ANAIS · Durante o governo Lula (2003-2010) a parceria sino-brasileira foi estruturada com base na...

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ANAIS 28 a 30 de setembro de 2015 Universidade Federal do ABC Universidade Federal de São Paulo Campus São Bernardo do Campo

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ANAIS

28 a 30 de setembro de 2015

Universidade Federal do ABC

Universidade Federal de So Paulo

Campus So Bernardo do Campo

ISBN: 978-85-65212-46-5

Anais da I Semana de Relaes Internacionais da

Universidade Federal do ABC & Universidade Federal

de So Paulo

1 Edio

So Bernardo do Campo

2016

ANAIS

I Semana de Relaes Internacionais UFABC & UNIFESP

Anais [recurso eletrnico] / I Semana de Relaes Internacionais, 28 a 30 de setembro de 2015 em

So Bernardo do Campo SP. / Jos Blanes Sala, Julia Bertino Moreira, Ismara Izepe de Souza

(organizadores). - Santo Andr: UFABC, 2016.

608 p.

Disponvel em: https://semanari.wordpress.com/

ISBN: 978-85-65212-46-5 (on-line)

1. Conferncia Relaes Internacionais Bandung Sul-Sul

I Semana de Relaes Internacionais da

Universidade Federal do ABC &

Universidade Federal de So Paulo

Coordenao Geral

Prof. Dr. Giorgio Romano Schutte

Comisso Organizadora

UFABC

Prof. Dr. Giorgio Romano Schutte

Prof. Dr. Jos Blanes Sala

Prof. Dra. Julia Bertino Moreira

Prof. Dr. Igor Fuser

Prof. Dr. Gilberto Maringoni

Prof. Dra. Tatiana Berringer

Prof. Dr. Paris Yeros

William Haberman (representante alunos)

UNIFESP

Prof. Dra. Cristina Pecequilo

Prof. Dr. Jos Alexandre Altahyde Hage

Prof. Dra. Ismara Izepe de Souza

Prof. Dr. Flavio Rocha de Oliveira

Organizao dos Anais Eletrnicos

Prof. Dr. Jos Blanes Sala

Profa. Dra. Julia Bertino Moreira

Profa. Dra. Ismara Izepe de Souza

Comisso Cientfica

Prof. Tullo Vigevani (UNESP)

Prof. Sebastio Velasco e Cruz (UNICAMP)

Profa. Maria Regina Soares Lima (IUPERJ)

Prof. Ramon Garcia Fernandez (UFABC)

Prof. Rafael Duarte Villa (USP)

Prof. Antnio Carlos Lessa (UnB)

Prof. Paulo Gilberto Fagundes Vizentini (UFRGS)

Grupos de Trabalhos

Relaes Econmicas Sul-Sul

Emerson Maciel Junqueira & Bianca Victoria Cunha do Prado

Isabela Battistello Espndola & Carla Cristiane Lopes Corte

Karolina Crespi Gomes

Marcela Franzoni

Amrica Latina no Sul Global

Alessandra Barbieri

Fabio Maldonado

Mrcio Jos de Oliveira Jnior & Clarissa Nascimento Forner

Politica Externa Brasileira

Gabriela Andrada Duarte

Julia Serra Martins

Lian Alexsandra Missiel

Migraes Internacionais

Las Azeredo Alves

Marcela Benhossi

Maria Beatriz Azevedo

Mariana Silva Rangel Matthiese

Pamela Mitiko do Vale Silva

Refugiados no Sul Global

Dborah Corra de Siqueira

Janine Hadassa Borba

Natasha Ortolan Ervilha

Patrcia Nabuco Martuscelli

Cooperao Sul-Sul

Brbara Adad

Gabriel Rutschka Weber

Joo Paulo Gusmo Pinheiro Duarte & Victor Hugo Satoru Sakamoto

Tadeu Morato Maciel

Thiago Mattioli Silva

BRICS

Karina Calandrin & Thais Tozatti

Rafael Bittencourt Rodrigues Lopes

Thomas Henrique de Toledo Stella

Direitos Humanos

Marina Sanchez Ribeiro

Rodrigo Augusto Duarte Amaral

Stefanie Andrade Prandi Mendes

Thassio Soares Rocha Alves

Amrica do Sul

Barbara Ellynes Zucchi Nobre Silva

Luana Forlini

Jssica Giro Florncio

Segurana Internacional

Bruna Gaudncio Guimares

Camila Mortari Piaceteli

Denis Matoszo Fortes

Duarte Luciano Antunes

Natlia da Silva Nunes

Relaes

Econmicas Sul-Sul

A RELAO BILATERAL BRASIL-CHINA: O INVESTIMENTO EXTERNO

DIRETO

Emerson Maciel Junqueira,

Graduando em Relaes Internacionais, UNIFESP.

Bianca Victoria Cunha do Prado,

Graduanda em Relaes Internacionais, UNIFESP.

Resumo

O contexto da intensificao das relaes entre o Brasil e a China no sculo XXI

decorrente, dentre outros fatores, da estabilizao e crescimento da economia brasileira e o

forte crescimento industrial da China que, a partir desse momento, necessitaria de matria-

prima, como ferro, soja e petrleo para atender as demandas da populao e da indstria

chinesa. Isto posto, pode-se perceber que um dos fatores de destaque nas relaes sino-

brasileiras a partir dos anos 2000 foi a economia, enfatizando o comrcio e os investimentos

financeiros. Tendo isto em perspectiva, o presente artigo tem por objetivo, atravs de uma

anlise bibliogrfica de artigos e livros sobre o tema, analisar o comportamento dos

investimentos chineses no Brasil, bem como dos investimentos brasileiros na China e o seu

impacto na politica externa brasileira a fim de compreender os desafios que uma nova

realidade poltica e econmica pode gerar para o pas. A aproximao econmica entre ambos

os pases, impulsionado pela demanda chinesa por commodities, teve como resultado o

avano no apenas do comrcio, como tambm dos investimentos externos diretos (IEDs).

Desta maneira a China buscou cada vez mais a internacionalizao de suas empresas e

estimulou a expanso de investimentos sobre outros pases, principalmente aps a crise de

2008. Nesse perodo, os IEDs chineses no Brasil se concentravam nos setores primrios.

Posteriormente, os investimentos chineses se deslocaram para setores da indstria brasileira,

principalmente nos setores automotivo, eletrnicos e de mquinas e equipamentos, contudo, o

setor de servios liderou o ranking daqueles que mais receberam este tipo de investimento. A

China, portanto, oferece para o Brasil a possibilidade de acesso a novas dinmicas de

comrcio, a gerao de um incremento tecnolgico, alm de poder fornecer ao pas

investimentos em diversos setores para o crescimento brasileiro.

Palavras- Chave: China, Brasil, IED.

Introduo

Em termos oficiais o Brasil reata as relaes poltico diplomticas com a Repblica

Popular da China em 1974 com a assinatura do acordo de reconhecimento diplomtico entre

os pases. A aproximao sino-brasileira inicia-se, dentro de uma perspectiva

desenvolvimentista de gesto do Estado, na ditadura civil-militar brasileira, atrelada a uma

lgica de diversificao das parcerias que norteia a poltica externa da poca. Durante o

governo Collor o Brasil passa a concentrar suas parcerias com os pases do norte em

detrimento de parcerias alternativas, como a chinesa, justificada pela necessidade de

recuperao da credibilidade internacional do pas. Somente a partir de 1993, com a entrada

de Itamar Franco no poder, inicia-se um novo ciclo no qual a sia definida como rea

estratgica para a diplomacia brasileira, ressaltando a necessidade de ampliar os laos entre os

pases, apontando fatores de potencial cooperao como o campo cientfico e tecnolgico e

comercial, como ressaltam Henrique Altemani de Oliveira e Paulo Gilberto Fagundes

Vizentini.

Com a Amrica Latina o relacionamento chins verteu-se para a obteno de matrias-

primas, recursos energticos, e mercados exportadores, alm da necessidade conteno

Taiwan e de apoio poltico mtuo em fruns internacionais (ZHU, 2013). O crescimento do

comrcio entre China e Amrica Latina foi de aproximadamente 70% na primeira metade dos

anos 2000. Os investimentos chineses na regio direcionaram-se para reas relacionadas

extrao de matrias primas e a construo de infraestrutura. A partir dos anos 2000 as

relaes sino-brasileiras cresceram fortemente motivadas pela quebra da paridade entre o

dlar e a moeda brasileira e pela superao da crise asitica (Altemani, 2013).

Durante o governo Lula (2003-2010) a parceria sino-brasileira foi estruturada com

base na cooperao, e entre os principais temas estavam os investimentos na infraestrutura e a

aquisio de produtos brasileiros, desenvolvendo ferramentas de aproximao para o

incremento das relaes bilaterais entre os dois pases como o Dilogo Estratgico, criado em

2007 e o Dilogo Financeiro Brasil-China, em 2008 e a Agenda China que tinha como

objetivo a dinamizao do comercio bilateral sino-brasileiro, a ampliao dos investimentos

mtuos, bem como o estmulo do potencial produtor e exportador brasileiro no mercado

chins (Vizentini, 2012).

Desde 2009, a China passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil,

ultrapassando os Estados Unidos que ocupou essa posio durante a segunda metade sculo

XX e incio do XXI. O intercmbio comercial cresceu de forma quase que exponencial, de

2010 a 2011 o comercio entre os dois pases cresceu 31.5%, alcanando uma cifra de US$ 242

bilhes de dlares (SHAMBAUGH, 2013). Alm disso, observou-se cada vez mais a tentativa

brasileira de atrair os investimentos chineses para promover o desenvolvimento econmico do

pas, dando nfase nas reas da infraestrutura e logstica (ALTEMANI, 2010).

Nos primeiros anos do sculo XXI, o intercmbio com a China gerou significativos

supervits comerciais para o Brasil, devido ao ganho de mercado obtido pelas commodities

brasileiras no mercado chins. A partir de 2004, ocorre uma relativa reduo dos saldos

comerciais e do ganho de mercado dos produtos chineses no mercado brasileiro, pois setores

como eletrnicos e mquinas passaram a se dinamizar. Destaca-se nos ltimos anos as

iniciativas do governo objetivando o aumento da competitividade dos produtos brasileiros na

China, incentivando a participao de empresas brasileiras no mercado chins, acentua-se a

estratgia para dinamizar o comrcio bilateral e ampliar os investimentos mtuos, alm do

realce a estudos tcnicos e aes de promoo do potencial produtor e exportador brasileiro

no mercado chins. Apesar de assimtrico, o intercambio comercial sino-brasileiro tem efeitos

positivos ao passo que (...) supre cortes de importaes por parte de outros pases, em

especial no decorrer da atual crise econmico-financeira e sustenta a retomada do

desenvolvimento industrial brasileiro (...) (ALTEMANI, 2011 s/p).

Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs)

Com a globalizao, os fluxos de capitais ficaram mais acelerados e os investimentos

se expandiram por todo o globo, por esse motivo, importante conhecer e analisar os fatores,

os impactos e a importncia dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) para o

desenvolvimento dos Estados e das relaes internacionais entre eles. Investimento

estrangeiro direto (IED) todo montante de dinheiro vindo do exterior que aplicado na

estrutura produtiva domstica de um pas na forma de participao acionria em empresas j

existentes ou na criao de novas empresas. Deve-se ressaltar que, diferente do investimento

de especulao, que possui maior volatilidade, o IED torna-se mais benfico aos interesses

nacionais ao passo que os recursos que entram ficam permanecem por um perodo de tempo

maior e ajudam a aumentar a capacidade de produo do pas (WOLFFENBUTTEL, 2014).

Para que o investimento possa ser classificado como IED, deve-se possuir 10% ou

mais das aes ou direito de voto em uma empresa, sendo assim, o investidor exerce um

expressivo grau de influncia sobre as atividades da empresa estruturada em outro pas. Por

outro lado, o principal motivo em querer atrair investimentos de capitais externos fortalecer

as empresas, aumentar sua capacidade e sua competitividade no mercado financeiro global,

promover o acesso a novos mercados, bem como introduzir novas formas de prticas

administrativas. (APEX, 2014).

[...] os investimentos diretos no exterior so fundamentais para aumentar a

competitividade internacional das empresas de capital nacional, garantir a

sobrevivncia dessas companhias e, inclusive, melhorar o desempenho econmico do

pas de origem. (MDOLO, 2011, p. 105)

Do ponto de vista dos investidores, segundo Frischtak, Soares e O CONOR (2013),

podem-se destacar quatro objetivos principais ao se fazer um investimento direto: 1) a procura

por recursos especficos (resouce seeking) a baixos custos para a produo de bens; 2) a

tentativa de acesso a novos mercados consumidores (market seeking) caractersticos das

economias em desenvolvimento; 3) a tentativa de expanso de ativos no mercado

internacional (asset seeking) atravs da compra de empresas ou grandes fuses e, por fim; 4) a

estratgia de aproveitamento do mercado domstico para estabelecer economias de escala e

especializao (efficiency seeking).

Com relao forma de ingresso dos investimentos estrangeiros nos pases existem

trs maneiras diferentes: 1) O greenfield, que rene os investimentos nos quais novas

operaes so estabelecidas no pas destino; 2) as fuses e aquisies, que visam a compra ou

a fuso entre empresas no pas destino do investimento; 3) a joint-venture que realizao

de acordos contratuais entre duas ou mais empresas com o objetivo de criar um negcios no

pas destinatrio do investimento. Nas joint-ventures, as empresas envolvidas no

empreendimento contribuem para os custos de estabelecimento do negcio, assim como

dividem os lucros da operao (FRISCHTAK, SOARES e O CONOR, 2013).

O Brasil o pas que mais recebe investimentos estrangeiros diretos entre os pases da

Amrica Latina e se destaca tambm como o 4 pas mais atraente para investimentos

estrangeiros do mundo. Isso demonstra que a economia do pas tem se desenvolvido de forma

consistente e efetiva, atraindo os interesses de investidores externos. Dentre os setores da

economia brasileira que esto no foco das empresas internacionais, destacam-se

particularmente o turismo, o petrleo e o gs, a biotecnologia e os componentes eletrnicos

(...) (APEX, 2014). O modo de ingresso de IEDs no Brasil concentra-se em greenfield (57%

do total), o que benfico para a economia brasileira, uma vez que esses investimentos,

durante sua execuo, acionam outras indstrias nacionais e geram novos empregos para o

pas (FRISCHTAK, SOARES e O CONOR, 2013).

Os investimentos estrangeiros diretos no mbito mundial passaram por um processo de

expanso na dcada de 1970, no qual houve uma liberalizao do movimento internacional de

capitais. Segundo Sambatti; Rissato; Brandenburg (2011), isto ocorreu devido

desregulamentao dos mercados internos, desregulamentao internacional e inovao

tecnolgica, permitindo a expanso das empresas transnacionais, que buscavam aumentar

seus fatores produtivos, aproveitarem o processo de liberalizao econmica no sistema

capitalista, internacionalizando o seu capital (SAMBATTI; RISSATO; BRANDENBURG,

2011, p. 114). Este movimento foi decisivo para expandir os IEDs, visto que conforme as

empresas expandiam seu processo produtivo em diversas regies foram se formando cadeias

produtivas, no qual bens so produzidos de forma global, atradas pelos incentivos fiscais e

estabilidade econmica, procurando atrair investimentos destas empresas pois

... as empresas transnacionais tm sido consideradas como importantes fontes de

financiamentos, propulsoras da difuso de inovaes tecnolgicas, geradoras de

oportunidades de empregos e, portanto, agentes imprescindveis no fomento ao

crescimento e desenvolvimento econmico dos pases receptores, especialmente os

pases em desenvolvimento. (SAMBATTI; RISSATO; BRANDENBURG; 2011, p.

117)

A China passou a aceitar a entrada de IEDs em 1978, parte da modernizao

econmica empregado por Deng Xiaoping, cujo objetivo era estimular desenvolvimento

econmico chins, atravs de incentivos alfandegrios nas Zonas Econmicas Especiais

(ZEEs), atraindo indstrias para o territrio nacional, sendo sua principal caracterstica o

modelo voltado para a exportao. O sucesso desta estratgia levou o governo chins a

expandir este modelo para demais regies tornando os investimentos essenciais para o

desenvolvimento da China (SOARES; FRISCHTAK, 2012). A principal caracterstica dos

IEDs na Repblica Popular da China (RPC) d-se pelo fato do governo central direcionar os

investimentos a determinados setores. De acordo com Soares e Frischtak (2012), entre os

mecanismos empregados pelo Partido Comunista Chins (PCC) est o Catalogo de Guias de

Investimento, no qual os diversos setores da economia so divididos entre encorajados,

permitidos, regulamentados ou proibidos para a entrada de capitais estrangeiros, alm de que

as empresas estrangeiras devem estabelecer um scio local para ingressar no mercado chins

(...) Por meio destas parcerias, as empresas chinesas seriam capazes de realizar um catch-

up tecnolgico enquanto o parceiro estrangeiro conseguiria acesso ao mercado interno

chins (...) (SOARES, FRISCHTAK, 2012, p. 31), permitindo a China obter e desenvolver

tecnologias prprias.

Uma primeira onda foi destinada manufatura de produtos de baixo valor agregado

e simples produo, como txteis, calados e brinquedos. J na dcada de 1990, o

capital estrangeiro concentrou-se nas indstrias automobilstica e de

eletroeletrnicos. Nos anos 2000, novos investimentos no setor aeroespacial,

tecnologia da informao (TI) e comunicao ingressaram no mercado chins.

(SOARES, FRISCHTAK, 2012, p. 32)

Alm de atuar como regulador dos investimentos estrangeiros diretos na China,

orientando os setores que deveriam ser investidos e selecionando o tipo de capital, o governo

passou a incentivar suas empresas a expandir-se para outros pases, atravs da sua politica

Going Global, tornando a China, alm de um grande receptor de IEDs, um fornecedor deste

tipo de investimento em diversos pases. Os investimentos chineses ocorrem principalmente

na rea energtica devido a crescente demanda por petrleo e a estratgia chinesa de

diversificar fornecedores, mas tambm ocorrem investimentos nos setores de construo,

softwares e indstria automobilstica, sendo este destinado aos mercados internos dos pases

no qual a empresa est instalada. vlido destacar que a maioria destas empresas

constituda de capital estatal, demonstrando o peso de Pequim na insero internacional destas

companhias. (SOARES, FRISCHTAK, 2012).

Ao contrrio da China, cujo Estado atuou de forma ativa para atrair investimentos, a

atuao brasileira foi passiva diante dos IEDs. Esta diferena ocorreu devido a polticas

econmicas distintas. O Brasil somente reestruturou sua economia em meados dos anos 90,

marcado por

... uma estratgia de abertura financeira, em que foram retirados todos os obstculos

a livre movimentao dos fluxos de capitais, com a desregulamentao do mercado

financeiro, diferentemente da China, que promoveu uma abertura parcial e cautelosa

de sua economia, permitindo a entrada apenas de capitais na modalidade de

investimento externo direto . (SAMBATTI, RISSATO, BRANDENBURG, 2011, p.

125)

Enquanto a China restringiu os tipos de investimentos e manteve maior controle sobre

a economia, o Brasil aderiu ao Consenso de Washington desregulando sua economia e

diminuindo o controle sobre os investimentos no pas. Ademais, os capitais destinados ao

Brasil visavam (...) apenas o financiamento das contas externas (...) no se verificou uma

poltica de direcionamento do investimento externo direto aos setores estratgicos,

objetivando um maior crescimento econmico e uma insero externa mais ativa (...)

(SAMBATTI; RISSATO; BRANDENBURG; 2011, p. 126), assim os IEDs no Brasil, ao

contrrio da China, no atuaram no processo de modernizao e desenvolvimento econmico,

deixando o pas com dficits em seu setor produtivo, visto que enquanto na China os

investimentos eram principalmente do tipo greenfield, instalando uma nova linha produtiva,

gerando emprego e desenvolvimento, no Brasil predominou durante os anos 90 investimentos

na forma de fuso e aquisio, no qual a capacidade industrial instalada no obteve avanos,

houve baixa gerao de emprego e no houve tecnologia transferida . No entanto, a partir de

2002 o governo brasileiro passou a absorver os investimentos externos diretos com o objetivo

de promover o desenvolvimento do pas e o governo assumiu um papel mais assertivo em

relao aos IEDs atendendo objetivos estratgicos do Brasil. Para atra-los, estimulou os

setores financeiros, promoveu a estabilidade econmica e investiu na infraestrutura, atravs

do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), criando um ambiente favorvel aos IEDs.

(SAMBATTI; RISSATO; BRANDENBURG; 2011).

Tendo em vista que a China estabeleceu sua estratgia de crescimento econmico nas

exportaes, a desacelerao dos pases desenvolvidos, principalmente uma queda de renda

dos Estados Unidos e da Europa, traria consequncias negativas para a economia chinesa.

Pensando nisso, mais intensivamente a partir do ps-crise financeira global, o pas asitico

vem procurando promover medidas preventivas que aprofunde sua insero internacional de

maneira mais proativa atravs da diversificao de parcerias para mercados mais dinmicos

capazes de compensar o declnio das demandas das economias desenvolvidas e, por meio do

investimento externo direto, acessar novos mercados consumidores e fontes alternativas de

matrias-primas estratgicas. Sendo assim, o principal objetivo da China com o

relacionamento comercial com o Brasil se caracteriza pela manuteno de fontes de

fornecimento seguras, contnuas e estveis, concentradas nas importaes de produtos

agrcolas e energticos.

Desde 2008, seu modelo de recuperao foi o incentivo ao setor exportador atravs de

uma poltica econmica de diplomacia financeira, dando importncia maior ao

fortalecimento de parcerias com pases emergentes na busca de aumentar sua participao

relativa nesses mercados, sendo assim, a Amrica Latina ganha importncia para China, como

fonte de matria-prima e destino de capitais e de manufaturas chinesas. Assim a

internacionalizao das empresas chinesas se relaciona diretamente sua estratgia de

desenvolvimento ao longo prazo conduzida a partir do Estado (APEX, 2012) atravs da

expanso significativa do investimento estrangeiro direto na procura de recursos naturais e da

aquisio de ativos especficos, principalmente em tecnologia e capacidade de gesto. O IED

chins tem sido vantajoso para desenvolver setores industriais e criar a maior base

manufatureira exportadora do mundo, bem como para estimular a modernizao do comrcio

e da distribuio.

Os investimentos da China no Brasil

Historicamente a China no possua laos econmicos constitudos com o Brasil, visto

que a prioridade para a China durante o sculo XX foi consolidar seu processo de

desenvolvimento e estabelecer relaes amistosas com seus vizinhos. E o Brasil tinha sua

economia voltada para o Norte e seu entorno geogrfico, com a criao do Mercosul. Porm

este cenrio sofreu alteraes nos anos 2000 com a aproximao econmica entre ambos os

pases, impulsionado pela demanda chinesa por commodities, assim no apenas o comrcio

obteve avanos, como tambm os investimentos estrangeiros diretos, principalmente aps a

crise de 2008. Ocorreu um interesse chins em obter uma maior participao na economia

brasileira e intensificar sua atuao no pas h longo prazo que, apesar da queda nos valores

dos investimentos a partir de 2010, resultado considerado normal tendo em vista que os

principais investimentos foram feitos neste ano, o nmero de investimentos manteve-se

constante (SOARES, CARIELLO, 2014).

Entre os fatores que justificam este avano, destaca que a elevao do comrcio entre

os dois Estados estimulou os IEDs, pois torna-se um indicador de que o outro pas oferece

oportunidades para suas empresas nacionais e possui um ambiente econmico favorvel ao

investimento. Ademais, a crise de 2008, que atingiu os pases ocidentais, tambm estimulou

os IEDs no Brasil por dois motivos: o primeiro foi a queda da taxa de consumo nos mercados

internos dos pases desenvolvidos, estimulando os investimentos com objetivo de explorar o

mercado consumidor direcionarem-se para o Sul e o segundo foi a desvalorizao de

empresas americanas e europeias, permitindo a aquisio de suas filiais no Brasil por

companhias chinesas (FRISCHTAK, SOARES, O'CONNOR 2013). No entanto, necessrio

observar que apesar dos investimentos oriundos da China obter um expressivo avano, os

investimentos chineses so inferiores as demais potncias econmicas, como Alemanha e

EUA, sendo este o principal investidor no Brasil, cujos valores atingiram em 2013 e em 2014,

US$ 9 bilhes e US$ 8 bilhes respectivamente (Banco Central do Brasil, 2015).

Logo aps a crise de 2008, a China buscou cada vez mais a internacionalizao de

suas empresas e estimulou a expanso de investimentos estrangeiros diretos sobre outros

pases, nesse perodo, os IEDs chineses no Brasil se concentravam nos setores de petrleo,

energia, minerao, agricultura e mquinas. Passada a euforia inicial, os investimentos

chineses se deslocaram para vertentes da indstria brasileira, principalmente nos setores

automotivo, eletrnicos e de maquinas e equipamentos, cujo estoque atingiu US$ 2,5 bilhes

de investimentos diretos chineses em 2014. Contudo, o setor de servios liderou o ranking

daqueles que mais receberam este tipo de investimento. (ALTEMANI, 2011; CARIELLO,

2014).

As empresas chinesas com investimentos em territrio brasileiro tm como

caracterstica comum o fato de serem constitudas por capital estatal, como State Grid

Corporation of China, do setor eltrico, e o Banco de Comunicaes da China (BoCom).Os

investimentos realizados entre 2007 e 2012 demonstram que 88% eram de empresas estatais

demonstrando a importncia das diretrizes do governo chins ao realizar os investimentos.

(FRISCHTAK, SOARES, OCONOR, 2013) O ingresso dos IEDs chineses no Brasil se d na

sua maioria atravs dos investimentos greenfield, representando cerca de 60% dos projetos

oriundos da China. Porm o montante gasto nas operaes do tipo greenfield so inferiores

aos gastos em fuses e aquisies, e segundo Frischtak, Soares, OConnor (2013), os

investimentos deste tipo concentram-se nos setores automotivo, maquinrio e eletrnico,

enquanto os de fuso e aquisio esto mais presentes no setor primrio.

As principais empresas chinesas investem em diferentes setores da cadeia produtiva no

Brasil, sendo que em termos de projetos o setor industrial conta com o maior nmero. Porm

em termos de valor o setor primrio predomina (RENAI/MDIC). Entre as principais empresas

destacam-se a empresa automobilstica Chery, inaugurada em 2014 no interior de So Paulo,

com um investimento superior a US$ 500 milhes. Outra empresa a Sinopec, companhia que

atua no setor de petrleo e gs natural, no apenas na sua explorao, mas tambm em seu

transporte e refinamento, foi responsvel pela construo do gasoduto que liga o Rio de

Janeiro a Bahia, avaliado em quase US$ 2 bilhes, e conta com cerca de 900 km, responsvel

por gerar mais de 10 mil empregos diretos e indiretos. Outro caso de investimento a Huwei,

empresa privada no setor de telecomunicaes, que presta servios para as principais redes

telefnicas do pas, e anunciou em 2012 o investimento de US$ 300 milhes no setor de

pesquisa e desenvolvimento no Brasil (FRISCHTAK; SOARES; OCONOR, 2013).

No binio 2012-2013 perceptvel um grande numero de projetos no setor industrial e

de servios, alm de que os investimentos que incluem capital chins anunciados entre 2013 e

no primeiro semestre de 2015 pelo RENAI/MDIC demonstram que os investimentos

continuam a permear todas as reas produtivas como petrleo, desenvolvimento de tecnologia

e fabricao de automveis leves e pesados, so alguns dos investimentos, demonstrando o

interesse chins na economia brasileira e que os IEDs chineses apresentam uma tendncia de

crescimento e podem vir a constituir um importante elemento para o desenvolvimento do pas.

Os investimentos do Brasil na China

A partir de 2004, a China passou a ser um dos maiores destinos de IEDs do mundo, as

cidades comearam a incentivar o ingresso de capital estrangeiro em setores estratgicos para

a economia, como energias renovveis e novas fontes de energia, a fim de incentivar a

instalao de centros de pesquisa e o seu desenvolvimento. Contudo, os investimentos

brasileiros na China se mantiveram estagnados nos ltimos dez anos. De acordo com o

Ministrio do Comrcio da China [...] no perodo de 2000 a 2010, US$ 572,5 milhes foram

investidos por empresas brasileiras, representando apenas 0,04% do estoque de

investimentos estrangeiros no pas asitico. (FRISCHTAK e SOARES, 2012). Os dados

apresentados pelo Banco Central do Brasil tambm demonstram taxas semelhantes, entre o

perodo de 2011 e 2014 foram investidos na China cerca de US$ 170 milhes, demonstrando

as dificuldades das empresas brasileiras na economia chinesa.

A Empresa Brasileira de Compressores, Embraco, atua no mercado chins desde

meados da dcada de 1980, exportando produtos para a China, via traders de Hong Kong. Em

1995, a empresa se associou com uma empresa local de compressores, pertencente ao governo

de Pequim. Assim, comearam a suprir o mercado com produtos locais, mantendo, como at

hoje, exportaes de alguns produtos especficos do Brasil. De acordo com os funcionrios da

empresa na China, nos primeiros anos, um dos principais desafios foi aprender a fazer

negcios na China, pois cada regio tem suas particularidades e o modo de se relacionar

difere muito do Ocidente. O tempo dedicado s negociaes e ao estabelecimento de

confiana entre as partes mais longo e apresenta caractersticas prprias. A empresa se

estabeleceu com lder neste setor na China, contudo, os concorrentes chineses se aproximam

rapidamente em termos qualitativos e com preos inferiores, tornando complicada a atuao

da empresa no pas. (FRISCHTAK, SOARES, 2012)

No caso da tentativa do Banco do Brasil de se estabelecer na China, os representantes

do Banco levaram quase cinco anos para entender de que forma poderiam fazer negcios com

os chineses. De acordo com o Diretor Executivo do Banco do Brasil, Admilson Monteiro

Garcia, eles aprenderam, com certa dificuldade, que o importante na China no tanto o que o

banco tem a oferecer e sim o guanxi, o estabelecimento de relaes informais de confiana.

Ademais, quando um banco chins ganha a licena para operar no Brasil, ela vlida em toda

a extenso do territrio nacional e engloba todos os produtos que o banco consiga levar aos

seus clientes. Na China diferente. Primeiro, o banco estrangeiro ganha uma licena inicial

com a qual proibido operar em moeda local. Para obter uma licena adicional que permita

operar em moeda chinesa, precisa-se de, no mnimo, trs anos de licena bancria, com

resultados positivos em, pelo menos, dois anos. Isso uma proteo do mercado local, pois

limita a capacidade do banco estrangeiro de gerar receita.No mercado local, os bancos

estrangeiros tem extrema dificuldade em concorrer com um banco chins, dada a capilaridade

e a capacidade de captao (funding) dos chineses. Alm das limitaes legais, existem,

principalmente, problemas de funding e de escala, torna-se profundamente complicado

concorrer no mercado chins contra o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), o

maior banco do mundo. Alm disso, desconfia-se que exista uma orientao para que as

empresas locais priorizem os bancos chineses. (FRISCHTAK, SOARES, 2012)

Desafios e perspectivas

Os desafios gerados para o Brasil provenientes da parceria com a China resultam na

parceria assimtrica entre os dois pases: as exportaes brasileiras concentradas em produtos

bsicos, de baixo valor agregado, enquanto importa da China manufaturados, em especial de

bens industriais. E nos IEDs tambm se observa uma assimetria, visto que o fluxo de capitais

chineses para o Brasil superior aos brasileiros para a China, demonstrando que o Brasil fica

mais suscetvel a variaes na economia chinesa. Ademais o capital chins tem acesso a todos

os setores produtivos brasileiros, os investimentos brasileiros e de outras nacionalidades so

restringidos pela China, j que o Catlogo de Guias de Investimento seleciona os IEDs de

acordo com a rea do investimento. Outro desafio est na transferncia de tecnologia, visto

que as empresas chinesas instaladas no Brasil no produzem componentes em territrio

brasileiro, importando-os diretamente da China. Assim estas fbricas montam o produto final,

o que impede a absoro de tecnologia de ponta pelo pas.

Destacam-se aqui dois pontos positivos para o desenvolvimento da economia

brasileira por meio da intensificao da parceria econmica e comercial com a China: A

primeira est vinculada ao fato de que a cooperao comercial com os chineses permitiu

atenuar os efeitos da crise financeira global em 2008, dando ao Brasil a possibilidade de

estabelecer parcerias fora do eixo dos pases desenvolvido. Alm disso, o supervit comercial

com a China ajuda a contrabalanar os dficits em conta corrente com os Estados Unidos. J

os impactos diretos esto relacionados grande demanda chinesa por commodities agrcolas e

minerais, ocasionando inclusive a elevao do seu preo no mercado mundial, fator que

favoreceu consideravelmente o mercado brasileiro. Os investimentos diretos da China no

Brasil, apesar de ainda serem pequenos, tem a funo de estimular cada vez mais o

desenvolvimento econmico e a estabilizao.

Assim, em seu atual projeto de insero internacional, o Brasil delega regio

asitica um espao especial, considerando-se a grande demanda por investimentos e

por acesso a tecnologias de ponta, bem como por um mercado com alta capacidade

de consumo. Por sua vez, o Brasil suscita interesses na sia por se caracterizar como

uma importante fonte supridora de matrias-primas, principalmente produtos

alimentcios e insumos bsicos. (ALTEMANI, s/p, 2002).

Concluso

A parceria Brasil-China remonta ao estabelecimento das relaes diplomticas em

1974, no entanto no houve uma profunda cooperao entre os dois Estados durante boa parte

do sculo XX. A partir do sculo XXI a cooperao Brasil-China sofreu uma forte expanso,

impulsionada principalmente pelo comrcio, ao ponto de em 2009 a China tornar-se a

principal parceria econmica do Brasil e do mundo. Alm do comrcio, observa-se nos anos

2000, principalmente aps a crise financeira de 2008, a expanso dos IEDs chineses

destinados ao Brasil. Tais investimentos geram tanto oportunidades, como fornecer capital

para dinamizar a economia brasileira. Tendo em vista o cenrio de crise no Ocidente, a

parceria positiva, pois atenuou o impacto no Brasil dado o volume do comrcio.

Apesar dos grandes avanos nas relaes bilaterais na ltima dcada, ainda existem

certas questes que podem vir a constituir barreiras evoluo desta parceria. Entre elas

destaca-se na rea comercial a assimetria e a concentrao da pauta de exportao para o

mercado chins, no qual trs produtos primrios, soja, minrio de ferro e petrleo bruto

dominam as exportaes para a China, enquanto os produtos importados pelo Brasil so

manufaturados e diversificados. (Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio

Exterior, 2015).

Por outro lado os IEDs tambm enfrentam desafios, entre os principais est a falta de

reciprocidade, isto , a China tem acesso a todos os setores produtivos do Brasil, no entanto o

Brasil tem acesso limitado aos setores chineses pois a China veta a participao de IEDs em

alguns setores de sua economia. A transferncia de tecnologia outro desafio, dado que os

investimentos chineses no transferem tecnologia de ponta para as indstrias brasileiras, no

entanto as empresas brasileiras na China sofrem presses para transferir tecnologia, como a

Embraer. Em discurso ao Congresso brasileiro em 2014, o presidente chins afirmou que

A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por cinco anos consecutivos.

E o Brasil o maior parceiro comercial e importante destino de investimento chins

na Amrica Latina e Caribe por longo perodo (...)Em 2013, o fluxo do nosso

comrcio bilateral ultrapassou U$ 90 bilhes. Devemos continuar a aumentar o

comrcio bilateral, elevar a proporo dos produtos de maior valor agregado e

resolver adequadamente as frices. Devemos continuar a ampliar o investimento

mtuo, aproveitar o papel promotor da cooperao financeira e alavancar uma srie

de projetos estratgicos compatveis com o desenvolvimento das duas partes

conducentes ao bem-estar dos nossos povos (...) (JINPING, 2014, s/p)

Portanto, pode-se perceber no discurso do lder chins a importncia do Brasil para a

China na Amrica Latina, e demonstra o interesse em expandir as relaes comerciais Brasil-

China nos prximos anos, aumentando os investimentos e o volume do comrcio, bem como

lidar com o tema da transferncia de tecnologia. A visita do Primeiro-Ministro do Conselho

de Estado, Li Kequiang, consolida tal percepo, no qual foram apresentados projetos, como a

Ferrovia Transocenica, ligando o Brasil ao oceano Pacfico, o conjunto siderrgico no

Maranho e Plano de Ao Conjunta entre Brasil e a Repblica Popular da China (2015-

2021), que prev aes em conjunto nas reas politica, econmica e comercial.

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PARTICIPAO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO EM

MOAMBIQUE NO SCULO XXI

Isabela Battistello Espndola

PPGCam, Departamento de Cincias Ambientais, UFSCar So Carlos, SP

Carla Cristiane Lopes Corte

Departamento de Relaes Internacionais, FACAMP Campinas, SP

Resumo

Esta pesquisa realizou uma reviso da participao das mulheres moambicanas no

mercado de trabalho no sculo XXI, avaliando sua presena e possibilitando a construo de

uma viso acerca do trabalho e emprego das mulheres no pas. Alm disso efetuou-se um

levantamento de dados acerca das caractersticas do mercado de trabalho em conjunto com

uma anlise das polticas adotadas pelo pas para a questo da mulher, principalmente

considerando a legislao trabalhista. Para tanto, delimitou-se, no recorte temporal

determinado, a participao feminina no mercado de trabalho moambicano, contestando

aspectos relativos a polticas pblicas, influncias externas, medidas de incluso social,

participao poltica, nvel de emprego e, finalmente, a efetiva participao no mercado de

trabalho. A primeira parte da pesquisa composta de um panorama geral da situao da

mulher em Moambique, abordando questes relacionadas sade, educao, alfabetizao e

a presena das mulheres na luta pela independncia do pas. Em seguida analisou-se as

principais polticas pblicas que afetam a presena feminina no mercado de trabalho,

demonstrando a influncia e o peso do Estado na condio das mulheres, alm de uma

comparao entre o setor pblico e privado. Os resultados demonstram que aps anos de

inferioridade e marginalizao, a mulher comeou a assumir importantes papis na sociedade

moambicana, verificado pela crescente participao da mulher nas diferentes manifestaes

da vida social, que constitui um dos fatos relevantes da histria. Contudo, a sociedade

moambicana ainda no aceitou completamente o papel da mulher trabalhadora. Conclui-se

que a reconfigurao dos papis femininos no implicou a reorganizao dos papis

masculinos, pelo contrrio, reafirmou-o, estabelecendo que as mulheres s ocupariam os

espaos pblicos desde que essas atividades no interferissem no bem-estar da famlia.

Palavras-chave: Moambique, participao feminina, direitos da mulher.

1. Introduo

Moambique um pas repleto de possibilidades e de diversos contrastes. O pas foi

colnia de Portugal at 1975, quando alcanou sua independncia poltica, econmica e social

por meio de um conflito armado, e em seguida sofreu com uma guerra civil dirigida pela

RENAMO1 (Resistncia de Libertao de Moambique) por quase 16 anos (NEWITT, 1995).

O fim do conflito somente ocorreu em 1992 com a assinatura dos Acordos Gerais de Paz entre

a o Governo da FRELIMO2 e a RENAMO. Desde ento a construo do Estado

moambicano tem sido um processo extremamente doloroso e difcil dados as caractersticas

do pas, mas seu esforo reconhecido pelos demais pases africanos, servindo de exemplo na

reconstruo ps-guerra e tambm da prpria recuperao econmica. Os moambicanos

perceberam que no bastava ter um estado nacional para ter a democracia, mas sim deveriam

ter os direitos fundamentais e a paz garantidos, comprometendo-se com a estabilidade

poltica, democracia e reconciliao nacional (SIMES, 2005). Apesar das mudanas, o pas

um dos mais pobres do mundo, atingindo tambm valores baixos no ndice de

Desenvolvimento Humano (UNICEF, 2011).

Mais de 50% da populao do pas vive em pobreza absoluta, sendo que esta ainda

maior em reas rurais onde cerca de 70% da populao do pas est concentrada. Isso afeta em

maior grau mulheres, tendo em vista que cerca de 68,9% das mulheres vivem em zonas rurais,

trabalhando na agricultura. A taxa da populao sem servios adequados de sade chega a

63,9%, enquanto a sem acesso gua potvel a 64,3% (43,3% em zonas urbanas e 73,6% no

rural), e somente 6% com acesso energia eltrica (KLAVEREN et al., 2009). Cerca de

1 A RENAMO surgiu como reao ao partido da FRELIMO e protagonizou a guerra civil. Foi altamente apoiado

pela frica do Sul como parte de ama estratgia para aniquilar as polticas e economias de governos

essencialmente negros (UN - UNITED NATIONS, 2012).

2 A FRELIMO foi o movimento nacionalista que conduziu a luta de libertao nacional em Moambique. Aps a

independncia, a FRELIMO conheceu um processo de transformao poltica, tendo-se estabelecido como

partido poltico no final da dcada de 1970. Desde a independncia nacional que a FRELIMO tem sido o partido

no poder, quer no sistema de partido nico, quer aps a introduo do sistema multipartidrio (a partir de 1992)

(NEWITT, 1995).

39,3% da populao no ultrapassa os 40 anos. As taxas de mortalidade infantil tm

diminudo, devido a expanso de servios sociais bsicos e de sade e aos programas de sade

e educao da comunidade. Contudo a taxa de mortalidade de crianas menores de 5 anos

40% mais alta em reas rurais do que em reas urbanas, e a desnutrio se apresenta como

causa de 50% destas mortes. A crescente incidncia do HIV e SIDA, especialmente no centro

e sul do pas, tem contribudo para o baixo padro de vida dos moambicanos, sendo as

mulheres e crianas, em zonas rurais e urbanas, as mais afetadas (ROCHA; MBOANA,

2008).

Em relao a temtica do trabalho em Moambique, um dos objetos de estudo desta

pesquisa, os primeiros relatos datam ao perodo colonial, quando homens e mulheres

exerciam atividades domsticas nas casas dos colonos brancos escapando do trabalho forado

no campo. Nessa poca, as mulheres restringiam-se ao ambiente domstico, realizando tarefas

como educar os filhos, zelar a honra familiar, dedicar-se ao cultivar da terra e cuidar dos

rebanhos. Segundo Oliveira et al. (2009) em diferentes sociedades e em estgios dspares era

possvel verificar que mulher era respaldado o espao domstico e a responsabilidade da

unio da famlia.

Todavia, com o advento e a consolidao do sistema capitalista no sculo XIX, o

modelo de organizao e produo do trabalho feminino nos pases, em geral, alterou-se.

Oliveira et al. (2009, p.3) resume essas mudanas defendendo que elas modificaram a vida

das pessoas e organizaes e estabeleceram uma nova forma de relacionamento entre os

seres humanos. Em Moambique, ao passo que se intensificava o desenvolvimento

tecnolgico e o crescimento da maquinaria, grande parte da parcela da mo de obra feminina

foi transferida para as fbricas dada a necessidade de suprir a demanda (NEWITT, 1995).

Alm das alteraes advindas do capitalismo e do desenvolvimento econmico, a

mudana de sistema poltico, ou seja, a passagem do status de colnia para independente,

atrelado ao acesso massivo dos moambicanos ao sistema de educao, e tambm da prpria

conjuntura internacional acerca dos direitos humanos das mulheres, influenciou para que

Moambique ps-independente integrasse mais mulheres ao mercado de trabalho. Desde a

independncia Moambique se engajou na busca de reformas econmicas, polticas e sociais,

e os resultados desse processo vem sendo colhidos nos ltimos anos. Contudo, ainda existem

muitos desafios a serem superados na sociedade moambicana.

Em Moambique registra-se uma diferena de 17% em termos da taxa de participao

na fora laboral dos homens e mulheres, sendo que os homens detm cerca de 78,3% de

participao no emprego (WORLD BANK, 2008). Em termos de segmentao por setor de

emprego, 70% das mulheres trabalham na agricultura, 7% em pequenas indstrias e 23% no

setor de prestao de servios. A agricultura a principal atividade econmica e consome

mais de 80% da populao laboral, sendo que grande parte da produo ainda dominada

pelo setor familiar, no qual o destino da produo , principalmente, a subsistncia e o

somente o excedente comercializado (MICOA Ministrio da Coordenao da Aco

Ambiental, 2002). Dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatstica de Moambique

(INE, 2008), principal rgo de Moambique no que tange a informaes e dados sobre a

populao, reforam os resultados da pesquisa do Banco Mundial, e, ao mesmo tempo,

revelam que a participao das mulheres na agricultura, ainda maior que a mdia dos pases

africanos. Permanecer na agricultura, embora proporcione segurana alimentar ao agregado

familiar, no vantajoso para as mulheres: implica uma produtividade mais baixa do que no

setor no agrcola e, alm disso, pode retirar-lhes poder, uma vez que os homens controlam o

dinheiro (ARBACHE, 2010).

Em relao as disparidades salariais entre homens e mulheres em Moambique, essas

tambm so altas sobretudo em decorrncia da limitao de perspectivas de trabalho, das

diferenas na educao, das dinmicas de poder no lar, e de outras variveis de capital

humano. Ressalta-se que tais divergncias no so peculiaridades exclusivas de Moambique,

tendo em vista que a populao feminina suporta essas desigualdades em praticamente todo o

mundo (OLIVEIRA et al., 2009).

Os dados sobre a participao da mulher no mercado de emprego em Moambique

indicam que dos 6 milhes de pessoas que trabalham no pas, 3,5 milhes so mulheres, o que

significa que h mais mulheres do que homens a trabalhar. No que se refere ao emprego

assalariado, entre 2002-2003, das cerca de 950 mil pessoas com trabalho remunerado, apenas

160 mil eram mulheres, demonstrando que as mulheres no representavam nem 20% do total

das pessoas com emprego formal no pas (KLAVEREN et al., 2009). Para Barsted (2005) a

anlise desses indicadores e dados relacionados ao trabalho possibilitam compreender a

dinmica das diferenas entre homens e mulheres, bem como as desigualdades de gnero em

face da distribuio de poder nos pases.

Logo aps sua independncia o pas adotou uma estratgia de desenvolvimento

baseado em uma economia socialista centralmente planificada, mas devido ao conflito militar

e ao aumento do endividamento externo, tal proposta no atingiu os objetivos esperados. Em

1987/8 foi adotado o Programa de Ajustamento Estrutural e desde ento o pas tem registrado

significantes melhorias em relao ao Produto Interno Bruto e uma diminuio da inflao

(UN - UNITED NATIONS, 2012). O governo de Moambique empenhou-se em definir

medidas de promoo do desenvolvimento econmico e social, atravs da reviso da

legislao laboral e de proteo social, abrindo caminho para a flexibilizao e dinamizao

do mercado do trabalho. Entretanto, sem importantes polticas pblicas direcionadas a

facilitar o acesso das mulheres aos espaos pblicos, o contexto econmico continuar a

deslocar apenas os homens para as indstrias em expanso, continuando a remeter as

mulheres a atividades pouco ou mal remuneradas (MACHEL et al., 1979)

Hoje o perfil das mulheres , sem dvidas, muito diferente daquele do comeo do

sculo XX. Para Oliveira et al. (2009, p.4) a mulher nos ltimos anos conseguiu obter

considerveis ganhos sociais, polticos e econmicos, melhorando a situao. Alm de

trabalhar e ocupar cargos de responsabilidade assim como os homens, ela aglutina as tarefas

tradicionais: ser me, esposa e dona de casa. Esse um movimento observado em vrias

naes, mesmo em Moambique, que um dos pases mais pobres do mundo.

Apesar de todos os adventos positivos, a segregao sexual no mbito

organizacional ainda persiste como um fenmeno mundial, bem como a desigualdade salarial

entre os sexos (OLIVEIRA et al., 2009, p.4). A mulher moambicana ainda sofre

discriminaes de vrias ordens e, nesse sentido, tanto o Governo como os parlamentares

deveriam acelerar as reformas necessrias consagrao da igualdade de gnero.

importante continuar engendrando novos caminhos, melhorando a participao crtica,

voluntria e solidria, tornando visveis as lutas das minorias, pois a poltica ainda hoje se

encontra monopolizada pelo sexo masculino. A criao de polticas pblicas sensveis ao

gnero uma demanda internacional e uma necessidade interna para combater a excluso das

mulheres dos processos de desenvolvimento do pas. O acesso educao e a atividades

profissionalizantes, a existncia de sociedades no discriminatrias, livres de violncia e

doenas incapacitantes, a existncia de um ambiente de trabalho livre de assdio sexual e

onde a progresso na carreira e as polticas remuneratrias no descriminam, so condies

indispensveis para impulsionar as novas geraes de homens e mulheres ao mercado de

trabalho, participando dessa forma tanto no seu prprio desenvolvimento quanto o de suas

comunidades e tambm no desenvolvimento do seu pas.

2. Metodologia

A presente pesquisa tem como base para a anlise do tema proposto, o procedimento

bibliogrfico e documental acerca da participao da mulher no mercado de trabalho e suas

peculiaridades e consequncias em Moambique. Alm disso, fez-se consultas em sites da

Internet e em demais acervos bibliogrficos disponveis online.

3. Resultados e Discusso

3.1 As contradies e surpresas da Nao

Moambique um Estado constitudo por diversas naes, sendo multitnico,

multicultural e multilingustico. um pas extremamente marcado por fissuras tnicas,

religiosas e regionais de difcil superao, as quais no foram resolvidas nem pelo sistema

colonialista nem pela FRELIMO, movimento que se transformou posteriormente em partido e

que governa o pas desde sua Independncia at os dias atuais (CIA, 2012).

A proclamao da independncia de Moambique aconteceu em 25 de junho de 1975.

Samora Machel, ex-chefe militar da FRELIMO, assumiu a presidncia da Repblica Popular

de Moambique. A partir de ento, Moambique se tornou um dos poucos pases da frica a

experimentar o socialismo. O clima de comemorao pela Independncia e o entusiasmo da

populao pela implantao do socialismo duraram pouco tempo, pois Moambique

mergulhou em uma guerra civil poucos meses depois de sua independncia, logo aps uma

tentativa de golpe de Estado realizada por dissidentes da FRELIMO, os quais se organizaram

para a criao do Movimento Nacional de Resistncia de Moambique, que posteriormente

passou a se chamar RENAMO. A assinatura de um acordo de paz entre a FRELIMO e a

RENAMO veio a ocorrer somente em 1992, pondo um fim aos 16 anos de guerra civil que

ocasionara a morte de pelo menos um milho de pessoas e deixara milhes de refugiados e

desabrigados, ficando ainda milhes de civis protegidos em pases vizinhos (CASIMIRO,

2003).

A guerra civil apontada como uma das geradoras de efeitos catastrficos para a

infraestrutura de Moambique, alm das sequelas atreladas a situao de pobreza e a falta de

fundos pblicos para a realizao de aes. Todavia, foi com a guerra civil que a influncia

das mulheres no pas aumentou. Muitas das mulheres que participaram das lutas de

independncia do pas assumiram cargos importantes no governo (CAMPOS, 2003),

participando diretamente das mudanas no pas. Iglsias (2007) defende que com a luta

armada as mulheres se deram conta de seu valor e passaram a questionar sobre o seu

verdadeiro papel, refletindo cada vez mais sobre seus direitos e deveres na sociedade

moambicana. No desenrolar dos conflitos a mulher moambicana mudou seu modo de

pensar e agir, buscando sua condio de equidade e igualdade na sociedade.

Desde a sua concepo a FRELIMO defendeu a emancipao feminina como parte

essencial de seu projeto social. Samora Machel na conferncia que fundou a Organizao da

Mulher Moambicana em 1973, se manifestou defendendo que a libertao das mulheres seria

uma necessidade fundamental da revoluo, a garantia de sua prpria continuidade e tambm

a precondio de sua vitria (CAMPOS, 2003). Atravs do Destacamento Feminino, a

FRELIMO promoveu a participao ativa da mulher no processo de libertao do pas, seja

em aes de carter social, produtiva ou mesmo relacionada ao combate fsico (MENESES,

2008).

Desde 1975 a Constituio de Moambique garante a no discriminao entre homens

e mulheres, preconizando uma igualdade de sexo em todas as reas da sociedade, proibindo

qualquer discriminao e preconceito em relao aos gneros. A atual constituio consagra e

promove a igualdade jurdica, social e econmica, reafirmando a proibio de quaisquer

formas de discriminao. Todos os cidados moambicanos possuem, portanto, amplas

possibilidades de participao poltica, do exerccio da cidadania e ao direito ao trabalho

(MOAMBIQUE, 2004). O pas tambm ratificou as Convenes do Trabalho fundamentais

da Organizao Internacional do Trabalho, instituindo leis no discriminatrias em relao a

homens e mulheres em seus ordenamentos internos. Moambique tambm conta com um

ministrio voltado exclusivamente para questo da mulher: Ministrio da Mulher e Ao

Social (MMAS). Criado em 1995, esse rgo do governo busca intensificar a promoo da

igualdade de gnero em seu territrio (CASIMIRO, 2003).

Com as transformaes na sociedade moambicana, a populao feminina tende a

estar mais representada nos domnios da vida do pas do que no passado. Moambique um

dos pases da frica Austral com a maior proporo de mulheres no Parlamento e no tambm

no governo. As mulheres ocupam atualmente oito dos 28 lugares ministeriais, cinco cargos

como vice-ministro, sendo inclusive do sexo feminino trs dos 11 governadores no pas. Dos

250 deputados do parlamento moambicano, 35% so mulheres e, pela primeira vez na sua

histria, a Assembleia da Repblica teve uma mulher como presidente. Tanto a FRELIMO

quanto a RENAMO reservam um tero das suas listas eleitorais para mulheres e ambos

apresentam mulheres como lderes de seus blocos parlamentares. Duas das federaes de

sindicatos do pas, a Organizao dos Trabalhadores de Moambique (OTM-CS) e a

CONSILMO, possuem comisses especiais para as mulheres trabalhadoras (KLAVEREN et

al., 2009).

Se na teoria est tudo to bem definida, a prtica continua distante. A Constituio ,

sem dvida, um belo programa, mas h muito que caminhar se o Estado quiser exercer a sua

ao como um Estado de direito, se a sociedade civil tiver fora e for adquirindo cada vez

mais fora, e se existirem organizaes que defendam os direitos humanos. Nas organizaes

da sociedade civil, por exemplo, a igualdade de gnero est longe de ser uma realidade. De

acordo com estudos do INE (2008), as mulheres concentram-se principalmente nos ramos

ligados a agricultura, pecuria, pesca, caa e silvicultura. Com raras excees, as mulheres

ainda continuam em um patamar mais baixo na escala hierrquica, tanto nos setores pblicos

quanto nos administrativos. Por mais que aja uma lei que determine a igualdade de homens e

mulheres, se persiste o pagamento desigual no trabalho, demonstrando mais uma vertente da

fragilidade econmica e de carreira da mulher moambicana.

No h dvidas de que nos ltimos anos a mulher moambicana est cada vez mais

presente no mercado de trabalho, contudo elas tm menos oportunidade de emprego no pas

em prol das dificuldades, sobretudo, relacionadas a escolaridades (LIGA MOAMBICANA

DOS DIREITOS HUMANOS, 2007). O aumento da presena feminina no mercado de

trabalho um fenmeno mundial, e tem ocorrido tanto em pases desenvolvidos quanto em

desenvolvimento. Essa insero feminina no mercado de trabalho, apesar de trazer um novo

dinamismo s organizaes (OLIVEIRA et al., 2009), seguida por um aumento da

discriminao, tanto relacionada qualidade das ocupaes (seja no trabalho formal ou

informal) quanto, principalmente, a desigualdade salarial entre mulheres e homens (PROBST,

2003).

As desigualdades, deste modo, prosseguem e passam a ostentar novas formas.

necessrio, neste sentido, tornar as mulheres mais competitivas no mercado do trabalho e do

emprego, formando-as da melhor maneira possvel. Embora o pas vivencie um verdadeiro

crescimento econmico, a excluso, a opresso e a pobreza continuam a afetar grande parcela

da populao, sobretudo a parcela referente s mulheres (CUNHA; FUENTES, 2006).

3.2 A mulher e o mercado de trabalho

Logo aps sua independncia, o governo de Moambique procurou explorar as

vantagens geogrficas que o pas possua, exportando basicamente produtos agrcolas e

primrios e importando uma grande quantidade de bens industrializados, uma vez que no

dispe de uma produo industrial satisfatria. Em 1986 a economia entrou em colapso total

e, nessa altura os indicadores sociais encontravam-se entre os piores do mundo. Na segunda

metade da dcada de 90 surgiram melhoramentos sociais, fortemente patrocinados pela ajuda

estrangeira, as quais defendiam a autonomizao das mulheres e a incluso de gnero. Nesta

mesma dcada a maior parte desta mo de obra urbana era pouco instruda e, assim, nem

todos aqueles que vinham para as cidades conseguiam encontrar emprego assalariado

(KLAVEREN et al., 2009).

Em 2007 entrou em vigor um novo Cdigo de Trabalho, integrando leis de trabalho

que estavam separadas com o intuito de facilitar a atividade empresarial no pas e, ao mesmo

tempo, manter a proteo dos trabalhadores. Um significativo avano foi dado com essa nova

lei, a qual pode ser considerada progressista pelo cuidado em incorporar necessidades de

mulheres trabalhadoras, apresentando polticas igualitrias onde se faz necessrio (polticas

salariais) e polticas especificas (casos de doena, gravidez, aborto, etc), alm da defesa do

direito a formao profissional, no distino por orientao sexual/tnica/religio/convico

poltica/sexo, exerccio a atividade sindical e segurana do trabalho (KLAVEREN et al.,

2009). Entretanto essa lei contm alguns pontos negativos, uma vez que determinou uma

maior flexibilidade no uso de contratos de trabalhos por tempo determinado, alm de uma

reduo do perodo de pr-aviso para despedimentos. Nesse sentido as aplicaes dessa nova

lei de trabalho so, muitas vezes, insuficientes para o cumprimento da no discriminao de

gnero (SOUZA et al., 2002)

Ao se analisar os indicadores da educao do pas, verifica-se que as mulheres esto

em uma posio prejudicada, mesmo com um crescimento considervel da taxa bruta de

escolaridade elas. Independente do gnero uma pessoa com um nvel de escolaridade mais

elevado tem mais chances e oportunidades de incluso no mercado de trabalho. Apesar do

grau de alfabetizao das mulheres ter aumentado nos ltimos anos, este fica muito inferior a

taxa dos homens. Nota-se que muitas mulheres no terminam o primeiro grau da primaria (1-

4 anos), especialmente nas reas rurais. Por sua vez, na educao secundria e universitria a

presena de mulheres diminui consideravelmente em comparao aos estudantes masculinos:

dos matriculados no ensino superior ao nvel nacional somente 32,7% foram mulheres. O

acesso limitado a educao, sade, capital, o insuficiente acesso a posse e controle sobre a

terra e o poder desigual de tomada de decises, coloca a mulher numa posio de

desvantagem, poltica, econmica e socialmente. A maioria das mulheres trabalha para a

famlia, sem remunerao (VIEIRA, 2006).

O atual cenrio do mercado de trabalho em Moambique demonstra uma melhoria

decorrente de aes conjuntas entre o Estado e entidades privadas. O Estado tem reforado

significativamente o seu papel de regulador e fiscalizador, atravs da simplificao de

regulamentos da atividade comercial e industrial, dos esforos de reviso das leis de trabalho,

entre outros como a criao do Fundo de Emprego e Formao Profissional. O setor privado,

por sua vez, vem assumindo um papel central no processo de crescimento econmico, atravs

da criao de oportunidades de emprego e produo de bens e servios. A participao ativa

das organizaes representativas dos trabalhadores em todo o processo tem contribudo para a

flexibilizao do mercado de trabalho e a promoo da justia laboral (REPBLICA DE

MOAMBIQUE, 2006).

Os assalariados constituem a minoria da populao empregada em Moambique, pois

a maior parte da populao moambicana trabalha por conta prpria ou em trabalhos

familiares sem remunerao. A maior parte das mulheres moambicanas dominam o trabalho

agrcola, deixando os setores mais produtivos da economia com os homens. na agricultura e

no comrcio informal onde h espao para os pouco qualificados e exatamente nestes

setores em que as mulheres empregadas esto em maior nmero. H de se exaltar a tendncia

formalizao das mulheres no mercado de trabalho, de modo que estas ocupam posies de

destaque nos diferentes domnios da vida poltica, econmica e social, embora sejam

permanentemente perseguidas pelo fantasma da mulher domstica e servial do homem.

Uma caracterstica estrutural do pas a existncia de um peso significativo do

desemprego e sub-emprego. Em 2004/5 a taxa de desemprego foi calculada em 18,7%, sendo

que nos grandes centros urbanos esta taxa teve um crescimento de 25,4% de 2004 a 2007.

Entre 2000-06 mais de 90% da populao vivia com dois dlares ou menos por dia, sendo que

a parcela mais afetada era a feminina. Em 2005 as mulheres representavam 21,7% dos

desempregados, sendo que 15% das desempregadas interrogadas nunca frequentaram a

escola, enquanto 21% pararam os seus estudos no primrio, e 38% no concluram o ensino

secundrio (KLAVEREN et al., 2009).

Os maiores dficits em relao ao trabalho esto localizados na incapacidade da

economia em gerar postos de trabalho em nmero suficiente para absorver os desempregados,

incluindo os jovens que anualmente ingressam na populao economicamente ativa. As

maiores taxas de desemprego encontram-se entre as faixas etrias de 15 a 19 anos (36,8%), e

de 20 a 24 anos (27,2%). Na rea urbana, nas mesmas faixas etrias, as taxas atingem,

respectivamente, 56,8% e 45,1%. Nas regies rurais, considerando as mesmas faixas etrias,

temos 26,4% entre 15-19 anos e 16,6% entre 20-24 anos. A taxa de desemprego mais

acentuada, portanto, nos grandes centros urbanos, como nas provncias de Maputo Cidade,

Maputo Provncia, Niassa, Manica e Sofala e atinge mais os jovens residentes dessas zonas

(KLAVEREN et al., 2009).

O trabalho infantil, proibido no pas segundo a Lei da Criana e pelo prprio Cdigo

do Trabalho, continua muito generalizado nas zonas rurais, especialmente nas propriedades

agrcolas familiares durante as colheitas sazonais e, em menor grau, no setor informal urbano.

De acordo com o INE com base num levantamento de 2004-05, 32% das crianas com idades

compreendidas entre os 7 e 17 anos so economicamente ativas: 40% delas nas zonas rurais,

uma em seis nas reas urbanas (UNICEF, 2007).

Em relao disparidade salarial no pas argumenta-se que esta segue uma tendncia

mundial. A diferenciao salarial reflete que o ensino superior das mulheres no conduz

necessariamente a mitigao da diferena salarial ou remuneratria. No entanto, em geral,

mais educao significa um melhor salrio. A idade e anos de servio tambm constituem

fatores da diferenciao salarial entre homens e mulheres. Quanto mais velho e anos de

servio tiver, melhor salrio se tem. Assim, os jovens ganham menos, enquanto os homens

mais velhos ganham melhor que as suas contrapartes mulheres.

3.3 As transformaes em curso: em busca de igualdade

O governo de Moambique lanou uma srie de iniciativas com vista a fortalecer a

igualdade de gnero e a aquisio de poder pelas mulheres, se empenhando em promover o

desenvolvimento econmico e social, atravs da reviso da legislao laboral e de proteo

social, abrindo caminho para a flexibilizao e dinamizao do mercado do trabalho. A

principal responsabilidade pela promoo da igualdade de gnero compete Direo Nacional

da Mulher, a qual tem por objetivo coordenar as iniciativas com vista integrao do gnero e

promoo da aquisio do poder pelas mulheres nos diferentes ministrios e tambm pela

Poltica Nacional de Gnero. Um exemplo o Plano de Ao para a Reduo da Pobreza

Absoluta, o qual destaca a necessidade de abordar a questo da desigualdade em termos de

gnero, em particular na educao. Outro o Plano Estratgico da Educao, que coloca

nfase especial na educao das mulheres, pois o pas registra um dos mais elevados nveis de

analfabetismo feminino do mundo, refletindo a desigualdade de gnero (ROCHA; MBOANA,

2008).

Embora se tenha registrado algum progresso na alfabetizao a partir de 1997, os

nveis de analfabetismo so ainda muito mais elevados entre as mulheres do que entre os

homens. Segundo dados do governo publicados em 2003, somente 32% das mulheres,

comparado com 63% dos homens, sabem ler e escrever. Esta disparidade significativamente

mais pronunciada nas zonas rurais do que nas urbanas, existindo quase o dobro do nmero de

mulheres analfabetas nas zonas rurais do que nas urbanas. As aes adicionais que visam

aumentar o acesso e a reteno das mulheres na escola incluem a distribuio de refeies nas

escolas primrias e secundrias, aes de formao de professores do sexo feminino e a

reserva de um nmero mais elevado de vagas em cada nvel e tipo de ensino, em particular

nas escolas com internatos (TELES; BRS, 2009).

A Estratgia de Emprego e Formao Profissional adotada pelo governo do pas em

2006 prev mudanas significativas at 2015, tendo impactos positivos na reduo do

desemprego e na diminuio dos ndices de pobreza, ao apresentar um carter multissetorial

ao enfatizar uma ao conjunta entre as diferentes instituies do Estado, parceiros sociais e

sociedade civil que direta ou indiretamente contribuem para a promoo do emprego. Outra

medida foi o Fundo de Emprego e Formao Profissional criado pelo governo, tendo como

princpios (1) elevar os recursos financeiros disponveis para o financiamento da formao e

do emprego, (2) aumentar a oferta de formao e melhorar a sua qualidade, (3) assim como as

possibilidades de financiamento da insero na fase ps-formao (REPBLICA DE

MOAMBIQUE, 2006). O projeto Decises para Toda a Vida (2008), aplicado em mais de

14 pases incluindo Brasil e Moambique, visa consciencializar as jovens trabalhadoras sobre

as suas oportunidades de emprego e perspectivas de carreira, constituio de famlia e

equilbrio trabalho famlia. Este projeto tem como parte de sua estratgia promover e dar

apoio ao Objetivo de Desenvolvimento das Naes Unidas (ODN) de promover a igualdade

do gnero e autonomizar as mulheres, incentivando o trabalho formal e oportunidades iguais

no mercado de trabalho. Numa populao nacional majoritariamente feminina, os nmeros

refletem necessidade de interveno ao nvel da igualdade de oportunidades.

4. Consideraes Finais

A mulher ainda encontra-se exposta a vrios riscos, que a colocam numa situao de

grande vulnerabilidade, por questes culturais, construes sociais e econmicas, que a

relegam discriminao, isolamento e excluso. No resta dvidas que se homens e mulheres

tivessem oportunidades iguais no mercado de trabalho a economia mundial poderia crescer.

Apesar das mulheres serem numericamente a maioria e terem grandes responsabilidades como

mes, esposas e filhas, a sua situao de subordinao e sujeio, devido ao fato de no

poderem ter acesso e controle sobre recursos. Elas esto em piores condies que os homens,

porque no tm a autonomia suficiente para dar destino a suas vontades.

As iniciativas que tm sido implementadas so prejudicadas pela falta de instrumentos

de anlise, previso e gesto de informao, designadamente no que respeita anlise do

gnero, pesquisa sensvel ao gnero e trabalho de advocacia. A este aspecto alia-se a fraca

capacidade das organizaes da sociedade civil e falta de coordenao entre grupos de

interesse das mulheres.

Nesse sentido, com base nas recomendaes da ONU para empoderamento das

mulheres e diminuio das desigualdades de gnero, sugere-se algumas medidas para o

alcance de uma maior igualdade no mercado de trabalho de Moambique: (1) Reduo e

partilha do trabalho domstico e sazonal das mulheres; (2) Controle e preveno da infeco

do HIV e SIDA; (3) Educao para o desenvolvimento atenuando o conflito entre a educao

formal e tradicional (casamentos prematuros, dotes e instruo alternativa); (4) Reduo dos

custos do ensino; (5) Criao de condies de segurana (principalmente por conta de assdio

e abuso sexuais por parte dos professores e colegas do sexo masculino); (6) Participao das

mulheres no ensino tcnico profissional particularmente em reas de emprego no tradicionais

e de grande procura; (7) Apoio institucional para o desenvolvimento e aquisio do poder

pelas mulheres, particularmente no setor pblico; (8) Definio de polticas de gesto que

promovam o equilbrio de gnero.

Ainda persistem situaes de injustia para as mulheres, quer no seu acesso ao

mercado, passando por questes salariais, regime de tempo de trabalho, formao profissional

e at na obteno de benefcios especficos como licenas de maternidade. De acordo com um

estudo realizado com dados de mulheres empresrias pela Fundao para o Desenvolvimento

da Comunidade em Moambique, constatou-se que estas mulheres, mesmo possuindo cargos

elevados no mercado de trabalho, ainda encontram demasiados obstculos para competir em

p de igualdade com os seus pares masculinos, em mundo empresarial j per si agressivo. A

consequncia deste fato na sociedade moambicana a existncia de um empresariado

feminino no muito competitivo, com a presena de proprietrias de pequenas e mdias

empresas.

Uma verdadeira emancipao das mulheres depender, portanto, de vontade poltica

por parte do Estado de tomar para si as tarefas que tm a ver com a reproduo da fora de

trabalho, garantindo a instalao de servios pblicos de qualidade como creches, escolas,

lavanderias, restaurantes, confeces, o que permitir que homens e mulheres despendam

tempo de qualidade tanto na esfera pblica quanto na esfera domstica.

5. Referncias bibliogrficas

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A PARTICIPAO DO G77 NA LOGSTICA INTERNACIONAL

Karolina Crespi Gomes

Bacharela em Relaes Internacionais pela Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul

Rejane Roecker, Ma.

Mestra em Administrao Universidade Federal de Santa Catarina e docente da Unisul

Orientadora

RESUMO

Este trabalho apresenta um panorama de uma questo tocante s relaes econmicas

Sul-Sul: o comrcio internacional, focado na logstica e como isso influi no

desenvolvimento dos pases intitulados Grupo dos 77 (G77). Para isso, feito um

comparativo da participao de agentes de carga internacionais em grupos de network dos

pases constituintes do G77, separados por continentes, com intuito de analisar a quantidade

relativa de cada um no desenvolvimento de negcios internacionais para importao e

exportao nos pases considerados em desenvolvimento e subdesenvolvidos

majoritariamente da Amrica Latina, frica e sia. O grupo G77 uma organizao

intergovernamental e foi criada na Conferncia das Naes Unidas para Comrcio e

Desenvolvimento UNCTAD, a fim de fomentar as relaes econmicas de pases em

desenvolvimento, sendo iniciada com 77 pases e contando, atualmente, com mais de 130. A

pesquisa tem cunho quantitativo, qualitativo e descritivo com base em pesquisa bibliogrfica,

documental e observao direta. Tem como aporte terico os tpicos: Relaes Internacionais,

Globalizao, Comrcio Internacional e Logstica Internacional. Ao final, conclui-se que,

mesmo com as melhorias econmicas ocorridas nos pases constituintes do grupo desde sua

criao em 1964, a cultura empresarial e governamental internacionalista precisa ser melhor

difundida e absorvida uma vez que tambm influi na consolidao de uma maior insero dos

mesmos como players do cenrio global.

Palavras-chave: Relaes econmicas. Sul-Sul. Grupo dos 77.

1 INTRODUO

As dificuldades vivenciadas por uma empresa de agenciamento de cargas em

decorrncia da necessidade de agentes internacionais em pases da Amrica Latina e frica,

assim como a ausncia de demanda por servios em algumas regies da sia, criaram um

questionamento, atravs de observao direta, que ser debatido neste artigo. A dvida

implica em entender de quanto a participatividade de empresas do mesmo segmento que

dependem umas das outras ao redor do mundo para efetuar trocas comerciais e desenvolver as

relaes econmicas entre os pases considerados Sul em grupos de network. Almejando

referenciar de forma unificada a situao vivida na empresa foi elegido o Grupo dos 77, uma

organizao intergovernamental, criada na Conferncia das Naes Unidas para Comrcio e

Desenvolvimento UNCTAD, por acolher em sua estrutura membros que raramente fazem

negcios com o Brasil.

Quantificar a insero de todos os elementos do G77 nas empresas de

relacionamento empresarial seria tarefa rdua e despropositada levando em considerao a

existncia de 133 pases atualmente. Portanto para constar carter cientfico pesquisa esses

so divididos por continentes e analisados em cinco redes de relacionamento.

2 - DEFINIO DE AGENTES DE CARGAS

A Associao Brasileira de Consultoria e Assessoria em Comrcio Exterior define

o Agente de Carga Internacional ou Freight Forwarder como aquele que trabalha com o

planejamento e a comercializao de solues logsticas, para movimentao de mercadorias

na exportao e importao. Para melhorar o entendimento, vide:

possvel praticar-se o agenciamento, tanto de cargas quanto de

transportadores e ajudar o comerciante a tornar possvel a atividade de

exportao e importao. Aqui, o profissional vende servio, e no est

diretamente envolvido com a compra e venda de mercadorias. Ele pode

transportar ou ajudar a transportar, realizar operaes logsticas, etc. Pode

trabalhar em agncias martimas, agentes de cargas, agenciamento de cargas

em geral, brokers de carga ou de navios, transitrios de cargas, operadores

logsticos, etc. (KEEDI, 2013, p. 99).

Esse servio incorpora as necessidades logstica de cada embarque, levando em

conta sua peculiaridade. A vantagem em contrat-lo se faz necessrio uma vez que seria

onerosa a criao de departamento de comrcio exterior em todas as empresas.

Uma empresa de agenciamento de cargas pode fazer a prospeco e atendimento

ao cliente por meio da rea Comercial. Aps fechar negcio com o cliente, comea a busca

por preos e elaborao das melhores rotas, bem como demais servios: seguros,

armazenagem, despacho aduaneiro, servios de entrega da carga at o destino por meio de

transportadoras rodovirias, etc.; isso feito pelo pessoal de Pricing, quando em uma

exportao (ou Overseas), ou quando em uma importao. Esse ltimo setor o que entra em

contato com agentes do mundo inteiro para contratar suporte no recebimento ou envio de uma

carga de um pas estrangeiro. E, por fim, h o setor Financeiro que responsvel pelo

recebimento de pagamento dos clientes e da efetuao de pagamentos aos fornecedores, por

exemplo, os armadores.

3 - DEFINIO DE GRUPOS DE NETWORK DENTRO DO CAMPO DAS

RELAES INTERNACIONAIS

A prtica de coalizes entre empresas de importao e exportao

majoritariamente explicada sob a tica do campo de estudo do Comrcio Exterior,

entretanto como intrnseca a existncia dessa prtica s questes relevantes ao

funcionamento da chamada sociedade internacional, um novo prisma conceitual pode ser

abordado a partir do ramo das Relaes Internacionais. Reforando a premissa da no

existncia de um controle superior aos prprios Estados soberanos e as teorias defensoras da

institucionalizao internacional, os grupos de network encontram-se como atores pouco

comentados dada sua relevncia menos exuberante se comparados s organizaes mais

complexas. Para Jackson e Sorensen:

...