Analise filme e seu nome é jonas.

2
Como em tudo que realizamos, carregamos conceitos e determinações, construídas em razão de nossa constituição histórica, cultural e social. Fazendo uma análise do filme “E Seu Nome é Jonas (And Your Name Is Jonah (TV Film) – USA/1979” gênero drama, e relacionando com os estudos feitos até agora. Podemos abordar a triste luta vivida pela mãe do Jonas (Sally Struthers) e pai (James Woods) para estabelecer a comunicação de seu filho retirado. O filme começa com Jonas (Jeffrey Bravin) uma criança solitária surdo que tem sido diagnosticada como retardo mental, assim como vimos na matéria “A história dos surdos” era feito com as crianças que nasciam “diferentes”. No campo dos estudos surdos, têm sido analisados vários artefatos culturais que apresentam representações de surdos, da cultura surda em contraste com a cultura ouvinte, como livros de literatura infantil, fi lmes, matérias de jornal, comunidades do Orkut, etc. Considera-se que esses artefatos trazem pedagogias culturais, pois eles ensinam sobre os surdos, suas identidades, sua língua e sua cultura. Dentro desse quadro, o objetivo do presente trabalho é fazer uma análise de dois fi lmes que tratam da temática surdez, ainda não investigados no espaço acadêmico brasileiro. Trata-se de O martírio do silêncio, de Alexander Mackendrick (1952, Inglaterra) e de Palavras do silêncio, de Fred Gerber (1996, EUA), separados entre si por mais de quarenta anos de produção. Para isso, busco base teórica nos estudos culturais e nos estudos surdos, especialmente nos conceitos de pedagogias culturais, cultura surda, identidades surdas e língua de sinais, inspirando-me na análise de outros fi lmes sobre surdos, realizada por Thoma (2004). Ambos os fi lmes pertencem ao gênero drama e neles analiso a forma como os personagens surdos são representados, destacando algumas cenas onde a problemática surdo x sociedade ouvinte é mostrada. Também examino os espaços da escola e da família em relação ao aluno/fi lho surdo, analisando o papel da oralização e das línguas de sinais na trama desses fi lmes. Em relação aos conceitos que são base do estudo, relembro o que afi rma Strobel (2008) sobre a cultura sCultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modifi cá-lo a fi m de torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a defi nição das identidades

Transcript of Analise filme e seu nome é jonas.

Page 1: Analise filme e seu nome é jonas.

Como em tudo que realizamos, carregamos conceitos e determinações, construídas em razão de nossa constituição histórica, cultural e social.

Fazendo uma análise do filme “E Seu Nome é Jonas (And Your Name Is Jonah (TV Film) – USA/1979” gênero drama, e relacionando com os estudos feitos até agora. Podemos abordar a triste luta vivida pela mãe do Jonas (Sally Struthers) e pai (James Woods) para estabelecer a comunicação de seu filho retirado.O filme começa com Jonas (Jeffrey Bravin) uma criança solitária surdo que tem sido diagnosticada como retardo mental, assim como vimos na matéria “A história dos surdos” era feito com as crianças que nasciam “diferentes”.No campo dos estudos surdos, têm sido analisadosvários artefatos culturais que apresentamrepresentações de surdos, da cultura surda em contrastecom a cultura ouvinte, como livros de literaturainfantil, fi lmes, matérias de jornal, comunidades doOrkut, etc. Considera-se que esses artefatos trazempedagogias culturais, pois eles ensinam sobre ossurdos, suas identidades, sua língua e sua cultura.Dentro desse quadro, o objetivo do presentetrabalho é fazer uma análise de dois fi lmes que tratamda temática surdez, ainda não investigados noespaço acadêmico brasileiro. Trata-se de O martíriodo silêncio, de Alexander Mackendrick (1952, Inglaterra)e de Palavras do silêncio, de Fred Gerber(1996, EUA), separados entre si por mais de quarentaanos de produção. Para isso, busco base teóricanos estudos culturais e nos estudos surdos, especialmentenos conceitos de pedagogias culturais,cultura surda, identidades surdas e língua de sinais,inspirando-me na análise de outros fi lmes sobre surdos,realizada por Thoma (2004). Ambos os fi lmespertencem ao gênero drama e neles analiso a formacomo os personagens surdos são representados,destacando algumas cenas onde a problemática surdox sociedade ouvinte é mostrada. Também examinoos espaços da escola e da família em relação aoaluno/fi lho surdo, analisando o papel da oralização edas línguas de sinais na trama desses fi lmes.Em relação aos conceitos que são base doestudo, relembro o que afi rma Strobel (2008) sobrea cultura sCultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender omundo e de modifi cá-lo a fi m de torná-lo acessívele habitável ajustando-os com as suas percepçõesvisuais, que contribuem para a defi nição das identidadessurdas e das “almas” das comunidades surdas.Isto signifi ca que abrange a língua, as ideias,as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.(p.24)urda:

Efetivamente, o reconhecimento de uma culturasurda, de identidades surdas e da visão dasidentidades surdas se enquadra no que vem sendochamado de campo dos estudos surdos. Após o

Page 2: Analise filme e seu nome é jonas.

surgimento dos estudos culturais, houve uma proliferaçãode “estudos...” sobre várias comunidadese, assim, surgiram os estudos surdos. Conforme Sá(2006), “os estudos surdos têm surgido nos movimentossurdos organizados e no meio da intelectualidadeinfl uenciada pela perspectiva teórica dosestudos culturais”. (p. 65). Tudo indica que foi em1998 que a expressão apareceu pela primeira vezno Brasil, quando Skliar (1998) usou o título Estudossurdos em Educação: problematizando a normalidadeem livro sobre surdez e Lunardi (1998) usou a expressãoem sua dissertação de mestrado, afi rmandoque os estudos surdos eram um “novo campo conceitual”ou um “recorte teórico”.Skliar (1998) propõe que, dentro dos estudossurdos em Educação, existam quatro níveis de reflexão. No primeiro nível, deveriam ser examinadosos “mecanismos de poder/saber, exercidos pela ideologiadominante na educação dos surdos – o oralismoou, melhor ainda, o “ouvintismo” – desde suasorigens até os dias atuais”. (p. 15). O estudo queaqui trago se encaixa, pois, dentro desse campo dosestudos surdos.