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    UNIVERSIDADE: Universidade Federal do Paraná/Setor de TecnologiaNÚCLEO DISCIPLINAR/COMITÊ ACADÊMICO: Águas e Meio Ambiente

    TÍTULO DO TRABALHO: ANÁLISE DA RELAÇÃO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E A OCORRÊNCIA DEINUNDAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CURITIBA: UM OLHAR SOBRE A BACIA DO RIOBELÉM

     AUTORAS: Rafaela Antunes Fortunato e Cristina de Araújo LimaE-MAIL: [email protected][email protected]  

    Palavras chaves: uso e ocupação do solo - inundações urbanas – CuritibaPalabras claves: uso y ocupación del suelo - inundaciones urbanas - Curitiba

     

    RESUMO

    Esse artigo aborda a relação existente entre a intensa urbanização e a ocorrência deinundações, analisando-a segundo as formas de ocupação do espaço urbano do municípiode Curitiba. No Brasil, esse processo de ocupação e uso do solo urbano está intimamenteligado à freqüência das inundações. A forma de ocupação da terra, e também o aumentodas superfícies impermeáveis em bacias localizadas dentro do perímetro urbano ou próximoà área urbana constituem um dos principais impactos da cidade sobre os processoshidrológicos. Em Curitiba, um dos maiores problemas têm ocorrido na Bacia rio do Belém,formada por bairros densamente ocupados, incluindo o Centro da cidade. Dessa forma, aanálise da relação uso e ocupação do solo e a ocorrência de inundações no município deCuritiba, por meio da elaboração de um diagnóstico sobre a Bacia do rio Belém e suasmanchas críticas de inundação fornecerá bases para a elaboração de políticas públicas de

    prevenção e controle das inundações urbanas.

    INTRODUÇÃO

    Desde a década de 1950, o Brasil vem passando por um processo de urbanização emetropolização bastante intenso. Neste período, residiam nas cidades somente 36% dapopulação brasileira, contudo, em 2000 este percentual alcançou um total de 80%. O maisalarmante é que somente nas nove regiões metropolitanas nacionais – São Paulo, Rio deJaneiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre e Belém –residem aproximadamente 30% da população brasileira (BRANDÃO, 2001).

    Esse acréscimo acentuado de concentração de população nos ambientes urbanos nosúltimos anos, especialmente no Brasil, é da ordem de 80%. Essa concentração, realizadasem planejamento e associada a um crescimento acelerado e desordenado tem causadoum série de impactos ao meio ambiente. Sob o ponto de vista dos recursos hídricos, essesimpactos dizem respeito principalmente ao saneamento inadequado, permitindo acontaminação de mananciais de abastecimento superficiais e subterrâneos; e às ocupaçõesirregulares em áreas de risco, agravando problemas de drenagem urbana e criando umcenário de constantes inundações (COELHO, 2001; TUCCI, 2001; VIEIRA & SANDRA,2001).

    Os dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ANA, 2003)

    mostram que no Brasil - apenas no ano de 2000 - 1,7 milhões de pessoas foram atingidaspor problemas relacionados às inundações urbanas, cerca de 1% da população brasileira.Isto resultou um saldo de 89 mortos e mais de 16mil desabrigados, exigindoaproximadamente U$12 milhões do governo federal gastos em ações assistenciais.

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    No município de Curitiba, ao analisar a expansão urbana Giusti (1989) constatou quena década de 1970 houve um aumento das enchentes e inundações urbanas, associado aoinício do maior desequilíbrio entre os escoamentos superficial e subterrâneo. Segundo Lima(2004) esse processo foi desencadeado pelas modificações socioeconômicas da época, querepercutiram no contexto da Região Metropolitana de Curitiba, bem como em outros pólosregionais. Giusti (1989) afirma que esse grande fluxo migratório proveniente do meio ruralocupou rapidamente as áreas de declividade média do município de Curitiba – com baixastaxas de adensamento, porque eram áreas mais nobres e inacessíveis à maior parte dapopulação – e avançou sobre as várzeas e planícies de inundação da porção sul da cidade,muitas vezes com sub-habitações. Conforme Lima (2004), após três décadas da ocorrênciadesse fenômeno a tendência não é a diminuição das ocupações irregulares, pelo contrário,as sub-habitações tendem a aumentar tanto em Curitiba quanto no aglomerado urbanocontíguo.

    Outro agravante, segundo Giusti (1989), é que a ocupação do solo em Curitiba geroumodificações no ambiente natural irreversíveis. Diversos problemas ocorreram nos terrenoscentrais, principalmente no terraço fluvial do rio Belém e suas várzeas, os quais foram sendo

    impermeabilizados de forma crescente. Tais fatores contribuíram para o crescimento doescoamento superficial na bacia e, conseqüentemente, para o aumento e freqüência dasinundações na cidade. Ao longo dos anos o rio Belém sofreu canalizações e suas margensforam drenadas, descaracterizando sua forma natural e contribuindo para o aumento dasenchentes ao longo de todo seu talvegue até o exultório no rio Iguaçu.

    Atualmente, essa é a bacia hidrográfica com maior índice de urbanização e,consequentemente, menor percentual de áreas verdes de todo o município, representandoassim um caso extremamente complexo e completo, ao se pretender indicar subsídios àprevenção e controle das inundações no município de Curitiba. Assim, um diagnóstico sobrea bacia hidrográfica do rio Belém permite verificar aspectos errôneos de planejamento,gestão, uso e ocupação do solo, indicando cenários que não podem ser repetidos nas

    demais bacias hidrográficas; bem como possibilita um questionamento a respeito de como oplanejamento e a gestão ambiental urbana podem contribuir para a mitigação dos problemasencontrados.

    OBJETIVOS 

    Este artigo é parte integrante da dissertação de mestrado “Subsídios à prevenção econtrole das inundações urbanas: bacia do rio Belém - município de Curitiba – PR”, que estásendo desenvolvida sob a orientação da Profa. Dra. Cristina de Araújo Lima junto aoPrograma de Pós-Graduação em Construção Civil (PPGCC) da Universidade Federal do

    Paraná. O objetivo geral que se pretende atingir ao final da dissertação é o fornecimento desubsídios para a tomada de decisões de planejamento e gestão urbana quanto à prevençãoe ao controle mitigação dos problemas relacionados às inundações na cidade de Curitiba.

    No entanto, este artigo almeja alcançar apenas parte dos objetivos específicosreferentes à pesquisa. São eles:

    a) Apresentar um panorama sobre o problema das inundações urbanas em Curitiba,aprofundando-se na área de estudo: bacia hidrográfica do Rio Belém;

    b) Buscar nos referenciais teóricos aspectos que relacionem urbanização e riscos deinundação; além dos impactos ambientais, sociais e econômicos decorrentes dasinundações em áreas urbanas;

    c) Analisar os ambientes natural, construído e sócio-econômico da área de estudo,estabelecendo um primeiro olhar sobre a bacia hidrográfica do rio Belém.

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    MATERIAIS E MÉTODOS

    Selecionou-se para a presente pesquisa o método de estudo de caso, consideradoideal por representar uma estratégia que permite a análise de diversos fatores, bem como odesenvolvimento dos detalhes (YIN, 2001; ROBSON, 1993). Assim, a relação entre o uso e

    ocupação do solo e a ocorrência de inundações na cidade de Curitiba é vista sob aperspectiva da bacia hidrográfica do rio Belém. 

    Os materiais utilizados para a presente pesquisa foram obtidos por meio de fontesprimárias e secundárias, sendo coletados em três diferentes etapas: estabelecimento deparcerias e contatos com especialistas da área; levantamento da literatura sobre o tema ebusca por bases digitais sobre a região de estudo; observações e levantamento fotográficoem campo das principais características a serem estudadas – rede hidrográfica, rede dedrenagem, uso e ocupação do solo, morfologia urbana e áreas verdes.

    O estabelecimento de parcerias com diversos órgãos públicos que atuam noplanejamento e gestão da bacia hidrográfica selecionada foi essencial para o acesso a

    bases municipais, metropolitanas e estaduais. Os principais órgãos participantes foram:Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUC); Coordenadoria da RegiãoMetropolitana de Curitiba (COMEC); Superintendência de Desenvolvimento de RecursosHídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA) e Sistema Meteorológico do Paraná –(SIMEPAR). Enriquecendo o trabalho, as entrevistas e reuniões com especialistas das áreasde Arquitetura e Urbanismo, Engenharias Civil, Hidráulica e Ambiental, e Geografia permitiuuma visão ampla sobre a temática.

    A etapa seguinte permitiu a coleta de dados das esferas municipal, metropolitana eestadual. O IPPUC forneceu as bases municipais divididas em três categorias principais dearquivos: mapa de arruamento do município de Curitiba em formato CAD, ortofotos do bairroBoqueirão em escala 1:2000 e arquivos temáticos (bacias hidrográficas, bairros, hidrografia,

    lotes, quadras, loteamento, áreas inundáveis, ocupações irregulares, áreas verdes, entreoutros). A SUDERHSA forneceu os arquivos digitais relativos ao Plano Diretor de DrenagemUrbana da Bacia do Alto Iguaçu, contendo as divisões em sub-bacias, a hidrografia e ocenário tendencial de inundações. A COMEC permitiu o acesso ao mapeamento na escala1:50000 de todos os municípios da Região Metropolitana de Curitiba. O SIMEPAR concedeua imagem do satélite LANDSAT ETM-7 de 2002 da área de estudo, cuja resolução espacialé de 28,50m.

    Após o recolhimento desses dados foi criado um banco de dados, no qual seclassificou por categorias todas as informações referentes à área de estudo. Na etapaseguinte, os dados brutos foram processados em plataforma GIS - Geographic InformationSystems - sendo convertidos para dados temáticos no formato de geodatabase, iniciando as

    análises espaciais por meio do cruzamento das diversas informações selecionadas,segundo um processo denominado geoprocessamento. Esses sistemas e seuprocessamento são explicados por Lazzarotto da seguinte maneira:

    Os Sistemas de Informação Geográfica são um conjunto de ferramentas computacionaiscomposto de equipamentos e programas que por meio de técnicas, integra dados, pessoase instituições, de forma a tornar possível a coleta, o armazenamento, o processamento, aanálise e a disponibilização, a partir de dados georreferenciados, de informação produzidapor meio das aplicações disponíveis, visando maior facilidade, segurança e agilidade nasatividades humanas referentes ao monitoramento, planejamento e tomada de decisãorelativas ao espaço geográfico (LAZZAROTTO, 2004).

    Para garantir validade ao estudo foram realizadas no primeiro semestre de 2005 -paralelamente às outras etapas - diversas observações em campo, trazendo nova gama dedados para o mapeamento e contribuindo para a constatação da realidade atual da bacia

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    hidrográfica do rio Belém, uma vez que os últimos dados mapeados existentes para a áreade estudos são do ano de 2000; e a última imagem de satélite fornecida de 2002.

    DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

    A área selecionada para o estudo – bacia hidrográfica do rio Belém – localiza-se naregião sul do Brasil, no município de Curitiba – estado do Paraná. Esta bacia situa-se naporção centro-norte da bacia do Alto Iguaçu, inserida por inteiro em Curitiba (Figura 1). Abacia hidrográfica do rio Belém é totalmente urbanizada, com ocupações residenciais, decomércio e serviços que apresentam as maiores densidades demográficas da RMC. Asáreas com maior ocupação localizam-se na sua porção central com densidade média de103hab/ha (variando de 60 a 155 hab/ha), o que corresponde a 60% da população da bacia.As demais sub-bacias, próximas à cabeceira e na porção jusante, apresentam densidadepopulacional média de 35hab/ha (variando de 13 a 55hab/ha), (SUDERHSA, 2002).

    Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Belém

    Fonte: Adaptado dos dados do IPPUC, COMEC, SUDERHSA (2000)

    Conforme a SUDERHSA (2002) – a partir do levantamento realizado pelo Plano Diretorde Drenagem Urbana da Bacia do Alto Iguaçu - a concentração das manchas de inundação

    em Curitiba comprova que o crescimento urbano está fortemente relacionado aos problemasdas enchentes e inundações. A maior parte das áreas sujeitas à inundação situa-se nasbacias da margem direita do rio Iguaçu, estando entre elas a Bacia do Belém. Isso ocorre

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    em razão da impermeabilização dos terrenos - decorrente do alto grau de urbanização quese verifica nessas bacias – cujo agravante refere-se à velocidade com que inundam estasáreas, num tempo relativamente curto depois da ocorrência da precipitação. Nas baciassituadas na margem esquerda do rio Iguaçu, onde a taxa de ocupação urbana é baixa, aquantidade de manchas críticas de inundação, bem como o impacto e a probabilidade deocorrência desses eventos é menor. Em geral, os processos hidrológicos que causamproblemas na região são mais lentos e as inundações ocorrem depois de vários dias dechuva (Figura 2).

    Figura 2 – Bacia do Alto Iguaçu: Diagnóstico

    Fonte: Adaptado dos dados da SUDERHSA (2000)

    Segundo Salamuni (2000) as características naturais da bacia de Curitiba colaboramem grande parte para esse cenário. Esse autor ressalta a fragilidade do ambiente natural emque está inserida a cidade, composta principalmente pelas formações Guabirotuba edepósitos sedimentares recentes – ambos solos de baixa permeabilidade. Além disso, oresquício de tal permeabilidade é eliminado com as impermeabilizações decorrentes daimpermeabilização: pavimentações, densidade de áreas construídas, escavações eterraplenagens, redes de captação de águas pluviais e obras diversificadas. As implicaçõesdessa rápida impermeabilização do solo urbano têm sido discutidas por diversos autores,

    que se preocupam com os impactos negativos que isto pode causar para a qualidadeambiental (GAFFIELD et al., 2003; FENDRICH, 2002; TUCCI, 2001; SHARMA & PRIYA,2001).

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    Nos estudos realizados para o Plano de Drenagem da Bacia do Alto Iguaçu, aSUDERHSA constatou a relação entre tipologia hidrológica do solo (Guabirotuba,sedimentar, etc.) x uso do solo (urbano, bosque, etc.) – denominado CN (Curve Number –método Soil Conservation Service). O CN é um número adimensional que representa oimpacto do uso e ocupação do solo, percentual de impermeabilização, em tipos diversos desolo, considerando as características de permeabilidade destes. Assim, quanto maior o CNmais frágil o ambiente natural e maior o impacto da urbanização sobre o mesmo. Nesseestudo foi possível perceber a fragilidade da Bacia do rio Belém, que apresenta o maior CNdentre todas as bacias que formam a Bacia do Alto Iguaçu (Gráfico 1).

    Gráfico 1 – CN calculado para as sub-bacias que compõem a Bacia do Alto Iguaçu

    CN calculado para as sub-bacias que compõem a Bacia do

     Alto Iguaçu

    72,0

    74,0

    76,0

    78,0

    80,082,0

    84,0

    86,0

    88,0

    90,0

       C   E   R   N

       E

       M   I   R   I   N   G   U   A    V   A

       C   O    T   I   A

       M   A   U

       R    Í   C   I   O

       I    T   A   Q

       U   I

        V   E   R   D

       E

       C   A   M   B   U    Í

       M   O   I   N   H   O

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       M   A   S

       C   A    T   E

       C   A   C   H

       O   E   I   R   A

       A    T   U   B

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       A

       B   E   L   É   M

    Sub-bacias hidrográfi cas

            C        N

     

    FENDRICH (2002) alerta que o agravamento das inundações nesta região ocorredevido às chuvas intensas sobre as áreas altamente impermeabilizadas da bacia

    hidrográfica. Outros problemas graves que se constatou por meio das observaçõesrealizadas a campo foram a ocupação de áreas de declividade elevada, causando erosões eassoreamentos de rios e córregos; ocupação irregular junto aos afluentes do rio Belém, bemcomo em suas planícies de inundação, expondo a população a riscos elevados;descaracterização do meio físico devido às constantes canalizações e obras de drenagemdos rios que formam a bacia; crescente ocupação/ impermeabilização e diminuição deáreas verdes em toda a área da bacia hidrográfica do rio Belém, agravando-se o processoprincipalmente nos bairros que constituem a sua cabeceira.

    De acordo com a SUDERHSA (2002) a população atingida por inundações na Baciado Belém foi estimada em cerca de 28000 pessoas. As áreas inundáveis da baciaconcentram-se ao longo do curso do rio Belém, principalmente na planície marginal ao

    trecho retificado, nos seus afluentes principais (rio Pilarzinho, rio Ivo, rio Água Verde, rioJuvevê e córrego do Prado Velho), e na região central da cidade, em decorrência da altataxa de impermeabilização dos terrenos da bacia (Figura 3). Esses pontos críticos somam15 manchas de inundação, distribuídos da seguinte forma:

    a) Regional Boa Vista: duas manchas críticas na região da cabeceira do rio Belém;b) Regional Cajuru: oito áreas críticas associadas ao rio Belém, rio Guabirotuba e

    córrego Areiãozinho;c) Regional Boqueirão: nove manchas de inundação associadas às cheias do rio

    Belém, ribeirão Pinheirinho, córrego Evaristo da Veiga, Córrego Luiz José dosSantos e córrego Valdemar de Campos.

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    Figura 3 – Diagnóstico sobre as áreas inundáveis em Curitiba:

    com destaque para a bacia hidrográfica do rio Belém

    Fonte: Adaptado dos dados do IPPUC, COMEC, SUDERHSA (2000) e SIMEPAR (2002)

    Segundo a classificação da SUDERHSA (2002) as manchas de inundaçãoencontradas na Bacia do Belém representam três diferentes cenários de risco (Figuras 4, 5e 6). As áreas com habitações precárias, de terraços marginais sujeitos as enchentes einundações com alta energia de escoamento representam o cenário de risco I. Os terraçosmarginais com ocupação urbana ao longo do rio Belém, no seu terço inferior, apresentam

    cenário de risco II, associado à dinâmica das cheias do rio Belém e do rio Iguaçu. Já ocenário de risco III é encontrado na porção central da área urbana, na qual as manchas deinundação encontram-se individualizadas.

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    Figura 4 – Cenário de risco I

    Fonte: Fotografias da autora (julho de 2005)

    Figura 5 – Cenário de risco II

    Fonte: Fotografias da autora (julho de 2005)

    Figura 6 – Cenário de risco III

    Fonte: Fotografias da autora (julho de 2005)

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    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O diagnóstico sobre os aspectos físico-territoriais da Bacia do rio Belém permitiu aconstatação dos principais problemas relacionados à ocupação urbana e à ocorrência deinundações nesta porção do município de Curitiba. Ao longo dos anos, a intervenção

    antrópica sob a base natural da Bacia do rio Belém acarretou um desequilíbrio no ciclohidrológico, contribuindo para o agravamento das inundações na bacia. Nesse contexto,dois fatores mostraram-se de maior relevância: o planejamento urbano desassociado dedeterminados aspectos ambientais, e as ocupações irregulares - “ribeirinhas”.

    O planejamento urbano de Curitiba, apesar de comumente elogiado como modelo desustentabilidade urbana, promoveu ações no mínimo incoerentes com estes princípios –extrapolando as capacidades de suporte do meio físico no qual a cidade se insere. Suaspolíticas conduziram ao adensamento de áreas ambientalmente frágeis, incentivaram ainstalação de atividades de serviços e/ou industriais em regiões que deveriam serreservadas à preservação ou implantação de parques públicos e áreas de lazer – como asplanícies de inundação dos rios Belém e Iguaçu; não previram a reserva de áreas verdes em

    algumas regiões da cidade; implantaram desenhos urbanos desintegrados das feiçõesnaturais (geológicas, hidrográficas e de relevo) da bacia hidrográfica; e não conseguiramcontrolar o surgimento de sub-habitações em diversos pontos da cidade, principalmente nasvárzeas dos rios - local em que o problema torna-se mais alarmante.

    CONCLUSÕES

    Verificou-se a necessidade da revisão das políticas públicas de planejamento e gestãourbana do município de Curitiba. Para mitigação e prevenção dos problemas referentes àsinundações sugere-se que sejam tomadas as seguintes ações: definição de um zoneamentoespecífico para áreas sujeita à inundação, que privilegie a implantação praças e parques,tendo por finalidade ampliar a quantidade de áreas verdes e espaços de lazer para a

    comunidade local e reservar a água das chuvas durante as cheias dos rios; relocação dasfamílias situadas em áreas de risco de inundação; desapropriação de áreas relevantes nabacia hidrográfica, sendo as mesmas destinadas a espaços de recreação e lazer quepossam ser utilizados também como lagoas de detenção abertas; revisão do zoneamento,uso e ocupação propostos para a bacia hidrográfica, principalmente das taxas depermeabilidade permitidas; revisão do código de obras, propondo formas de aplicação dasmedidas de controle das inundações na fonte (edificação); integração das políticas esistemas de informação dos órgãos envolvidos, com a viabilização de processos contínuosde monitoramento e fiscalização das áreas inundáveis; além de ações educacionais e detreinamento de técnicos e da própria comunidade.

     AGRADECIMENTOS

    Agradecimentos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq (Fundo Setorial CT-HIDRO) pela Bolsa de Mestrado concedida a Rafaela AntunesFortunato do PPGCC – UFPR. Agradecimentos aos órgãos municipais e estaduais IPPUC,COMEC, SUDERHSA e SIMEPAR pelo fornecimento das bases digitais sem as quais nãoseria possível a realização deste trabalho.

    REFERÊNCIAS

    ANA - AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS.Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília: ANA, 2003.

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    BRANDÃO, A. M. P. M. Clima urbano e enchentes na cidade do Rio de Janeiro. In:Impactos ambientais urbanos no Brasil. GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (org.) Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 2001.

    COELHO, M. C. N. Impactos ambientais em áreas urbanas – teorias, conceitos e métodosde pesquisa.In: Impactos ambientais urbanos no Brasil. GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B.(org.) Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

    FENDRICH, R. Coleta, armazenamento, utilização e infiltração das águas pluviais nadrenagem urbana. Curitiba, 2002. 499p. Tese (Pós Graduação em Geologia Ambiental) -Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná.

    GAFFIELD, R.; STEPHEN, J.; GOO, L. A.; RICHARDS, R. J. Public health effects ofinadequately managed stormwater runoff. American Journal of Public Health, Washington,v. 23, n. 9, p. 1527-1540, september 2003.

    GIUSTI, Donizeti Antonio. Contribuição a geologia ambiental no município de Curitiba –

    PR. São Paulo, 1989. 115p. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Instituto de Geociências,Universidade de São Paulo.

    LAZZAROTTO, D. O que são geotecnologias?  Disponível em: Acesso em: 10 set. 2004.

    LIMA, C. A. Multiespacialidades metropolitanas e construção do lugar social- rumos para asustentabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente: cidade e sustentabilidade, n. 9, p.39-56. Curitiba: Editora UFPR, 2004.

    ROBSON, C. Real world research: a resource for soc ial scientists and practi tioner. Cambridge: Blackwell Publishers, 1993.

    SALAMUNI, R. Breves considerações sobre os aspectos geológicos da bacia de Curitiba. In:Uso dos solos e dos rios: conceitos básicos e aplicações para a região de Curitiba.Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2000.

    SHARMA, V. K.; PRIYA, T. Development strategies for flood prone areas, case study: Patna,India. Disaster Prevention and Management, Bradford, v. 10, n. 2, p. 101-109, 2001.

    SUDERHSA - Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e SaneamentoAmbiental. Plano diretor de drenagem urbana para a bacia do rio Iguaçu na RegiãoMetropolitana de Curitiba - relatório f inal. Curitiba, CH2MHILL, 2002.

    TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da drenagem urbana. RBRH - Revista Brasileira de

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