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VIDA, PAIXÂO E MORTE DE ETELVINO SOARES. Felipe Soares Almeida Graduando em História – INTA Extensão em Historia do Brasil – INTA COSTA, Lustosa da.Vida, Paixão e Morte de Etelvino Soares. São Paulo: Maltese, 1996. Vida, paixão e morte de Etelvino Soares escrito pelo jornalista que exerceu sua profissão em sobral-Ce e fortaleza, depois como repórter politico de o Estado de S. Paulo, com passagem também pelo jornal da Tarde de Brasília. Obra publicada em 1996 pela editora Maltese de São Paulo. Segundo o próprio autor em introdução dedicada ao romancista Jorge Amado em que caracteriza a obra em gênero de narrativa de ficção, pensada a Priore como material comercial ficcional. Afinal o projeto era escrever para a televisão. Como afirma Lustosa na sua introdução. O romance “novelístico” vida, paixão e morte de Etelvino Soares de titulo pomposo considerado pelos roteiristas de Tevê¹ em que não acaba acendendo no espaço das tele novelas brasileiras. É narrado de forma relativamente linear, o romance é carregado de subjetividade e de características da sociedade sobralense no início do século XX, centro das relações políticas econômicas e sociais da região norte do Ceará. Narrando a trajetória de um jornalista que funda o jornal “O Combate” que ¹ Leopoldo serra e o psicanalista Cláudio Castelo citados na introdução da obra.

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VIDA, PAIXÂO E MORTE DE ETELVINO SOARES.

Felipe Soares AlmeidaGraduando em História – INTA

Extensão em Historia do Brasil – INTA

COSTA, Lustosa da.Vida, Paixão e Morte de Etelvino Soares.São Paulo: Maltese, 1996.

Vida, paixão e morte de Etelvino Soares escrito pelo jornalista que exerceu

sua profissão em sobral-Ce e fortaleza, depois como repórter politico de o Estado de

S. Paulo, com passagem também pelo jornal da Tarde de Brasília. Obra publicada

em 1996 pela editora Maltese de São Paulo. Segundo o próprio autor em introdução

dedicada ao romancista Jorge Amado em que caracteriza a obra em gênero de

narrativa de ficção, pensada a Priore como material comercial ficcional. Afinal o

projeto era escrever para a televisão. Como afirma Lustosa na sua introdução.

O romance “novelístico” vida, paixão e morte de Etelvino Soares de titulo

pomposo considerado pelos roteiristas de Tevê¹ em que não acaba acendendo no

espaço das tele novelas brasileiras. É narrado de forma relativamente linear, o

romance é carregado de subjetividade e de características da sociedade sobralense

no início do século XX, centro das relações políticas econômicas e sociais da região

norte do Ceará. Narrando a trajetória de um jornalista que funda o jornal “O

Combate” que se posiciona de maneira firme e concisa contra toda a conjuntura

social reacionária e de conflitos entre conservadores e democratas da cidade

coronelista interiorana do Brasil que busca se reafirmar como moderna e

progressista no fenômeno da “Belle époque” temporal entre as décadas de 1910 a

1930.

A respeito das representações sociais abordadas na obra, Lustosa adverte

em sua introdução que:

As personagens, seu caráter, sua protagonização são ficção, toda saída de minha cabeça, sem qualquer vinculação com a realidade histórica. Procurei retratar costumes políticos, religiosos, sociais e sexuais duma época. Não

¹ Leopoldo serra e o psicanalista Cláudio Castelo citados na introdução da obra.

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pretendi escrever romance histórico. Produzi-o em capítulos fechados, “redondos”.

Contrariando as perspectivas pré advertidas pelo autor a literatura fala ao

historiador sobre a historia que não ocorreu. Mais de forma subjetiva Lustosa cria a

vinculação com a “realidade histórica“ dentro das possibilidades frutos de sua

criação imaginada ou não os comportamentos dos protagonistas estão dentro de um

contexto de tempo e espaço e das mentalidades que se configuram no desenrolar

dos fatos. Somente o leitor poderá formular um fim a essa produção literária. Os

costumes políticos e sexuais duma época estão incorporados na memória da

sociedade embora não sejam históriograficamente legitimados. Lustosa da Costa de

maneira explicita as representações da memoria comportamental da sociedade

sobralense no inicio do século XX.

Vida, paixão e morte de Etelvino Soares incorpora os personagens com

pseudônimos de pessoas, lugares, jornais na tentativa de confundir o que é

realidade e o que é ficção e minimizar os efeitos de trazer a tona a história do

jornalista assassinado em 1924 na Cidade de Sobral no prédio da Câmara Municipal

em dia de eleição. A figura de Deolindo Barreto fundador do jornal “ A Lucta” que

não é citado por Lustosa a qual é representado nesse romance é desvalorizada

para a historiografia sobralense que supervaloriza a figura de Bispo Dom José

Tupinambá da Frota e o” ser sobralense”. O desprezo pela figura do jornalista que

batia de frente contra a oligarquia coronelista com criticas ao governo Nogueira

Auccioly, contra o reacionarismo do clero sobralense e também carrega seu jornal

com criticas do “comportamento copiado” da elite sobralense.

O jornal “O combate” é representado como instituição desprezada pela

sociedade sobralense no decorrer do romance.

Basta relembrar a cena em que a beata Durçulina Machado, ao abrir um dia

a porta de casa para ir a missa, depara-se com um exemplar....Só pegar

nesse jornal já é um pecado. Vá buscar pá e uma vassoura. E depois passe

criolina no chão e na parede.

O romance de Lustosa quando cruzado com outras fontes documentais

como os exemplares do jornal “ A Lucta ” digitalizados dos anos 1914 a 1924 na

Hemeroteca da Biblioteca nacional

http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/lucta/720763 acessado em: 23/02/2013,

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nos mostra os mesmos fatos, intrigas, datas, denuncias descaramentos e toda a

conjuntura defendida e vivida pelo personagem “Edelfino Soares” na cidade de

Sobral, jornal que competia espaço e o gosto dos leitores de Sobral e da região

norte ao lado do Jornal a Ordem apoiado pela diocese.

É de fato uma questão a se estabelecer a respeito da não conservação de

exemplares do jornal “A Lucta “ nos arquivos locais da cidade de Sobral, encontra -

se apenas poucos exemplares e em situação degradante , podemos acessar essas

fontes , revelas e explorá-las pelo site da Biblioteca nacional onde estão a salvo

digitalmente e podemos consulta-las de forma democrática.

O desprezo sobre esse jornal mostrado pela personagem ficcional Durçulina

Machado é uma representação do que acontece na memória sobralense e na

desvalorização dos arquivos e da historiografia da cidade de Sobral, a respeito do

tema e das possibilidades de abordagem de rever a construção do “ser sobralense”

nos arquétipos dessa “Belle époque”.

No o ultimo periódico digitalizado de do jornal A Lucta em 28 de junho 1924

escrito por Ataliba Barreto em que faz a ultima homenagem ao diretor do jornal “

Bárbaro e covarde fuzilamento do diretor dessa folha” comprovam os momentos em

que o romance de Lustosa se confunde com a realidade seja pela realidade factual

ou pela subjetividade dos personagem descritos no decorrer da obra.

Outras fontes podem ser cruzadas com o romance como o Inventario de

Deolindo Barreto. Catalogado e publicado pela UEVA. E outras publicações de

Lustosa da costa servem como plano de fundo para esse perfil da elite sobralense

configurada nesse romance, como “Sobral do meu tempo”, 1982 no qual é elogiado

por Jorge Amado que “continha material para uns cinco romances”, e “sobral que

não me esqueço” 2010 Lustosa escrevem nas suas dedicatórias que “espero, no

futuro, ajudem o historiador a melhor compreender a história de sua grandeza e o

esplendor de sua feição intelectualmente aristocrática”.

Lustosa com essa citação compreende a ligação entre literatura e história

na contribuição a construção do entendimento histórico e da sensibilidade na

produção historiográfica, percebe a possibilidade de novas leituras e releituras a

¹ Leopoldo serra e o psicanalista Cláudio Castelo citados na introdução da obra.

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respeito da representação da sociedade sobralense nas mais diversas esferas de

poder no inicio do século XX .

Bibliografias:

A LUCTA: Diga-se a verdade na terra, embora desabe o céu . Sobral Ce, 28 jun. 1924. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf2/720763/per720763_1914_00714.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2013.

BLOCH, Marc. Introdução a História.3. ed. São Paulo: Publicações Europa-américa, 1976. (Coleção Saber). Tradutores: Maria Manuel Miguel e Rui Grácio.

COSTA, Lustosa da.Sobral do Meu Tempo.BrasiliaDf: Senado Federal, 1982.

COSTA, Lustosa da.Sobral Que Não Esqueço. São Paulo: Expressão Gráfica, 2010.

COSTA, Lustosa da.Vida, Paixão e Morte de Etelvino Soares.São Paulo: Maltese, 1996.

FERREIRA, Antonio Celso. O históriador e suas fontes: A fonte fecunda. São Paulo: Contexto, 2009.61-87 p.

NACIONAL, Biblioteca. A Lucta: 1924 ,714. Disponível em: <http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/lucta/720763>. Acesso em: 23 fev. 2013.

PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque : reforma urbana e controle social ( 1860 – 1930) Edições Demócrito Rocha, 4ª edição – 2010.

POPPER, Karl.A Miséria Do Historicismo. São Paulo: Edusp, 1980.28 p.

SANTOS, Chrislene Carvalho Dos. Inventário de Deolindo Barreto. Rio de Janeiro: Corifeu, 2006. (Coleção Documentos do Vale do Acaraú).

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão:Tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 2. ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 2003. 27-34 p.