Anatoli Oliynik - A Escada de Jacó

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Anatoli Oliynik Página 1 28/03/2010

A ESCADA DE JACÓ

“Tudo o que a natureza arranjou sistematicamente no Universo parece, em suas partes, como no conjunto, ter sido determinado e posto de acordo com o Número, pela providência e pelo pensamento daquele que criou todas as coisas; pois o modelo foi fixado como um esboço preliminar, pelo domínio do número pré-existente no espírito de Deus criador do mundo, número-forma, puramente imaterial sob todos os aspectos, mas, ao mesmo tempo, a verdadeira e eterna essência, de modo que, de acordo com o número, como segundo um plano artístico, foram criadas todas as coisas, como o Tempo, o movimento, os céus, os astros e todos os ciclos de todas as coisas.”

(NICOMACO DE GERASA)

onta-nos a Bíblia no livro do Gênesis (28, v. 12-13):

“12 E sonhou: e eis uma escada, cuja base estava na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;

13 E eis que o Senhor estava no alto, e disse: - Eu sou o Senhor...”

E este foi o sonho de Jacó.

É essa escada o símbolo da busca afanosa da verdade pelo homem. Essa escada é a Filosofia.

Uns estão na terra, preparando-se para subir os seus degraus. Outros, já ascenderam e alguns, enquanto outros, mais distantes, aproximam-se do topo. Lá, no alto, perdendo-se quase entre nuvens, são poucos os olhos que, de baixo, podem vê-la. Só aqueles que ascenderam alguns degraus são capazes de conseguí-lo.

Na base. Começa o caminho dos que partem da experiência sensível. É dali que partem os empiristas, mas alguns permanecem, como os materialistas, sensualistas... Nem todos são capazes de ascender os degraus.

Nestes degraus está Aristóteles, que sobe a escada, partindo da empírica. Ele quer alcançar o topo. Mais longe, muito mais longe do que ele, está Platão, olhando para a terra.

Aristóteles quer explicar o mais alto, partindo do mais baixo; Platão explica o mais baixo, descendo do mais alto. Mas o caminho é o mesmo: a escada. Apenas são outros os vetores.

Lá, quase no topo da Escada, está Pitágoras.

Ele não desce. Seus olhos volvem-se para o mais alto. Ele busca o topo luminoso, que seus olhos ofuscados levemente delineiam.

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Não parte do empírico, nem desce a escada. Sua doutrina é clara quando se pode vê-la com olhos cheios de compreensão.

No topo, está a Mathesis Megisthe, a suprema verdade. Aquele caminho é o da filosofia e o afanar-se em subi-la é o esforço do filósofo, esse amante do supremo saber, que vence as indecisões e os desfalecimentos, e procura erguer-se até o alto. Quanto mais sobe, mais difícil é a conquista dos novos degraus. Uma vida é talvez pouco, pois muitos ficam no caminho. Mas, para os mais arrojados, a ascensão não os desanima.

Este símbolo nos facilita a compreensão desses três gigantes da Antigüidade: Pitágoras, Platão e Aristóteles. São três marcos do caminho.

Platão desce para trazer aos homens os segredos do alto. Esse grande pitagórico, nem sempre bem entendido, deixou uma obra cheia de sugestões para futuras análises. E Aristóteles, apesar de suas convicções, ao subir a escada, aproximou-se cada vez mais do seu antigo mestre, muito mais do que imaginava. Foi grande, tão grande quanto os outros. E sua obra imperecível deve ser sempre considerada como um ponto de partida. Isto compreenderam, depois, um [São] Tomás de Aquino e um Duns Scot. Seguiram suas pegadas, com os olhos voltados para Platão, e deste, para o alto.

E alcançaram, sem dúvida, os mais altos degraus.

(RESUMO FEITO POR ANATOLI OLIYNIK, COM EXCERTOS TIRADOS DE “PITÁGORAS E O TEMA DO NÚMERO”, DE MÁRIO

FERREIRA DOS SANTOS, EDITORA IBRASA, SÃO PAULO, 2000.)

Gênesis 28

10 ¶ Partiu, pois, Jacó de Beer-Seba, e se foi na direção a Harã;

11 e chegou a um lugar onde passou a noite, porque o sol já se havia posto; e, tomando uma das pedras do lugar e a pondo-a debaixo da cabeça, deitou-se ali para dormir.

12 Então sonhou: estava posta sobre a terra uma escada, cujo topo chegava ao céu; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;

13 por cima dela estava o Senhor, que disse: Eu sou o SENHOR o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que estás deitado, eu a darei a ti e à tua descendência;

14 e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-se-as para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul; por meio de ti e da tua descendência serão benditas todas as famílias da terra.

15 Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho falado.

16 ¶ Ao acordar Jacó do seu sono, disse: Realmente o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia.

17 E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus.

18 Jacó levantou-se de manhã cedo, tomou a pedra que pusera debaixo da cabeça, e a pôs como coluna; e derramou-lhe azeite em cima.

(Extraído da Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida)