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ISSN 1679-5830 Disponível eletronicamente em www.revista-ped.unifei.edu.br Revista P&D em Engenharia de Produção V. 07 N. 02 (2009) p. 39-50 Recebido em 21/11/2007. Aceito em 30/10/2009 ANÁLISE DAS POSTURAS DE TRABALHO DOS EDUCADORES DE CRIANÇA NUMA PERSPECTIVA ERGONÔMICA Adla Alves Alexandre Mestre em Economia Doméstica Universidade Federal de Viçosa [email protected] Simone Caldas Tavares Mafra Professora do Departamento de Economia Doméstica Universidade Federal de Viçosa [email protected] José de Fátima Juvêncio Professor do Departamento de Educação Física Universidade Federal de Viçosa [email protected] Maria de Lourdes Mattos Barreto Professora do Departamento de Economia Doméstica Universidade Federal de Viçosa [email protected] RESUMO O objetivo do estudo foi analisar as posturas mais freqüentemente adotadas pelos educadores na realização de suas atividades com crianças de 2 a 5 anos de idade. Foi realizado no Laboratório de Desenvolvimento Infantil (LDI), localizado no Campus da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais, sendo a população de estudo os educadores da sala-ambiente 3. Na coleta de dados utilizou-se observações das atividades, filmagens e registro fotográfico. Os dados mostraram que as educadoras adotam posturas inadequadas na realização destas, havendo necessidade de uma intervenção ergonômica neste sentido. A análise dos dados obtidos subsidiou a estruturação de uma proposta de instrumento de avaliação das condições de trabalho dos educadores considerando o uso do corpo. Assim, pode-se dizer que a organização do ambiente nas salas não oferece condições adequadas de

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ISSN 1679-5830

Disponível eletronicamente em www.revista-ped.unifei.edu.br

Revista P&D em Engenharia de Produção V. 07 N. 02 (2009) p. 39-50

Recebido em 21/11/2007. Aceito em 30/10/2009

ANÁLISE DAS POSTURAS DE TRABALHO DOS EDUCADORES DE

CRIANÇA NUMA PERSPECTIVA ERGONÔMICA

Adla Alves Alexandre

Mestre em Economia Doméstica

Universidade Federal de Viçosa

[email protected]

Simone Caldas Tavares Mafra

Professora do Departamento de Economia Doméstica

Universidade Federal de Viçosa

[email protected]

José de Fátima Juvêncio

Professor do Departamento de Educação Física

Universidade Federal de Viçosa

[email protected]

Maria de Lourdes Mattos Barreto

Professora do Departamento de Economia Doméstica

Universidade Federal de Viçosa

[email protected]

RESUMO

O objetivo do estudo foi analisar as posturas mais freqüentemente adotadas pelos educadores

na realização de suas atividades com crianças de 2 a 5 anos de idade. Foi realizado no

Laboratório de Desenvolvimento Infantil (LDI), localizado no Campus da Universidade

Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais, sendo a população de estudo os educadores da

sala-ambiente 3. Na coleta de dados utilizou-se observações das atividades, filmagens e

registro fotográfico. Os dados mostraram que as educadoras adotam posturas inadequadas

na realização destas, havendo necessidade de uma intervenção ergonômica neste sentido. A

análise dos dados obtidos subsidiou a estruturação de uma proposta de instrumento de

avaliação das condições de trabalho dos educadores considerando o uso do corpo. Assim,

pode-se dizer que a organização do ambiente nas salas não oferece condições adequadas de

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trabalho aos educadores, no que se refere à adoção de posturas laborais adequadas na

realização de determinadas atividades..

Palavras-chave: posturas, educadores, ergonomia.

ANALYSIS OF THE WORK POSITION OF CHILDREN’S EDUCATORS IN AN ERGONOMIC PERSPECTIVE

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the positions usually adopted by the educators on the

realization of their activities with children between 2 and 5 years of age. This current study

was carried out in the Infantile Development Laboratory (LDI), located in Federal University

of Viçosa Campus, in Viçosa, Minas Gerais, having like observation intruments the educators

of one room-environment, specifically the 3 room of the related laboratory. For the

realization of the data collection, had been used comments of the activities, recording and

register by photographs. The gotten data had shown that the educators adopt inadequate

positions during the realization of these activities, having necessity of an ergonomic

intervention in this direction. This way, it can be said that the organization of the environment

in the rooms does not offer adequate conditions of work to the educators, refering to the

adoption of adjusted labor positions in the realization of determined activities.

Keywords: positions, educators, ergonomy.

1. INTRODUÇÃO

Estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem da criança têm destacado a importância do espaço físico e arranjo espacial das salas em instituições de educação infantil, no que diz respeito ao tamanho, ou seja, proporcional à criança, assim como à maneira como os móveis e equipamentos são posicionados e relacionam-se entre si.

Para isto, o ambiente das salas deve ser organizado de acordo com os interesses e necessidades da criança de cada faixa etária; além disso, o mobiliário deve ser proporcional à altura das mesmas para que os diversos materiais estejam ao seu alcance. Porém, é importante ressaltar que, neste ambiente projetado para atender à criança convivem dois segmentos – a criança e o educador – e o espaço deve também proporcionar conforto e bem-estar ao educador para a realização do seu trabalho.

De acordo com Talmasky (1993), qualquer espaço de trabalho que tenha sido dimensionado sem considerar as características morfológicas da população usuária provoca reações inseguras no seu uso e na sua manipulação, o que favorece acidentes, muitos deles fatais. O dimensionamento incorreto pode provocar também danos físicos, alguns irreversíveis. Em cada processo projetual as dimensões e os movimentos do corpo humano são elementos determinantes da forma e do tamanho dos equipamentos, mobiliários e espaço. Ao se projetar deve-se conhecer as relações entre os segmentos corporais de um homem normal e qual é o espaço que estes necessitam para se deslocar para trabalhar ou para

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descansar em variadas posições (PANERO; ZELNIK, 2002). Ergonomicamente, os postos de trabalho devem ser adequados aos trabalhadores e, ou, aos indivíduos que utilizam o local.

Entretanto, existem muitos estudos como os de Elali (1999) e Paschoarelli et al. (1998), sobre a adequação do mobiliário infantil à criança em creches e pré-escolas, mas poucos em relação à adequação deste mesmo mobiliário e, ou, ambiente de trabalho ao educador para a realização de suas atividades. Neste contexto, problematiza-se que o fato de o trabalhador/educador atuar num ambiente projetado para atender às crianças poderá ocasionar problemas referentes à saúde, bem-estar, segurança e conforto, o que influenciará, diretamente, na sua qualidade de vida no trabalho e no seu cotidiano familiar como conseqüência.

2. OBJETIVOS

Analisar as posturas mais freqüentemente adotadas pelos educadores na realização de suas atividades na sala de atividades e de banho com crianças de 2 a 5 anos de idade.

Especificamente, pretende-se:

− Identificar as posturas mais freqüentemente adotadas pelos educadores na realização de suas atividades e obter as medidas antropométricas destes;

− Verificar as medidas e a disposição do mobiliário e equipamentos existentes na sala de atividades e sala de banho;

− Elaborar um instrumento de avaliação das condições de trabalho dos educadores, que atuam com crianças de 2 a 5 anos de idade, considerando para a avaliação, as atividades desenvolvidas nas salas-ambientes.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. O ambiente físico das salas em instituições de educação infantil

O programa de atendimento à criança deve prover um ambiente adequado, considerando os princípios teóricos, objetivos e filosofia do programa. Desse modo, a organização das salas, na educação infantil, em centros ou áreas de interesse fornece à criança uma diversidade de opções, e, portanto, a escolha por parte da mesma (FORNEIRO, 1998).

Segundo Santos et al. (2004), as áreas de interesse na sala-ambiente são divididas em:

− Área de brinquedo manipulativo: esta área tem o objetivo de desenvolver na criança, além da coordenação motora e criatividade, a percepção visual, linguagem, raciocínio lógico, memória e socialização. Quanto ao mobiliário, é composta por mesas e cadeiras e armário para guardar brinquedos e materiais diversos.

− Área de artes: proporciona o desenvolvimento da auto-expressão, a coordenação motora, criatividade e imaginação. Consiste de mesas e cadeiras, armários para guardar materiais e lugar para higienização das mãos.

− Área silenciosa: é uma área em que as crianças ouvem histórias de diversos tipos, possibilitando desenvolver vocabulário, seqüência de idéias, linguagem, curiosidade, imaginação, percepção visual, concentração, memória auditiva, conhecimento social e gosto pela leitura. É composta por estante para livros de histórias, espelho fixo à parede e tapete.

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− Área de blocos: o uso de blocos para construção possibilita a liberação da fantasia, a interação social, o desenvolvimento da autoconfiança e da segurança necessárias para a manipulação de outros materiais. Constitui-se de estantes para blocos de madeira e conjunto de blocos cujas formas e quantidades variam de acordo com a idade das crianças, além de tapete.

− Área de brinquedo dramático: representando a criança tem a oportunidade de liberar suas fantasias, lidar com seus conflitos afetivos, de conhecer a si mesma, as pessoas com quem convive, bem como os papéis que assumem. Esta área é composta por mobiliário representando os cômodos de uma “casa” em miniatura, como armário de roupas, cama, mesa e cadeiras, fogão, pia, geladeira, armários de cozinha, etc, e acessórios como bonecas, utensílios de cozinha, telefone, dentre outros.

− Área de ciências: proporciona a exploração de materiais, transformações físicas das substâncias, favorecendo o desenvolvimento do raciocínio, criatividade, autonomia, criticidade e conhecimento de mundo. É composta por mesas, cadeiras, estante e materiais diversos para experiências.

Com relação ao espaço destinado às salas-ambientes destinadas a agregar as áreas de interesse, a sala-ambiente para a faixa etária de três a seis anos de idade precisa ter, no mínimo, uma área de 2 m2 por criança (FERNANDES, s.d., apud SANTOS et al., 2004).

De acordo com a Resolução Nº 443, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), de 29 de maio de 2001, capítulo IV, artigo 16, os espaços internos deverão atender às diferentes funções da instituição de educação infantil e conter uma estrutura básica que contemple salas para atividades das crianças, com área de, no mínimo 1,50 m2 por criança, boa ventilação e iluminação, e visão para o ambiente externo, com mobiliário e equipamentos adequados.

Segundo Rizzo (2003), a sala-ambiente deve possuir estantes baixas para brinquedos; armários para materiais pedagógicos; cesta e cabides para material de dramatização livre; as mesas devem possuir 45 cm de altura, ser de material resistente e possuir cantos arredondados; as cadeiras devem oferecer boa estabilidade, possuindo 25 cm de altura. Em relação ao banheiro, o vaso sanitário deve possuir 25 cm de altura e a pia 45 cm; deve haver escaninhos ou prateleiras para guardar os objetos pessoais das crianças; o chuveiro com tubo flexível e temperatura regulável deve ser instalado em boxe, com altura do registro a 50 cm do chão, para oferecer conforto à posição do adulto.

Já Silva et al. (2006), em pesquisa com mobiliário escolar, estabelece parâmetros de medidas mínimas, médias e máximas, ou seja, percentis 5, 50 e 95%, respectivamente, em relação a itens do ambiente de pré-escolas. De acordo com o autor, as mesas para trabalho sentado devem possuir altura de no mínimo 36,45, média de 45 e, ou, de no máximo 53 cm; as cadeiras devem ser de 25,45; 30 e, ou, 35 cm. Para ambientes de higienização estabelece parâmetros de medidas mínimas e máximas, como por exemplo, o vaso sanitário deve possuir 25,45 e, ou, 35 cm; a pia 55 e 65 cm e a altura do registro para acionamento do chuveiro de 65 e, ou, 95 cm.

A ação do educador, dentro e fora da sala é influenciada pela filosofia do programa da instituição e pela faixa etária das crianças com quem atua. Desse modo, estes dois fatores estão intimamente ligados à atuação deste na realização das atividades com as crianças, bem como às dificuldades e, ou, facilidades que o mesmo terá para efetivá-las em seu ambiente de trabalho. Por isso, o ambiente precisa oferecer ao mesmo condições de trabalho eficientes, além de proporcionar o desenvolvimento da criança.

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3.2. Posturas de trabalho

No desenvolvimento dos diferentes cargos, funções e tarefas dos trabalhadores em ambientes de trabalho, o uso do corpo muitas vezes se torna indispensável considerando as atividades a serem realizadas. Ressalta-se que, o mau uso do corpo pela adoção de posturas inadequadas na realização do trabalho pode ocasionar problemas relativos à saúde, bem-estar e segurança do trabalhador. Por isto, a postura laboral é estudada para a prevenção de acidentes de trabalho, preservação da saúde, aumento da qualidade da produção e redução de riscos considerados, em alguns casos, irreversíveis para a saúde do homem (JUVÊNCIO; ULBRICHT, 2000).

O trabalho de professores do ensino fundamental, médio e superior exige um certo esforço físico, uma vez que seu trabalho necessita ser realizado quase em sua totalidade na posição em pé (AMADO, 2000). Segundo a autora, na atividade pedagógica dificilmente ocorrem acidentes de trabalho, mas os professores podem ter doenças que se manifestam ao longo dos anos de trabalho.

Nas situações em que os indivíduos passam a maior parte do tempo na posição sentada, a superfície de trabalho deve ficar na altura do cotovelo da pessoa sentada, de modo que o antebraço trabalhe paralelo à superfície. As pernas devem ser acomodadas dentro de um espaço sob a superfície de trabalho, de forma a permitir uma postura adequada, sem inclinar o corpo para frente (SANTANA, 1996).

Taube (2002) em seu estudo com bibliotecários no Paraná e Ulbricht (2003) com ordenhadores em Santa Catarina detectaram que o trabalho executado com as costas inclinadas e, ou, ”torcidas” por longos períodos de tempo gera constrangimento e sobrecarga na coluna vertebral podendo ocasionar dores nas costas, ombros e pescoço. A posição de cócoras pode gerar desconforto e dores nos quadris e joelhos.

A postura, quando mantida por boa parte do tempo de trabalho, numa posição desfavorável pode ser considerada a grande causadora de distúrbios na coluna, dores no corpo, DORT, dentre outras. Para Grandjean (1998), é imprescindível a adaptação do local de trabalho às medidas do corpo humano considerando as posturas naturais do corpo – posições corretas do tronco, braços e pernas. Um exemplo desta situação são os espaços de trabalho informatizados que exigem posturas rígidas do corpo durante longos períodos e a disponibilização dos membros superiores para realizar a comunicação necessária com o sistema informatizado podendo causar conseqüências ao nível do custo humano (ALEXANDRE; MAFRA, 2004).

Dado a este fato, Taube (2002) descreve que os princípios mais importantes da biomecânica para a ergonomia são acomodar as estruturas corporais de forma a minimizar as conseqüências que estas sofrem devido à má utilização. O autor ressalta que as articulações devem ocupar uma posição neutra; conservar pesos próximos ao corpo; evitar curvar-se para frente; evitar inclinar a cabeça; evitar torções de tronco e movimentos bruscos que produzem picos de tensão; alternar posturas e movimentos; restringir a duração do esforço muscular contínuo; prevenir a exaustão muscular e optar por pausas curtas e freqüentes.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1. Descrição dos sujeitos e situação de pesquisa

A presente pesquisa foi realizada no Laboratório de Desenvolvimento Infantil (LDI), do Departamento de Economia Doméstica, localizado no Campus da Universidade Federal de

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Viçosa (UFV), em Viçosa, Minas Gerais. Os sujeitos deste estudo foram os educadores da sala 3, sendo uma auxiliar pedagógica e duas auxiliares de sala (chamadas de 1 e 2), em suas situações de trabalho, ou seja, na realização das atividades pertinentes ao cuidado e educação das crianças.

4.2. Procedimentos para a coleta de dados

O estudo foi idealizado e realizado em dois momentos. O primeiro momento compreendeu um estudo exploratório no período de setembro a novembro de 2005, por meio do qual foram determinadas as variáveis analisadas a campo e a sala-ambiente da instituição cujo estudo de caso foi desenvolvido. O desenvolvimento deste constituiu-se de filmagens em VHS do período integral de trabalho dos educadores (auxiliares pedagógicos e auxiliares de sala) das salas 2, 3 e 4 do LDI. Em cada sala-ambiente foram realizadas filmagens de adaptação com o equipamento em duas sessões de 60 minutos.

Num segundo momento foi realizada a coleta dos dados, ocorrendo no período de julho a outubro de 2006. Foram realizadas observações da situação de trabalho dos educadores, ou seja, a observações in loco objetivando identificar as posturas adotadas durante a realização do trabalho, utilizando-se de filmagens e registro por fotografias. Foram realizadas 3 filmagens de adaptação com o equipamento, variando de 60 a 120 minutos. As filmagens definitivas realizadas no período de 14/08 a 27/10/2006, em horários estabelecidos de acordo com o período de trabalho de cada educador, sendo este observado em 2 dias da semana considerados mais críticos, no princípio (segunda-feira) e no término (sexta-feira), dando um total de 40 horas de filmagens. As filmagens foram realizadas durante o período de trabalho dos educadores, sendo que cada educador foi filmado separadamente em seu horário de trabalho na instituição estudada.

4.3. O método OWAS

OWAS é um método para a avaliação da carga postural durante o trabalho. O método de OWAS é baseado em uma classificação considerada simples, mas sistematizada das posturas de trabalho combinadas com as observações de tarefas de trabalho (FIEDLER, 2003).

É um estudo analítico das posturas laborais objetivando mudanças nos métodos de trabalho conduzindo a melhores posturas. O OWAS é dividido dentro de dois pequenos estudos que se diferenciam em termos de processo de pesquisa usada, estudo OWAS básico e específico.

No estudo OWAS básico há 252 tipos de posturas completas de trabalho, combinando-se os segmentos costas, braços, pernas e peso. Observa-se separadamente:

− 4 posições das costas: 1 - reta; 2 - inclinada para frente ou para trás; 3 - torta ou rodada para o lado e 4 - inclinada e torta ou inclinada para frente e de lado.

− 3 posições de braços: 1 - ambos abaixo do nível do ombro; 2 - um acima do nível do ombro e 3 - ambos acima do nível do ombro.

− 7 posições de pernas: 1 - sentado; 2 - em pé, exercendo força em ambas as pernas; 3 - em pé, exercendo força em uma única perna; 4 - em pé, ou abaixado em ambos os pés, com as pernas flexionadas; 5 - em pé, ou abaixado com um pé e perna articulada; 6 - ajoelhado com um ou ambos os joelhos e 7 - andando ou movimentando.

− 3 categorias de peso ou resistências: 1 - menor ou igual a 10 Kg; 2 - maior que 10 Kg, menor ou igual a 20 Kg e 3 - maior que 20 Kg.

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O Manual WinOWAS (s.d) sugere que as posturas completas são numeradas no sistema OWAS básico da seguinte forma:

− O 1º dígito indique a postura das costas;

− O 2º dígito indica a postura dos braços;

− O 3º dígito indica posturas das pernas;

− O 4º dígito indica uma carga externa ou esforço solicitado.

O resultado da avaliação de esforço pela postura tem sido convertido dentro de categorias de ação. Existem 4 categorias de ação adequadas (MANUAL WinOWAS, s.d.):

− Categoria de ação 1: A postura completa é normal, não é necessário ação. Estas posturas são codificadas em branco.

− Categoria de ação 2: O esforço imposto pela postura completa é de alguma importância. Uma postura de trabalho melhor deveria ser procurada num futuro próximo. Estas posturas são codificadas em verde.

− Categoria de ação 3: O esforço imposto por uma postura completa é importante. Uma postura de trabalho melhor precisaria ser procurada o mais rápido possível. Estas posturas são codificadas em azul.

− Categoria de ação 4: O esforço imposto por uma postura completa é de grande importância. Uma postura melhor de trabalho precisa ser encontrada imediatamente. Estas posturas são codificadas em vermelho.

A categoria de ação significa a ordem de urgência para intervenção médica. Elas também mostram qual postura não oferece risco. Cada postura completa é colorida de acordo com a categoria de ação dela. Definindo a categoria de ação, o resumo da investigação é possível para ver qual postura de trabalho precisa atenção e em que ordem, bem como as posturas são aceitáveis (MANUAL WinOWAS, s.d.).

A limitação fundamental do método OWAS é, segundo Corlett (1995, apud TAUBE, 2002), a avaliação postural ser extensa e as estimações de forças serem, igualmente, divididas em categorias extensas. Da mesma forma as vantagens fundamentais do método são: fornecer uma rápida identificação da maioria das principais posturas inadequadas adotadas pelo trabalhador durante a execução do trabalho e aplicação e utilização por pessoal que não precise de amplos conhecimentos de ergonomia.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Identificação das posturas laborais e variáveis antropométricas

De acordo com os dados encontrados pôde-se observar que as educadoras passam um período maior de tempo na posição sentada (59,75%). Isso se dá pelo fato de grande parte das atividades serem realizadas nessa posição, ou seja, atividades na área de brinquedo manipulativo e artes, como jogos em grupo, desenho, modelagem; na área de blocos, como construções com blocos de madeira; na área silenciosa, como histórias; além das refeições,

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que são num total de 4 por dia. Estes dados mostram que as condições de trabalho para o profissional de educação infantil se diferencia das outras etapas de ensino, considerando as posturas corporais que os educadores adotam.

A segunda postura mais freqüente para as educadoras é a posição em pé (36,97%), adotada nas atividades de apoio à criança, no banho, na arrumação da sala antes e depois das atividades e higienização da sala após as refeições. Considerando este dado, faz-se necessário salientar que a auxiliar de sala 1 é que permanece maior parte do tempo em pé (36,81%), em função do banho das crianças ser realizado nessa posição.

A posição ajoelhada ou agachada é utilizada por um período de tempo menor (3,27%), pois as educadoras adotam essa posição apenas para falar com as crianças, pegar ou guardar algum objeto nos armários e, ou, escaninhos (ver Quadro 1). Embora permaneçam nesta posição por breves períodos de tempo, o movimento de agachar/levantar e/ou ajoelhar/levantar ocorre com freqüência e durante o período de trabalho. No entanto, a auxiliar de sala 2 passa maior período de tempo nessa posição (50,0%), visto que na situação que envolve o descanso das crianças a adoção desta postura se faz necessária para apoiá-las ao calçar o sapato, pentear o cabelo e dobrar a roupa de cama, uma vez que estas atividades são de responsabilidade da mesma.

Quadro 1 – Síntese dos dados em relação à posturas adotadas, tempo de permanência, atividade e implicações para a saúde do indivíduo.

Postura Tempo de

permanência (%) Atividades

Implicações para saúde do

indivíduo

Sentada 59,7 Jogos em grupo, refeições,

artes, dentre outras.

Constrangimento na coluna vertebral, sobrecarga nas articulações do

quadril, causando dor e degeneração articular.

De pé 36,97 Banho, arrumação e higienização da sala.

Risco para o sistema músculo-esquelético e, em particular, para a

coluna vertebral.

Ajoelhada/agachada

3,27 Falar com as crianças,

guardar objetos nos armários e escaninhos.

Pressão na articulação do joelho e circulação sanguínea prejudicada.

Fonte: Dados de pesquisa.

As atividades exercidas pelas educadoras, de acordo com o que foi observado, foram divididas em fases de trabalho, sendo analisada a postura adotada em cada fase. Foram selecionadas 40 posturas, sendo estas analisadas por meio do método OWAS levando-se em consideração as variações das costas, braços, pernas e peso, apontando as posturas inadequadas adotadas pelas educadoras na execução das atividades e gerando recomendações de ações, por meio das categorias de ação.

Fez-se a divisão das fases de trabalho de cada educador separadamente, de acordo com as atividades exercidas. A primeira atividade analisada foi o banho, executado pela auxiliar de sala 1, sendo que as principais posturas adotadas são mostradas nas figuras a seguir.

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Figura 1 – Apoio à criança para entrar na cuba Figura 2 – Manuseio da roupa de banho

Figura 3 – Auxílio à criança para vestir a roupa Figura 4 – Manuseio da escada de apoio

Pôde-se observar que 40% posturas estão na categoria 1 (Figura 1); 40% se enquadram na categoria 2 (Figura 2 e 3); 10% estão na categoria 3 e 10% estão na categoria 4 (Figura 4).

O programa indicou sobrecarga para as costas e pernas na categoria 2 nessas atividades. A sobrecarga nas costas se dá porque a educadora passa 30% do tempo inclinada e 20% do tempo inclinada e, ou, "torcida". Em relação às pernas, a sobrecarga é devido ao fato de que para realizar atividades como o auxílio à criança para vestir a roupa, o manuseio de roupas no escaninho e o manuseio da escada de apoio, a educadora adota a posição com os dois joelhos flexionados, representam 40% do tempo total de trabalho.

As demais atividades analisadas foram: organização de roupas de banho no varal e roupas de cama no armário; realização de atividades nas mesas dentro da sala-ambiente, como refeição, jogos, dentre outras.

Nas atividades de organização das roupas de banho no varal e roupas de cama no armário houve predominância da postura em pé, com ambos os braços acima do nível do ombro, estando na categoria 1. Já nas atividades de mesa, houve predominância da postura sentada. O programa indicou sobrecarga nas costas e braços, pois a educadora passava 50% do tempo de trabalho com as costas inclinadas e inclinadas e, ou, “torcidas”. Para os braços, passava 33% do tempo com os mesmos acima do nível do ombro. Tais fatores exigem ações recomendadas na categoria 2.

Para a auxiliar de sala 2 foram analisadas atividades na área silenciosa; nas mesas; na organização de blocos e dos objetos pessoais das crianças e na higienização do ambiente da sala.

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Figura 5 – Atividades nas mesas com as crianças Figura 6 – Organização dos objetos pessoais das crianças para a saída

O programa WinOwas demonstrou que 88% posturas estão na categoria 2 (Figuras 5 e 6) e apenas 13%, se enquadra na categoria 1. Pôde-se observar que o programa indicou maior sobrecarga nas costas na categoria 2, pois a educadora permanecia 75% do tempo de trabalho com as costas inclinadas.

Nas observações da auxiliar pedagógica as atividades relacionadas com a refeição foram organizadas em fases e inseridas no programa WinOWAS gerando os resultados.

Nas observações da auxiliar pedagógica as atividades relacionadas com a refeição foram organizadas em fases e inseridas no programa WinOWAS gerando os resultados.

Estes demonstraram que 60% das posturas estão na categoria 1 (Figura 7) e 50% estão na categoria 2 (Figura 8). Observou-se que o programa indicou maior sobrecarga nas costas na categoria 2, pois a educadora passava 40% do tempo de trabalho com as costas inclinadas.

Figura 7 – Preparação da sobremesa (frutas) Figura 8 – Supervisão da refeição

Outras atividades como a organização do ambiente e a realização de atividades nas áreas de interesse também foram analisadas. Observou-se que 83% das posturas se encaixam na categoria 2, enquanto 17% se encaixam na categoria 3. O programa indicou sobrecarga para as costas na categoria 3, pois a educadora permanecia 100% do tempo com as costas inclinadas. Para as pernas na categoria 2, pois permanecia 17% do tempo com as mesmas flexionadas.

Por fim, as últimas posturas analisadas foram relacionadas com a organização da sala-ambiente para o descanso das crianças após o almoço. Pôde-se notar que 40% das posturas se enquadram na categoria 1; 20% se enquadram na categoria 2 e outros 40% se enquadram na categoria 3. O programa WinOWAS indicou sobrecarga para as costas e pernas na categoria 2. Para as costas, devido ao fato de que a educadora passava 40% do tempo inclinada e 20% do tempo inclinada e, ou, “torcida”. Quanto às pernas, a educadora passava 20% do tempo com ambas flexionadas.

De um modo geral, pôde-se observar, de acordo com o programa WinOWAS, que dentre as 40 posturas analisadas, 32,5% se encaixam na categoria 1; 55% posturas na

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categoria 2; 10% na categoria 3 e apenas 2,5% na categoria 4 (ver Quadro 2). Houve maior sobrecarga no segmento costas devido à inclinação e, ou, torção e no segmento pernas devido à flexão dos joelhos, na categoria 2. Nesta categoria, geralmente as posturas são com as costas eretas e o esforço com os braços e as pernas são considerados moderados. Entretanto, quando há junção dessas duas posturas – costas/pernas mais algum agravante como carregamento de peso – o programa indica enquadramento nas categorias 3 ou 4. Isso pode ser visto na Figura 3 que se enquadra na categoria 4, onde a educadora assume a postura com as costas inclinadas e, ou, “torcidas”, joelhos flexionados e carregamento de peso.

Quadro 2 – Síntese dos dados em relação à porcentagem das posturas analisadas, o enquadramento na categoria segundo o método OWAS e as medidas a serem tomadas.

Posturas

analisadas (%) Categoria (OWAS) Medidas a serem tomadas

32,5 1 Não é necessária uma ação.

55 2 Uma postura de trabalho melhor deveria ser procurada num

futuro próximo.

10 3 Uma postura de trabalho melhor precisaria ser procurada o

mais rápido possível.

2,5 4 Uma postura de trabalho melhor precisaria ser encontrada

imediatamente.

Fonte: Dados de pesquisa.

Segundo Ulbricht (2003), o trabalho com as costas inclinadas representa uma sobrecarga porque, segundo o manual OWAS, aumentando a curvatura da coluna, aumenta também a pressão nos discos intervertebrais. O trabalho com desvio lateral nas costas, ou seja, costas “torcidas”, gera uma sobrecarga adicional nos discos intervertebrais, ligamentos e músculos. Com a flexão dos joelhos, ocorre um incremento da pressão na articulação do joelho e a pressão nas superfícies desta articulação é distribuída assimetricamente; ao mesmo tempo em que a circulação sangüínea encontra-se prejudicada.

De acordo com os resultados obtidos, pôde-se observar que as posturas adotadas pelas educadoras podem causar dores, fadiga e estresse. Isso se deve, em parte, à conformação do ambiente da sala, mas também em função da manutenção de posturas inadequadas pelas educadoras. Pôde-se observar que sendo o mobiliário adequado ao tamanho das crianças; as educadoras devem se adaptar a ele para utilização no decorrer da rotina de trabalho. Devido a isto a adoção de posturas com inclinações das costas para frente na posição em pé e, ou, agachada e flexão dos joelhos é constante.

As medidas antropométricas das educadoras foram mensuradas levando-se em consideração as atividades executadas por elas na sala-ambiente, totalizando 10 medidas. As medidas de um corpo adulto justificam a constante inclinação das costas e flexão dos joelhos das educadoras para a realização das atividades no ambiente da sala, quando este é na sua totalidade adaptado às medidas das crianças.

Dentre as medidas antropométricas mensuradas das educadoras, pode-se dizer que poucas têm aplicação com o ambiente estudado. É o caso de estatura, alcance vertical de preensão, altura de cotovelos e profundidade máxima do corpo. As demais, no caso da sala de atividades 3, não têm aplicação por este ser adaptado às medidas antropométricas de crianças, desconsiderando as do adulto.

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Mafra (1995) afirma que o conhecimento das medidas do corpo humano proporciona subsídios para buscar maior sucesso na interação entre os usuários e o espaço. Uma vez que o educador também é usuário do espaço da sala de atividades, o fato de suas medidas serem desconsideradas no dimensionamento do espaço de trabalho contraria o pressuposto de que para se ter um ambiente que favoreça a saúde física e mental do trabalhador é preciso que se conheçam suas medidas antropométricas.

5.2. A sala-ambiente 3, suas medidas e disposição do mobiliário

A sala-ambiente 3 foi organizada de modo a proporcionar o desenvolvimento integral da criança, de acordo com a proposta pedagógica do LDI. Está dividida em sala de atividades e sala de banho. A sala de atividades é dividida em áreas de interesse que se apresentam claramente definidas, todo equipamento e mobiliário é proporcional ao tamanho das crianças e estão dispostos de modo a facilitar a utilização pelas mesmas (ver Figura 12).

A sala de atividades possui, aproximadamente, 36 m2, sendo o ambiente considerado espaçoso, ventilado e bem iluminado. Considerando-se este espaço e o número de crianças atendidas na sala 3, ou seja, 13 crianças, pode-se dizer que este está adequado segundo as recomendações da Resolução Nº 443 (SEE – MG) que define 1,50 m2 por criança. E também, segundo as afirmações de Fernandes (s.d., apud SANTOS et al., 2004) – 2 m2. Vale ressaltar que há 15 vagas para crianças na sala 3, portanto a proporção é de 2,4 m2 por criança. As áreas de interesse descritas por Santos et al. (2004), podem ser visualizadas nas figuras 9 a 11:

Figura 9 – Vista Parcial da área de brinquedo manipulativo e artes, de blocos e brinquedo dramático

Figura 10 – Vista parcial da área de brinquedo dramático

Figura 11 – Vista parcial da área de ciências

A sala de banho possui armários para colchões e roupas de cama, escaninho para

guardar os objetos pessoais das crianças, pia, vasos sanitários e cuba onde é realizada a atividade do banho das crianças. A configuração da referida sala, como mencionado anteriormente, gera a insatisfação com a atividade realizada, bem como o desgaste e constrangimento físico relatado durante a análise dos dados conseguidos a partir do programa WinOWAS.

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Figura 12 - Planta-baixa da sala 3 em escala de 1:50.

Fonte: Elaborado pelos autores

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As medidas de altura de mesas (60 cm) se diferem das recomendadas por Rizzo (2003) e Silva et al. (2006). Para as cadeiras (30 cm), as medidas se diferem das recomendadas por Rizzo (2003, entretanto, se adequam às de Silva et al. (2006). Na sala em estudo, alguns móveis possuem “quinas vivas”, esta característica não deve ser evidenciada, visto que a sua presença pode gerar acidentes aos usuários, como enfatizado por Rizzo (2003).

No que se refere à sala de banho, as medidas dos vasos sanitários (30 cm) se diferem da recomendada por Rizzo (2003) e por Silva et al. (2006); para a pia (65 cm), se difere da recomendada por Rizzo (2003), mas se adequa às de Silva et al. (2006).

Rizzo (2003) afirma que deve haver chuveiro com tubo flexível e temperatura regulável instalado em boxe com registro a 50 cm do chão, para oferecer conforto à posição do adulto. Entretanto, na sala em estudo, o banho é realizado na cuba, o que dificulta a realização da atividade e oferece risco de acidente à criança e desconforto ao adulto.

Pôde-se observar que sendo o mobiliário adequado ao tamanho das crianças; as educadoras devem se adaptar a ele para utilização no decorrer da rotina de trabalho. Desta forma, a adoção de posturas com inclinações das costas para frente na posição em pé e, ou, agachada e flexão dos joelhos é constante.

A altura da bancada onde está o escaninho é adequada ao adulto (1,00 m), embora esteja acima do recomendado por Pekkarin e Anttonen (1988, apud SANTANA, 1996). De acordo com as medidas de cotovelo das educadoras, a altura ótima para bancadas de trabalho seria em torno de 90 cm.

A bancada é utilizada como apoio para organizar os objetos pessoais das crianças no escaninho, para organizar a roupa de cama e, ou, para fazer alguma anotação. As educadoras também utilizam a meia parede (1,15 m) como bancada para fazer anotações e, ou, apoio às atividades, visto que estas se adequam mais à altura das mesmas, bem como reduz a manutenção de posturas inadequadas na realização dessas atividades, pois as demais precisam ser realizadas com freqüência e nas diferentes áreas de interesse da sala 3.

5.3. Proposta de instrumento de avaliação das condições de trabalho dos educadores que atuam com crianças de 2 a 5 anos de idade

A análise dos dados revelou que o ambiente estudado não proporciona condições de trabalho adequadas ao educador, no que se refere à adoção de posturas corretas na realização das atividades, e subsidiou a estruturação de uma proposta de modelo de avaliação das condições de trabalho dos educadores de crianças de 2 a 5 anos de idade

A proposta apresentada considerou para sua estruturação os dados conseguidos a campo, por meio de observações in loco e registro fotográfico, no que se refere ao uso do corpo pelas educadoras na realização das atividades com as crianças na sala-ambiente. O uso desse modelo poderá proporcionar a avaliação de outras salas-ambientes, objetivando verificar se essas estão em conformidade ou não para o trabalhador.

Buscando nessa avaliação verificar se os indivíduos estão suscetíveis a problemas de saúde em função das condições de trabalho onde desenvolvem suas atividades, foi proposto um modelo constituído por três fichas de observação: representação das posturas adotadas durante a execução do trabalho; relação das posturas corporais adotadas nas diferentes áreas de interesse e o tempo de permanência; e freqüência de comportamentos (Figuras 13 a 15). Vale ressaltar que este modelo pode ser utilizado em outras situações de trabalho onde posturas semelhantes são adotadas pelos trabalhadores, como por exemplo, o trabalho em escritórios.

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A ficha de observação 1, como pode ser vista na Figura 13, objetiva identificar a postura adotada na realização das atividades realizadas na sala-ambiente, a fim de observar a posição dos segmentos corporais durante a adoção de determinada postura. Os segmentos a serem observados são costas e pernas, sendo estes os que sofrem maiores constrangimentos, considerando os dados do estudo de caso realizado no LDI.

As figuras representativas de posturas na ficha de observação 1 foram conseguidas no livro de Santos e Fialho (1997), excetuando-se as da Posição em pé, Posição pernas/tronco e Inclinação do busto (posição “torcida”). Essas posturas foram acrescentadas às dos autores, devido à conformação e à incidência destas na realização das atividades no ambiente de trabalho estudado.

Figura 13 - Ficha de observação 1 para identificação das posturas adotadas na realização das atividades.

Fonte: Santos e Fialho (1997).

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A utilização da ficha de observação 1 pode ser exemplificada a seguir (ver Figura 4) baseada em registro fotográfico.

Posição em pé Com as costas inclinadas e “torcidas”.

Posição pernas/tronco -

Posição do fêmur -

Posição do tronco -

Posição das pernas -

Curvatura da coluna vertebral -

Inclinação do busto -

Figura 14: Ficha de observação 2 para especificação das posturas nas diferentes áreas de interesse e a atividade realizada.

A ficha de observação 2, como pode ser vista na Figura 14, objetiva identificar quais as posturas adotadas nas diferentes áreas de interesse, o tempo de permanência em cada uma delas e as atividades pertinentes a elas, a fim de identificar qual (s) postura (s) prevalece (m), em termos de tempo, no sentido de indicar medidas de prevenção e, ou, de sua correção para maior conforto dos indivíduos e, conseqüentemente, redução de prejuízos à saúde.

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Figura 15 - Ficha de observação 3 para verificação da freqüência de comportamentos com o corpo e a atividade realizada.

A ficha de observação 3 (Figura 15) objetiva identificar a freqüência de comportamentos na utilização do corpo por parte das educadoras, classificando-os em escalas de MF (muito freqüentemente), F (freqüentemente), A (algumas vezes), R (raramente) e MR (muito raramente). Os resultados obtidos levarão à identificação dos comportamentos mais freqüentes, ou seja, movimentos relativos à utilização do corpo como flexão dos joelhos, inclinação e, ou, torção das costas, levantamento de braços, quantidade de levantamentos e, ou, abaixamentos, dentre outros, podendo-se fazer uma possível correção dos comportamentos prejudiciais aos indivíduos observados.

As fichas devem ser aplicadas durante as observações das atividades pedagógicas realizadas na sala-ambiente, enfocando-se o uso do corpo pelas educadoras. Na ficha 1 deve-se marcar a (s) postura (s) evidenciada (s) em cada conjunto de posições, podendo ser realizada em função da atividade observada. Na ficha 2 deve-se marcar a postura adotada em

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cada área de interesse, determinando o tempo de permanência e especificando a atividade realizada em cada área específica. O tempo de permanência pode ser mensurado no momento presente, durante as observações in loco, ou, posteriormente, por meio de filmagens. Na ficha 3 devem-se anotar os comportamentos adotados, marcando-se a freqüência destes, especificando a atividade realizada. As fichas de observação 2 e 3 devem ser utilizadas a fim de obter os dados necessários para avaliar as condições de trabalho de determinada situação.

A inexistência de instrumentos de avaliação específicos para o ambiente da sala em educação infantil faz com que não se conheçam as condições reais de trabalho a que o trabalhador/educador está submetido. Este instrumento se faz necessário devido ao ambiente e às condições de trabalho em que os educadores estão inseridos, uma vez que todo este é planejado para a criança, e o educador é quem deve se adaptar. De acordo com o estudo, pôde-se verificar que o educador se adapta e o faz de forma inadequada, o que pode prejudicar a saúde, o bem-estar, a segurança e a qualidade de vida no trabalho. Dessa forma, o instrumento vem contribuir no sentido de verificar as possíveis inadequações das condições de trabalho dos educadores, no que se refere ao uso do corpo, e, conseqüentemente, proporcionar-lhe maior qualidade de vida no trabalho.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que o ambiente das salas de atividades nos diversos níveis de ensino vem sendo pouco estudado sob o ponto de vista ergonômico. Entretanto, estudos vêm sendo desenvolvidos e se mostrando indispensáveis para que possibilite uma adequação destes postos de trabalhos aos usuários a fim de propiciar um trabalho de qualidade e que a partir desse trabalho ele possa ter acesso ao bem-estar social e qualidade de vida enquanto indivíduo e à sua família, e, conseqüentemente ao próprio trabalho.

Na identificação e análise das posturas mais freqüentemente adotadas pelas educadoras na realização de suas atividades, por meio do método OWAS, foi observado que dentre as 40 posturas analisadas, 32,5% se encaixam na categoria 1; 55% posturas na categoria 2; 10% na categoria 3 e apenas 2,5% na categoria 4, ou seja, 67,5% do total necessitam de intervenção ergonômica, portanto comprova-se que as condições de trabalho e as posturas adotadas pelos trabalhadores são fatores de riscos que podem provocar distúrbios músculo-esqueléticos e, por conseguinte afetação a saúde dos trabalhadores.

As posturas adotadas pelas educadoras na execução das atividades se referem às constantes inclinações das costas e flexão dos joelhos, estas geram constrangimentos para costas e pernas nas categorias 2 e 3. Estas inclinações das costas podem provocar problemas em relação à coluna vertebral. Contudo, pode-se dizer que a organização do ambiente nas salas não oferece condições adequadas de trabalho aos educadores, no que se refere à adoção de posturas laborais adequadas na realização de determinadas atividades.

Ao se obter as medidas antropométricas das educadoras e verificar as medidas e a disposição do mobiliário e equipamentos existentes na sala de atividades e sala de banho, pôde-se observar que num mobiliário adaptado à criança, o adulto pode ter dificuldades em relação à realização de determinadas atividades tendo que se abaixar constantemente e fazendo-o de forma inadequada. A cuba, onde é realizada a higienização das crianças, é o equipamento que mais causa prejuízo à manutenção de posturas adequadas à educadora que realiza esta atividade, além de oferecer riscos à criança. Nesse caso, se faz necessária uma intervenção na estrutura do ambiente físico da sala de banho com a implantação de um boxe adaptado para garantir maior conforto e maior segurança e autonomia à criança e ao adulto.

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Nesse sentido, é importante ressaltar que há grande variedade de aspectos a serem considerados no planejamento de um ambiente. Neste estudo, a análise dos dados referentes ao uso do corpo na realização da tarefa pelas educadoras subsidiou a estruturação de uma proposta de instrumento de avaliação das condições de trabalho dos educadores de crianças de 2 a 5 anos de idade. Este é composto por fichas de observação relacionando-se as posturas corporais adotadas nas diferentes áreas de interesse; as posturas e o tempo de permanência, a freqüência de comportamentos e a representação das posturas adotadas durante a execução do trabalho. Acredita-se que o uso deste instrumento permitirá a observação e avaliação das posturas laborais adotadas a fim de se obter adequações necessárias à preservação da saúde, bem-estar, segurança e conforto dos educadores de criança em instituições de Educação Infantil.

A proposta inicial apresentada já permite sinalizar que é necessária uma revisão dos ambientes na educação infantil e, ou, das posturas laborais que o adulto adota na realização das atividades num ambiente totalmente planejado para a criança. Dessa forma, levanta-se a questão do que se pode mudar no ambiente das salas para crianças de 2 a 5 anos de idade para proporcionar melhores condições de trabalho ao educador e o que deve ser relevante no planejamento de um mesmo espaço onde convivem a criança e o adulto. Deve-se mudar o ambiente ou o ser humano?

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