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1 Análise da Aplicação do Sistema OCR: um Estudo de Caso entre um Porto Brasileiro e um Porto Europeu Priscila Silva Weber (Universidade Federal de Santa Catarina) Evandro Moritz Luz (Universidade Federal de Santa Catarina) Rogério João Lunkes (Universidade Federal de Santa Catarina) Darci Schnorrenberger (Universidade Federal de Santa Catarina) Resumo O objetivo do estudo consiste em analisar e propor um procedimento padrão para a eficiência do sistema OCR no auxílio para a gestão das operações portuárias, de maneira rápida e segura, para os Portos de Valência e Itapoá. Para tanto, além da busca nos registros documentais das organizações analisadas, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com os gestores para melhor compreender o fluxo de fiscalização e gestão das operações realizadas em cada um dos portos. Como resultados constatou-se que o único procedimento comum era o uso da tecnologia OCR, como também o é no cenário mundial. Isso denota a atualidade e modernidade dos portos no emprego de recursos de última geração. A proposta de procedimentos padrão visa a permitir inserir e/ou manter alinhadas estas duas organizações às melhores práticas no setor, em nível mundial, por meio da celeridade, aumento da segurança e redução dos custos de operação. Palavras-chave: Tecnologia; OCR; Portos; Valência; Itapoá. 1. INTRODUÇÃO A dinâmica e integração dos mercados foi acelerada e ampliada após o grande e longo período de crescimento econômico pós-segunda guerra mundial. Isso fez com que setores cruciais para o sucesso deste tipo de comércio também precisassem de avanços significativos. Um destes setores, é o de portos, por onde transita boa parte destas operações. A evolução dos processos de compra e venda internacional, mudaram dramaticamente a gestão da cadeia de suprimentos globalizada e a logística internacional, exigindo gestão e operações mais eficientes, onde produtos e serviços estão cada vez mais negociados e encomendados por meios eletrônicos, não somente nas operações Business to Business (B2B), mas também nas Business to Commerce (B2C), aumentando consideravelmente, a demanda por logística internacional e a demanda em pontos de passagem nas fronteiras dos países, principalmente nos portos (BATISTA, 2012). De acordo com Keedi (2011), 95% do comércio internacional do Brasil (em relação ao peso) é realizado por meio do transporte marítimo, caracterizando a logística portuária como um elo estratégico relevante no comércio entre países.

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Análise da Aplicação do Sistema OCR: um Estudo de Caso entre

um Porto Brasileiro e um Porto Europeu

Priscila Silva Weber (Universidade Federal de Santa Catarina)

Evandro Moritz Luz (Universidade Federal de Santa Catarina)

Rogério João Lunkes (Universidade Federal de Santa Catarina)

Darci Schnorrenberger (Universidade Federal de Santa Catarina)

Resumo O objetivo do estudo consiste em analisar e propor um procedimento padrão para a eficiência do sistema OCR no auxílio para a gestão das operações portuárias, de maneira rápida e segura, para os Portos de Valência e Itapoá. Para tanto, além da busca nos registros documentais das organizações analisadas, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com os gestores para melhor compreender o fluxo de fiscalização e gestão das operações realizadas em cada um dos portos. Como resultados constatou-se que o único procedimento comum era o uso da tecnologia OCR, como também o é no cenário mundial. Isso denota a atualidade e modernidade dos portos no emprego de recursos de última geração. A proposta de procedimentos padrão visa a permitir inserir e/ou manter alinhadas estas duas organizações às melhores práticas no setor, em nível mundial, por meio da celeridade, aumento da segurança e redução dos custos de operação. Palavras-chave: Tecnologia; OCR; Portos; Valência; Itapoá. 1. INTRODUÇÃO

A dinâmica e integração dos mercados foi acelerada e ampliada após o grande e longo período de crescimento econômico pós-segunda guerra mundial. Isso fez com que setores cruciais para o sucesso deste tipo de comércio também precisassem de avanços significativos. Um destes setores, é o de portos, por onde transita boa parte destas operações. A evolução dos processos de compra e venda internacional, mudaram dramaticamente a gestão da cadeia de suprimentos globalizada e a logística internacional, exigindo gestão e operações mais eficientes, onde produtos e serviços estão cada vez mais negociados e encomendados por meios eletrônicos, não somente nas operações Business to Business (B2B), mas também nas Business to Commerce (B2C), aumentando consideravelmente, a demanda por logística internacional e a demanda em pontos de passagem nas fronteiras dos países, principalmente nos portos (BATISTA, 2012).

De acordo com Keedi (2011), 95% do comércio internacional do Brasil (em relação ao peso) é realizado por meio do transporte marítimo, caracterizando a logística portuária como um elo estratégico relevante no comércio entre países.

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Assim, os portos possuem um papel central na dinâmica e celeridade das operações de exportação e importação. Dinâmica esta, fortemente influenciada e dependente da estrutura logística e suporte tecnológico disponível nos portos.

Isso demanda a existência de estruturas logística e de sistemas de controles portuários modernos e eficazes capazes de apoiar o crescimento no comércio internacional dentro dos padrões internacionais de segurança e competitividade sem, no entanto, incorrer em prejuízos alfandegários para as nações.

Frente a este cenário, emerge a questão que norteia esta investigação: como deve se constituir a gestão das operações portuárias de forma a ampliar a segurança com maior eficiência com uso da tecnologia de informação de Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR)?

Em decorrência disso, o objetivo principal deste estudo consiste em analisar e propor um procedimento padrão para a eficiência do sistema OCR no auxílio para a gestão das operações portuárias de maneira rápida e segura para os Portos de Valência e Itapoá.

A relevância deste estudo alcança tanto as frentes acadêmicas quanto a prática. No campo acadêmico, a principal contribuição que este estudo pretende trazer é a discussão e análise de um importante setor da economia, habitualmente relegado ao segundo plano. No campo prático, visa dar subsídios para reforçar o uso da tecnologia OCR na gestão dos portos bem como, propor eventuais adequações ou ajustes que possam se tornar necessários para seu aperfeiçoamento. Para tanto, ele será desenvolvido em dois portos sendo um Catarinense e ouro Europeu 2. DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 Tecnologia OCR

Atualmente o grau de automatização dos gates portuários está em função dos sistemas que em cada caso integram-se em um sistema operativo de portas. Ele funciona através de um hardware de captura dos dados composto por sensores de diferentes naturezas e um software de controle que processa a informação e conecta com a tecnologia operacional do terminal. Lá são elaboradas e tramitam, também de forma automatizada, as instruções de recepção e entrega dos veículos externos e dos equipamentos

O mercado atual oferece diversas tecnologias que se propõem a realizar estes procedimentos de controle sem, no entanto, ainda haver uma uniformização. Porém, um dos mais utilizados é o OCR que consiste num software que captura e processa imagens buscando um padrão nos caracteres convertendo-os em texto editável, traduzindo-o para o código padrão utilizado pela empresa.

Segundo Monfort et al. (2011), os OCRs são sistemas mecânicos ou eletrônicos que permitem a tradução de imagens escritas a mão, mecanógrafadas ou impressas em textos editáveis mediante software. Onde a identificação acontece através do reconhecimento digital mediante o uso de scanners e algoritmos.

A tecnologia OCR é um dos sistemas amplamente utilizado atualmente, muito devido ao fato de estar sendo aplicado nos gates portuários para identificação de veículos e contêineres. O sistema normalmente funciona conectado a um sistema

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informático de controle de operações portuárias, fornecendo a este a localização e status das mercadorias previamente inseridas no sistema (SOUSA, 2008).

Uma das principais vantagens da tecnologia OCR é a redução do tempo de espera para entrada e saída de veículos, diminuindo os congestionamentos formados pelos gargalos dos lentos acessos dos portos e terminais. E as desvantagens seriam a dificuldade da leitura, causado pela sujeira ou imperfeiçoes da superfície das placas de identificação dos veículos e o elevado preço dos equipamentos e infraestrutura. (MONFORT et al., 2011).

No Brasil a implementação dos gates com sistema OCR teve início a aproximadamente cinco anos, com o controle dos acessos aos recintos portuários aduaneiros. Isso se deve, em parte, a Policia Federal, que por meio da Portaria RFO nº 3.518, determina o uso de sistemas para identificar os caracteres das placas dos veículos e o número de identificação dos contêineres (Portaria RFB Nº 3.518/2011).

As soluções de automatização nas portas e terminais ajudam os operadores a realizar a recepção e entrega de contêineres. Minimizam também, o tempo de processamento das atividades e as filas nas portas, aumentando a produtividade, segurança e proteção e ainda, a redução dos custos da operação.

2.2 Porto de Valencia

A Autoridade Portuária de Valencia (APV), que opera com o nome comercial de Valenciaport, é o órgão público responsável pela administração, gestão e exploração de três portos de titularidade estatal (Portos de Valencia, Sagunto e Gandia), cobrindo uma longitude de 80km da parte oriental do mediterrâneo espanhol.

O Porto de Valencia é administrado pela Autoridade Portuária de Valência (APV), seguindo o sistema portuário de titularidade estatal espanhol, no qual a Autoridade Portuária prove os espaços e parte da infraestrutura que suporta a atividade portuária, enquanto que a iniciativa privada é responsável pelo desenvolvimento das operações e da prestação de serviços nos portos, utilizando essa mesma infraestrutura. A APV é também a reguladora das atividades privadas desenvolvidas no âmbito de sua qualificação.

A APV adota o modelo landlord avançado, que permite que a APV assuma a liderança da Comunidade Portuária além das funções estabelecidas na legislação, que tem como objetivo contribuir com sua estruturação e melhoras nos serviços oferecidos pela cadeia logística-portuária (Autoridade Portuária de Valencia, 2016).

2.2.1Gates do Porto de Valencia

O Porto de Valencia possui basicamente dois acessos de entrada e saída de veículos: o acesso Sul, onde estão localizados os gates equipados com os portais OCR e RPM (Radiation Portal Monitor), além do controle aduaneiro da polícia federal, e o acesso de Nazaret, onde existe somente um controle aduaneiro e normalmente circulam veículos leves e veículos sem carga.

Os gates do Porto de Valencia, como em muitos outros portos, visam assegurar a segurança e a proteção do porto, e a fiscalização aduaneira mercadorias que entram e saem do mesmo.

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A Autoridade Portuária proporciona um espaço físico onde existem várias empresas e órgãos que, por sua vez, devem implantar suas próprias medidas de segurança e proteção. Existe uma grande quantidade de normas a serem cumpridas pelas diversas empresas que atuam no porto. Por outro lado, a fiscalização aduaneira é realizada somente nos gates do porto, devido ao fato de que todos os terminais estão localizados dentro do mesmo recinto portuário controlado pelos dois acessos mencionados. A fiscalização da polícia federal (Aduana) tem a obrigação de efetuar os controles aduaneiros sobre todas as mercadorias transportadas que abandonam o recinto aduaneiro do porto por vía terrestre (MONFORT et al., 2011).

2.2.2Tecnologias utilizadas para acesso ao Porto de Valencia O acesso Sul do Porto de Valência, por onde entram e saem os veículos de

carga, é constituída por cinco gates automáticos, onde todos possuem barreiras físicas e detectores de radiação RPM (Radiation Portal Monitor).

Normalmente os veículos não autorizados devem passar obrigatoriamente pelo primeiro gate da esquerda podendo, dessa forma, comunicar-se mais facilmente (desde seu veículo) com a guarita da polícia portuária localizada antes da barreira e identificar-se devidamente. Nas outras vias, se houver algum problema na entrada de algum veículo e a barreira não abrir por algum motivo (falta de autorização, detecção de radiação der positiva, etc.), os veículos também podem se comunicar com a polícia portuária mediante o interfone dos quiosques localizados nas demais vias.

Os demais gates possuem tecnologia RFID e OCR, onde os veículos são devidamente identificados pelo sistema dependendo do tipo de autorização que possuírem.

A tecnologia RFID (Radio Frequency IDentification) é utilizada na identificação sem contato permitindo rastreabilidade, localização e seguimento de bens e pessoas. O RFID normalmente é utilizado por veículos autorizados e entrada de pessoas que trabalham no recinto portuário, monitorando a entrada e a saída destes veículos das instalações portuárias através deste sistema (SOUSA, 2008)

O funcionamento básico deste equipamento é a transmissão de informações através de um chip em um cartão identificador, que deve ser passado no leitor RFID localizado no quiosque antes da barreira, que recebe as informações armazenadas e as transmite a um sistema de identificação e armazenamento de dados.

Os veículos de carga começam o processo de leitura da placa do contêiner e da placa HAZMAT (no caso de mercadoria perigosa), identificados pela tecnologia OCR e o sistema RPM detecta o nível de radiação existente nas mercadorias que entram no porto, neste momento a informação é enviada automaticamente ao sistema comunitário (valenciaportpcs.net), que tem a conexão direta com o sistema da Aduana. E por fim, o veículo é liberado ou não para entrada ou saída do recinto portuário.

2.3 Porto de Itapoá

De acordo com o Porto de Itapoá (2015) suas operações iniciaram em junho de 2011, sendo considerado um dos terminais mais ágeis e eficientes da América Latina e um dos maiores e mais importantes do País na movimentação de cargas

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conteinerizadas. De administração privada, possui uma estrutura capaz de movimentar 500 mil TEUs por ano e já iniciou seu projeto de expansão que possibilitará a movimentação de 2 milhões de TEUs anualmente.

Localizado no litoral norte de Santa Catarina, o Porto Itapoá está posicionado entre as regiões mais produtivas do Brasil, contemplando importadores e exportadores dos mais diversos segmentos empresariais. Estrategicamente localizado entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, o Porto Itapoá oportuniza a concentração de cargas de clientes dos dois estados. Além da sua localização estratégica, o Terminal integra a Baía da Babitonga, possuindo condições seguras e facilitadas para a atracação dos navios.

Figura 1 – Porto de Itapoá

Fonte: Porto de Itapoá (2015).

Com águas calmas e profundas, a baía é ideal para receber embarcações de grande porte, uma tendência cada vez mais adotada na navegação mundial. São três os fatores que tornam a Baía da Babitonga exclusiva e incomparável à qualquer canal de acesso portuário da região. Primeiramente, a baía oferece águas naturalmente profundas e abrigadas, minimizando o índice de fechamento de barra e atrasos em atracações. Em segundo lugar, a baía é extensa, contemplando uma das maiores bacias de evolução do continente, o suficiente para entradas e saídas de navios simultaneamente, evitando tempo de espera. E, por fim, as águas calmas da baía possibilitam operações de navios de forma ágil e segura.

Diante do crescimento das operações, e da própria demanda do mercado por terminais ágeis e eficientes, o Porto Itapoá está entrando em uma nova fase do seu projeto de expansão, que prevê a expansão física e operacional do empreendimento.

Atualmente, o Terminal possui dois berços de atracação que somam um comprimento total de 630 metros por 43 metros de largura, e uma profundidade natural de 16 metros, que permite a atracação simultânea de dois navios Super Post Panamax. Possui quatro portêineres modelo super post-panamax, que são fundamentais no processo de carga e descarga de contêineres nos navios atracados em seus berços, com velocidade, e reduzindo o tempo de atracamento dos navios, bem como todos os custos envolvidos na operação, além de outros equipamentos operacionais que auxiliam na produtividade portuária.

O pátio possui uma área de cerca de 150 mil metros quadrados, sendo mais de 2.000m² de armazenagem seca e uma câmara fria para carga refrigerada. O scanner do Porto Itapoá é um dos mais modernos da América Latina, e verifica 100% das cargas de exportação. O Terminal possui ainda mais de 2.000 tomadas

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reefers para cargas refrigeradas, uma das principais demandas de exportação da região.

Com o projeto de ampliação, a fase final do Porto Itapoá terá três berços, somando um píer de 1.200 metros, e uma área de armazenamento de aproximadamente 2 milhões de TEUs, ou seja, quatro vezes maior que a área atual.

Nascendo como um dos mais modernos terminais do mundo, o Porto Itapoá se insere no município de Itapoá como um projeto greenfield, situado longe do perímetro urbano da cidade, com ligação direta à BR 101, possui uma área de 12 milhões de m², definida pelo Plano Diretor do Município para receber empreendimentos complementares (PORTO DE ITAPOÁ, 2015).

2.3.1 Gates do Porto de Itapoá

Seis gates trabalham 24 horas por dia, de forma dinâmica, com disponibilidade para trabalhar com duas pistas de entrada, duas de saída e duas reversíveis. As informações do contêiner, caminhão e peso são coletadas automaticamente via OCR, economizando o tempo do transportador e minimizando erros. O acesso biométrico de identificação do condutor agiliza o processo e o torna mais seguro. Nesta configuração, o tempo médio de espera no Gate do Porto Itapoá é um dos menores do continente (PORTO DE ITAPOÁ, 2015).

2.3.2 Tecnologias utilizadas no Porto de Itapoá

O Porto Itapoá possui equipamentos de última geração, que resultam em ganhos de produtividade e também em segurança operacional.

Algumas das tecnologias empregadas são inéditas nas operações portuárias brasileiras, como o sistema operacional Navis Sparcs N4. Este sistema permite o planejamento sincronizado de pátio e cais, sendo controlado em tempo real pelos operadores. Suas principais características são: i - pátio automatizado e alinhado com o planejamento do navio; ii - alocação dinâmica de caminhões para otimizar o fluxo e evitar congestionamentos de tráfego; iii - todas as atividades das cargas e dos equipamentos são registradas nos coletores disponibilizados para os colaboradores da operação; e, iv - painel automatizado e KPI’s (indicadores chaves de desempenho), fornecendo controle de produtividade em tempo real (PORTO DE ITAPOÁ, 2015).

Figua 2 – Fluxograma básico do sistema OCR – Porto de Itapoá

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Fonte: Porto de Itapoá (2016).

Na Figura 2, o fluxograma básico de acesso e controle na entrada dos Gates ao porto de Itapoá, separados em três macro processos: i - processo pré-gate -

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caracterizado na verificação se há agendamento ou não do veículo/carga; ii - processo vigilante/bolsão - caracterizado na verificação do tipo de motorista e encaminhamento ao processo sistemático de aplicação do OCR e ao cadastro biométrico; e, iii - processo gate - inicia com a aplicação da tecnologia OCR e posterior verificação de dados da carga, documentação, peso e tipo do veículo e finalizando com o devido posicionamento no pátio portuário. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta etapa busca-se apresentar os principais procedimentos e etapas seguidas para a realização do estudo no que tange a caracterização da pesquisa, forma de coleta e análise dos dados.

A pesquisa caracteriza-se como descritiva devido ao fato de buscar-se descrever os fatos e fenômenos da realidade dos portos de Valencia e Itapoá e analisar as relações entre as variáveis para uma posterior apresentação dos efeitos resultantes no sistema de produção, produto ou serviço, conforme preconizado por Triviños (1987).

As técnicas de coleta dos dados e informações utilizadas conforme Gil (2010) foram a entrevista e documental. As entrevistas, semiestruturadas, foram realizadas com os gestores do Porto de Itapoá em Santa Catarina e membros da Fundação Valenciaport responsáveis pelo desenvolvimento do sistema de identificação do contêiner, veículo e condutor do Porto de Valencia. A parte documental consistiu na busca de informações adicionais junto aos portais e outros documentos e procedimentos dos respectivos portos.

Além disso, utilizou-se também, a pesquisa participante, havendo envolvimento direto dos pesquisadores na construção do arcabouço do objeto deste estudo. Conforme Demo (2000), este tipo de intervenção é ligado à prática histórica em termos de usar conhecimento científico para fins explícitos de intervenção sem, no entanto, perder de vista o rigor metodológico.

A forma e análise dos dados caracteriza-se como qualitativa, pois a busca consistiu na compreensão dos procedimentos na gestão portuária e suas implicações sem visar a obtenção de números e informações estatísticas como resultado. Este tipo de abordagem busca apenas aprofundar conhecimentos e visa interpretar e entender comportamentos, atitudes e motivações na medida em que estimula livremente os participantes a investigar sobre um tema, objeto ou conceito (MULTIFOCUS, 2016). 4. ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS

Na busca pela melhora do rendimento e da segurança das operações nos gates portuários e nos acessos aos terminais, os portos estudados implantaram sistemas de identificação automática de veículos e do condutor. Estas tecnologias permitem aos operadores recopilar uma maior quantidade de informação uma vez que monitoram os tempos de trânsito do caminhão, melhorando o serviço ao cliente e incrementando o nível de segurança e proteção.

Como mencionado anteriormente os dois portos analisados apresentam distintos fluxos físicos das mercadorias acompanhados de um fluxo de informação

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que possibilita a transmissão dos dados por meio de um conjunto de equipamentos e ferramentas, conforme demais características apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Características do fluxo de acesso entre os portos de Valência e Itapoá

CARACTERÍSTICAS SEMELHANTE DISTINTO Fluxo físico da carga X

Sistema OCR X

Fluxo de informação X

Barreiras de acessos dos veículos X

Polícia portuária X

Sistema de detecção de radiação X

Acesso aos veículos sem autorização

X

Fonte: Autores (2016)

O Porto de Valencia e Itapoá apresentam em comum a utilização do sistema

OCR para identificação nos acessos dos portos, levando em consideração as devidas proporções de tamanho de pátio e volume de acessos entre os dois portos o sistema é operado de maneira semelhante, onde as imagens capturadas são enviadas a um software de controle que processa a informação e reduz o tempo de espera dos veículos.

Os portos apresentam formas distintas de realizarem a gestão dos seus acessos sendo que o Porto de Itapoá não apresenta detectores de radiação nos gates e a polícia portuária é substituída por segurança privada, e o serviço de fiscalização e controle é realizado pela receita federal. No porto de Valencia os policiais portuários agem como agentes da autoridade portuária, que têm a função de proteção, controle do tráfico e segurança das vias, ou funções relativas a operativas portuárias.

O porto brasileiro de Itapoá, também denominado de TUP (terminal de uso privativo) com número limitado de berços e de menor estrutura física do que o porto de Valência na Espanha, possui um fluxo de acesso bem detalhado e caracterizado por controle e fiscalização em várias etapas, conferindo também um alto padrão de utilização de tecnologias de acordo também com o porto de Valência, guardadas as devidas proporções entre os dois portos.

Com base nas estruturas e fluxos estudados nos dois portos em questão, foi estruturado um fluxo modelo representativo utilizando a tecnologia OCR como principal forma de identificação de cargas e veículos, conforme a figura 3.

Ainda de acordo com a Figura 3, o gate de acesso teria duas barreiras físicas, sendo que a primeira sempre abriria para os veículos, a partir de então, o veículo passaria pela Identificação OCR, detector de radiação e identificação biométrica do motorista. O contato com a guarita da segurança seria necessário se o veículo ou condutor apresentassem algum tipo de problema durante o acesso. A segunda barreira seria aberta para liberação do veículo ou encaminhamento do mesmo a área de retenção ou fiscalização.

Figura 3 – Proposta de fluxo de acesso com tecnologia OCR

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Fonte: Adaptado de Fundación Valencia Port (2012).

A proposta deste fluxo é proporcionar um padrão de acesso e uso de

tecnologias como a OCR para acesso de veículos autorizados ou não. A não

Estrutura/Tecnologia

Processos nos gates automatizados de acesso

PainéisInformativos

das vias

1ª Barreira física

Câmera

Identificação OCR

Detector deRadiação

Identificação Biométrica

Guarita da Segurança e

Policia Federal

2ª Barreira

Entrada

Retorno/Saída do porto

Escolha da via de acesso

Veículos Autorizados

Veículos Não Autorizados

Leitura da Placa do Veiculo

Reconhecimento e identificação do

contêiner e placa

Realizada a Comprovação das

Informações

Veiculo Autoriza

do

Detecção de radiação

Alarme de Radioativid

ade

Contato com a segurança ou

policia federal para liberação do veiculo

Abre a 2ª Barreira

Abre a 1ª Barreira Abre a 1ª Barreira

Não Abre a 2ª Barreira

Liberação do acesso do veiculo

Entrada ao porto negada por falta de documentação ou detectada radiação

Nível de Radioativid

ade

Veiculo retido na zona de espera

Fiscalização aduaneira / Policia

Federal

Liberação do acesso do veiculo

Saída do porto se não aprovada

liberação segundo a inspeção

Sim

Não

Não Sim

Autorizado

Aceitável

Não Aceitável

Motorista identificado pelo

sistema

SimNão

Não autorizado

Radiação Documentação

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autorização deve ser caracterizada pela falta de documentação ou documentação incompleta e/ou radiação detectada.

Esta proposta o fluxo de acesso subdividiu-se em dez processos, sendo eles: - Painéis informativos das vias – Classifica o acesso em autorizados e não

autorizados; - 1ª barreira física; - Câmera – Onde se realiza a leitura da placa de veículo; - Identificação OCR – Aplicação da tecnologia transformando a imagem da

placa do veículo em dados para informação e controle do sistema portuário; - Detector de radiação – Processo de controle de segurança para situações

perigosas; - Identificação biométrica – Identificação do motorista; - Guarita de segurança e polícia federal – A segurança poderá ser contratada,

mas em casos de ilegalidade de carga a polícia federal deverá ter presença física no local para atuar;

- 2ª barreira física; - Entrada – Caracterizando como a liberação ao pátio de operação interno do

porto; - Retorno/saída do porto – Processo que finaliza casos de acessos

autorizados ou não autorizados. A proposta de um padrão de acesso e de uso de tecnologias como a OCR

nos portos, parte do princípio de que o comércio é internacional e a interação entre todos os agentes envolvidos independente de país deve ser globalizada, facilitando a agilidade e a eficiência no controle de mercadorias e seus respectivos motoristas aos acessos portuários. 5. CONCLUSÃO

Com os constantes avanços tecnológicos e o desenvolvimento das relações comerciais internacionais, a gestão das atividades portuárias é de extrema importância para o aumento da competitividade e redução dos custos operacionais.

Os portos necessitam investir em infraestruturas que atendam adequadamente suas demandas atuais e futuras. Para superar este desafio, os gestores devem planejar suas ações e investimentos de maneira sustentável, observando o mercado e buscando modelos de tecnologia e gestão que possuam reconhecido destaque internacional.

As tecnologias de Identificação Biométrica e Detecção de Radiação são utilizadas como apoio para maior segurança e agilidade no recebimento de dados. As tecnologias podem ser minimizadas e substituídas dependendo das necessidades da instalação portuária.

Para que a leitura seja efetuada de maneira correta na utilização da tecnologia OCR, as placas dos veículos devem vir no mesmo padrão, legíveis (pintura) e limpas. Esta informação deve ser reforçada a todos as empresas/ motoristas para que mantenham as placas sempre em bom estado de conservação.

A tecnologia não garante uma segurança total no acesso terrestre portuário, mas se destaca como um componente estratégico na confiabilidade e na minimização dos custos envolvidos nesta operação. É notável que a tecnologia OCR é reconhecida na comunidade portuária internacional como ferramenta de controle

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atual e os portos de Valência e Itapoá se encontram modernos com a utilização desta tecnologia, proporcionando aos fornecedores e clientes um serviço eficiente.

Cabe ressaltar que por intermédio de pesquisas realizadas em bases de dados científicas, não foram encontrados artigos relevantes sobre o tema da tecnologia OCR, caracterizando uma necessidade da comunidade científica em aprofundar mais pesquisas da aplicação desta tecnologia nos portos, porém os autores propõem um modelo padrão de um fluxo de mercadorias com uso de tecnologias de controle, incluindo OCR, a fim de contribuir para a comunidade portuária e acadêmica. Neste modelo toma-se como base um importante porto na Espanha e do Brasil.

Cumpre destacar a importância da padronização de procedimento e uso de tecnologias como a OCR, devido as crescentes demandas do comercio marítimo internacional e sua relevância para a economia das nações.

Pesquisas futuras sobre o tema poderiam considerar aspectos relevantes, mas que nesta não o foram como por exemplo a influência do tipo de gestão (pública ou privada) na adoção de procedimentos e tecnologias de gestão dos procedimentos portuários. Investigações sobre a influência do tipo de carga, condições geográficas, perfil dos gestores, incentivos ou interferências governamentais, entre outros podem também contribuir para uma melhor compreensão das razões da escolha e adoção de procedimentos de gestão distintos entre os portos.

Os objetivos propostos foram atendidos principalmente na identificação e aplicação e também o interesse da comunidade empresarial portuária na contribuição acadêmica e na busca de entender melhor os fenômenos que fazem parte deste tema.

Fica observado que o limite da pesquisa prática se deu em um porto no Brasil, e em um porto na Espanha, porém com elementos identificados previamente na pesquisa científica apurada que abrangeu estudos de diversos autores. REFERÊNCIAS AUTORIDAD PORTUARIA DE VALENCIA (APV). Administração portuária. Disponível em: <http:// www.valenciaport.com>. Acesso em: 20 agosto de 2016.

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