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1 ANÁLISE DE INDICADORES DE DESEMPENHO EM EMPRESAS COM PUBLICAÇÃO DO GRI EM COMPARAÇÃO ÀS DEMAIS EMPRESAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA Autoria: Daniela Di Domenico, Sady Mazzioni, Carlos Eduardo Facin Lavarda, Marcia Zanievicz Silva RESUMO O objetivo central do estudo é identificar a existência de diferenças significativas nos indicadores econômico-financeiros entre as empresas que evidenciaram o relatório de sustentabilidade em 2010. A pesquisa é descritivo, documental e quantitativa. A população compreendeu as empresas listadas na BM&FBovespa, segregadas em dois grupos distintos, sendo que o relatório de sustentabilidade foi publicado por 64 empresas. A análise dos dados considerou indicadores representativos da estrutura de capital, de liquidez e rentabilidade. Os resultados apontam que as empresas que evidenciaram o GRI possuem, em média, maiores indicadores de endividamento. Em contrapartida, verifica-se que possuem melhores índices de liquidez e rentabilidade. Palavras-chave: Desempenho empresarial. Evidenciação ambiental. Indicadores. 1 INTRODUÇÃO A discussão em torno do meio ambiente tem recebido atenção da área contábil devido aos resultados de problemas como a poluição, esgotamento de recursos naturais, de efeitos negativos sobre o clima e a temperatura do planeta (CALIXTO, 2007). Esse interesse empresarial pode ser constatado pelas inúmeras iniciativas voluntárias de empresas que por meio dos relatórios contábeis divulgam suas práticas voltadas à preservação do meio ambiente ou da mitigação do impacto das suas atividades. Ao longo dos últimos anos as organizações têm sofrido pressões no sentido de controlar os impactos de suas operações em prol do meio ambiente (STARIK; MARCUS, 2000). Tais pressões advêm das mais variadas fontes, como os clientes, os consumidores e os fornecedores, recaindo sobre o setor privado e impelindo as empresas para que assumam a responsabilidade pelos impactos de suas atividades operacionais na sociedade em que estão inseridas (HACKSTON; MILNE, 1996). Neste ponto já existem estudos recentes que colocam algumas razões para as empresas divulgarem relatórios de sustentabilidade. Costa (2006) argumenta que a adoção de instrumento voluntário em relação ao meio ambiente, por parte das empresas, ocorre em função de alguma vantagem visualizada por elas, mas o principal fato motivador é a possibilidade de incrementar lucros. Quanto à utilização da contabilidade para evidenciar o comportamento ambiental das empresas, constatou-se que há uma série de elementos que dificultam para que se possa atingir esse objetivo. Coelho et al. (2010) indicam que as variáveis tamanho e sustentabilidade exercem influência direta e significativa no nível de divulgação de informações de cunho ambiental, enquanto Liu, Liu e Mcconkey (2011) apontam que as informações ambientais divulgadas podem não refletir o nível de desempenho ambiental real das empresas listadas no setor e algumas empresas com baixo nível de desempenho ambiental são susceptíveis de divulgar mais informações ambientais. O trabalho de Mendes (2010) expõe que em certa medida, a informação acerca do desempenho ambiental corporativo pode estar disponível, mas tanto nas empresas quanto na administração pública, os gestores são raramente capazes de relacionar a informação ambiental com as variáveis econômicas. Por sua vez, os próprios relatórios ambientais

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ANÁLISE DE INDICADORES DE DESEMPENHO EM EMPRESAS COM PUBLICAÇÃO DO GRI EM COMPARAÇÃO ÀS DEMAIS EMPRESAS LISTADAS

NA BM&FBOVESPA

Autoria: Daniela Di Domenico, Sady Mazzioni, Carlos Eduardo Facin Lavarda, Marcia Zanievicz Silva

RESUMO O objetivo central do estudo é identificar a existência de diferenças significativas nos indicadores econômico-financeiros entre as empresas que evidenciaram o relatório de sustentabilidade em 2010. A pesquisa é descritivo, documental e quantitativa. A população compreendeu as empresas listadas na BM&FBovespa, segregadas em dois grupos distintos, sendo que o relatório de sustentabilidade foi publicado por 64 empresas. A análise dos dados considerou indicadores representativos da estrutura de capital, de liquidez e rentabilidade. Os resultados apontam que as empresas que evidenciaram o GRI possuem, em média, maiores indicadores de endividamento. Em contrapartida, verifica-se que possuem melhores índices de liquidez e rentabilidade. Palavras-chave: Desempenho empresarial. Evidenciação ambiental. Indicadores. 1 INTRODUÇÃO

A discussão em torno do meio ambiente tem recebido atenção da área contábil devido aos resultados de problemas como a poluição, esgotamento de recursos naturais, de efeitos negativos sobre o clima e a temperatura do planeta (CALIXTO, 2007). Esse interesse empresarial pode ser constatado pelas inúmeras iniciativas voluntárias de empresas que por meio dos relatórios contábeis divulgam suas práticas voltadas à preservação do meio ambiente ou da mitigação do impacto das suas atividades.

Ao longo dos últimos anos as organizações têm sofrido pressões no sentido de controlar os impactos de suas operações em prol do meio ambiente (STARIK; MARCUS, 2000). Tais pressões advêm das mais variadas fontes, como os clientes, os consumidores e os fornecedores, recaindo sobre o setor privado e impelindo as empresas para que assumam a responsabilidade pelos impactos de suas atividades operacionais na sociedade em que estão inseridas (HACKSTON; MILNE, 1996).

Neste ponto já existem estudos recentes que colocam algumas razões para as empresas divulgarem relatórios de sustentabilidade. Costa (2006) argumenta que a adoção de instrumento voluntário em relação ao meio ambiente, por parte das empresas, ocorre em função de alguma vantagem visualizada por elas, mas o principal fato motivador é a possibilidade de incrementar lucros. Quanto à utilização da contabilidade para evidenciar o comportamento ambiental das empresas, constatou-se que há uma série de elementos que dificultam para que se possa atingir esse objetivo.

Coelho et al. (2010) indicam que as variáveis tamanho e sustentabilidade exercem influência direta e significativa no nível de divulgação de informações de cunho ambiental, enquanto Liu, Liu e Mcconkey (2011) apontam que as informações ambientais divulgadas podem não refletir o nível de desempenho ambiental real das empresas listadas no setor e algumas empresas com baixo nível de desempenho ambiental são susceptíveis de divulgar mais informações ambientais.

O trabalho de Mendes (2010) expõe que em certa medida, a informação acerca do desempenho ambiental corporativo pode estar disponível, mas tanto nas empresas quanto na administração pública, os gestores são raramente capazes de relacionar a informação ambiental com as variáveis econômicas. Por sua vez, os próprios relatórios ambientais

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legitimam o debate sobre as ações sociais das empresas em relação à sociedade, uma vez que fornecem, potencialmente, a capacidade de mensuração dos aspectos ambientais da atividade empresarial.

Nesse sentido, as organizações sentem a necessidade de evidenciar as ações realizadas em relação ao ambiente em que atuam. Tinoco e Kraemer (2011, p. 87) afirmam que a sociedade tem o direito de ser informada sobre as ações que a empresa desenvolve, ao ressaltar que a “divulgação é positiva para as organizações, quer do ponto de vista de sua imagem, quer do ponto de vista de melhoria e qualificação da informação contábil, econômica, social e ambiental”. A contabilidade precisa ter essa preocupação no sentido da evidenciação das ações da empresa, pois a contabilidade tem como produto final os relatórios contábeis, que são elaborados a partir das informações dos negócios da empresa. Esses relatórios têm como finalidade divulgar de forma objetiva e fidedigna as informações contábeis aos seus usuários (DIAS FILHO, 2008).

Diante do exposto formulou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Existem diferenças estatisticamente significativas nos indicadores econômico-financeiros entre as empresas que evidenciaram e não evidenciaram o relatório de sustentabilidade em 2010? O objetivo é identificar a existência de diferenças significativas nos indicadores econômico-financeiros entre as empresas que evidenciaram e não evidenciaram o relatório de sustentabilidade em 2010.

A justificativa deste estudo se sustenta na argumentação de Deegan e Rankin (1996) de que “se uma organização não puder justificar a sua continuidade perante a sociedade, gradativamente os seus membros se encarregarão de revogar o contrato social”. Na concepção de Dias Filho (2008) esse chamado contrato social representa um conjunto de expectativas implícitas ou explícitas dos membros das organizações e da sociedade, a respeito da forma como elas devem operar. Para Beuren e Söthe (2009), as evidenciações contábeis compõem uma das maneiras de efetuar o cumprimento deste contrato entre as organizações e a sociedade. 2 REVISÃO DA LITERATURA A revisão da literatura apresenta os conceitos que sustentam o assunto pesquisado e serve de base para análise dos dados coletados. A subseção de Evidenciação Socioambiental apresenta o contexto das motivações empresarias na divulgação desse tipo de informação; a subseção sobre Desempenho Econômico apresenta os grupos de indicadores considerados no estudo, e, por fim, a subseção de Estudos Correlatos apresenta resultados já obtidos em investigações de natureza similar. 2.1 A Evidenciação Socioambiental

O crescimento e o aperfeiçoamento da contabilidade foram consequências naturais das necessidades geradas pelo avanço do capitalismo, da ciência e do mercantilismo em estabelecer o controle das riquezas. Para chegar ao estágio atual, a Contabilidade passou por processos de experimentação e instabilidade, em que a classificação no grupo das ciências contribuiu para a sua evolução.

Segundo Kroetz (2000), a contabilidade é a ciência social que estuda os fenômenos ocorridos com o patrimônio das entidades, registra os fatos relacionados com a formação, com a movimentação e com as variações do patrimônio, fornecendo informações para os

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administradores, proprietários e terceiros sobre como a organização está desenvolvendo as suas atividades econômicas para alcançar os seus fins. Para Perez Jr. e Begalli (1999, p. 13) “a contabilidade deve ser vista como um sistema de informação, cujo método de trabalho consiste, simplificadamente, em coletar, processar e transmitir dados sobre a situação econômico-financeira de uma entidade e determinado momento e sua evolução em determinado período”.

Conforme Kroetz (2000, p. 28) “o sistema contábil tem por objetivo a produção de informações destinadas a prover seus usuários com Demonstrações Contábeis e análises da natureza econômica, financeira, social, física, de resultados [...]”. Ou seja, produzir relatórios para o controle das variações patrimoniais (financeiras, de custos ou gerenciais) e obter uma posição da situação atual da empresa, podendo assim, auxiliar na tomada de decisões.

O interesse das empresas na evidenciação contábil não deve estar somente na legalidade (no cumprimento das normas), mas também pelos princípios éticos de transparência, no atendimento a demanda dos diferentes tipos de usuários das informações. Segundo Iudícibus e Marion (2008, p. 64), ”A informação contábil precisa ser compreensiva, isto é, completa, e retratar todos os aspectos contábeis de determinada operação ou conjunto de eventos ou operações [...]”.

No início do processo de evidenciação ambiental algumas empresas incluíam informações sobre a interação das suas atividades com o ambiente natural em uma seção não obrigatória das suas demonstrações financeiras. Mais tarde, algumas empresas começaram a divulgar relatórios ambientais voluntariamente, em suas demonstrações financeiras ou separadamente. Atualmente, esta comunicação ambiental voluntária moveu-se em direção à produção de relatórios de sustentabilidade, seguindo as diretrizes propostas pela Global Reporting Initiative (GRI, 2006). Estes relatórios incluem informações sobre questões econômicas, sociais e ambientais. Juntos constituem o chamado “triple bottom line”, um modelo internacional de relatório que está mais próximo do conceito de sustentabilidade.

A concepção do GRI em 1999 ocorreu com o movimento de responsabilidade social corporativa, descendente do movimento social da década de 1970, tornou-se líder rapidamente entre os sistemas voluntários de todo o mundo como um relatório de sustentabilidade. O GRI (2006) introduziu três inovações institucionais: (i) processo multistakeholder de desenvolvimento de diretrizes de relatórios; (ii) institucionalizou o processo de produção de gerações sucessivas das orientações; e (iii) a criação de uma organização para servir como regulador das diretrizes e dos processos (BROWN; JONG; LESSIDRENSKA, 2007).

A divulgação ambiental nas demonstrações financeiras é um aspecto importante da avaliação ambiental e desempenho das empresas, o que tem evoluído ao longo dos anos (ELKINGTON, 1997). O relatório de sustentabilidade Global Reporting Initiative (GRI) foi desenvolvido como uma forma de ajudar as organizações a informar sobre o seu desempenho ambiental, social e econômico e aumentar a sua prestação de contas à sociedade (MONEVA; ARCHEL; CORREA, 2006).

O modelo GRI apresenta importantes contribuições, principalmente ao oferecer uma informação abrangente. Adicionalmente, por ser um modelo consolidado internacionalmente, oferece as bases para uma maior comparabilidade das informações, além de representar um grande esforço para a harmonização das informações, o que traz maior valor ao relatório (CARVALHO; SIQUEIRA, 2007).

Todo o esforço realizado pelo GRI serve para concretizar a missão de “desenvolver e divulgar as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade e de aplicabilidade global” (GRI,

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2006, p. 2). Além de “estabelecer princípios amplamente adotados para que se possa promover uma harmonização internacional deste tipo de relatório” (WOODS, 2003, p. 60).

Apesar de existirem tentativas de normatizar a forma pela qual as informações sociais e ambientais devem ser evidenciadas, como são os casos dos modelos de Balanço Social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e do GRI, não há no Brasil obrigatoriedade para divulgação dessas informações (ROVER; ALVES; BORBA, 2008). A contabilidade, mais especificamente a contabilidade ambiental, tem um papel de destaque na organização e na evidenciação das informações relativas ao meio ambiente nos relatórios empresariais. As informações ambientais, apesar da falta de obrigatoriedade de sua evidenciação, já fazem parte do cotidiano das grandes empresas brasileiras. Não evidenciá-las tornou-se uma desvantagem competitiva (MUSSOI; BELLEN, 2010). Gray e Bebbington (2001) afirmam que, atualmente, os relatórios ambientais ganharam um espaço importante na mídia corporativa. Apesar disso, tais relatórios ainda são utilizados, quase que exclusivamente, no meio das grandes corporações. Tinoco e Kraemer (2011) mencionam também que questões ambientais nos relatórios da maioria das empresas inexistem, não sendo ainda objeto de divulgação no Brasil. Neu, Warsame e Pedwell (1998) argumentam que a gestão, muitas vezes, prefere narrativas de contabilidade tais como as divulgações ambientais não financeiras ou outras informações quantificáveis porque essas divulgações podem ser deliberadamente personalizadas para gerenciar a impressão dos públicos, e, como observado por Hopwood (2009) pode ser usado para facilitar a construção de uma nova e diferente imagem da empresa. Nessa perspectiva, Machado-da-Silva e Fonseca (1996, p. 213) citam que “as organizações estão inseridas em um ambiente constituído de regras, crenças e valores, criados e consolidados por meio da interação social” [...] e que “diante das mesmas prescrições ambientais, as organizações também competem pelo alcance da legitimidade institucional, o que torna suas práticas cada vez mais homogêneas, ou isomórficas”. Sancovschi e Silva (2006, p. 2) afirmam que “a grande probabilidade de trocas adversas na percepção da sociedade de como uma organização está agindo, opera como um fator de incentivo para os administradores tentarem gerenciar a legitimidade de sua empresa”. Como uma alternativa para melhorar a imagem e o valor social da empresa, a evidenciação voluntária das ações sociais e ambientais está integrando os relatórios compulsórios periódicos. Em conjunto com as ações sociais e ambientais das empresas, está o desempenho econômico e financeiro, que podem ser visualizados por meio dos indicadores contábeis, calculados com base nos dados apresentados nos principais relatórios contábeis, como o balanço patrimonial e o demonstrativo do resultado do exercício. 2.2 Desempenho Econômico Financeiro Entre as principais formas de análise de uma empresa está o comparativo, seja entre indicadores de um ano para outro, ou relacionamento desses indicadores com outros afins. Na concepção de Assaf Neto (2010, p. 93) “pode-se afirmar que o critério básico que norteia a análise de balanços é a comparação”. Dentre os principais ou mais utilizados indicadores para verificar o desempenho da empresa, estão os indicadores de liquidez, estrutura de capital e rentabilidade. De acordo com Marion (2010) “só teremos condições de conhecer a situação econômico-financeira de uma empresa por meio dos três pontos fundamentais de análise: Liquidez (situação financeira),

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Rentabilidade

Liquidez

Endividamento*

Rentabilidade (situação econômica) e Endividamento (estrutura de capital)”. A Figura 1 mostra o tripé da análise. Figura: Tripé da Analise *Estrutura de Capital Fonte: Marion (2010)

O tripé de analise de acordo com Marion (2010) representa o equilíbrio e são suficientes para ter uma visão superficial da empresa a ser analisada. Para o autor, os indicadores de liquidez são utilizados para avaliar a capacidade de saldar os compromissos da empresa, os indicadores de endividamento mostram o nível de endividamento quanto ao capital próprio e de terceiros, e por fim os indicadores de rentabilidade mostra o potencial de vendas, a habilidade de gerar resultados, a evolução das despesas, entre outros.

As razões elencadas para a mensuração do desempenho são diversas e na concepção de Macedo, Souza e Oliveira (2004) as mais importantes estão relacionadas ao monitoramento do progresso da empresa e a correção de eventuais erros, além de preparar a entidade para enfrentar as mudanças ambientais, em especial à natureza mutável da competição e a criação de valor para o cliente. 2.3 Estudos Correlatos Alguns estudos relatam que a existência de investimentos e ações voluntárias ou compulsórias nas empresas, pode ter motivação relacionada à rentabilidade. Klassen e McLaughlin (1996) constataram que quando se tornavam públicas as práticas ambientais que alteravam positivamente os ganhos de mercado da empresa, ou que diminuíam seus custos, os investidores mudavam suas perspectivas e percepções de valor das empresas. Foram verificados retornos anormais positivos das ações, em que o desempenho ambiental, a certificação ISO 14001, as práticas de responsabilidade social corporativa e a gestão ambiental estavam diretamente relacionados à rentabilidade. Com base na visão em recursos da empresa, que propõe que desempenho ambiental e o desempenho econômico estão positivamente ligados e que o crescimento da indústria em relação ao desempenho ambiental, é superior em indústrias de alto crescimento. Russo e Fouts (1997) testaram essa hipótese em 243 empresas com mais de dois anos. Os resultados indicam que "vale a pena ser verde" e que esta relação pode ser reforçada pelo crescimento do setor. Assim, o alto desempenho ambiental está associado com aumento da rentabilidade, sendo que a relação se fortalece em indústrias de setores de maior crescimento. Quanto maior o crescimento do setor, maior o impacto positivo do desempenho ambiental na rentabilidade. Conceição et al. (2010) realizaram um levantamento acerca do processo de evidenciação em responsabilidade social corporativa (RSC) em companhias brasileiras. Os resultados obtidos no estudo sugerem que a política de evidenciação em RSC para as empresas de capital aberto da amostra demonstraram-se bastante incipientes e altamente vinculados a aspectos de externalidade positiva (marketing social), sendo possível estabelecer

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uma determinação significante entre o desempenho econômico-financeiro (endividamento e rentabilidade) com a evidenciação em RSC.

Teixeira e Nossa (2010) investigaram se a forma de financiamento das empresas é afetada pela sua participação no índice de sustentabilidade empresarial (ISE) a partir de uma amostra de 378 empresas, divididas em dois grupos, um de tratamento e outro de controle com dados em painel com duplo efeito fixo. Os resultados encontrados indicam que, estatisticamente, as empresas que sinalizaram responsabilidade social corporativa (RSC) tiveram uma relação negativa com o endividamento e risco, quando comparadas com aquelas que não sinalizaram. Esses resultados ajudam a entender a relevância dos índices de sustentabilidade como um canal de informação crível do comprometimento da empresa com RSC. 3 METODOLOGIA A pesquisa caracteriza-se como descritiva, com uso da análise documental e de caráter quantitativo. A população da pesquisa compreendeu as empresas listadas na BM&FBovespa, totalizando 440 empresas. Neste universo, foram identificadas as empresas que emitiram o relatório de sustentabilidade no ano de 2010, resultando uma amostra de 64 empresas. A Tabela 1 apresenta a relação de empresas investigadas e o respectivo setor de atuação.

Tabela 1 - Amostra Empresa Setor Empresa Setor CSU Cardsystem Bens Industriais Paranapanema Materiais Básicos Embraer Bens Industriais Suzano Papel Materiais Básicos Inds. Romi Bens Industriais Usiminas Materiais Básicos Iochp-Maxion Bens Industriais Vale Materiais Básicos Lupatech Bens Industriais Bicbanco Financeiro e Outros Metal Leve Bens Industriais BMF Bovespa Financeiro e Outros Randon Part Bens Industriais Bradesco Financeiro e Outros CCR AS Construção e Transporte Itausa Financeiro e Outros Ecorodovias Construção e Transporte Nord Brasil Financeiro e Outros Eternit Construção e Transporte Redecard Financeiro e Outros Even Construção e Transporte Santander BR Financeiro e Outros Gafisa Construção e Transporte Sul América Financeiro e Outros JSL Construção e Transporte HRT Petróleo Petróleo, Gás e Biocombustíveis LLX Log Construção e Transporte Petrobras Petróleo, Gás e Biocombustíveis Rossi Resid Construção e Transporte Itautec Tecnologia da Informação Tecnisa Construção e Transporte Brasil Telec Telecomunicações Lojas Renner Consumo Cíclico Tim Part. S/A Telecomunicações Whirlpool Consumo Cíclico AES Tiete Utilidade Pública AmBev Consumo não Cíclico Ampla Energia Utilidade Pública BRF Foods Consumo não Cíclico Casan Utilidade Pública Cosan Consumo não Cíclico Celesc Utilidade Pública JBS Consumo não Cíclico Cemig Utilidade Pública Marfrig Consumo não Cíclico Cesp Utilidade Pública

Continua... Empresa Setor Empresa Setor Natura Consumo não Cíclico Copasa Utilidade Pública P. Açúcar- CBD Consumo não Cíclico Copel Utilidade Pública Braskem Materiais Básicos Elektro Utilidade Pública Celulose Irani Materiais Básicos Eletrobrás Utilidade Pública

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Duratex Materiais Básicos Energias BR Utilidade Pública Elekeiroz Materiais Básicos Light S/A Utilidade Pública Fibria Materiais Básicos Sabesp Utilidade Pública Gerdau Materiais Básicos Tractebel Utilidade Pública Klabin S/A Materiais Básicos Tran Paulista Utilidade Pública

Fonte: Dados da pesquisa

Desta forma, foram constituídas duas amostras distintas de empresas listadas na BM&FBovespa: aquelas com emissão do relatório de sustentabilidade e as demais sem a mencionada publicação, para fins de comparação dos resultados.

Para atender ao objetivo do estudo, foram utilizados indicadores econômico-financeiros de avaliação de desempenho, incluindo aqueles relacionados ao endividamento, liquidez e rentabilidade. Em uma interpretação principal, quanto maiores os indicadores de liquidez e rentabilidade e quanto menores os indicadores de endividamento, melhor será o desempenho da empresa (MATARAZZO, 2010).

O Quadro 1 mostra uma descrição sucinta de cada indicador econômico-financeiro e a respectiva fórmula de cálculo utilizada no estudo.

Quadro 1 – Indicadores econômico-financeiros Estrutura Indicador

Participação do Capital de Terceiros

Passivo Circulante Passivo NãoCirculantePatrimônio Líquido

Imobilização do Patrimônio Líquido

ImobilizadoPatrimônio Líquido

Liquidez

Liquidez Geral Ativo Circulante Realizável a LongoPrazoPassivo Circulante Passivo NãoCirculante

Liquidez Corrente Ativo CirculantePassivo Circulante

Liquidez Seca Ativo Circulante Estoques DespesasAntecipadas

Passivo Circulante

Rentabilidade

Margem Bruta

Lucro BrutoVendas Líquidas

Margem Líquida Lucro LíquidoVendas Líquidas

Rentabilidade do Patrimônio Líquido - ROE

Lucro LíquidoPatrimônio Líquido

Rentabilidade do Ativo - ROA Lucro LíquidoAtivo Total

Fonte: ASSAF NETO (2010); PEREZ JÚNIOR (2009); MATARAZZO (2010).

Os indicadores foram calculados a partir das informações coletadas na base de dados Economática®. Para a análise dos dados, considerou-se a estatística descritiva e o teste Mann Whitney, elaborado por meio do pacote estatístico SPSS® for Windows. Ocorreram variações no número de empresas em cada um dos indicadores considerados, conforme pode ser constatado na Tabela 2. As empresas que não apresentaram os dados necessários para o cálculo dos indicadores citados no Quadro 1, foram excluídas das respectivas amostras.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS As organizações necessitam de estratégias para competir e se manterem no mercado, essas estratégias precisam estar em sintonia com os interesses da comunidade na qual estão inseridas. Questões ambientais vêm ganhando destaque nos últimos anos, pois as empresas utilizam de recursos naturais nos processos operacionais e a sociedade tem exigido o cuidado com a sustentabilidade desses recursos para garantir o futuro das próximas gerações. As empresas divulgam suas ações com o intuito de valorizar a imagem da empresa e manter informada a comunidade a respeito das práticas de responsabilidade social e ambiental desenvolvidas, por meio do relatório de sustentabilidade evidenciado anualmente. Essa divulgação se torna positiva no sentido que valoriza a imagem da empresa. A Tabela 2 mostra os valores da média, do desvio padrão, os valores mínimos e máximos dos indicadores econômico-financeiros das empresas, apresentando comparativamente as empresas que evidenciaram e aquelas que não evidenciaram o relatório GRI em 2010.

Tabela 2 - Estatística descritiva dos indicadores GRI N Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

Participação de Capital de Terceiros

Não 308 2,33974 11,40750 -40,57345 136,32744Sim 60 1,80895 2,27639 0,01323 15,40713Total: 368

Imobilização do Patrimônio Líquido

Não 290 0,96676 5,18410 -24,77154 71,99010Sim 61 0,64754 0,55447 0,00201 1,96661Total: 351

Liquidez Geral

Não 299 2,92591 326,42577 0,02507 5,556,0641Sim 59 2,44029 2,35539 0,84707 16,56181Total: 358

Liquidez Corrente Não 313 2,57115 6,14556 0,00142 79,500000Sim 61 2,83308 8,71794 0,54181 69,50260Total: 374

Liquidez Seca

Não 298 2,26908 6,28719 0,00127 79,500000Sim 59 2,56988 7,02383 0,50745 69,44188

Total: 357

Margem Bruta

Não 284 0,33467 0,39461 -5,05802 1,00000Sim 60 0,37104 0,21039 0,04884 1,00000Total: 344

Margem Líquida

Não 285 1,62212 445,09462 -7497,826 466,35173Sim 60 -0,03322 1,21552 -9,13038 0,84294

Total: 345

ROE

Não 330 0,23914 1,14624 -3,51937 12,57587Sim 64 0,15284 0,16884 -0,40132 0,99957Total: 394

ROA

Não 330 -0,29867 4,41623 -79,00000 1,99309

Sim 64 0,05731 0,05244 -0,05281 0,23094Total: 394

Fonte: Dados da pesquisa

Em relação aos indicadores de estrutura de capital, os resultados indicam um melhor desempenho organizacional no conjunto de empresas que emitiram o GRI em relação às demais, na consideração de quanto menor o indicador melhor o desempenho. Constata-se,

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também, que nas empresas que não emitiram o GRI o desvio padrão é mais elevado, indicando maiores variações em relação à média do grupo.

O indicador de PCT representa quanto do total de recursos da empresa origina-se do capital de terceiros, ou seja, quanto maior for o resultado, maior a dependência da organização a capital de terceiros, no caso as empresas com GRI resultou em torno de 1,80 e as que não possuem GRI 2,33. Isso significa que as empresas que não possuem GRI têm maior dependência de recurso de terceiros, ou mais recursos de terceiros do que recursos próprios. O IPL representa qual o percentual do patrimônio líquido está financiando o imobilizado da empresa. As empresas da amostra que não publicaram o GRI apresentaram índice 0,96 e as empresas com GRI 0,64, assim, nas empresas que não possuem GRI o patrimônio líquido financia, em média, 96% do imobilizado, valor relevantemente superior às demais que ficou em torno de 64%, revelando maior equilíbrio financeiro. A liquidez representa a capacidade de pagamento da empresa, isto é, se a empresa possui capacidade de saldar seus compromissos. Assim, LC mostra a capacidade no curto prazo, a LG no longo prazo e a LS, mostra a capacidade de quitar suas dívidas caso cessasse as vendas. Os índices de LC e LS foram superiores para as empresas que possuem GRI, o que significa maior capacidade de pagar as suas dividas a curto prazo e caso a empresa paralisasse suas vendas, mas no índice de LG as empresas que não possuem GRI mostraram índice superior, que revela maior capacidade de quitar as suas dividas a longo prazo. Na análise da margem bruta e da margem líquida, nota-se que as empresas com GRI apresentaram índices de 0,37 e -0,03, respectivamente. Já as empresas que não possuem GRI possuíam 0,33 de margem bruta e 1,62 de margem líquida. Assim a margem bruta das empresas com GRI são superiores, mas em contrapartida a margem liquida ficou relevantemente inferior. Por meio do indicador ROA a empresa visualiza seu retorno de investimentos e o ROE indica o retorno em relação ao capital investido mais os resultados acumulados. Assim, conclui-se que as empresas que não possuem GRI estão com retorno de investimentos negativo de 0,29, apontando para destruição de valor. Em relação ao capital investido pelos sócios, apresentam índice em torno de 0,23, sendo um pouco maior do que as empresas que possuem GRI. Em contrapartida, estas por sua vez estão tendo retorno de investimento positivo em torno de 0,05. Assim, na avaliação conjunta dos indicadores juntos, as empresas com GRI possuem maior estabilidade. Em termos gerais, quanto aos indicadores de liquidez e rentabilidade, os resultados mostraram-se mistos. Para a liquidez geral e seca, margem líquida e ROE o grupos de empresas que não emitiram o GRI apresentaram resultados superiores. Já para os indicadores de liquidez corrente, margem bruta e ROA as empresas emitentes do relatório GRI apresentaram melhor resultado nos indicadores analisados. Para confirmação dos resultados relatados, foi realizado o teste de Mann Whitney, que de acordo com Fávero et al (2009, p. 163) “serve para testar se duas amostras independentes foram extraídas de populações com médias iguais”. No caso deste estudo, a amostra possui dois grupos distintos, as empresas que evidenciaram e as que não evidenciaram o relatório de sustentabilidade. O resultado do teste de Mann Whitney é aquele apresentado na Tabela 3. Tabela 3 – Teste de Mann Whitney

GRI N Média Total dos Ranks PCT* Não 308 180,05 55456,50

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Sim 60 207,33 12439,50

Total: 368 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,069

IPL*

Não 290 172,07 49900,50

Sim 61 194,68 11875,50

Total: 251 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,114

LG*

Não 299 178,63 53411,50

Sim 59 183,89 10849,50

Total: 358 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,721

LC*

Não 313 185,66 58112,50

Sim 61 196,93 12012,50

Total: 374 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,457

LS*

Não 298 175,60 52327,50

Sim 59 196,19 11575,50

Total: 357 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,161

MB*

Não 284 171,59 48731,50

Sim 60 176,81 10608,50

Total: 344 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,712

ML*

Não 285 166,69 47507,50

Sim 60 202,96 12177,50

Total: 345 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,010

ROE*

Não 330 194,80 64284,50

Sim 64 211,41 13530,50

Total: 394 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,283

ROA*

Não 330 190,87 62988,50

Sim 64 231,66 14826,50

Total: 394 * Asymp. Sig. (2-tailed) = ,009

Fonte: Dados da pesquisa

A Tabela 3 confirma que os indicadores de PCT, ML e ROA possuem significância (p<0,10), ou seja, existem diferenças significativas para esses indicadores, entre empresas que evidenciaram e não evidenciaram o GRI. Em geral os indicadores são maiores, em média, para as empresas que emitiram GRI. Pode-se concluir que as empresas que evidenciaram o GRI, possuem uma média maior dos indicadores de endividamento, mas em contrapartida possuem uma média maior de rentabilidade e margem bruta e líquida.

Na concepção de Marion (2010), esses indicadores demonstram que as empresas analisadas que emitiram o relatório de sustentabilidade apresentam nível maior de endividamento, mas possuem mais potencial de vendas e maior habilidade de gerar resultados. O Gráfico 1 mostra os indicadores para GRI e não GRI.

Gráfico 1 – Indicadores para GRI e não GRI.

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Fonte: Dados da Pesquisa Por meio do Gráfico 1, fica mais evidente que todos os indicadores são maiores para as empresas que possuem GRI. Desta forma pode-se analisar que empresas com GRI utilizam mais capital de terceiros, porém conseguem gerar maior rentabilidade e maior liquidez. Em contrapartida, as empresas que não possuem GRI tem menor endividamento, mas possuem menor rentabilidade e menor liquidez. Não necessariamente, uma empresa que possui maior capital de terceiros ou maior endividamento, apresente situação financeira inferior às demais. Consequentemente, uma empresa que possui maior margem, liquidez e retorno, terá maior possibilidade de permanência no mercado e condições de avaliar seus impactos das atividades operacionais na sociedade em que está inserida. Assim, poderá criar uma imagem positiva no mercado, o que gera a valorização dos investidores, e dos consumidores finais. Corroborando com os estudo de Klassen e McLaughlin (1996), Russo e Fouts (1997), Conceição et al. (2010) e Teixeira e Nossa (2010), pode-se dizer que as empresas investigadas possuem algumas motivações para evidenciar seus relatórios de sustentabilidade. A preocupação com o meio ambiente e a maior evidenciação de informações socioambientais podem estar associadas com as atividades operacionais e a rentabilidade pode estar ligada com a imagem da empresa perante os clientes, fornecedores, dentre outros. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste estudo foi identificar a existência de diferenças significativas nos indicadores econômico-financeiros entre as empresas que evidenciaram e não evidenciaram o relatório de sustentabilidade em 2010. Quanto aos indicadores de endividamento, no índice de PCT as empresas que não possuem GRI têm maior dependência de recurso de terceiros, ou mais recursos de terceiros do que recursos próprios. No índice de IPL, as empresas que não possuem GR, tem valor relevantemente superior às demais, revelando maior equilíbrio financeiro. Nos índices de LC e LS foram superiores para as empresas que possuem GRI, o que significa maior capacidade de pagar as suas dividas a curto prazo e caso a empresa paralisasse suas vendas, mas no índice de LG as empresas que não possuem GRI mostraram índice superior, que revela maior capacidade de quitar as suas dividas a longo prazo. Quando se fala em Margem Bruta e Margem Liquida, a margem bruta das empresas com GRI são superiores, mas em contrapartida a margem líquida ficou relevantemente inferior. Quanto aos indicadores de retorno de investimento ROA e ROE, conclui-se que as empresas que não possuem GRI estão com retorno de investimentos inferior as empresas com GRI, tendo assim maior estabilidade. Em termos gerais, quanto aos indicadores de liquidez e rentabilidade, os resultados mostraram-se mistos. Para a liquidez geral e seca, margem líquida e ROE o grupos de empresas que não emitiram o GRI apresentaram resultados superiores. Já para os indicadores

160,00 

180,00 

200,00 

220,00 

240,00 

PCT* IPL* LG* LC* LS* MB* ML* ROE* ROA*

Não GRI

Sim GRI

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de liquidez corrente, margem bruta e ROA as empresas emitentes do relatório GRI apresentaram melhor resultado nos indicadores analisados. As empresas que evidenciaram o GRI possuem uma média maior dos indicadores de endividamento, mas em contrapartida possuem uma média maior de rentabilidade e margem bruta e líquida. Assim, pode-se dizer que as empresas com GRI utilizam mais capital de terceiros, porém geram maior margem, liquidez e retorno. Em contrapartida, as empresas que não possuem GRI, tem menor endividamento, mas possuem menor margem, liquidez e retorno. REFERÊNCIAS

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