análise dos testes de personalidade

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Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 3, p. 55-65, setembro/dezembro 2002 (1) Doutora em Psicologia: ciência e profissão, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Curso de Psicologia e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Universidade São Francisco Endereço para correspondência com o Conselho Editorial: Rua Francisco Pinto Osório, 40 Jardim Morum- bi – Itatiba/SP – CEP 13250-000 - Tel. (11) 4524-3516 - Tel. Cel. (11) 9794-7265 E-mail: [email protected] ANÁLISE DE TESTES DE PERSONALIDADE: QUALIDADE DO MATERIAL, DAS INSTRUÇÕES, DA DOCUMENTAÇÃO E DOS ITENS QUALIDADE DE TESTES DE PERSONALIDADE ANALYSIS OF PERSONALITY TESTS: QUALITY OF THE MATERIAL, INSTRUCTIONS, DOCUMENTATION AND ITEMS Ana Paula Porto NORONHA 1 RESUMO Considerando a importância da avaliação psicológica na atuação profissional do psicólogo, o objetivo do estudo foi avaliar testes de personalidade publicados no Brasil, no que se refere à qualidade do material, da documentação, das instruções e dos itens. Foram analisados vinte e dois testes. Os instrumentos foram pontuados de acordo com os critérios estabelecidos. Os resultados mostraram que dois instrumentos tiveram a maior nota (PMK e IFP) e que o melhor critério identificado nos instrumentos foi a qualidade das instruções. Palavras-chave: Testes de Personalidade Qualidade dos Testes – Construção de Testes ABSTRACT Considering the importance of psychological assessment in the psychologist´s professional field, this study goal was the evaluation of personality tests published in Brazil, taking into accorent material, quality, documentation, instructions and items. Twenty two tests have been researched. The tests have been scored according to criteria. The results showed that two tests (PMK and IFP) received the highest grade and the best identified criterium for the tests was the quality of the instructions. Keywords: Personality Tests – test Quality – Test Construction

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Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 3, p. 55-65, setembro/dezembro 2002

(1) Doutora em Psicologia: ciência e profissão, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Curso dePsicologia e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Universidade São FranciscoEndereço para correspondência com o Conselho Editorial: Rua Francisco Pinto Osório, 40 – Jardim Morum-bi – Itatiba/SP – CEP 13250-000 - Tel. (11) 4524-3516 - Tel. Cel. (11) 9794-7265E-mail: [email protected]

ANÁLISE DE TESTES DE PERSONALIDADE:QUALIDADE DO MATERIAL, DAS INSTRUÇÕES, DA

DOCUMENTAÇÃO E DOS ITENS QUALIDADE DETESTES DE PERSONALIDADE

ANALYSIS OF PERSONALITY TESTS:QUALITY OF THE MATERIAL, INSTRUCTIONS,

DOCUMENTATION AND ITEMS

Ana Paula Porto NORONHA1

RESUMO

Considerando a importância da avaliação psicológica na atuaçãoprofissional do psicólogo, o objetivo do estudo foi avaliar testes depersonalidade publicados no Brasil, no que se refere à qualidade domaterial, da documentação, das instruções e dos itens. Foram analisadosvinte e dois testes. Os instrumentos foram pontuados de acordo com oscritérios estabelecidos. Os resultados mostraram que dois instrumentostiveram a maior nota (PMK e IFP) e que o melhor critério identificado nosinstrumentos foi a qualidade das instruções.

Palavras-chave: Testes de Personalidade – Qualidade dosTestes – Construção de Testes

ABSTRACT

Considering the importance of psychological assessment in thepsychologist´s professional field, this study goal was the evaluation ofpersonality tests published in Brazil, taking into accorent material, quality,documentation, instructions and items. Twenty two tests have beenresearched. The tests have been scored according to criteria. The resultsshowed that two tests (PMK and IFP) received the highest grade and thebest identified criterium for the tests was the quality of the instructions.

Keywords: Personality Tests – test Quality – Test Construction

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INTRODUÇÃO

A avaliação psicológica não é recente naPsicologia; os primeiros trabalhos de Galton eCattell com o objetivo de medir a inteligência(Anastasi & Urbina, 2000; Ancona-Lopez, 1987;Erthal, 1987) datam de 1875. Os primeirospesquisadores, chamados psicólogos experi-mentais, não se interessavam pela mensuraçãodas diferenças individuais. O objetivo a queeles se propunham era a observação dasdescrições generalizadas do comportamento,enfocando mais a uniformidade do que asdiferenças de comportamento (Pasquali, 1999).

As descrições general izadas docomportamento acabavam gerando resultadoscada vez mais aproximados e inexatos e talfato ocasionou a necessidade de se estabelecerem padrões de aplicação e de avaliação paraas situações de teste ou mesmo para asobservações. A partir disso, as condições deaplicação tornaram-se mais rigorosas e osfenômenos psicológicos passaram a ser maisbem definidos.

Durante muito tempo a avaliação foientendida como sinônimo de medida. Essamedida não era absoluta e os primeirosinstrumentos tinham falhas sérias quanto àfalta de representação de várias funções equanto à generalização de seus dados, já quesuas formas iniciais eram grosseiras eprecárias (Anastasi & Urbina, 2000; Ancona-Lopez, 1987).

Na década de trinta, sobretudo nosE.U.A., maior pólo de desenvolvimento dosinstrumentos na época, os testes caíram emdescrédito absoluto, pois seu uso indevido esua fragilidade metodológica fizeram com queos resultados apresentados não fossemcoerentes com as expectativas advindas desua utilização (Ancona-Lopez, 1987).

A construção inicial dos instrumentospsicológicos não obedecia aos critériospadronizados de aplicação e de avaliação hojeexistentes, o que, de alguma forma, além de

não oferecer dados confiáveis, ainda levava aconclusões sobre os indivíduos, sem que osresultados dos testes fossem melhorcompreendidos e discutidos.

Como os testes psicológicos nãoconseguiam atingir as expectativas, muitasvezes injustificadas, houve um sentimento dehostilidade em relação a eles, fazendo comque muitos de seus estudos fossemabandonados. Assim como qualquer outraatividade profissional, a avaliação enfrentoudificuldades iniciais e, de alguma forma, issoa marcou negativamente, assim como interferiuna confiança dos profissionais e da populaçãoem relação aos instrumentos padronizados.Tais fatos históricos já foram amplamentediscut idos por vários autores; paraaprofundamento da literatura, examinar asseguintes referências: Almeida (1988);Anastasi & Urbina (2000); Ancona-Lopez(1987); Carelli (1989), Depresbiteris (1991);Erthal (1987); Florez-Mendonza (1992);Noronha (1999); Pasquali (1999).

Problemas em relação aos testespsicológicos existem, embora não sejam osmesmos dos tempos remotos do início dodesenvolvimento. Muitas vezes a “culpa” daAvaliação Psicológica inadequada e dodiagnóstico incorreto é atribuída ao próprioinstrumento padronizado (Custódio, 1996).Essa colocação é corroborada por Salvia eYsseldyke (1991), cujo parecer é o de que oinstrumento de avaliação é valorizado oudesvalorizado pelo bom ou mau profissional,que o utiliza, ou não, com adequação,respeitando seus limites e objetivos. É certoque tal afirmação deve ser ponderada, uma vezque não é exeqüível que bons psicólogostransformem maus instrumentos em bons,isentando assim, a má qualidade de algunsdeles.

A existência desse tipo de problema,seja no instrumental especificamente ou noprocesso de avaliação como um todo, tornadeficitário o status e a credibilidade da AvaliaçãoPsicológica e de seus instrumentos. Andriola

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(1995) considera que a precariedade de muitosinstrumentos padronizados trazconseqüências desastrosas, como o descréditodos instrumentos, a desconfiança de suavalidade diagnóstica e a reflexão acerca daprópria prática psicológica. Fatos esses, nãotão novos na ciência psicológica.

É certo que pesquisas têm sidorealizadas no sentido de melhorar o status doteste psicológico e de resgatar a legitimidadedestes instrumentos. Os esforços não têmsido pequenos, o que é de suma importânciapara que a área se desenvolva e se fortaleça.Os estudos versam sobre temas distintos, taiscomo, a aval iação da qual idade dosinstrumentos psicológicos (Prieto & Muñiz,2000; Noronha, 2001; Noronha, Sbardelini &Sartori, 2001; Noronha, Freitas & Ottati, 2001),sobre os instrumentos psicológicos maisutilizados na prática profissional (Azevedo,Almeida, Pasquali & Veiga, 1996; Almeida,Prieto, Muñiz & Bartram, 1998; Noronha, 1999),sobre a avaliação da precisão e da validade deinstrumentos, ou sobre questões relativas àpadronização (Geisinger, 2000; Silverstein,Marshall & Nelson, 2000; Adams, 2000;Okazaki & Sue, 2000).

Melhorar a qualidade do instrumentopsicológico é uma tarefa árdua, masindispensável, tendo em vista que eles sãoexclusivos do psicólogo, o que os associa e,de alguma forma, representa o grupoprofissional de psicólogos. O desafio dacomunidade psicológica é o desenvolvimentode sua ciência e o reconhecimento social desua profissão. Para Adams (2000), odesenvolvimento dos testes constitui interessede psicólogos, editoras e usuários; a meta éque instrumentos alcancem o máximo deeficiência.

Testes de Personalidade:

Testes de personalidade e de inteligênciasão os instrumentos mais utilizados pelospsicólogos (Hutz & Bandeira, 1993; Azevedo e

colaboradores, 1996; Noronha, 1999). Isto sejustifica pelo fato de que, em vários contextosprofissionais, a avaliação destes doisfenômenos psicológicos é imprescindível, alémdo que grande parte dos instrumentosexistentes se destina à avaliação destas duasdimensões.

Na literatura internacional, são freqüentesas pesquisas com este tipo de instrumental,sendo que os objetivos são de naturezasdiversas. Forbey, Handel e Ben-Porath (2000)desenvolveram uma investigação com oMMPI-A na versão computadorizada; Shaffer,Erdberg e Haroian (1999) relacionaram osresultados do Roschach, do WAIS-R e doMMPI-2, de um grupo de estudantes; Wood eLilienfeld (1999) estudaram os problemasrelacionados às normas, à validade e à precisãodo Rorschach.

Na literatura nacional, infelizmente, nãose encontra um universo tão variado de estudose de pesquisas nesta área de conhecimento.Wechsler e colaboradores (2000) desenvolve-ram um estudo com o objetivo de identificar asáreas prioritárias para pesquisa em avaliaçãopsicológica, segundo a opinião de estudantesde psicologia. Os resultados apontaram que aavaliação necessita prioritariamente depesquisas direcionadas às linhas emocional ecognitiva.

À guisa destas informações, o presenteestudo objetivou avaliar a qualidade dasinstruções, do material, da documentação edos itens de 22 testes de personalidade, atravésdas informações contidas nos manuais.

MÉTODO

INSTRUMENTOS CONSULTADOS

Foram analisados na presente pesquisa22 testes psicológicos que objetivam avaliarpersonalidade. Os instrumentos utilizadosestão abaixo relacionados:

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1. Cornell Index (Weider, Wolf, Brodman,Mittelman & Wechsler, CEPA, sem data);

2. 16 PF- 5ª edição (Cattell, Cattell & Cattell,CEPA, 1999);

3. Escala de Personalidade de Comrey(Comrey, Vetor, 1997);

4. Inventário Fatorial de Personalidade -IFP (Edwards, Casa do Psicólogo, 1997);

5. Inventário Multifásico Minesota dePersonalidade - MMPI (Hathaway &McKinley, CEPA, sem data);

6. Pirâmides Coloridas de Pfister (Heiss &Hiltmann, CEPA, 1976);

7. Psicodiagnóstico Miocinético - PMK(Mira y López, Vetor, 1987);

8. Questionário de Avaliação Tipológi-ca - QUATI (Zacharias, Vetor, 1994);

9. Questionário de PersonalidadeDadahie (Andrade, Moraes & Wendel,CEPA, sem data);

10. Teste de Rorschach (Rorschach, Manole,1997);

11. Suplemento para Teste de ApercepçãoInfantil - CAT S (Bellak & Bellak, Psy,1992);

12. Teste Caracterológico - TCO (Minicucci,Vetor, 1996);

13. Testes das Cores (Braga, CEPA, 1978);

14. Teste das Fábulas (Düss, CETEPP,1993);

15. Teste das Pirâmides de Cores (Heiss &Halder, Vetor, 1971);

16. Teste de Apercepção Infantil - CAT A(Bellak & Bellak, Mestre Jou, 1981);

17. Teste de Apercepção Infantil - CAT H(Bellak & Bellak, Psy, 1992);

18. Teste de Apercepção para idosos - SAT(Bellak & Bellak, Psy, 1992);

19. Teste de Apercepção Temática - TAT(Murray, Mestre Jou, 1973);

20. Teste Palográfico (Milá, Vetor, 1976);

21. Teste Projetivo Ômega - TPO (VillasBoas Filho, CEPA, 1967)

22. Teste de Wartegg (Wartegg, Casa doPsicólogo, 1993).

Vale destacar que os parênteses quevêm após o nome dos instrumentos indicam oautor original, a editora de publicação no Brasile a data do manual avaliado respectivamente.

MATERIAL E PROCEDIMENTO:

Os critérios utilizados na análise dostestes foram: qualidade do material, dadocumentação, dos itens e das instruções.Por qualidade de material entende-se aqualidade dos objetos, dos materiais impressos(folha de resposta, cadernos e outros), domanual e livros suplementares, sendo que foiconsiderado excelente o material queapresentou grande qualidade de impressão eapresentação.

A qualidade da documentação refere-seà descrição clara e completa das caracte-rísticas técnicas, fundamentadas em dados ereferências satisfatórias. A qualidade dos itensdiz respeito à redação e à adequada seleçãodos itens, enquanto instruções com qualidadesão as que se apresentam de maneira clara,precisa e adequada à população para a qual oteste se destina.

A presente avaliação baseou-se noquestionário para avaliar as qualidades dostestes usados na Espanha (Prieto & Muñiz,2001). Os instrumentos foram avaliados emuma planilha para posterior análise.

RESULTADOS

Os resultados do presente estudo foramorganizados em tabelas, sendo que em cadauma é possível encontrar os nomes dosinstrumentos e as notas respectivas de cada

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aspecto avaliado, ou seja, qualidade domaterial, qualidade da documentação,qualidade dos itens, qualidade das instruçõese nota geral do teste.

Em cada análise realizada, o materialrecebeu uma nota que variou de 1 a 3, sendoque (1) significa inadequado, (2) significaadequado, ou seja, apresenta medianamenteos critérios preestabelecidos, e (3) excelente.

Tabela I. Pontuação dos Instrumentos.

Cornell Index16 PFEsc. Personal. ComreyIFPMMPIPfisterPMKQUATIQuest. Personal. DadahieRorschachCAT-STCOTestes das CoresTeste das FábulasTeste das Pirâmides de CoresCAT-ACAT-HSATTATTeste PalográficoOmega- TPOWarteggMédiaDP

MAT

2

2

2

3

2

3

3

3

1

3

3

2

2

2

3

1

1

1

2

3

2

2

2,18

0,73

DOC

1

3

1

3

2

2

3

1

1

1

1

2

1

3

2

1

1

1

1

1

1

2

1,59

0,80

ITEM

2

3

1

3

2

3

3

2

1

2

1

2

2

2

3

2

2

1

2

2

1

2

20,69

INSTR

2

3

3

3

1

2

3

2

2

2

2

1

2

2

3

3

1

2

2

3

2

3

2,23

0,69

TOTAL

7

11

7

12

7

10

12

8

5

8

7

7

7

9

11

7

5

5

7

9

6

9

8

2,14

QUALIDADENome do Teste

A pontuação máxima que cada instrumentopoderia receber é 12.

A Tabela I apresenta a pontuação geralnos quatro aspectos avaliados. Os testes quereceberam a nota máxima foram o PMK e oIFP, seguidos do 16 PF e do Teste dasPirâmides das Cores. Em relação aos pioresdesempenhos, destacam-se o CAT-H, oDadahie e o SAT.

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No que se refere à avaliação dosinstrumentos segundo a qualidade do materialapresentado, observou-se que oito instru-mentos (36,4%) obtiveram a pontuação máxima(3); são eles: Inventário Fatorial de Personalidade,Pfister, PMK, Rorschach, CAT-S, QUATI, TestePalográfico e Teste das Pirâmides de Cores.Os instrumentos menos pontuados nesteaspecto foram Questionário de PersonalidadeDadahie, CAT-A, CAT-H e SAT.

Na qualidade da documentação, foipossível encontrar instrumentos com pontuaçãomáxima (16 PF, IFP, PMK e Teste das Fábulas),embora mais da metade da amostra tenhaficado com a menor pontuação (1). A médiageral do item foi a menor em relação aosdemais aspectos avaliados.

Em relação à qualidade dos itens, osinstrumentos melhor avaliados foram 16 PF,IFP, Pfister, PMK e Teste das Pirâmides deCores, enquanto as piores pontuações ficaramcom os seguintes testes: Escala dePersonalidade de Comrey, Questionário dePersonalidade Dadahie, CAT-S, SAT e Ômega.

A qualidade das instruções foi, em relaçãoaos aspectos estudados, o que apresentoumaior média geral; 16 PF, Escala dePersonalidade de Comrey, IFP, PMK, Testedas Pirâmides das Cores, Teste Palográfico,Teste Wartegg e CAT-A receberam apontuação máxima.

É importante verif icar que essesresultados estão em concordância com outros

Tabela II. Pontuação dos Instrumentos aplicados à Área Clínica.

Cornell Index

16 PF

Esc. Personal. Comrey

IFP

MMPI

Pfister

PMK

QUATI

Rorschach

CAT-S

Teste das Fábulas

Teste de Pirâmides Cores

CAT-A

CAT-H

SAT

TAT

Teste Palográfico

Wartegg

Média

DP

MAT

2

2

2

3

2

3

3

3

3

3

2

3

1

1

1

2

3

2

2,28

0,75

ITEM

2

3

1

3

2

3

3

2

2

1

2

3

2

2

1

2

2

2

2,11

0,67

Nome do TesteINSTR

2

3

3

3

1

2

3

2

2

2

2

3

3

1

2

2

3

3

2,33

0,69

TOTAL

7

11

7

12

7

10

12

8

8

7

9

11

7

5

5

7

9

9

8,39

2,15

Qualidade

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estudos de natureza nacional e internacional,respectivamente. Noronha, Sbardelini e Sartori(2001) realizaram uma pesquisa com o objetivode avaliar a qualidade de testes de inteligência,através dos manuais; o aspecto que obtevemelhor nota foi o relacionado à qualidade dasinstruções e o menos destacado foi igualmentea qualidade da documentação. Por outro lado,Silverstein, Marshall e Nelson (2000) apontama necessária consideração, dentre outrosaspectos, das instruções dos testes quandoda realização de revisões ou outros estudoscom os testes psicológicos.

A Tabela II reúne os instrumentos que sedestinam à avaliação no contexto clínico. Valeressaltar que tal subdivisão se deu de acordocom informações contidas nos própriosmanuais dos testes psicológicos; tendo issoem vista, três instrumentos não fizeram partedesta subdivisão por não informar no manualas áreas de aplicação (Teste Projetivo Ômega,Teste das Cores e Quest ionário dePersonalidade Dadahie). Outra observaçãonecessária é que dos 22 materiaisconsultados, 81,8% (N=18) são utilizadosna prática clínica.

Nos testes da área clínica, o maior escoreficou por conta do PMK e do IFP; a menorpontuação ficou com o CAT-H e SAT. Emtodos os aspectos aval iados houveinstrumentos com pontuações máximas emínimas, embora o desvio-padrão tenhaapresentado maior variabilidade na qualidadeda documentação; a instrução obteve a melhormédia, enquanto a documentação obteve apior, e a média geral da área foi 8,39.

Na área educacional (Tabela III) estavampresentes 39,1% dos instrumentos da amostraestudada; neste grupo, apenas o IFP recebeua maior pontuação. Em relação aos aspectosavaliados, a qualidade das instruções obteve anota mais alta e a da documentação, a maisbaixa, assim como na área clínica. A médiageral da área foi 8,11.

Destaca-se o número menor de instru-mentos da área educacional quandocomparada com a clínica, o que de algumaforma revela o tipo de prática do psicólogoneste contexto, ou seja, com caráter maispreventivo e utilizando-se menos deste tipo deinstrumento de avaliação, uma vez que,segundo Sisto (2001), a investigação mostra

Tabela III. Pontuação dos Instrumentos aplicados à Área Educacional.

Cornell Index

16 PF

Esc. Personal. Comrey

IFP

QUATI

CAT-S

CAT-A

CAT-H

Wartegg

Média

DP

Mat

2

2

2

3

3

3

1

1

2

2,11

0,78

Doc

1

3

1

3

1

1

1

1

2

1,56

0,88

Item

2

3

1

3

2

1

2

2

2

2

0,71

Instr

2

3

3

3

2

2

3

1

3

2,44

0,73

Total

7

11

7

12

8

7

7

5

9

8,11

2,20

Nome do TesteQualidade

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repetidamente um uso mínimo de avaliaçõesque saem do contexto de sala de aula e quenão são baseadas em seu cotidiano.

As áreas forense e social foram reunidasnuma única tabela (Tabela IV), tendo emvista o pequeno número de instrumentosexistentes para avaliar esta demanda.Mesmo com esta organização dos dados,verificou-se que o número de instrumentos éreduzido, quando comparado com as demais

16 PF

CAT-S

CAT-A

CAT-H

Wartegg

MédiaDP

Mat

2

3

1

1

2

1,80,84

Doc

3

1

1

1

2

1,60,89

Item

3

1

2

2

2

20,71

Instr

3

2

3

1

3

2,40,89

Total

11

7

7

5

9

7,82,28

QualidadeNome do Teste

áreas avaliadas. A média geral das áreas foi7,8, a menor em relação às demais.

Os instrumentos melhor pontuados foramo PMK e o IFP, com a pontuação máxima (12pontos), sendo seguidos por 16 PF e Testedas Pirâmides das Cores. Assim como osinstrumentos utilizados na prática clínica eeducacional, os das áreas forense e socialtiveram melhor colocação na qualidade dasinstruções e menor, na documentação.

Tabela IV. Pontuação dos Instrumentos aplicados às Áreas Forense / Social.

Tabela V. Pontuação dos Instrumentos aplicados à Área Organizacional.

Cornell Index

Esc. Personal. Comrey

MMPI

Pfister

PMK

QUATI

Rorschach

TCO

Teste das Pirâmides de Cores

Teste Palográfico

Wartegg

Média

DP

Mat

2

2

2

3

3

3

3

2

3

3

2

2,55

0,52

Doc

1

1

2

2

3

1

1

2

2

1

2

1,64

0,67

Item

2

1

2

3

3

2

2

2

3

2

2

2,18

0,60

Instr

2

3

1

2

3

2

2

1

3

3

3

2,270,79

Total

7

7

7

10

12

8

8

7

11

9

9

8,64

1,75

QualidadeNome do Teste

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A última área analisada foi a organi-zacional, cujos dados estão reunidos na TabelaV. A diferença deste grupo e os demais é queo aspecto melhor qualificado foi qualidade domaterial, ao contrário das demais áreas, quereceberam maior nota na qualidade dasinstruções. Outra diferença substancialencontrada foi a média da área (8,64), que sedestacou em relação à clínica, à educacionale à forense/social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns elementos que poderiam serapontados nesta seção foram destacadosjuntamente com os resultados. Reserva-se àconclusão a observação de que grande parteda amostra estudada diz respeito ainstrumentos importados, alguns deles isentosde estudos e pesquisas com amostrasbrasileiras. Os instrumentos que mais sedestacaram foram PMK (E. Mira & Lopez), IFP(A.L.Edwards), ambos construídos em outrospaíses, mas com publicações nacionaisdatadas de 1987 e 1997, respectivamente.Outra observação relevante é que houve umagrande variabilidade em relação aos períodosde construção dos instrumentos, desde adécada de 20 até revisões feitas recentementeem 1999.

De uma maneira geral, a instrução foi oaspecto melhor avaliado dentre os instrumentospesquisados, embora, quando eles sedistribuíram de acordo com as áreas deaplicação, na organizacional, especialmente,a qualidade da documentação tenha sedestacado em relação às demais. A produçãoda área de avaliação psicológica ainda éconsiderada incipiente, embora no estudorealizado por Alchieri e Scheffel (2000), com oobjetivo de resgatar a produção científicabrasi leira em periódicos nacionais,especialmente relacionada à construção, àadaptação e aos estudos com instrumentospsicológicos, se tenha observado que 41%

dos artigos pesquisados entre 1930 a 1999versavam sobre a avaliação da personalidade.

Objetivamente, os dados brutos sãodesanimadores, pois revelam uma pequenaprodução num espaço de aproximadamentesete décadas. Segundo Pasquali (1999), acrescente demanda dos instrumentospsicológicos “não está sendo acompanhadapor um desenvolvimento dos mesmos por partede pesquisadores brasileiros. Estes, na maioriados casos, se contentam em produzir umtrabalho sumário sobre instrumentosestrangeiros, sem maiores preocupações sobrea aferição da qualidade dos mesmos eaplicabilidade para o nosso contexto cultural”(p.7).

Quanto ao objetivo do estudo, acredi-ta-se tê-lo alcançado, uma vez que pôde revelara qualidade de alguns elementos presentesnos manuais dos testes. Novas pesquisasdevem ser produzidas de modo a valorizar eaprimorar a ciência psicológica, especialmenteos testes psicológicos.

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