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i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS, DA TERRA E DO MAR MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL ANÁLISE DAS INTERAÇÕES DE CETÁCEOS E A PESCARIA DE EMALHE DA FROTA INDUSTRIAL DE SANTA CATARINA Ana Paula Cordeiro Itajaí, 25 de junho, 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS, DA TERRA E DO MAR

MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

ANÁLISE DAS INTERAÇÕES DE CETÁCEOS E A

PESCARIA DE EMALHE DA FROTA INDUSTRIAL DE

SANTA CATARINA

Ana Paula Cordeiro

Itajaí, 25 de junho, 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS, DA TERRA E DO MAR

MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

ANÁLISE DAS INTERAÇÕES DE CETÁCEOS E A

PESCARIA DE EMALHE DA FROTA INDUSTRIAL DE

SANTA CATARINA

Dissertação apresentada à

Universidade Vale do Itajaí,

como parte das exigências

para obtenção do título de

Mestre em Ciências e

Tecnologia Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. André Silva Barreto

Itajaí, 25 de junho, 2008.

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ANÁLISE DAS INTERAÇÕES DE CETÁCEOS E A PESCARIA DE EMALHE

DA FROTA INDUSTRIAL DE SANTA CATARINA

ANA PAULA CORDEIRO

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em

Ciência e Tecnologia Ambiental, e aprovada em forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí.

__________________________________________ André Silva Barreto, Doutor

Orientador

__________________________________________ Claudemir Marcos Radetski, Doutor

Coordenador do Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental

Apresentado perante a banca examinadora composta pelos professores:

___________________________________________ Profº Dr. André Silva Barreto - UNIVALI

Presidente

___________________________________________ Profº Dr. Paulo Ricardo Schwingel

Membro

____________________________________________ Profº Dr. Emygdio Leite Araújo Monteiro-Filho – UFPR

Membro

Itajaí (SC), 25 de junho de 2008

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Aos meus Pais, por toda a paciência,

compreensão e incentivo sempre !!!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, em especial ao meu Pai Thiophilo Cordeiro Neto e minha

Mãe Soeli Terezinha Cordeiro, pelo apoio, confiança e por todo aprendizado sobre a vida desde que me

conheço por gente. Sempre exemplos de perseverança, honestidade, clareza de percepções e alegria.

Agradeço as minhas irmãs Maria e Alice, os seres mais pacientes e iluminados, sempre

escutando meus lamentos e anseios, com respostas rápidas que nunca me deixaram baixar a cabeça.

Ao meu orientador Dr. André Silva Barreto pela confiaça em aceitar a minha orientação, e

pela ajuda na minha tese.

Ao Dr. Emygdio Leite de Araujo Monteiro Filho, pela orientação, apoio e incentivo desde

os períodos de graduação, pelo gosto e entusiamo adquiridos em estudar os cetáceos.

Aos melhores amigos do mundo, meus amigos do coração os quais me ajudaram desde o

início a construção desta tese, especialmente Paty e Cami, meus 2 “braços direitos”, sempre muito

pacientes, ouvintes e observadoras deste processo. Eu me sinto previlegiada em dizer, que não teria

conseguido sem o suporte emocional do Ro meu “irmão”, GioE meu vizinho sempre ouvinte, Bruna,

Tamy, Marise e família, Marco, e toda nossa “Comunidade Feliz Praia dos Amores” com todo o alto

astral de nosso ambiente, que me motivou sempre, em especial aos meus gatos Lenny e Thullah

companheiros para todas as horas, e é claro, Linda, Jimmy, Zion e Bruno, sempre me fazendo sorrir nas

horas difíceis.

Um agradecimento especial a Camila Ribeiro que desde o início me apoiou, discutiu,

corrigiu e me “aguentou” na nossa vida embarcada, foi uma irmã, amiga, ouvinte, uma santa. Santa Cami,

agradeço pela oportunidade de me apresentar á sísmica, e pelas ricas discussões científicas e emocionais

ao longo de todos esses dias como minha “companheira de sofrimento” a bordo dos navios offshore.

Agradeço de todo meu coração aos amigos do GEP, Irene amiga querida, Rodrigo

Claudino, Adalberto, Luis e Eurides, por todas as risadas embarcada na “kombi maluca”, entre entrevistas

e desabafos, nosso campo sempre foi motivo de entusiamos até nos dias mais chuvosos e frios, e nos dias

“mal cheirosos” voltando de entrevistas e medições de peixes no cais do porto. Agradeço especialmente

ao Adalberto e Rodrigo Claudino pela ajuda com a informática, estatística e também ao Professor

Pezzuto, pelos mapas gentilmente cedidos.

Ao pessoal do LOB, Rodrigo Dallagnolo e Ludmilla pelas conversas, ajuda, sugestões e

críticas sobre a tese. Agradeço também ao Maicon pela ajuda com os “números”.

Agardecimento especial ao Ronnie e Paty, pela ajuda com a formatação.

Ao Dr. Paulo Ricardo Pezzuto, pelas saídas a campo acompanhando o GEP.

A tripulação do navio Soloncy Moura pelos primeiros embarques, em especial á Seu Pedro,

por todas as conversas e dicas, inclusive na ajuda às entrevistas. Agradeço ao Fernando Fiedler pelas

dicas, embarques, conversas , e pela amizade sempre.

Ao Sr. Peninha por todo apoio e entrevistas concedidas.

Ao Sr. Kotas pelas dicas e amizade, pelo campo junto ao IBAMA, na coleta de dados.

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A tripulação do navio Frotargentina, por acompanhar parte do processo, em especial ao

Fábio pelo apoio e amizade.

A tripulação dos navios CGG Laurentian e CGG Amadeus, por terem acompanhado todo o

processo, sempre me incentivando nos momentos difíceis, pelo apoio e visão crítica obtida das mais

diferentes nacionalidades, em especial ao Yannick pelas cartas náuticas e softwares, ao Abel pela

tradução dos guias de softwares, a ao Pasha e Thomas e suas experiências fantásticas com pesca ao redor

do mundo.

Ao Tadeu pelo fornecimento das cartas náuticas.

Aos estagiários Gabriel, Christopher pela ajuda na coleta de dados ao campo e em especial

ao Erick pela ajuda com os gráficos e pela eficiente coleta de dados no campo.

Ao Rodrigo Sperb – Lab G10, UNIVALI, um agradecimento especial também, pelo apoio e

paciência em me ajudar com os softwares.

A Eduardo Araripe - PETROBRÁS, pela revisão a bordo de minha tese, pela paciência e

apoio sempre.

A Cristiane Souza da secretaria de Pós Graduação do Mestrado em Ciência e Técnologia

Ambiental, por toda paciência e dedicação ao pedidos prontamente atendidos.

Eu não poderia terminar sem agradecer a todos que fizeram parte do que vivo hoje,

agradeço por ter o privilégio de poder trabalhar com seres iluminados, sim, os cetáceos. Agradeço a cada

avistagem, quando posso olhar nos olhos dos golfinhos e sentir-me viva, interessada sempre em saber

mais, e em zelar pela conservação de animais tão maravilhosos.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS..............................................................................................................................V

SUMÁRIO...............................................................................................................................................VII

LISTA DE TABELAS.......................................................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................. IX

RESUMO ................................................................................................................................................. XI

ABSTRACT ............................................................................................................................................XII

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................1

OBJETIVOS ...............................................................................................................................................7

GERAL....................................................................................................................................................7 ESPECÍFICOS.........................................................................................................................................7

MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................................................8

RESULTADOS.........................................................................................................................................15

DISCUSSÃO .............................................................................................................................................44

CONCLUSÃO ..........................................................................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................57

ANEXOS ...................................................................................................................................................62

ANEXO 01 – FIGURAS DE CETÁCEOS UTILIZADAS NAS IDENTIFICAÇÕES. ..............................................62 ANEXO 02 - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTAS .....................................................................................63

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: CATEGORIZAÇÃO DE ESPÉCIES EM RELAÇÃO ÀS AVISTAGENS EM SUPERFÍCIE DA FAUNA DE

CETÁCEOS ENCONTRADA NO LITORAL SUDESTE-SUL DO BRASIL. ......................................................13 TABELA 2: ENTREVISTAS REALIZADAS COM EMBARCAÇÕES DE EMALHE, DESCARREGANDO EM ITAJAÍ E

NAVEGANTES, NO PERÍODO DE 2006 E 2007. .....................................................................................18 TABELA 3: CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS MODALIDADES DE EMBARCAÇÕES DE EMALHE ................20

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: QUANTIDADE DE ENTREVISTAS, BARCOS E AVISTAGENS POR MÊS, EM EMBARCAÇÕES DE

ARRASTO, ATUNEIROS, CERCO E ESPINHEL (N=35) NOS PORTOS DE ITAJAÍ E NAVEGANTES NA FASE

INICIAL DO PROJETO EM 2006. ...........................................................................................................16 FIGURA 2: QUANTIDADE DE ENTREVISTAS, BARCOS E AVISTAGENS, DE EMBARCAÇÕES QUE NÃO EMALHE,

DURANTES OS MESES NA FASE INICIAL DO PROJETO EM 2006.............................................................16 FIGURA 3: QUANTIDADE DE ENTREVISTAS, BARCOS E AVISTAGENS POR MÊS, EM EMBARCAÇÕES DE EMALHE

NOS PORTOS DE ITAJAÍ E NAVEGANTES..............................................................................................17 FIGURA 4: MÉDIA DOS DIAS DE PESCA COM RELAÇÃO AOS DIAS DE MAR REALIZADO POR EMBARCAÇÕES DE

EMALHE. ............................................................................................................................................20 FIGURA 5: QUANTIDADE DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS RELATADAS NAS ENTREVISTAS POR MESES NOS

ANOS DE 2006 E 2007. .......................................................................................................................21 FIGURA 6: QUANTIDADE DE AVISTAGENS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES, SEPARADAS POR ESTAÇÕES DOS

ANOS, DE 2006 E 2007 EXCETO VERÃO ONDE SÓ SÃO APRESENTADOS DADOS DE 2007......................21 FIGURA 7: TAXA DE AVISTAGENS POR ENTREVISTAS POR MÊS DOS ANOS DE 2006 E 2007, DE BARCOS DE

EMALHE ENTREVISTADOS NOS PORTOS DE ITAJAÍ E NAVEGANTES. ....................................................22 FIGURA 8: QUANTIDADE DE ESPÉCIES AVISTADAS INCLUÍDAS NAS CATEGORIAS DESCRITAS: 1 – GOLFINOS E

BOTOS, 2- BALEIAS E ZIFIÍDEOS, 3- BALEIA FRANCA, 4 – ORCA, 5 – TONINHA E 6 – CACHALOTES E

CETÁCEOS DE CABEÇA REDONDA. ......................................................................................................23 FIGURA 9: QUANTIDADE DE ESPÉCIES PROVÁVEIS AVISTADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE. ................24 FIGURA 10: COMPORTAMENTOS DESCRITOS PELOS PESCADORES QUANDO AVISTADOS OS CETÁCEOS EM

SUPERFÍCIE DURANTE VIAGENS DE PESCA REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE. .............................25 FIGURA 11: AVISTAGENS REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE NA REGIÃO SUDESTE E SUL DO BRASIL NOS

OUTONOS DE 2006 E 2007..................................................................................................................27 FIGURA 12: AVISTAGENS REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE NA REGIÃO SUDESTE E SUL DO BRASIL NOS

INVERNOS DE 2006 E 2007. ................................................................................................................28 FIGURA 13: AVISTAGENS REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE NA REGIÃO SUDESTE E SUL DO BRASIL NAS

PRIMAVERAS DE 2006 E 2007.............................................................................................................29 FIGURA 14: AVISTAGENS REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE NA REGIÃO SUDESTE E SUL DO BRASIL NO

VERÃO DE 2007..................................................................................................................................30 FIGURA 15: DADOS PLOTADOS DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE,

INCLUINDO TODAS AS CATEGORIAS DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS EM SUPERFÍCIE E ESTAÇÕES DOS

ANOS DE 2006 E 2007, PELO SISTEMA ´GVSIG´. .................................................................................32 FIGURA 16: DADOS DE AVISTAGENS, ENCALHES E CAPTURAS INCIDENTAIS REGISTRADO NO SIMMAM,

DISPONÍVEIS PARA USUÁRIOS ANÔNIMOS. DISPONÍVEL EM HTTP://200.169.63.95/SIMMAM/ CONSULTADO EM 21/02/2008. ...........................................................................................................33

FIGURA 17: QUANTIDADE DE AVISTAGENS REALIZADAS PELA FROTA DE EMALHE NAS REGIÕES SUDESTE E

SUL DO BRASIL, POR LATITUDE. .........................................................................................................34 FIGURA 18: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 1 – GOLFINHOS E BOTOS. ..................35 FIGURA 19: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 2 – BALEIAS E ZIFIÍDEOS. ..................36 FIGURA 20: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 3 – BALEIAS FRANCA........................36 FIGURA 21: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 4 – ORCAS. .......................................37 FIGURA 22: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 5 – TONINHAS. .................................37 FIGURA 23: MAPA COM AVISTAGENS PLOTADAS PARA A CATEGORIA 6 – CACHALOTES E CETÁCEOS DE

CABEÇA REDONDA. ............................................................................................................................38 FIGURA 24: QUANTIDADE DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS REGISTRADAS PELA FROTA DE EMALHE,

SEPARADOS POR ESTAÇÕES DO ANO DE 2006. ....................................................................................39 FIGURA 25: QUANTIDADE DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS REGISTRADAS PELA FROTA DE EMALHE,

SEPARADOS POR ESTAÇÕES DO ANO DE 2007. ....................................................................................39 FIGURA 26: QUANTIDADE DE AVISTAGENS DE CETÁCEOS REGISTRADAS PELA FROTA DE EMALHE,

SEPARADOS POR LATITUDE. ...............................................................................................................40 FIGURA 27: AVISTAGENS DE CETÁCEOS POR QUADRANTES DE 1° NAS REGIÕES SUDESTE E SUL DO BRASIL 43 FIGURA 28. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE VIAGENS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE DE

FUNDO AO LONGO DO ANO DE 2006 (FONTE: GEP/CTTMAR, 2008). ................................................53 FIGURA 29. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE VIAGENS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE DE

FUNDO AO LONGO DO ANO DE 2007(FONTE: GEP/CTTMAR, 2008). .................................................53 FIGURA 30. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE VIAGENS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE DE

SUPERFÍCIE AO LONGO DO ANO DE 2007(FONTE: GEP/CTTMAR, 2008). ..........................................54

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FIGURA 31. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE VIAGENS REALIZADAS POR EMBARCAÇÕES DE EMALHE DE

SUPERFÍCIE AO LONGO DO ANO DE 2007 (FONTE: GEP/CTTMAR, 2008)...........................................54

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RESUMO

Os trabalhos que tratam sobre interações de cetáceos e a pesca para águas rasas no

Brasil são relativamente mais comuns que os para águas oceânicas. Como objetivo

principal do trabalho, foi proposta a realização de um registro dos tipos de interações

que ocorrem entre os cetáceos e a pescaria de emalhe da frota industrial que opera a

partir de Santa Catarina, em todo o litoral sudeste e sul do Brasil. Além disto, buscou-se

avaliar espacialmente a ocorrência dos cetáceos no litoral da região sul e sudeste e

quantificar espaço-temporalmente essas interações, apoiada nas informações obtidas

junto a frota industrial em questão. Através de entrevistas realizadas nos locais de

desembarque de pesca, entre maio de 2006 e outubro de 2007, foi possível contactar das

112 entrevistas realizadas com 62 embarcações diferentes da frota de emalhe dados

sobre interações positivas (de cetáceos acompanhando a embarcação), interações

neutras (de cetáceos avistados pelas embarcações) e interações negativas, quando

ocorria a captura incidental de cetáceos pelas redes de pesca. Para a análise de dados

sobre interações positivas e neutras, com relação às avistagens realizadas pelos

pescadores, foi elaborada uma tabela de categorização baseada em características

morfológicas das espécies de cetáceos. Das 6 categorias estabelecidas, as avistagens

ocorreram em grande maioria para a categoria 1 – Golfinhos e botos. Para a ocorrência

de capturas incidentais o que sinaliza uma interação negativa, das 112 entrevistas,

apenas 14 apontaram para tal. As avistagens em sua grande maioria, nas estações de

inverno e primavera e tiveram seu maior índice de ocorrência na desembocadura do Rio

Itajaí e ao longo do litoral de Santa Catarina.

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ABSTRACT

Works dealing with interactions of cetaceans in shallow water fisheries in Brazil are

relatively more common than those in oceanic waters. The main objective of this

research has been to record the types of interactions that occur between cetaceans and

the industrial fishery that operates from Santa Catarina, along southeast and southern

Brazil. Also, it was sought to evaluate the spatial occurrence of cetaceans in the region

and to spatio-temporally quantify these interactions, based on information obtained

from the industrial fleet. Through interviews conducted at fishery landings, between

May 2006 and October 2007, 112 interviews were conducted with 62 different vessels

of the gill nets fishery fleet. Data on positive interactions (of cetaceans following the

boat), neutral interactions (of cetaceans sighted by boats) and negative interactions

(incidental catch of cetaceans) were recorded. Animals were separated into 6 categories,

according to their morphological characteristics. Of those categories, the vast majority

of sightings were for category 1 - dolphins and porpoises, and mostly of neutral

interactions (sightings). The great majority of sightings occurred in winter and spring

and near to the Itajaí river mouth, and along the coast of Santa Catarina. Incidental

catches, which signals a negative interaction, were obtained in 14 of the 112 interviews.

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INTRODUÇÃO

Durante os últimos anos temos presenciado um aumento gradativo nos

estudos relacionados aos mamíferos marinhos. Contudo, ainda hoje a literatura

especializada referente aos registros de cetáceos observados no litoral brasileiro provém

de dados coletados oportunísticamente, a bordo de embarcações de pesquisa ou pesca.

Somente em 1996 foram feitos os primeiros cruzeiros sistemáticos de avistagens de

cetáceos no Sudeste e Sul do Brasil (REVIZEE, 2005) e na última década do século XX

começaram a ser publicados trabalhos científicos no Brasil com registros de cetáceos

para águas oceânicas, embora ainda sejam poucos os artigos. Mesmo assim, muitas das

informações disponíveis ainda são provenientes de indivíduos encontrados mortos, ou

capturados incidentalmente em redes de pesca (ROSAS, 2000).

Ao longo da costa brasileira e dentro dos limites jurisdicionais das águas

territoriais, foram registradas através de monitoramentos de encalhes em praias e

avistagens em superfície, a presença de 44 espécies de cetáceos, alguns com hábitos

migratórios e outras residentes (IBAMA, 2001; in prep.) Este é um número

significativo, visto que, hoje são reconhecidas aproximadamente 80 espécies viventes de

cetáceos no mundo todo, sendo aproximadamente 12 espécies da subordem Mysticeti e

68 da subordem Odontoceti.

Sete espécies de cetáceos presentes na costa brasileira estão citadas na Lista

Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, 2006),

incluindo as baleias-franca (Eubalaena australis), baleias-sei (Balaenoptera borealis),

baleias-azuis (Balaenoptera musculus), baleias-fin (Balaenoptera physalus) e baleias-

jubarte (Megaptera novaeangliae), os cachalotes (Physeter macrocephalus) e as

toninhas (Pontoporia blainvillei). Das 40 espécies registradas, Pontoporia blainvillei é

uma das mais ameaçadas, principalmente por ser capturada incidentalmente pela pesca

no Brasil, Uruguai e Argentina, especialmente em redes de espera e espinhel costeiro

(PINEDO; BARRETO, 1997; UNEP/CMS, 2000; SECCHI et al. 2002).

Além da P. blainvillei já se registrou interações de cetáceos de outras

dezesseis espécies com a pesca no Brasil, inclusive capturas incidentais, para

Balaenoptera acutorostrata, Balaenoptera bonaerensis, Physeter macrocephalus,

Kogia sima, Steno bredanensis, Sotalia guianensis, Tursiops truncatus, Stenella

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frontalis, Stenella longirostris, Delphinus sp., Lagenodelphis hosei, Grampus griseus,

Pseudorca crassidens, Globicephala melas, Globicephala macrorhyncus e Phocoena

spinipinnis. Foram também observadas interações com a pesca, sem capturas, de

Eubalaena australis, Megaptera novaeangliae, e principalmente Orcinus orca, na pesca

com espinhel pelágico (BDT, 2006). O grande número de espécies listadas acima

evidencia que existe uma grande possibilidade da captura incidental nas pescarias, e

desta ser uma ameaça significativa para muitas populações de mamíferos marinhos.

Entretanto, apesar deste problema ser conhecido em diversos locais do mundo, existem

poucas estimativas publicadas da magnitude destas capturas (READ et al. 2006). Estas

capturas incidentais parecem contribuir para o declínio de diversas populações de

cetáceos (WOODLEY, 1993) sendo provável que a captura incidental tenha efeitos

demográficos sobre muitas populações de mamíferos marinhos (READ et al. 2006).

Em um estudo sobre o efeito da pescaria de emalhe para albacora (Thunnus

alalunga) nas populações de Stenella coeruleoalba e Delphinus delphis, no norte do

Oceano Atlântico, foi relatado que as mortalidades por capturas incidentais nesta

pescaria podem levar ao declínio das populações destas duas espécies, mesmo em casos

onde sobrevivam às redes de pesca (WOODLEY, 1993). Em um monitoramento da

frota que utiliza a rede de emalhe no Mar Mediterrâneo, foi relatado que muitas

embarcações estavam operando com tamanho de redes além do permitido pela

legislação local e com capturas incidentais para as espécies Globicephala melas,

Tursiops truncatus, e Balaenoptera physalus e especialmente Delphinus delphis e

Stenella coeruleoalba, que foram as mais impactadas em números absolutos (WWF,

2003).

Entretanto, as interações de cetáceos com barcos de pesca também podem

ser positivas, como para os cetáceos que muitas vezes acompanham as marolas do barco

para deslocamento, ou se beneficiam do descarte de pescado. Também podem ser

neutras, como em barcos de pesca onde ocorre apenas a avistagem dos cetáceos, que

podem se aproximar da embarcação, acompanhando-a .

Um caso já registrado de interações positivas para os cetáceos, foram

interações de orcas e espinhel em águas ao sudeste do Mar de Bering, onde esses

cetáceos se aproximavam da embarcação, para retirar peixes do anzol do espinhel.

Apesar de neste trabalho não sido registrada nenhuma captura incidental, foi observado

que a destruição que as orcas geravam sobre os espinhéis variava conforme a

profundidade em que este petrecho era colocado. Nestes casos, o animal poderia estar

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preferindo se alimentar de espécies de peixes capturadas entre 200 e 300 m de

profundidade (YANO, 1995).

Po outro lado, também para a pesca de emalhe, foram relatadas interações

entre Tursiops truncatus na Ilha da Sardinia, Itália, onde foram registradas 496

avistagens durante 478 dias no mar através de observadores de bordo, havendo

complexas interações com a rede. Interações negativas foram registradas citando a

depredação do petrecho, retirada dos peixes da rede e eventual captura incidental

(LÓPEZ, 2003).

Em geral os trabalhos que tratam sobre capturas incidentais, apenas

descrevem o fato do animal ter ficado preso à rede, e sobre as interações de como

ocorreram as avistagens. Poucos trabalhos publicados foram encontrados, descrevendo

comportamento do animal ao se registrar uma interação de avistagem. Visto que os

cetáceos se encontram no mesmo ambiente que as embarcações de pesca é interessante

caracterizar brevemente a pesca no Brasil.

Na costa brasileira milhares de barcos operam na pesca artesanal e na pesca

industrial, sendo que esta última tende a atuar principalmente em regiões mais afastadas

da costa. A pesca industrial utiliza diversos petrechos, que possuem características

diferenciadas para as redes, linhas ou anzóis, dependendo da espécie-alvo. No Estado de

Santa Catarina a frota pesqueira industrial opera, basicamente, em dez modalidades

diferentes: armadilha, arrasto duplo, arrasto de parelha, arrasto simples, cerco, emalhe

de fundo, emalhe de superfície (incluindo as redes de deriva), espinhel de fundo,

espinhel de superfície e vara e isca viva (UNIVALI/CTTMar, 2006).

Enquanto que em espinhéis e redes de arrasto as capturas são ocasionais,

existem muitos relatos de capturas incidentais de várias espécies de cetáceos em redes

de emalhe no mundo todo (NORTHRIDGE, 1991). Assim, pode-se supor que das

modalidades de pesca que estão presentes na frota pesqueira industrial do Estado de

Santa Catarina, o petrecho que teria a maior probabilidade de capturar incidentalmente

os cetáceos é a pescaria de emalhe, em especial a de superfície.

As redes de emalhar, também denominadas de rede de espera, pertencem ao

grupo de artes de pesca passivas, sendo que a captura ocorre pela retenção do pescado

nas malhas da rede. Existem diversos tipos de redes de emalhar de acordo com sua

construção e forma de operação. A construção básica de qualquer tipo de rede de

emalhar apresenta as tralhas superior (com bóias) e a inferior (com lastros), que

sustentam o pano da rede. Existem 2 tipos básicos de rede de emalhar: de fundo e de

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superfície. Na pesca de fundo, as redes permanecem fundeadas durante a operação de

pesca, enquanto que na pesca de superfície a rede não é necessariamente fundeada e

neste caso acompanha a deriva da embarcação (GEP/UNIVALI, 2004). As redes de

emalhe de deriva (drift net) se mantêm a certa distância da superfície e ficam à deriva, a

mercê das correntes, freqüentemente junto das embarcações, podendo ou não estar

ligadas a elas (NÉDÉLEC & PRADO, 1990). São geralmente soltas à noite quando o

peixe não está vendo a rede. A maioria das redes é feita de monofilamento de nylon,

possuem aspecto retangular, com tamanhos variados e capturam diversas espécies de

peixes pelágicos. As redes de deriva estão presentes em 90% das pescarias do mundo e

capturam incidentalmente mamíferos marinhos, aves e tartarugas. No Pacífico as redes

de deriva são usadas para capturar lulas, salmão e atuns, entre outros peixes

(NORTHRIDGE, 1991). No Brasil a pesca de emalhe de superfície é principalmente

direcionada para a captura dos tubarões pelágicos, especialmente os tubarões-martelo

(KOTAS et al., 1995).

Em 1995 foram registradas na frota industrial que descarrega em Itajaí,

Navegantes e Porto Belo, 126 embarcações operando com o emalhe, entre elas 47

embarcações operando com o emalhe de superfície ou “drift-net”, 34 com o emalhe de

fundo e 49 até então não identificadas (KOTAS et al., 1995). O tamanho médio das

malhas utilizadas foi de 35, 6 cm entre nós opostos com a malha esticada, e altura média

de operação de 13,7 m, podendo chegar ao máximo de 27 m de profundidade. Na

maioria das viagens as embarcações levaram em torno de 60 panos (aproximadamente

3000 m de rede entralhada), podendo chegar até a 120 panos (aproximadamente 7560 m

de rede).

Em setembro de 2006 foi realizada uma reunião de trabalho sobre a pesca de

emalhe no litoral brasileiro, que tinha como objetivo redefinir a legislação que ordena

esta pescaria, realizada pelo IBAMA/CEPSUL/TAMAR, e observou-se o crescimento

da frota de emalhe principalmente na região sudeste-sul do Brasil

(IBAMA/CEPSUL/TAMAR, 2006). Foi relatado que em 2005, apenas 84 embarcações

de emalhe estavam operando com permissão e destas, 50 % possuíam permissões

multiespecíficas, podendo também operar no arrasto, linha, espinhel, cerco ou isca-viva,

com algumas licenças permitindo atuar em até quatro modalidades. Além disso, o

comprimento e o número de redes de emalhe de fundo vem aumentando ao longo dos

anos, e hoje a maioria dos barcos trabalha com até 30 km de redes. A maioria das redes

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utilizadas por esta frota desrespeita o comprimento máximo permitido pela legislação

pesqueira, que é de 2500 m.

Através de entrevistas realizadas nos locais de desembarque, entre maio de

2005 e agosto de 2006, foram observadas aproximadamente 189 embarcações operando

com emalhe, com 168 desembarcando em Itajaí, Navegantes e Porto Belo, e 21 em

Laguna. Deste total de embarcações operando com emalhe, apenas 6,4% opera o ano

todo com emalhe de superfície, tendo esta como espécie alvo o tubarão-martelo. Esta

espécie é mais freqüentemente pescada entre a primavera e o outono, e para sua pesca

são utilizadas malhas de 30 a 40 cm de tamanho entre nós opostos, e 60 a 140 panos,

que gera uma rede de comprimento total variando de 2000 a 7400 metros e altura de 8 a

30 metros. Para esta pescaria, a frota atua do Estado de São Paulo ao Rio Grande (RS),

em profundidades de 8 a 4000 metros. Já 66,1% da frota opera o ano todo com emalhe

de fundo, tendo como espécie alvo a corvina. Esta pescaria é mais freqüente entre o

outono e a primavera, utilizando uma malha de 9 a 14 cm entre nós opostos, 23 a 500

panos, e um comprimento total da rede variando de 2.300 a 26.000metros, com altura

média de 3,6m. Esta frota atua principalmente do Estado do Rio de Janeiro ao Chuí

(RS), em profundidades de 10 a 150 metros. Por último, 11,1% opera em ambas as

pescarias, porém em épocas distintas, e em 16,4 % não foi possível se obter informações

(IBAMA/CEPSUL/TAMAR, 2006).

Entre os métodos de pesca empregados mundialmente, as redes de emalhar

têm apresentado maior risco de capturar cetáceos. Para o Atlântico Sul, existem alguns

trabalhos que estudaram a captura incidental ligada à pesca industrial. A pesca com rede

de emalhe para tubarão no sul do Brasil e Argentina já registrou capturas incidentais das

espécies Lagenorhynchus obscurus e Phocoena spinipinnis (CRESPO & CORCUERA,

1990 apud NORTHRIDGE, 1991).

Em outro trabalho, uma avaliação das capturas incidentais em pescarias com

redes de emalhe para Peixe-sapo (Lophius gastrophysus), realizadas em 2001 no Sul do

Brasil, através de observadores de bordo, relatou capturas ocasionais das espécies

Delphinus sp., Stenella coeruleoalba, e Stenella sp., no momento em que as redes

estavam sendo recolhidas, com a embarcação em movimento (PEREZ & WAHRLICH ,

2004).

Zerbini & Kotas (1998) estudaram a captura incidental na frota que opera

com redes de emalhe de superfície no Estado de Santa Catarina, através de entrevistas

com pescadores e relatos de observadores de bordo, somados a sete cruzeiros, entre

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1995 a 1997 nas frotas de Ubatuba-SP e Itajaí-SC. Estes autores registraram algumas

espécies capturadas incidentalmente em redes de emalhe de superfície para tubarão,

sendo elas: Megaptera novaeangliae, Physeter macrocephalus, Kogia sima,

Globicephala melas, Delphinus sp., Tursiops truncatus, Stenella frontalis, S.

longirostris, S. clymene e S. coeruleoalba.

Considerando-se a baixa taxa de natalidade e a alta idade de primeira

reprodução dos cetáceos (GERACY & LOUNSBURY, 1993), a avaliação de impactos

gerados pelos seres humanos é de extrema importância para a manutenção destas

espécies no meio, visto que hoje praticamente não existem trabalhos publicados com

dados relacionados a estudos de densidade populacional de cetáceos em águas oceânicas

brasileiras.

Deste modo nota-se que a interação de cetáceos com a pesca industrial é

uma realidade em águas brasileiras. Este estudo visa avaliar que tipos e em que

magnitude ocorrem as interações entre a pescaria de emalhe da frota industrial no

Estado de Santa Catarina e os cetáceos.

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OBJETIVOS

GERAL

Registrar e analisar as interações que ocorrem entre cetáceos e a frota

industrial de emalhe que opera nas regiões SE-S com descarga do pescado nos portos de

Navegantes, Itajaí e Porto Belo, (SC).

ESPECÍFICOS

• Caracterizar os tipos de interações que ocorrem entre cetáceos e a frota

pesqueira de emalhe;

• Avaliar espacialmente a ocorrência dos cetáceos;

• Quantificar espaço-temporalmente as interações .

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MATERIAL E MÉTODOS

Para avaliar a viabilidade da estratégia deste trabalho foi realizado um estudo

piloto nos portos de Navegantes, Itajaí, Porto Belo e Laguna (SC), durante o primeiro

semestre de 2006, onde se verificou que o método de obtenção de dados de entrevistas

no cais dos portos era efetiva, apesar de certa subjetividade observada. A partir de uma

análise inicial dos dados foi constatado que existem interações de cetáceos com alguns

petrechos da pesca industrial. A partir de então, definiu-se a realização de uma segunda

etapa de campo, com a ampliação da coleta de dados, enfocando especificamente um

único petrecho: a pescaria de emalhe.

O método científico utilizado na presente pesquisa descritiva e experimental

foi baseada em uma análise exploratória, com a coleta de dados de campo, utilizando

entrevistas (dados diretos) e questionário de identificação das observações dos

profissionais que trabalham na indústria pesqueira no Estado de Santa Catarina (dados

indiretos).

Esse método foi baseado no princípio da indução, onde através do

levantamento de informações individuais sobre a avistagem ou captura incidental dos

cetáceos, pode-se chegar à formulação de hipóteses confiáveis a respeito da distribuição

das populações desses animais no litoral sudeste-sul brasileiro. Os argumentos indutivos

baseiam-se na generalização das propriedades e características comuns capazes de

fornecer à pesquisa conclusões assertivas sobre o objeto pesquisado. Através desse

método consegue-se agrupar vários conjuntos de variáveis direta ou indiretamente

relacionadas, que puderam demonstrar a eficácia das conclusões obtidas a partir dessas

hipóteses formuladas.

Neste trabalho foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os mestres

das embarcações, acompanhando o GEP (Grupo de Estudos Pesqueiros da UNIVALI)

semanalmente nos portos de Itajaí e Navegantes (SC), fazendo visitas a todas as

empresas que estivessem descarregando o pescado. O GEP vem realizando visitas aos

portos desde outubro de 2000, quando foi efetivado o primeiro convênio de cooperação

técnico-científica entre a UNIVALI e o Ministério da Agricultura, Pecuária e do

Abastecimento (Convênios MA/SARC/Nº03/2000; MAPA/SARC/DPA/03/2001 e

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MAPA/SARC/DENACOOP/176/2002), o Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e

do Mar da UNIVALI, passou a desenvolver e operacionalizar oficialmente o SIESPE -

Sistema Integrado de Estatística Pesqueira, o qual engloba a captação, processamento,

armazenamento e disponibilização dos dados sobre a pesca industrial do Estado de

Santa Catarina. Tais informações são coletadas através de Fichas de Produção,

Entrevistas de Cais, Mapas de Bordo e pelo Programa de Observadores de Bordo em

Embarcações Arrendadas. Através deste serviço, o CTTMar/UNIVALI colabora para

que governo, setor produtivo, comunidade científica e demais interessados possam ser

supridos de forma rápida e eficiente com informações adequadas para o gerenciamento

da atividade pesqueira na região (GEP, 2007).

A coleta de dados desta pesquisa em campo iniciava-se logo após a entrevista

dos pesquisadores do GEP, fazendo perguntas de um questionário pré-definido e

utilizando figuras esquemáticas de cetáceos, para que os entrevistados pudessem

identificar as espécies observadas (Anexo 1). Este tipo de abordagem sempre dependia

da receptividade do pescador, que por vezes apresentava desconfiança em responder.

Entretanto, em muitos casos, conseguiu-se obter uma descrição minuciosa sobre as

características dos espécimes avistados ou capturados incidentalmente.

Na caracterização da pesca foram coletados dados específicos dos petrechos,

bem como dias de mar e de pesca , área de pesca, espécies de peixes capturadas, e toda

informação que envolve o processo da pesca propriamente dita (tabela 3 / figura 3/

anexo 1).

O tipo de entrevista realizada com os mestres das embarcações foi a dirigida,

onde o informante alvo devia apresentar apenas uma identificação entre as várias

possibilidades existentes, embora o interlocutor pudesse expressar livremente, com suas

próprias palavras, a identificação das espécies de cetáceos observadas.

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas a fim de obter informações

sobre a área de atuação da pescaria, número de viagens realizadas por período e

quaisquer outras informações significativas dos dados sobre os petrechos de pesca, além

de dados sobre interações de cetáceos; avistagens e capturas incidentais, coletadas

através de fichas de campo entregues a algumas embarcações e as próprias entrevistas

feitas localmente no porto (Anexo 2).

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Todas as informações obtidas foram repassadas para uma planilha eletrônica, a

partir da qual foram gerados gráficos para análise dos dados coletados. A localização

das interações de avistagens foram plotadas no sistema ‘gvSIG 1.0’, e layout gerado no

sistema ´ArcMap 8. 3- ESRI™´, sendo possível a visualização de dados batimétricos e

localização geográfica das espécies em mapas. Para analisar espacialmente e

temporalmente essas interações, os dados foram contabilizados e separados por áreas e

em mapas distintos para cada estação do ano (primavera: 23 de setembro a 20 de

dezembro; verão: 21 de dezembro a 19 de março; outono: 20 de março a 20 de junho; e

inverno: 21 de junho a 22 de setembro) e por categorias de avistagem de cetáceos em

superfície, onde foram analisadas a ocorrência espaço-temporal das interações.

Como em muitos casos a identificação das espécies avistadas não foram

suficientemente detalhados, procurou-se categorizar as avistagem em superfície em

grandes categorias. Devido à dificuldade em identificar os animais, e buscando

minimizar o erro na identificação, foi elaborada uma tabela de categorização baseada

em características morfológicas dessas espécies, sendo definidas seis categorias (tabela

1):

1- Golfinhos e botos: Incluem principalmente golfinhos da família

Delphinidae. São animais que, em superfície, demonstram comportamentos

de movimentos à superfície, e quando emergem para respirar mostram a

nadadeira dorsal pontiaguda em diferentes graus. Apesar de todas as espécies

listadas possuírem uma série de pequenas diferenças, apenas para

especialistas é possível a determinação exata do gênero ou espécie, e muitas

vezes até mesmo para estes, pode haver dificuldade na identificação dessas

espécies, em especial do gênero Stenella. Sobre a característica da cor dos

animais torna-se muito difícil estabelecer uma identificação singular efetiva

da espécie ou gênero, visto que na entrevista, os interlocutores descreveram

que com o reflexo do sol, muitas vezes os animais tendem a parecerem

“pretos”. Alguns relatos foram de avistagem de animais manchados ou

parecidos com “Dálmatas”, que provavelmente eram de S. attenuata ou S.

frontalis.

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2- Baleias comuns e Ziphiideos: Inlcui as baleias “verdadeiras”

geralmente da família Balaenopteridae e animais da família Ziphiidae. São

animais de grande porte, com borrifos maiores que os dos golfinhos,

coloração em tons de cinza e nadadeira dorsal pontiaguda e localizada no

meio ou no terço posterior do corpo. A exceção para esta categoria poderia

ser para a baleia-jubarte, devido ao animal apresentar porção ventral de suas

nadadeiras peitorais e caudal branca. Porém levando em conta que foram

relatadas nas entrevistas, apenas a visualização da nadadeira dorsal e rostro

parcial, no momento em que estes animais emergiam para respirar optou-se

por incluí-la nesta categoria.

3- Baleias Franca (Eubalaena australis): Separou-se esta espécie das

outras baleias devido ao fato de as baleias-franca estarem presentes mais

perto da costa e serem bem conhecidas dos pescadores. Os pescadores

descreviam as características marcantes do animal como as “cracas” no

rostro, coloração do corpo preta e por estarem geralmente acompanhadas de

animais menores, usualmente filhotes, uma vez que a costa brasileira é área

de reprodução dos mesmos.

4- Orcas (Orcinus orca): Apesar de serem delfinídeos, foram colocados em

uma categoria à parte por serem animais também bem conhecidos dos

pescadores, por razões diversas. Desde a descrição de animais pretos com

“olhos brancos” , ou sobre ser a “baleia assassina” devido ao filme “Orca –

A Baleia Assassina” e até mesmo pelo pânico que este animal causa aos

pescadores, que descrevem ataques a outros golfinhos e depredação do

petrecho de pesca.

5- Toninhas (Pontoporia blainvillei): Este golfinho de pequeno porte foi

relatado em todos os casos como o “golfinho filhote com bico fino e

comprido”, mas que na maioria das vezes era relatado quando este estava

preso à rede de pesca.

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6- Cachalotes (Physeter macrocephalus) e cetáceos de cabeça redonda:

Os cachalotes e animais de cabeça “redonda”, conforme os relatos dos

pescadores seriam os animais maiores, “mais gordos” e com a cabeça

diferente de Delfinideos, Balenopterideos e demais espécies relatadas. Já foi

descrito uma vez um “Cachalote com tamanho de golfinho”, possivelmente

Kogia sp, ou indivíduos da sub-família Globacephalinae. Porém existe uma

grande diferença do rostro e nadadeiras dorsais destes animais listados na

categoria número seis.

As avistagens feitas pelos pescadores foram consideradas ‘interações’, pois

se estes conseguiam avistar um ou mais cetáceos, deveria estar havendo uma interação

com os animais. Considerando que ao olho nu humano é possível enxergar

aproximadamente duas milhas náuticas em condições estáveis do tempo, quando os

cetáceos fossem avistados provavelmente já teriam percebido a embarcação,

considerando a capacidade auditiva do grupo, pois os ruídos do motor principal ou do

gerador de eletricidade provavelmente são audíveis para os animais na mesma distância.

O fato de o animal interagir diretamente ou não com a embarcação seria um

desdobramento desta interação, especificamente comportamental. As características

comportamentais de cada grupo, incluindo sua susceptibilidade aos ruídos gerados, irão

definir se um animal poderá ou não se aproximar mais das embarcações. Não existem

ainda informações precisas sobre o efeito de ruídos sobre os mamíferos marinhos,

alguns estudos têm mostrado diversas respostas dependendo da espécie, idade, sexo,

bem como a atividade em que os animais foram sujeitos (SIMMONDS et al., 2004;

PINEDO et al. 2002).

As interações registradas foram classificadas em “positivas”, “neutras” e

“negativas”. Foram consideradas interações positivas a aproximação dos animais

perante a embarcação, neutras quando apenas houve o relato da avistagem, mesmo que

longe da embarcação, e negativas quando houve captura incidental, independente da

morte do animal.

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Tabela 1: Categorização de espécies em relação às avistagens em superfície da fauna de cetáceos encontrada no litoral sudeste-sul do Brasil.

Categorias morfológicas Espécies 1- Golfinhos e botos Cephalorhynchus commersonii

Delphinus delphis

Lagenodelphis hosei

Lagenorhynchus australis

Sotalia guianensis

Stenella attenuata

Stenella clymene

Stenella coeruleoalba

Stenella frontalis

Stenella longirostris

Steno bredanensis

Tursiops truncatus

2- Baleias e Ziphiídeos Balaenoptera acutorostrata

Balaenoptera bonaerenses

Balaenoptera boreales

Balaenoptera edeni

Balaenoptera musculus

Balaenoptera physalus

Berardius arnuxii

Hyperodon planifrons

Megaptera novaeangliae

Mesoplodon densirostris

Mesoplodon europaeus

Mesoplodon grayi

Mesoplodon hectori

Mesoplodon layardii

Ziphius cavirostris

3- Franca Eubalaena australis

4- Orca Orcinus orca

5- Toninha Pontoporia blainvillei

6- Cachalotes, e cetáceos de “cabeça redonda”. Feresa attenuata

Globicephala macrorhynchus

Globicephala melas

Grampus griseus

Kogia breviceps

Kogia sima

Peponocephala electra

Phocoena dioptrica Phocoena spinipinis

Physeter macrocephalus

Pseudorca crassidens

Das interações positivas e neutras, devido à riqueza de detalhes de alguns

relatos, foi possível separar os comportamentos em oito categorias:

• Acompanha o barco;

• Navega próximo;

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• Animal próximo à rede;

• Animal saltando

• Animais que vem com o tempo;

• Animais pescando; e

• Animais brincando.

Para comparação das avistagens realizadas por barcos de pesca com os

dados existentes na literatura foi utilizado o SIMMAM – Sistema de Monitoramento de

Mamíferos Marinhos, que inclui mais de 1800 dados de interações de mamíferos

marinhos em todo Brasil (BARRETO, et al. 2006).

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RESULTADOS

Este trabalho utilizou entrevistas coletadas de 10 de maio de 2006 até 11 de

outubro de 2007, perfazendo um total de 18 meses de coleta de dados. Não foi

registrado o número total de idas à campo, mas apenas o número de vezes que houve

embarcações no cais, principalmente de emalhe, porém as visitas ao porto com o GEP

foram realizadas, entre uma e três vezes por semana.

Em uma fase inicial da coleta de dados foram obtidas 35 entrevistas de mestres

de embarcações operando com arrasto, atuneiro, cerco, e espinhel, das quais relataram

capturas incidentais para cerco e espinhel. Nesta primeira fase da pesquisa, as

avistagens de cetáceos foram relatadas em 68,5% das entrevistas, com todos os

petrechos utilizados pelas embarcações (figuras 1 e 2), exceto o emalhe, analisado

separadamente.

Só então na segunda fase do projeto iniciaram-se as análises dos dados

coletados apenas com o petercho de emalhe. Neste período foram realizadas 112

entrevistas a respeito de avistagens e capturas incidentais de cetáceos à frota industrial

de emalhe que descarrega nos portos de Itajaí e Navegantes (SC). Nos meses de agosto

e setembro de 2006, não foram realizadas entrevistas, e a maior quantidade de

entrevistas se deu nos meses de agosto e setembro de 2007 (figura 3).

Foram entrevistadas 82 embarcações de emalhe durante o período da coleta de

dados nos locais de desembarque de pescado nos portos de Itajaí e Navegantes, SC.

Uma vez que a mesma embarcação pode ter sido entrevistada em meses diferentes,

foram registradas 62 embarcações de emalhe diferentes. Deste modo deve ficar claro

que as entrevistas são o número de vezes em que se fez contato com uma embarcação,

os relatos são as descrições feitas, com ou sem avistagens, e sobre os barcos o número

mostra as embarcações contactadas naquele mês.

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Figura 1: Quantidade de entrevistas, barcos e avistagens por mês, em embarcações de arrasto, atuneiros, cerco e espinhel (N=35) nos portos de Itajaí e Navegantes na fase inicial do projeto em 2006.

Figura 2: Quantidade de entrevistas, barcos e avistagens, de embarcações que não emalhe, durantes os meses na fase inicial do projeto em 2006.

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Figura 3: Quantidade de entrevistas, barcos e avistagens por mês, em embarcações de emalhe nos portos de Itajaí e Navegantes.

As modalidades de emalhe; emalhe de fundo, emalhe para peixe-sapo, emalhe

de superfície e emalhe de meia-água foram separadas em quatro, devido a diferentes

características de operação das mesmas. Emalhe de meia-água é um tipo de rede de

emalhe de superfície, mas com pequenas distinções do petrecho. Assim como emalhe de

peixe-sapo, que pertence ao grupo das redes de emalhe de fundo, e também com

algumas distinções no petrecho como, por exemplo, tempo de submersão das redes,

malha, comprimento total, altura das redes dispostas na água, entre outros (Tabela 2).

Os dados oriundos de barcos de emalhe de fundo foram significativamente

mais numerosos com 103 entrevistas. Para emalhe de superfície e peixe-sapo foram

realizadas quatro entrevistas cada, e para emalhe de meia-água apenas uma embarcação

foi contatada em uma entrevista. O fato das embarcações de emalhe de fundo terem

maior presença em Itajaí e Navegantes pode ser o fato de outras artes de pesca, como

emalhe de superfície e meia água estarem descarregando principalmente no porto de

Laguna (SC).

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Tabela 2: Entrevistas realizadas com embarcações de emalhe, descarregando em Itajaí e Navegantes, no período de 2006 e 2007.

Número total de embarcações contatadas

Emalhe fundo Emalhe superfície Peixe-sapo Meia-água TOTAIS ano Mês barcos entrev. avist. barcos entrev. avist. barcos entrev. avist. barcos entrev. avist. barcos entrevistas avistagens

Mai 4 4 1 4 4 1 Jun 1 1 1 1

Jul 1 1 1 1 1 1

Ago

Set Out 4 10 10 1 3 3 5 13 13

Nov 3 4 3 1 2 2 4 6 5

Dez 4 6 5 4 6 5 2006 Total 17 26 20 1 3 3 1 2 2 19 31 25

Jan 1 1 1 1 1 1

Fev 7 8 8 1 1 1 8 9 9 Mar 7 7 5 7 7 5

Abr 1 2 2 1 2 2

Mai 1 2 2 1 1 1 1 2 2 3 5 5

Jun 1 1 1 1 1 1

Jul 6 9 9 6 9 9

Ago 12 19 16 12 19 16 Set 17 21 17 17 21 17

Out 7 7 7 7 7 7

2007 Total 17 77 68 1 1 1 1 2 2 1 1 1 63 81 72

TOTAL 34 103 88 2 4 4 2 4 4 1 1 1 82 112 97

Embarcações diferentes 58 2 1 1 62

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As embarcações de emalhe de fundo apresentaram um esfoço de pesca de até 19

dias, em 24 dias no mar. Possuem comprimento total médio de redes de 18 quilômetros,

malha de 13 centímetros de comprimento entre nós opostos e altura de 3 metros de rede.

Permanecendo na água por aproximadamente 9 horas em profundidades que variam de 10 a

500 metros. As entrevistas com embarcações de emalhe de fundo somaram 58 embarcações

diferentes e tem como sua principal espécie alvo a corvina (Micropogonias furnieri).

Para uma única embarcação de emalhe para peixe-sapo o esfoço de pesca foi de 18

dias, em 27 dias no mar, comprimento total de rede de 75 quilômetros, malha de 28

centímetros de comprimento entre nós opostos e altura de 3 metros. Permanecendo na água

por aproximadamente 120 horas em profundidades que variam de 127 a 420 metros. Apenas 1

embarcação foi contactada por 2 vezes não consecutivas, sendo 1 em novembro de 2006 e

outra em maio de 2007, tendo como sua espécie-alvo o peixe-sapo (Lophius gastrophysus).

As embarcações de emalhe de superfície perfizeram um esfoço de pesca de até 14

dias, em 20 dias no mar, com um comprimento total médio de redes de 7 quilômetros, malha

de 40 centímetros de comprimento entre nós opostos e altura de 15 metros de rede.

Permanecendo na água por aproximadamente 12 horas em profundidades que variam de 50 a

800 metros. Destas, 2 embarcações diferentes foram contactadas, tendo como espécie-alvo

cações de várias espécies.

Para a embarcação de emalhe de meia-água foi registrado um esfoço de pesca de até

9 dias, em 9 dias no mar, possui comprimento total de redes de 7 quilômetros, malha de 40

centímetros de comprimento entre nós opostos e altura de 16 metros de rede. Permanecendo

na água por aproximadamente 11 horas em profundidades que variam de 60 a 80 metros.

Apenas 1 embarcação foi contactada em fevereiro de 2007, tendo também como espécies-alvo

diversas espécies de cação (tabela 3 / figura 4).

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Tabela 3: Características específicas das modalidades de embarcações de emalhe .

Característica Emalhe de Fundo Emalhe de Superfície Emalhe p/ Peixe-Sapo Emalhe de Meia-Água

Min. Max Média DP Min. Max Média DP Min. Max Média DP Min. Max Média DP

nº de panos 200 1000 357,7 112,2 138 140 138,5 1,0 1430 1600 1515,0 98,1 138 138 138,0 -

Comprimento do pano (m)

33 70 52,4 7,9 50 52,5 51,9 1,3 50 50 50,0 0,0 52,5 52,5 52,5 -

altura (m) 2 13 3,3 1,6 13 16 15,3 1,5 2 4 3,0 1,2 16 16 16,0 -

comprimento total (km)

10000 50000 18686,3 6306,2 7000 7245 7183,8 122,5 71500 80000 75750,0 4907,5 7245 7245 7245,0 -

Malha entre nós (cm)

10 13 12,8 0,7 38 40 39,5 1,0 28 28 28,0 0,0 40 40 40,0 -

tempo médio na água (horas)

3 96 9,6 13,0 12 12 1,0 0,5 120 60,0 69,3 11 11 11,0 -

profundidade mínima (m)

10 400 54,6 57,3 50 150 125,0 50,0 127 380 253,5 146,1 60 60 60,0 -

profundiade máxima (m)

20 500 88,8 75,6 150 800 345,0 304,9 400 420 410,0 11,5 80 80 80,0 -

profundidade média (m)

20 450 65,9 64,4 150 425 235,0 127,6 263,5 400 331,8 78,8 70 70 70,0 -

Figura 4: Média dos dias de pesca com relação aos dias de mar realizado por embarcações de emalhe.

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Após a coleta de dados sobre o petrecho, uma entrevista realizada com os mestres

de embarcações apontou para os relatos de interações de cetáceos e a frota de emalhe. Das

112 entrevistas coletadas, 97 responderam afirmativamente para as avistagens de cetáceos

(86,6%).

A quantidade de avistagens por mês teve seu maior valor em outubro de 2006 e,

agosto e setembro de 2007 ocasiões em que as avistagens por período com relação a estações

do ano mostraram grande diferença no inverno de 2007 (figura 5 e 6).

Figura 5: Quantidade de avistagens de cetáceos relatadas nas entrevistas por meses nos anos de 2006 e 2007.

Figura 6: Quantidade de avistagens realizadas por embarcações, separadas por estações dos anos, de 2006 e 2007 exceto verão onde só são apresentados dados de 2007.

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Uma vez que o esforço amostral está fortemente ligado à quantidade de avistagens

registradas, optou-se por utilizar um índice de avistagens/entrevistas para avaliar o efeito do

esforço amostral na quantidade de avistagens feitas. Com este, pode-se observar que exceto

para abril de 2006, não houve grandes diferenças entre os meses (figura 7).

Figura 7: Taxa de avistagens por entrevistas por mês dos anos de 2006 e 2007, de barcos de emalhe entrevistados nos portos de Itajaí e Navegantes.

Os resultados das avistagens separadas em categorias morfológicas mostraram que

a categoria 1 – golfinhos e botos foi a mais freqüente, aparecendo em 52 entrevistas (53,6%)

das 97 com resposta afirmativa para avistagem. A categoria 2 – baleias e zifiídeos ficou em

segundo lugar com 21,6% do total de avistagens realizadas, seguidas das categorias 3, 6, 4 e 3

respectivamente (figura 8).

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Figura 8: Quantidade de espécies avistadas incluídas nas categorias descritas: 1 – golfinos e botos, 2- baleias e zifiídeos, 3- baleia Franca, 4 – Orca, 5 – Toninha e 6 – Cachalotes e cetáceos de cabeça redonda.

Das 97 avistagens, 39 relatos permitiram uma identificação provável das espécies

devido a descrição sobre características morfológicas dos animais observados em superfície,

localização e profundidade da avistagem. Destas a espécie mais relatada foi Physether

macrocephalus, o Cachalote, com 8 relatos de avistagens, seguido de Tursiops truncatus,

Eubalaena australis, a baleia-franca e Stenella sp., todos com 6 relatos de avistagens cada

(figura 9).

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franc

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sten

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toni

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turs

iops

zifiíd

eo

espécies prováveis

N

Figura 9: Quantidade de espécies prováveis avistadas por embarcações de emalhe.

Também foram descritos alguns comportamentos relatados pelos pescadores com

relação aos cetáceos avistados (figura 10). Os comportamentos descritos foram retirados de

uma minuciosa descrição que era registrada nos questionários. Buscando categorizar os tipos

de interações que ocorreram, foram utilizadas as descrições dos comportamentos exibidos,

que foram relatados pelos pescadores na maior parte das entrevistas:

- “Acompanha o barco” – quando os cetáceos se aproximavam da embarcação,

chegando a acompanhar marolas pelas laterais do barco ou nadando na proa.

- “Navega próximo” – Foi a categoria mais registrada, pois se trata de quando os

cetáceos apenas eram avistados a partir da embarcação, mas permaneciam distantes o

bastante para que não fosse possível a identificação ou observação do comportamento

exibido, bem como o número de animais e presença de filhotes.

- “Próximo à rede” – foi descrito quando os animais foram observados interagindo

diretamente com a rede de pesca, retirando peixes da rede ou apenas próximos.

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- “Saltando” – quando os animais foram vistos executando comportamentos à

superfície.

- “Vem com o tempo” – é um relato interessante, devido ao fato de ser unânime na

descrição dos pescadores que explicam que os animais aparecem quando o tempo está

fechado, chuvoso ou preparando para uma tempestade.

- “Pescando” – foi relatado ao se observar cetáceo interagindo com cardumes, e

supondo-se que estavam em comportamento de forrageamento.

- “Brincando” – é um relato bastante vago, pois na visão do pescador, muitas vezes

pode ser confundido com comportamentos à superfície que nem sempre são

comportamentos de brincadeira. Um animal pode saltar para se comunicar socialmente

com outro, retirar rêmoras e/ou outros parasitas da pele, que possam estar

incomodando o animal (SILVA-JR. 2002).

Figura 10: Comportamentos descritos pelos pescadores quando avistados os cetáceos em superfície durante viagens de pesca realizadas pela frota de emalhe.

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Todos os dados de avistagens depois de digitados em planilha eletrônica foram

plotados em um sistema de informação geográfica, gVSiG, para visualização das avistagens

conforme localização espacial e batimetria. O gVSiG foi utilizado buscando analisar

espacialmente a ocorrência dos cetáceos e quantificar espaço-temporalmente as interações de

avistagens. Para gerar o layout foi utilizado o ArcMap 8.3 onde foi possível visualizar

batimetria, latitude e longitude.

A partir dos mapas foi possível observar que os animais estão presentes em maior

quantidade entre a região costeira e o talude (figura 11). Os mapas gerados foram plotados

conforme categorias de avistagens de cetáceos em superfície e conforme estação do ano

(figura 15 a 18) e um mapa com todos os dados foi comparado ao SIMMAM - Sistema de

Monitoramento de Mamíferos Marinhos (figura 12).

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Figura 11: Avistagens realizadas pela frota de emalhe na região sudeste e sul do Brasil nos outonos de 2006 e 2007.

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Figura 12: Avistagens realizadas pela frota de emalhe na região sudeste e sul do Brasil nos invernos de 2006 e 2007.

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Figura 13: Avistagens realizadas pela frota de emalhe na região sudeste e sul do Brasil nas primaveras de 2006 e 2007.

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Figura 14: Avistagens realizadas pela frota de emalhe na região sudeste e sul do Brasil no verão de 2007.

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O mapa geral com dados de relatos de avistagens plotados no sistema GvSiG,

mostram uma distribuição não-uniforme dos cetáceos na plataforma continental (figura

15). Em especial as avistagens parecem estar agrupados próximos ao litoral norte

catarinense, local de saída da frota de emalhe para pescar em alto mar. Poucos animais

foram avistados ente as isóbatas 650 a 1400 metros, o que coincide com área de maior

número de avistagens de cetáceos plotados pelo sistema SIMMAM (figura 16).

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Figura 15: Dados plotados de avistagens de cetáceos realizadas por embarcações de emalhe, incluindo todas as categorias de avistagens de cetáceos em superfície e estações dos anos de 2006 e 2007, pelo sistema ´gvSIG´.

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Figura 16: Dados de avistagens, encalhes e capturas incidentais registrado no SIMMAM, disponíveis para usuários anônimos. Disponível em http://200.169.63.95/simmam/ consultado em 21/02/2008.

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s

Figura 17: Quantidade de avistagens realizadas pela frota de emalhe nas regiões sudeste e sul do Brasil, por latitude.

Para a categoria 1 as avistagens ocorreram em sua discreta maioria na região

nerítica do Estado de Santa Catarina. Os golfinhos foram vistos em quase todas as áreas

onde a frota pesqueira atuou entre o talude e a costa da região sudeste e sul e alguns relatos

foram registrados de animais no talude (figura 18).

Já para a categoria 2, as avistagens ocorreram em sua maioria ao norte do

Estado de Santa Catarina, com algumas no Estado do Rio Grande do Sul. Baleias e

zifiídeos estiveram presentes em diferentes isóbatas, desde a região costeira até o talude

(figura 19).

Para a categoria 3, as avistagens ocorreram em sua maioria também na região

costeira do Estado de Santa Catarina (figura 20). As baleias Franca foram avistadas

próximas da costa em períodos que coincidem com sua presença no litoral sul do Brasil,

podendo ocorrer em regiões sudeste, como em algumas entrevistas. Uma avistagem

próxima ao talude do Estado de Santa Catarina e outra no Estado do Rio Grande do Sul

despertam uma dúvida quanto a validade do relato, ou na categorização das espécies

conforme descrição feita pelos pescadores. As baleias Franca possuem características

familiares aos pescadores da região que descrevem o animal como “aquele preto que está

sempre com filhote perto da costa e com a cabeça cheia de cracas”.

Para a categoria 4, orcas, poucas avistagens ocorreram ao litoral do Estado de

Santa Catarina e próxima ao talude no Estado do Rio Grande do Sul. É uma das categorias

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em que se tem relatos interessantes e mais exatos, pelo fato do animal dificilmente ser

confundido pelos pescadores, que por muitas vezes entre admiração e medo descrevem

relatos curiosos dos animais (figura 21).

Para a categoria 5, apenas uma avistagem foi relatada ao litoral do Estado de

Santa Catarina e outra na isóbata aproximada dos 600m do mesmo estado, e uma ao litoral

do Estado do Rio Grande do Sul. As Toninhas que possuem um comportamento discreto

muitas vezes são relatadas como “os golfinhos filhotes todos juntos, marrons e de bico

comprido”. O relato próximo à costa de Santa Catarina condiz com a literatura à respeito

da presença dos animais na região, porém sabe-se que as Toninhas estão presentes em

regiões estuarinas e principalmente na costa brasileira entre Atafona (ES) e o Rio Grande

(RS) até aproximadamente 30 milhas da costa, sendo relatadas regiões onde não foi

descrito sobre a presença da espécie (figura 22).

Para a categoria 6, cachalotes e outros cetáceos de cabeça redonda, ocorreram

avistagens ao litoral do Estado de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em

diferentes isóbatas (figura 23),

Figura 18: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 1 – golfinhos e botos.

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Figura 19: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 2 – baleias e zifiídeos.

Figura 20: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 3 – baleias Franca.

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Figura 21: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 4 – Orcas.

Figura 22: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 5 – Toninhas.

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Figura 23: Mapa com avistagens plotadas para a categoria 6 – Cachalotes e cetáceos de cabeça redonda.

Comparando-se as estações do ano para os meses de 2006 e 2007 (com

exceção ao verão de 2006 inexistente devido a ausência da coleta de dados), a quantidade

de avistagens realizadas pela frota de emalhe mostrou grande diferença para o inverno (21

de junho a 22 de setembro), quando foram registradas 37 avistagens dos 97 relatos de

avistagens ou seja 38% do total. Seguido da primavera (23 de setembro a 20 de dezembro)

com 24 avistagens ou seja 25% do total.

Para analisar a variação espacial das categorias avistadas conforme as estações

dos anos de 2006 e 2007 optou-se por utilizar as latitudes de cada avistagem, uma vez que

a longitude, que se reflete em termos de distância da costa, muitas vezes foi obtida a partir

de dados de profundidade relatados nas entrevistas. Para a primavera de 2006 há uma

aparente concentração de avistagens em maiores latitudes (Figura 24), mas para 2007 esse

padrão não se repetiu, com avistagens em altas latitudes principalmente no inverno (Figura

25). Foi realizado um teste estatístico que mostrou que não houve diferença significativa

entre as latitudes de avistagem nas estações (ANOVA: gl=3; f=1,164; p=0,327).

Apesar de não haver diferenças significativas entre as latitudes de avistagens, pode-

se observar alguns padrões. Para o outono de 2006 e 2007 as avistagens ocorreram

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principalmente em áreas costeiras ao sul do Estado do Rio de Janeiro. Já para o inverno de

2006 e 2007 todas as avistagens ocorreram entre a costa e o talude, sendo diversas entre o

Estado do Rio de Janeiro e Estado do Rio Grande do Sul, e a maioria entre os estados do

Paraná e Santa Catarina, em diferentes profundidades. Na primavera de 2006 e 2007 pode

se perceber maior concentração das avistagens ao largo do Rio Grande do Sul e para verão

de 2007, algumas avistagens nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,

este último com um único registro de baleia, categoria 2, em aproximadamente 200 metros

de profundidade.

Figura 24: Quantidade de avistagens de cetáceos registradas pela frota de emalhe, separados por estações do ano de 2006.

Figura 25: Quantidade de avistagens de cetáceos registradas pela frota de emalhe, separados por estações do ano de 2007.

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tag

en

s

Figura 26: Quantidade de avistagens de cetáceos registradas pela frota de emalhe, separados por latitude.

Um mapa foi gerado contendo as avistagens por quadrantes de 1º, com o

número de ocorrência das categorias avistadas (figura 27). Esta análise por quadrantes

mostrou maior concentração de avistagens na desembocadura e saída para o mar aberto a

partir do Rio Itajaí (SC). Fato pelo qual pode se supor que os pescadores estariam

empregando maior esforço de pesca, pois estão saíndo à barra, procurando e iniciando sua

viagem de pesca, seria um momento o qual estariam mais atentos às movimentações de

animais em superfície.

Alguns comportamentos descritos pelos pescadores em pequenos relatos, são

de animais próximos á rede, animais que vem quando um mau tempo se aproxima, animais

saltando, pescando, brincando e até um relato de um animal realizando exposição ventral.

Alguns relatos interessantes merecem atenção especial;

“...-cachalotes de mais ou menos 6 metros de comprimento, no 45 metros de

profundidade...”

Os cachalotes nascem com aproximadamente 4 metros e adultos podem atingir até 11

metros (fêmeas) e 18 metros (machos). Além dos tamanhos do corpo dos animais, um

grupo de pequenos cachalotes não seria avistado junto, e muito provavelmente nem em

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uma profundidade pequena como esta. Este relato pode sugerir um grupo de Globicephala

sp., Peponocephala sp., ou Kogia sp. que possuem características morfológicas um pouco

semelhantes e poderiam ser avistadas em regiões sudeste e sul do Brasil (KNOPF et al.

2002).

“...-golfinhos com costas cinza, uns cento e poucos, brincando na lua cheia...”

Tanto a pesca de emalhe de superfície como a de fundo costumam ficar parados durante a

noite, o que permite aos pescadors um tempo maior para observação do mar. Em noites de

lua cheia e pouco vento a visibilidade pode ser grande, e este relato acompanha o que foi

visto em outros locais, que os cetáceos mantém atividade mesmo no período noturno

(OLIVEIRA et al., 1999; BAIRD et al., 2001, 2002). Em outros locais também existem

relatos de maior atividade em períodos de lua cheia (com.pess.), o que poderia demonstrar

uma maior atividades destes animais nesta fase da lua, quer seja por influências em ciclos

fisiológicos, quer seja por alteração nos comportamentos das presas.

“...-golfinhos escuros e pintados juntos, vem com o vento sul, em São Francisco nos 70

metros...”

Estes animais pintados, provavelmente seriam S. frontalis, considerando a distribuição das

duas espécies de golfinhos pintados, S. attenuata e S. frontalis, na costa brasileira

(MORENO et al., 2005). A informação de que golfinhos aparecam sempre que o tempo

muda para um tempo chuvoso, com vento ou até em grandes tempestades tem sido relatada

por muitos pescadores durante muitos anos, em diversos locais (com.pess.). Se isto é algo

real, ou apenas uma impressão dos pescadores, necessitaria de maiores investigações.

“...-Toninha sempre aparece da Solidão pra baixo...”

É um relato interessante, pois alguns trabalhos tem relatado grande quantidade de

avistagens, capturas incidentais e encalhes de toninhas especialmente no Estado do Rio

Grande do Sul (MORENO et al. 1994; PINEDO, 2002; HIGA, 2003). Assim, o relato de

que aparecem mais ao sul do Farol de Solidão (norte do Estado do Rio Grande do Sul), está

de acordo com o relatado para a literatura científica.

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“...-orca aparece de cardume por fora do Rio Grande e em terra, de cardume

pequeno...”

As orcas também tem sido relatadas em trabalhos científicos em grandes associações em

mar aberto e em pequenos grupos em regiões mais costeiras (BAIRD, 1994 apud MANN,

2000). Estas diferenças de tamanho de grupo podem ser atribuidas ao fato de animais em

mar aberto estarem em áreas sem abrigo, ou tendo que agir em grupo à procura de presas,

pois a orca não tem predadores conhecidos.

A ocorrência de capturas incidentais foi relatada em 14 das 112 entrevistas

(12,5%). Entretanto este número pode ser uma subestimativa do real, pois quando

questionado ao final da entrevista sobre a possível captura incidental dos cetáceos, os

pescadores se sentiam acuados e nem sempre eles se dispunham a relatar tais fatos, pois

sabem que capturar cetáceos é crime ambiental.

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Figura 27: Avistagens de cetáceos por quadrantes de 1° nas regiões sudeste e sul do Brasil

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Discussão

A intenção deste trabalho foi de analisar as interações que ocorrem entre os

cetáceos e a frota industrial de emalhe que opera no Estado de Santa Catarina,

considerando que o porto de Itajaí e Navegantes possui a maior frota industrial do Brasil

descarregando pescado (GEP/CTTMar, 2007). Uma análise inicial com entrevistas a todos

os petrechos mostrou uma quantidade de informações interessantes frente às respostas do

objetivo desta pesquisa para a frota de emalhe.

No meio da década de 1990, em uma revisão sobre interações de cetáceos e

embarcações que operam em águas costeiras no Brasil, foram coletadas informações em

portos de descarga de pescado, onde se registrou capturas incidentais principalmente de

Sotalia guianensis e Pontoporia blainvillei, sendo que para as regiões Norte e Nordeste, as

carcaças utilizadas estariam sendo usadas como isca para peixes e para consumo humano

(SICILIANO, 1994). No mesmo ano, Pinedo (1994) realizou uma revisão das interações

entre pequenos cetáceos e a pesca, onde através de consultas a trabalhos publicados e

dados não publicados verificou que a maioria das espécies possui estoques populacionais

desconhecidos. Além disso, a causa principal das mortes de pequenos cetáceos seria a

captura incidental em redes de espera, porém interações e espinhel também foram

registrados. As espécies mais capturadas registradas foram Pontoporia blainvillei no

Estado do Rio Grande do Sul, e Sotalia guianensis no Estado do Paraná. Do mesmo modo,

Di Beneditto (2003) relatou a captura incidental ao norte do Estado do Rio de Janeiro para

Sotalia guianensis e Pontoporia blainvillei em redes de espera, através de relatos de

pescadores.

Entretanto todos estes trabalhos tratam principalmente de pesca artesanal, com

poucos trabalhos publicados para interações de cetáceos e pesca industrial. Conhecendo

melhor a pescaria de emalhe, bem como suas características estruturais e do próprio

processo de pesca, foi constatada a necessidade de mais esforço de entrevistas focadas

nessa pescaria para averiguação do impacto sobre as populações de cetáceos.

No Brasil, até hoje apenas dois trabalhos trataram especificamente da captura

incidental na frota industrial do Estado de Santa Catarina, um realizado há dez anos

(ZERBINI & KOTAS, 1998) e outro mais recente relacionado com redes de emalhe de

grandes profundidades (PEREZ & WAHLICH, 2004). Uma vez que em outras localidades

a rede de emalhe mostrou capturar incidentalmente grandes quantidades de cetáceos

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(WOODLEY, 1993; SILVANI et al., 1999; WWF, 2003; READ et al., 2006) deve-se

buscar monitorar e pesquisar as interações envolvendo as capturas incidentais em pescarias

de emalhe.

Nesta pesquisa foram realizadas 112 entrevistas, o que significa que visitou-se

a embarcação em questão e o mestre ou contra-mestre da mesma foi entrevistado

verbalmente. O número de relatos de avistagens foi de 97 e corresponde aos relatos feitos

com avistagem de cetáceos em superfície. Além destes foram relatadas 14 capturas

incidentais. Este número relativamente pequeno pode estar relacionado ao fato de os

pescadores muitas vezes omitirem dados, visto que capturar cetáceos é crime e muitos

poderiam se sentir acuados e com medo. Existem atualmente duas portarias e uma lei que

visam a proteger as espécies de cetáceos que ocorrem em águas brasileiras:

• Portaria nº N-011, de 21 de fevereiro de 1986 – “Proibir, nas águas sob jurisdição

nacional, a perseguição, caça, pesca ou captura de pequenos Cetáceos, Pinípedes e

Sirênios.”

• Lei nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987 – “Fica proibida a pesca, ou qualquer

forma de molestamento intencional, de toda espécie de cetáceo nas águas

brasileiras.”

• Portaria nº 2.306, de 22 de novembro de 1990 – “Fica proibido qualquer forma de

molestamento intencional a toda espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais

brasileiras.”

Apesar da existências deste tipo de legislação, não só no Brasil como em outros

países, métodos de entrevistas em locais onde ocorre o desembarque pesqueiro pode ser

viável. Em um trabalho sobre interações entre pequenos cetáceos e redes de cerco em

águas portuguesas, também foram realizadas entrevistas com mestres de embarcações, mas

acrescentadas de observadores de bordo que acompanharam as embarcações. Estes

registraram a avistagem de três espécies: Delphinus delphis, Tursiops truncatus e

Phocoena phocoena e entre estas, apenas D. delphis interagindo com a pescaria. Estes

últimos realizavam comportamentos de pesca, unindo ou dispersando os cardumes e

algumas vezes danificando as redes para retirada dos peixes. Ocorreram três capturas

incidentais em 48 viagens de pesca e apenas uma morte, e sugeriu-se que o cerco não

possui grande impacto às populações desses cetáceos presentes na região (WISE, 2007).

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Já López (2006) descreve um trabalho semelhante quando utilizou entrevistas com

os pescadores no cais de um porto da Sardinia na Itália, somada a observadores de bordo

realizando tal monitoramento, a fim de analisar as interações entre Tursiops truncatus e

redes de emalhe no Mar Mediterrâneo. Esta pesquisa teve um esforço de coleta de dados

de 1999 a 2004 e foi analisada por estações dos anos, resultando numa conclusão de que os

animais estariam presentes na região de estudo em maiores quantidades, nos momentos

onde os pescadores não estavam efetivamente largando suas redes. Similar à presente

pesquisa, López (2006) observou comportamentos de animais navegando próximo,

socializando e se alimentando próximos às redes. Também foram registradas algumas

situações de interações negativas quando ocorreram capturas incidentais dos espécimes,

porém em números não alarmantes.

Outro trabalho com mesmo método de coleta de dados, utilizando observadores de

bordo somados à coleta de dados mediante entrevistas com pescadores no cais do porto da

Galicia na Espanha, para vários petrechos de pesca, foi realizados durante 1998 e 1999.

Este trabalho relata interações negativas, com by-catch de espécimes de Delphinus delphis

principalmente em redes de emalhe. Nesta, os observadores de bordo não registraram

pessoalmente as capturas incidentais, porém quando não estavam presentes, os pescadores

coletavam os espécimes mortos para análise em terra. Espécimes de Tursiops truncatus e

Globicephala melas também foram reportados em menor número e o autor sugere

continuação do monitoramento para avaliação do impacto (LÓPEZ , 2003).

Deste modo pode-se notar que este tipo de metodologia é viável. Porém, quando

durante as entrevistas eu utilizava um carro cedido pela UNIVALI, onde os entrevistadors

precisavam estar devidamente uniformizados, atendendo as recomendações das empresas

de pesca, utilizando roupas brancas, botas e bonés, muitas vezes ao chegarmos éramos

questionados se éramos do IBAMA. Foi possível sentir, ouvindo os pescadores, o receio

que eles tem em repassar algumas informações. Assim, acreditamos que muitas vezes os

pescadores podem estar omitindo informações.

Foram entrevistadas 62 mestres de diferentes embarcações, para uma frota que

opera com aproximadamente 300 embarcações de emalhe, segundo dados preliminares do

monitoramento realizado pelo Projeto TAMAR/ICMBio (F. Fiedler, com. pess.), sendo

assim apenas 20,6 % da frota entrevistada. Este número pequeno deve-se ao fato de muitas

embarcações passarem até quase 1 mês no mar e não coicidirem de estarem no porto nos

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momentos de entrevistas, ou ao fato das embarcações estarem descarregando em outros

portos, como por exemplo em Laguna e Porto Belo (SC). Inicialmente houve esforço de

coleta de dados nestes locais, mas após 2 meses de coletas de dados nestes locais, as etapas

à campo foram interrompidas por questões logísticas. Consequentemente, seria interessante

repetir o método aplicado nesta pesquisa nestes dois portos, para verificar se os padrões

aqui observados se mantém.

Em 1995 foram registradas na frota industrial que descarrega em Itajaí,

Navegantes e Porto Belo, 126 embarcações operando com o emalhe, entre elas 47

embarcações operando com o emalhe de superfície ou “drift-net”, 34 com o emalhe de

fundo e 49 até então não identificadas. O tamanho médio das malhas utilizadas foi de 35, 6

cm, e altura média de operação de 13,7 m. Na maioria das viagens as embarcações levaram

em torno de 60 panos (aproximadamente 3000m de rede entralhada), podendo chegar até a

120 panos (aproximadamente 7560 m de rede). Para aquele período amostral, as

profundidades médias variaram de 47 metros a 3600 metros, com viagens de 8 a 27 dias.

As redes ficavam submersas na água em torno de 12 horas no período noturno, já que a

pesca de emalhe de superfície é tipicamente executada à noite (KOTAS et al., 1995). No

presente trabalho, pode-se verificar que após 13 anos os dados sobre as características dos

petrechos mostraram pequena diferença entre eles, com tamanho das malhas registrado de

40 cm, altura média de 15 cm, porém o comprimento total médio das redes, de 7000m

atualmente, é quase o dobro do registrado para 1995. Do mesmo modo, a profundidade

máxima de orperação das embarcações reduziu, operando atualmente em profundidades de

50 à 800 m. Porém, deve-se ter em mente que apenas duas embarcações foram contactadas

nesta entrevista, e um levantamento mais amplo pode alterar os padrões acima.

Para emalhe de fundo, foram relatados 88 registros de interações positivas e

neutras (avistagens). Esta frota opera em regiões onde há possibiliadade de se encontrar

cetáceos, em busca de peixes que podem fazer parte da dieta de delfinídeos e outros

cetáceos. Como estas embarcações perfazem um esforço de mar de aproximadamente 24

dias, em profundidade variadas, pode se entender que a maioria das entrevistas relate

algum tipo de interação positiva ou neutra com a embarcação. Houve 13 relatos de

interações negativas (capturas incidentais) pelas embarcações de emalhe de fundo, dos

quais 4 foram descritas com Toninhas e 9 apenas como Golfinhos. Além destes registros

específicos de capturas, houve alguns relatos gerais, que indicavam a captura de cetáceos,

tais como:

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“- ...a gente captura de vez em quando...”

“- ...de 10 viagens, 2 captura acidentalmente...”

“- ...de 1000 morre 1 de vez em quando...”

“- ...já vem morto na rede...”

“- ...se vem vivo a gente solta...”

A frota de emalhe e comunidade pesqueira industrial do Estado de Santa

Catarina não tem nenhum histórico conhecido a respeito da utilização de cetáceos para

consumo próprio, o que sugere que estas capturas são realmente incidentais e não há um

direcionamento para a captura destes animais. Deve-se ressaltar que o fato de se registrar

uma interação negativa, diz respeito tanto ao pescador, que muitas vezes tem sua rede

danificada pelo animal que tenta rasgar a rede ao tentar escapar do afogamento, quanto ao

cetáceo, que é morto incidentalmente.

As Toninhas registradas em 4 relatos de capturas incidentais são animais

conhecidos dos pescadores do Estado de Santa Catarina que a descrevem muitas vezes

como: “- ....golfinhos filhotes com bico muito fino e comprido, em bando...(obs. Pess.)”.

Estes animais podem estar sobrepondo a área de pesca utilizada pela frota de emalhe de

fundo. Sabe-se que Pontoporia blainvillei é um animal de hábitos costeiros podendo estar

presentes em regiões estuarinas e em regiões afastadas da costa em até 30 milhas náuticas,

dentro dos limites conhecidos da sua distribuição, de Itaúnas (ES), ao Chuí (RS) (PINEDO

et al., 1989; SICILIANO & SANTOS, 1994.; SECCHI et al., 1998; CREMER, 2007).

Se observarmos o tamanho total das redes de emalhe de fundo (18 quilômetros)

somados ao tempo que permanecem na água (aproximadamente 9 horas) e a altura das

redes (3 metros) pode-se supor que há realmente risco destas redes capturarem cetáceos,

especialmente quando está sendo recolhida e alguns peixes tendem a se soltar das redes,

instigando os cetáceos a capturar tais presas.

Para emalhe de peixe-sapo (Lophius gastrophysus), em profundidades de 130 a

420 metros, e uma rede que fica 2 dias na água, também pode-se supor que há risco de

captura incidental de cetáceos. Porém para este petrecho nenhum registro foi relatado.

Entretanto, em uma avaliação das capturas incidentais de grandes vertebrados nesta mesma

pescaria, realizadas em 2001 no Sul do Brasil, através de observadores de bordo, relatou-se

capturas ocasionais das espécies Delphinus sp., Stenella coeruleoalba, e Stenella sp., no

momento em que as redes estavam sendo recolhidas, com a embarcação em movimento

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(PEREZ & WAHRLICH , 2004). A ausência de relatos no presente trabalho pode ter sido

causada tanto pelo fato de se ter entrevistado uma única embarcação ou do mestre não ter

desejado relatar as capturas à superfície.

Apesar da pescaria de emalhe de superfície ser a mais “acusada” de capturar

cetáceos incidentalmente, para esta pesquisa, com apenas 2 embarcações contactadas,

nenhum registro de captura incidental foi relatado. Esta modalidade também teria a

possibilidade de capturar cetáceos, talvez no recolhimento das redes. Atua em diversas

profundidades (50 a 800 metros) permanecendo na água por 12 horas com uma altura de

rede de 15 metros. Porém ela tem como espécie-alvo diversas espécies de

elasmobrânquios, e visto que estes são considerados predadores de delfinídeos, com

golfinhos exibindo cicatrizes de ataques e registros diretos de ataques de tubarões sobre

golfinhos (MANN et al. 2000), este fato poderia sugerir que em áreas de maior

concentração de elasmobrânquios haja menores densidades de golfinhos. Se considerarmos

que os pescadores estariam largando a rede onde acham que há a espécie-alvo (o cação),

isto poderia explicar a ausência ou um pequeno número de capturas incidentais neste tipo

de pescaria. Em muitos casos onde existem relatos de capturas de cetáceos em redes de

deriva, a pescaria é sobre outras espécies-alvo, tais como atuns e salmões, apesar de

também haver registros de capturas em pescarias direcionadas aos elasmobrânquios

(NORTHRIDGE, 1991).

Nesta pesquisa, onde relatos de pescadores levaram à possível identificação e

localização de várias espécies de cetáceos, observou-se que dentre as 6 categorias

morfológicas utilizadas, a categoria número 1, golfinhos e botos, apresentou 54 % do total

de avistagens realizadas, sendo a categoria mais abundante. Isto era esperado pois entre os

cetáceos são os animais que tem maior probabilidade de serem avistados, devido à sua

maior abundância (IWC, 2008) e visualização em superfície é significativamente maior do

que para baleias, ou cetáceos com comportamentos tímidos como por exemplo Toninhas

(CREMER, 2007).

A categoria 2, baleias e zifiídeos, apresentou 22 % do total de avistagens e

nesta foi incluída não só os animais ditos baleias verdadeiras, mas também os zifiídeos que

possuem características morfológicas semelhantes às grandes baleias quando avistados em

superfície. Em alguns casos houve a clareza de detalhes nos relatos dos pescadores,

incluindo alguns detalhes que deixavam claro que se tratavam mesmo de zifiídeos.

Entretanto, em grande parte, essa distinção não foi possível. Os zifiídeos também

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encontram-se nesta categoria por apresentarem, com exceção das baleias-minke e baleias-

jubarte, comportamentos mais discretos à superfície, e tempo de mergulho

excepcionalmente maior do que qualquer outro mamífero marinho (HOOKER, 1999), e

muitas vezes apenas exibindo parte do rostro e dorso ao respirar. Como os animais

demoram para respirar, ao prestar atenção por poucos momentos e rapidamente, o pescador

pode descrever o animal como baleia apenas, pelo porte e por visualizar um borrifo grande.

Para a categoria 3, baleia-franca, foram realizadas 10,3% das avistagens. Esta

categoria foi separada com apenas uma espécie, Eubalaena australis devido ao fato de ser

um animal conhecido dos pescadores, mesmo das frotas industriais, que tem a

oportunidade de vê-las ao sair para águas oceânicas entre os meses de julho e dezembro

quando estão presentes especialmente no litoral do Estado de Santa Catarina (GROCH,

2000). No presente trabalho, as avistagens desta categoria ocorreram também no período

de maior ocorrência da espécie na costa brasileira, corroborando a identificação feita pelos

pescadores.

A categoria 4, orca, com 4 % dos relatos, também pode ser individualizada

devido a ser um animal bem conhecido dos pescadores por causar medo e muita

admiração, sendo frequentemente mencionada como “baleia assassina” pelos mesmos.

Um relato muito interessante foi registrado em um ataque de orca a golfinhos,

possivelmente do gênero Stenella. Diversos mestres de embarcações de cerco, relataram

um ataque de uma orca a golfinhos pintados, e um deles detalhou que “...a orca mordeu o

golfinho que ficou sangrando e pedindo ajuda, quando bateu a cabeça na proa do barco

(com.pess.)”. O golfinho ficou muito ferido, com marcas de sangue e não foi mais visto

depois do ataque. Este relato foi feito por diferentes mestres de embarcações de cerco, em

diferentes cais de descarga do pescado, na mesma data, e para a mesma região. Eles

disseram que passaram rádio uns para os outros relatando o acontecido e navegaram para a

mesma posição a fim de conferir o acontecimento, o que mostra o interesse dos mestres em

eventos incomuns que possam acontecer, mesmo quando não estão relacionados com a

atividade pesqueira.

A categoria 6, cachalotes e cetáceos de “cabeça redonda”, com 8% dos relatos,

foi utilizada para incluir todos os animais de grande porte e que possuem a cabeça

arredondada. Houve relatos de “...o cachalote de bico fino...”, que possivelmente

representa um Hyperoodon planifrons, que poderia ser incluído na categoria 2-baleias e

zifídeos. Mas, como as características morfológicas do mesmo (grande tamanho, melão

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proeminente e arredondado) o tornam mais similar a este grupo, optou-se por deixa-lo

junto aos cachalotes.

Das 8 categorias comportamentais definidas, a partir das entrevistas obtidas, o

comportamento mais relatado foi o de animais que “navegam próximo” com 66% dos

relatos e “acompanham o barco” com 30%. Considerou-se uma interação positiva os

animais que acompanhavam a embarcação, visto que os cetáceos podem se benefeciar da

onda gerada pelo deslocamento da embarcação. O bow-riding, termo utilizado para

descrever o nado próximo à proa de embarcações, é um tipo de estratégia energética dos

cetáceos, que utilizam as ondas de pressão geradas pelas embarcações para reduzir os

gastos energéticos nos deslocamentos (COSTA, et al. 1999).

Para os animais que simplesmente navegam próximos às embarcações

considerou-se uma interação neutra. Este tipo de avistagem também pode ser considerada

uma “interação” entre os pescadores e os cetáceos, pois considerando que o som pode se

propagar por longas distâncias dentro d’água, e a alta capacidade acústica dos cetáceos, é

altamente provável que quando um pescador avista um animal, o mesmo já tenha

percebido os ruídos produzidos pelas máquinas à bordo. Uma vez que os barcos foram

detectados, a ausência de aproximação ou afastamento é uma interação, pois houve uma

“decisão” dos mesmos em ignorar aquele ruído.

Os dados plotados a partir das entrevistas desta pesquisa realizada em 2006 e

2007, foram comparados aos dados plotados no sistema SIMMAM, e mostraram

semelhança na localização das avistagens. Porém as informações plotadas no SIMMAM,

incluem dados dos anos de 1973 a 2004, coletados da literatura e por observadores de

bordo em diferentes modalidades de pesca. Apesar do SIMMAM incluir mais de 1800

dados de interações de mamíferos marinhos em todo Brasil, não foi encontrada uma única

informação relacionada com a captura incidental de cetáceos em barcos que operam com a

pescaria de emalhe no Estado de Santa Catarina (exceto embarcações arrendadas para

peixe-sapo), pois nesta modalidade não foram embarcados observadores de bordo (Roberto

Wahrlich com. pess.).

O fato de dados serem coletados por diferentes modalidades de pesca, pode conter

diferente esforço amostral, pois possuem diferentes sistemas de pesca. Uma embarcação de

emalhe, passa em média 20 dias no mar e com redes da água por aproximadamente 9

horas. No momento em que as redes estão sendo largadas, recolhidas e até na espera pelo

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pescado, o pescador teria mais tempo, observando a superfície da água em busca de

cardumes de peixes, quando poderia estar mais atento á qualquer movimentação na água,

inclusive para a presença ou não de cetáceos na área.

O mapa contendo as avistagens, agrupadas em quadrantes de 1º, mostrou maior

concentração de avistagens na desembocadura do Rio Itajaí (SC). Fato pelo qual pode se

supor que os pescadores estariam mais atentos, pois estão saíndo à barra, procurando e

iniciando sua viagem de pesca, sendo um momento no qual estariam mais atentos às

movimentações de animais em superfície. Além disto, a partir desta região estariam se

deslocando entre o porto de origem e as áreas de pesca.

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No período de 2006 e 2007, a frota de emalhe atuou entre Cabo Frio (RJ) e Chuí

(RS) entre as latitudes 22 a 33º S e longitude 40 a 51º W, em profundidades que variaram

de 10 a 800 metros de profundidade. Para fins de comparação, foram obtidos os dados

referentes ao número médio de viagens realizadas pelas embarcações de emalhe de fundo e

superfície nos anos de 2006 e 2007 (Figuras 28 a 31; GEP/CTTMar, 2008).

Figura 28. Distribuição do número de viagens realizadas por embarcações de emalhe de fundo ao longo do ano de 2006 (Fonte: GEP/CTTMar, 2008).

Figura 29. Distribuição do número de viagens realizadas por embarcações de emalhe de fundo ao longo do ano de 2007(Fonte: GEP/CTTMar, 2008).

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Figura 30. Distribuição do número de viagens realizadas por embarcações de emalhe de superfície ao longo do ano de 2007(Fonte: GEP/CTTMar, 2008).

Figura 31. Distribuição do número de viagens realizadas por embarcações de emalhe de superfície ao longo do ano de 2007 (Fonte: GEP/CTTMar, 2008).

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Ao longo da costa Brasileira e dentro dos limites jurisdicionais das águas

brasileiras , foi registrado através de monitoramentos de encalhes em praias e avistagens

em superfície, a presença de aproximadamente 40 espécies de cetáceos, alguns com hábitos

migratórios e outras residentes (IBAMA, 2001). Este é um número relativamente

significativo visto que hoje são reconhecidas aproximadamente 80 espécies viventes de

cetáceos no mundo todo, sendo aproximadamente 12 espécies da sub-ordem Mysticeti e 68

da sub- ordem Odontoceti. O REVIZEE – Score Sul (2005) ao relatar sobre a distribuição e

abundância relativa de cetáceos na Zona Econômica Exclusiva da Região Sudeste-Sul do

Brasil, realizadas por avistagens durante três cruzeiros de Prospecção Pesqueira Pelágica

realizados em 1996 e 1997, observou uma maior concentração de cetáceos sobre a

plataforma continental externa e o talude, em profundidades entre 100 e 1800 m. Estas

avistagens ocorreram em uma área entre o Cabo de São Tomé (22º15’S) e o Chuí

(33º45’S), e somaram 83 avistagens, sendo 19 em águas costeiras e 64 em águas oceânicas.

Nove espécies foram confirmadas, entre elas; Balaenoptera bonaerensis, Balaenoptera

acutorostrata, Megaptera novaeangliae, Orcinus orca, Physeter macrocephalus, Stenella

clymene, Stenella frontalis, Stenella longirostris, Tursiops truncatus, Globicephala sp. e

Delphinus sp.. As informações relatadas pelo Revizee correspondem ao primeiro esforço

sistemático de avistagem de cetáceos no sudeste e sul do Brasil. Entretanto, cruzeiros

dedicados de pesquisa são caros e não tem como cobrir sistematicamente toda a costa

brasileira. Sendo assim, a utilização de informações vindas de observações oportunísitcas,

de barcos de pesca, é um modo útil de ampliar o esforço de pesquisa, para determinar a

ocorrência e identificar espécies, auxiliando no levantamento da diversidade de cetáceos

em regiões oceânicas.

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CONCLUSÃO

Das categorias morfológicas listadas, a categoria 1, golfinhos e botos, foi

significativamente mais relatada do que as outras, com o comportamento de “navegar

próximo” sendo o mais relatado. Isto indica que os pescadores além de estarem em procura

dos cardumes, também prestam atenção em outros animais presentes na área de pesca.

Foi registrada a ocorrência dos cetáceos em toda a região de pesca desta frota,

desde Cabo Frio (RJ) até o Chuí (RS), mas com uma maior quantidade de avistagens

realizada principalmente na barra do Rio Itajai, de onde partem as embarcações para as

diferentes área de pesca.

Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as

latitudes de avistagens de cetáceos nas diferentes estações do ano.

Sugere-se um aumento do esforço de campo, especificamente nos portos onde

a frota de emalhe estaria descarregando o pescado (Porto Belo e Laguna), para que se

possa verificar se os padrões de registro de interações entre a frota e os cetáceos aqui

relatados se mantém para o restante da frota.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

ANEXO 01 – Figuras de cetáceos utilizadas nas identificações.

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ANEXO 02 - Questionário De Entrevistas