analise poema joão

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“Aquela triste e leda madrugada” O poema, que contém catorze versos, é um soneto, uma vez que é constituído por duas quadras e dois tercetos, e é da autoria de Luís Vaz de Camões. São usados versos decassilábicos (10 sílabas). O esquema rimático utilizado é o de abba nas quadras, criando por isso rima emparelhada em bb e interpolada em a. Relativamente aos tercetos o poeta utilizou o esquema rimático é cdc/dcd, para criar rima em cc e dd. Quanto à qualidade da rima, podemos encontrar neste soneto um exemplo de rima rica, visto que rimam palavras de categoria morfológica diferente (madrugada/ celebrada) e vários exemplos de rima pobre, ao longo do soneto, já que rimam palavras da mesma categoria morfológica, como por exemplo (piedade/saudade) Relativamente à natureza da rima podemos aqui encontrar um exemplo de rima toante ( fio/rio) e vários exemplos de rima consoante, como no exemplo (magoadas/ marchetadas). Este soneto realça a dor da separação ou despedida de dois seres apaixonados que estiveram juntos e que se apartam numa madrugada, daí que o sentimento mais presente ao longo do poema seja a tristeza. A madrugada é personificada através do pronome pessoal “ela” e é a única testemunha deste encontro e posterior separação, daí ter-se transformado num momento marcante para o sujeito poético. No poema a madrugada revela-se um elemento sensível e humanizado, tal como podemos comprovar no verso “toda cheia de mágoa e piedade”, que se comove com a separação daquele par. Este afastamento físico do casal aconteceu aquando da chegada da madrugada e foi um momento muito doloroso para os amantes, tal como o revela o verso “lágrimas a fio”. E a testemunha, sendo incapaz de expressar-se, acaba por contrastar a sua beleza plástica, uma vez que é uma “leda madrugada”, com o sofrimento humano patente na despedida. A esta beleza de uma madrugada primaveril opõe-se o sofrimento dos amantes que se separam, e que surge apresentado em metáfora que se transforma em hipérbole: “… as lágrimas em fio” que se acrescentaram em “grande e largo rio”. O verbo”ver”(que se repete três vezes, assumindo o significado de ouvir num dos casos) confere à personagem madrugada a função de testemunha e o advérbio só torna-a única. O soneto termina com a separação definitiva dos amantes, que é acompanhada por palavra “magoadas” que metaforicamente vão atenuar o fogo da paixão, tornando-o frio, e proporcionando, de certa forma, alívio às almas condenadas ao inferno do sofrimento. No que diz respeito à estrutura interna, este soneto divide-se em duas partes, a primeira parte corresponde à primeira quadra e funciona como a introdução em que o sujeito poética demonstra vontade , através do verbo “quero”, que a madrugada, que acaba por ser a personagem principal desta breve história, e caraterizada como triste e alegre ao mesmo tempo, seja para sempre celebrada. Esta primeira parte é também mais descritiva e refere-se ao momento presente e onde o sujeito poético projeta os seus desejos para o futuro. A segunda parte é narrativa e corresponde à segunda quadra e dois tercetos, pois esclarece-nos quanto à necessidade da celebração dessa madrugada, isto é, o sujeito poético, justifica o porquê de desejar que

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“Aquela triste e leda madrugada”

O poema, que contém catorze versos, é um soneto, uma vez que é constituído por duas quadras e dois tercetos, e é da autoria de Luís Vaz de Camões.São usados versos decassilábicos (10 sílabas). O esquema rimático utilizado é o de abba nas quadras, criando por isso rima emparelhada em bb e interpolada em a. Relativamente aos tercetos o poeta utilizou o esquema rimático é cdc/dcd, para criar rima em cc e dd.Quanto à qualidade da rima, podemos encontrar neste soneto um exemplo de rima rica, visto que rimam palavras de categoria morfológica diferente (madrugada/ celebrada) e vários exemplos de rima pobre, ao longo do soneto, já que rimam palavras da mesma categoria morfológica, como por exemplo (piedade/saudade)

Relativamente à natureza da rima podemos aqui encontrar um exemplo de rima toante ( fio/rio) e vários exemplos de rima consoante, como no exemplo (magoadas/ marchetadas).

Este soneto realça a dor da separação ou despedida de dois seres apaixonados que estiveram juntos e que se apartam numa madrugada, daí que o sentimento mais presente ao longo do poema seja a tristeza.

A madrugada é personificada através do pronome pessoal “ela” e é a única testemunha deste encontro e posterior separação, daí ter-se transformado num momento marcante para o sujeito poético. No poema a madrugada revela-se um elemento sensível e humanizado, tal como podemos comprovar no verso “toda cheia de mágoa e piedade”, que se comove com a separação daquele par. Este afastamento físico do casal aconteceu aquando da chegada da madrugada e foi um momento muito doloroso para os amantes, tal como o revela o verso “lágrimas a fio”. E a testemunha, sendo incapaz de expressar-se, acaba por contrastar a sua beleza plástica, uma vez que é uma “leda madrugada”, com o sofrimento humano patente na despedida. A esta beleza de uma madrugada primaveril opõe-se o sofrimento dos amantes que se separam, e que surge apresentado em metáfora que se transforma em hipérbole: “… as lágrimas em fio” que se acrescentaram em “grande e largo rio”. O verbo”ver”(que se repete três vezes, assumindo o significado de ouvir num dos casos) confere à personagem madrugada a função de testemunha e o advérbio só torna-a única. O soneto termina com a separação definitiva dos amantes, que é acompanhada por palavra “magoadas” que metaforicamente vão atenuar o fogo da paixão, tornando-o frio, e proporcionando, de certa forma, alívio às almas condenadas ao inferno do sofrimento.

No que diz respeito à estrutura interna, este soneto divide-se em duas partes, a primeira parte corresponde à primeira quadra e funciona como a introdução em que o sujeito poética demonstra vontade , através do verbo “quero”, que a madrugada, que acaba por ser a personagem principal desta breve história, e caraterizada como triste e alegre ao mesmo tempo, seja para sempre celebrada. Esta primeira parte é também mais descritiva e refere-se ao momento presente e onde o sujeito poético projeta os seus desejos para o futuro. A segunda parte é narrativa e corresponde à segunda quadra e dois tercetos, pois esclarece-nos quanto à necessidade da celebração dessa madrugada, isto é, o sujeito poético, justifica o porquê de desejar que aquela madrugada seja, para sempre, celebrada. Nesta segunda parte utiliza-se predominantemente o preterito perfeito, já que o sujeito poético está a evocar o acontecimento que descreveu na primeira parte (aquela separação). A utilização do pronome pessoal “ela” e do verbo “viu”ajuda também a justificar essa vontade. O elemento madrugada assegura a unidade do poema (o 1º sujeito desaparece após a 2ª quadra) e funciona como personagem principal, devido ao lugar que ocupa (troca da ordem natural dos elementos). Assim, são-lhe atribuídas características (triste, leda, cheia de mágoa e de piedade, amena, marchetada) e ações (sair, ver, ouvir) animizadoras.

Relativamente a recursos estilísticos podemos afirmar que o elemento madrugada assegura a unidade do poema e funciona como personagem principal. Assim, são-lhe atribuídas características e acções animizadoras: triste, leda, cheia de mágoa e de piedade, amena…

O carácter desta separação pode ver-se através de: hipérbole - as lágrimas “que s’acrescentaram em grande e largo rio”; antítese - as palavras magoadas “que puderam tornar o fogo frio”; anáfora: “Ela (inicio 2ª,3ª e 4ª estrofe) ;dupla adjetivação: “triste e leda madrugada” “grande e largo rio” paradoxo - apartar-se dua outra vontade/ que nunca poderá ver-se apartada”.