Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio...

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Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai Janeiro de 2012 © ESTA PUBLICAÇÃO FOI EDITADA EM PARCERIA POR

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Análise de Risco Ecológico

da Bacia do Rio ParaguaiArgentina, Bolívia, Brasil e Paraguai

Janeiro de 2012

©

ESTA PUBLICAÇÃO FOI EDITADA EM PARCERIA POR

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1ª Edição

RealizaçãoThe Nature Conservancy, WWF-Brasil

ApoioCPP/Sinergia, TNC/LAR, Caterpillar, HSBC,

WWF-Bolivia e WWF-Paraguai

ColaboradoresEmbrapa Pantanal e Ecoa

Brasília, DF

2012

Análise de Risco Ecológico

da Bacia do Rio ParaguaiArgentina, Bolívia, Brasil e Paraguai

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WWF-BRASIL

Secretária-geral

Maria Cecília Wey de Brito

Superintendente de Conservação

Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza

Programa Cerrado-Pantanal

Coordenador

Michael Becker

Programa Água para a Vida

Coordenador

Samuel Barreto

Laboratório de Ecológia da Paisagem

Coordenador

Sidney Rodrigues

THE NATURE CONSERVANCY

Representante no Brasil

Ana Cristina Fialho Barros

Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais

Diretor

João Santo Campari

Estratégia de Água Doce do Programa de Conservação

da Mata Atlântica e das Savanas Centrais

Coordenador

Albano Araújo

FICHA TÉCNICA

Autores

Paulo Petry (TNC)

Sidney T. Rodrigues (WWF-Brasil)

Mario Barroso Ramos Neto (WWF-Brasil)

Marcelo H. Matsumoto (TNC)

Glauco Kimura (WWF-Brasil)

Michael Becker (WWF-Brasil)

Pamela Rebolledo (WWF-Bolivia)

Albano Araújo (TNC)

Bernardo Caldas De Oliveira (WWF-Brasil)

Mariana da Silva Soares (WWF-Brasil)

Magaly Gonzales de Oliveira (WWF-Brasil)

João Guimarães (TNC)

Revisão Técnica

Carlos Padovani (Embrapa Pantanal)

Colaboradores

Adolfo Moreno (WWF-Bolívia)

Angelo J. R. Lima (WWF-Brasil)

Anita Diederichsen (TNC)

Bart Wickel (WWF-US)

Cesar Balbuena (WWF-Paraguay)

Claudia T. Callil (UFMT)

Débora F. Calheiros (Embrapa Pantanal)

Federico Monte Domeq (IPH- Sinergia)

Juan Jose Neiff (CECOAL/CONICET Argentina)

Leandro Baumgarten (TNC)

Leon Merlot (FCB- Bolívia)

Lucy Aquino (WWF-Paraguay)

Lunalva Schwenk (UFMT)

Peter Zeilhofer (UFMT)

Pierre Girard (Sinergia)

Samuel Roiphe Barreto (WWF-Brasil)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A532 Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai: Argentina, Bolívia, Brasil e

Paraguai/ Petry, Paulo; Rodrigues, Sidney...[et al.]; The Nature Conservancy;

WWF-Brasil. Brasília, DF: The Nature Conservancy do Brasil, Outubro de 2011.

54 p. 1a edição

1. Risco Ecológico 2. Bacia do Rio Paraguai 3. Vulnerabilidade Regional 4.

Mudanças Climáticas

ISBN 978-85-60797-10-3

CDD –

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Introdução - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

06

Contexto - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

09

Área de estudo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

10

Métodos - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

15

Índice de Risco Ecológico – IRE - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

16

Etapas do IRE - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

18

Análises hidrológicas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

22

Resultados - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

24

Discussão e recomendações- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

38

Conclusões - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

50

Referências - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

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Introdução

Esta publicação traz os resultados da avaliação de risco

ecológico da Bacia do rio Paraguai, um primeiro passo para

se determinar a vulnerabilidade regional frente às mudanças

climáticas e para a discussão sobre quais riscos podem se

intensifi car no futuro.

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A análise de risco ecológico avalia os estresses não climáticos

atuais. Já na análise de vulnerabilidade, os estresses relacionados

aos efeitos das mudanças climáticas globais são considerados e

avaliados em sua interação sinérgica com os estresses atuais.

O objetivo deste estudo é identificar a situação dos componentes ecológicos

que garantem a integridade dos sistemas aquáticos na bacia. Esta análise

subsidiará os governos dos quatro países que a compartilham, assim como a

sociedade civil organizada, para que desenvolvam uma agenda de adaptação

do Pantanal às alterações do clima e busquem a sua implantação, para

aumentar a resiliência1 e diminuir a vulnerabilidade da bacia. Os resultados

desse estudo também podem promover a gestão integrada e transfronteiriça

dos recursos hídricos.

Apesar da sua importância ecológica e econômica, os ambientes aquáticos

da Bacia do rio Paraguai são constantemente ameaçados pela degradação,

especialmente nos planaltos e chapadões que circundam o Pantanal, onde

nascem os principais rios que mantêm viva a planície, em áreas de Cerrado.

Sendo assim, é fundamental conhecer como ameaças, isoladas ou em conjunto,

afetam sua integridade ecológica, pois as mudanças climáticas podem aumentar

a força e quantidade de inundações ou secas, por exemplo.

Este estudo ajuda no entendimento de que as características únicas da Bacia

do rio Paraguai dependem da inter-relação entre o planalto e a planície. Logo,

quaisquer ações que possam causar impacto nos sistemas hidrológicos no

planalto têm como consequência impactos na planície. Impactos negativos no

planalto, onde estão as cabeceiras dos rios que drenam a planície, transferem

problemas de montante à jusante na bacia.

1 Resiliência é a capacidade de um ecossistema de se recuperar e retomar as mesmas formas e funções após

alterações no ambiente, como seca, enchente, fogo ou desmatamento.

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Não se pode esquecer que

a Bacia do rio Paraguai

abriga a maior planície

inundável do planeta, o

Pantanal, onde os ciclos

anuais de cheias e secas

regem a vida de milhares

de espécies. A variação

sazonal do nível das águas

impõe limites naturais à

ocupação humana de larga

escala. A bacia também

engloba a extensa planície

do Chaco e parte da

Cordilheira dos Andes,

susceptível a estiagens

severas pela predominância

de um clima árido.

A pecuária de corte é

uma das mais tradicionais

atividades econômicas do

Pantanal há mais de dois

séculos. Porém, apresenta

baixa produtividade se

comparada à praticada

na parte alta da bacia, no

Cerrado. Isso acontece

porque, durante as cheias,

a inundação das pastagens

obriga o gado a refugiar-se

nas áreas mais elevadas.

Assim, os produtores

fi cam sem grandes áreas

de pastagens durante

parte do ano, exigindo

grandes extensões para

que a atividade seja

economicamente viável.

Por outro lado, o ciclo

de vazantes e cheias é

responsável pela riqueza

ecológica da região e por

serviços ecossistêmicos de

alto valor, como a fertilização

dos campos. Também oferece

condições ideais para a

proliferação de peixes e outras

espécies, e com a ajuda de

plantas aquáticas purifi ca

as águas e atrai grande

abundância de aves aquáticas

em busca de alimento.

Tamanha riqueza natural

atrai quase um milhão de

turistas todos os anos para

observação da vida silvestre

e pesca esportiva. Com base

no estudo recente de Moraes

(2008), é possível estimar que

os serviços ecossistêmicos

do Pantanal sejam de US$

112 bilhões por ano, ou

quase R$ 180 bilhões. Logo,

pode valer muito mais manter

parte da região preservada

do que sua transformação

total em zonas agropecuárias,

cujo lucro estimado seria de

apenas US$ 414 milhões

anuais. Principalmente pelo

fato de que os serviços

ecossistêmicos benefi ciam

toda a sociedade, enquanto

os lucros da agropecuária

são internalizados apenas

pelos produtores e parte da

população ligada direta e

indiretamente à produção

rural, fi cando o restante da

sociedade com os benefícios

apenas dos produtos

consumidos.

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O presente trabalho está

inserido na Iniciativa Água e

Clima, fruto de uma parceria

global entre a Rede WWF

e o Banco HSBC focada

em promover a adaptação

de bacias hidrográfi cas às

mudanças climáticas. Da

mesma forma, a Aliança dos

Grandes Rios é resultado

da parceria entre The

Nature Conservancy (TNC)

e Fundação Caterpillar, com

objetivo de transformar a

forma como as maiores

bacias hidrográfi cas do

mundo são gerenciadas,

criando um novo modelo

de sustentabilidade para

estes grandes sistemas

hidrológicos.

Assim, o WWF-Brasil e

a TNC uniram esforços

para qualifi car os riscos

ambientais da Bacia do

rio Paraguai, com base

no método proposto por

Mattson & Argermeier

(2007). Tal método baseia-

se numa abordagem

multi-criterial, participativa,

envolvendo o conhecimento

da bacia por atores locais,

sendo gerado um índice de

risco ecológico baseado na

severidade do impacto aos

ecossistemas, na frequência

com que os mesmos

ocorrem na bacia e na

Contexto

sensibilidade da mesma aos

diversos impactos.

Esse trabalho também faz

parte do Projeto Sinergia,

coordenado pelo Centro

de Pesquisa do Pantanal

(CPP), que visa desenvolver

cenários de mudanças

climáticas para o Pantanal,

até 2100. O CPP é uma

Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público

(OSCIP) com sede no

Mato Grosso dedicada a

promover o bem estar da

população pantaneira e a

busca da sustentabilidade

ambiental na região. Com

apoio do Conselho Nacional

de Desenvolvimento

Científi co e Tecnológico

(CNPq), o Projeto Sinergia

mantém uma rede de

pesquisa e de gestão

integrada da Bacia do rio

Paraguai, a Rede Sinergia,

da qual participam mais de

dez instituições e cerca de

40 pesquisadores. Por meio

de encontros internacionais,

envolvendo Brasil, Bolívia,

Argentina e Paraguai, a

Rede defi niu seis temas de

pesquisa e nove projetos a

serem executados, incluindo

a análise de risco ecológico

da Bacia do rio Paraguai2.

1

2 www.portalsinergia.org.br

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Desde sua nascente, na região de Diamantino (MT), até sua confl uência com o Rio Paraná, em

Corrientes (Argentina), o rio Paraguai percorre mais de 2.600 quilômetros. A área de drenagem

tem mais de 1.135.000 quilômetros quadrados (km²), equivalentes a mais de 800 reservatórios

de Itaipu somados, ou 35 vezes a área de Portugal, cobrindo porções do Brasil, Bolívia, Paraguai

e Argentina (Figura 1)

A bacia apresenta grandes diferenças de altitude, com áreas mais altas do lado oeste, na

Cordilheira dos Andes, a mais de 4.500 metros acima do nível do mar, enquanto o ponto mais

baixo está no encontro com o rio Paraná, a 50 metros acima do nível do mar.

Área de estudo

Figura 1. Localização da Bacia do rio Paraguai na América do Sul.

O clima na bacia varia muito,

fi cando cada vez mais seco e

sazonal no sentido leste/oeste

e norte/sul. Nas regiões norte e

nordeste, o clima é tropical, com

chuvas abundantes no verão e

períodos de estiagem de três ou

quatro meses. Na porção sudeste,

predomina o clima subtropical

com infl uência de frentes frias no

inverno. As regiões centro-sul e

sudeste têm clima seco, com forte

sazonalidade na distribuição das

chuvas. À medida que o relevo se

eleva na borda leste dos Andes,

a umidade diminui e, nas porções

mais altas, predomina um clima

semidesértico.

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1110

Os principais fornecedores de água para o rio Paraguai são

os afl uentes de sua margem esquerda, como os rios Cuiabá,

São Lourenço, Taquari e Miranda, com suas nascentes

no planalto adjacente e todos associados ao Pantanal. Na

margem direita, os principais afl uentes são os rios Pilcomayo

e Bermejo, ambos nascem nas altitudes andinas.

Entre 2006 e 2008, a Rede

WWF e a TNC lideraram

um esforço conjunto com

diversas outras organizações

de pesquisa para um

mapeamento mundial que

identifi cou 426 ecorregiões3

aquáticas (Abell, R. et

al. 2008), sendo 50 na

América do Sul. O trabalho

preencheu uma lacuna

sobre informações quanto

aos padrões de distribuição

da biodiversidade aquática

no planeta, muito maior

do que da biodiversidade

terrestre. Ainda em 2006, o

Plano Nacional de Recursos

Hídricos (PNRH) incorporou

um capítulo visando à

gestão da biodiversidade

nas ecorregiões aquáticas.

Na Bacia do rio Paraguai,

duas grandes ecorregiões

aquáticas estão

representadas: a do Chaco e

a do Paraguai (Figura 2).

Figura 2. Ecorregiões aquáticas na Bacia do rio Paraguai: Chaco e Paraguai.

1

3 Uma ecorregião aquática é uma área extensa representada por um ou mais ecossistemas de água doce que compartilham

espécies aquáticas, dinâmica e condições ambientais, formando uma unidade de conservação que a diferencia de outras ecorregiões.

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Considerando as ecorregiões terrestres, a Bacia do rio Paraguai ocupa

parte de sete ecorregiões onde ecossistemas únicos foram moldados

pelo clima, relevo e tipo de solo. Ocupando 46% de sua área, a principal

ecorregião da bacia é o Gran Chaco, formada principalmente por

fl orestas abertas que perdem as folhas durante a seca. Já as ecorregiões

do Cerrado-Pantanal cobrem 18% e 14% da bacia, respectivamente.

Os 22% restantes são cobertos pelos Altos Andes, Bosque Chiquitano,

Mata Atlântica e Yungas (Figura 3).

Figura 3. Distribuição das Ecorregiões Terrestres na Bacia do rio Paraguai.

Apesar de 75% da bacia ainda possuir cobertura vegetal nativa, algumas

ecorregiões estão fortemente ameaçadas pela ação humana. Os maiores

exemplos são o Cerrado, com 54% já desmatados, e a Mata Atlântica,

com 48% convertidos. Cerca de 11%, ou 123.600 km² da bacia estão

protegidos de alguma forma, sendo que apenas 5% (56.800 km²) estão

sob proteção integral, dentro de parques nacionais ou estaduais e

estações ecológicas. Apesar de mais ameaçado, o Cerrado é um dos

menos protegidos, com apenas 2% de sua área sob proteção integral

(Tabela 1 e Figura 4).

Além disso, as mais de 170 áreas protegidas não estão distribuídas

de forma equilibrada entre as ecorregiões e sua disposição não segue

nenhum critério de representação da biodiversidade. Existem esforços

do governo brasileiro para a discussão do tema com reuniões de

especialistas e iniciativas levando a diferentes propostas de novas áreas

de conservação e re-estruturação das áreas já existentes para o Cerrado

e Pantanal.

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1312

Ecorregiões Área (km2) Remanescente %

Chaco 518.099 433.443 84

Cerrado 207.825 95.921 46

Pantanal 160.505 146.212 91

Andes 89.339 83.612 94

Bosque Chiquitano 72.339 53.322 74

Mata Atlântica 45.441 23.403 52

Yungas Andinas 42.445 38.175 90

TOTAL 1.135.992 874.089 77

Chaco

Áre

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Cerrado Pantanal

Remanescente

500000

400000

300000

200000

100000

0

Convertido

Andes Bosque

ChiquitanoMata

Atlântica

Yungas

Andinas

Figura 4. Status de conservação das ecorregiões terrestres na Bacia do rio Paraguai.

A bacia abriga mais de 8 milhões de habitantes, com sete em cada dez vivendo em centros

urbanos. A maior concentração populacional está na Grande Assunção (Paraguai), com

mais de 2 milhões de habitantes. Cuiabá (MT), San Salvador de Jujuy (Argentina), Potosi e

Tarija, na Bolívia, são outros importantes núcleos urbanos, mas também há grandes “vazios

populacionais”, como a região central do Pantanal e o noroeste do Gran Chaco.

A principal atividade econômica é a agropecuária com mais de 30 milhões de cabeças de gado

e quase 7 milhões de hectares plantados. A pecuária apresenta diferentes formas de manejo,

desde as mais rústicas, como a pecuária extensiva, até as mais tecnifi cadas, com confi namento

e gado com alto grau de melhoramento genético. Da mesma forma, na bacia coexistem áreas de

agricultura tradicional e de precisão, essa com grande aporte de insumos e alta produtividade.

Tabela 1 – Status de conservação das ecorregiões terrestres na Bacia do rio Paraguai

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O rio Paraguai é navegável, pelo menos em parte do ano, de Cáceres (MT) à foz do rio

Paraná e seguindo por este até a foz do Rio da Prata e Oceano Atlântico. Essa hidrovia, que

tradicionalmente era via de transporte para a população, hoje concentra o transporte de minérios

e grãos. Desde a década de 1990, se discute a possibilidade de tornar a navegação constante

durante todo o ano no trecho mais alto do rio, o que exigiria dragagens, abertura de canais,

construção de diques e retifi cação do leito. Todas essas obras afetariam severamente a dinâmica

das águas e a sobrevivência dos organismos aquáticos na planície pantaneira. Apesar desses

possíveis impactos, é constante a pressão para essas modifi cações.

Além da agropecuária, a bacia tem importantes áreas de

mineração, destacando-se regiões andinas como a de Potosi

(Bolívia), de extração de gás natural, na transição do Chaco

para os Andes, de ouro e diamantes, no Mato Grosso, e

ainda de ferro, manganês e calcário, no Mato Grosso do Sul.

A presença de hidroelétricas é algo

signifi cativo na bacia, com alto

potencial de geração, principalmente

para Pequenas Centrais Hidroelétricas

(PCHs). Hoje estão instaladas 8 Usinas

Hidroelétricas (UHE), 7 Centrais de

Geração Hidroelétrica (CGH) e 16

PCHs, gerando cerca de 850 MW

– cerca de 1% do total gerado por

hidroeletricidade no Brasil. Só na

porção brasileira, existem projetos de

quase 70 novos empreendimentos

energéticos, entre usinas em construção,

em licenciamento e em estudos. Cerca

de 70% da capacidade de geração de

hidroeletricidade da bacia já está em uso.

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1514

Métodos

O planejamento da conservação da natureza busca orientar

ações de forma a preservar um conjunto representativo e

funcional dos ecossistemas, que garanta a existência no

longo prazo das espécies animais e vegetais e os produtos

providos pelos serviços ambientais, ao mesmo tempo em

que visa a minimizar o confl ito entre os diferentes e legítimos

interesses do setor produtivo e da sociedade em geral.

Esse processo depende da

avaliação da importância

ecológica das áreas

para identifi car quais são

essenciais, ou não, para a

saúde dos ecossistemas

e para a manutenção

da biodiversidade. No

entanto, frente aos sempre

escassos recursos para

a conservação, é preciso

também avaliar qual o

grau de risco ecológico

a que tais áreas estão

submetidas e onde as ações

conservacionistas terão

maior chance de sucesso.

Entender os riscos

ecológicos a que uma

região está submetida

também auxilia a defi nir qual

tipo de ação é necessária

para evitar ou minimizar

impactos negativos, seja

adotando medidas de

recuperação ou agindo

rapidamente para evitar

sua degradação. Atividades

humanas provocam

alterações no meio

ambiente que geralmente

comprometem a integridade

dos ecossistemas,

levando à diminuição das

populações ou extinção

local de espécies vegetais

e animais, redução da

qualidade da água e outros

serviços ecossistêmicos

importantes para toda a

sociedade.

Há evidências de que

a retirada completa de

vegetação natural à margem

de um rio, por exemplo

devido à agricultura,

aumenta a erosão do solo

e a entrada de sedimentos

na água devido à perda da

função protetora da mata

ciliar. Consequentemente,

os sedimentos carregados

pela água fazem com

que plantas e algas que

dependem da luz para

fotossíntese sejam reduzidas

ou eliminadas. Com a

retirada das árvores, menos

frutos cairão, reduzindo a

disponibilidade de energia e

alimento para os peixes, o

que pode afetar o tamanho

de suas populações ou

mesmo levá-los à extinção,

principalmente aqueles

que dependem de um

determinado alimento.

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Índice de Risco

Ecológico – IRE

Diante desse contexto, faz-se necessário um método que permita avaliar o grau de

risco a que está sujeita a integridade dos ecossistemas aquáticos. De acordo com Karr

et al. (1986) e Mattson & Argermeier (2007), pelo menos cinco aspectos funcionais

devem ser avaliados na determinação do risco ecológico e que, se alterados, podem

comprometer fortemente a integridade dos ecossistemas aquáticos (Figura 5):

I. Fontes de energia;

II. Regime hídrico;

III. Qualidade da água;

IV. Interações bióticas; e

V. Estrutura física dos habitats.

Estrutura do hábitat

Regime hidrológico

Interações bióticasIntegridade de ecossistemas

aquáticos

Matéria orgânica

Cadeias tróficas

Fonte de energia

Introdução de exóticas

Migração

FísicaQuímica

Geometria do canal

Vegetação ripária

Qualidade da água

Temporalidade

VelocidadeQuantidade

Figura 5. Integridade ecológica de ecossistemas aquáticos e seus atributos chave. Modifi cado de Karr et al. (1986) e Mattson & Argermeier (2007).

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1716

O grau de risco a que um dado ecossistema

está submetido pode ser avaliado

considerando as seguintes variáveis:

I. A severidade de um dado estressor

quanto ao grau de alteração ou distúrbio

potencial que este pode provocar

em cada um dos aspectos funcionais

considerados;

II. A frequência com que um dado estressor

provoca alteração ou distúrbio nos

aspectos funcionais.

Com base neste arcabouço teórico, Mattson

& Argermeier (2007) propuseram o Índice de

Risco Ecológico (IRE), que permite avaliar o

estresse a que um determinado ecossistema

ou unidade territorial está submetido. O IRE

permite identifi car quais são as áreas com

maior risco ecológico para um determinado

tipo ou conjunto de estressores e orientar

decisões e ações de conservação. Por

exemplo, apontar qual a vocação de uma

determinada área, se é prístina e deve ser

protegida, ou se o nível de degradação já

impede ações de restauração. Também

permite determinar quais são os principais

fatores de estresse em uma região, indicando

ações focadas e mais efetivas para mitigar

esses estresses.

Logo, o IRE é o produto entre a severidade

de um dado estressor, como defi nida acima e

o número de ocorrências (frequência), deste

mesmo estressor na unidade de estudo

considerada. Sua representação matemática

pode ser expressa como:

IRE (i) = F

(i) × S

(i)

(i) = identifi cador do estressor

F (i) = frequência do estressor i na bacia

analisada.

S (i) = severidade do estressor i na bacia

analisada.

Fato importante é que a magnitude do

impacto de um dado estressor não é sempre

a mesma em qualquer local: ela pode variar

em função do próprio ecossistema. Por

exemplo, um estressor como poluição por

derrame de petróleo provocará mais danos

em ecossistemas de água parada ou lenta,

como uma planície inundável (onde tenderá

a se acumular), do que em ecossistemas

com maior vazão, como rios de corredeiras

que tenderão a dissipar o poluente. Tendo

isto em mente, foi considerada mais uma

variável:

III. A sensibilidade de cada ecossistema em

relação a um determinado estressor.

Essa variável pode atenuar ou acentuar a

severidade de um dado estressor em função

do ecossistema ser mais ou menos resistente

ao impacto, obtendo-se o Índice de Risco

Ecológico (IRE) para um dado estressor, que

pode ser expresso como:

IRE (i) = F

(i) × S

(i) × Z

(i) (j)

(i) = identifi cador do tipo de estressor

(j) = identifi cador do tipo de ecossistema

F(i) = frequência do estressor i

S(i) = severidade do estressor i.

Z(i) = sensibilidade do ecossistema j ao

estressor i.

Pode-se, ainda, com base no IRE, calcular o

Índice de Risco Ecológico Composto (IRE-C),

que é o somatório dos IRE por estressor

específi co. Ele permite uma visão integrada

dos riscos a que cada bacia está submetida.

A representação matemática do IRE-C pode

ser expressa como:

IRE-C (k) = ∑ IRE (i) (k)

(i)= identifi cador do tipo de estressor

(k) = identifi cador da bacia hidrográfi ca ou

unidade territorial de análise.

Em suma, o IRE é uma ferramenta para

tomadores de decisão, um indicador sintético

que facilita a compreensão dos problemas

por não especialistas e permite ações mais

focadas e efetivas no combate à degradação

da natureza.

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Etapas do IRE

A elaboração do IRE passa por diferentes etapas até o seu cálculo fi nal (Figura 6).

Uma vez de posse dos mapas digitais com as informações do meio físico (clima,

geomorfologia e relevo), deve-se reunir também mapas digitais com os dados

dos estressores (ou ameaças). Essas informações organizadas formam a base

temática da bacia. A integração dos mapas digitais (informações espaciais) para a

determinação do Índice de Risco Ecológico (IRE) da Bacia do rio Paraguai foi feita

usando um Sistema de Informações Geográfi cas (SIG).

Identificação das ameaças à integridade Ecológica (uso da terra & uso da água)

Mapeamento das ameaças

Informações georreferenciadas

Encontro de especialistas

Preenchimento dos valores de severidade

Espacialização dos valores por UH

Encontro de especialistas

Preenchimento dos valores de sensibilidade

Espacialização dos valores por UH

Frequência de cada estressor nas

unidades hidrológicas

Operação de SIG

%, área (km²), densidade (unidade/ Km²) m², ranking, etc por UH

Encontro de especialistas

Validação do IRE-T e IRE-C

Valores do IRE para cada unidade hidrológica

Cálculo do IRE-T (múltiplas pontuações)

-> IRE-T= severidade x sensibilidade x frequência

Cálculo do IRE-Composto

-> IRE-C = ∑ IRE-Ti

IRE

- V

isã

o g

era

l

Atribuição dos valores de severidade a partir do impacto potencial de cada estressor nos sistemas hídricos.

Atribuição dos valores de sensibilidade das unidades hidrológicas em relação aos estressores, considerando as variáveis ambientais

Cálculo das frequências de cada estressor considerando as unidades hidrológicas

Cálculo do IRE-T

Índice de risco ecológico específico por ameaça

Cálculo do IRE-C

Índice de risco ecológico composto

Validação dos índices

Índice de risco ecológico total e composto

Figura 6. Etapas da análise de risco para bacias hidrográfi cas.

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1918

Dada a inexistência de mapas de

ecossistemas para a região contendo

a heterogeneidade ambiental, foram

identifi cadas unidades ecológicas

a partir do cruzamento das variáveis

ambientais clima, geomorfologia,

vegetação e unidades hidrológicas.

Também foram incluídas avaliações

qualitativas da bacia e dos estressores,

como atributos das informações espaciais

obtidas por meio de consulta com

especialistas.

Para a determinação do IRE, foram usadas

as informações sobre a distribuição

espacial e frequência dos principais

estressores dos ecossistemas aquáticos

da bacia. Uma lista prévia de estressores

foi levantada com base em análises de

bibliografi a e, a partir dela, foi criada uma

base de dados georreferenciada, para

análises preliminares.

Para a seleção e avaliação dos principais

estressores (Tabela 2), considerou-se o

conhecimento de especialistas locais.

Para isso, foi realizada uma reunião com

técnicos e especialistas de várias áreas

do conhecimento, do Brasil, Paraguai e

Bolívia. A seleção dos estressores foi feita

a partir da análise de uma lista onde foram

consideradas 13 fontes relevantes de

estresse aos ecossistemas aquáticos da

Bacia do rio Paraguai.

Os estressores foram avaliados

individualmente pelos especialistas

quanto a sua severidade como fonte

de impacto direto sobre os aspectos

funcionais dos ecossistemas aquáticos,

citados anteriormente.

A sensibilidade desses aspectos

funcionais frente aos impactos causados

pelos estressores também foi avaliada.

Para cada uma das variáveis ambientais,

foi atribuída uma classe, como baixo,

médio ou alto impacto, com valores 1,

2 e 3, respectivamente. O valor final de

severidade e de sensibilidade para um

determinado estressor, e a sensibilidade

de cada variável ambiental, é composto

pela soma de todos os valores

atribuídos.

Essas análises foram feitas com tabelas

que foram distribuídas para cada

especialista, em seguida analisadas e

validadas em grupo. Ao fi nal, foi feita uma

análise de consistência das respostas dos

especialistas, para se avaliar o número

de respostas discrepantes. O resultado

fi nal é apresentado na Tabela 2, com os

13 estressores selecionados. Observa-se

que hidrelétricas, população e agricultura

são os estressores com maior importância

como fonte de impactos para os sistemas

hídricos.

De acordo com a opinião dos

especialistas, foi avaliado como cada

variável ambiental é impactada com

relação à severidade dos estressores. A

sensibilidade foi calculada a partir dos

valores atribuídos para cada variável

ambiental, também em relação aos

13 estressores. A Tabela 3 mostra um

exemplo das classes atribuídas para uma

determinada variável ambiental quanto

a severidade de alguns estressores e

frente à sensibilidade dessa mesma

variável frente a alguns estressores,

sob diferentes regimes climáticos. Essa

tabela foi posteriormente integrada ao

banco de dados espacial, o que permitiu

a espacialização da sensibilidade por

estressor.

Uma vez estabelecida a lista de

estressores e os valores de sensibilidade

e severidade associados, foram

calculadas as frequências de ocorrência

dos estressores para cada uma das

unidades hidrológicas. Para isso, foi

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feito o cruzamento das

distribuições de ocorrência

de cada estressor com

as unidades hidrológicas.

Os valores obtidos foram

posteriormente escalonados

para: “0” sem ocorrência

na unidade hidrológica;

“1” baixa ocorrência; “2”

média ocorrência; e “3”

alta ocorrência. Para a

separação dos valores de

ocorrência nessas quatro

classes, foi utilizada a

curva de distribuição de

frequências e o algoritmo

de Jenks (1977), que busca

identifi car um conjunto

de classes com a menor

variância intragrupos

possível.

Uma vez calculada

a frequência e tendo

disponível a sensibilidade

e severidade, é possível

calcular o IRE de cada

estressor, que é a

multiplicação simples dos

três fatores. Como forma

de garantir que o resultado

expressa a realidade da

bacia foi feita uma reunião

de validação dos resultados

com especialistas dos

quatro países envolvidos,

Argentina, Brasil, Paraguai e

Bolívia. Nessa reunião foram

apresentados os resultados

separados de cada

estressor e o consolidado.

Os especialistas indicaram

as correções e ajustes

necessários. Os resultados

aqui apresentados são os

obtidos após os ajustes

solicitados na reunião de

validação.

© TN

C-A

LBA

NO

AR

JO

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2120

EstressorPeso

(Severidade)Medida

Hidroelétrica 2.67 Densidade de UHE e PCH na unidade hidrológica (hidroelétrica/km²)

População 2.61 Densidade da população na unidade hidrológica (habitantes/km²)

Agricultura 2.61 Área plantada dentro da unidade hidrológica (km²)

Desmatamento 2.61 % desmatada na unidade de drenagem (% de desmatamento)

Hidrovia 2.28 Extensão de hidrovia dentro da unidade hidrológica (km)

Rodovia 2.22 Extensão das estradas na unidade hidrológica (km)

Mineração 2.17 Área de mineração dentro da unidade hidrológica (km2)

Fogo 2.13Média de focos de calor entre 2002/08 por unidade de drenagem

(focos/km2)

Pecuária 2.11 Densidade de gado dentro da unidade hidrológica (cabeças/km2)

Barramentos 1.94 Densidade de barramentos na unidade hidrológica (barramentos/km2)

Portos 1.67 Densidade de portos na unidade hidrológica (portos/km2)

Cruzamentos/pontes 1.56Densidade de cruzamentos de estradas nos eixos de drenagem

(cruzamentos/km2)

Gasoduto 1.17 Extensão de gasoduto dentro da unidade hidrológica (km)

Tabela 2 – Estressores identifi cados para a Bacia do rio Paraguai

Estressor Severidade do impacto

Sensibilidade a classes de clima

1 2 3

Semiárido Seco Sub-úmido

Agricultura

1 Baixo      

2 Médio     2

3 Alto 3 3  

População

1 Baixo      

2 Médio     2

3 Alto 3 3  

Rodovias

1 Baixo 1

2 Médio 2

3 Alto 3

Cruzamentos/Pontes

1 Baixo 1 1

2 Médio

3 Alto 3

Hidrovias

1 Baixo      

2 Médio   2 2

3 Alto 3    

...1 Baixo      

... ...  ... ...  ... 

Tabela 3. Exemplo de análise de severidade por estressor. Nesse caso, frente à sensibilidade climática foram

consideradas como principais as classes climáticas semiárido, seco e sub-úmido

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Análises

hidrológicas

Para que os resultados do IRE

possam ser obtidos em múltiplas

escalas, foram determinados

diferentes limites de sub-bacias

hidrográfi cas num sistema

hierárquico. Os dados que serviram

de base para essas delimitações

foram o modelo digital de elevação

Shuttle Radar Topography Mission

(SRTM/2000), processado e

disponível na base de dados

HydroSHEDS (sigla em Inglês

de Hydrological Data and Maps

from Shuttle Elevation Derivatives

at Multiple Scales). Desenvolvido

pelo WWF, a base de dados

HydroSHEDS contém informações

hidrográfi cas em uma base global

e em várias resoluções (Lehner

et al., 2008). Ela permite realizar

análises regionais e globais sobre

bacias hidrográfi cas, modelagem

hidrológica, planejamento e

conservação de água doce com

qualidade, resolução e extensão

antes inacessíveis.

A primeira análise foi o delineamento

de sub-bacias em classes distintas de

tamanho com base nos dados SRTM

(2000). A unidade mínima de análise

no caso desse estudo foi de bacias

de tamanho de cem a mil quilômetros

quadrados. O IRE foi então avaliado

tendo essas unidades como base.

A partir dos dados de altimetria

foi extraída uma série de unidades

hidrológicas baseadas na área de

captação, utilizando o método de

bacias aninhadas desenvolvido

por Fitzhugh (2005). Essa série

contempla cinco diferentes

categorias de tamanho de bacia

- as menores variando de cem a

mil quilômetros quadrados; e as

maiores de 1 milhão a 10 milhões

de quilômetros quadrados. As

diferentes classes de tamanho

seguem um padrão hierárquico,

onde a unidade menor sempre

estará inserida na unidade de

classe de tamanho superior

subsequente, de forma a que

se possa trabalhar em múltiplas

escalas, e também permita

delimitar as áreas de cabeceiras,

bem como leitos de pequenos,

médios e grandes rios.

Além disso, a cada microbacia

foram associados atributos

abióticos, como clima, geologia

ou geomorfologia, utilizados para

defi nir as unidades ecológicas

(ecossistemas) existentes e

estimar valores de sensibilidade

de cada microbacia às diferentes

ameaças.Considerando os dados

de altimetria juntamente com

outros dados hidrológicos do

HydroSHEDS, foram realizadas

análises de escoamento

superfi cial cumulativas e calculada

a média de vazão anual por

sub-bacia. Assim, a contribuição

hídrica das bacias foi dividida

nas classes alta, média, baixa e

mínima. Essa análise resultou no

mapa de water towers ou “caixas

d’água” da Bacia do rio Paraguai,

que identifi ca as sub-bacias de

maior contribuição em termos de

águas superfi ciais (fi gura 8).

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Resultados

Análises hidrológicas

O delineamento das unidades de drenagem, obtido por meio do modelo aninhado de drenagens

Fitzhugh (2005), resultou em 1.837 unidades de bacia (Figura 7).

Figura 7. Resultado da análise de 1.837 unidades de drenagem.

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24 25

Já a análise de declividade

e escoamento superfi cial

(Figura 8) mostra claramente

quais são as sub-bacias que

geram a maior parte da vazão

e que são responsáveis pela

contribuição ao pulso sazonal

de inundação que regula a

vida na planície inundável do

Figura 8. Áreas de contribuição hídrica na Bacia do rio Paraguai (water towers), considerando

declividade e escoamento superfi cial.

Pantanal. Destacam-se as

áreas de alta contribuição nas

sub-bacias dos rios Cabaçal

e Sepotuba, tributários

da margem direita do rio

Paraguai, no estado do Mato

Grosso, a área cárstica da

sub-bacia do rio Salobra,

na Serra da Bodoquena, e

a região da cordilheira dos

Andes, na região boliviana de

Tarija, onde afl oram algumas

nascentes do rio Pilcomayo.

O mapa ilustra claramente

quão importante é a

conectividade da planície de

inundação central com as

áreas remotas de nascentes

nos planaltos adjacentes.

Quaisquer alterações

nessas conexões, tanto

em termos de quantidade

como de temporalidade

das vazões, resultarão em

impactos imprevisíveis aos

sistemas de áreas úmidas

do Pantanal. Portanto,

as áreas de alta e média

contribuições bem como

os sistemas de cabeceiras

que as conectam devem ser

priorizadas nos esforços de

conservação da bacia.

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As análises revelam que 14% da Bacia do rio Paraguai se encontram em alto risco de

comprometimento dos recursos hídricos, enquanto 37% estão em médio risco e 49% em

baixo risco. O índice de risco composto IRE-C resultou no seguinte mapa (Figura 9):

Análise dos riscos

Analisando a distribuição espacial das áreas mais ameaçadas observamos que

estas aparecem concentradas em quatro regiões diferentes que têm características

ambientais particulares, a saber:

1. Cabeceiras e tributários na região do Cerrado e bosque Chiquitano brasileiros;

2. Região de Mata Atlântica da Bacia do rio Paraguai;

3. Eixo de desenvolvimento Salta/Jujuy;

4. Puerto Suarez e vale do Tucavaca, na Bolívia.

Nos itens a seguir pode-se observar o que está acontecendo em cada uma dessas

regiões. Para facilitar a análise, os estressores foram agrupados nas três categorias

apresentadas na Tabela 4 abaixo.

Tabela 4 – Agrupamento dos estressores

Infraestrutura e população Atividades econômicas Degradação ambiental

População, rodovias, pontes,

portos, hidrovias, barramen-

tos, hidroelétricas e gasodutos

Agricultura, pecuária, minera-

ção, extração de gás/petróleoQueimadas e desmatamento

Figura 9. Resultado da análise de risco nas 1.837 unidades de drenagem.

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2726

1. Cabeceiras e tributários na

região do Cerrado e bosque

Chiquitano brasileiros

Esta região compreende as cabeceiras dos rios nas áreas de Cerrado e bosque

Chiquitano no entorno do Pantanal brasileiro, os quais sofrem forte pressão pela

ocupação humana. Os rios que lá nascem e correm em direção à planície pantaneira

sofrem impactos de várias fontes. Essas cabeceiras estão praticamente todas em

território brasileiro, ocupando porções do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul

(Figura 10). A importância dessa região é aumentada por ser a principal fornecedora

de água para a bacia pantaneira.

Como em toda a Bacia do rio Paraguai, os três grupos de estressores atuam

nessa região. Embora de maneira geral eles estejam distribuídos equitativamente,

o conjunto de estressores com maior contribuição para o IRE está relacionado

aos impactos causados por infraestrutura e população (39%), em especial à

densidade de estradas e pontes (Figura 11).

Figura 10. Mapa de IRE-C – Índice de Risco Ecológico Composto para as cabeceiras e tributários na região do Cerrado e bosque Chiquitano.

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Estradas têm grande

potencial de impacto

sobre os recursos

hídricos, principalmente

as secundárias, não

pavimentadas e abertas

sem os cuidados técnicos

necessários para evitar

a erosão, o barramento

ou alteração dos cursos

d’água (Foto pág. 29).

Estradas implantadas sem

orientação técnica tendem a

ser importantes vetores de

transporte de sedimentos e

contaminantes. Cruzamentos

de estradas com cursos

d’água seriam as áreas

de maior pressão, por

concentrarem a entrada de

material nos cursos d’água.

Para a região das

cabeceiras, no Cerrado,

em algumas áreas as

usinas hidrelétricas são um

importante estressor de

infraestrutura. No entanto,

considerando a possível

instalação de dezenas

de Pequenas Centrais

Hidrelétricas (PCHs)

na região, os impactos

causados por elas poderão

aumentar signifi cativamente.

Dados sobre PCHs

planejadas não foram

incluídos nessa análise, pois

não estavam disponíveis

para toda a área de estudo.

O segundo conjunto de

estressores está atrelado

às atividades econômicas,

com destaque para a

pecuária (23%) e agricultura

(8%), (Figura 12). A pecuária

é uma atividade econômica

tradicional, tanto na região

das cabeceiras quanto na

planície pantaneira. No

passado recente, havia

uma relação mais intensa

entre a pecuária dessas

regiões, com rebanhos de

cria e recria na planície e

engorda no planalto, com

deslocamento constante

e sazonal de animais.

Atualmente, com a melhoria

das pastagens plantadas

e genética dos rebanhos,

a criação acontece

inteiramente na região das

cabeceiras, aumentando

a quantidade de gado por

hectare nestas pastagens.

Esse processo levou a

um signifi cativo aumento

do rebanho nas últimas

décadas, resultando em

uma população bovina

três vezes maior do que

a população humana

na área (IBGE, 2011). O

impacto associado a essa

atividade se deve em

grande parte ao manejo

incorreto do gado e das

pastagens, como permitir

que os animais bebam

diretamente nos cursos

d’água e o sobrepastejo,

levando a exposição do solo

à ação erosiva das chuvas

e consequentemente a sua

degradação. O processo

erosivo em larga escala

resulta na sedimentação das

águas e assoreamento dos

rios e córregos.

A agricultura está

localizada nas chapadas,

mais planas, elevadas,

com solos profundos e

menos susceptíveis a

erosão por conterem menor

concentração de areia e

maior concentração de

silte e argila. Apesar dessa

localização, a não adoção de

práticas agrícolas adequadas

de conservação do solo tem

severos impactos sobre os

recursos hídricos,

principalmente na

transparência da água.

Os grãos de silte e argila,

menores e mais leves

que a areia, tendem a

ser removidos com mais

facilidade desses solos e

fi carem suspensos na água

por mais tempo e

por distâncias maiores.

Esse fato difi culta o processo

de fotossíntese nos corpos

d’água, alterando a cadeia

alimentar aquática.

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Erosão de solo causada por estradas na sub-bacia do rio Paraguai.

Infraestrutura e população 39%

Atividades econômicas 34%

Degradação 27%

Figura 11. Contribuição dos estressores agrupados por categoria. Estressores detalhados na Tabela 4.

© C

AR

LOS

PAD

OVA

NI/E

MB

RA

PA

Além disso, é comum no

Brasil o uso indiscriminado

de insumos agrícolas, como

fertilizantes, inseticidas e

herbicidas. A poluição e

a contaminação de rios,

córregos e lençol freático já

são observadas em algumas

áreas, possivelmente

levando à perda de espécies

sensíveis, aumentando

a frequência de eventos

de eutrofi zação devido

à excessiva carga de

nutrientes. Isso promove

a proliferação de micro-

organismos (especialmente

cianobactérias)

e compromete o

abastecimento de água nos

centros urbanos.

28 29

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Também vale ressaltar o

crescimento da suinocultura

e da avicultura em áreas

vizinhas à produção de

soja e de milho. A

previsão de crescimento

da suinocultura no Mato

Grosso é da ordem de 180%

até 2020 (Instituto Mato-

grossense de Economia

Agropecuária – IMEA,

2010). O levantamento

das empresas do setor

mostra que o rebanho suíno

cresceu 38%, entre 2008

e 2010. Já o crescimento

da avicultura na região

é da ordem de 7% ao

ano. Tal crescimento é

acompanhado da expansão

da produção de soja e de

milho para alimentação

animal, o que implica em

maior pressão sobre rios,

nascentes e aquíferos.

O terceiro conjunto

de estressores está

diretamente relacionado

à degradação ambiental,

como o desmatamento e

as queimadas (Figura 12).

Mesmo que em boa parte das

vezes associados diretamente

à agropecuária, possuem

dinâmica própria, atrelada à

especulação e posse da terra.

Apesar da transformação da

paisagem regional ter ocorrido

de forma mais intensa nas

décadas de 1970 e 1980,

ainda hoje se observam taxas

de desmatamento superiores

a 1,5% ao ano, conforme o

Plano de Ação para Prevenção

e Controle do Desmatamento

e das Queimadas no Cerrado

(MMA, 2009).

Tal perda constante

de ambientes naturais,

associada à degradação

provocada pela queima da

vegetação nativa fora do

regime natural, provoca

impactos diretos e indiretos

sobre os recursos hídricos,

alterando a qualidade da

água e facilitando processos

erosivos.

Agricultura 8%

Mineração 3%

Outros 5%

Fogo 13%

Pecuária 23%

Desmatamento 15%

Rodovia 21%

Pontes 12%

12%

Figura 12. Contribuição dos estressores na região de cabeceiras do Cerrado ao IRE Total.

© TNC/BRIDGET BESAW

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3130

2. Região de Mata Atlântica

da Bacia do rio Paraguai

A área da Bacia do rio Paraguai

originalmente coberta por Mata

Atlântica é outra das regiões

com sistemas hídricos sob forte

risco de degradação (Figura 13).

Ela tem ocupação antiga e alta

fragmentação da paisagem, tanto

pelos inúmeros núcleos urbanos,

como por áreas de agropecuária

voltadas à produção leiteira e

monoculturas como a cana-de-

açúcar. A Grande Assunção se

destaca com mais de 2 milhões

de habitantes e quase mil

quilômetros quadrados, sendo

o maior adensamento

populacional da bacia.

Problemas relacionados à falta

de infraestrutura para o

abastecimento de água e

tratamento de esgoto são comuns,

como na maioria dos grandes

centros urbanos da América do Sul

(Figura 14). Vale ressaltar que cerca

de 30% da água que abastece a

Grande Assunção vem do Aquífero

Patiño, cujo uso não controlado

pode levar a uma gradual

salinização do manancial (Foster &

Garduño, 2002).

Nessa região, estão alguns dos

Departamentos (Estados) com

maior expressão econômica no

Paraguai, apresentando uma

rede de serviços que apoiam a

produção regional. Em termos de

infraestrutura, a existência da mais

densa rede de estradas encontrada

na bacia e, consequentemente,

de pontes e cruzamentos com

os eixos de drenagem, é o que

mais traz impactos aos sistemas

hídricos (Figura 15). © WWF-BRASIL/ADRIANO GAMBARINI

Figura 13. Mapa de IRE para a Grande Assunção e Mata

Atlântica do Paraguai.

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Assunção é também ponto de cruzamento de três eixos de

desenvolvimento da chamada Iniciativa de Integração da Infraestrutura

Regional Sul-Americana (IIRSA): a Hidrovia Paraguai-Paraná; o Eixo Inter-

Oceânico Central, ligando Chile, Bolívia e Brasil; e o Eixo Capricórnio,

com a ligação Assunção-Paranaguá. Nesse cenário, a infraestrutura

de transporte tende a se intensificar e irradiar para outras regiões,

principalmente para o Chaco.

A região concentra em torno de 56% das indústrias do Paraguai,

principalmente de transformação de produtos primários agrícolas. São

várias plantações e usinas de açúcar e álcool, esmagadoras de grãos,

beneficiadoras de algodão e tabaco. A produção agropecuária é voltada

ao abastecimento dos centros urbanos, com pecuária leiteira, produção

de hortaliças e frutas.

Infraestrutura e população - 47%

Atividades econômicas - 24%

Degradação - 29%

Agricultura 9%

Hidrovia 3%

Outros 3%

Pecuária 15%

Rodovias 25%

Fogo 15%

Pontes 16%

Desmatamento 14%

Figura 14 Contribuição dos estressores agrupados por categoria na região de cabeceiras do Cerrado ao IRE Total (Tabela 4).

Figura 15. Contribuição dos estressores na região da Grande Assunção e Mata Atlântica no Paraguai ao IRE Total.

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3332

3. Eixo de desenvolvimento

Salta - Jujuy

O eixo de desenvolvimento na região oeste da bacia,

que se estende de Salta a Jujuy e segue em direção

norte, adentrando a Bolívia e cruzando as cabeceiras de

dois importantes tributários, Bermejo e Pilcomayo, é uma

importante área de impacto dos sistemas hídricos do rio

Paraguai (Figura 16). Ela faz parte do Eixo Capricórnio da

IIRSA e tem como perspectiva, além do desenvolvimento

regional, a integração com o Pacífi co através do Eixo

Inter-Oceânico Central, conectando Chile, Bolívia,

Paraguai e Brasil.

Esses eixos cruzam os dois principais

afl uentes da margem direita do rio

Paraguai, os rios Bermejo e Pilcomayo,

áreas originalmente cobertas por fl orestas

de altitude, conhecidas como Yungas, e

vegetação chaquenha nas planícies. Na

região, tradicionalmente ocupada por

pecuária extensiva e exploração madeireira,

aumenta rapidamente a produção agrícola e

a extração de gás e petróleo.

Considerando o agrupamento dos

estressores, os relacionados à infraestrutura

são os mais relevantes (Figura 17),

novamente com destaque para as

estradas, ferrovias e pontes. Como citado,

uma das metas da IIRSA é melhorar o

transporte regional, com vários projetos de

pavimentação e duplicação de estradas, bem

como recuperação de ferrovias.

Além disso, imagens de satélite indicam uma

recente proliferação de estradas secundárias

na planície, associadas à expansão da

agricultura. Por se tratar de área de fronteira

cortada por uma estrada transnacional, é

de se esperar que nas próximas décadas se

intensifi que a instalação de

infraestrutura atrelada ao aumento da

população. Consequentemente, crescerá

a pressão sobre os recursos naturais,

notadamente os hídricos.

Quanto ao impacto das atividades

sócioeco nômicas, despontam plantios

de cana-de-açúcar, tabaco, cítricos e

hortaliças. As técnicas de cultivo podem ser

classifi cadas em dois tipos: plantios mais

tradicionais em terrenos férteis nos vales e

em grandes extensões irrigadas na planície,

em franca expansão. A intensifi cação da

atividade agrícola leva ao aumento do uso

de insumos e da potencial contaminação

das águas superfi ciais ou subterrânea. Já

há registros de contaminação na Bacia do

Pilcomayo e em vales do Bermejo

(LIDEMA, 2010).

A pecuária também está mudando de

perfi l. Tradicionalmente, era manejada de

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forma extensiva, usando

sazonalmente áreas de

pastagens na planície ou

nas montanhas. Hoje,

observa-se a expansão de

pastagens plantadas em

grandes propriedades na

planície.

Vale ressaltar que a região é

uma importante produtora

de gás e petróleo. Apesar de

ser uma atividade pontual,

tanto a exploração como

a prospecção devem ser

consideradas importantes

fontes de impacto. Além

da abertura de trilhas na

prospecção, que facilitam

a exploração madeireira, a

dessalinização do petróleo

produz enormes quantidades

de água contaminada com

hidrocarbonetos e compostos

químicos, como o SO2 e SH

2.

Em quantidade de apenas

0.01 partes por milhão (PPM),

tornam a água imprestável ao

consumo humano.

Estudos sobre o status

de conservação ambiental

da Bolívia (LIDEMA, 2010)

alertam que na região

a contaminação por

componentes orgânicos

é severa em áreas de

prospecção e de extração

de petróleo e de gás. Tais

contaminantes são de

baixa solubilidade e sua

degradação é apenas

parcial, podendo formar

compostos ainda mais

tóxicos. Com um regime de

chuva muito concentrado,

o processo de dissolução

desses materiais apresenta

risco de contaminação dos

cursos d’água.

Entre os estressores que

provocam degradação, o

fogo é uma grande fonte

de impacto regional. Sua

ocorrência está em grande

parte associada à pecuária,

pois é tradicionalmente

usado para a renovação de

pastagens (Figura 18).

© LEANDRO BAUMGARTEN/TNC

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3534

Infraestrutura e população 40%

Degradação 23%

Atividades econômicas 37%

Figura 17. Contribuição dos estressores agrupados por categoria na região de Jujuy e Salta.

População 4%

Outros 5%

Pecuária 17%

Fogo 22%

Rodovia 19%

Agricultura 19%

Pontes 14%

Figura 18. Contribuição dos estressores, região de Jujuy e Salta. Estressores detalhados na Tabela 4.

Figura 16. Mapa de IRE para a Grande Assunção e Mata

Atlântica do Paraguai.

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Localizada próxima à fronteira brasileira no sentido de Santa Cruz, ao longo do vale do rio

Tucavaca (Figura 19), a região também possui altos índices de risco ecológico. O Tucavaca é um

dos principais formadores da porção sul do pantanal boliviano, fornecendo grande volume de

água ao rio Paraguai. O Tucavaca nasce em áreas de bosque chiquitano e corre quase paralelo

às antigas ferrovia e rodovia que ligam Corumbá (Brasil) a Santa Cruz de La Sierra (Bolívia).

Com um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) da Bolívia, a região apresenta um

gradual incremento de atividades econômicas ambientalmente degradantes, atreladas principalmente

à demanda crescente por madeira e carvão do mercado brasileiro e à instalação de empreendimentos

de mineração. Também é considerada no planejamento do eixo de desenvolvimento Inter-Oceânico

Central da IIRSA, que visa a melhorar a conexão entre Santa Cruz, Puerto Suárez e Corumbá e, a partir

daí, a ligação entre os oceanos Pacífi co e Atlântico.

4. Puerto Suarez e Vale do Tucavaca

As análises de risco (Figura

20) indicam que a pecuária,

associada a desmatamentos e

queimadas, são as principais

fontes de estresse para os

recursos hídricos (Figura

21). A pecuária regional é

tradicionalmente extensiva

e usa fogo na renovação de

pastagens. A intensifi cação

do desmatamento ocorre

para atender a demanda

de madeira e carvão de

siderúrgicas no Brasil.

Essa tendência do aumento

nos desmatamentos pode

crescer com a instalação de

mineração e siderurgia no

lado boliviano. O governo

vizinho já reconhece a

importância de regular a

exploração madeireira na

Floresta Chiquitana. De

acordo com o Informe de

Desenvolvimento Humano

da Bolívia, o bosque

chiquitano tem vocação para

a exploração fl orestal, mas

atualmente essa atividade

ocorre de forma predatória,

sem técnicas de manejo

fl orestal (PNUD, 2009).

Esse ataque sobre as

fl orestas acarreta efeitos

negativos sobre as águas,

pois, além da perda de

cobertura vegetal com seus

consequentes problemas

de erosão, assoreamento

e mudanças na infi ltração

e escoamento superfi cial,

Figura 19: Mapa de IRE para as regiões de Puerto Suarez e Vale do rio Tucavaca.

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3736

Infraestrutura e população 34%

Degradação 33%

Atividades econômicas 33%

Agricultura 5%

Gasoduto 4%

Mineração 2%

Outros 1%

Rodovia 15%

Pecuária 25%

Desmatamento 16%

Fogo 18%

Pontes 14%

tais áreas poderão suprir

a demanda por terra da

pecuária, piorando o cenário.

Apesar do corredor Santa

Cruz – Puerto Suarez

contar com um plano de

proteção ambiental, o

mesmo se encontra apenas

parcialmente implantado,

com poucos resultados

concretos para a redução

dos impactos na região

(Arkonada & Laats, 2009).

Apesar da mineração não

aparecer como um dos

principais estressores, os

riscos da atividade tendem a

aumentar. Existem três polos

de desenvolvimento regional

da mineração: o projeto de

Mutum, na região do maciço

do Urucum; Rincón Del

Tigre; e no vale do Tucavaca.

Essas atividades trazem

riscos diretos e indiretos aos

sistemas hídricos. O projeto

de mineração e siderurgia de

Mutum, por exemplo, está

utilizando grandes volumes

de água, colocando em risco

a Laguna Cáceres (LIDEMA,

2010).

Figura 20. Contribuição dos estressores agrupados por categoria, região de Puerto Suarez e vale do Tucavaca.

Figura 21. Contribuição de cada estressor para a região de Puerto Suarez e vale do Tucavaca.

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É importante avaliar os

mapas no tempo e no

espaço e não como uma

informação estática.

Sob essa perspectiva,

a Bacia do rio Paraguai

apresenta alto risco

ecológico potencial,

requerendo ações urgentes

e prioritárias de proteção

das cabeceiras. Entretanto,

a gestão e o cuidado

Discussão e

recomendações

Figura 22. Sobreposição das áreas de risco ecológico da Bacia do rio

Paraguai com as áreas de média e alta contribuição hídrica.

com a bacia devem ser

conduzidos de forma

integrada, com ações de

conservação efetivas no

planalto e na planície.

Por ser o Pantanal

uma planície inundável

alimentada pelos sistemas

de cabeceiras nos planaltos

e chapadões adjacentes, as

áreas de alta contribuição

A área central da bacia, composta pelo Pantanal e pelo Chaco Seco, apresentou baixo risco

ecológico. Entretanto, o processo de inundação da região e a interdependência entre planalto

e planície evidenciam que a situação é muito dinâmica sob a perspectiva hidrológica. Pelo alto

risco detectado no planalto, o efeito cascata de transferência de impactos a jusante levará a

planície inundável a apresentar alto risco proporcionalmente.

hídrica (water towers)

deveriam ser priorizadas em

planos de conservação da

bacia. Entretanto, nota-se

que há uma sobreposição

considerável entre as áreas

de média e alta contribuição

hídrica com as áreas de

risco ecológico (Figura 22).

A proteção das áreas

de média e de alta

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38 39

contribuição hídrica no

planalto é essencial para

a manutenção do pulso

sazonal de inundação no

Pantanal. Considerando

os cenários futuros de

mudanças climáticas,

medidas de adaptação que

aumentariam a resiliência

da bacia são a manutenção

do pulso de inundação e da

conectividade entre planalto

e planície, bem como a

proteção das cabeceiras.

Por isso, o WWF-Brasil e

várias instituições parceiras

criaram o Movimento

pelas Águas do Cabaçal

e vêm desenvolvendo um

projeto de recuperação de

nascentes e de combate

à erosão na Bacia

Hidrográfica do rio Cabaçal,

região de alta contribuição

hídrica ao Pantanal, no

Mato Grosso.

A TNC também desenvolve

o projeto demonstrativo

Cerrado Sustentável na

bacia do rio São Lourenço,

um dos principais tributários

do rio Paraguai e com

importante contribuição

na carga de sedimentos

carreada para o Pantanal.

Outro projeto em

desenvolvimento pela

TNC foca na proteção do

Pantanal e está sendo

implementado em parceria

com o CPP – Centro de

Pesquisa do Pantanal.

Nele serão realizados

diversos estudos técnicos

bem como ações de

engajamento social. Os

resultados deste projeto

servirão para embasar as

ações de conservação e

desenvolvimento sustentável

na região, incluindo ações

baseadas em ecossistemas

para adaptação às

mudanças climáticas.

O WWF-Bolívia, juntamente

com parceiros estratégicos,

vem coordenando esforços

de ordenamento territorial

por meio dos planos de

desenvolvimento municipais

sustentáveis em regiões de

grande contribuição hídrica

à Bacia como um todo,

como a Bacia do Correreca

e Curichi Grande.

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A mobilização social e

política, bem como o grau de

engajamento da população

da bacia nas questões

ambientais, foram aspectos

importantes para o início do

movimento.

O WWF-Brasil, juntamente

com a Universidade do

Estado do Mato Grosso

(Unemat), a Agência

de Extensão Rural do

Mato Grosso (Empaer),

Prefeitura do município

de Reserva do Cabaçal,

Consórcio Intermunicipal de

Desenvolvimento Econômico,

Social, Ambiental e Turístico

do Complexo Nascentes do

Pantanal e escolas locais

estabeleceram uma aliança e

consolidaram o movimento.

O Movimento pelas águas do Cabaçal

Hoje, após dois anos de

atuação, o movimento tem

gerado transformações

no município. A Educação

Ambiental alcançou cerca

de 60% da população,

entre estudantes, poder

público e outros cidadãos.

No ambiente de ensino,

capacitou 75 professores

de duas escolas públicas

municipais e uma estadual,

atingindo alunos do ensino

infantil, fundamental

e médio, além de

universitários da região.

Envolveu a Câmara de

Vereadores com palestras e

ofi cinas de teatro. Também

atuou diretamente com os

cidadãos. Por exemplo, com

um professor de Educação

Física que passou a realizar

trabalhos com reciclagem

de resíduos sólidos.

Todo esse movimento

resultou na mobilização

dos produtores rurais, com

cerca de 50 envolvidos em

atividades e ofi cinas sobre

recuperação de nascentes

e desenvolvimento da

pecuária orgânica.

Foi eleita como ação

demonstrativa a recuperação

do córrego Dracena, pequeno

tributário do rio Cabaçal, onde

produtores podem conhecer

técnicas de recuperação

do solo e de nascentes.

Lá já foram plantadas 6 mil

mudas em 12 nascentes, e

O Movimento pelas Águas do Cabaçal foi criado no fi m

de 2008, fruto de uma expedição ambiental aos “arcos

das nascentes” do Pantanal, em Mato Grosso. Na

época, o WWF-Brasil e instituições parceiras realizaram

um diagnóstico da situação ambiental das nascentes. A

sub-bacia do rio Cabaçal é extremamente importante,

não só pelo alto potencial erosivo de seus solos frágeis,

mas também pela riqueza de águas superfi ciais,

mananciais e nascentes de grande beleza cênica e

importância ecológica. A bacia do Cabaçal é um dos

principais alimentadores da planície pantaneira, uma

área de alta contribuição hídrica (water tower).

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uma grande voçoroca está

sendo recuperada (foto),

tudo apoiado por um viveiro

de mudas. Mulheres em

situação de risco social foram

capacitadas para a produção

de redes de crochê e foram

envolvidas nos esforços de

recuperação das erosões por

meio da confecção de telas e

de redes para contenção. Em

troca, recebem cestas básicas

da Prefeitura.

O movimento agora está

sendo ampliado e replicado

para outras sub-bacias no

arco das nascentes. Os

esforços envolvem:

• Uma publicação com

as lições aprendidas no

Cabaçal ressaltará técnicas

de recuperação de áreas

degradadas com baixo

custo e incorporação de

soluções locais;

• Capacitação de

membros de outros

municípios sobre as

técnicas de recuperação

ambiental adotadas na

microbacia do Dracena;

• Promoção de visitas

técnicas e de dias de

campo para produtores

rurais.

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contribuição na

carga de sedimentos

carreada para o

Pantanal, em virtude

dos usos antrópicos,

principalmente a

pecuária, tornando-

se prioritárias

as ações que

reduzissem este

impacto.

A equipe de

campo da TNC envolveu os

parceiros locais, o que foi

fundamental e estratégico

para o sucesso do projeto,

pois tinham uma base técnica

consolidada, boa capacidade

operacional, credibilidade

junto aos produtores rurais (o

que facilitou o cadastramento

das propriedades rurais) e

forte poder de mobilização

e sensibilização do setor

produtivo na adesão aos

processos de regularização

das reservas legais e áreas

de preservação permanente,

assim como na adoção de

boas práticas agrícolas.

Os principais resultados

alcançados foram:

• Mapeamento e

cadastramento de mais

de 2.000 propriedades

rurais;

• Identifi cação de passivos

ambientais com o

emprego de tecnologias

de última geração e

imagens de satélite;

• Discussão técnica

dos processos de

regularização ambiental;

O Projeto Cerrado Sustentável

O Projeto Cerrado

Sustentável na Bacia do

rio São Lourenço, em

Mato Grosso, faz parte da

Aliança dos Grandes Rios,

uma iniciativa da TNC e de

parceiros para proteger os

grandes rios do planeta.

O trabalho começou em

quatro importantes bacias

hidrográfi cas: Paraguai

(da qual a bacia de São

Lourenço faz parte) e

Paraná, na América do Sul;

Mississipi, nos Estados

Unidos; Yangtze, na China

e Zambeze, na África.

Os trabalhos no Brasil

começaram em 2006.

Na Bacia do rio São

Lourenço, a TNC testou

uma metodologia de

regularização de reservas

legais com dois objetivos

básicos: reduzir custos

para a regularização de

reserva legal e restauração

de áreas de proteção

permanente (APP); aprimorar

a efi ciência do controle e do

monitoramento da cobertura

vegetal da região. A bacia do

São Lourenço foi escolhida

por ter uma importante

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• Desenvolvimento

de ferramentas de

regularização ambiental

mais efi cazes e com

menores custos ao

produtor rural;

• Início do programa de

melhores práticas para

a pecuária em cinco

municípios da região,

com objetivo de melhorar

a produção sem agredir o

meio ambiente;

• Disponibilização aos

produtores rurais de

tecnologias inovadoras

de recuperação de

matas ciliares.

Com essa experiência, a

TNC avança na Bacia do

rio São Lourenço, onde

em breve será executado

o projeto de pagamentos

por serviços ambientais

Produtor de Água, junto

com parceiros. O trabalho

na bacia também levou

a outros resultados em

Mato Grosso, no Pará e

na Bahia. No município de

Lucas do Rio Verde (MT),

a TNC mapeou todas as

propriedades rurais, num

total de 360.000 hectares,

promovendo a regularização

das reservas legais, a

preservação das áreas de

preservação permanente

(APPs) e as boas práticas

agrícolas. Graças a esse

trabalho, o município se

tornou o primeiro no país

completamente coberto

pelo Cadastro Ambiental

Rural.

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4342

Análise de vulnerabilidade e ordenamento

territorial na Bolívia

A análise de vulnerabilidade

permitiu identifi car as bacias

mais vulneráveis na porção

boliviana da Bacia do rio

Paraguai. Duas delas são

chaves para a conservação

do fl uxo hidrológico da parte

sul do Pantanal boliviano:

Tucavaca e Cáceres. Assim

como as bacias de Correreca

e Curichi Grande, que

proveem de água o norte do

Pantanal.

Mesmo que as bacias

estejam legalmente sob

as categorias de áreas

protegidas, municipal no

caso de Tucavaca, e nacional

no caso de Cáceres, dentro

da área protegida Otuquis,

e Área Natural de Manejo

Integrado San Matías, no

caso da bacia do Correreca

e Curichi Grande, sua

conservação está em risco,

principalmente pela falta de

um planejamento integral do

desenvolvimento que inclua

planos de uso do solo, mas

também pela expansão

crescente da fronteira

agrícola e exploração de

carvão vegetal.

Os dados da análise de

vulnerabilidade constituem

um argumento contundente

sobre a necessidade de se

conservar essas bacias, não

só pela biodiversidade que

abrigam, mas também pelos

serviços ambientais que

proveem para a população

local e atividades econômicas

regionais, principalmente pela

concentração e distribuição

de água.

No município de San Matías,

na bacia do Correreca e

Curichi Grande, o WWF

trabalha na elaboração de um

plano de desenvolvimento

municipal, onde identifi cou,

por meio da análise de

vulnerabilidade, a necessidade

de incluir estratégias de

adaptação e de gestão de

riscos nesta ferramenta

de planejamento. Assim,

incluir esses itens, inclusive

no plano de ordenamento

territorial municipal, facilitará

sua implantação autônoma

pelos municípios por meio

de investimentos públicos,

respeitando os direitos de

posse e uso.

Neste processo, são

fortalecidas as capacidades

locais para a elaboração e

posterior aplicação dessa

ferramenta de planejamento,

assim como se produz

e se agrega informação

técnica e social, de maneira

que as linhas estratégicas

de desenvolvimento do

município se sustentem nos

pilares do desenvolvimento

sustentável, na adaptação

e mitigação das mudanças

do clima e na valorização

dos costumes e saberes

de povos e comunidades

indígenas que vivem na

região, como Chiquitana e

Ayoreo.

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Protegendo o Pantanal – a maior área

úmida do planeta

A The Nature Conservancy e o Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP)

estão trabalhando em um projeto para a proposição de ações para a

conservação dos ecossistemas de água doce na bacia do rio Paraguai,

com ênfase na proteção do Pantanal.

As áreas de atuação serão defi nidas usando a Análise de Risco

Ecológico como um dos seus principais insumos, confi gurando-se

como uma importante aplicação desta abordagem e demonstrando a

sua efi cácia para a elaboração de portfólios de conservação.

Este projeto tem tanto um caráter técnico-científi co, com estudos de

alta complexidade, como também um aspecto de amplo engajamento

social. Nestas duas linhas o trabalho se benefi ciará das ações do

Projeto SINERGIA conduzido pelo CPP e que objetiva envolver ciência

e sociedade nos desafi os do gerenciamento dos recursos hídricos no

século 21 no contexto da mudança climática, tendo como área de ação

a bacia do rio Paraguai.

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4544

O plano de trabalho está composto de 6 atividades principais:

1. Levantamento, obtenção, organização e compartilhamento de dados e informações

2. Engajamento de Atores

3. Aplicação da abordagem de Limites Ecológicos da Alteração Hidrológica (ELOHA -

Ecological Limits of Hydrological Alteration) para a Bacia do rio Paraguai

4. Operação Ecológica de Reservatórios

5. Detalhamento dos Sistemas Ecológicos Aquáticos na Bacia do Alto Paraguai

6. Contabilização e avaliação da sustentabilidade da Pegada Hídrica dos

empreendimentos hidrelétricos na Bacia do Alto Paraguai

Os resultados deste trabalho serão disponibilizados para toda a sociedade através de

relatórios e publicações, contribuindo para a tomada de decisão em relação às ações de

conservação e também de desenvolvimento econômico sustentável da região da bacia

do Alto Paraguai. Os estudos também fornecerão insumos para a análise das ações

baseadas em ecossistemas necessárias para adaptação às mudanças climáticas.

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No caso do Chaco Seco, a área é mesmo pouco povoada devido às condições de escassez de

água, fator limitante para a ocupação humana em larga escala. Também é a região com maiores

extensões de áreas protegidas (Figura 23).

Esses projetos são considerados como ações de adaptação

“sem arrependimento” (no regret)4, pois independente de

qualquer avaliação de risco e vulnerabilidade às mudanças

climáticas, os esforços de proteção de nascentes, recuperação

de áreas degradadas, formação de corredores ecológicos e

ordenamento territorial, garantem a resiliência da própria bacia.

1

4 Ações de adaptação “sem arrependimento” (do Inglês no regret) são aquelas medidas que se tomadas, aumentam a resiliência

da bacia hidrográfi ca ou de quaisquer sistemas ecológicos, geopolíticos ou sócio-econômicos e reduzem sua vulnerabilidade aos efeitos

do aquecimento global. De forma geral, as medidas de adaptação são identifi cadas por meio de um processo sistemático de avaliação

das vulnerabilidades. No entanto, como em muitos casos há limitações de ordem técnica ou fi nanceira para se desenvolver uma análise

de vulnerabilidade, algumas medidas podem ser implementadas previamente sem uma avaliação sistemática de vulnerabilidades pelo seu

reconhecido potencial em aumentar a resiliência de um sistema. A proteção de nascentes e a manutenção da conectividade de ecossistemas

aquáticos é um exemplo de ação “sem arrependimento” de adaptação em bacias hidrográfi cas.

Ao contrário, as áreas de maior risco são as que possuem menor número de áreas protegidas. Além

do número insufi ciente, as existentes carecem de conectividade entre si para viabilizar o fl uxo gênico

das populações, incrementar a diversidade genética regional e a resiliência frente às mudanças

climáticas (Figura 24). Segundo Combes, S. in Hansen, L. J. Biringer, J. L. & Hoffman, J. R. (2003), a

conectividade natural é uma medida de adaptação de ecossistemas às mudanças climáticas também

por viabilizar rotas migratórias para acesso a refúgios térmicos para algumas espécies.

Figura 23. Áreas protegidas na Bacia do rio Paraguai.

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A criação de áreas protegidas

públicas ou privadas e a

implantação de medidas

de conservação em terras

privadas são essenciais para

garantir a conectividade

entre os blocos protegidos

já existentes e garantir a

resiliência dos ecossistemas.

Considerando ecossistemas

aquáticos, o desenho das

áreas protegidas deve

considerar áreas importantes

para a manutenção dos ciclos

hidrológicos, como áreas

de recarga de aquíferos,

nascentes e mananciais.

Apenas polígonos de

proteção não são sufi cientes

para a preservação dos

ecossistemas aquáticos.

Os processos ecológicos,

nesse caso, são vitais, como

a manutenção da qualidade

das águas, regime hidrológico

natural e conectividade.

No caso da conectividade

recomenda-se a manutenção

de corredores ecológicos

formados pelas matas ciliares

(conectividade longitudinal)

e a ligação entre a calha

do rio com as planícies de

inundação e lagoas marginais

(conectividade lateral).

Figura 24. Cruzamento entre as áreas protegidas e áreas de risco ecológico na Bacia do rio Paraguai.

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Outro fator de estresse

que coloca em risco a

conectividade da bacia

são as hidrelétricas. Nesse

estudo, o estresse provocado

pelas hidrelétricas pode

ter sido subestimado nos

mapas, pois mostra apenas

os impactos locais e não o

efeito propagador ao longo

dos rios. O Pantanal tem 115

barramentos previstos para

a próxima década: a maioria

(75%) de pequenas centrais

hidrelétricas (PCHs) (Calheiros

et al. 2009).

A princípio, as PCHs geram

impactos ambientais menores

do que usinas hidrelétricas de

grande porte, como a UHE

de Manso (no rio Manso),

tributário do rio Cuiabá, pois

têm menor capacidade de

armazenamento da água e

de regulação das vazões.

Por outro lado, o efeito

cumulativo de várias PCHs

na dinâmica hidrológica da

planície pantaneira é ainda

desconhecido. Há de se

avaliar de forma integrada

como se darão tais impactos

e quais alternativas são

viáveis para contorná-los.

Recomenda-se aplicar uma

ferramenta que avalie o efeito

propagador dos impactos de

grandes, médias e pequenas

hidrelétricas ao longo do

curso d’água como um todo.

Caso contrário, esse impacto

permanecerá subestimado,

evidenciando impactos locais.

Também se recomenda

incluir dados sobre PCHs na

análise. Segundo Calheiros

et.al. (2009), aspectos de

prevenção dos impactos de

barramentos no Pantanal

incluem esforços de

modelagem hidrológica,

de avaliação ambiental

integrada para se verifi car

os impactos de forma

conjunta no recorte de toda

a bacia, e de prescrição de

vazões ambientais de forma

a quantifi car as perdas e

ganhos no médio prazo da

alteração do pulso sazonal de

inundação do Pantanal.

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4948

Da mesma forma, os dados de agricultura apenas consideraram

a produção de larga escala, não observaram a produção local de

pequena escala. Talvez ela seja realizada com menos tecnologia e

mais impactos no solo e água. Daí a importância de levantar essa

base de informações e inseri-la em uma revisão deste estudo.

A pecuária aparece como um dos principais estressores da

bacia, principalmente no planalto, onde está a vegetação de

Cerrado. O mapa de risco da pecuária mostra isso claramente

(Figura 25). A criação extensiva no Cerrado ainda carece de

apoio técnico, extensão rural e de incentivos econômicos. Há

tecnologia disponível, entretanto, ela não chega ao produtor com

o sucateamento das agências de extensão rural.

Muitos bancos fi nanciadores já estão mudando suas políticas

de fomento e crédito rural, procurando incorporar critérios

ambientalmente sustentáveis para a liberação de recursos à

agropecuária. Isso ainda é recente, mas um passo importante

para melhorar os impactos da atividade pecuária.

No caso da Bacia do rio Paraguai, diante de sua grande

fragilidade hidrológica e de sua importância econômica em

termos de produtividade (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

possuem os maiores rebanhos bovinos do Brasil), ela necessitaria

de uma política efetiva de extensão rural e de melhores práticas

pecuárias, tais como conservação de água e solo, manejo e

recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária (BPA/

Embrapa/WWF, 2011).

Figura 25. Mapa de risco (IRE-T) da pecuária na Bacia do rio Paraguai.

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Conclusão

O método de estimativa de risco ecológico, como proposto por Mattson & Argermeier

(2007), embora semiquantitativo, quando associado a um SIG mostrou-se uma ferramenta

importante para planejamento, que pode ser aplicada de forma participativa e facilmente

replicada em outras regiões.

Sendo construída sobre uma base digital de dados, que pode ser facilmente corrigida

e atualizada, mais importante do que um mapa de riscos, torna-se um portal dinâmico.

Assim, pode ser acessado via Internet, e, ao identifi car problemas e confl itos, fornece, de

forma prática e objetiva, informações de qualidade aos gestores e tomadores de decisão de

diferentes áreas, possibilitando uma gestão mais efetiva dos recursos naturais.

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A análise de risco ecológico é uma primeira

etapa da análise de vulnerabilidade

do Pantanal às mudanças climáticas.

Conforme já observado, para se desenhar

cenários de mudanças climáticas para uma

bacia é necessário inicialmente identifi car e

avaliar os estresses atuais (não climáticos).

Posteriormente, deve-se projetar as

informações dos modelos climáticos

globais ou da variabilidade climática para

verifi car quais estresses atuais serão mais

ou menos intensos no futuro e também

onde e como ocorrerão tais estresses.

Assim, é possível identifi car e implantar

ações efetivas de adaptação.

Portanto, um passo essencial nessa

direção será complementar os resultados

desse trabalho com uma análise de

cenários de mudanças climáticas para

a bacia. Tais cenários serão realizados

conjuntamente com a comunidade

científi ca e principais atores, como

governos, iniciativa privada e sociedade

civil organizada.

Além disso, serão realizadas as análises

de vulnerabilidade sócioeconômica e

político-institucional, para formar o tripé

com a análise de vulnerabilidade ecológica

aqui apresentada. A análise sócio-

econômica deverá avaliar a vulnerabilidade

dos habitantes da bacia, de comunidades

indígenas, pescadores tradicionais e

produtores rurais, até os grandes setores

econômicos, como navegação, turismo,

pesca, agricultura, pecuária, entre outros.

Serão traçadas recomendações para cada

setor econômico e comunidade, que irão

compor o plano de adaptação às mudanças

climáticas.

A análise de vulnerabilidade político-

institucional já está sendo desenvolvida,

onde estão sendo avaliados os critérios

de boa governança das águas e da

gestão integrada de recursos hídricos

por meio de indicadores de gestão

regional. Aspectos como a existência

de fóruns, colegiados ou comitês de

bacia, a presença ou ausência de órgãos

de gestão dos recursos naturais e das

águas nos níveis estaduais e municipais,

espaços de participação social, estágio

de implantação de programas e projetos

dos governos, grau de capacidade

técnica dos governos dos estados e

municípios, são apenas alguns exemplos

de indicadores de resiliência político-

institucional.

A premissa por trás disso é que, com

a existência de um “tecido social”

consistente, participativo e ativo, além de

governos bem preparados, capacitados e

bem equipados, os efeitos das mudanças

climáticas ocorrerão de forma menos

dramática na bacia. Essa vertente

político-institucional também será parte

integrante do plano de adaptação.

A TNC desenvolverá um portfólio de

conservação para a Bacia do rio Paraguai

com a identifi cação de áreas e ações

prioritárias de conservação, com base nos

princípios do Planejamento Sistemático da

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Conservação. Esse esforço, denominado em

inglês de “Blueprint”, também inicia com o

mapeamento dos riscos e vulnerabilidades

da bacia para posteriormente gerar o

mapeamento da biodiversidade. Para cada

área prioritária, será realizado um diagnóstico

do status de conservação, análise de lacunas

e traçadas metas e ações prioritárias, como

a criação de unidades de conservação ou a

recuperação de áreas degradadas.

Nota-se, portanto, que tais esforços são

distintos, porém complementares. Daí a

importância de se consolidar parcerias

estratégicas como essa. No caso do

Centro de Pesquisa do Pantanal, os

resultados de todos os nove subprojetos

de pesquisa do Projeto Sinergia serão

sistematizados e integrados, formando um

plano de ação para combater os efeitos

das mudanças climáticas no Pantanal.

Certamente integrará todos os resultados

das análises de vulnerabilidade ecológica,

sócioeconômica e político-institucional,

bem como do Blueprint, rumando à

implantação de todos esses estudos,

interesse maior dos parceiros envolvidos

nessa publicação.

Finalmente, os resultados desses

estudos serão publicados e comunicados

amplamente, visando subsidiar políticas

públicas nos níveis municipal, estadual,

federal e internacional, para que os

mesmos sejam incorporados nas políticas e

instrumentos de conservação e mudanças

climáticas da região.

Juntos, WWF, TNC e CPP trabalharão para

apoiar os órgãos tomadores de decisão

a trabalhar em prol da conservação da

biodiversidade dessa importante bacia e

prepará-la para o futuro incerto imposto

pelas mudanças climáticas. O Pantanal é,

e continuará sendo, um refúgio importante

para várias espécies e uma reserva

estratégica de água doce, um recurso que

se tornará ainda mais escasso no futuro.

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Edição

Aldem Bourscheit e Geralda Magela (WWF-Brasil)

Ayla Tiago (TNC)

Montagem e diagramação

Henrique Macêdo (Supernova Design)

Impressão

Realização

Apoio

CPP/Sinergia, TNC/LAR, Caterpillar, HSBC, WWF-Bolivia e WWF-Paraguai

Colaboradores

Embrapa Pantanal e Ecoa

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(55+61) 3421-9100

www.tnc.org.br

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