ANA VIRGINIA - PRODUÇÃO DE RESENHA
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discentes universitrios e oferecem reflexes que ajudam a entender tais
dificuldades. Todavia, faltam ainda investigaes que tratem de maneira mais
objetiva da intertextualidade e de suas relaes com a argumentao e a funo do
gnero produzido, tendo em vista que a intertextualidade e a argumentao so
capacidades essenciais na universidade (MACHADO, 2005).
Nesse contexto, preciso lembrar que, no caso de estudantes de Letras,
eles so/sero profissionais cujo objeto de trabalho consiste/consistir
essencialmente na escrita, utilizada para si prprio, para o ensino ou para
divulgao em publicaes de diversas naturezas (livros, peridicos, materiais
didticos, etc). Nos diferentes nveis de ensino, esse profissional formar outros
futuros profissionais ou ser referncia para futuros leitores de suas publicaes.
Esses fatores reafirmam a importncia da escrita para os estudantes mencionados.
Contudo, de acordo com Arajo (2000), as escolas e universidades brasileiras tm
dado pouca ateno produo de gneros acadmicos. Os estudantes, segundo a
autora, precisam de informao direcionada para a produo eficaz e para a
circulao dos textos.
No presente trabalho, nosso objetivo discutir sobre a escrita de resenhas
no Ensino Superior, focalizando a intertextualidade, elemento de grande
importncia no gnero investigado, os modos de construo e os efeitos da mesma
para a funo da resenha. Para tanto, apresentamos na seo 2 os conceitos e
principais caractersticas do gnero resenha. Na seo 3, analisamos o domnio em
produzir resenhas demonstrado em uma produo textual de aluno da graduao
em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo essa produo
representativa de um corpus coletado na Faculdade de Letras da referida instituiodurante uma pesquisa de mestrado que realizamos sobre a escrita de resenhas no
Ensino Superior (LIMA-SILVA, 2009). Por ltimo, refletimos sobre as relaes entre
o conhecimento e o domnio do gnero resenha.
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2. O GNERO RESENHA
Machado (2005) descreve a resenha acadmica com base em um modelo de
anlise das operaes de linguagem. Para Machado (2005), a produo textual
compreende operaes de ao, discursivas e lingustico-discursivas.
As operaes de ao esto relacionadas s representaes do meio fsico,
dos participantes que interagem na situao comunicativa, da instituio onde o
texto produzido, dos objetivos e do conhecimento de mundo que pode de ser
mobilizado para a produo textual. Quanto situao de produo e mobilizao
de contedos, a leitura, interpretao e sumarizao antecedem a produo da
resenha, a qual apresenta as informaes centrais do TF. Logo, resumir com eficcia
um texto condio essencial para resenh-lo (MACHADO, 2003; 2005). Ao
mobilizar operaes de ao na produo de resenha, o produtor pode mobilizar
contedos de outros textos, a fim de comparar e avaliar o TF.
Os leitores da resenha podero concordar ou no com o resenhador.
Portanto, a resenha deve conter argumentos convincentes, elaborados a partir de
contedos adequados para a argumentao no contexto acadmico (MACHADO,
2005). Desse modo, no processo de ensino-aprendizagem da resenha essencial
instrumentalizar o estudante para que ele desenvolva sua competncia
argumentativa.
Quanto s operaes discursivas, elas dizem respeito planificao textual,
organizao sequencial e sua articulao, escolha e elaborao dos contedos. Naresenha acadmica, a apresentao do TF se d pela predominncia de sequncias
descritivas (MOTTA-ROTH, 1996) que orientam o leitor quanto organizao e
tratamento dos contedos nesse texto, seguindo a ordem de ocorrncia dos
contedos do TF.
Outra caracterstica do gnero em questo a de que, atravs de um
trabalho interpretativo, o resenhador utiliza verbos que atribuem ao autor do TF as
aes: examina, classifica, analisa, comenta, prope, etc. As aes podem ser
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tambm atribudas ao TF, com o uso de expresses como o livro apresenta,
inicialmente, a seguir, etc.
Em relao s operaes lingustico-discursivas, a elaborao da resenha
engloba os mecanismos de textualizao (conexo e segmentao das partes do
texto, coeso nominal e verbal); os mecanismos enunciativos (de insero de
vozes); as modalizaes e as escolhas lexicais. A coeso nominal ocorre na resenha
pela repetio do nome completo do autor, de uma parte, pelo apagamento ou pela
substituio o autor, o pesquisador, etc. A coeso se d tambm no referente
obra, atravs da indicao do ttulo do livro no incio e da retomada como a obra, o
estudo, etc. No tocante aos mecanismos enunciativos, a resenha constituda por
ideias do resenhador e a do autor do TF, que so distinguidas com a utilizao de
expresses do tipo segundo x, seguido de parfrase ou citao direta; uso de
aspas ou aspas para termos tcnicos utilizados pelo autor(es) do texto(s)
resenhado; discurso direto destacado por aspas; discurso indireto, introduzido por
verbos como diz que, sustenta que, etc. Podem ser utilizadas tambm expresses
do tipo O livro apresenta..., O autor apresenta..., etc. Os mecanismos
enunciativos contribuem para a coerncia pragmtica da produo, conforme
Bronckart (1999). Quanto aos mecanismos de textualizao no gnero resenha,
eles so caracterizados apenas superficialmente por Machado (2005).
Motta-Roth (2001) denomina as partes que constituem a resenha acadmica
de movimentos retricos, estruturados em subfunes, que podem aparecer
separada ou alternadamente. Para a autora, a resenha se organiza a partir dos
seguintes movimentos retricos e subfunes:
APRESENTAO E AVALIAO INICIAL: Informar a refernciabibliogrfica no topo da pgina; Informar o tema do livro; Definir opblico-alvo; Fornecer informaes sobre o autor; Inserir o livro na rea;Apresentar uma avaliao geral e concisa.DESCRIO: Descrever a organizao geral do livro; Especificar ocontedo de cada parte; Citar outros materiais.AVALIAO DE PARTES: Avaliar partes especficas E/OU Criticar partesespecficas do livro.AVALIAO FINAL: Avaliar o livro de forma geral E/OU Criticar o livro deforma geral; Recomendar ou no do livro OU Recomendar o livro comrestries.
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Assim como Motta-Roth (2001), consideramos que a resenha ao mesmo
tempo informativa e avaliativa, sendo a avaliao a funo definidora da resenha.
Tal gnero reorganiza o conhecimento em determinada disciplina, bem como as
relaes de poder.
Com base nos autores apresentados, percebemos que a produo eficaz da
resenha na comunidade acadmica depende da articulao entre a descrio e o
posicionamento consistente sobre o TF para a produo do gnero de maneira
articulada. Como produtor desse gnero, o aluno desafiado a estabelecer
claramente no seu texto os limites entre as suas ideias e as ideias do TF, bem como
argumentar a partir do contedo apresentado nesse texto (MACHADO, 2005;
MOTTA-ROTH, 2001).
O sentido de um texto, e, portanto, da resenha, depende em parte da
comunidade discursiva em que ela produzida, isto , da comunidade acadmica.
Nessa comunidade, o aluno-produtor da resenha ressignifica o TF. Espera-se que tal
produtor busque convencer os leitores, atendendo s exigncias do contexto em
que o gnero produzido.
3. O DOMNIO DA RESENHA
Neste artigo, analisamos uma produo elaborada a partir de uma proposta
de escrita do gnero resenha, no contexto de uma pesquisa de mestrado sobre o
referido gnero (LIMA-SILVA, 2009). A produo apresentada no presente trabalho representativa de um total de vinte e oito (28) que constituram o corpus de
anlise da pesquisa realizada na Faculdade de Letras da Universidade Federal de
Minas Gerais, como mencionamos na Introduo. O TF utilizado como base para a
escrita das resenhas foi o livro Pesquisa na Escola: o que , como se faz, de Marcos
Bagno (publicado pelas Edies Loyola, em 1998).
Como no exemplo a seguir, as produes analisadas em nossa pesquisa
tendem a revelar, inicialmente, uma ambiguidade de autoria de ideias, presente na
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maior parte do texto e/ou na construo do ponto de vista. Quando apresentada na
maior parte do texto, a ambiguidade de autoria de ideias no deixa claro para o
leitor os limites entre as informaes do TF e as possveis opinies do produtor. J a
ambiguidade de autoria de ideias presente na construo da opinio consiste em
retomar informaes do TF como nica fonte de argumentos, tornando essas
informaes opinies prprias. Apresentamos um exemplo em que h ambiguidade
de autoria das ideias em todo o texto, inclusive em um pretenso ponto de vista:
P01:
Pesquisa na Escola: o que , como se faz (Marcos Bagno)
Pesquisa na escola um livro que aborda a forma como cobrada os trabalhos e pesquisas na escola. Marcos Bagno critica a formacomo alguns professores ainda solicitam o trabalho. dado umdeterminado tema e pede-se para ser entregue em uma data. E deixa issopor conta do aluno, sem ensinar os mtodos de como pesquisar, em quefontes deve-se procurar. Pesquisa uma palavra que veio do espanholherdada do latim e significa ao p da letra: procurar, buscar comcuidado; procurar por toda parte; informar-se; inquirir; perguntar; indagarbem, aprofundar na busca. Por isso Bagno critica tanto a forma como ostrabalhos so solicitados porque, de acordo com a origem da palavra, aideia que a busca seja feita com cuidado e profundidade. No serveapenas para ser feita de uma forma superficial, para distribuir pontos dosemestre, mas para que o aluno adquira conhecimento do temasolicitado.
Bagno d um exemplo de pesquisa sobre vida e obra de MonteiroLobato. Ele sugere, primeiramente, que haja um projeto para se iniciar atarefa. Esse projeto permite que o aluno se organize e tenha em mente oque deve priorizar, como: ttulo, objetivo, justificativa, metodologia,produto final, fontes de consulta e cronograma, por exemplo. Com oprojeto j montado, busca-se o contedo da pesquisa, atravs deenciclopdias, internet, CD-ROM, em biografias, etc. Depois de finalizar otexto com as informaes necessrias, interessante aquilo no ficarapenas entre o professor e o aluno, mas inventar uma maneirainteressante de se divulgar o texto. Dessa forma, o pesquisador ficaria
mais interessado em fazer um trabalho bem feito, visto que no seriaapenas para ele obter pontos em uma matria, mas sim para que outraspessoas tambm aprendessem sobre o tema que ele est abordando emseu trabalho.
Bagno tambm fala sobre as variadas formas que a pesquisa podeser realizada. No s atravs desses trabalhos que j so pedidosnormalmente na escola, mas sim fazer com que seja algo constante. Porexemplo: toda semana pedir para que os alunos tragam uma notcia dejornal ou revista que lhes pareceu interessante. A notcia pode ser lida ecomentada atravs de um debate. Encoraj-los a falar sobre algo quegostaram ou no gostaram, deixar que eles exponham seu ponto de vistasem reprimir, para que eles se sintam vontade e no fiquem inibidos. E
pode soar esquisito, mas alguns professores reprimem alguns alunos,muitas vezes sendo grosseiros e no conseguindo entender a dvida ou
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comentrio desses alunos. Esses, por sua vez, que j eram tmidos,passam a ter medo de se expor para o professor, principalmente diantedos colegas que podem fazer com que aquele momento sejaextremamente traumtico. Por isso, papel do professor fazer com queisso no acontea, para que o aluno consiga tirar suas dvidas e falar a
sua opinio sem medo de uma reao ruim ou de fazer com que aquelasituao seja constrangedora.Atravs desse livro do Marcos Bagno foi possvel ver a importncia
real de uma pesquisa que, muito mais do que receber pontos e seravaliado, o aluno ir adquirir mais conhecimento com relao ao temaestudado e poder tambm passar isso adiante. Vai mostrar para o alunotambm que pesquisa no s para a sala de aula, mas para toda a suavida, para coisas cotidianas, para seu desenvolvimento psicolgico eintelectual, para aprender sobre as diferenas que existem no mundo epara ter uma noo de qual caminho ser melhor para ele seguir.
Essa resenha apresenta ambiguidade de autoria das ideias e reelaborao de
algumas informaes contraditrias quanto ao sentido do TF, o que pode impedir o
leitor de possuir uma noo real do que defendido no texto-fonte atravs da
leitura da resenha. Portanto, o objetivo do gnero em apresentar um TF no se
efetiva na P01. O mesmo ocorre com a avaliao desse texto, que se apresenta no
exemplo em questo apenas como uma tentativa mal sucedida. O produtor da P01
no consegue agir como membro da esfera acadmica atravs da sua produo.
A P01 constituda por sequncias descritivas e sequncias expositivas queem alguns momentos possuem coeso e contribuem para a coerncia, como no
pargrafo 2; e em outros momentos contm informaes de vrias sees do TF
que so justapostas, se referindo a diferentes objetos do discurso, sem uma clara
relao semntica. Exemplo disso o pargrafo 3: fala-se primeiramente da
necessidade de pesquisa constante na escola; depois sobre as relaes entre alunos
e professor no processo de ensino-aprendizagem .
Vale destacar que h nas sequncias descritivas expresses que sinalizam o
pensamento do autor do TF: Marcos Bagno critica; ele sugere , etc. Entretanto,
a ausncia de mecanismos enunciativos prximos ao discurso direto constituinte
das sequncias expositivas prejudica os efeitos de sentido possveis de serem
construdos acerca do contedo do TF com base na leitura da P01, pois informaes
do TF so retomadas sem indicar autoria, o que pode ser constatado a seguir:
TF:
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Estas ltimas sugestes (...) so um estmulo para que os alunos semanifestem em sala de aula, para que tenham voz e opinio prpria.Precisamos derrubar esse mito autoritrio de que a escola o repositrioexclusivo do saber, de que s ela tem o que transmitir em termo deconhecimento e cultura! No existe professor, por mais culto e bem
informado que seja, que no tenha sempre o que aprender, no ?(BAGNO,1998, p.59)P01:
E pode soar esquisito, mas alguns professores reprimem algunsalunos, muitas vezes sendo grosseiros e no conseguindo entender advida ou comentrio desses alunos. Esses, por sua vez, que j eramtmidos, passam a ter medo de se expor para o professor, principalmentediante dos colegas que podem fazer com que aquele momento sejaextremamente traumtico. Por isso, papel do professor fazer com queisso no acontea, para que o aluno consiga tirar suas dvidas e falar asua opinio sem medo de uma reao ruim ou de fazer com que aquelasituao seja constrangedora. (l 29-36)
Tal como apresentadas, as ideias destacas no trecho da P01 retomam ideias
do livro resenhado. Na verdade, elas consistem em uma interpretao equivocada,
que contradiz o sentido do que apresentado no TF. Alm do mais, se declara na
P01 que alguns professores reprimem seus alunos muitas vezes sendo grosseiros e
no conseguindo entender a dvida ou comentrio desses alunos, enquanto o TF
sugere que os professores no so os nicos que possuem o saber. O fato de os
alunos se sentirem tmidos e constrangidos na sala de aula tambm no
diretamente mencionado no TF, no qual defendido que os alunos se manifestem
em sala de aula, (...) tenham voz e opinio prpria.
A organizao do contedo da P01 se inicia com a indicao do tema do TF,
seguida da descrio. No momento da descrio, falta a apresentao da segunda
parte do TF. Em contrapartida, a primeira parte do TF apresentada em detalhes,
mostrando dificuldades do produtor em sintetizar o contedo.
A escolha da voz passiva e a impessoalizao das aes relacionadas aos
verbos empregados impedem que o leitor que no conhece o TF afirme, com
certeza, se o projeto e a busca do contedo da pesquisa devem ser realizados pelo
professor ou pelo aluno.
Do ponto de vista da estrutura, poderamos afirmar que temos uma
avaliao do texto no pargrafo final da P01. Porm, considerando que os gneros
so determinados mais pela funo do que pela forma (MARCUSCHI, 2002), o
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contedo do pargrafo apresentado , em essncia, descritivo, pois, embora revele
a inteno em expressar um ponto de vista sobre o TF, apenas retoma ideias desse
texto, sem acrscimo de um posicionamento. Temos, portanto, um exemplo de
produo textual em que o indivduo que a elaborou tenta produzir uma resenha,
mas no consegue materializar a funo desse gnero no plano do texto,
produzindo, na verdade, um resumo.
Observemos a concluso da P01, comparando-a com trechos do TF:
TF:(1a) O professor pede uma pesquisa ao aluno. Ela a faz do jeito que pode eleva-a para o professor. Este passa os olhos pelo trabalho, d uma nota e
o devolve ao aluno. ou no um absurdo? (...) A pesquisa tem que daraquela contribuio de que j falamos, para o aperfeioamentointelectual do indivduo, da turma, da escola, da comunidade... (BAGNO,1998, p. 31)(2a) Em resumo, podemos dizer que a pesquisa est presente: no dia-a-dia, nas aes mais corriqueiras; no desenvolvimento da cincia; no avano tecnolgico; no progresso intelectual de um indivduo.(...) (3a) Se quisermos que nossos alunos tenham algum sucesso na suaatividade futura seja ela do tipo que for: cientfica, artstica, comercial,industrial, tcnica, religiosa, intelectual.. , fundamental e indispensvel
que aprendam a pesquisar. E s aprendero a pesquisar se os professoressouberem ensinar. (BAGNO, 1998, p. 21)P01:Atravs desse livro do Marcos Bagno foi possvel ver a importncia real deuma pesquisa que, (1b) muito mais do que receber pontos e ser avaliado,o aluno ir adquirir mais conhecimento com relao ao tema estudado e(3b) poder tambm passar isso adiante. (2b) Vai mostrar para o alunotambm que pesquisa no s para a sala de aula, mas para toda a suavida, para coisas cotidianas, para seu desenvolvimento psicolgico eintelectual, para aprender sobre as diferenas que existem no mundo epara ter uma noo de qual caminho ser melhor para ele seguir. (l 37-43)
O incio da concluso (1b) reelaborado com base em duas ideias presentes
no primeiro fragmento (1a) do TF: 1) a crtica prtica de o professor solicitar uma
pesquisa simplesmente para dar nota; 2) e a defesa de que a pesquisa tem de
contribuir para o desenvolvimento do aluno, da turma, da escola e da comunidade.
As nicas ideias que revelam o posicionamento do produtor so foi possvel ver a
importncia real de uma pesquisa, demonstrando elogio ao TF.
J a ideia expressa em poder passar isso adiante (3b) refere-se
expresso do TF Se quisermos que nossos alunos tenham algum sucesso na sua
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atividade futura (3a). Tambm a defesa de que a pesquisa est presente na prpria
vida e no desenvolvimento intelectual de um indivduo (2a) retoma o TF, como
percebemos em (2b). A concluso da P01 limita-se ao ponto de vista do texto
resenhado.
A P01 se constitui unicamente pelo contedo do TF. Ela organizada em
sequncias descritivas, expositivas e sem posicionamento efetivo do produtor.
Embora o produtor demonstre conhecimento da funo da resenha em avaliar,
atravs do estilo e do elogio presentes na concluso do seu texto, esse
conhecimento no garante o domnio do gnero solicitado para produo. Como j
afirmamos, dominar o gnero resenha depende do desenvolvimento conjunto de
competncias e habilidades durante o processo de produo textual, como a
exposio de opinies consistentes e a leitura, essa aqui entendida como
apreenso, compreenso, inferncia e transformao de significados a partir de
um registro escrito (DELLISOLA, 1988, p. 38). E transformar significados
pressupe, antes, avaliar, analisar, refletir.
A tentativa de construo de um ponto de vista na P01 revela, em primeiro
lugar, a simples decodificao e apreenso do TF sem efetiva compreenso que
permitisse ao produtor reconstruir o significado desse texto, e no tornar ideias
dele como prprias. Os problemas de leitura so confirmados ao longo da P01, com
a seleo de informaes que parecem apenas detalhar partes especficas do TF e,
consequentemente, ausncia de informaes relacionadas ao objetivo declarado
por esse texto.
Em segundo lugar, a tentativa mal sucedida em construir um ponto de vista
no exemplo analisado demonstra pouco desenvolvimento da competnciaargumentativa na produo de resenha. Essa tentativa demonstra tambm
dificuldades em empregar mecanismos enunciativos, dificuldades essas que, nas
resenhas iniciais do TF, prejudicam o reconhecimento e a clareza do ponto de vista.
O produtor do exemplo apresentado, que na poca da coleta de dados se
encontrava na fase final do curso, no assume em sua escrita total nem
parcialmente a posio de membro que l ativamente, compreende, avalia e
retextualiza discursos gerados na esfera acadmica, da qual ele participa quando
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empreende essas trs aes, sendo a leitura o ponto de partida. Nesse sentido, vale
lembrar que a leitura uma atividade contextual (DELLISOLA, 1998), e, assim
sendo, sua prtica depende da incorporao dos propsitos comunicativos e das
caractersticas da esfera em que ela se realiza, como sugere Bazerman (2006).
A intertextualidade e a exposio de um ponto de vista consistente so
aspectos centrais na resenha e na esfera acadmica. Portanto, sem esses aspectos
no h participao efetiva do indivduo na divulgao e produo do conhecimento
cientfico. Reconhecemos que delimitar com clareza a autoria das ideias na resenha
pode no ser uma atividade fcil nem mesmo para ps-graduandos, membros mais
experientes na esfera acadmica. Reconhecemos tambm que oferecer ao leitor
essa clareza nem sempre possvel. Por outro lado, defendemos que as
dificuldades do produtor em empregar mecanismos enunciativos e as dificuldades
do leitor em identificar a autoria poderiam ser minimizadas se houvesse mais
ateno para essas dificuldades no ensino-aprendizagem de gneros acadmicos,
posio que assumida tambm por Machado (2003; 2005) e por Oliveira (2004).
Nesse sentido, a ambiguidade de autoria deixa ntida a importncia de um
ensino-aprendizagem que considere a construo da intertextualidade, marcada
no s na resenha, como em outros gneros cujas habilidades so semelhantes
quelas exigidas para sua produo, a exemplo da fundamentao terica presente
em artigos e ensaios acadmicos, monografias, dissertaes, teses, etc.
4. CONSIDERAES FINAIS
Em nosso cotidiano, quando nos solicitado escrever algum gnero,
algumas vezes questionamos sobre como dizer o que precisamos comunicar ou,
pelo menos, sobre a estrutura e o estilo de linguagem tpicos do gnero.
Questionamentos como esse so realizados com frequncia por alunos
universitrios, em especial se eles forem inexperientes ou tiverem pouca
experincia na produo do gnero textual solicitado.
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A necessidade de saber como dizeratesta que o conhecimento dos gneros e
de suas caractersticas no determina o seu domnio, que entendido como a
habilidade de textualizar as representaes a partir de operaes discursivas e
lingustico-discursivas, visando se adequar aos parmetros de ao de linguagem
estabelecidos para as produes textuais em contextos especficos (MACHADO,
2005). Enfim, dominar um gnero apropriar-se dos conceitos e procedimentos
acadmico-cientficos, saber fazer e, mais do que isso, apropriar-se tambm dos
modos de referncia e da textualizao dos saberes, saber dizer para que os
objetivos da atividade sejam alcanados (MATENCIO, 2003). Embora no seja
possvel identificar plenamente o conhecimento dos gneros nas produes
textuais, desse conhecimento e da habilidade em saber dizerdepende a capacidade
em textualizar o gnero. Esse saber dizermerece ateno para o planejamento de
aes didticas que favoream o desenvolvimento do aluno como produtor de
resenha e, consequentemente, participante ativo do discurso acadmico.
5. REFERNCIAS
ARAJO, Antonia Dilamar. Anlise de gnero: uma abordagem alternativa para oensino da redao acadmica. In: FORTKAMP, M. B. M. & TOMITCH, L. M. B. (Orgs.).
Aspectos da Lingustica Aplicada: estudos em homenagem ao Professor Hilrio Incio
Bohn. Florianpolis: Insular, 2000.
BAZERMAN, Charles. Gnero, Agncia e Escrita. HOFFNAGEL, J. C. & DIONSIO, A. P.
(Orgs.). Traduo de Judith Chambliss Hoffnagel. So Paulo: Cortez, 2006.
BRONCKART, Jean Paul. Atividades de linguagem: textos e discursos .Traduo deAnna Rachel Machado e Pricles Cunha. So Paulo: EDUC, 1999.
DELLISOLA, Regina L. Pret. Leitura: inferncias e contexto scio-cultural. BeloHorizonte: FALE/UFMG, 1988.
LIMA-SILVA, Ana Virgnia. A Intertextualidade na Produo de Resenha no EnsinoSuperior. 2009. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, BeloHorizonte.
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MACHADO, A. R. A perspectiva sociodiscursiva de Bronckart. In: MEURER, J. L. et al;(Orgs.). Gneros: teorias, mtodos, debates. So Paulo: Parbola, 2005. p. 237-259.
________________. Os textos de alunos como ndices para avaliao das
capacidades de linguagem. In: MARI, H. et alli. Anlise do Discurso em perspectivas.Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2003. p. 215-229.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In:DIONSIO et alli (Orgs.). Gneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
MATENCIO, Maria de Lourdes M. Referenciao e retextualizao de textosacadmicos: um estudo do resumo e da resenha. ANAIS DO III CONGRESSOINTERNACIONAL DA ABRALIN, maro de 2003.
MOTTA- ROTH, Desire. Redao acadmica: princpios bsicos. Santa Maria, RS:UFSM/ Imprensa Universitria, 2001.
_______________. Same genre, different discipline: a genre-based study of bookreviews in academic. The ESPecialist, So Paulo, v. 17 n 2, p. 99-131, 1996.
OLIVEIRA, S. M. Os verbos do dizer em resenhas acadmicas e a interpretao do agirverbal. Dissertao. 2004. 116 p. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, SoPaulo.