Análise estratégica com orientação política anarquista

download Análise estratégica com orientação política anarquista

of 10

Transcript of Análise estratégica com orientação política anarquista

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    1/10

    ABERTURA

    Iniciar um documento como este uma tarefa difcil. Isto porque, uma vez que tratamos de um temapouco conhecido, h possibilidade concreta de uma viso distorcida do assunto se sobrepor a objetvidade erigor necessrio. Abordando um estudo de anlise estratgica, tomando como objeto de anlise um pouco dalgica do acionar do aparelho de inteligncia e de segurana do Estado, iniciamos aplicando os critriosdefinidos pelo prprio inimigo, mas que se aplicam a todo e qualquer trabalho do gnero.

    Cabe aqui um comentrio. O texto est concentrado na atuao dos organismos de represso einteligncia, mas reconhecemos que o nvel do trabalho poltico est bem alm dessa confrontao. Vriosagentes coletivos do inimigo vamos nos deparar durante nossa trajetria militante. Para no ficar muitoextenso, apenas no nvel poltico-jurdico, podem ser partidos polticos de direita (inimigos), partidospolticos reformistas (adversrios em um campo, ampliado, mas prximo do nosso) e mesmo partidospolticos de inteno revolucionria, mas de ideologia e prtica autoritria (neste caso, seriam aliados tticosnum primeiro e segundo momento e simultaneamente concorrentes da mesma rea de atuao). Pela lgicaento, partidos polticos de inteno revolucionria e prtica federalista, mesmo que no tenham origem efundamento ideolgico anarquista, so nossos aliados estratgicos. Ampliando este comentrio, as entidadesde classe dominante e agentes econmicos do inimigo de classe tambm so parte do "campo inimigo", indoalm apenas das Foras Armadas, Organismos de Inteligncia e Foras Policiais e/ou Para-Policiais (ou Para-MIlitares).

    Retornando, didaticamente informamos que este trabalho voltado para a formao bsica dosmilitantes anarquistas e tambm para os ativistas sociais simpticos ou prximos de um processorevolucionrio de largo prazo. Como partimos de fontes abertas, apenas articulando uma abordagemconceitual orientada atravs da ideologia anarquista, no estamos propagandeando nada. A inteno no depropaganda, mas sim didtico-formativa. O ttulo do trabalho retrata de maneira direta a carga de conceito einteno do texto.

    Como todo trabalho com intenes didticas e de uso coletivo, este no se pretende completo. Se porvezes ganha contornos de guia ou manual de orientao, isso no tem nenhuma inteno velada de ser fontenica ou modelo a ser seguido e copiado. Muito pelo contrrio, uma teoria poltica s est viva se em uso, euma vez que ela existe de fato, e aplicada por grupos organizados, est sempre sendo transformada,adequada e ajustada. Assim, queremos que este trabalho seja um ponto de partida para que nossa militncia e

    seu acionar poltico e social se alimentem de conceitos reais, vivos e presentes no dia-dia do inimigo (aomenos em seu aparato militar-repressivo).Ainda que os partidos reformistas insistam em se negar a discutir os assuntos relacionados com

    estratgia-inteligncia-represso, o tema (e seu acionar concreto) esto presentes na vida de nosso povo eclasse. No adianta ignorar a realidade, ou agimos a partir dela (e dentro da mesma), ou apenas sofreremossuas consequncias - reagindo de vez em quando, fingindo "denunciar algo" que todos sabemos e sentimosna carne sua existncia.

    O marco do trabalho algo muito importante. No se pretende generalizador, queremos sim abordarcom algum grau de preciso e rigor o campo do conhecimento aplicado na Estratgia Geral em SentidoPleno. Como esta cincia do conflito tem uma amplitude bastante vasta, o trabalho aborda este recorte (esteenfrentamento), e seu respectivo acionar:

    Estratgia aplicada por organizaes polticas (oposies) de intenorevolucionriaX

    Estratgia aplicada por organismos de inteligncia e segurana doEstado(ex: Foras Armadas e Aparelhos de Inteligncia, braos militares eoperantes do INIMIGO de Classe

    e/ou das Elites Opressoras do Povo)

    Pode at parecer uma contradio bsica e bem percebida, existente no discurso histrico epermanente dos anarquistas. Mas, justo por isso, nas razes da Estratgia que temos de buscar a lgica doacionar repressivo (e num outro momento, at em outros trabalhos mais amplos, da prpria Sociedade deControle). fundamental estar atento para uma idia bsica. Sabemos muito bem quem e como atua oinimigo de classe, e a nica preocupao expor sua forma de ao de maneira didtica. Conhecer o inimigocomo conhecemos a ns mesmos a nica forma que o povo e suas organizaes e movimentos tero de

    aproveitar as poucas chances histricas que se apresentam e so construdas. a partir da realidade dura ecrua que se constrem as chances de vitria.

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    2/10

    Seguindo o tema realidade, neste trabalho no h "impresses subjetivas ou muito sensveis". Fomosna fonte do inimigo armado, seu marco terico-estratgico, de onde tudo deriva, estrategistas consagrados,em uso pelas foras da reao para estipular as bases de estudo e ao possveis e viveis (partindo do atualponto de vista). A experincia anarquista tambm no fruto de "desejos poticos", mas sim de suor, sanguee muito trabalho. Entendemos que analisar a represso e as formas de resistncia acima de tudoextremamente necessrio. Sem fazer isso, no h chance alguma e disto estamos certos..

    Para comear o trabalho propriamente dito, apresentamos nossa primeira ferramenta, o conceito.

    Cabe uma exposio prolongada. Vamos pensar que temos um tronco de madeira bruta, pinheiro de araucriadescascado e prestes a ser trabalhado. Ao lado dele, dois carpinteiros experientes. A comunidade encomendauma grande mesa de refeio, para as festas de fim de ano. As medidas da mesa so passadas por alto, semmuita preciso e sem pedir medidas (tudo muito instintivo). Para completar o cenrio, cada carpinteiro utilizasuas prprias ferramentas, todas distintas entre si, e muitas delas foram inventadas pelo trabalhadorexperiente, outras passadas de pai pra filho, ao longo de geraes. O resultado deste trabalho comferramentas e prticas diferentes, certamente ser diferente entre si. Ou seja, vo sair duas mesas grandes, atboas de uso, mas sem nenhuma orientao prvia do coletivo que encomendou o trabalho. Em poltica nomuda muito. Podemos comparar a realidade tora de Pinheiro, os conceitos s ferramentas de uso paratrabalhar sobre a tora (a realidade e como analis-la e depois incidir sobre esta) e a inteno de anlise paraalgum fim com o grupo que encomendou o trabalho (no exemplo a mesa, na poltica, a anlise). Secompreendermos que necessitamos de ferramentas de trabalho e que um conjunto de conceitos equivale uma caixa de ferramentas, chegamos a um sistema de conceitos* = instrumental terico = capacidade dediagnstico = inteno de fazer uma ao para modificar a realidade bruta como se observa numa primeiramirada.

    E por isso que, em uma abordagem de fins militantes, o conceito (mesmo o genrico) pode sercaracterizado como uma ferramenta/um instrumento de trabalho. Existem vrias maneiras de construir eutilizar esta ferramenta. Apontamos o seguinte uso:

    Conceito = FerramentaFerramenta composta por Elementos de DoutrinaAnlise de Realidade (conjuntura)

    Experincias HistricasObjetivos Permanentes

    Uma vez que abordamos o tema partindo da Amrica Latina, necessrio utilizar um objeto deanlise (prprio mas passvel de reproduo) caracterstico das formas de opresso que enfrentamos emdistintos nveis. A forma de organizao a ser analisada so as prprias do Poder Moderador, ou seja, dasForas Armadas, Polcias Polticas e/ou Organismos de Inteligncia (percebam que so todos ao nvel federalde operao, ou subordinados ao governo central) que agem, com autonomia decisria mas como braosmilitares-repressivos do inimigo. A este grande aparelho jurdico-formal chamaremos de Estado Para-Colonial, e sobre o modelo de comando-administratvo de seus operadores, desenvolvemos a anlise.

    O Centro Decisrio de uma Fora Armada chamado de Estado-Maior, onde se concentram oscomandos respectivos das partes imprescindveis de urna mquina de guerra. Partindo de um modelo bsico

    de Estado-Maior, indicamos que os leitores ampliem este princpio para outras formas de controle sobcomando verticalizado. Esta forma interna uma hierarquia de postos e funes, desigual no poder dedeciso e participao, onde os cargos implicam em privilgios e capacidade de domnio (burocrtico-militar) sobre a vontade dos demais membros.

    Um Estado-Maior um rgo de planejamento, comando e ao. A partir deste organismo (chamadopelo inimigo de Organizao Militar de Comando) se executa a aplicao de doutrina e emprego definidospreviamente.

    O rgo composto basicamente de 5 sees:

    E 1 - Comando (controla as Comunicaes)E 2 - Inteligncia/Informaes (auxiliar ao E 1)E 3 - Operaes (aglutina as Armas de Combate e Apoio Direto ao Combate. Numa guerra as Operaes

    cabem ao E 3 executar).E 4 - So, genericamente, todas as partes necessrias de suporte e apoio indireto uma mquina beligerante,os chamados Servios (Intendncia -Logstica- Suprimentos -Corpos Auxiliares, etc.)

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    3/10

    E 5 - Em geral a que faz relaes externas da mquina beligerante. Equivocadamente chamado de "relaespblicas", o conceito apropriado o de Enlace Civil (ou seja, contato e aproximao com as elites einstituies da sociedade de classes que no est sob comando direto desta estrutura vertical e militarizada).

    A exposio da estrutura de um Estado-Maior apenas como referencia. Assim, ao nos referirmos aoinimigo, estaremos falando de seu acionar que deriva das ordens e planejamentos feitos por este tipo deorganismo. No que se refere Inteligncia, some-se a necessidade vital deste tipo de atividade ser secreta e

    compartimentada (ou seja, at seus membros devem ter acesso restrito ao que se passa no rgo onde osmesmos trabalham). Somando-se a esta referncia est o fato de nunca em nenhum momento acreditarmosque existem limites morais e ticos para a represso agir. O marco jurdico-legal, a coisa do humanitrio,limites impostos por princpios, nada disso em ltima anlise relevante para o Aparelho de Segurana daSociedade de Controle. Estamos dizendo concretamente que a funo da represso reprimir, da inteligncia investigar e infiltrar, a dos milicos fazer guerra (includa a a de Defesa Interna). Ou seja, nada deve seesperar do inimigo a no ser que aja como tal.

    De nossa parte, se d o mesmo. A funo de existir do anarquismo e suas organizaes a de serferramenta e assegurar o protagonismo da luta do povo (ns, como setor do povo que est organizado). Esta concretamente, nossa prpria razo de existir. Sem essa inteno e modo de acionar, no h anarquismo, tudo devaneio. Como diz As Barricadas, contra o inimigo nos chama o dever!. isso ou nada, em todos osnveis apropriados para cada conjuntura que vivemos. Sempre de acordo com o desenvolvimento das lutaspopulares e suas formas de resistncia opresso - excluso - explorao.

    Uma vez que este um trabalho de anlise bsico do acionar do inimigo, sua aplicao estratgica,as medidas e contra-medidas a serem tomadas pelo povo, o tema da organizao anarquista propriamentedita no ser abordado (pois j est em outros materiais da FAG).

    Como cincia do conflito, nos propomos a iniciar a abordagem estratgica aplicada em nossosconflitos internos, sejam em democracia formal, seja na guerra popular de longo prazo. Boa leitura a todos,temos certeza que a companheirada saber tornar til nosso modesto esforo de prtica-terica.

    Introduo Temtica

    Entendemos que o trabalho tem de ser construdo atravs de ferramentas apropriadas. Tais

    ferramentas so os prprios conceitos doutrinrios empregados plos operadores da represso orientada paraa oposio poltica e social (Agncia e agentes), ou seja, o aparelho de inteligncia do Estado (e demaisinstituies repressivas, privadas ou estatais) a servio dos capitais dominantes no pas associadas s elitesnacionais. Para atingir este objetivo, vemos neste trabalho os mtodos de anlise que culminam na divisoem nveis de interferncia sobre a realidade.

    Conceituamos que uma operao de inteligncia, interferindo na realidade concreta, se d sobredistintos nveis. Comeamos, por exemplo, ao observar um trabalho de contra-informao atravs dacobertura da mdia (a comunicao social), de acordo com a lgica da inteligncia brasileira, enquadradano recorte psicossocial (obs: mais adiante equivalemos este nvel com o ideolgico) oscilando entre o prpriopsicossocial e o poltico. Se considerarmos a imensa dificuldade para fazer a separao, em alto escalo,entre a economia e a poltica (obs: afirmamos que h interdependncia, ou seja, equivalncia entreExplorao-Dominao estas concluses so embasadas em declaraes de pessoal do prprio inimigo), a

    indstria da mdia se encontra no nvel chamado psicossocial, mas profundamente influenciado pelos doisanteriores.

    Ao contrrio do que possa parecer, compreendemos estes fatores como tpicos e caractersticos daatividade de inteligncia. A direita tm uma base de argumento (legalista e institucionalizado) que alega aliberdade de imprensa, de acesso fontes de informao e difuso de idias e mensagens como garantiasbsicas do capitalismo. No que diz respeito ao aparelho de inteligncia, considerando as coberturasmiditicas, sob o ponto de vista operacional, estas nada mais so do que parte da atividade de difuso pblicade contra-informao. Partindo de uma perspectiva operacional, a mdia corporativa um instrumento dedominao, assim como o aparato jurdico, a poltica institucional, o conjunto do sistema produtivo (e suaparte exclusiva, de capital financeiro com fins especulativos), os centros decisrios do Estado e demaisaparelhos capitalistas.

    Um nvel de anlise (qualquer um deles), s pode ser compreendido dentro de seu marco terico, de

    onde saem as bases doutrinrias dos organismos que a operam, a estratgia geral em sentido pleno. Nestacincia do conflito que se conformam as orientaes do aparelho de Estado para fins de inteligncia, defesa

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    4/10

    (interna e externa) e segurana de classe dominante (como a defesa patrimonial e a excluso social atravs dafora) dentro da atual etapa do capitalismo perifrico do Brasil.

    O trabalho parte do marco terico estratgico onde se desenvolvem os organismos de intelignciabrasileiros. Apenas como exemplo, retornamos ao caso da mdia, onde o conceito de ao de comunicaosocial sobre o quesito de:

    Informao - Contra-Informao - Choque de Interesses ConcorrenciaisReconhecemos que o trabalho tem de abordar alguns outros campos de conhecimento que no

    exclusivamente a estratgia e o combate sistemtico. A razo para isto justamente buscar atingir aprofundidade necessria para expor uma carga conceitual razoavelmente grande e que trate o tema daestratgia de inteno revolucionria (tendo portanto a inteligncia como inimiga direta da linha militar a serimplementada em longo prazo por uma organizao como a nossa) de forma contundente e que permita umaprofundamento militante. Conclumos ento, ser necessrio dar incio a esta anlise estratgica e poderdesenvolver as hipteses de trabalho atravs das ferramentas propcias a este tipo de atividade.

    A Estratgia

    O primeiro passo para o estudo das bases da estratgia geral em sentido pleno buscar uma nooadequada e realista sobre o que estratgia. Aps a 2 Guerra Mundial, com o avano dos estudos demarketing

    t alm de outras formas de gesto empresariais e de governo, o planejamento em alto escalo

    ganhou contornos ideolgicos, como exemplo de capitalismo modernizante. Assim, a planificao para aconcorrncia e a disputa por capitais e mercados, reproduzindo o planejamento para estas atividades, foiavanando cada vez mais no senso comum empresarial de estratgia. Com o tempo, formadores de opiniodas classes dominantes, mdia includa, acostumaram-se a chamar a tudo que implica em disputa,planejamento, detalhes e algum nvel de confronto como "estratgico". Ou seja, a estratgia no seria maisuma cincia de conflito, mas um conhecimento aplicado a todo e qualquer conflito, mesmo aquelescontrolados sob parmetros legais e de disputa limitada dentro da classe opressora. O trabalho aborda

    justamente o oposto, algo estratgico um conflito que implica em disputa de interesses em todos os nveisde anlise e de luta, guerra includa. A aplicao estratgica tem a luta (e por vezes a guerra) de classes epopular como uma de suas variveis.

    Partindo do princpio que a estratgia por definio a cincia do conflito, consideramos importante

    expor a opinio de alguns estrategistas reconhecidos, que tanto formularam suas hipteses como as testaramna verdade dura e crua da luta em si. Por que buscamos uma base de rigor, expomos conceitos ditos"clssicos", e totalmente incorporados pelas foras dos inimigos do povo.

    Comeamos por Lo Hamon, um francs que tomou parte como guerrilheiro (resistente) nas ForasFrancesas de Libertao (era maqui portanto) contra a ocupao nazista (na 2a Guerra Mundial), seguindocarreira poltica institucional na repblica francesa (chegando ao posto de senador) e depois professor dedireito. Sua definio sobre estratgia simples direta. Falar de guerra ou de estratgia supe,naturalmente, uma oposio, uma luta, um enfrentamento; entretanto, estes confrontos podem se dar sobdiversas formas (Hamn, Leo. "Estratgia contra la guerra", 1969, Madrid, pg. 41). O mesmo francsdestaca uma definio do general prussiano (atual Alemanha) Carl Von Clausewitz (considerado o maiorestrategista contemporneo, sua obra data da primeira metade do sculo XIX) sobre esta cincia que

    julgamos apropriada expor. "A estratgia a arte de utilizar batalhas para alcanar o fim perseguido atravs

    da guerra" (Carl von Clausewitz, citado por Hamn na mesma obra acima, pg.51).Assim, observa-se que a estratgia necessariamente a cincia da guerra compreendendo guerra (que

    em todos os nveis, sempre implica em violncia sistemtica) como todo tipo de conflito com interesses defundo (objetivos) necessariamente diferentes entre os antagonistas. Como afirmou Hamn, a estratgiacompreende distintas formas para o enfrentamento, tenha este a forma de conflito entre Estados, classes,modelos civilizatrios e toda e qualquer situao de interesses irreconciliveis (o que no o caso do capitalconcorrente, basta observar as poucas disputas entre transnacionais em economia globalizada). O gen.Golbery (o idelogo do sistema SNI a servio da ditadura militar, 1964-1985) preciso quanto a noo daestratgia aplicada em conflitos sociais e destaca a permanncia destes, independente da guerra entreEstados:

    "Ampliando-se a rea dessa cincia da guerra para situ-la em nvel semelhante ao que de que hojegoza a prpria Estratgia Geral como arte que tem igual emprego tanto na guerra como na paz (obs: o gen. se

    refere ao conflito blico entre Estados), poderamos bem imaginar uma cincia mais geral dos conflitossociais." (Golbery do Couto e Silva, Planejamento Estratgico, 1981, Braslia, pg. 437)

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    5/10

    A Guerra

    Portanto, a estratgia corresponde sempre ao tema do conflito permanente (um ex. de conflito queno pra a luta de classes, que em grandes propores se torna guerra civil com fins revolucionrios, ouguerra popular), sendo sua aplicao em um esforo blico, uma de suas variveis (talvez a mais dramtica),mas apenas uma entre vrias. Marcada pela hiptese de sua aplicao em uma guerra, modernamenterealizada no esforo integral de Estado contra Estado em sua potncia total (em todos os nveis, econmico,

    poltico, militar, ideolgico, miditico, diplomtico, nas alianas globais, etc.), a estratgia geral umacincia centralizada (seja na aplicao ou na referncia) no estudo da guerra. A guerra, como j se viu antes,pode se dar com variados graus de intensidade, incluindo a sua varivel na poltica interna de um pas, ouseja, a guerra civil. Nesta varivel (a da guerra civil, ao conflito genrico dentro de um mesmo pas) se incluia varivel de luta de classes, de projeto poltico de Poder Popular, ou seja, de guerra civil com finsrevolucionrios. Se associa portanto, a guerra com a permanncia dos conflitos e disputas na sociedade, ouseja, apoltica. No h guerra sem fins polticos, e no h poltica sem conflito (distintas relaes de foracom diferentes nveis de violncia, ordenado ou no, em um marco legal ou ilegal, jurdico ou ditatorial, deconciliao ou luta de classes). As relaes polticas portanto, so essenciais para o desenrolar de toda equalquer situao belicosa, no tendo razo de existir sem fundamento poltico. Segundo Clausewitz, "aguerra apenas uma parte das relaes polticas, e por conseguinte de modo algum independente." (Carl vonClausewitz,Da Guerra, 1996, So Paulo, pg. 870)

    Observa-se assim que no h concepo possvel de "lgica pura da guerra", "insensatez militarabsoluta", "independncia dos campos em todos os planos" e outras alegaes que "endemonizam" os setoresmilitares e isentam seus respectivos regimes ou capitais hegemnicos que os sustentam. O que sim pode serdito, que h uma especificidade nos assuntos de guerra. E, como as relaes polticas so o que h depermanente em toda e qualquer sociedade, elas se mantm mesmo em casos de guerra:

    "Ns afirmamos, pelo contrrio: a guerra nada mais seno a continuao das relaes polticas,com o complemento de outros meios. Dizemos que se lhe juntam novos meios, para afirmar ao mesmotempo que a guerra em si no faz cessar essas relaes polticas, que ela no as transforma em algointeiramente diferente, mas que estas continuam a existir na sua essncia, quaisquer que sejam os meios deque se servem, e que os principais filamentos que correm atravs dos acontecimentos de guerra e aos quaiselas se ligam no so mais que contornos de uma poltica que prossegue atravs da guerra at a paz." (Igual a

    anterior)Clausewitz (assim como os seus pares da direita) bem enftico quanto ao absurdo de imaginar queuma situao pode existir por si mesma. No se trata de teoria conspiratria neurtica, mas sim decompreenso de processos que levam a ter como sintomas (e no como auge, ao menos noobrigatoriamente) a guerra ou outra forma de conflito. Nunca demais reforar que: "no se pode, pois,separar nunca a guerra das relaes polticas, e se tal acontecesse num ponto qualquer do nosso enunciadotodos os filamentos dessas relaes seriam de certo modo destrudos e teramos uma coisa privada de sentidoe inteno" (Igual a anterior).

    O estrategista prussiano chega a comparar a utilizao da guerra pela poltica com um simplesinstrumento de seus desgnios. O desenvolvimento e a utilizao das estruturas beligerantes podem chegar,atravs da poltica, at a forma absoluta da guerra. Como vimos antes, a guerra (ou a capacidade de conflitosistemtico) tanto pode tomar a forma de Foras Armadas (estatais), como a de um vigoroso aparelho

    policial, organismos de inteligncia e outras formas mais ou menos militarizadas de controle.A forma absoluta a que se refere Clausewitz, tem o perigo de um desenvolvimento estrutural (das

    foras beligerantes) alm da necessidade poltica que o formou. Este um fenmeno bastante recorrente nadefesa interna (e represso poltica), quando estes rgos se desenvolvem alm de sua necessidade, ou do"efeito sanfona", quando uma vez superado o inimigo interno, no h o que fazer com tamanho contingenteespecializado (isto aconteceu no Brasil, no perodo de 1977 a 1984; teve como auge o caso da Bomba postapelo DOI-CODI do I Exrcito7 no 1 de 1981, no RioCentro e permanece com o contingente irregular do ex-SNI posto em disponibilidade a partir de 1990).

    Vale comentar, que DOI-CODI a sigla para Destacamento de Operaes de Informaes,subordinado ao Comando de Operaes para Defesa Interna, a estrutura de Comando da represso poltica,subordinada ao Exrcito mas que contava com elementos das 3 foras, das polcias civil, militar, do corpo debombeiros, alm de participaes avulsas dos agentes de inteligncia do servio da Unio (SNI, Servio

    Nacional de Informaes), do Sistema da Unio (SISNI, Sistema Nacional de Informaes) e dos centros doExrcito (CIEx, Centro de Informaes do Exrcito), da Fora Area (CISA, Centro de Informaes doServio da Aeronutica, hoje chamado de N-SISA, Ncleo da Secretaria de Inteligncia da Secretaria da

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    6/10

    Aeronutica) e da Marinha (CENIMAR, Centro de Informaes da Marinha, hoje CIM, Centro deInteligncia da Marinha).

    Embora no tenha independncia total, o campo militar (e suas reas afins) dotado de lgicaprpria, e por vezes condiciona as sociedades que o geraram. O Poder Moderador (das Foras Armadas) visto como um fator de estabilidade na Amrica Latina, sendo muitas vezes escolhido como aliado pelapoltica externa do Imprio (EUA). Vale ressaltar que compreendemos imperialismo, genericamente, comoum conjunto de prticas de imposio de vontades pelos pases centrais (em especial as reas de interesse das

    transnacionais e seus pases sedes) e mecanismos globais de regulao (por estas potncias orientados, comoo Fundo Monetrio Internacional, FMI; Banco Mundial; Organizao Mundial do Comrcio, OMC; dentreoutros).

    Esta mesma lgica prpria tambm costuma ocorrer na "atrofia" de organizaes de intenorevolucionria, quando suas estruturas beligerantes (braos armados) so desenvolvidas alm da necessidadepoltica que levou a sua prpria criao. Concordando com Clausewitz, mesmo no campo da esquerdarevolucionria, se a poltica no for o determinante nos desgnios da guerra, esta perde o sentido, invertendoa lgica das operaes, e perdendo o objetivo do conflito em si (que a destruio do Estado e Sistema dedominao capitalista em um territrio, a vitria poltica do povo, a conquista da hegemonia pelo PoderPopular Revolucionrio).

    Anlise Estratgica

    Como j foi dito antes, a guerra (ou toda forma de conflito sistemtico por intermdio de variadosgraus de violncia fsica) uma continuidade e instrumento das relaes polticas. Tanto a poltica como aguerra necessitam para funcionar, de um recorte do real, algo que ordene e d sentido (colete, processe,analise e opere; isto , realize o trabalho de inteligncia) a imensa carga de situaes empricas que se fazemperceber na realidade como tal. Considerando que uma realidade nica e pr-concebida simplesmente noexiste (naturalizando suas condies, como que dizendo: "isto assim porque ", "o mercado est inseguro",ou ento, "a humanidade caminha para este ou aquele destino"), necessrio recortar o real e dividi-lo emdois planos.

    Recort-lo em nveis de anlise que no nosso entendimento so os seguintes: poltico, econmico,militar, ideolgico (sendo as relaes so consequncia destes nveis estruturais). E, operar estes nveis sobre

    um recorte de terreno (tanto geogrfico - p/ ex: se local, municipal, estadual, regional, nacional, continentalou global; como do corte que se quer dar: os nveis na existncia das classes oprimidas, das naesindgenas, da maioria negra, etc.) que delimita o marco de anlise (e por consequncia, da capacidade deoperao).

    Cria-se assim uma ferramenta de anlise (estrutural, portanto estratgica), que comporta o planottico (de momento), proporcionando a feitura das anlises de conjuntura. Sua razo de existir, no outraseno compreender e interferir sobre a realidade, tenha esta a forma que tiver. Se h ferramenta de anlise ecapacidade operacional (por mais modesta que esta seja), haver possibilidade de interferncia. Na falta daprimeira, a capacidade de ao no ter sobre o que agir. portanto no poder acumular fora. Caso no tenhaa segunda, a anlise se resume a uma funo consultiva, no tendo autonomia para implementar sua(s)prpria(s) poltica(s).

    Conceito Estratgico

    A anlise estrutural e a ferramenta de interveno geram o conceito estratgico que a matriz dosnveis de anlise. Sobre estes se elabora a doutrina, e o consequente emprego desta sobre a realidade a curto,mdio e longo prazo. Estes podem ser, por ex:

    Curto Prazo = l a 2 anos MdioPrazo = 5 anos Longo prazo = 10 anosOu ento, num Planejamento Estratgico do inimigo em grande porte, por ex:Curto Prazo = 4 anos, tempo de durao de um mandato do Poder Executivo (municipal, estadual oufederal); o mesmo tempo vale para uma legislatura. Os interesses fisiolgicos e de apropriao do Estadobrasileiro se do com estes fins e atravs destes instrumentos (os mandatos democrtico-burgueses).Mdio Prazo = 4 + 4 anos ou seja, uma reeleio (ex: dois governos seguidos do mesmo grupo poltico-

    empresarial).Longo Prazo -8 + 4 anos, o mais difcil e nevrlgico, o projeto de poder onde se consegue eleger o sucessor ed-se a continuidade do grupo poltico-empresarial.

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    7/10

    Marcada na histria recente do pas, a doutrina de segurana nacional com preciso cumpria todos essespassos. Isto no equivalente ao projeto de poder da modernizao conservadora atravs do Poder Militar. Altima ditadura durou 21 anos em 4 etapas: 1964-1968, 1969-1974, 1974-1977 e 1978-1985. Vale destacar oque diz Golbery a respeito daquilo que ele articulou e foi seu principal criador:

    "Temos assim, na cpula da Segurana Nacional, uma Estratgia por muitos denominada Grande Estratgia

    ou Estratgia Geral, arte da competncia exclusiva do governo e que coordena, dentro de um ConceitoEstratgico fundamental, todas as atividades polticas, econmicas, psicossociais e militares que visamconcorrentemente consecuo dos Objetivos." (Golbery do Couto e Silva, Geopoltica do Brasil, 1981, Riode Janeiro, pg. 25)

    Ao invs de adotarmos os mesmos nveis de anlise e interferncia aplicados por Golbery em suaobra - o militar considerava os nveis poltico, econmico, militar e psicossocial (sendo que neste ltimo,segundo o gen. se inclui a comunicao social); sero considerados neste trabalho um outro recorte de nveisde anlise. Nunca demais ressaltar que a concepo dos nveis algo estipulado para ajudar na operaosobre o real.

    Neste trabalho portanto consideramos estes nveis:

    Econmico - relacionado ao mundo do trabalho, da produo e da circulao de bens, produtos e servios;das condies materiais de desenvolvimento de uma forma de sociedade.Militar - relacionado ao emprego da fora, de maneira sistemtica ou no, tendo que ver com todos os nveisrepressivos, de violncia na sociedade e do possvel enfrentamento opresso fsica, das estruturas dedominao e de libertao atravs da fora.Poltico - relacionado aos nveis gerais de deciso numa sociedade; o nvel que analisa a funo departidos, governos, organismos macro do Estado e das foras sociais organizadas (grupos, organizaes,nvel institucional, partidos de esquerda, legais ou no); o espao das negociaes e enfrentamento; entre osopressores, entre as classes oprimidas e dos arranjos.Ideolgico - relaciona-se a tudo o que circula no campo das idias, das subjetividades, das conotaes queno so materiais, fazem parte daquilo chamado de inconsciente coletivo (seria mais prximo das definiesde nvel psicossocial). Os sentimentos de religiosidade, o mundo das utopias e das aspiraes do homem, das

    representaes se encontram neste nvel. As mensagens e valores contidas na comunicao e na culturaestariam neste nvel.

    O nvel subordinado aos demais o Social,, isto as relaes sociais, que deriva dos demais -relacionado todas as instituies sociais, da forma de vida em sociedade, das existncias familiares, delaos e vnculos e perspectivas; analisa tambm as formas de resistncia ou coletividades sociais (como osmovimentos sociais, entidades de base) e as perspectivas sociais das expresses coletivas de um povo.Alguns aspectos do que chamado de cultura, a sua forma associativa por exemplo, se aplica no nvel social.Das manifestaes religiosas, o mesmo acontece.

    Os recortes geogrficos que propomos neste trabalho tomam por base a Amrica Latina e Caribecomo cenrio mximo projetado para a atuao. Tomaremos um exemplo a partir de uma cidade brasileira:

    Local - bairro ou distrito do municpio.Municipal - o conjunto do municpio.Microregional - o conjunto dos municpios de uma determinada micro-regio de um estado brasileiro.Estadual - o conjunto das micro-regies de um estado da repblica brasileira.Regional - o conjunto dos estados que conformam uma regio do pas (ex: regio Sul formada por RioGrande do Sul/ RS, Santa Catarina/ SC e Paran/ PR)Nacional - o conjunto das regies que englobam os estado membros da repblica do Brasil.Regional-continental - o conjunto dos pases que conformam uma realidade prpria da Amrica Latina eCaribe (ex: o chamado Cone Sul; Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile, a Zona Andina, aAmrica Central, A Amaznia Legal e outras regies latino-americanas e caribenhas).Continental - o conjunto dos territrios onde existem os Estados sobre a conformao geopoltica chamadade Amrica Latina e Caribe.

    Uma continuidade possvel dos recortes pode ser sobre setores das classes oprimidas latino-americanas (e no nosso caso, brasileiras), categorias de trabalhadores, espaos metropolitanos (ex: os nveis

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    8/10

    aplicados nas vilas da regio metropolitana) e sempre com uma aplicao temporal, isto , sobre prazos detempo.

    Objetivos, Marcos Estratgicos e Tticos

    O emprego da doutrina estipulada sobre as atividades tem como funo cumprir determinadosobjetivos pr-determinados. Os de longo prazo so chamados de objetivos estratgicos (fundamentais,

    finalidade da doutrina e emprego); e justo por terem um fim estipulado, so inflexveis. Uma vez alterado;estes objetivos estratgicos, tudo muda, inclusive os prprios organismos encarregados de implement-lo.

    Citando um objetivo permanente, entendemos como inflexvel para o capitalismo a propriedadeprivada, o controle dos meios de produo, o controle social, o diferencial de riqueza e de pobreza, aapropriao da fora de trabalho, a excluso dos que no vendem esta mesma forca e outros fatoresessenciais. Dentro deste marco se situam as Foras Armadas brasileiras e latino-americanas, sendo umgrande engano confundi-las como sinnimo dos regimes ditatoriais os quais costumam ser protagonistas.

    Considerando que "devemos conceber o Estado contemporneo como uma comunidade humana que,dentro dos limites de determinado territrio reivindica o monoplio do uso legtimo da violncia fsica"(Max Weber, Cincia e Poltica, duas vocaes, 2000, So Paulo, pg. 56) , seria um erro considervel suporque as garantias constitucionais de um regime democrtico de direito so inflexveis para o capitalismo naAmrica Latina. O nvel de represso, seja este social e/ou poltico, varia de acordo com o tamanho daameaa e o processo de acumulao e dominao que esta mesma sociedade exerce sobre as classesoprimidas, ou seja, o povo daquele pas.

    Podemos compreender ento, como um objetivo ttico para as foras hegemnicas do capitalismo oestabelecimento e a permanncia de regimes de democracia de direito. Um exemplo concreto o caso daColmbia: a democracia formal segue, as disputas entre os grandes partidos da oligarquia (o Liberal e oConservador) continuam, apesar da guerra popular das FARC e ELN (guerra essa iniciada em 1964 econtnua desde ento) e do desmonte do Estado de direito em grande parte do territrio (onde predomina ocontrole direto de latifundirios e narcotraficantes).

    Em termos blicos, a estratgia define a guerra enquanto a ttica se refere ao momento, a vitrias embatalhas, movimentos, manobras, acumulao de foras e outras regras bsicas de qualquer tipo de conflitoarmado. Entende-se portanto a associao de que o objetivo estratgico aquele permanente, sendo aquilo

    que estratgico torna-se de imediato inflexvel. O que de ordem ttica, dotado de autonomia ttica ou no, flexvel, sempre e desde quando aponte para alguma etapa referente vitria estratgica do coletivo queest no conflito (seja este do lado que for: um exrcito, Estado, sindicato, partido, organizao poltico-militar, corporao transnacional ou qualquer outra agrupao humana dotada de interesse e capacidadebeligerante, no importando a conotao ideolgica).

    Exemplos de objetivos-tempos-movimentos partindo de um ngulo revolucionrio:

    Objetivos - Permanentes; ex: a conquista do Poder Popular atravs de um processo de longo prazo.Estratgia Finalista - Inflexvel; ex: um processo revolucionrio com protagonismo das classes oprimidas,este seria a estratgia finalista dos anarquistas para conquistar seu objetivo, o Poder Popular.Estratgia Geral em Tempo restrito (ex. de prazo: por 5 anos) - Inflexvel neste marco de tempo, pode ser: aorganizao estipula uma frente ou ferramenta prioritria para ser trabalhada e fortalecida por todos os

    meios.Ttica - Flexvel e dotada de algum grau de autonomia ttica (prpria da funo). Ex: um trabalho executadopor uma Agrupao X ou Comisso Y dotado de alguma autonomia, liberdade de movimento prprio,dentro do marco estratgico geral.

    Falando em termos operacionais, o objetivo define o que estratgico. A estratgia, por sua vez,define as variveis tticas possveis. Em conceitos militares clssicos, o objetivo aporta os marcos dedoutrina que geram as opes de emprego. Em sentido genrico, o objetivo subordina o mtodo (e seusconceitos/ferramentas tidas como vlidas), que por sua vez subordina todas as formas de discurso (pblicoou velado) e de execuo de suas polticas (intenes transformadas em aes concretas).

    Ex militar Objetivos Doutrina Emprego

    Ex geral (e aplicado na poltica de inteno revolucionria): Objetivos Mtodo Variveis das Aplicaes

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    9/10

    Ex de Teoria Poltica bsica: Ideologia (princpios e aspiraes) Doutrina (orientaes bsicas) Teoria(prtica terica; sistema de conceitos em operao, s existe quando as hipteses so aplicadas no mundoreal).

    No afirmar de um objetivo permanente, est sempre presente a influncia ideolgica (nvelideolgico). a partir desta influencia que nos nveis social, poltico e econmico se manifestam aspremissas (isto , as bases prvias) caractersticas destes planos de ao. Ao contrrio do que muitas vezes

    possa parecer, no nvel militar estatal no h "profissionalismo sem ideologia patriota", sem convencimentoda fora beligerante de um modo de vida pelo qual se luta. Se isto no se manifesta na tropa rasa, os Alto-Comandos com certeza disto esto convencidos.

    No campo das esquerdas ento, isto ainda mais forte. No h vitria possvel se oslutadores/militantes no esto ganhos internamente para a causa que defendem. O moral alto, a motivaoideolgica e o senso de realidade apurado so fundamentais para qualquer possibilidade de vitria. Se osmilitantes no acreditam, ento no h nenhuma possibilidade de conquistar nada, nem a mais tmidasimpatia popular para uma causa.

    Voltando ao parmetro militar capitalista, em um comentrio exemplar, o muitas vezes citadoGolbery afirma a premissa ideolgica na formulao estratgica do estadunidense Mahan. Este homem foi oterico da supremacia naval dos EUA no final do sculo XIX, o big stick (porrete grande) atravs de suaMarinha e Corpo de Fuzileiros Navais (os marines). Ou seja, a capacidade de interveno dos EUA emqualquer parte do planeta, especialmente no seu quintal, Amrica Latina e Caribe.

    Para o idelogo de nossos inimigos, esta influncia ideolgica uma perspectiva poltica, segundo oqual "hipteses bem definidas sobre o futuro balano de foras no campo poltico internacional, constitui naverdade, uma estimativa, uma premissa bsica estratgica. Que isso seno uma perspectiva poltica domundo?"( Golbery do Couto e Silva, Geopoltica do Brasil, 1981, Rio de Janeiro, pg. 29)

    A perspectiva poltica, segundo o militar brasileiro, se soma ideolgica, sendo por estainfluenciada. Uma vez que o assunto abordado o de estratgia e conflito, preciso ter a noo depermanncia destes fatores. Ou seja, na concepo de Golbery, com a qual concordamos, os conflitos teminfluencia ideolgica permanente, se formulam atravs de uma perspectiva poltica de mundo (ou qualqueroutro cenrio e recorte geogrfico).

    Na atualidade, ainda que o chamado neoliberalismo tente afirmar a "objetividade econmica", isto

    nada mais do que a afirmao de uma premissa nica, associando o comportamento humano ao modeloprodutivo e de controle do capitalismo atual. "Nunca deixou, em verdade, o fator ideolgico de fazer-sepresente em qualquer dos conflitos humanos, seja em formulao ntida, coerente e altamente sugestiva, sejaapenas de forma fluida e quase, por assim dizer, inarticulada e ingnua."( Igual a anterior, pg. 97)

    O que tentamos estabelecer aqui so as premissas mnimas e bsicas da cincia do conflito. Assim,entende-se que, o objetivo permanente se estabelece atravs de uma perspectiva poltica de mundo (e docenrio onde o mesmo se pretende atingir e o terreno onde se quer incidir) sempre influenciada por umaperspectiva ideolgica.

    O objetivo permanente aquilo que se denomina objetivo estratgico, portanto a estratgia provemdo objetivo, assim definindo o que inflexvel dentro dos marcos estratgicos. O marco ttico referente atudo o que flexvel,, incluindo o nvel de autonomia ttica das unidades que compem uma fora emconflito. Ou seja, a ttica diz respeito s variveis possveis a serem utilizadas e desenvolvidas para atingir os

    objetivos momentneos (tticos) e permanentes (estratgicos).Como o objetivo estratgico (permanente) estabelecido atravs de influncia ideolgica e

    perspectiva poltica, portanto o objetivo subordina o mtodo. Torna-se portanto, sem sentido afirmar que "osfins justificam os meios", uma vez que so justo os meios os responsveis pela maior possibilidade de seatingir aos fins.

    Assim sendo, se uma fora com uma determinada viso de mundo, adotar mtodos que nocorrespondem majoritariamente com esta viso, de uma ou outra maneira seus operadores se tornaro frutoda viso (atravs dos mtodos) que os mesmos ao menos em tese no compartilham. Compreende-seportanto que o universo emprico condicionado pela influncia ideolgica e poltica, mas s existe a partirda possibilidade concreta.

    O Marco Poltico

    Poltica e ideologia, seriam, dentre outras coisas, uma forma de estar no mundo, e uma perspectivadesta projeo. Pondo esta perspectiva dentro de um marco real (a sociedade, sobre esta o sistema, no plano

  • 7/28/2019 Anlise estratgica com orientao poltica anarquista

    10/10

    ttico o regime), soma-se um conjunto de interesses materiais com aspiraes e desejos humanos aoestabelecer o objetivo permanente. Neste sentido que se encontra o que h de inflexvel (permanente eestratgico) no plano dos interesses e aspiraes de povo e classe. No nos parece possvel estabelecer umobjetivo estratgico que no contenha uma viso poltica de mundo, um conjunto de aspiraes no-materiaise uma srie de interesses materiais para atingir (ao menos em parte) estes mesmos desejos. Portanto, em todoconflito, sob qualquer forma que este se manifeste, na atual etapa de dominao capitalista (especialmentepara os latino-americanos), no h estratgia (ou seja, conflito) sem interesse de classe (direto ou indireto).

    Uma vez que afirmamos que o objetivo determinante compreendemos que os interesses easpiraes, de classe e povo se manifestam em todos os nveis, sobre o aparelho de inteligncia inclusive.Como j foi dito antes, o objetivo subordina o mtodo, sendo assim, estabelece suas prticas de acordo com otipo de objetivo que deseja atingir.

    No plano da poltica e da economia isto bem visvel. Hoje podemos afirmar que o taylorisnio e ofordismo no proporcionam (nem nunca se dispuseram a isto) para a classe operria o controle de sua rotinaprodutiva. Estas rotinas produtivas impossibilitam que a classe trabalhadora seja controladora dos meios deproduo, e portanto, no controle sua prpria fora de trabalho.

    Afirmamos isto independente de regime ou sistema, tomando como ex. a reforma produtiva doPartido Bolchevique (1924) do NEP russo (a Nova Poltica Econmica dos bolchevistas, copiando a linha deproduo da FIAT italiana, logo aps a vitria do Partido Bolchevique na guerra civil de 1917-1921) nogerava nenhum aumento de participao democrtica (pelo contrrio, controlava e subordinava ao mtodo eao gerenciamento dos encarregados do Partido) da classe operria organizada em conselhos (soviets mas jsob controle de um partido nico). A produo aumentar e a distribuio ser mais justa no significa que aclasse se aproxime dos controles dos meios, tenha o Estado o tipo de sistema que for. "Dito em outraspalavras a dominao organizada, necessita, por um lado, de um estado-maior administrativo e, por outrolado, necessita dos meios materiais de gesto."(Max Weber, livro j citado., pg. 59)

    A classe somente vai alcanar sua liberdade quando controlar sua rotina produtiva e planejar toda asua produo. Ou seja, a libertao dos trabalhadores uma obra contnua, no bastando para isso derrotarum sistema de explorao, mas sim de estruturar uma sociedade onde se combata permanentemente qualquerestrutura de dominao de uma classe (burocrtica ou capitalista) sobre as maiorias exploradas c excludas depoder de deciso (ou seja, a sociedade de iguais contra o poder opressor). Assim sendo, junto com o PoderPopular (Federalista) como eixo de deciso poltica e administrativa, a Autogesto Scio-Econmica

    (equivale a ter formas de produo Mutualista) tem de ser um modo de produo de toda uma sociedade.Solucionar a equao igualdade e liberdade portanto uma das chaves para a construo de uma sociedadesocialista e libertria.

    Apontando Concluses

    O que podemos apontar como idias conclusivas um processo que acompanha o acionar estratgicode toda forma de organizao (seja militar, empresarial, poltica-institucional ou mesmo uma organizaorevolucionria). Este processo se inicia com o objetivo estratgico (permanente, de longo prazo). Rumo aeste objetivo, os indivduos a agrupados se movem e orientam suas foras. Independente do tipo deorganizao interna (se vertical ou federalista, como o nosso caso), para se atingir o objetivo necessriourna srie de clculos de foras, tempos e movimentos num cenrio real, onde se contabilizam os demais

    sujeitos organizados e em disputa (ou aliana). O que com o inimigo toma forma de Estado-Maior, uma forapopular pode tomar a forma de um Centro Coordenador Poltico-Estratgico (nvel Executivo, instncia dofederalismo poltico).

    O conjunto das prprias foras, orientadas por uma Coordenao (Executiva) tem de se orientarsegundo um Planejamento Estratgico, onde cada objetivo pr-traado dentro de um determinado espao etempo (calculado em anos, e no curtssimo prazo, em meses). O objetivo mais importante dentro de um prazoX de anos chamado de estratgia geral em tempo restrito (ex. alcanar tal objetivo dentro de Y anos).Dentro desse prazo de tempo, os movimentos empregados so de ordem ttica, e tem de acumular para oobjetivo estratgico.

    Partindo dessas ferramentas conceituais mnimas possvel iniciar um mtodo de Planejamento eAnlise Estratgica prprias, que ir se desenvolver sobre uma anlise estrutural do capitalismo perifrico eseus efeitos concretos sobre a sociedade brasileira. Especificamente, sobre o conjunto de classes e setores

    oprimidos do Rio Grande e do Brasil.