Anais 3° Semana Zootecnia

59
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí 12 a 15 de Maio 2008 Ivan Vieira Daniel Pereira da Costa 2008©Semanaqua - CEFET-Bambuí

description

Anais da III Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí.

Transcript of Anais 3° Semana Zootecnia

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí

12 a 15 de Maio 2008

Ivan Vieira Daniel Pereira da Costa

2008©Semanaqua - CEFET-Bambuí

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

2

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BAMBUÍ

Núcleo de Zootecnia

ANAIS DA TERCEIRA SEMANA DE ZOOTECNIA DO CEFET-BAMBUÍ

ORGANIZADORES DOS ANAIS

Ivan Vieira Daniel Pereira da Costa

Bambuí –MG

Maio de 2008

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

3

Ficha Catalográfica preparada pelo Setor de Processamentos Técnicos da

Biblioteca do CEFET-Bambuí-MG.

Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí: (3. : 2008 : Bambuí, MG.)

Anais da 3ª semana de zootecnia do CEFET-Bambuí, 12 a 15 de maio de

2008, Bambuí, MG / Organizadores: Ivan Vieira; Daniel Pereira da Costa ... [et al.] --

Bambuí: CEFET-Bambuí, 2008.

59p.: il.

1. Zootecnia. 2. Nutrição animal. 3. Suinocultura . I.Vieira, Ivan. II. Costa, Daniel

Pereira da. III. Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí. IV. Título.

CDD 636

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

4

APRESENTAÇÃO

Os trabalhos contidos nestes anais são artigos selecionados para apresentação no evento da terceira semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí e artigos disponibilizados por palestrantes que participaram desta semana. Este trabalho visa incentivar o desenvolvimento de estudos e troca de informações na área zootécnica estimulando o uso de novas tecnologias e conhecimentos para gerar renda e qualidade de vida no campo.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

5

CONTEÚDO Parte 1 - Artigos apresentados

Aspectos da nutrição do lambari (Gênero Astyanax spp) ........................................................ 6

Avaliação do valor nutritivo das frações do processamento da rama de mandioca

(manihot esculenta, crantz) e digestibilidade in vitro do feno do terço superior de

doze diferentes variedades para coelhos em crescimento ................................................... 20

Estudo da flora apícola existente no CEFET - Bambuí ............................................................. 26

Parte 2 – Textos das palestras

Fatores que afetam a composição do leite de vacas leiteiras: importância em tempos

de pagamento por qualidade ..................................................................................................... 31

Gestão em suinocultura ............................................................................................................. 48

Impacto do potencial genético de reprodutores na rentabilidade da suinocultura moderna .... 56

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

6

ASPECTOS DA NUTRIÇÃO DO LAMBARI (Gênero Astyanax spp.)*

Costa, Daniel Pereira da1; Vieira, Ivan2

Resumo - Com o crescente desenvolvimento da Aqüicultura e o potencial que o lambaricultivo tem de se tornar um dos principais ramos de produção de pescado, este trabalho vem auxiliar a nutrição dos Lambaris do gênero Astyanax, compondo um apanhado de trabalhos sobre o assunto. São abordados aspectos da fisiologia e hábitos alimentares ressaltando a característica onívora dos animais e o consumo de alguns itens no seu ambiente natural. Mostra-se o funcionamento básico do trato gastrointestinal e a anatomia de A. lacustris. São apresentadas as exigências e características nutricionais por fase de desenvolvimento e por sexo. Os alimentos de origem animal, vegetal, alimento vivo são discutidos de maneira simplificada contextualizando sua utilização na dieta dos animais. Por ultimo relaciona-se a nutrição com meio ambiente e as maneiras de diminuir o impacto das rações lançadas nos corpos de água.

Palavras-chave: Aqüicultura, piscicultura, nutrição de peixes, lambari, Astyanax.

1Aluno do Curso Superior de Zootecnia – do CEFET- BAMBUÍ - Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí. Fone: (037) 3431-4900.

2Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí – CEFET- BAMBUÍ, Rodovia Bambuí/Medeiros, km 37, Zona Rural. CEP: 39.800.000. CAIXA POSTAL 05, Bambuí – Minas Gerais. Fone: (037) 3431-4900.

* Parte da Monografia de 1 apresentada como trabalho de conclusão de curso da graduação em Zootecnia do CEFET-BAMBUÍ em abril de 2008.

1- Introdução

A Aqüicultura no Brasil nos últimos anos tem se mostrado um negócio promissor devido

ao crescimento contínuo em torno de 20% ao ano. Porém a demanda por peixes importados

ainda é grande, pois a pesca e a produção nacionais são insuficientes para o consumo do país

segundo dados do ANUALPEC (2007), levando a importação de 178.027 toneladas de peixes

em 2005.

Segundo A SEAP/PR (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da

República) (2007 apud, Firetti & Sales 2007), a produção de peixes de cultivo subiu de 20 000

toneladas em 1989 para 210 000 toneladas em 2006. Um aumento de mais de 1000% em 17

anos. O trabalho supracitado diz ainda que este valor pode subir muito segundo estudos

realizados pela FAO (órgão das nações Unidas para alimentação e agricultura) que garante

que a Aqüicultura será a grande fonte de pescado para o futuro devido a contínua redução dos

estoques naturais pela pesca extrativa. Junto a essas afirmações também se encontram

referências de que a piscicultura nacional é uma expressiva contribuinte do balanço comercial

positivo no agronegócio.

Os lambaris têm se revelado como espécies de potencial para a piscicultura, pois

possuem uma adaptabilidade considerável aos sistemas produtivos e tem mercado consumidor

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

7

específico para seus produtos como para alimentação humana, iscas vivas e biomassa para a

produção de insumos para alimentação animal, (Castilho-Almeida,Foresti & Porto-Foresti,

2005). Contudo muitos dos trabalhos que estudam a nutrição desses animais se encontram

dispersos em várias publicações dificultando o acesso a quem necessita de informações

conjuntas sobre como proceder à alimentação deles em sistemas produtivos.

As atividades de cultivo em tanques-rede são sustentáveis desde que respeitados os

limites de estocagem dos reservatórios onde se desenvolvem. A criação do lambari, como uma

opção a mais para o aproveitamento do espaço ocioso dos grandes reservatórios de água,

gera alimento onde antes era apenas um grande deserto de águas. Isto contribui para que não

se dependa tanto da construção de viveiros escavados para piscicultura, o que demanda a

destruição de vários hectares de matas para construção dessas estruturas. Além do que, este

sistema de cultivo tem custo inicial em torno de 60 a 70 % menor que o convencional em

viveiros, segundo Furnaleto, Ayroza & Ayroza (2006). Contudo esta prática depende de uma

nutrição excepcional, pois a única fonte efetiva de alimento para esse sistema de produção é a

ração fornecida a qual deve suprir todas as necessidades dos peixes.

Alguns aspectos e padrões ainda não foram estudados para solucionar de forma

completa o problema da nutrição dos peixes do gênero Astyanax. Mas apesar disso os

produtores tem conseguido cultivar a espécie utilizando métodos próprios ou adaptados para

construir seu próprio pacote tecnológico nutricional. A pesquisa e aplicação eficiente dos

conhecimentos sobre a nutrição podem ser decisivas para consolidar a criação de lambaris

como uma das principais e mais lucrativas atividades da Aqüicultura nacional.

2 - Objetivos

2.2 - Objetivo geral

Aglutinar em um único trabalho uma gama de informações dispersas em vários artigos

sobre aspectos da nutrição e alimentação dos peixes do gênero Astyanax comumente

utilizados na piscicultura.

2.3 - Objetivos específicos

- Agrupar informações e observar detalhes sobre a fisiologia e os hábitos alimentares dos

lambaris (Astyanax spp.).

- Pesquisar dados referentes a as exigências nutricionais dos animais.

- Revisar as diferenças e semelhanças em diversos aspectos das espécies do gênero

Astyanax.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

8

- Elaborar uma tabela nutricional simplificada para orientar a alimentação dos animais com

base nas exigências de algumas espécies adaptando-as para outras de características

semelhantes.

3- Referencial teórico

3.1 - Lambaricultivo

O lambaricultivo pode ser entendido como criação de peixes do gênero Astyanax

dentre outros popularmente chamados de lambaris para obtenção de indivíduos aptos a serem

comercializados ou consumidos. Esta expressão foi utilizada por Garutti (2003) para designar

tal atividade relacionada com indivíduos de cerca de 100 diferentes espécies desse gênero em

todo pais. Estes animais podem possuir, alem do potencial para utilização na alimentação

humana e animal, características que os tornam interessantes para a aquariofila e para o

repovoamento de lagos e açudes, dentre outras funções.

Atravéz da Piscicultura é possível suprir a crescente demanda por pescado e evitar que

algumas espécies sejam super-exploradas na natureza e acabem sendo dizimadas de

determinadas regiões. O lambaricultivo pode ser útil desta forma para o abastecimento do

mercado uma vez que é um dos cultivos com maior produtividade por área que se tem notícia

chegando a produzir 100 toneladas por hectare alagado por ano em sistema intensivo (para A.

altiparanae), bem acima do que é estimado como a média nacional generalizada para todos os

tipos de peixes que é de 10 a 20 toneladas / hectare alagado / ano, (Garutti, 2003).

É comum encontrar em pequenas propriedades, camponeses que alimentam algumas

dezenas de lambaris em açudes e lagoas, muitas vezes com alimento impróprio e sem

periodicidade. Mesmo assim esses costumam se multiplicar em pouco tempo nesses

ambientes demonstrado a rusticidade e adaptabilidade destes peixes aos desafios ambientais

e alimentares. Porém quando a intenção é uma produção em escala comercial deve-se

observar todo um padrão tecnológico para obtenção de resultados mais seguros e satisfatórios.

A nutrição feita adequadamente pode diminuir o risco de perda de produtividade por

falta de nutrientes, doenças relacionadas, incompatibilidade alimentar dentre outros fatores,

(Kubitza, 1997).

3.2 - Características alimentares dos Lambaris

Espécies do gênero Astyanax são freqüentemente citadas como onívoras, Garutti

(2003), Castilho-Almeida,Foresti & Porto-Foresti (2005), Baldisserotto (2002), podendo

consumir na natureza alimentos diversos como insetos, minhocas, gramíneas, restos vegetais

e animais, outros peixes, crustáceos, invertebrados terrestres e até mesmo detritos e

sedimentos, (Bennemann, Cassati & Oliveira, 2006), (Bennemann et al, 2005), (Cassemiro,

Hahn & Fugi, 2002), (Alvin, 1999). Esta estratégia de sobrevivência aliada a outros fatores

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

9

pode ter auxiliado os lambaris na sua capacidade de aumento populacional e ganho de peso

rápido.

A apreensão do alimento geralmente é feita pelos animais de forma muito rápida,

dando pouco tempo para distinção desse alimento. Uma característica provavelmente típica de

peixes oportunistas e que enfrentam disputas freqüentes por comida.

Apesar de ter hábitos alimentares semelhantes algumas espécies apresentam certas

preferências por alguns tipos de alimentos. Em Bennemann et al. (2005), A. altiparanae e A.

scabripinnis tiveram preferências pelo consumo de vegetais enquanto para A. eigenmanniorum

e A. fasciatus o consumo de animais foi ligeiramente maior que o de vegetais. Neste mesmo

estudo as quatro espécies tiveram em comum a utilização de 3 das 11 categorias de alimentos

estudadas sendo elas restos de vegetais terrestres, restos de insetos e vegetação aquática.

3.3 - Anatomia e fisiologia digestiva dos lambaris

Os lambaris possuem a cavidade bucal em posição terminal. Segundo Rotta (2003), A.

fasciatus e A. bimaculatus tem estruturas digestivas pouco especializadas pelo seu hábito

onívoro que os leva a consumir alimentos variados. As estruturas responsáveis pela dinâmica

da digestão e absorção de nutrientes nos lambaris são basicamente comuns a todos os

teleósteos (ver quadro 1) salvo algumas peculiaridades.

A característica dos lambaris de se alimentarem frequentemente de insetos e

crustáceos evidencia uma possível capacidade de digerir a quitina componente do

exoesqueleto desses invertebrados. Isso é possível para as espécies de peixes que produzem

a enzima quitinase em sua mucosa gástrica (Baldisserotto, 2002). Portanto cabe um estudo

mais detalhado do aproveitamento efetivo destes alimentos pelos peixes para facilitar a

determinação de níveis seguros de inclusão de alimentos alternativos nas rações, como restos

de crustáceos não utilizáveis na alimentação humana e crisálidas descartadas da produção de

seda dentre outros.

Algumas espécies do gênero estudado têm algumas peculiaridades na sua alimentação

e digestão como A. eigenmanniorum que ingere quantidades semelhantes de alimentos e de

areia provavelmente para auxiliar a fragmentação dos vegetais consumidos dentro do trato

gastrointestinal (Bennemann et al, 2005).

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

10

Quadro 1 - Funcionamento básico do sistema digestório dos peixes teleósteos:

Adaptado de Rotta (2003).

Apreensão do alimento e ingestão.

Armazenamento e/ou moagem dos alimentos.

Digestão ácida dos alimentos.

Órgãos digestivos acessórios.

Absorção dos nutrientes. Digestão alcalina dos alimentos.

Armazenamento do bolo fecal.

Estômago

Esôfago

Cecos pilóricos

Fígado, pâncreas, ves. biliar

Intestino

Reto

Ânus

Armazenamento de alimento, digestão principalmente de lipídeos e proteínas.

Defecação.

Boca

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

11

Figura 1 – Trato gastrointestinal de A.lacustris

1 – esôfago, 2 – estômago, 3 – cecos, 4 – intestino, 5 – reto, 6 – fígado, 7 – vesícula biliar.

1

2

3

4

5

6

7

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

12

3.3.1 - Aspectos anatômicos do sistema digestório de A. lacustris (Garutti, 1995)

Neste estudo foram coletados do dia 05/03/2008 ao dia 16/04/2008, 100 indivíduos de

A. lacustris, 76 fêmeas e 24 machos, em um viveiro de cultivo semi-intensivo no setor de

piscicultura do CEFET – Bambuí, localizado na fazenda varginha em Bambuí – MG, para servir

de modelo a ilustração do sistema digestório desta espécie (Figura 1). Assim pôde-se

identificar as estruturas citadas na tabela 1 e relacioná-las devidamente com suas funções. Foi

feita também a contagem do número de cecos sendo que 97% dos indivíduos apresentaram 9

cecos e 3% 10 cecos.O número médio foi de 9,03 cecos por animal. O objetivo do trabalho não

foi analisar o conteúdo estomacal dos animais, mas não se pôde deixar de notar a presença de

vários tipos de alimento que esses animais consumiram como insetos, anelídeos, outros

invertebrados vermiformes, restos vegetais, algas e a ração que os tratadores fornecem, o que

evidência seu hábito alimentar onívoro.

Fases alimentares e exigências nutricionais

Segundo Kubitza (2004) pós-larvas de algumas espécies de peixes (inclui-se neste

caso as dos lambaris) possuem um trato digestivo rudimentar ou incompleto, o que os

impossibilita o aproveitamento de rações nesta fase. Portanto necessitam alimento vivo

composto por organismos contidos na água (os quais serão detalhados posteriormente). Estes

organismos possuem enzimas que auxiliam sua própria degradação. Além de estimular o

desenvolvimento do sistema digestório das pós-larvas que os consomem.

A taxa metabólica em função do peso dos peixes tende a ser maior em peixes menores

do que em peixes adultos. Portanto o gasto energético nas primeiras fases de desenvolvimento

é relativamente maior tendendo a diminuir à medida que o peixe cresce, (Baldisserotto, 2002).

Pós larvas de peixes podem consumir diariamente uma quantidade de alimento maior

que sua própria biomassa( 50 a 300%) , entretanto na fase de terminação do peixe destinado

ao abate costuma se recomendar o fornecimento de 2 a 10% da biomassa para alimentação

diária, Post (1990 apud Santin et al, 2005), (NRC, 1993).

3. 4 - Fases alimentares e exigências nutricionais

A determinação das exigências em nutrientes por fase de desenvolvimento auxilia a

composição de um programa nutricional mais adequado à fisiologia e a dinâmica de

crescimento e reprodução dos peixes. A adequação da ração a necessidade do peixe promove

a sua higidez, melhorando sua resistência a doenças, ao estresse e contribuindo para o seu

equilíbrio orgânico, (Pezzato & Barros, 2005).

3.4.1 - Larvas

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

13

As larvas dos lambaris como as de outros teleósteos não consomem alimentos de

fontes externas ao seu organismo, pois nesta fase são dependentes das reservas contidas no

saco vitelino.

3.4.2 - Pós larvas

Nesta fase os peixes começam a ingerir alimentos do meio externo. Sendo sua

cavidade bucal de tamanho bastante reduzido o que restringe seu repasto a organismos

extremamente pequenos que se desenvolvem no ambiente natural ou viveiro de cultivo.

Segundo Garutti (2003), o plâncton e o perifiton são seus alimentos exclusivos durante os 10

primeiros dias de vida.

3.4.3 - Alevinos

A partir então de 11 dias de cultivo pode-se introduzir ração triturada até os 30 dias de

cultivo segundo o autor acima citado. Cotan et al. (2006), determina como nível ideal de

energia para alevinos de A. bimaculatus (antiga nomenclatura usada para identificar o A.

lacustris e outras espécies de lambari do rabo amarelo das bacias do São Francisco, Paraná e

Amazonas) 2900 Kcal ED/Kg de ração (quilo calorias de energia digestível por quilo de ração).

Quanto à proteína Bruta (PB) recomenda-se em torno de 38%, (serafini, 2003). A

quantidade de ração diária determinada por Meurer et al (2005), é de 11,5% do peso vivo dos

animais (temperatura média de 25°C). A ração deve ser fornecida quatro vezes ao dia para

melhor desempenho e sobrevivência dos alevinos, (Hayashi, 2004).

3.4.4 - Juvenis

Segundo Porto-Foresti, Castilho-Almeida, Foresti (2005), a partir de 20 dias de vida os

peixes podem receber ração extrusada. O tamanho ideal do grânulo é entre 1 e 2 milímetros

(mm). O nível de PB recomendado por Garruti (2003) (baseado em experiências práticas em

sistemas de produção bem semelhantes aos utilizados pelos produtores comerciais), é de 32%,

este também afirma a capacidade dos animais de ingerir rações de 4 a 6 mm nesta fase em

condições de improviso.

Quanto a energia não foram encontradas referências específicas para os lambaris

portanto utilizamos os níveis recomendados para peixes tropicais de Kubitza (1997) e NRC

(1993) de 3000 Kcal ED/KG de alimento.

Para Porto-Foresti, Castilho-Almeida, Foresti (2005), o nível ideal do fornecimento de

ração é de 5% do peso vivo por dia oferecido no mínimo 3 vezes ao dia. Os juvenis criados em

tanques rede, segundo Vilela e Hayashi (2001), podem adquirir maior peso individual com

densidades de estocagem de 31 peixes por m3 ou maior biomassa total com densidades de 124

peixes por m3 sem variação significativa na conversão alimentar (P>0,05).

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

14

3.4.5 - Adultos (reprodutores)

Os peixes adultos destinados à conservação ou a reprodução podem consumir as

rações comerciais comuns fornecidas na fase juvenil dos peixes ou especificamente

preparadas para estes, tendo-se o cuidado de fornecer aos reprodutores um alimento

balanceado e em quantidade significativa, que segundo Garruti (2003) e Kubitza (1997) tem

influência direta na qualidade e quantidade de ovos, larvas e alevinos produzidos. O segundo

autor citado ressalta ainda que o aumento da inclusão de proteína e ácidos graxos essenciais

na dieta dos reprodutores de vários peixes tropicais também traz benefícios quantitativos e

qualitativos no desempenho reprodutivo dos animais.

A desova dos lambaris ocorre de forma parcelada durante o ano preferencialmente na

época da primavera, (Vilela E Hayashi, 2001), (SATO et al, 2006). Portanto é importante saber

mantê-los em condições nutricionais adequadas para realizarem a reprodução em qualquer

época e dar atenção especial na época em que se processam a maioria das desovas.

Até o momento não foram encontrados trabalhos que determinem as exigências

nutricionais de reprodutores do gênero Astyanax. Portanto cabem estudos que possam

explorar esse tema futuramente.

3.4.6 - Nutrição por sexo

Diana-Navarro et al. (2003), observando rendimento de carcaça, taxa de crescimento e

sobrevivência obtiveram melhores resultados em lotes de fêmeas criadas separadas dos

machos, enquanto Diana-Navarro et al. (2006) encontraram melhores índices morfométricos

também nestas condições. No primeiro trabalho também se atenta para a possibilidade de a

reversão sexual (o correto seria inversão sexual), ser um meio para tentar obter lotes de

fêmeas para aproveitar esse potencial.

Este processo está ligado com a alimentação uma vez que os hormônios são

administrados junto à ração dos animais, (Kubitza, 1997). Estudos para determinar as

exigências específicas por sexo de Lambaris seriam úteis a quem adotar algum tipo de sistema

de separação ou inversão sexual na criação.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

15

Tabela 1 – Exigências nutricionais para o gênero Astyanax

Proteína

bruta (PB)

Energia

digestível

(ED)

FAD NAD/pv Tamanhodo

Grânulo

Alevinos 38 % 2900 Kcal 4 11,5 % triturado

Juvenis 32 % 3000 Kcal 3 a 4 5 % 1 a 2 mm

FAD (freqüência de arraçoamento diária), NAD/pv (nível de arraçoamento diário em relação ao

peso vivo).

Até o momento em que foi feito essa revisão não se tem conhecimento de trabalhos

voltados para a determinação de exigências em nutrientes como vitaminas, minerais e

aminoácidos, específicas para espécies do gênero Astyanax. Contudo pode-se tentar utilizar

alguns dados sobre outros peixes tropicais com características alimentares semelhantes as dos

lambaris para elaboração de dietas mais próximas da ideal para esses animais.

3.5 - Alimentos

Vários alimentos tanto de origem animal com vegetal podem ser incluídos nas dietas

para peixes. Furuya & Furuya (2004), citam alguns parâmetros a serem observados quando se

pretende incluir um ingrediente à fórmula de alguma ração para peixes, são eles:

• Exigência nutricional do peixe;

• Presença de fatores antinutricionais no alimento;

• A viabilidade econômica;

• A influência do alimento no consumo dos peixes;

• O efeito sobre características visuais da ração;

• A relação do ingrediente com a flutuabilidade do grânulo na água.

3.5.1 - Alimentos usuais nas dietas de peixes

Alimentos comumente utilizados em rações para peixes no Brasil e no exterior citados

por NRC (1993), Kubitza (1997), Logato (1999), Pezzato e Barros (2005).

3.5.2 - Origem vegetal

Farelo de soja desengordurado (física e/ou quimicamente), farelo de soja integral,

farelo de algodão, farelo de glúten de milho, milho integral, sorgo, farelo de amendoim, farelo

de trigo, farelo de arroz integral, farelo de arroz, desengordurado, farelo da alfafa, farelo de

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

16

canola desengordurado, teosinto, milheto, casca de café, protenose (co-produto da extração de

amido de milho), raspa de mandioca, melaço em pó, gordura de coco, óleos de algodão,

canola, girassol, milho e soja.

3.5.3 - Origem animal

Farinha de peixes, farinha de carne, farinha de carne e ossos, farinha de vísceras,

farinha de penas, farinha de sangue, farinha de subprodutos de caranguejo, farinha de

subprodutos de camarão, gelatina, farinha de crisálidas, leite em pó, sebo bovino, gorduras de

aves e suínos.

3.5.4 - Outras considerações sobre alimentos

É importante conhecer o aproveitamento efetivo desses alimentos especificamente

para os lambaris para melhorar a qualidade das formulações de alimentos específicos para

esses animais. Alguns alimentos não citados acima podem também fazer parte da dieta dos

peixes após estudos mais detalhados para se conhecer suas propriedades. Exemplos desses

alimentos são ramas de mandioca secas, resíduo do processamento de feijão (grãos pequenos

ou amassados), alimentos descartados de fábricas de produtos para alimentação humana (fora

do padrão) e resíduos do processamento de oleaginosas para a produção de biodiesel.

3.5.5 - Alimento natural (vivo)

O alimento natural é de suma importância nas primeiras fases de desenvolvimento dos

lambaris, pois é ele quem tem um tamanho e composição mais adequada a esse período.

Segundo Kubitza (2004), os organismos que servem de alimento as pós larvas de

peixes são em ordem crescente protozoários, rotíferos, náuplios de copépodos, cladóceros

jovens, copépodos e cladóceros adultos. Para obtenção desses organismos em quantidades

suficientes nos tanques de criação costuma-se proceder a calagem e adubação. Para o autor

supracitado a adubação excessiva pode prejudicar o desenvolvimento das pós-larvas por

favorecer o desenvolvimento de organismos diretamente prejudiciais a elas ou que provoquem

alterações na qualidade da água do viveiro.

Garruti (2003), recomenda para a larvicultura do lambari a administração de 2 Kg de

superfosfato simples ou composto para cada 150 m2 de viveiro ainda seco 6 a 8 dias antes das

pós-larvas iniciarem a alimentação. O trabalho também indica a inoculação com 100 a 200

litros de água de um viveiro já com plâncton para estimular o desenvolvimento de

microrganismos no novo ambiente.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

17

3.6 - A nutrição e o meio ambiente

A dieta dos peixes pode ser indicada como uma das principais responsáveis pela

poluição de efluentes da piscicultura. Quando se utiliza uma ração mais adequada

ambientalmente pode haver uma diminuição da carga poluente e minimizar-se-á o impacto ao

ecossistema. Furuya e Furuya (2004), enumeraram alguns itens para se obter dietas com

menos poluentes, são eles:

• Determinar o valor nutricional de alimentos e dietas pelos peixes;

• Obter as exigências em nutrientes levando em consideração a espécie a fase e o

sistema de criação;

• Utilização de tecnologias de processamento que favoreçam o valor nutricional das

dietas, reduzindo fatores antinutricionais, incrementando o valor nutritivo, aumentando

a estabilidade dos grânulos na água, diminuindo as perdas de nutrientes;

• Uso de enzimas que permitam aumentar a disponibilidade de alguns nutrientes.

Estes artifícios podem ser determinantes principalmente para criações em regime

intensivo onde o volume de alimento fornecido diariamente é grande e se for mal administrado

será disperso no efluente causando a poluição do corpo de água receptor caso não haja um

sistema de tratamento. Outro caso semelhante é provável para criações em tanques-rede,

onde não se tem como tratar a água de cultivo.

4 - Considerações finais

Este estudo demonstra que já se conhece algumas características sobre os aspectos

nutricionais dos Lambaris do gênero Astyanax contextualizáveis para a produção comercial

desses animais. Contudo comparado a outras espécies utilizadas para a piscicultura no Brasil,

que já possuem suas exigências e peculiaridades conhecidas, pouco ainda se sabe sobre sua

nutrição. São necessários mais estudos concentrados nas espécies do gênero para

proporcionar maior nível de acertos nas formulações de rações para esses animais e

possibilitar melhor desempenho produtivo.

5 - Referências bibliográficas ALVIN, M, C, C.Composição e alimentação da ictiofauna em um trecho do alto rio São Francisco no município de Três Marias – MG. São Carlos: UFSCar, 1999. 98 p. Dissertação de Mestrado. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-67622006000400021&lng=&nrm=iso&tlng= - 61k acesso: 25/02/2008. ANUALPEC 2007. Anuário da pecuária brasileira. Tabelas: Suínos e outros. Instituto FNP. São Paulo, 2007.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

18

BALDISSEROTTO, Bernardo. Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura. Santa Maria: Ed. UFSM, 2002. 212p. BENNEMANN, Sirlei Terezinha; CASATTI, Lilian; OLIVEIRA, Deise Cristiane de. Alimentação de peixes: proposta para análise de itens registrados em conteúdos gástricos. Biota Neotrop. , Campinas, v. 6, n. 2, 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-06032006000200013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Fev 2008. doi: 10.1590/S1676-06032006000200013 BENNEMANN, Sirlei Terezinha et al . Ocorrência e ecologia trófica de quatro espécies de Astyanax (Characidae) em diferentes rios da bacia do rio Tibagi, Paraná, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. , Porto Alegre, v. 95, n. 3, 2005 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0073-47212005000300004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Fev 2008. doi: 10.1590/S0073-47212005000300004 CASSEMIRO, Fernanda Aparecida da Silva; HAHN, Norma Segatti; FUGI, Rosemara. Avaliação da dieta de Astyanax altiparanae Garutti & Britski, 2000 (Osteichthyes, Tetragonopterinae) antes e após a formação do reservatório de Salto Caxias, Estado do Paraná, Brasil. Maringá: Acta Scientiarum, 2002, v. 24, n. 2, p. 419-425. disponível em: http://www.eduem.uem.br/acta/bio/2002/21_094_02.pdf acesso: 09/03/2008. COTAN, Jorge Luiz Vieira et al . Níveis de energia digestível e proteína bruta em rações para alevinos de lambari tambiú. R. Bras. Zootec. , Viçosa, v. 35, n. 3, 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982006000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Fev 2008. doi: 10.1590/S1516-35982006000300002

DIANA-NAVARRO, Rodrigo ET AL. Comparação morfometrica e índices somáticos de machos e fêmeas do lambari prata (Astayanax scabripinnis Jerenyns, 1842) em diferente sistema de cultivo. Maracay: Zootecnia Tropical, 2006 v.24 n.2 p. 165-176.

DIANA-NAVARRO, Rodrigo ET AL. Influência do sexo no desempenho de lambari prata (Astyanax scabripinnis, Jenyns, 1842). Maracay: Zootecnia Tropical, 2003 v.21 n.4.

FIRETTI, R.; SALES. D. S. Lucro com tilápia é para profissionais. ANUALPEC 2007. Anuário da pecuária brasileira. Tabelas: Suínos e outros. Instituto FNP. São Paulo, 2007. p. 285-286. FURNALETO, F. P. B; AYROZA, D.M.M.R; AYROZA, L.M. S. Custo e rentabilidade da produção de tilápia (oreochromis spp.) em tanque-rede no médio paranapanema, estado de são paulo, safra 2004/2005. Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA, 2006. Disponível em: www.apta.sp.gov.br/pesca/ Acesso: 20/09/2007. FURUYA, W. M; FURUYA, V. R. B. Perspectivas da nutrição de peixes. In Anais dos Simpósios da 41a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Org. MEDEIROS Et Al. Campo Grande: SBZ, Embrapa gado de corte, 2004. p. 325 – 332. GARUTTI, Valdener. Piscicultura ecológica. São Paulo: ed. UNESP, 2003. 334 p. GARUTTI, V. Revisão taxonômica dos astyanax (pisces, characidae) com mancha umeral ovalada e mancha no pedúnculo caudal, estendendo-se à extremidade dos raios caudais medianos, das bacias do Paraná, São Francisco e amazônica. 1995. tese de livre docência, UNESP, IBILCE. São José do Rio Preto.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

19

HAYASHI, Carmino et al . Freqüência de arraçoamento para alevinos de lambari do rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus). R. Bras. Zootec. , Viçosa, v. 33, n. 1, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982004000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Fev 2008. doi: 10.1590/S1516-35982004000100004 KUBITZA, F. Nutrição e alimentação dos peixes. Piracicaba: 1997. 74 p. KUBITZA, F. Reprodução, larvicultura e produção de peixes nativos. Jundiaí: 2004. 71 p. LOGATO, P. V. R. Nutrição e alimentação de peixes de água doce. Lavras: UFLA/FAEP, 1999. 136 p.: il. – Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” (especialização) a Distância: Piscicultura. MEURER, Fábio et al . Nível de arraçoamento para alevinos de lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus). R. Bras. Zootec. , Viçosa, v. 34, n. 6, 2005 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982005000600006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Fev 2008. doi: 10.1590/S1516-35982005000600006 NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrients requirements of fish. Washington: National Academy Press, 1993. 114 p. PEZZATO, L. E.; BARROS, M. M. Novos enfoques da nutrição de peixes. In Anais dos simpósios da 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Goiânia: SBZ, UFG, 2005. p. 403 – 415. PORTO-FORESTI, F.; CASTILHO-ALMEIDA, R. B.; FORESTI, F. Bilogia e criação do lambari do rabo amarelo (Astianax altiparanae). In Espécies nativas para piscicultura no Brasil. Org: Baldisserotto, B; Gomes, L.C. Santa Maria: Ed. UFSM, 2005 p. 105 – 120. ROTTA, M. A. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do sistema digestivo dos peixes relacionados à piscicultura. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2003. 48p. Disponível em: www.cpap.embrapa.br/publicacoes/download.php?arq_pdf=DOC53 acesso: 28/02/2008. SANTIN, M. Et al. ASPECTOS DA DIETA DE LARVAS DE ASTYANAX JANEIROENSIS (EIGENMANN, 1908) (OSTEICHTHYES, CHARACIDAE) NO RESERVATÓRIO DE GUARICANA, RIO ARRAIAL, ESTADO DO PARANÁ. São Paulo: B. Inst. Pesca, 2005. v. 31 p. 73 – 80. Disponível em: ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/Santin_31_1.pdf acesso: 01/03/2008. SATO et al. Biologia reprodutiva e reprodução induzida de duas espécies de Characidae (Osteichthyes, Characiformes) da bacia do rio São Francisco, Minas Gerais, Brasil. Curitiba: Rer. Bras. Zoologia, 2006. v. 23 p. 267 - 273 Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81752006000100021 acesso: 26/02/2008. SERAFINI, M.A. Níveis de proteína em dietas de lambari tambiú dos 0,7 aos 4,8 gramas de peso. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2003. 25p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 2003. VILELA, C.; HAYASHI, C. Desenvolvimento de juvenis de lambari Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758), sob diferentes densidades de estocagem em tanques-rede. Maringá: Acta Scientiarum, 2001, v. 23, n. 2, p. 491-496. disponível em: http://www.eduem.uem.br/acta/bio/2001/30_155_00.pdf acesso: 09/03/200

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

20

AVALIAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DAS FRAÇÕES DO PROCESSAMENTO DA RAMA DE MANDIOCA (Manihot esculenta, Crantz) E DIGESTIBILIDADE IN VITRO DO FENO DO

TERÇO SUPERIOR DE DOZE DIFERENTES VARIEDADES PARA COELHOS EM CRESCIMENTO

Ferreira1,Mauro; Machado2,Luiz Carlos; Geraldo2, Adriano; Ferreira3, Walter Motta; Reis4, Sara

dos; Melo5 , Rafael Simão de; Dutra 5, Rafael Maciel. RESUMO- A mandioca, planta originaria do Brasil, se mostra como um insumo estratégico para barateamento dos custos das dietas e grande parte de sua rama que poderia ser aproveitada é deixada nos campos. Para a cunicultura, atividade em atual expansão no Brasil, esta planta tem um grande potencial para utilização alimentação dos animais. Assim, se deseja avaliar o valor nutritivo das cinco frações obtidas a partir do processamento da mandioca alem da digestibilidade de doze diferentes variedades a fim de se escolher as melhores. As frações do processamento foram coletados em uma fazenda assistida pela EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA e se constitui de cinco frações com diferentes relações entre folha e caule, desde a mais proteica e menos fibrosa até a menos protéica e mais fibrosa. As doze variedades de mandioca, foram pegas na mesma fazenda e plantadas em julho de 2007, no campus do CEFET em Bambuí- MG. As variedades escolhidas para este experimento foram: Gravetinho, Jacaré, Cigana, Kiriris, Mané Miúdo, Cacau, São Paulo 01, Aipim Brasil, Prato Cheio, Aipim Manteiga, Aipim paraguai e Aipim Colombo. Se analisará os teores de matéria seca MS), matéria mineral (MM), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN), fibra bruta (FB), proteína bruta (PB), energia bruta (EB), cálcio (Ca) e fósforo (P). Através de ensaios de digestibilidade in vitro e equações de predição, se determinará a energia digestível para coelhos, comparando-se também estes dois métodos, através dos valores obtidos. Serão determinadas também as melhores variedades para uso na alimentação desses animais. Assim se objetiva propor novos alimentos alternativos para integrarem dietas completas para coelhos, além de gerar informações essenciais para a pesquisa da utilização desses ingredientes para outros animais. ______________________________________________________________________________________

Palavras-chave Nutrição coelhos, Mandioca, digestibilidade in vitro,cunicultura 1 Aluno do curso de graduação em Zootecnia do CEFET- Bambui 2 Professores do curso de Zootecnia do Centro Federal De Educação Tecnológica De Bambui 3 Professor associado do departamento de Zootecnia da EV - UFMG 4 Aluna do curso de Agronomia do CEFET- Bambui 5 Alunos do curso técnico em Agricultura e Zootecnia 1. INTRODUÇÃO

Originária do continente americano, provavelmente no Brasil Central, a mandioca

(Manihot esculenta, Crantz) já era amplamente cultivada pelos indígenas, por ocasião da

descoberta do Brasil. Atualmente, a cultura da mandioca é cultivada em uma extensa faixa do

globo (Otsubo, 2004). Quanto à produção total, o Brasil é o maior produtor de mandioca do

continente produzindo mais de 23 milhões de toneladas por ano.

Segundo Almeida e Ferreira Filho (2005), a mandioca é um produto de ampla

versatilidade quanto às suas possibilidades de uso como alimento de animais ruminantes e não

ruminantes, além de apresentar características agronômicas que permitem sua exploração em

diferentes níveis de tecnificação.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

21

Ferreira filho et al. (2004), comentam que a parte aérea da mandioca é constituída

pelas astes principais, galhos e folhas em proporções variáveis, sendo um produto que

apresenta um potencial protéico de muita importância, rico em vitaminas, especialmente A, C e

do complexo B, o conteúdo de minerais é relativamente alto, especialmente cálcio e ferro,

podendo ser processada para obtenção de diferentes produtos destinados a alimentação

animal.

Carvalho (1998) cita que há estimativas em que 14 a 16 milhões de toneladas de parte

aérea são deixadas no campo e se perdem, quando poderiam ser utilizadas na alimentação

animal, para produção de carne, leite e ovos. De acordo com Ferreira Filho et al. (2004), a taxa

de eficiência na produção de feno da parte aérea da mandioca situa-se entre 20 a 30%,

dependendo da variedade, idade da planta, umidade inicial, densidade e condições climáticas.

Conhecidamente, a mandioca apresenta alguns princípios tóxicos. Ferreira Filho et al

(2004) enfatiza que a alternativa da desidratação da parte aérea da planta da mandioca, abre

novas possibilidades de uso na alimentação dos animais. A fenação também elimina a maior

parte do ácido cianídrico, reduzindo-o a níveis seguros para a alimentação animal. Carvalho

(1998) reforça que esse processo é seguro, até para eliminar a toxides das variedades ditas

bravas.

Sampaio (1995) cita que quando se trata da parte aérea da mandioca o valor nutritivo é

muito variável em função da quantidade de folhas e de manivas que originou o feno, podendo

variar de 8,0% de PB, quando se usa alta quantidade de caule e 28 a 32% quando se tem

apenas o limbo das folhas. Segundo Ferreira Filho et al. (2004), quando a folhagem se destina

à produção de feno para não ruminantes, deve-se utilizar as partes mais tenras, não sendo

recomendada a parte basal da planta. Vários pesquisadores (Scapinello et al., 1999; Herrera,

2003; Michelan, 2004; Machado, 2006; Machado, 2007a; Machado, 2007b; Ferreira, 2007) vêm

buscando o conhecimento a respeito do uso do terço superior da rama da mandioca na

alimentação dos coelhos. Concordando com o observado por diferentes autores dos citados

acima, Carvalho (1998) cita que essa fração contém 16 a 18% de PB na matéria seca.

Da Graça et al. (2001), estudando o valor nutritivo dos fenos da rama da mandioca, de

alfafa e de Tifton 85 para eqüinos em crescimento, concluíram que este alimento pode ser

utilizado nas dietas para eqüinos em crescimento, mesmo com resultados de digestibilidade

inferiores aos observados com alfafa.

Herrera (2003), trabalhando com dietas simplificadas com base no terço superior da

rama de mandioca concluiu que este ingrediente pode ser uma excelente alternativa para

produzir rações balanceadas para coelhos, a baixo custo.

Vários outros pesquisadores (Scapinelo et al., 1997; Michelan, 2004; Machado, 2006

Machado, 2007a; Machado, 2007b) vêm trabalhando com esses ingredientes, porém os

resultados são muito contraditórios. Machado (2006) enfatiza que há grande variação entre a

composição química da diferentes variedades de mandioca.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

22

Esta pesquisa objetiva avaliar o valor nutritivo das frações do processamento da rama da

mandioca para a alimentação dos coelhos e assim se propor novos ingredientes para

formulação de dietas completas para esses animais a custos mais acessíveis. Se propoe

também a comparar o valor de ED obtido a partir de metodologias distintas a digestibilidade in

vitro do feno do terço superior das 12 variedades de mandioca, a fim de se propor para uso na

alimentação dos coelhos, aquela com qualidade nutricional superior.

USO DE EQUAÇÕES DE PREDIÇÃO E ENSAIOS DE DIGESTIBILIDADE IN VITRO

As equações de predição são um método indireto de determinação da energia,

mediante o uso de parâmetros químicos dos alimentos. Em termos práticos, pode ser uma

ferramenta importante quando não se dispõe dos valores determinados através da

digestibilidade in vivo, sendo este último método dispendioso e demorado.

Albino e Silva (1996), confirmam que devido as dificuldades de se determinar a EM dos

alimentos, a utilização de tabelas e equações de predição podem ser alternativas para

determinação da energia e também quando a composição do alimento é variável, as equações

de predição podem ser ferramentas importantes na correção dos valores. Trabalhando com

vários subprodutos do trigo, Nunes et al. (2001) verificaram que os melhores valores

estimadores da energia metabolizável da dieta eram o de proteína bruta (PB) e o de fibra em

detergente neutro (FDN) e assim elaboraram uma equação de predição.

Para coelhos, uma equação de predição de boa aceitação para ingredientes fibrosos é

a proposta por De Blas e Mateus (1998) que é mostrada a seguir:

ED (kcal/kg) = EB (kcal/kg MS) x (84,77 – 1,16 x FDA%MS)/100.

Os testes de digestibilidade in vitro são uma importante ferramenta para se estimar o

valor nutricional dos alimentos sendo testes rápidos podendo ser realizados em laboratórios.

Quando se deseja avaliar o melhor alimento, entre os vários testados, essa técnica se mostra

bastante eficiente. Silva e Queiroz (2002) destacam que os valores obtidos in vitro servem por

si para classificar diferentes alimentos forrageiros, em ordem decrescente de suas

digestibilidades e ainda há interesse em predizer o valor da digestibilidade aparente de alguns

nutrientes.

Pascual et al. (2000) destacam que a avaliação dos alimentos para coelhos é

frequentemente realizada pela coleta total de fezes sendo que os métodos normalmente

usados são aqueles in vivo. Os pesquisadores enfatizam que os métodos in vitro tem sido

desenvolvidos para facilitar, reduzir o tempo e predizer o valor nutritivo para coelhos.

Para animais ruminantes, a técnica consiste em deixar as amostras com inóculo de

rúmem sob condições de temperatura, anaerobiose, microorganismos e pH controladas,

durante cerca de 24 a 48 horas de fermentação (Silva e Queiroz, 2002).

Para coelhos foram propostos vários métodos sendo dois destes frequentemente

utilizados os testes multienzimático (Ramos e Carabaño, 1996) e o teste com inóculo cecal

(Fernandez-Carmona, 1993). O primeiro consiste em uma sequência de três etapas onde o

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

23

material recebe misturas enzimáticas sob pH, tempo e temperaturas controladas. Já o

segundo, propõe a preparação de um inócuo com líquido cecal e saliva artificial sendo então

incubado em condições controladas. Há um método na qual, após incubação, é medida a

produção de gases total, de acordo com o tempo. Este teste foi proposto em Malafaia (1997) e

utilizado em avaliações de rami para coelhos por Souza et al. (1998).

Pascual et al. (2000), após comparar os métodos descritos acima, verificou que as

técnicas multienzimáticas e inoculação cecal mostraram precisão adequada e repetibilidade

para predição da matéria seca digestível, especialmente o primeiro.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras foram coletadas na estação experimental Fazenda Novo Horizonte,

pertencente a Casa Familiar Rural. Município de Presidente Tancredo Neves – BA e se

constituem de cinco frações do processamento da rama da mandioca sendo chamadas de

fração 01, 02, 03, 04 e 05 sendo a primeira aquela com maior conteúdo de folhas e a última

com maior conteúdo de caule, respectivamente.

As cinco frações foram moídas em moinho analítico e acondicionadas em local arejado

e sem a incidência de raios solares. As análises químico-bromatológicas serão feitas no

laboratório de físico-química do CEFET-Bí, ou no laboratório de nutrição animal, tão logo se

iniciem suas atividades. Para análise de energia bruta (EB) uma amostra foi eviada para o

laboratório de nutrição animal no departamento de Zootecnia da EV-UFMG. A metodologia de

análise utilizada será a proposta pelo compêndio brasileiro de alimentação animal.

As análises realizadas serão as de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), Cálcio (Ca),

fósforo (P) e fibra em detergente ácido (FDA). A equação de predição utilizada será a proposta

por De Blas e Mateus (1998). O feno do terço superior das dose variedades de mandioca

serão colhidas em julho de 2008, quando completarem 12 meses após o plantio. Serão

fanadas e trituradas e acondicionadas.

Os testes de digestibilidade in vitro serão realizados no laboratório de nutrição animal

do departamento de Zootecnia da EV-UFMG, a partir da metodologia proposta por Fernandez-

Carmona (1993) pois é uma metodologia mais fácil e acessível, apresentando também boa

predição.

As amostras serão enviadas para a EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA para

analise de glicosídeos cianogênicos.

Os resultados de energia digestível obtidos pela equação de predição e pela

digestibilidade in vitro serão comparados pelo teste de Duncan a nível de 5,0% de

probabilidade, conforme indicado por Sampaio (2002). Para as análises estatísticas, se usará

recursos do SAS (1990).

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

24

3. BIBLIOGRAFIA ALBINO,L.F.T,SILVA,M.A.Valores nutritivos de alimentos para aves e suínos determinados no Brasil.In:SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE AVES E SUÍNOS.Viçosa,1996.Anais...p. 303 – 318. ALMEIDA J.; FERREIRA FILHO J. R. Mandioca: Uma boa alternativa para alimentação animal. Bahia Agric. v. 7, n. 1, p. 50-56, 2005. CARVALHO J. L. H. A mandioca: raiz e parte aérea na alimentação animal. 1 ed. Cruz das Almas: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA, 1998. 11 p. DA GRAÇA, E.P.;FURTADO, C.E.;FURLAN, A.C.Valor nutritivo dos fenos da rama da mandioca (Manihot esculenta Crantz), feno de alfafa(Madicago sativa), e de Tifton 85(Cynodon dactylon) para eqüinos em crescimento.In:REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA,38, 2001, Piracicaba Anais...Piracicaba: SBZ, 2001.p.711-712. DE BLAS, J. C.; MATEOS, G. G. Feed formulation. In: DE BLAS, J. C.; WISEMAN, J. The nutrition of the rabbit. Cambridge: CAB International, 1998. p. 241-253. FERNADEZ-CARMONA, J., CERVERA., C BLAS, E., Um nuevo método in vitro para el estúdio de la digestion em el conejo. XVIII Symposium de Cunicultura, Gramoller, Spam, 1993. p 43-45. FERREIRA FILHO J. R.; MATOS P. L. P.; GOMES J. C. Raspa de mandioca na alimentação animal. 1 ed. Cruz das Almas: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA. 2004. 4 p. FERREIRA, Walter Motta ; HERRERA, A. P. N. ; SCAPINELLO, C. ; FONTES, Dalton de Oliveira ; MACHADO, L. C. ; FERREIRA, S. R. A. . Digestibilidade aparente dos nutrientes de dietas simplificadas baseadas em forragens. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 9, p. 451-458, 2007. HERRERA A.P.N. Eficiência produtiva e avaliação nutricional de dietas simplificadas a base de forragens para coelhos em crescimento. 104 f. Tese (Doutorado em ciência animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas gerais, Belo Horizonte, 2003. MACHADO L. C. Avaliação de dietas simplificadas com base em forragem para coelhas reprodutrizes e coelhos em crescimento. 2006. 60 p. Dissertação (mestrado em nutrição animal) – Programa de pós graduação. Escola de Veterinária. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. MACHADO, L. C. ; FERREIRA, Walter Motta ; FARIA, H. G. ; SCAPINELLO, C. ; OLIVEIRA, C. E. A. . Avaliação da digestibilidade aparente de dietas simplificadas com base em forragens para coelhas em reprodução. Veterinária e Zootecnia, v. 14, p. 81-90, 2007a MACHADO, L. C. ; FERREIRA, Walter Motta ; FARIA, H. G. ; SCAPINELLO, C. ; ALVES, C. S. A. . Avaliação da dieta simplificada com base em feno de alfafa para coelhas reprodutoras. Veterinária e Zootecnia, v. 14, p. 291-299, 2007b. MALAFAIA, P.A.M. Taxas de digestão das frações protéicas e de carboidratos de alimentos por técnicas in situ, in vitro e de produção de gases. Tese D.S. Viçosa UFV, 1997. 89p. MICHELAN A. C. Utilização de subprodutos da mandioca na alimentação de coelhos. 119 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004. NUNES R. V.; ROSTAGNO H. S.; ALBINO L. F. T.; GOMES P. C.; TOLEDO R. S. Composição bromatológica, energia metabolizável e equações de predição da energia do grão e de subprodutos do trigo para pintos de corte. Rev. bras. zootec. v. 30, n. 3: 785-793, 2001.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

25

OTSUBO A. A.; LORENZI J. O. Cultivo da mandioca na região centro sul do Brasil: 1 ed. Dourados: EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE, Cruz das Almas: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA, 2004. 116 p. PASCUAL J. J.; FERNANDEZ-CARMONA, J.; FERNANDEZ C.; DIAZ J. R.; GARCÉS C.; RUBERT-ALEMAN J. LLOPIS S.; MUELAS R. Nutritive evaluation of rabbit diets by different in vitro digestibility methots. In: WORLD RABBIT CONGRESS, 7, 2000, Valencia. Proceedings... Valencia, 2000. sp. RAMOS M.; CARABAÑO R. Nutritive evaluation of rabbit diets by an in vitro method. In: WORLD RABBIT CONGRESS, 6, 1996, Toulouse. Procedings… Toulouse: ACAF, 1996. p. 277-282. SAMPAIO A. O. IX curso intensivo nacional de mandioca. 1 ed. Cruz das Almas: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA, 1995. 5 p. SAMPAIO. I. B. M. Estatística Aplicada à Experimentação Animal. 2ª edição. Belo Horizonte: Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, 2002. 265 p. SAS – STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM INSTITUTE. SAS Use’s guide: Statistics. Statistics Analysis System Institute Inc., Cary, NC, USA, 1990. SCAPINELLO C.; FALCO, J. E.; FURLAN, A. C.; De FARIA, H. G. Valor nutritivo do feno de rama da mandioca (Manihot esculenta, Crantz) para coelhos em crescimento. Rev. Bras. Zoot., v. 28, n. 5, p. 1063-1067, 1999. SILVA D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3 ed. Viçosa, MG: UFV, 2002. 235 p. SOUZA, A. V. C. ; LOPES, D. C. ; MALAFAIA, P. M. . Avaliação da Qualidade da Fibra do Rami Em Duas Idades Diferentes, Para Coelhos, Pelo Método da Digestibilidade In Vitro. In: XXXV REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 1998, BOTUCATU - SP. Anais..., 1998. v. IV. p. 240-242.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

26

ESTUDO DA FLORA APÍCOLA EXISTENTE NO CEFET - BAMBUÍ

Diniz1, Fernada Alves.; Sousa2 , Karine. Aparecida de; Silva3, Antônio Carlos.Dal’acqua da.

Resumo: Este trabalho aborda observações referentes à flora apícola existente na Fazenda Varginha, área do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí, que possui 347 hectares e atualmente produz 420 kg de mel/ano, em um total de 23 colméias. É interessante observar que a região de Bambuí encontra-se em uma zona de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado e durante o estudo, foram observadas 19 espécies de plantas sendo 8 nativas e 11 exóticas. Todas já com bom desenvolvimento vegetativo e aptas ao florescimento, mostrando com isto seu potencial apícola. Com observações quinzenais, desenvolveu-se um calendário apícola para as condições existentes no Cefet-Bí.

Palavras-chave: apicultura, flora apícola; calendário florístico; potencial apícola.

1 Formanda do Curso Superior em Zootecnia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí. 2 Formanda do Curso Superior em Zootecnia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí. 3Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí – Fazenda Varginha Km, 5 – Estrada Bambuí-Medeiros fone: (37) 3431 4900, e-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

Este artigo se baseia em um levantamento florístico realizado no Centro Federal de

Educação Tecnológica de Bambuí (CEFET - Bí) – Minas Gerais, no período de 16 de fevereiro

de 2007 a 29 de fevereiro de 2008, ocorrendo interrupções no estudo nos períodos de 29 de

junho de 2007 a 01 de agosto de 2007 e 20 de dezembro de 2007 a 11 de fevereiro de 2008,

em virtude do calendário escolar.

Quando se enfoca a apicultura, observa-se que a mesma possui uma grande

importância, pelo fato de poder ser implantada em áreas não tão propícias à agricultura

convencional ou até mesmo em áreas de preservação permanente por lei.

Segundo Edwards (1981) apud Marinho et al. (2003), as abelhas estão entre os

maiores polinizadores de plantas com flores amplamente distribuídas. Para que as abelhas

possam realizar suas atividades as flores possuem alguns atrativos como odores e cores

distintas, além de oferecem pólen e néctar como substâncias atrativo.

Para Espíndola et al. (2003), o conjunto de plantas de uma área ou região que produz

flores e fornece néctar, pólen e resina para as abelhas é denominado flora apícola ou pasto

apícola. O potencial produtivo de uma região depende das espécies vegetais presentes, da

importância e representatividade relativa de cada espécie, da época de floração e das

características do néctar e pólen fornecido.

É notória a importância de se ter um conhecimento detalhado da época de floração de

cada espécie, a fim de ser obter alimentação natural para as abelhas se não o ano todo, mas

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

27

pelo menos boa parte do mesmo. Desta forma, este estudo teve como objetivo observar e

registrar a época detalhado de florescimento de cada espécie existente no CEFET-Bí, a fim de

se montar um calendário apícola para as condições específicas desta Instituição de Ensino.

METODOLOGIA

Para dar início ao processo de estudo, que foi realizado de modo analítico, a escolha

de 19 plantas já bem desenvolvidos no CEFET-Bi. Em um segundo momento observou-se

áreas com grandes presenças de abelhas. Uma vez terminada esta etapa, decidiu-se que a

coleta de dados seria feita através de fotografias digitalizadas das plantas em questão, para

não prejudicar as plantas e abelhas.

Os parâmetros para observação foram os seguintes: época de florescimento, presença

de abelhas, presença ou ausência de pólen na corbículas das abelhas.

As espécies foram observadas de 5 em 5 dias, totalizando 6 visitações por mês, em

horários diferentes.

Para definir o parâmetro época de florescimento, foi observado se a espécie possuía

flores e o período deste florescimento.

Para presença de pólen nas curbículas, foi utilizado o método da acuidade visual para

verificação da presença ou não de pólen nas corbículas das abelhas. Quando verificada a

ausência de pólen pressupôs-se a coleta de néctar na espécie pesquisada, sabendo-se que a

abelha ao realizar a visitação vai à procura de somente uma matéria prima.

A identificação das espécies observadas foi realizada através da comparação das fotos

com os livros de Lorenzi (2002). Desta forma foi possível identificar:

a) Amor agarradinho (Antigonon leptotus), b) astrapéia branca (Dombeya tiliaefulia), c)

cagaiteira (Eugenia dysenterica DC), d) eucalipto urophilla (Eucaliptus urophylla), e) farinha

seca (Lonchocarpus nitidus), f) guapuruvu (Schizolobium parahiba), g) jambo (Syzygium

jambos), h) jambolão (Syzygium cumini), i) leucena (Leucaena glauca), j) maminha de porca

(Zanthoxylon riedelianum Engl.), l) murta (Myrtus communis), m) paineira (Chorisia speciosa),

n) sangra d’água (Croton urucurana), o) sansão do campo (Mimosa caesalpinifolia), p)

sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), q) urucum (Bixa orellana L.), r) resedá branco

(Lagerstroemia thorelli), s) resedá rosa (Lagerstroemia indica), t) sete léguas (Pandorea

ricasofiana).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Todos os dados referentes ao recurso floral foram obtidos através da observação direta

no campo, sendo a literatura utilizada apenas para a identificação das espécies e para uso

comparativo de alguns dados obtidos. Desta forma, no período em que o estudo foi

interrompido devido ao calendário escolar, supõe-se que a árvore maminha de porca

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

28

(Zanthoxylon rhoifolium) tenha florescido devido já que este não ocorreu no decorrer do

trabalho.

No caso da murta (Myrtus communis) o florescimento deve ter ocorrido em janeiro ao

que se pôde observar devido o trabalho ter sido iniciado ao final do seu florescimento. De

acordo com Lorenzi (2002), o florescimento da murta em algumas regiões do país ocorre entre

setembro e novembro, ocorrendo uma divergência no que foi observado no CEFET-Bí, pois

neste período não havia florescimento. Este fato reforça a idéia e a importância de um

levantamento por região, para a montagem do calendário apícola. Condições específicas de

cada região, podem influenciar e muito no período de florescimento de uma planta.

As espécies resedá branco (Lagerstroemia thorelli) e o urucum (Bixa orellana L.) não

apresentaram informações sobre sua aptidão floral por não ter sido observada a presença de

abelhas nos momentos das visitações.

A única espécie observada além dos muros da instituição foi o sansão do campo

(Mimosa caesalpinifolia) que se localiza nas proximidades do CEFET. Os dados levantados

permitiram a elaboração de um calendário apícola para o CEFET – Bambuí. (Quadro 1).

Com este trabalho observou-se que, ao se avaliar as plantas estudadas, um fator

importante deve ser considerado: as condições de solo onde estão inseridas estas plantas (se

são solos férteis em relação à adubação, se estão localizados em locais alagadiços e se

toleram tais situações). A cagaiteira, por exemplo, localizada no setor de bovinocultura do

CEFET – Bambuí possui um ótimo desenvolvimento e persistência de florescimento,

considerando-se assim a grande fertilidade do solo proveniente dos dejetos dos animais ali

acumulados.

Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

29

Legenda: 1 = época de florescimento em 2007 2 = época de florescimento em 2008 X = pico da florada P = pólen N = néctar R = resina Início das atividades: 16/02/2007 Observações: Período que as atividades foram interrompidas: dia 29/06/2007 a 01/08/2007 e dia 20/12/2007 a 11/02/2008

MESES PLANTAS J F M A M J J A S O N D Família Nome Científico Nome Popular Recurso floral Nativa ou exótica 1 1 1 1 1 1 Polygonaceae Antigonon leptotus amor agarradinho P N Exótica

1 1 1 1 Sterculiaceae Dombeya tiliaefulia astrapéia branca P N Exótica 1 1 1 1 1 Myrtaceae Eugenia dysenterica DC cagaiteira P N Nativa 1 1 1 Myrtaceae Eucaliptus urophylla eucalipto urophila P N Exótica 1 1 1 Fabaceae Lonchocarpus nitidus farinha seca P Nativa 1 1 Leguminosae Schizolobium parahiba guapuruvu P N Nativa 2 1 1 1 1 1 1 Myrtaceae Syzygium jambos jambo P N Exótica 1 1 1 Myrtaceae Syzygium cumini jambolão P N Exótica 1 1 1 1 1 1 Leguminosae Leucaena glauca leucena P Exótica 1 Rutaceae Zanthoxylon riedelianum Engl maminha de porca N Exótica Myrtaceae Myrtus communis murta N Exótica 1 1 1 1 1 1 1 Bombacaceae Chorisia speciosa paineira P Nativa 2 1 Euphorbiaceae Croton urucurana sangra d´água P Nativa 1 1 1 1 1 Mimosaceae Mimosa caesalpinifolia sansão do campo P Nativa 1 1 Leguminosae Caesalpinia peltophoroides sibipiruna P Nativa 2 Bixaceae Bixa orellana L. urucum N Nativa 2 1 1 Lythraceae Lagerstroemia thorelli resedá branco N Exótica 2 1 1 1 Lythraceae Lagerstroemia indica resedá rosa N Exótica 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Bignoniceas Pandorea ricasofiana sete léguas N Exótica

QUADRO 1 – Calendário Apícola CEFET- Bambui.

Fonte: Elaboração dos autores, 2007/2008.

30

CONCLUSÃO

Conclui-se com este trabalho que o estudo das espécies da micro-região do Cefet-Bí

se faz necessário para que se tenha informações concisas de cada espécie de interesse

apícola, já que verificamos divergências entre regiões de acordo com a comparação com a

literatura existente. Além de garantir a alimentação das abelhas, podem-se utilizar as

informações obtidas através deste trabalho para realizar a seleção das plantas que

apresentaram maior persistência de florescimento a fim de que possam ser futuramente

utilizadas em bancos genéticos.

A elaboração de um calendário apícola para uma micro-região, contribui para o

planejamento das ações e manejo das áreas florais, permitindo uma maior racionalidade no

que se refere à produção de mel por períodos maiores de tempo.

Através deste trabalho verificamos a riqueza deste ecossistema de que a propriedade

faz parte. Novas pesquisas podem e devem ser estimuladas e dentre as várias possibilidades

de estudo encontram-se o horário de maior visitação das abelhas e a porcentagem de açúcar

presente nos recursos florais da planta. Segue o desafio, para futuros trabalhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESPINDOLA, E. A.; CASSINI, F. L.; KALVELAGE, H.; DELATORE, S. F.; FUCHS, S.; VIDI, V.; MIGUEL, W. Curso profissionalizante de apicultura. Florianopólis: Epagri, 2003. 136p. (Epagri. Boletim didático, 45) LORENZI, H. Arvores Brasileiras – Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2002. 384p. MARINHO, I. V.; FREITAS, M. F. de; ZANELLA, F. C. V.; CALDAS, A. L. de. Espécies vegetais da caatinga utilizadas pelas abelhas indígenas sem ferrão como fonte de recursos e local de nidificação. Campina Grande: Universidade Federal de Campina Grande, 2003.

31

Parte 2 – Textos das palestras

FATORES QUE AFETAM A COMPOSIÇÃO DO LEITE DE VACAS LEITEIRAS:

IMPORTÂNCIA EM TEMPOS DE PAGAMENTO POR QUALIDADE

Gama1, Marco Antônio Sundfeld da 1Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Introdução

A glândula mamária apresenta uma capacidade notável de converter nutrientes

circulantes (glicose, aminoácidos, ácidos graxos voláteis, etc.) em componentes do leite. No

final da década de 60, Patton destacou a importância das células da glândula mamária como

uma “fábrica” biológica, sugerindo que somente a fotossíntese (processo de síntese de

carboidratos pelas plantas a partir do CO2 atmosférico, com liberação de oxigênio) seria capaz

de superar a glândula mamária como um fator de sustentação da vida dos mamíferos na terra.

A produtividade desta “fábrica” é tão expressiva que talvez a vaca leiteira talvez pudesse ser

vista como um “apêndice” da glândula mamária, em vez do contrário (Bauman et al., 2006).

2. Composição do leite

O Finlandês A.I. Virtanen, ganhador do prêmio Nobel de química em 1945, declarou: “O

leite ocupa uma posição especial dentre os alimentos, pois apresenta a composição mais

versátil”. De fato, o leite contém todos os nutrientes que os mamíferos em geral (incluindo o

homem) necessitam durante seu crescimento e desenvolvimento; além disso, o leite e seus

derivados suprem as exigências de alguns nutrientes que dificilmente seriam atendidas na sua

ausência. O leite é composto basicamente por água, lactose, lipídeos (gordura), proteína,

minerais e vitaminas, tanto as hidrossolúveis (presentes na fração aquosa), quanto as

lipossolúveis, que se encontram na fração gordurosa do leite (Tabela 1). Assim, consumidores

que optarem, por exemplo, por ingerir leite desnatado (sem gordura), estarão deixando também

de ingerir as vitaminas lipossolúveis presentes no leite integral.

Tabela 1: Composição do leite bovino (Maijala, 2000)

Principais componentes

Teor * (%)

Sub-componentes

Água 87 Vitaminas B e C Lactose 4,8 Galactose, glicose Gordura 3,5 Tri, di e monoglicerídios Fosfolipídios Esteróides Vitaminas A, D, E e K Proteína 3,2 Caseína (80%)

32

Proteínas do soro (20%) Minerais 0,7 Macrominerais (Ca, P, K, Cl, Na, Mg) Micro (Zn, Cr, I, Fe, Cu, Co, Mn) * Valores médios para a raça holandesa

3. Fatores que afetam a composição do leite

A composição do leite dos animais é afetada por diversos fatores, os quais serão

apresentados e discutidos neste tópico. Entretanto, grande parte da variação observada entre

indivíduos de uma mesma raça (ou de um mesmo rebanho) se deve a diferenças nas dietas

fornecidas aos animais. Em particular, o teor de gordura do leite pode ser amplamente e

rapidamente alterado por meio de mudança na dieta dos animais. Por exemplo, dietas que

resultam em queda acentuada do pH ruminal, como as contendo baixo teor de fibra (FDN<25%

MS), fibra de baixa efetividade física (ex.: forragens finamente picadas), quantidade elevada de

grãos de cereais contendo amido de rápida degradação no rúmen (ex.: silagem de grão de

milho úmido, etc.), em geral resultam em drástica redução do teor de gordura do leite (Bauman

e Griinari, 2003). Por outro lado, a suplementação da dieta com fontes ricas em lipídeos, como

os grãos de oleaginosas (ex.: grão de soja moído, caroço de algodão, semente de girassol,

etc.), podem resultar em redução do teor de proteína do leite (Wu e Huber, 1994). Entender o

porquê destas alterações é de fundamental importância, especialmente em tempos de

pagamento do leite por qualidade, no qual o produtor recebe um valor diferenciado pelo

produto em função dos teores de proteína e gordura do leite, além de outras características

que não são o foco desta palestra, como contagem de células somáticas e contagem

bacteriana. Devido à complexidade do tema, os fatores nutricionais que afetam a composição

do leite serão abordados mais detalhadamente.

Além da nutrição, outros fatores afetam a composição do leite dos animais. Os mais

importantes são: a) Genética; b) estágio de lactação; c) idade; d) procedimento de amostragem

do leite (questão fundamental, porém muitas vezes negligenciada); e) Doenças e f) Nutrição.

a) Genética

- Diferenças entre espécies e entre raças

A proporção dos componentes do leite varia amplamente entre as diferentes espécies

de mamíferos, e também entre as raças bovinas leiteiras (Figura 1 e Tabela 2).

33

0

1

2

3

4

5

6

Guemsey Jersey Ayrshire B. Swiss Holstein

Vacas

Teo

r n

o le

ite

(%)

Gordura

Proteína

Lactose

Figura 1: Composição do leite (valores médios) de diferentes raças leiteiras (Adaptado

de Jensen, 1995).

Tabela 2: Composição do leite de diferentes espécies.

ESPÉCIE GORDURA

%

PROTEÍNA

%

LACTOSE

%

MINERAIS

%

SÓLIDOS

TOTAIS

%

Antílope 1,3 6,9 4 1,3 25,2

Burro 1,2 1,7 6,9 0,45 10,2

Urso Polar 31 10,2 0,5 1,2 42,9

Bisão 1,7 4,8 5,7 0,96 13,2

Búfalo 10,4 5,9 4,3 0,8 21,5

34

Camelo 4,9 3,7 5,1 0,7 14,4

Gato 10,9 11,1 3,4 --- 25,4

Vaca:

Ayrshire

Brown Swiss

Guernsey

Holstein

Jersey

Zebu

4,1

4,0

5,0

3,5

5,5

4,9

3,6

3,6

3,8

3,1

3,9

3,9

4,7

5,0

4,9

4,9

4,9

5,1

0,7

0,7

0,7

0,7

0,7

0,8

13,1

13,3

14,4

12,2

15,0

14,7

Veado 19,7 10,4 2,6 1,4 34,1

Cão 8,3 9,5 3,7 1,2 20,7

Golfinho 14,1 10,4 5,9 --- 30,4

Elefante 15,1 4,9 3,4 0,76 26,9

Cabra 3,5 3,1 4,6 0,79 12

Égua 1,6 2,7 6,1 0,51 11

Humano 4,5 1,1 6,8 0,2 12,6

Canguru 2,1 6,2 Trace 1,2 9,5

Macaco 3,9 2,1 5,9 2,6 14,5

35

Suíno 8,2 5,8 4,8 0,63 19,9

Coelho 12,2 10,4 1,8 2 26,4

Rato 14,8 11,3 2,9 1,5 31,7

Rena 22,5 10,3 2,5 1,4 36,7

Foca 53,2 11,2 2,6 0,7 67,7

Ovelha 5,3 5,5 4,6 0,9 16,3

Baleia 34,8 13,6 1,8 1,6 51,2

Adaptado de Jensen (1995).

Pode-se perceber, com base nos dados acima, que a gordura é o componente do leite

que mais varia, tanto entre espécies quanto entre as principais raças leiteiras. Dentre as raças

leiteiras, por exemplo, a raça Holandesa (Holstein) apresenta o menor teor de gordura, e a raça

Jersey, o maior. Tendência semelhante é observada para o teor de proteína, de forma que a

raça Jersey é reconhecida por produzir leite com alto teor de sólidos. Estas diferenças entre

raças são importantes em sistemas de pagamento de leite por qualidade, onde o teor e/ou

produção dos componentes são usados como critério de pagamento. Este fato justifica, por

exemplo, a manutenção de certo número de animais da raça Jersey (ou mesmo seu

cruzamento) em rebanhos leiteiros da raça holandesa.

- Diferenças entre animais de uma mesma raça

Além da variação observada entre raças, animais pertencentes a uma mesma raça

também apresentam considerável variação na concentração de gordura do leite (Figura 2).

Tomando como exemplo a raça Holandesa (Holstein), amplamente difundida no mundo todo e

também no Brasil em função do seu elevado potencial genético e da facilidade de obtenção de

36

sêmen de touros de qualidade comprovada, percebe-se uma variação de 2,5 a 4% no teor de

gordura do leite. Variações ainda mais expressivas podem ser observadas em raças que

apresentam, reconhecidamente, maior teor de gordura, como a Jersey (a segunda raça

européia mais criada no Brasil).

Figura 2: Variação do teor de gordura do leite entre animais nas diferentes raças leiteiras

(Adaptado de Jensen, 1995).

Variações no teor de proteína do leite também são observadas entre animais de uma

mesma raça, embora de menor amplitude do que para a gordura. Parte da variação observada

nos teores de gordura e proteína do leite entre animais de uma mesma raça está relacionada

com o nível de produção dos animais, ou seja, seu potencial genético. Animais que produzem

maior volume de leite apresentam menores teores destes componentes. Isso ocorre porque a

produção de leite é negativamente correlacionada com os teores de gordura e proteína (Tabela

3).

Tabela 3 - Mudanças esperadas na composição do leite por diferentes critérios de seleção.

Portanto, a seleção genética baseada simplesmente em produção de leite resulta em

menor teor dos componentes, embora a produção destes componentes tenda a aumentar. Isto

37

fica claramente evidenciado na Tabela 4 abaixo, onde a seleção de touros nos Estados Unidos

baseadas somente em produção de leite resultou, após várias décadas, em queda significativa

nos teores dos seus componentes.

Tabela 4: Alterações nos teores dos componentes do leite observadas nos rebanhos norte-

americanos.

Alguns touros com grande volume de vendas no Brasil têm mercado escasso em

outros países exatamente pelas baixas provas para componentes do leite. Portanto, as três

características produtivas (leite, proteína e gordura) devem ser consideradas em conjunto na

seleção, preferencialmente num índice de seleção, incluindo a variabilidade e o peso

econômico desejado para cada característica (Rodrigo de Almeida, site:

http://www.milkpoint.com.br). Com base nas informações da Tabela 3, fica evidente que, em

tempos de pagamento de leite por qualidade, onde há uma clara tendência (mundial) de se

valorizar leites com maiores teores de sólidos, especialmente proteína, selecionar animais para

produção de proteína (kg/dia) parece ser a melhor estratégia.

Outra alternativa usada por alguns criadores para aumentar o teor de sólidos do leite

produzido na fazenda é a introdução de raças que apresentam, naturalmente, maiores teores

de gordura e proteína, como a Jersey.

É importante salientar ainda que, embora as alterações na composição do leite por meio de

seleção genética sejam mais lentas e de menor magnitude do que a promovida por

manipulação na dieta dos animais, estas são permanentes, enquanto que as promovidas pela

dieta são transitórias.

b) Estágio de lactação:

As concentrações de gordura e de proteína do leite são maiores no início e no final da

lactação, sendo que os menores teores coincidem com o pico de produção de leite (Figura 3).

Portanto, o aumento na produção de leite observado nas primeiras semanas pós-parto é

acompanhado por uma redução nos teores de gordura e proteína do leite, de forma que as

produções destes componentes (kg do componente secretado/dia) tendem a se manter

relativamente constantes.

38

Figura 3: Variação da produção e da composição do leite durante a lactação (Fonte: Teixeira et

al., 2003).

Ainda com relação à fase de lactação, cabe mencionar que as mudanças mais bruscas

na composição do leite ocorrem nas primeiras ordenhas, pois o colostro (secreção cremosa e

amarelada produzida pela glândula mamária logo após o parto) apresenta uma composição

bastante diferente do leite propriamente dito (Tabela 5).

Tabela 5: Composição do colostro (1ª ordenha) e do leite.

39

Componente Número de Ordenhas 1 2 3 4 5 11 Colostro Leite de transição Leite

Sólidos totais, % 23,9 17,9 14,1 13,9 13,6 12,5 Gordura, % 6,7 5,4 3,9 3,7 3,5 3,2 Proteína1, % 14,0 8,4 5,1 4,2 4,1 3,2

Anticorpos, % 6,0 4,2 2,4 0,2 0,1 0,09 Lactose, % 2,7 3,9 4,4 4,6 4,7 4,9 Minerais, % 1,11 0,95 0,87 0,82 0,81 0,74

1 Inclui a porcentagem de anticorpos indicados na linha seguinte (Adaptado de Babcock Institute for International Dairy Research and Development, Michel A. Wattiaux). Nota-se na Tabela acima que o colostro apresenta praticamente o dobro do teor de

sólidos do leite, conseqüência principalmente da maior concentração de proteínas (~14%),

grande parte delas representadas pelos anticorpos presentes, os quais são fundamentais para

a sobrevivência do bezerro recém-nascido (neonato). Maiores teores de gordura, minerais e

vitamina A são também observados, mas o teor de lactose é inferior. Entretanto, é importante

perceber a rápida alteração da composição do leite durante as primeiras ordenhas, de forma

que, após 24-48h, o leite produzido já possui praticamente a composição do leite propriamente

dito.

c) Idade

Embora o teor de gordura do leite permaneça relativamente constante, o teor de

proteína aumenta gradativamente com o avanço da idade (ou do número de partos). Dados de

pesquisa com animais da raça holandesa indicam que o teor de proteína do leite diminui de

0,02 a 0,05 unidades percentuais em cada lactação (http://www.osuextra.com). Em outras

palavras, animais mais velhos tendem a produzir leite com menor teor de proteína. Entretanto,

estas variações são de pequena magnitude quando comparadas às promovidas por alteração

na dieta dos animais ou relacionadas ao estágio de lactação.

d) Procedimento de amostragem do leite

Uma correta amostragem do leite, tanto no tanque quando nos animais,

individualmente, é fundamental para que se obtenha um valor correto da concentração dos

componentes do leite, especialmente da gordura.

A gordura é o componente de menor densidade do leite, de forma que esta fração tende a se

acumular na parte superior. Portanto, o leite que sai da glândula mamária no início da ordenha

apresenta menor teor de gordura, enquanto que o leite do final da ordenha é mais gordo

(Figura 4).

40

0

1

2

3

4

5

6

Teo

r d

e g

ord

ura

(%

)

1 2 3 4

Partes da ordenha

Figura 4: Mudanças no teor de gordura do leite durante a ordenha (Adaptado do site:

http://classes.ansci.uiuc.edu/ansc438/index.html)

Isso significa que, ao coletar amostras individuais de leite para determinação dos

teores dos seus componentes, estas devem ser representativas do leite secretado durante toda

a ordenha; caso contrário, o teor revelado na análise não representará o verdadeiro valor do

teor de gordura do leite. Quando o leite produzido na ordenha é coletado em balões individuais

(sistema mais antigo, mas ainda existente em muitas propriedades), o leite presente no balão

ao final da ordenha deve ser homogeneizado durante um período suficiente para permitir uma

correta amostragem do leite. Se isso não for feito, a gordura do leite tenderá a se acumular na

parte superior do balão, e o leite coletado por baixo terá um teor de gordura menor do que o

valor real. Em sistemas de ordenha mais modernos, o produtor poderá acoplar um copo

de coleta à ordenhadeira, de forma que, ao final da ordenha, o volume coletado representa o

leite produzido ao longo de toda a ordenha. Entretanto, mesmo neste sistema, o leite presente

no copo deverá ser homogeneizado para permitir uma correta amostragem, já que a gordura

também tende a se acumular na parte superior.

Em caso de amostragem de leite diretamente do tanque, o mesmo cuidado com a

homogeneização deve ser respeitado. Previamente à coleta da amostra, o leite deverá ser

misturado dentro do tanque (os tanques apresentam geralmente sistema automático de

agitação) por vários minutos (5 a 10’).

Variações nos teores dos componentes também podem ser observadas entre

ordenhas. Assim, por exemplo, fazendas onde há duas ordenhas ao dia, o frasco destinado à

coleta de amostras deve conter o leite proveniente das duas ordenhas. O volume de leite

coletado em cada ordenha deve ser representativo do volume total de leite produzido. Portanto,

se a vaca produz 2/3 do volume de leite diário na ordenha da manhã, o frasco para coleta

deverá também conter esta proporção no volume final coletado (ex.: volume total coletado nas

duas ordenhas: 30 ml; 20 ml deverão ser provenientes na 1ª ordenha (2/3) e 10 ml (1/3)

provenientes da ordenha da tarde).

41

Amostragens não-representativas são causa comum (e muitas vezes negligenciadas)

de erro na determinação do teor de gordura do leite. Portanto, grande atenção e cuidado

devem ser dispensados a esta rotina nas fazendas.

Outra questão importante, em tempos de pagamento de leite por qualidade, é a questão

freqüência e número mínimo de amostras a serem coletadas para avaliar, com precisão, os

teores de gordura e proteína do leite de um determinado rebanho. Neste sentido, planilhas para

cálculo do número mínimo de amostras foram desenvolvidas pela Clínica do leite, na Esalq, em

Piracicaba (Laerte D. Cassoli e Paulo F. Machado, site: http://www.milkpoint.com.br). Esta

informação é fundamental para que o leite produzido numa propriedade possa ser classificado

(e remunerado) corretamente.

e) Doenças

Embora muitas doenças possam afetar a composição do leite, a mastite tem sido a

principal doença investigada. Em geral, animais com elevada contagem de células somáticas

(uma medida da severidade da doença) apresentam redução no teor de gordura do leite e

manutenção ou ligeiro aumento no teor de proteína. Isto se dá devido ao aumento da

concentração das proteínas do soro, que pode ou não ser compensado pela redução

observada na concentração de caseína. A mastite também afeta a composição mineral do leite:

os teores de sódio e cloreto aumentam, enquanto que os de potássio e cálcio são geralmente

reduzidos (Tabela 6). Estas alterações no tipo de proteína secretada e na concentração dos

minerais afetam o rendimento para produção de queijos, suas propriedades e processamento.

Assim, leites com alta CCS apresentam maior tempo de coagulação e formam coágulos mais

“moles” do que leites com baixa CCS.

Tabela 6: Mudanças na composição do leite associadas com a elevação da CCS.

Constituinte Leite Normal Leite com alta CCS Porcentagem do

normal

%

Gordura 3,5 3,2 91

Lactose 4,9 4,4 90

Proteína total 3,61 3,56 99

Caseína 2,8 2,3 82

Proteínas do soro 0,8 1,3 162

Sódio 0,057 0,105 184

Cloreto 0,091 0,147 161

Potássio 0,173 0,157 91

Cálcio 0,12 0,04 33

Adaptado de Harmon (1994)

42

f) Nutrição

Como dito anteriormente, a composição do leite, especialmente o seu teor de gordura,

pode ser amplamente e rapidamente alterada por meio de mudança na dieta fornecida aos

animais. A possibilidade de alterar rapidamente a composição do leite é de grande importância

em situações onde o produtor recebe valor diferenciado pelo leite em função de sua

composição, como ocorre atualmente no Brasil em algumas regiões. Obviamente, a decisão

por aumento ou redução do teor de determinado componente vai variar em função do sistema

de pagamento adotado. Há, entretanto, uma tendência mundial de se valorizar leite com maior

teor de sólidos, principalmente a proteína. O teor de proteína do leite é, entretanto, muito

menos sensível a alterações na dieta, de forma que incrementos no seu teor são

geralmente de pequena magnitude, e difíceis de serem obtidos. Este tópico apresentará os

principais fatores nutricionais capazes de alterar o teor de gordura e de proteína do leite.

- Influência da nutrição sobre a secreção de gordura do leite:

Trabalhos conduzidos nas últimas duas décadas têm proporcionado um grande avanço

na compreensão de como certas dietas afetam a síntese da gordura do leite. Hoje, sabe-se que

há certos tipos de dietas que causam grande e rápida redução no teor e na secreção de

gordura do leite, uma situação que é denominada depressão da gordura do leite (DGL)

(Rodrigo de Almeida e Marco A.S. Gama, site: http://http://www.milkpoint.com.br). Duas

condições são necessárias para que ocorra a DGL: um baixo pH ruminal e a presença de

fontes ricas em lipídios insaturados na dieta (Griinari et al., 1999). A primeira condição ocorre,

mais freqüentemente, quando as dietas apresentam: baixo teor de fibra (FDN), fibra de baixa

efetividade física (ex.: forragens finamente picadas, especialmente as silagens ricas em grãos,

como as de milho e sorgo), grãos de cereais contendo amido de alta taxa de degradação

ruminal (ex.: silagem de grão de milho úmido, milho floculado, etc.). A segunda condição está

geralmente relacionada com a inclusão, na dieta, de grãos de oleaginosas, como o caroço de

algodão, soja, girassol, etc. O processamento destes grãos (moagem, extrusão, etc) poderá

afetar a intensidade da DGL, já que permite mais exposição ruminal dos lipídeos contidos no

seu interior. Portanto, no caso do uso de óleos vegetais puros, a DGL tende a ser ainda mais

acentuada.

Dietas que induzem DGL são tipicamente fornecidas para vacas de alta produção, pois

estas apresentam maior exigência de energia, de forma que há necessidade de maior inclusão

de concentrados ricos em energia, como os grãos de cereais ricos em amido (ex.: milho, trigo,

aveia) e grãos inteiros de leguminosas (ricos em lipídeos, mas também fonte importante de

proteína e, no caso do caroço de algodão, fibra). A Tabela 7 (abaixo) mostra claramente o

efeito de uma dieta com baixo teor de fibra (expresso pela relação concentrado/volumoso)

sobre o teor de gordura do leite.

43

Tabela 7: Efeito da relação concentrado:volumoso e da inclusão de tamponante na composição

do leite de vacas em final de lactação.

Parâmetros Sem tamponante Com tamponante SEM 50:50 75:25 50:50 75:25

Consumo de MS, kg/d 18,3b 19,9ab 19,3ab 20,6ª 0,54 Produção de leite, kg/d 21,9 24,3 23,5 24,7 0,95

Teor de gordura, % 4,21a 2,91b 4,12a 4,09ª 0,38 Teor de proteína, % 3,37ab 3,49a 3,34b 3,48a 0,03

a,b Médias seguidas por letras diferentes na mesma linha diferem entre si (P<0.05)

Os dados acima mostram também que a inclusão de tamponantes na dieta foi capaz de

reverter a DGL provocada pela dieta com alta relação concentrado:volumoso (75:25).

Possivelmente isso de deveu a uma maior estabilidade do pH ruminal promovida pelo uso do

tamponante. Os tamponantes comumente usados na dieta de ruminantes são o bicarbonato de

sódio (ou potássio) e o óxido de magnésio, nas proporções de 0,8-1,0% e 0,2-0,4% da MS da

dieta (relação de 2:1), respectivamente. Além dos tamponantes, o uso de dietas completas,

especialmente quando fornecidas várias vezes ao dia (pequenas quantidades ao longo do dia),

também representa uma importante medida de manejo nutricional capaz de minimizar ou

mesmo evitar a DGL.

Outra prática nutricional importante envolve a substituição de parte dos concentrados

ricos em amido por subprodutos fibrosos, como a casca-de-soja, ou por alimentos ricos em

pectina, como a polpa cítrica. Em ambos os casos, a dieta tenderá a apresentar maior teor de

FDN total, sem reduzir muito a energia da dieta. Em geral, recomenda-se que a dieta de vacas

em lactação tenha um mínimo de 25% de FDN total, sendo 19% (~75% do total) oriundo de

forragens (assumindo que a forragem apresenta um tamanho de partícula capaz de estimular a

ruminação). Para cada valor unitário de FDN de forragem abaixo de 19%, o FDN total da dieta

deve aumentar em 2 unidades percentuais (Tabela 8), de forma a manter um FDN efetivo

mínimo de 21%.

Tabela 8: Recomendações de teores mínimos de fibra na dieta de vacas leiteiras.

Adaptado do NRC (2001).

44

- Influência da nutrição sobre a secreção de proteína do leite:

Alterações na dieta dos animais geralmente afetam mais a produção de proteína do

leite (kg secretados/dia) do que o seu teor (%). O fornecimento de dietas com quantidade e

qualidade adequadas de proteína é um importante fator para se obter elevada secreção de

proteína do leite. Maximizar a produção de proteína microbiana, como dito anteriormente, é

parte fundamental desta estratégia. Para que isso seja obtido, a dieta deve conter teor

adequado de proteína degradável no rúmen (PDR) e energia suficiente para que as bactérias

do rúmen possam aproveitar o nitrogênio liberado no rúmen para síntese de suas próprias

proteínas (proteína microbiana). De acordo com o NRC (2001), a quantidade de PDR para

maximizar a secreção de proteína e de leite é de 10-12% da matéria seca da dieta, assumindo

que o suprimento de energia seja adequado. Por exemplo, uma vaca que coma 20 kg de

MS/dia necessitaria de 2 a 2,4 kg de PDR/dia. Em geral, dietas com 60 a 65% de PDR (como

% da PB) parecem adequadas para maximizar a síntese de proteína do leite. Outro ponto

importante é a disponibilidade da proteína nos alimentos. Alimentos superaquecidos como, por

exemplo, silagens produzidas em condições inadequadas (ex.: alta umidade/baixa

compactação) podem reduzir a disponibilidade da proteína. Isto ocorre devido à ligação da

proteína com carboidratos, que é catalisada por calor/umidade elevados. A análise

bromatológica do teor de nitrogênio ligado ao FDA (N-FDA ou PB-FDA) é um bom indicativo da

intensidade desta reação.

Dietas deficientes em proteína podem reduzir o teor de proteína do leite em 0,1 a 0,2

unidades percentuais, além de reduzir a produção de leite (Schingoethe, 1996). Por outro lado,

o fornecimento de dietas ricas em carboidratos de rápida degradação ruminal (ex.: amido,

pectina) geralmente aumenta o teor e a produção de proteína do leite. Este efeito pode ser

claramente notado nos resultados apresentados na Tabela 7. Este efeito pode ser devido a

uma maior síntese de proteína microbiana e/ou maior secreção de insulina, pois pesquisas

mostraram que este hormônio é capaz de aumentar significativamente o teor de proteína do

leite (Mackle et al., 1999). Entretanto, é importante ressaltar que o aumento da secreção de

insulina pelo fornecimento de dietas ricas em carboidratos não-fibrosos é limitado pelos efeitos

negativos destes sobre a saúde ruminal, podendo causar DGL (como visto anteriormente) e

doenças, como a laminite.

A adição de fontes de lipídios às dietas geralmente reduzem o teor de proteína do leite

em 0,1 a 0,2 unidades percentuais, embora possa aumentar sua secreção em função do

aumento geralmente observado na produção de leite (Schingoethe, 1996).

45

4. Conclusões

A composição do leite pode ser alterada por diversos fatores, conforme apresentado no

texto acima. Alguns destes fatores, entretanto, são passíveis de serem manipulados em nível

de fazenda (ex.: nutrição, genética, doenças), enquanto que outros não (ex.: período de

lactação, idade). Uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos em tais alterações é

de grande importância em tempos de pagamento do leite por qualidade. Alterações promovidas

pela nutrição são de particular interesse, tendo em vista a rapidez das respostas e a magnitude

das mudanças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Babcock Institute for International Dairy Research and Development. University of Wisconsin-

Madison, p.109-112. By Michel A. Wattiaux.

Balanceamento protéico para vacas leiteiras. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:

Alexandre Pedroso.

Bauman, D.E. & Griinari, J.M. 2003. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annual Review

of Nutrition, v.23, p.203-227.

Bauman, D.E.; Mather, I.H.; Wall, R.J.; Lock, A.L. 2006. Major advances associated with the

biosynthesis of milk. J. Dairy Sci., v.89, p.1235-1243.

Carboidratos fibrosos e carboidratos estruturais. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:

Marcos Neves Pereira.

Como a genética pode afetar a composição do leite. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor :

Rodrigo de Almeida. Data : 05/05/2004.

Como a nutrição afeta a proteína do leite. Partes 1 e 2. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:

Alexandre Pedroso.

Depressão da gordura no leite. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autores: Rodrigo de Almeida

e Marco Antônio Sundfeld da Gama.

Energia como determinante da excreção de proteína do leite. Site: http://www.milkpoint.com.br.

Autor: Marcos Neves Pereira.

46

Fibra efetiva no NRC 2001. É permitido ser tão empírico? Site: http://www.milkpoint.com.br.

Autor: Marcos Neves Pereira.

Griinari, J.M.; Dwyer, D.A.; Mcguire, M.A.; Bauman, D.E.; Palmquist, D.L.; Nurmela, K.V.V.

1998. Trans-octadecenoic acids and milk fat depression in lactating dairy cows. Journal of

Dairy Science, v. 81, p.1251-1261.

Jenkins, T.C.1993. Lipid metabolism in the rumen. Journal of Dairy Science, v.76, p.3851-3863.

Jensen, R.G. Handbook of Milk Composition. 1995. Ed. Jensen, R.G. & Thompson, M.P.

Academic Press, San Diego.

Mackle, T.R.; Dwyer, D.A.; Ingvartsen, K.L.; Chouinard, P.Y.; Lynch, J.M.; Barbano, D.M.;

Bauman, D.E. 1999. Effects of insulin and amino acids on milk protein concentration and yield

from Dairy cows. J. Dairy Sci., v.82, p.1512-1524.

Maijala, K. 2000. Cow milk and human development and well-being. Livestock Producion Sci.,

v.65, p.1-18.

Managing milk composition: normal sources of variation. Site: http://www.osuextra.com.

Oklahoma Cooperative Extension Service. Division of Agriculture Science and Natural

Resources.

Murphy, J.J. and O’Mara, F.O. 1993. Nutritional manipulation of milk protein concentration and

its impact on the dairy industry. Livestock Production Science, v.35, p.117-134.

O papel da nutrição na manipulação do teor de sólidos do leite. Site:

http://www.milkpoint.com.br. Autor: Marcos Neves Pereira.

Proteína na dieta, produção e qualidade do leite. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:

Alexandre Pedroso.

Qual o número mínimo de amostras para pagamento por qualidade? Site:

http://www.milkpoint.com.br. Autores: Laerte Dagher Cassoli e Paulo Fernando Machado.

Schingoethe, D.J. 1996. Dietary influence on protein level in milk and milk yield in dairy cows.

Animal Feed Sci. and Technology, v.60, p.181-190.

Teixeira, N.M.; Freitas, A.F.; Barra, R.B. 2003. Influência de fatores de meio ambiente na

variação mensal e contagem de células somáticas do leite em rebanhos do estado de Minas

Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, no4. Belo Horizonte.

47

The Lactation Biology Website: http://classes.ansci.uiuc.edu/ansc438/index.html. University of

Illinois.

Uso de tamponantes em dietas para vacas leiteiras. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:

Marcos Neves Pereira.

Wu. Z., Huber, T.J. 1994. Relationship between dietary fat supplementation and milk protein

concentration in lactating cows: A review. Livestock Production Science, v.39, p.141-155.

48

GESTÃO EM SUINOCULTURA

Oliveira Jr1, Antonio Rodrigues de

1Médico Veterinário CRMV-MG 4.640 Mestrando em Ciências Veterinárias (Produção Animal) - UFU

Os principais temas abordados na maioria dos congressos realizados dentro da área

de suinocultura moderna, normalmente são manejo, nutrição, genética, sanidade, meio

ambiente e bem-estar animal, visto a importância deles no dia-a-dia da nossa atividade. Porém,

existe um tema tão importante quanto os citados acima que vem ganhando força a cada dia

que passa dentro das granjas suinícolas: Gestão.

Traçando um paralelo entre o desenvolvimento da gestão e o desenvolvimento da

suinocultura, também encontraremos algumas semelhanças. Nas décadas de 50 e 60, a

administração dos negócios na suinocultura, em sua maioria, era feita na base da experiência,

intuição e conhecimentos subjetivos. O porco tipo "banha" dominava a preferência da produção

e não existia quase nada de técnica de produção e profissionalização da atividade. Assim, o

conhecimento adquirido na prática sob duras penas pelos nossos antepassados era transmitido

de geração em geração e as coisas demoravam mais tempo para evoluir. Ainda hoje

encontramos muitos produtores administrando e desenvolvendo algumas atividades em suas

propriedades da mesma maneira que aprenderam com seus pais, que aprenderam com seus

avós. Se por um lado isto é um fato positivo porque ajuda a manter as tradições, muitas

práticas são inviáveis nos dias atuais.

Mas vale destacar que, apesar de acontecer de forma empírica, a gestão sempre

esteve presente na suinocultura e, ao contrário do que muitos ainda pensam, não é uma

conseqüência da evolução da tecnologia dos dias atuais. Mesmo sem saber, muitos dos

nossos antepassados aplicavam gestão nas granjas mantendo a atividade organizada,

controlando estoques, gerenciando as vendas, buscando o aprendizado e a aplicação das

melhores práticas e produzindo da melhor maneira possível. Mas, assim como hoje, não eram

todos os produtores que administravam a atividade de forma organizada. Porém, como a

suinocultura ainda não era uma atividade de mercado, não havia tanta concorrência e as

margens de lucro eram bem mais generosas. Era possível conseguir bons resultados mesmo

para aqueles que produziam sem nenhum tipo de controle administrativo.

Mas o que é este conceito? Como ele surgiu? Neste momento, é importante destacar

que Gestão não é uma criação acadêmica e nem foi inventada por alguém, é sim um

conhecimento empírico antigo que surgiu tal como a Medicina e o Direito. Também é

importante observar que o termo "Gestão" não é a mesma coisa que "Gestão de Empresas"

49

(muitas pessoas remetem o pensamento às empresas quando ouvem esta palavra). Diz a

história, inclusive, que a primeira aplicação sistemática de princípios de gestão não ocorreu em

uma empresa, mas na reorganização do Exército dos EUA em 1901. Porém, não se pode

negar que essa associação com o mundo empresarial se deve pelo fato de que o início do uso

do termo gestão se confunde com o surgimento das corporações no final do século XIX e início

do século XX tais como a Ford Company, General Motors e Deutsche Bank. O termo Gestão

possui várias definições.

Peter Drucker – Primeiro Professor de Gestão da Universidade

de Nova Iorque.

Mas só na segunda metade do século XX a gestão se tornou um "tema" assimilável

para as pessoas de forma geral, algo que se poderia aprender e ensinar. Foi nesta época que

o mundo começou a se render aos conceitos e à genialidade de um homem chamado Peter

Drucker. Drucker foi o primeiro professor a ensinar formalmente Gestão no final dos anos 40

em uma universidade em Nova Iorque. Surgia então a possibilidade de se aprender a governar

as empresas e as organizações através de uma metodologia, transferindo o "know how

gestionário" de uma meia dúzia de capitães de indústria e profetas para qualquer pessoa que

tivesse interesse no assunto. Resumidamente Gestão quer dizer gerir, planejar, organizar,

liderar, comandar, controlar e coordenar.

Com a evolução natural da suinocultura, que passou de uma “criação de porcos” para

uma fábrica de suínos, impulsionada pela urgente necessidade de melhoramento genético dos

suínos iniciada nos meados do século XX, a produção do porco "tipo carne" surgiu como a

solução para o desenvolvimento da atividade no país e deu início à suinocultura de mercado

com produção em grande escala que temos hoje. Fazemos parte de uma economia de

mercado, temos uma concentração da produção cada vez maior, a concorrência além de

grande não é apenas interna (fazemos parte de um mundo globalizado), e as margens de lucro

50

são cada vez menores. Hoje precisamos ser muito mais eficientes, produzir melhor e com mais

qualidade se quisermos continuar fazendo parte da suinocultura. Para isso, a implantação de

gestão em nossas granjas é fundamental.

E ter gestão em uma granja significa informatizar a granja? NÃO! Isto é um equívoco

bastante comum que muitas pessoas cometem. Os computadores e os softwares de

gerenciamento de granja são importantes ferramentas de auxílio que tornam os processos mais

ágeis e organizados. Porém, ter gestão na granja é muito mais amplo do que simplesmente

informatizar.

A lucratividade de qualquer atividade se dá, basicamente, subtraindo das Receitas as

Despesas para produção, sendo o saldo o Lucro obtido na atividade. Nem sempre

conseguimos controlar as Receitas, pois a definição dos preços pagos por quilo de suíno

vendido é feita, normalmente pelo mercado. Mas nossas despesas podemos controlar de

maneira mais segura, para isto, primeiramente devemos ter controle de todos os custos de

produção.

Todas as granjas possuem as mesmas oportunidades de melhoria, porém os

resultados biológicos variam muito entre as granjas. Graças a evolução tecnológica dos últimos

tempos e a globalização, hoje temos a nossa disposição o que há de melhor no mundo em

termos de genética, nutrição, sanidade, manejo, equipamentos, computadores e softwares. E,

além de qualidade, também temos variedade. Mas de que adianta investir alto em produtos de

última geração se eu não meço os resultados obtidos para ver a relação custo X benefício?

Como eu posso comparar dois fornecedores de nutrição ou genética (por exemplo) para saber

qual deles se adapta melhor a minha granja se eu não tenho informações que me levem a uma

conclusão?

Esta variação dos resultados, quase sempre é devida aos diferentes níveis de manejo

adotado em cada granja. Muitas vezes deixamos de ver o óbvio e buscamos causas mais

complexas, não acreditando no que é mais simples. A convicção da realização das tarefas mais

simples torna-as com efeito mecânico e não conseguimos ver ao redor, além do que em muitos

casos, na teoria se sabe muito bem o que foi preconizado, porém na pratica o que esta sendo

realizado é muito diferente.

Para podermos ter uma direção ou seguir uma meta, inicialmente temos que possui

dados confiáveis, termos uma política bem definida e consistente, especialmente no que diz

respeito à descartes e reposições de matrizes. Para isto devemos saber a real capacidade da

granja e buscar a otimização do uso destas instalações. Na ponta do lápis, muitas vezes e

melhor reduzir 15 a 20 % o plantel e trabalhar adequadamente com os animais do que ter 15 a

20 % de perda devido à superlotação. É planejar para onde ir, ter organização, estabelecer

objetivos e metas bem definidos, controlar e medir os resultados dos processos envolvidos no

51

dia-a-dia, e, principalmente, manter as pessoas treinadas, capacitadas, motivadas e sabendo

para onde o "barco" está indo. Inclusive, é praticamente impossível implantar uma boa gestão

sem o envolvimento profundo das pessoas. O que devemos buscar então é a gestão aliada à

tecnologia, mas sem esquecer que antes de tudo precisamos escolher e capacitar bem as

pessoas que irão comandar e fazer as coisas acontecerem. É aí que entra a Gestão e suas

ferramentas de apoio: o computador e o software.

Uma pequena diferença no desempenho da granja significa uma grande diferença nos

resultados, principalmente econômicos. Hoje não há mais espaço para quem controla as

granjas através do caderninho. Outro motivo que, apesar de ser básico e extremamente

importante, raramente é de conhecimento do suinocultor é: Qual é o custo de produção da

minha granja? É difícil de acreditar, mas a maioria dos produtores não sabe exatamente qual é

o custo para produzir um quilo de suíno na sua propriedade. O motivo disso é a falta de gestão.

Quem deseja continuar na atividade deve refletir sobre algumas questões e decidir se pretende

acompanhar a evolução e a profissionalização da atividade ou não. Por que estou nesta

atividade? Os resultados econômicos da minha granja estão remunerando o meu trabalho e o

meu capital investido? O que eu pretendo alcançar com a minha granja no curto, médio e longo

prazo?

` A suinocultura se sustenta, basicamente, sobre seis pilares, que são:

- Nutrição, Manejo, Instalações, Sanidade, Genética e Gerenciamento. Em cada um destes

pilares podemos agir de maneira a reduzir perdas e aumentar ou melhorar nossa produtividade.

O que temos conseguido em termos de leitões nascidos / porca / parto atualmente se deve

muito ao melhoramento genético que nossos animais sofreram nos últimos anos. E já se fala

(teoricamente) em atingirmos 40 leitões desmamados / porca no ano (veja abaixo

52

Propaganda na Revista Pig International Jul/Ago 2007.

Podemos ter certeza que, não muito distante de hoje, estes dados serão superados e

estaremos buscando novas metas.

Além do melhoramento genético, outros componentes que influenciam o tamanho da

leitegada nos suínos podem ter intervenção do homem na própria granja. Fatores como a taxa

de ovulação, taxa de fertilização, sobrevivência embrionária, leitões nascidos (peso e número),

leitões desmamados (peso e número) e leitegadas / porca / ano são diretamente influenciados

pelo homem.

Abaixo passamos resumidamente alguns manejos que podem influenciar cada um dos

fatores acima:

- Taxa de ovulação:

• Seleção de marrãs;

• Estímulo do cachaço;

• Flushing;

• Condição corporal

• Score Corporal;

• Nutrição;

- Taxa de Fertilização:

• Qualidade do sêmen;

• Técnica de IA ou cobertura;

• Manejo;

- Sobrevivência Embrionária:

• Nutrição:

• Pós-cobertura;

• Minerais e

vitaminas;

• Minimização do stress

• Mudanças;

• Brigas;

53

• Incidência de

sol;

• Falta de água;

- Leitões Nascidos (Peso e

Número):

• Redução de natimortos;

• condição corporal da

matriz;

• Escore Corporal;

• Instalações;

• Nutrição

- Leitões Desmamados (Peso e

Número):

• Mortalidade pré-

desmame;

• Mortalidade na

Maternidade;

• Produção de leite;

• Nutrição;

• Apetite;

• Sanidade;

• Nutrição suplementar

para leitões;

- Leitegadas / Porca / Ano:

• Período entre desmame e

cobertura;

• Dias vazios;

• Nutrição;

• Efeito do cachaço;

• Redução de stress;

• Condição corporal;

• Efeito do número de partos;

• Manejo;

• Taxa de descarte;

54

Como podemos reduzir nossos custos? Como enfrentar as realidades acima? Pode

acreditar...somos capazes, basta querer.

Entre os fatores primários que afetam a produtividade e o desempenho da granja existe

algo muito importante e que devemos dar a maior atenção:

- TALENTOS HUMANOS.

Sem a devida valorização dos TALENTOS HUMANOS, não conseguimos influenciar os

fatores descritos acima como pontos importantes para a redução de custos e melhoria do

desempenho da granja. E esta valorização dos TALENTOS HUMANOS é feita através de praticas

simples e fáceis de compreender. Podemos ter as melhores instalações, a melhor genética, a

melhor nutrição, mas sem os melhores TALENTOS HUMANOS certamente não atingiremos os

melhores resultados.

No recrutamento de pessoas já se inicia esta valorização dos TALENTOS HUMANOS, pois um

mau funcionário que é tratado igualmente aos demais, desestimula os bons funcionários. Nesta

fase de recrutamento devemos buscar habilidade técnica e conhecimento prévio, observar atitudes

e comportamentos do candidato a funcionário da granja e procurar trabalhar com pessoas que

tenham motivação e responsabilidade e principalmente satisfação com o trabalho a ser executado.

Os funcionários novos devem ter roteiros e procedimentos para a execução de cada tarefa,

para isto devem receber treinamento e ter acompanhamento de seu trabalho inicialmente. A

correção e cobrança funcionam como estímulo (se bem feitas). Não basta ensinar o trabalho é

necessário acompanhar a execução do mesmo.

O comportamento pessoal perante aos animais influenciam os resultados de cada

funcionário. Muito melhor do que conseguir o envolvimento do funcionário é necessário que o

mesmo esteja comprometido com o trabalho. É como a história da galinha e do suíno:

• A Galinha convidou o Suíno para acabar com a fome do Mundo, porém a Galinha entraria

só com os Ovos, enquanto o Suíno entraria com a sua própria Carne.

• Esta é a diferença entre Envolvimento e Comprometimento

Peça fundamental na EQUIPE da granja é o gerente. O gerenciamento é uma atividade

complexa, que exige liderança. E a liderança não basta ser obtida por título, é necessária que seja

conquistada pelo comprometimento do gerente com os funcionários e com a granja. Para o gerente

é fundamental que esteja sempre na sua lembrança que ele Gerencia Pessoas e estas pessoas é

que trabalham com animais. E o ser humano possui, diferentemente que a maioria dos animais,

vontade própria, inteligência, sentimentos, objetivos e projetos de vida diferentes. De acordo com a

Teoria de Maslow, o homem necessita satisfazer suas necessidades básicas (comida, água e

55

moradia), depois busca segurança e proteção, afeto e amor, satisfazer sua auto-estima e por

último satisfazer sua auto-realização.

O Líder, por sua vez, tem sua pirâmide, porém ao contrário (de ponta cabeça) conforme

descrito por James C. Hunter no Best Seller “O Monge e o Executivo”:

Assim, para atingirmos o sucesso, precisamos ter claro em nossa mente nossas

responsabilidades, devemos ainda, estabelecer metas de excelência, treinar nossos parceiros,

discutir nossos resultados, reconhecer as qualidades e realizações de nossos contribuintes, confiar

na equipe, admitir falhas (e corrigi-las) e sempre tratar a todos com muito respeito e dignidade.

Com uma equipe comprometida certamente é possível extrair o máximo do potencial de

uma granja.

56

IMPACTO DO POTENCIAL GENÉTICO DE REPRODUTORES NA RENTABILIDADE DA

SUINOCULTURA MODERNA

Moura1, Sandro Cardoso de

1Gerente de Desenvolvimento de Negócios – Agroceres PIC

A suinocultura tem evoluído consistentemente desde a década de 60. Essa evolução

decorreu, entre outros fatores, do melhor gerenciamento empreendido pelas lideranças dos

principais segmentos que compõem a cadeia da suinocultura. Esse melhor gerenciamento induziu

a ocorrência de dois fenômenos: a especialização e a adoção sistemática de novas tecnologias.

A especialização e a adoção de tecnologias modernas têm possibilitado investimentos

no desenvolvimento e produção de insumos de alta qualidade, objetivando atender ao

requerimento de todos os segmentos da cadeia de carne suína. Nesse contexto, um dos

segmentos que mais tem evoluído nos últimos anos é a qualidade genética dos reprodutores,

machos e fêmeas, usados nas granjas comerciais visando à produção de suínos para abate. O

uso cada vez mais intenso de material genético de alta qualidade para produção de suínos

decorre da percepção de que a qualidade genética limita o potencial de transformação da nutrição

e de outros insumos, em carne suína. E, se for considerado que o custo do material genético

geralmente se situa abaixo de 3% do custo de produção de suínos, parece lógico que seja dada à

devida ênfase à influência econômica do potencial genético de reprodutores na suinocultura

industrial.

Evolução genética na suinocultura

A percepção dos benefícios advindos do programa genético em granjas comerciais de

suínos tem evoluído nos últimos anos em conseqüência da adoção de melhores controles, do

melhor gerenciamento técnico e econômico da atividade e do aumento no nível de competitividade

do negócio produção de suínos.

Há alguns anos, as decisões relacionadas à utilização de reprodutores melhores era

mais simples. As decisões envolviam a substituição de reprodutores de “raças de pelagem

colorida” por reprodutores de “raças brancas” ou ainda à utilização de matrizes híbridas ao invés

de usar matrizes de raça pura. Com o incremento no uso de tecnologias aplicadas aos programas

comerciais de melhoramento genético de suínos e a melhor qualidade genética dos reprodutores

produzidos, o uso de material genético especializado em granjas comerciais destinadas à

produção de suínos para abate aumentou acentuadamente.

57

O desenvolvimento e a condução de um programa genético têm proporcionado, nos

últimos anos, um progresso genético anual significativo, cujo valor tem variado entre 1 a 3 %,

dependendo da característica considerada. No quadro 1, está apresentado o progresso genético

médio anual do programa genético da Agroceres PIC nos últimos 10 anos.

Quadro 1 – Progresso Genético Anual Estimado para Linhas da Granja Núcleo

Características Progresso Genético R $/ Suíno

Peso ao abate (Kg) 1,20 1,08

Conversão alimentar -0,023 1,14

% Carne magra 0,285 0,63

Total nascidos/leitegada 0,12 0,34

Valor Total 3,18

Quadro 2 – Evolução prevista nos índices de produtividade para os próximos 10 anos em granjas

de alta tecnologia.

Índices Zootécnicos Anos VARIAÇÃO (%)

2007 2017 2017-2007

Nr. Leitões Desmamados/Parto 11,02 12,48 14,2

Número de Partos/Matriz/Ano 2,48 2,49 0,8

Nr. Animais Terminados/Matriz/Ano 26,0 29,8 14,6

Idade ao Abate (Dias) 165,0 154,5 -6,4

Peso ao Abate (Kg) 115,0 120,0 4,3

CA por Animal Terminado 2,40 2,22 -7,6

Conversão Alimentar de Plantel 2,79 2,54 -8,8

Carne Magra (%) 55,0 56,5 2,7

Carne Magra/matriz/ano (Kg) 1215 1500 23,3

A interpretação dos resultados apresentados no quadro 1 é de que, a cada ano, os

suínos produzidos para o abate valem, em média, R$ 3,18 a mais, e esse é o valor deixado de

ganhar, caso seja interrompida, durante um período de um ano, a reposição regular de material

genético em uma granja de produção de suínos para abate. Esse valor, se analisado num espaço

de tempo de apenas 1 ano e comparando com o faturamento médio por animal vendido, não

representa muito; mas, se for avaliado durante um período de tempo maior, os resultados são

evidentes.

58

Considerando o alto índice de produtividade atual da suinocultura, os diferentes nichos

de mercados e a crescente exigência do mercado consumidor por carne de qualidade (palatável,

saudável e barata), o nível de complexidade dos programas de melhoramento genético atuais é

muito maior quando comparado com os recursos utilizados, com os procedimentos e objetivos

estabelecidos no passado. Por esse motivo, a PIC (PIG IMPROVEMENT COMPANY), da qual a

Agroceres PIC é sócia, tem investido uma substancial soma de recursos em tecnologias

disponíveis relacionadas às áreas de informação, saúde, genética molecular, genética quantitativa,

para o melhoramento contínuo e acelerado das características que exercem um impacto

econômico significativo na cadeia de produção da carne suína, com o objetivo de disponibilizar

para o mercado, reprodutores com alta capacidade de transformar, principalmente alimentos

vegetais, em carne de boa qualidade a um custo competitivo em relação às outras carnes,

produzindo um produto que, ao mesmo tempo, satisfaça às necessidades do consumidor, do

distribuidor, da indústria.

Neste sentido, nos próximos anos, haverá uma nítida tendência de aumento do número

de suínos produzidos, aumento no peso de abate, melhor qualidade de carcaça e maior economia

de ração.

A reposição genética (matrizes e reprodutores) numa suinocultura tem um impacto de, no máximo, 3 a 4% no custo de produção, mas determina o potencial alcançável no faturamento (quantidade de carne produzida / porca / ano), no custo de produção (conversão alimentar), além de determinar o potencial de qualidade do cevado (qualidade de carcaça e carne).

CONCLUSÃO: A escolha de um programa genético a ser utilizado na suinocultura moderna, não pode ser definida simplesmente por aspectos técnicos parciais, eventuais facilidades de manejo, ou por apenas percepções sem consistência, mas sim pelos aspectos técnicos econômicos, avaliando aquela genética que pode lhe conferir melhor rentabilidade, ou seja, maior ganho financeiro e garantia de sobrevivência num cenário de mercado cada vez mais competitivo!

59