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    discentes universitrios e oferecem reflexes que ajudam a entender tais

    dificuldades. Todavia, faltam ainda investigaes que tratem de maneira mais

    objetiva da intertextualidade e de suas relaes com a argumentao e a funo do

    gnero produzido, tendo em vista que a intertextualidade e a argumentao so

    capacidades essenciais na universidade (MACHADO, 2005).

    Nesse contexto, preciso lembrar que, no caso de estudantes de Letras,

    eles so/sero profissionais cujo objeto de trabalho consiste/consistir

    essencialmente na escrita, utilizada para si prprio, para o ensino ou para

    divulgao em publicaes de diversas naturezas (livros, peridicos, materiais

    didticos, etc). Nos diferentes nveis de ensino, esse profissional formar outros

    futuros profissionais ou ser referncia para futuros leitores de suas publicaes.

    Esses fatores reafirmam a importncia da escrita para os estudantes mencionados.

    Contudo, de acordo com Arajo (2000), as escolas e universidades brasileiras tm

    dado pouca ateno produo de gneros acadmicos. Os estudantes, segundo a

    autora, precisam de informao direcionada para a produo eficaz e para a

    circulao dos textos.

    No presente trabalho, nosso objetivo discutir sobre a escrita de resenhas

    no Ensino Superior, focalizando a intertextualidade, elemento de grande

    importncia no gnero investigado, os modos de construo e os efeitos da mesma

    para a funo da resenha. Para tanto, apresentamos na seo 2 os conceitos e

    principais caractersticas do gnero resenha. Na seo 3, analisamos o domnio em

    produzir resenhas demonstrado em uma produo textual de aluno da graduao

    em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo essa produo

    representativa de um corpus coletado na Faculdade de Letras da referida instituiodurante uma pesquisa de mestrado que realizamos sobre a escrita de resenhas no

    Ensino Superior (LIMA-SILVA, 2009). Por ltimo, refletimos sobre as relaes entre

    o conhecimento e o domnio do gnero resenha.

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    2. O GNERO RESENHA

    Machado (2005) descreve a resenha acadmica com base em um modelo de

    anlise das operaes de linguagem. Para Machado (2005), a produo textual

    compreende operaes de ao, discursivas e lingustico-discursivas.

    As operaes de ao esto relacionadas s representaes do meio fsico,

    dos participantes que interagem na situao comunicativa, da instituio onde o

    texto produzido, dos objetivos e do conhecimento de mundo que pode de ser

    mobilizado para a produo textual. Quanto situao de produo e mobilizao

    de contedos, a leitura, interpretao e sumarizao antecedem a produo da

    resenha, a qual apresenta as informaes centrais do TF. Logo, resumir com eficcia

    um texto condio essencial para resenh-lo (MACHADO, 2003; 2005). Ao

    mobilizar operaes de ao na produo de resenha, o produtor pode mobilizar

    contedos de outros textos, a fim de comparar e avaliar o TF.

    Os leitores da resenha podero concordar ou no com o resenhador.

    Portanto, a resenha deve conter argumentos convincentes, elaborados a partir de

    contedos adequados para a argumentao no contexto acadmico (MACHADO,

    2005). Desse modo, no processo de ensino-aprendizagem da resenha essencial

    instrumentalizar o estudante para que ele desenvolva sua competncia

    argumentativa.

    Quanto s operaes discursivas, elas dizem respeito planificao textual,

    organizao sequencial e sua articulao, escolha e elaborao dos contedos. Naresenha acadmica, a apresentao do TF se d pela predominncia de sequncias

    descritivas (MOTTA-ROTH, 1996) que orientam o leitor quanto organizao e

    tratamento dos contedos nesse texto, seguindo a ordem de ocorrncia dos

    contedos do TF.

    Outra caracterstica do gnero em questo a de que, atravs de um

    trabalho interpretativo, o resenhador utiliza verbos que atribuem ao autor do TF as

    aes: examina, classifica, analisa, comenta, prope, etc. As aes podem ser

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    tambm atribudas ao TF, com o uso de expresses como o livro apresenta,

    inicialmente, a seguir, etc.

    Em relao s operaes lingustico-discursivas, a elaborao da resenha

    engloba os mecanismos de textualizao (conexo e segmentao das partes do

    texto, coeso nominal e verbal); os mecanismos enunciativos (de insero de

    vozes); as modalizaes e as escolhas lexicais. A coeso nominal ocorre na resenha

    pela repetio do nome completo do autor, de uma parte, pelo apagamento ou pela

    substituio o autor, o pesquisador, etc. A coeso se d tambm no referente

    obra, atravs da indicao do ttulo do livro no incio e da retomada como a obra, o

    estudo, etc. No tocante aos mecanismos enunciativos, a resenha constituda por

    ideias do resenhador e a do autor do TF, que so distinguidas com a utilizao de

    expresses do tipo segundo x, seguido de parfrase ou citao direta; uso de

    aspas ou aspas para termos tcnicos utilizados pelo autor(es) do texto(s)

    resenhado; discurso direto destacado por aspas; discurso indireto, introduzido por

    verbos como diz que, sustenta que, etc. Podem ser utilizadas tambm expresses

    do tipo O livro apresenta..., O autor apresenta..., etc. Os mecanismos

    enunciativos contribuem para a coerncia pragmtica da produo, conforme

    Bronckart (1999). Quanto aos mecanismos de textualizao no gnero resenha,

    eles so caracterizados apenas superficialmente por Machado (2005).

    Motta-Roth (2001) denomina as partes que constituem a resenha acadmica

    de movimentos retricos, estruturados em subfunes, que podem aparecer

    separada ou alternadamente. Para a autora, a resenha se organiza a partir dos

    seguintes movimentos retricos e subfunes:

    APRESENTAO E AVALIAO INICIAL: Informar a refernciabibliogrfica no topo da pgina; Informar o tema do livro; Definir opblico-alvo; Fornecer informaes sobre o autor; Inserir o livro na rea;Apresentar uma avaliao geral e concisa.DESCRIO: Descrever a organizao geral do livro; Especificar ocontedo de cada parte; Citar outros materiais.AVALIAO DE PARTES: Avaliar partes especficas E/OU Criticar partesespecficas do livro.AVALIAO FINAL: Avaliar o livro de forma geral E/OU Criticar o livro deforma geral; Recomendar ou no do livro OU Recomendar o livro comrestries.

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    Assim como Motta-Roth (2001), consideramos que a resenha ao mesmo

    tempo informativa e avaliativa, sendo a avaliao a funo definidora da resenha.

    Tal gnero reorganiza o conhecimento em determinada disciplina, bem como as

    relaes de poder.

    Com base nos autores apresentados, percebemos que a produo eficaz da

    resenha na comunidade acadmica depende da articulao entre a descrio e o

    posicionamento consistente sobre o TF para a produo do gnero de maneira

    articulada. Como produtor desse gnero, o aluno desafiado a estabelecer

    claramente no seu texto os limites entre as suas ideias e as ideias do TF, bem como

    argumentar a partir do contedo apresentado nesse texto (MACHADO, 2005;

    MOTTA-ROTH, 2001).

    O sentido de um texto, e, portanto, da resenha, depende em parte da

    comunidade discursiva em que ela produzida, isto , da comunidade acadmica.

    Nessa comunidade, o aluno-produtor da resenha ressignifica o TF. Espera-se que tal

    produtor busque convencer os leitores, atendendo s exigncias do contexto em

    que o gnero produzido.

    3. O DOMNIO DA RESENHA

    Neste artigo, analisamos uma produo elaborada a partir de uma proposta

    de escrita do gnero resenha, no contexto de uma pesquisa de mestrado sobre o

    referido gnero (LIMA-SILVA, 2009). A produo apresentada no presente trabalho representativa de um total de vinte e oito (28) que constituram o corpus de

    anlise da pesquisa realizada na Faculdade de Letras da Universidade Federal de

    Minas Gerais, como mencionamos na Introduo. O TF utilizado como base para a

    escrita das resenhas foi o livro Pesquisa na Escola: o que , como se faz, de Marcos

    Bagno (publicado pelas Edies Loyola, em 1998).

    Como no exemplo a seguir, as produes analisadas em nossa pesquisa

    tendem a revelar, inicialmente, uma ambiguidade de autoria de ideias, presente na

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    maior parte do texto e/ou na construo do ponto de vista. Quando apresentada na

    maior parte do texto, a ambiguidade de autoria de ideias no deixa claro para o

    leitor os limites entre as informaes do TF e as possveis opinies do produtor. J a

    ambiguidade de autoria de ideias presente na construo da opinio consiste em

    retomar informaes do TF como nica fonte de argumentos, tornando essas

    informaes opinies prprias. Apresentamos um exemplo em que h ambiguidade

    de autoria das ideias em todo o texto, inclusive em um pretenso ponto de vista:

    P01:

    Pesquisa na Escola: o que , como se faz (Marcos Bagno)

    Pesquisa na escola um livro que aborda a forma como cobrada os trabalhos e pesquisas na escola. Marcos Bagno critica a formacomo alguns professores ainda solicitam o trabalho. dado umdeterminado tema e pede-se para ser entregue em uma data. E deixa issopor conta do aluno, sem ensinar os mtodos de como pesquisar, em quefontes deve-se procurar. Pesquisa uma palavra que veio do espanholherdada do latim e significa ao p da letra: procurar, buscar comcuidado; procurar por toda parte; informar-se; inquirir; perguntar; indagarbem, aprofundar na busca. Por isso Bagno critica tanto a forma como ostrabalhos so solicitados porque, de acordo com a origem da palavra, aideia que a busca seja feita com cuidado e profundidade. No serveapenas para ser feita de uma forma superficial, para distribuir pontos dosemestre, mas para que o aluno adquira conhecimento do temasolicitado.

    Bagno d um exemplo de pesquisa sobre vida e obra de MonteiroLobato. Ele sugere, primeiramente, que haja um projeto para se iniciar atarefa. Esse projeto permite que o aluno se organize e tenha em mente oque deve priorizar, como: ttulo, objetivo, justificativa, metodologia,produto final, fontes de consulta e cronograma, por exemplo. Com oprojeto j montado, busca-se o contedo da pesquisa, atravs deenciclopdias, internet, CD-ROM, em biografias, etc. Depois de finalizar otexto com as informaes necessrias, interessante aquilo no ficarapenas entre o professor e o aluno, mas inventar uma maneirainteressante de se divulgar o texto. Dessa forma, o pesquisador ficaria

    mais interessado em fazer um trabalho bem feito, visto que no seriaapenas para ele obter pontos em uma matria, mas sim para que outraspessoas tambm aprendessem sobre o tema que ele est abordando emseu trabalho.

    Bagno tambm fala sobre as variadas formas que a pesquisa podeser realizada. No s atravs desses trabalhos que j so pedidosnormalmente na escola, mas sim fazer com que seja algo constante. Porexemplo: toda semana pedir para que os alunos tragam uma notcia dejornal ou revista que lhes pareceu interessante. A notcia pode ser lida ecomentada atravs de um debate. Encoraj-los a falar sobre algo quegostaram ou no gostaram, deixar que eles exponham seu ponto de vistasem reprimir, para que eles se sintam vontade e no fiquem inibidos. E

    pode soar esquisito, mas alguns professores reprimem alguns alunos,muitas vezes sendo grosseiros e no conseguindo entender a dvida ou

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    comentrio desses alunos. Esses, por sua vez, que j eram tmidos,passam a ter medo de se expor para o professor, principalmente diantedos colegas que podem fazer com que aquele momento sejaextremamente traumtico. Por isso, papel do professor fazer com queisso no acontea, para que o aluno consiga tirar suas dvidas e falar a

    sua opinio sem medo de uma reao ruim ou de fazer com que aquelasituao seja constrangedora.Atravs desse livro do Marcos Bagno foi possvel ver a importncia

    real de uma pesquisa que, muito mais do que receber pontos e seravaliado, o aluno ir adquirir mais conhecimento com relao ao temaestudado e poder tambm passar isso adiante. Vai mostrar para o alunotambm que pesquisa no s para a sala de aula, mas para toda a suavida, para coisas cotidianas, para seu desenvolvimento psicolgico eintelectual, para aprender sobre as diferenas que existem no mundo epara ter uma noo de qual caminho ser melhor para ele seguir.

    Essa resenha apresenta ambiguidade de autoria das ideias e reelaborao de

    algumas informaes contraditrias quanto ao sentido do TF, o que pode impedir o

    leitor de possuir uma noo real do que defendido no texto-fonte atravs da

    leitura da resenha. Portanto, o objetivo do gnero em apresentar um TF no se

    efetiva na P01. O mesmo ocorre com a avaliao desse texto, que se apresenta no

    exemplo em questo apenas como uma tentativa mal sucedida. O produtor da P01

    no consegue agir como membro da esfera acadmica atravs da sua produo.

    A P01 constituda por sequncias descritivas e sequncias expositivas queem alguns momentos possuem coeso e contribuem para a coerncia, como no

    pargrafo 2; e em outros momentos contm informaes de vrias sees do TF

    que so justapostas, se referindo a diferentes objetos do discurso, sem uma clara

    relao semntica. Exemplo disso o pargrafo 3: fala-se primeiramente da

    necessidade de pesquisa constante na escola; depois sobre as relaes entre alunos

    e professor no processo de ensino-aprendizagem .

    Vale destacar que h nas sequncias descritivas expresses que sinalizam o

    pensamento do autor do TF: Marcos Bagno critica; ele sugere , etc. Entretanto,

    a ausncia de mecanismos enunciativos prximos ao discurso direto constituinte

    das sequncias expositivas prejudica os efeitos de sentido possveis de serem

    construdos acerca do contedo do TF com base na leitura da P01, pois informaes

    do TF so retomadas sem indicar autoria, o que pode ser constatado a seguir:

    TF:

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    Estas ltimas sugestes (...) so um estmulo para que os alunos semanifestem em sala de aula, para que tenham voz e opinio prpria.Precisamos derrubar esse mito autoritrio de que a escola o repositrioexclusivo do saber, de que s ela tem o que transmitir em termo deconhecimento e cultura! No existe professor, por mais culto e bem

    informado que seja, que no tenha sempre o que aprender, no ?(BAGNO,1998, p.59)P01:

    E pode soar esquisito, mas alguns professores reprimem algunsalunos, muitas vezes sendo grosseiros e no conseguindo entender advida ou comentrio desses alunos. Esses, por sua vez, que j eramtmidos, passam a ter medo de se expor para o professor, principalmentediante dos colegas que podem fazer com que aquele momento sejaextremamente traumtico. Por isso, papel do professor fazer com queisso no acontea, para que o aluno consiga tirar suas dvidas e falar asua opinio sem medo de uma reao ruim ou de fazer com que aquelasituao seja constrangedora. (l 29-36)

    Tal como apresentadas, as ideias destacas no trecho da P01 retomam ideias

    do livro resenhado. Na verdade, elas consistem em uma interpretao equivocada,

    que contradiz o sentido do que apresentado no TF. Alm do mais, se declara na

    P01 que alguns professores reprimem seus alunos muitas vezes sendo grosseiros e

    no conseguindo entender a dvida ou comentrio desses alunos, enquanto o TF

    sugere que os professores no so os nicos que possuem o saber. O fato de os

    alunos se sentirem tmidos e constrangidos na sala de aula tambm no

    diretamente mencionado no TF, no qual defendido que os alunos se manifestem

    em sala de aula, (...) tenham voz e opinio prpria.

    A organizao do contedo da P01 se inicia com a indicao do tema do TF,

    seguida da descrio. No momento da descrio, falta a apresentao da segunda

    parte do TF. Em contrapartida, a primeira parte do TF apresentada em detalhes,

    mostrando dificuldades do produtor em sintetizar o contedo.

    A escolha da voz passiva e a impessoalizao das aes relacionadas aos

    verbos empregados impedem que o leitor que no conhece o TF afirme, com

    certeza, se o projeto e a busca do contedo da pesquisa devem ser realizados pelo

    professor ou pelo aluno.

    Do ponto de vista da estrutura, poderamos afirmar que temos uma

    avaliao do texto no pargrafo final da P01. Porm, considerando que os gneros

    so determinados mais pela funo do que pela forma (MARCUSCHI, 2002), o

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    contedo do pargrafo apresentado , em essncia, descritivo, pois, embora revele

    a inteno em expressar um ponto de vista sobre o TF, apenas retoma ideias desse

    texto, sem acrscimo de um posicionamento. Temos, portanto, um exemplo de

    produo textual em que o indivduo que a elaborou tenta produzir uma resenha,

    mas no consegue materializar a funo desse gnero no plano do texto,

    produzindo, na verdade, um resumo.

    Observemos a concluso da P01, comparando-a com trechos do TF:

    TF:(1a) O professor pede uma pesquisa ao aluno. Ela a faz do jeito que pode eleva-a para o professor. Este passa os olhos pelo trabalho, d uma nota e

    o devolve ao aluno. ou no um absurdo? (...) A pesquisa tem que daraquela contribuio de que j falamos, para o aperfeioamentointelectual do indivduo, da turma, da escola, da comunidade... (BAGNO,1998, p. 31)(2a) Em resumo, podemos dizer que a pesquisa est presente: no dia-a-dia, nas aes mais corriqueiras; no desenvolvimento da cincia; no avano tecnolgico; no progresso intelectual de um indivduo.(...) (3a) Se quisermos que nossos alunos tenham algum sucesso na suaatividade futura seja ela do tipo que for: cientfica, artstica, comercial,industrial, tcnica, religiosa, intelectual.. , fundamental e indispensvel

    que aprendam a pesquisar. E s aprendero a pesquisar se os professoressouberem ensinar. (BAGNO, 1998, p. 21)P01:Atravs desse livro do Marcos Bagno foi possvel ver a importncia real deuma pesquisa que, (1b) muito mais do que receber pontos e ser avaliado,o aluno ir adquirir mais conhecimento com relao ao tema estudado e(3b) poder tambm passar isso adiante. (2b) Vai mostrar para o alunotambm que pesquisa no s para a sala de aula, mas para toda a suavida, para coisas cotidianas, para seu desenvolvimento psicolgico eintelectual, para aprender sobre as diferenas que existem no mundo epara ter uma noo de qual caminho ser melhor para ele seguir. (l 37-43)

    O incio da concluso (1b) reelaborado com base em duas ideias presentes

    no primeiro fragmento (1a) do TF: 1) a crtica prtica de o professor solicitar uma

    pesquisa simplesmente para dar nota; 2) e a defesa de que a pesquisa tem de

    contribuir para o desenvolvimento do aluno, da turma, da escola e da comunidade.

    As nicas ideias que revelam o posicionamento do produtor so foi possvel ver a

    importncia real de uma pesquisa, demonstrando elogio ao TF.

    J a ideia expressa em poder passar isso adiante (3b) refere-se

    expresso do TF Se quisermos que nossos alunos tenham algum sucesso na sua

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    atividade futura (3a). Tambm a defesa de que a pesquisa est presente na prpria

    vida e no desenvolvimento intelectual de um indivduo (2a) retoma o TF, como

    percebemos em (2b). A concluso da P01 limita-se ao ponto de vista do texto

    resenhado.

    A P01 se constitui unicamente pelo contedo do TF. Ela organizada em

    sequncias descritivas, expositivas e sem posicionamento efetivo do produtor.

    Embora o produtor demonstre conhecimento da funo da resenha em avaliar,

    atravs do estilo e do elogio presentes na concluso do seu texto, esse

    conhecimento no garante o domnio do gnero solicitado para produo. Como j

    afirmamos, dominar o gnero resenha depende do desenvolvimento conjunto de

    competncias e habilidades durante o processo de produo textual, como a

    exposio de opinies consistentes e a leitura, essa aqui entendida como

    apreenso, compreenso, inferncia e transformao de significados a partir de

    um registro escrito (DELLISOLA, 1988, p. 38). E transformar significados

    pressupe, antes, avaliar, analisar, refletir.

    A tentativa de construo de um ponto de vista na P01 revela, em primeiro

    lugar, a simples decodificao e apreenso do TF sem efetiva compreenso que

    permitisse ao produtor reconstruir o significado desse texto, e no tornar ideias

    dele como prprias. Os problemas de leitura so confirmados ao longo da P01, com

    a seleo de informaes que parecem apenas detalhar partes especficas do TF e,

    consequentemente, ausncia de informaes relacionadas ao objetivo declarado

    por esse texto.

    Em segundo lugar, a tentativa mal sucedida em construir um ponto de vista

    no exemplo analisado demonstra pouco desenvolvimento da competnciaargumentativa na produo de resenha. Essa tentativa demonstra tambm

    dificuldades em empregar mecanismos enunciativos, dificuldades essas que, nas

    resenhas iniciais do TF, prejudicam o reconhecimento e a clareza do ponto de vista.

    O produtor do exemplo apresentado, que na poca da coleta de dados se

    encontrava na fase final do curso, no assume em sua escrita total nem

    parcialmente a posio de membro que l ativamente, compreende, avalia e

    retextualiza discursos gerados na esfera acadmica, da qual ele participa quando

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    empreende essas trs aes, sendo a leitura o ponto de partida. Nesse sentido, vale

    lembrar que a leitura uma atividade contextual (DELLISOLA, 1998), e, assim

    sendo, sua prtica depende da incorporao dos propsitos comunicativos e das

    caractersticas da esfera em que ela se realiza, como sugere Bazerman (2006).

    A intertextualidade e a exposio de um ponto de vista consistente so

    aspectos centrais na resenha e na esfera acadmica. Portanto, sem esses aspectos

    no h participao efetiva do indivduo na divulgao e produo do conhecimento

    cientfico. Reconhecemos que delimitar com clareza a autoria das ideias na resenha

    pode no ser uma atividade fcil nem mesmo para ps-graduandos, membros mais

    experientes na esfera acadmica. Reconhecemos tambm que oferecer ao leitor

    essa clareza nem sempre possvel. Por outro lado, defendemos que as

    dificuldades do produtor em empregar mecanismos enunciativos e as dificuldades

    do leitor em identificar a autoria poderiam ser minimizadas se houvesse mais

    ateno para essas dificuldades no ensino-aprendizagem de gneros acadmicos,

    posio que assumida tambm por Machado (2003; 2005) e por Oliveira (2004).

    Nesse sentido, a ambiguidade de autoria deixa ntida a importncia de um

    ensino-aprendizagem que considere a construo da intertextualidade, marcada

    no s na resenha, como em outros gneros cujas habilidades so semelhantes

    quelas exigidas para sua produo, a exemplo da fundamentao terica presente

    em artigos e ensaios acadmicos, monografias, dissertaes, teses, etc.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Em nosso cotidiano, quando nos solicitado escrever algum gnero,

    algumas vezes questionamos sobre como dizer o que precisamos comunicar ou,

    pelo menos, sobre a estrutura e o estilo de linguagem tpicos do gnero.

    Questionamentos como esse so realizados com frequncia por alunos

    universitrios, em especial se eles forem inexperientes ou tiverem pouca

    experincia na produo do gnero textual solicitado.

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    A necessidade de saber como dizeratesta que o conhecimento dos gneros e

    de suas caractersticas no determina o seu domnio, que entendido como a

    habilidade de textualizar as representaes a partir de operaes discursivas e

    lingustico-discursivas, visando se adequar aos parmetros de ao de linguagem

    estabelecidos para as produes textuais em contextos especficos (MACHADO,

    2005). Enfim, dominar um gnero apropriar-se dos conceitos e procedimentos

    acadmico-cientficos, saber fazer e, mais do que isso, apropriar-se tambm dos

    modos de referncia e da textualizao dos saberes, saber dizer para que os

    objetivos da atividade sejam alcanados (MATENCIO, 2003). Embora no seja

    possvel identificar plenamente o conhecimento dos gneros nas produes

    textuais, desse conhecimento e da habilidade em saber dizerdepende a capacidade

    em textualizar o gnero. Esse saber dizermerece ateno para o planejamento de

    aes didticas que favoream o desenvolvimento do aluno como produtor de

    resenha e, consequentemente, participante ativo do discurso acadmico.

    5. REFERNCIAS

    ARAJO, Antonia Dilamar. Anlise de gnero: uma abordagem alternativa para oensino da redao acadmica. In: FORTKAMP, M. B. M. & TOMITCH, L. M. B. (Orgs.).

    Aspectos da Lingustica Aplicada: estudos em homenagem ao Professor Hilrio Incio

    Bohn. Florianpolis: Insular, 2000.

    BAZERMAN, Charles. Gnero, Agncia e Escrita. HOFFNAGEL, J. C. & DIONSIO, A. P.

    (Orgs.). Traduo de Judith Chambliss Hoffnagel. So Paulo: Cortez, 2006.

    BRONCKART, Jean Paul. Atividades de linguagem: textos e discursos .Traduo deAnna Rachel Machado e Pricles Cunha. So Paulo: EDUC, 1999.

    DELLISOLA, Regina L. Pret. Leitura: inferncias e contexto scio-cultural. BeloHorizonte: FALE/UFMG, 1988.

    LIMA-SILVA, Ana Virgnia. A Intertextualidade na Produo de Resenha no EnsinoSuperior. 2009. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, BeloHorizonte.

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    MACHADO, A. R. A perspectiva sociodiscursiva de Bronckart. In: MEURER, J. L. et al;(Orgs.). Gneros: teorias, mtodos, debates. So Paulo: Parbola, 2005. p. 237-259.

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