Análise Textual - Aula 1

11
Análise Textual Aula 1: Língua, linguagem e variação linguística Objetivos Avaliar os conceitos de língua, linguagem e contextos de uso; Reconhecer as atividades de linguagem; Identificar contexto formal e informal. Muitos momentos de nossas vidas envolvem situações em que estamos ora com pessoas muito íntimas, ora pessoas com quem temos pouca intimidade ou até com pessoas desconhecidas, não é mesmo? A convivência com pessoas desconhecidas exige de nós postura diferente da que temos com familiares, concorda? Isso, consequentemente, gera uma forma de falar diferenciada. Enfim, as situações comunicativas são enquadradas na formalidade ou na informalidade. Então, a necessidade de adquirirmos uma linguagem mais elaborada, utilizando a norma culta, se dá porque às vezes precisamos usar uma linguagem mais formal. Entretanto, isso não quer dizer que há perda dos aspectos informais da língua, ou seja, continuaremos sempre a falar com pessoas de nossa intimidade da mesma forma. Adquirir outros modos de falar, apenas “alarga nossa capacidade de comunicação”. Por que nos comunicamos? Já parou para pensar que tudo para nós, seres humanos, tem de ter uma explicação? Isso chama a atenção para uma coisa que fazemos constantemente, mas não nos damos conta: procuramos sempre dar um sentido aos fatos, interpretar situações, interpretar o mundo e a vida. Por que elas falam que sou metida? O que quer dizer “é o fim da picada”? Por que eu fui falar aquilo para ela?

description

Estácio

Transcript of Análise Textual - Aula 1

Anlise Textual Aula 1: Lngua, linguagem e variao lingustica

Objetivos Avaliar os conceitos de lngua, linguagem e contextos de uso; Reconhecer as atividades de linguagem; Identificar contexto formal e informal.

Muitos momentos de nossas vidas envolvem situaes em que estamos ora com pessoas muito ntimas, ora pessoas com quem temos pouca intimidade ou at com pessoas desconhecidas, no mesmo? A convivncia com pessoas desconhecidas exige de ns postura diferente da que temos com familiares, concorda? Isso, consequentemente, gera uma forma de falar diferenciada. Enfim, as situaes comunicativas so enquadradas na formalidade ou na informalidade. Ento, a necessidade de adquirirmos uma linguagem mais elaborada, utilizando a norma culta, se d porque s vezes precisamos usar uma linguagem mais formal.Entretanto, isso no quer dizer que h perda dos aspectos informais da lngua, ou seja, continuaremos sempre a falar com pessoas de nossa intimidade da mesma forma. Adquirir outros modos de falar, apenas alarga nossa capacidade de comunicao.

Por que nos comunicamos?

J parou para pensar que tudo para ns, seres humanos, tem de ter uma explicao?

Isso chama a ateno para uma coisa que fazemos constantemente, mas no nos damos conta: procuramos sempre dar um sentido aos fatos, interpretar situaes, interpretar o mundo e a vida.Por que elas falam que sou metida?O que quer dizer o fim da picada?Por que eu fui falar aquilo para ela?

No possvel no comunicar... no existe comportamento que no seja comunicao.(Paul Watzalawick)

Buscamos dar sentido aos fatos quando:

Comunicamos nossa maneira de pensar"Prefiro ficar com todos os defeitos que as pessoas dizem que tenho, do que fingir ser algum que no sou.

Defendemos ideologiasEm vez de pensar quero fazer, pense consigo fazer. Em vez de pensar quero ser, pense posso ser. Pensar quero fora de vontade, mas pensar posso fora da convico. (Katsumi Tokuhisa)

Expressamos nossos sentimentosEu + Voc = Beijos, risadas, abraos, carinhos e amor.

Difundimos ideiasE aqueles que foram vistos danando foram julgados insanos por aqueles que no podiam escutar a msica. (Friedrich Nietzcsche)

Mesmo quando buscamos dar sentido aos fatos, ponderamos a nossa maneira de falar, com base nas situaes em que somos colocados(as). Clique nas caixas e veja os exemplos:

Informalidade: E ai, brother? Bora pegar onda?Formalidade: Muitssimo bom dia! Gostaria de convidar-lhe a adentrar ao oceano para iniciarmos a prtica da modalidade esportiva denominada surfe.

Percebeu a diferena nas falas do surfista?Tanto no contexto formal quanto no informal, sabemos, intuitivamente, nos comportar de forma adequada, usando uma linguagem apropriada a cada situao.

Adaptar a linguagem para situaes formais ou informais fazem parte de nossa realidade, embora muitas vezes no identifiquemos isso.

A lngua um produto social e cultural constitudo por signos lingusticos, caracterizado por um cdigo, e a linguagem o veculo de expresso.

Como vimos anteriormente, alngua tambm varia de acordo com o contexto de comunicao, j que no falamos sempre do mesmo modo. Sendo necessrio, portanto, distinguir informalidade da linguagem vulgar ou popular.

Assista ao vdeo, para reforar o seu entendimento sobre a fala formal e a informal.

Voc sabia que o Portugus tambm a lngua oficial de outros pases?

O Portugus a lngua oficial de Brasil, Portugal, Moambique, Angola e outros pases. Porm, possui algumas variaes, de acordo com a regio em que falado, formando o que chamamos de dialetos regionais ou geogrficos.

Assim como a dana, a msica, as imagens, os grficos e os gestos, as lnguas so diferentes formas de expresso ou linguagens. Uma vez que o texto um produto social, existe uma relao intrnseca entre ele, a cultura, o momento histrico e a ideologia em que formado.

s, presteno que isso um assalto, uai...Perdeu, playboy!Isso aqui um assalto, t ligado? o seguiiinnte rap... passa a grana, levanta os brao e no fica de bobeira que o ladro aqui sinistro e est furioso pra caraca.

Levanta os braos, fica quetin e vai passando esse trem ai que est na tua mo.

A fala chiada do Carioca, as terminaes em "n" do Mineiro, a fala cantada do Baiano e muitas outras caractersticas so geogrficas e esto ligadas tambm comunidade em que so faladas, dentre outros aspectos em que o indivduo se insere e que influenciam no seu comportamento, sotaque e na sua forma de falar.

lngua e linguagem

A interpretao dos fatos e o significado que precisamos atribuir s coisas esto relacionados capacidade humana, exclusivamente humana, que nos permite comunicar o que estamos pensando, os nossos anseios, desejos etc.

Os animais se comportam sempre da mesma forma em determinadas situaes, no criam coisa alguma. J os seres humanos, dotados de linguagem, sempre podem criar uma comunicao diferente.

Reconhecida por Lei, a Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no se resume simplesmente transposio da Lngua Portuguesa em gestos, pois, assim como diversas lnguas, a LIBRAS conta com diversos nveis lingusticos e itens lexicais conhecidos por sinais.

Isso quer dizer que para se comunicar em LIBRAS no basta apenas conhecer sinais, necessrio conhecer tambm a gramtica para combinar frases e estabelecer comunicao, que neste caso se dar atravs das combinaes de configuraes de mo, movimentos e de pontos de articulao.

Por isso, a LIBRAS se apresenta como um sistema lingustico de transmisso de ideias e pertencente comunidade surda brasileira, levando em considerao tambm as diferenas regionais como em todas as lnguas.

Mas afinal qual a diferena entre linguagem e lngua?

Podemos dizer que linguagem uma faculdade (capacidade) que permite exercitar a comunicao, latente ou em ao.

J a lngua refere-se a um conjunto de palavras e expresses usado por um povo, por uma nao, munido de regras prprias (sua gramtica).

Se voc ainda estiver pensando no caso dos animais, refletindo se eles se comunicam de alguma maneira no como ns, mas se comunicam , vale reforar que a grande questo que no podemos afirmar que eles tenham linguagem, pois esta exclusiva do ser humano. O que os animais tm so formas de comunicao.

Pesquisas cientficas j catalogaram, em chimpanzs, cerca de 100 sinais diferentes para expressar medo, fome, alegria etc. Mas so formas pontuais, limitadas, especficas.

Voc deve estar se perguntando...

... Se a linguagem uma capacidade humana, por que todos ns no falamos a mesma lngua? Tente responder seguinte questo: por que uma criana de famlia chinesa, que nasce na Frana, por exemplo, fala francs e tambm chins?Aqui chegamos a um ponto essencial: a lngua uma construo social e corresponde cultura, histria e sociedade de um determinado povo, de uma determinada nao.

No caso das crianas chinesas, ela fala as duas lnguas porque tem contato com as duas culturas. Em casa, por exemplo, a criana fala chins com os familiares, j na rua e nos demais meios sociais, principalmente na escola, ela fala o idioma francs.

Leia com ateno a fbula A causa da chuva, de Millr Fernandes e observe como o autor consegue trazer dentro de uma nica histria diversos pontos de vista.

A CAUSA DA CHUVA(MILLOR FERNANDES,Fbulas Fabulosas) No chovia h muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas no chegavam a uma concluso. Chove s quando a gua cai do teto do meu galinheiro, esclareceu a galinha. Ora, que bobagem! disse o sapo de dentro da lagoa. Chove quando a gua da lagoa comea aborbulhar suas gotinhas. Como assim? disse a lebre. Est visto que chove quando as folhas das rvores comeam a deixarcair as gotas dgua que tem dentro.Nesse momento comeou a chover. Viram? gritou a galinha. O teto do meu galinheiro est pingando. Isso chuva! Ora, no v que a chuva a gua da lagoa borbulhando? disse o sapo. Mas, como assim? tornava a lebre. Parecem cegos? No vem que a gua cai das folhas dasrvores?

Linguagem, lngua... mas e na prtica?A atividade de comunicao que fazemos todos os dias, aparentemente sem muito esforo, no to simples assim. Antes da fala sair de sua boca, voc pensa, elabora o que quer comunicar, depois procura palavras e construes adequadas na lngua para que essa fala possa ser entendida pelos outros.

A linguagem uma capacidade humana e a lngua uma espcie de contrato entre as pessoas em uma sociedade e por ser uma capacidade humana que os analfabetos conseguem se comunicar, mesmo sem saber ler e escrever.

Isso quer dizer que, para haver comunicao, basta o indivduo acionar a capacidade mental (linguagem) e articular o cdigo social (lngua).

Dissemos que a linguagem est relacionada interpretao do mundo, nossa capacidade de atribuir significado s coisas, natureza, aos anseios, certo?

Ela representa, portanto, qualquer forma de comunicao, da temos a linguagem dos sinais como as das placas de trnsito, indicao de gnero nas portas dos banheiros, a linguagem das cores, a linguagem do corpo, dentre outras. Essa linguagem chamada de no verbal.

Pedgio a 1KmPassagem Livre

No caso dessa placa, especificamente, estamos lidando apenas com a escrita. Logo, entramos no contexto verbal.

Esse contexto possibilita nossa comunicao pelas regras de uma lngua.

Isso permite uma fala adequada que resultar em entendimento caso o interlocutor compartilhe as referncias necessrias para compreender o significado.

Agora vamos retornar aos tempos de criana e desvendar a Carta Enigmtica.

Para decifrar o texto voc precisar levar em considerao tanto a linguagem verbal quanto a no verbal.

Anote suas dedues na caixa abaixo e depois confira o resultado final:

Como vimos, a comunicao prev que os usurios da lngua utilizem construes adequadas para que a mensagem possa ser devidamente compreendida.

Agora que voc j sabe tudo sobre lngua e linguagem, para encerrar a nossa aula, vamos refletir um pouco sobre a escrita e a fala.

Voc j assistiu ao filme "Narradores de Jav", de Eliane Caff?

O povoado de Jav, situado no serto baiano, estava prestes a ser inundado, pois seria construda ali uma enorme usina hidreltrica. Somente uma histria cientfica garantiria o tombamento do povoado e impediria a construo da usina. Diante dessa situao, a comunidade se reuniu para registrar a sua histria. ai que entra a figura de Antnio Bi, o nico letrado do povoado, dono de um carter duvidoso, que ficou responsvel por reunir as histrias do povo.

Uma coisa fato acontecido, outra coisa o fato escrito. O acontecido deve ser melhorado no escrito para que o povo creia no acontecido. (Fala do personagem Antnio Bi)

Mesmo que se pense dessa forma, no podemos deixar de considerar que cada contexto tem suas particularidades e importncia, no mesmo?

(...) na minha opinio... o Presidencialismo j teve muitas chances de melhorar... eh... eh... mais de cem anos... cem anos j... n? E... at hoje no melhorou... sempre... sempre... os presidentes nas suas campanhas ficam falando que vo fazer isso... vo fazer aquilo... a sempre... chega sempre l na hora... (Projeto Discurso & Gramtica UFRJ dados da lngua falada)

Note que transcrever um discurso falado tentando ser fiel fala problemtico, pois necessrio marcar as pausas prprias dessa modalidade, evidenciando as repeties.

Na escrita, a realidade diferente, lidamos com outro contexto: faz-se uma comunicao e a pessoa no est presente, da a possibilidade de haver comunicao sem contar a distncia.

Essa possibilidade requer comportamentos diferentes da modalidade da fala, justamente porque a pessoa no est presente. Tudo deve ser comunicado da forma mais clara possvel, pois o leitor no tem outros recursos para entender a mensagem.

Para aprofundar essa discusso, leia o captulo 2, Oralidade e Escrita, do livro Gramtica texto: anlise e construo de sentido, de Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara, presente em seu material didtico.

ResumindoEstudamos nesta aula a linguagem com finalidades comunicativas como informar, expressar ideias, opinies ou simplesmente manter o contato com o interlocutor , e vimos que existe uma relao entre a linguagem, suas funes e o contexto em que se realiza, formando o objetivo, o veculo, o pblico alvo e a situao social.

Processo comunicativo e funes da linguagem

Usamos a linguagem com finalidades comunicativas diferenciadas, como informar, expressar ideias, opinies ou simplesmente manter contato com o interlocutor. Dessa forma, correto afirmar que existe uma relao entre a linguagem, suas funes e o contexto em que se realiza: o objetivo, o veculo, o pblico alvo e a situao social.

Quando realizamos o ato de comunicao, acionamos elementos essenciais: o emissor, o destinatrio, o assunto, o canal por meio do qual ocorre o contato, o cdigo e a mensagem.

Roman Jakobson, um linguista russo, percebeu que nos enunciados, ou seja, nos textos que produzimos, de acordo com o objetivo da mensagem transmitida, h a predominncia de um desses elementos da comunicao. A essa predominncia ele denominou Funo e verificou que existem, pelo menos, 6 delas:

1 - Funo emotiva tratase de um texto centrado no emissor, isto , naquele que produz o texto. Exemplo: uma carta ou um email bem pessoal.

2 - Funo conativa ou apelativa o caso do texto que tem o receptor como elemento predominante. Esse tipo de texto produzido para convencer o destinatrio de algo. um trao comum dos textos publicitrios. Exemplo: Vem pr Caixa voc tambm. Vem!

3 - Funo referencial ela ocorre em textos que tenham como objetivo transmitir uma informao ou expor um conhecimento sobre determinado assunto. 2 Exemplo: Bancos tero novas regras para acesso de deficientes.

4 - Funo ftica frequente nos textos em que o objetivo daquele que fala ou escreve certificarse de que a mensagem est sendo recebida pelo receptor/ouvinte. Em outras palavras, um texto que funciona como um teste do canal de comunicao, do meio em que o ato comunicativo se realiza. O papel, a msica, o vdeo so canais de comunicao, assim como o telefone. Exemplo: a saudao que fazemos nas chamadas telefnicas Al!.

Voc j se perguntou o que esse texto significa? Se no dissermos a saudao, aquele que est ligando no saber se o telefonema foi atendido, ou seja, se possvel haver comunicao por aquele canal.

5 - Funo metalingustica interessante observar que existem textos que usam o seu cdigo para explicar o prprio cdigo. Isso acontece no dicionrio, por exemplo, em que usamos as palavras para explicar o contedo de uma palavra. Exemplo: um verbete de dicionrio.

6 - Funo potica se um texto valoriza a combinao de palavras, os sons produzidos por essa combinao ou os sentidos novos que possam ser gerados, teremos a funo potica da linguagem. Aqui muito importante fazermos uma distino no uso das palavras, se as empregamos com o sentido denotativo ou conotativo. Exemplo: letras de msica e poesias.