canal Alimentar: cavidade bucal; faringe; esfago/estmago; intestinos (delgado e grosso). rgos Anexos: glndulas salivares; fgado; pncreas. O processo digestivo O processo digestivo inicia-se na boca, pela mastigao e umedecimento do alimento pela saliva, formando o bolo alimentar. Ao deglutir-se, contraes musculares impulsionam o alimento para o esfago e estmago, impedindo sua volta para a boca ou subida para a cavidade nasal ou traquia. Os msculos, atravs de contraes peristlticas, foram o alimento a descer da faringe at o nus. No estmago, o alimento sofre um processo violento: ele amassado, agitado, pulverizado e batido, a ponto de ficar irreconhecvel. O estmago uma espcie de bolsa de 25 cm de comprimento, poden-do dilatar-se, quando cheio, ou retrair-se quando vazio. Est situado no abdmen, no lado esquerdo, sob o diafragma e protegido pelas costelas. Atua sobre o alimento mecnica (amassando-o) e quimicamente (ao do

suco digestivo, cujos componentes principais so a pepsina e o cido clordrico). O estmago funciona tambm como depsito, que conserva o alimento at ele passar para o intestino delgado, que s o recebe em quantidades muito pequenas, por vez. A passagem do alimento para o intestino delgado controlada por um msculo circular, na extremidade inferior do estmago, chamado piloro. O intestino delgado a seo mais comprida do trato gastro intestinal (mais ou menos 6 metros, torcidos e dobrados). A primeira parte do intestino delgado o duodeno. No duodeno, os sucos digestivos vindos do pncreas e do fgado neutralizam o cido clordrico do alimento que vem do estmago, acelerando a sua decomposio (quebra). Depois do duodeno, o alimento passa para o jejuno e, posteriormente, para o leo, sofrendo a desintegrao final. As protenas so transformadas em aminocidos; o acar em glicose; e as gorduras em cidos gordurosos e glicerol. Do interior do jejuno e leo destacam-se projees muito pequenas chamadas vilosidades (semelhantes a pelos em uma toalha felpuda), que separam os ingredientes teis (glicose, protenas e gorduras) e inteis dos alimentos. Os ingredientes "inteis" so impulsionados para o intestino grosso (clon e reto) que, por meio das contraes peristlticas so expelidos do corpo, como fezes. As vilosidades enviam os resduos para um caminho e os nutrientes para outro; as gorduras passam para os vasos linfticos que as enviam, a fim de serem diludas, para a corrente sangunea e, da, para as outras partes do corpo onde so necessrias; os aminocidos e os acares passam pelos capilares at a grande veia porta, que os leva ao fgado para serem convertidos em formas utilizveis pelas clulas do corpo. O papel do fgado no funcionamento do corpo muito importante: participa no processo digestivo; filtra do sangue as clulas vermelhas velhas; atua para desinto71

xicar o corpo eliminando as substncias qumicas e drogas procedentes de fora; produz substncias complexas de que o corpo necessita, tais como protenas do sangue e colesterol; e sintetiza lpides, que entre outras coisas, ajudam a formar invlucros isolantes ao redor de fibras nervosas. No fgado as substncias so transformadas, como por exemplo: o acar transformado em uma nova substncia chamada glicognio (combustvel especial do corpo). A nica funo do glicognio proporcionar uma forma conveniente e compacta de armazenamento para a glicose, que em sua forma prpria tomaria muito espao. Quando o corpo necessita de mais glicose, o fgado torna a transformar o glicognio em glicose, lanando-a, aos poucos, na corrente sangunea. Outra transformao vital, realizada pelo fgado, a das protenas em aminocidos. As protenas se dispem para formar as matrias de construo do corpo. O sangue leva os alimentos transformados para as clulas do corpo, que os transformam em unidades estruturais e energia. E essa transformao o objeto final de cada uma das complex