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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA ANA PAULA SILVA CAMPAGNOLI Tempo Subjetivo de participantes com estados alterados da consciência em função de uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo Música Ribeirão Preto/SP 2017

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

ANA PAULA SILVA CAMPAGNOLI

Tempo Subjetivo de participantes com estados alterados da consciência em

função de uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo Música

Ribeirão Preto/SP

2017

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ANA PAULA SILVA CAMPAGNOLI

Tempo Subjetivo de participantes com estados alterados da consciência em

função de uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo

Música

Ribeirão Preto/SP

2017

Dissertação apresentada à Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo para obtenção do

título de Mestre em Ciências.

Área de concentração: Psicobiologia.

Orientador: Prof. Dr. José Lino Oliveira Bueno

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.

Catalogação na publicação

Serviço de Biblioteca e Documentação

Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto

Campagnoli, Ana Paula Silva.

Tempo Subjetivo de Participantes com estados alterados da consciência em função de

uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo Música / Ana Paula

Silva Campagnoli; orientador Prof. Dr. José Lino Oliveira Bueno – Ribeirão Preto,

2017.

83 pp.

Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

da Universidade de São Paulo. Departamento de Psicologia. Programa de Pós-

Graduação em Psicobiologia. Área de concentração: Psicobiologia.

1. Percepção do tempo; 2. Ayahuasca; 3. Estados alterados da consciência; 4. Música.

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Nome: Campagnoli, Ana Paula Silva

Título: Tempo Subjetivo de Participantes com estados alterados da consciência em função de

uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo Música.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. ____________________________________________________________________

Instituição: __________________________________________________________________

Julgamento: _________________________________________________________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________________

Instituição: __________________________________________________________________

Julgamento: _________________________________________________________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________________

Instituição: __________________________________________________________________

Julgamento: _________________________________________________________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________________

Instituição: __________________________________________________________________

Julgamento: _________________________________________________________________

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo para obtenção do

título de Mestre em Ciências.

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Dedico este trabalho aos meus pais, José e Maria Helena, pelo apoio, em todos os sentidos, que

me deram durante a minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, José e Maria Helena, que me apoiaram desde o início desta jornada

oferecendo carinho, atenção, compreensão e amenizando cada passo que foi dado.

Ao Prof. Dr. José Lino Oliveira Bueno que apostou em mim, possibilitando que eu

realizasse esse estudo e, pela oportunidade de caminhar com alguém que me ensina e inspira,

não somente na vida acadêmica, mas também enquanto profissional e pessoal.

Ao dirigente do Espaço Xamânico Monte Líbano, Washington Luiz Silva, por ter

aceitado colaborar neste trabalho e pelos apontamentos importantes para a execução e

elaboração da pesquisa através da sua experiência e principalmente, amizade. À sua equipe de

fiscais que permaneceram por todo o momento da pesquisa em atenção e cuidados com os

participantes e ajudaram na coleta dos dados. Agradecimento especial à Eliane Maria Klein

Calvanese e ao Fernando Rodrigues dos Santos pela ajuda, atenção e amizade de ambos. Ao

feitor da ayahuasca e do veículo-controle Orlando dos Santos, pela paciência, carinho,

amizade e atenção e ao Rubens Haddad, que cedeu o Espaço Xamânico para a realização

desta pesquisa, por toda atenção e amizade.

Ao João Luís Segala Borin, por toda a ajuda, paciência e principalmente, amizade.

A todos os amigos do laboratório que sempre se mostraram dispostos a ajudar,

especialmente à Marcelle de Oliveira Coelho, com o seu carinho, ao Vítor Ferreira Campos

que me ajudou em muitas etapas na pesquisa, à Márcia Regina Motta pela amizade e

experiência, ao David Andrés Casilimas Díaz, por todos os auxílios à minha pesquisa, ao

Ricardo Marinho de Mello de Picoli que pacientemente me auxiliou na análise estatística dos

dados, ao Victor Cavallari Souza que me ajudou com os resultados e à Gabriela Soares

Tiburcio, com a amizade.

Aos participantes deste experimento, que dedicaram muitas horas e muitos dias para a

finalização do mesmo, cada um com o seu conhecimento, carinho, atenção e amizade.

Ao Geraldo Cássio dos Reis que me ajudou com a análise estatística e ao Guilherme

Miola Titato com a análise cromatográfica.

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Ao meu esposo, Leandro Augusto Santos Pereira, por me ajudar na coleta de dados,

nas composições musicais para a presente pesquisa, no carinho e compreensão pelas

madrugadas que precisei passar escrevendo e por vibrar comigo em cada etapa concluída na

pesquisa.

Aos meus irmãos, Ricardo Silva Campagnoli e Eduardo Silva Campagnoli, por me

apoiarem.

À minha sogra, Elizabeth dos Santos, pelas orações e carinho.

A todos os meus amigos, em especial aos amigos da banda que faço parte

Rainhaohmariri, que me compreenderam quando precisei faltar das apresentações e ensaios

para poder concluir a pesquisa, pelas risadas, pela amizade sincera e por sempre me enviarem

mensagens carinhosas.

Ao maestro Jefferson Zambon Scherrer, pelas composições e auxílio nas composições

que criamos para este experimento, pelo grande carinho e amizade.

Ao produtor Álvaro Henrique Naldi de Aguiar Falleiros, com a produtora Vf Sound

Design, que meu auxiliaram em uma música neste experimento e pelas boas risadas que

demos juntos.

À funcionária da USP Renata Beatriz Vicentini Del Moro que sempre me ajudou

quando eu precisei de algo. Muito obrigado pela excelência de seus serviços!

Ao Rodrigo Focosi Mazzei, por me ajudar desde a passar na prova do mestrado até o

momento do depósito da minha dissertação. Meu imenso carinho!

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – pela

concessão da bolsa de mestrado e conseguinte apoio financeiro para realização desse estudo.

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RESUMO

Campagnoli, A. P. S. (2017). Tempo Subjetivo de participantes com estados alterados da

consciência em função de uso da Bebida Ayahuasca em Rituais Xamânicos Envolvendo

Música.

(Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão

Preto-SP.

A temporalidade compõe os atos da pessoa no mundo. A subjetividade assume papel

importante, a partir dela é que o tempo adquire sentido e significado. Desta forma, a

percepção subjetiva do tempo torna-se essencial para a percepção da realidade, delineando

uma distinção entre o decurso temporal dos eventos vividos ao longo da vida, o que implica

que o processamento da informação temporal é indispensável ao cotidiano. A Nova Estética

Experimental, que estuda estímulos musicais ou outros fenômenos estéticos por meio de

experimentos, nos quais atributos musicais são manipulados, é um campo de pesquisa que se

dedica a investigações sobre o tempo subjetivo e visa verificar quais são seus efeitos sobre

algum aspecto do comportamento do ser. No contexto ritualístico, as músicas xamânicas e de

meditação são utilizadas por participantes que realizam rituais em função da bebida

ayahuasca. Os rituais xamânicos afetam estados de consciência, dependendo do uso da

substância e das músicas. Alterações nos estados de consciência devem alterar o tempo

subjetivo, em função destes elementos específicos do ritual que produzem estas alterações de

estados de consciência. Os participantes dos rituais xamânicos relatam que suas experiências

possuem caracteres diferentes ao serem expostos por músicas conhecidas ou desconhecidas

durante os ritos. Questiona-se qual seria a influência da atividade musical em exposição ao

gênero conhecido ou desconhecido e como essa relação se daria em condições nas quais os

participantes apresentassem alterações nos estados da consciência em função da bebida

ayahuasca em rituais xamânicos. Assim, a proposta deste trabalho foi examinar os efeitos do

tempo subjetivo de participantes com estados alterados da consciência em função de uso da

bebida ayahuasca em rituais xamânicos envolvendo música. Foram selecionados apenas

participantes experientes, que tomaram ayahuasca mais de 60 vezes nos últimos três anos.

Cada participante foi avaliado nas condições do ritual, com o registro de estimações

subjetivas de tempo, que foram reproduzidos por estímulos musicais com durações de 20

segundos, contendo músicas conhecidas e músicas desconhecidas pelos participantes dos

rituais. Foi preenchida uma Lista de Estados de Ânimo Presentes antes da ingestão da

ayahuasca, no decurso temporal da ação da bebida e ao final do ritual. Após a coleta de dados,

os participantes foram entrevistados com perguntas envolvendo os rituais xamânicos com

ayahuasca. O registro de alteração de tempo subjetivo e a Lista de Estados de Ânimo

Presentes permitiram a identificação de como os elementos do ritual afetam as alterações de

estados de consciência, com ayahuasca em comparação ao uso de um veículo-controle

desenvolvido para a presente pesquisa, no contexto do ritual. As estimações temporais

realizadas pelos participantes apontaram que as exposições às musicas conhecidas ou

desconhecidas durante os rituais xamânicos, em função da bebida ayahuasca, alteram a

percepção subjetiva de tempo. Todos os participantes subestimaram o tempo de reprodução

dos estímulos musicais, no entanto, os participantes ao serem expostos às músicas

desconhecidas eliciaram uma maior subestimação quando comparados às exposições às

músicas conhecidas.

Palavras-chave: Tempo subjetivo. Ayahuasca. Estados alterados da consciência. Música.

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ABSTRACT

Campagnoli, A. P. S. (2017). Subjective Time of participants in altered states of

consciousness as a function of the usage of Ayahuasca Brew in Shamnic Rituals Involving

Music.

(Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão

Preto-SP.

Temporality composes the acts of people in the world. Subjectivity assumes an important

role, because it is through it that time acquires meaning. Thus, time subjective perception

becomes essential for reality perception, outlining a distinction between time course of lived

events during life, which implies that temporal information processing is imperative to daily

life. The New Experimental Aesthetics, that studies musical stimuli or other aesthetic

phenomena through experiments, in which musical attributes are manipulated, is a research

field that dedicated itself to investigations about subjective time and aims to verify which are

their effects on some aspect of human behavior. In the ritualistic context, shamanic and

meditation songs are used by participants of rituals with ayahuasca brew. The shamanic

rituals, affect the states of consciousness, depending on the music and substance use. Changes

in states of consciousness must also change subjective time due to these ritual‟s specific

elements that generate changes in states of consciousness. The same report that their

experiences have different characteristics when exposed to known or unknown music during

the ayahuasqueiras ceremonies. Exposure to known or unknown music can change subjective

time. We questioned what would be the influence of musical activity during exposure of a

known or unknown musical genre and how this relation would appear in conditions where

participants would present alterations in states of consciousness as consequences of ingestion

of ayahuasca brew in shamanic rituals. Thus, the aim of this work was to evaluate the

evaluate the effects on participants‟ subjective time in altered states of consciousness as a

consequence of ingestion of ayahuasca brew in shamanic rituals involving music. Only

experienced participants were selected, people who have drank ayahuasca more than 60 times

in the last three years. Each participant was evaluated during the ritual condition, with the

register of subjective time estimations, that were reproduced for musical stimuli with

durations of 20 seconds, containing known and unknown music for the ritual participants. It

was filled a Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP – Present Mood List) before

drinking ayahuasca, during the time course of effects and in the ritual ending. After data

collection, participants were interviewed with questions about shamanic rituals with

ayahuasca. The register of subjective time and the LEAP allowed to identificate how ritual‟s

elements affected changes in states of consciousness, with the use of ayahuasca in

comparison with a vehicle developed for the present research in the ritual context. Time

estimations made by participants pointed that exposure to known or unknown music during

shamanic rituals, due to ayahuasca brew, chaged the subjective perception of time. All

participants underestimated the reproduction time of musical stimuli. However, the

participants that were exposed to unknown music presented a higher under estimation when

compared to the exposures of known music.

Keywords: Subjective time. Ayahuasca. Altered states of consciousness. Music.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 15

1.1 O que é tempo subjetivo – análise prospectiva e retrospectiva..................................................... 15

1.2 Relação entre música e tempo subjetivo....................................................................................... 17

1.3 A música xamânica...................................................................................................................... 18

1.4 Ayahuasca....................................................................................................................... 20

1.5 Transe, êxtase, alucinação e visão.......................................................................................... 21

1.6 Estados alterados de consciência e tempo............................................................................ 24

1.7 Diferenças entre participantes experientes x não experientes.................................................. 26

1.8 Banalização da ayahuasca e do xamanismo......................................................................... 26

1.9 O ritual xamânico............................................................................................................ 27

1.10 Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP) ................................................................ 28

2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................. 29

3 OBJETIVO...................................................................................................................... 30

4 MÉTODO........................................................................................................................ 31

4.1 Recrutamento................................................................................................................. 31

4.2 Sujeitos......................................................................................................................... 31

4.3 Equipamentos e material................................................................................................. 31

4.4 Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP) .................................................................. 34

4.5 Estímulos musicais......................................................................................................... 35

4.6 PROCEDIMENTO......................................................................................................... 40

5. RESULTADOS............................................................................................................... 43

6. DISCUSSÃO................................................................................................................... 56

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 62

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 65

ANEXOS............................................................................................................................ 71

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1 INTRODUÇÃO

Há muitos trabalhos, relacionados a diversas áreas do conhecimento, a respeito

de tempo subjetivo, de estados alterados de consciência, de ayahuasca e de rituais xamânicos.

Alguns pesquisadores como Shanon (2002b, 2008, 2011) estudaram sobre a ayahuasca e o

tempo subjetivo, porém, até o momento, não foi encontrado nenhum trabalho que relacionou

o decurso temporal dos estados de ânimo presentes, em participantes de rituais xamânicos,

com o uso da bebida ayahuasca, sob a influência de músicas conhecidas e desconhecidas,

tocadas nos ritos.

No presente trabalho, os integrantes participaram de um tipo específico de ritual

xamânico, que envolveu música e bebida ayahuasca, desencadeando nos participantes

um estado alterado de consciência. Nesta introdução geral, foram apresentados o contexto

do tempo subjetivo, do ritual, da música, da ayahuasca, do estado alterado de consciência,

dos estados de ânimo presentes e de outros tópicos, que serão abordados nesta pesquisa.

1.1 O que é tempo subjetivo – análise prospectiva e retrospectiva

Os seres humanos, junto com os outros animais, são capazes de extrair duração e

ordem temporal de estímulos externos, bem como internos, embora sem um órgão sensorial

dedicado para o tempo. Evidências mais recentes mostram a identificação de “células de

tempo” nas estruturas subcorticais do estriado, hipocampo e cerebelo e indicam como esses

diferentes sistemas de cronometragem podem ser integrados em uma percepção comum do

tempo (Lusk, Petter, MacDonald, & Meck, 2016).

Na literatura, o tempo psicológico foi estudado por muitos pesquisadores (para uma

revisão, Fraisse, 1984, Bueno, 1985; Brown, 1985; ver Block, 1990). Os modelos de

processamento sensorial demandam que um tipo de tempo-base, repetitivo e cumulativo, seria

armazenado em forma de pulsos por um dispositivo que geraria sinais internos de tempo. Esse

mecanismo constituiria um “órgão do tempo” (Block & Zakay, 1996), nomeado de “relógio

interno” (Treisman, 1963, Church, 1984; Gibbon & Church, 1984; Gibbon, Church, & Meck,

1984).

O relógio interno é, originalmente, formado de uma estrutura que considera a

percepção e a produção do tempo. Um marca-passo (pacemaker) produz pulsos regularmente.

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Quando um sinal de tempo externo é compreendido, um interruptor (switch) permite que os

pulsos atravessem até um acumulador (accumulator). O número total de pulsos que irá

determinar a duração compreendida é transferido para a memória de trabalho, que realiza a

comparação com o conteúdo da memória de referência, armazenando um número aproximado

de pulsos acumulados, por meio de experiências antecedentes. Quando os dois valores são

correspondentes o bastante, uma estimativa do tempo é realizada, contudo, a vivência do

tempo pode ser dilatada ou comprimida, por meio da memória de trabalho, por componentes

atencionais e por processos decisionais (Treisman, 1963; Church, 1984; Gibbon & Church,

1984; Gibbon et al., 1984).

O tempo subjetivo não existe por si só, mas como característica essencial daquilo que

continua (Fraisse, 1984). Gibson (1975) assegurou que a percepção do tempo não existe, o

que ocorre é apenas a percepção de episódios e movimentos.

O modelo Tamanho de armazenamento, de Ornstein (1969), propôs que uma grande

quantidade ou complexidade de informação implica em um espaço largo na memória e,

consequentemente, produz estimações temporais longas. O modelo Demanda atencional, de

Hicks, Miller, Gaes e Bierman (1976), afirmou que quanto mais atenção é requerida pela

tarefa, maior esforço mental seria exigido no processamento da informação na memória e,

portanto, mais longa a estimação temporal seria. O modelo Mudança contextual, de Block e

Reed (1978), propôs que a duração lembrada implicaria em uma reconstrução cognitiva da

informação ambiental, que circundaria o estímulo ou a tarefa: mudanças contextuais mais

retomadas causariam estimações temporais mais longas. O modelo Contraste ou de

expectativa, de Jones e Boltz (1989), relacionou o tempo subjetivo a padrões de eventos. O

modelo prediz que uma sequência de eventos, finalizando no “tempo certo”, confirmaria

expectativas e eliciaria estimações quase precisas, isto é, “zero contraste”. Uma sequência de

eventos, finalizando antes do esperado, pareceria mais curta e eliciaria subestimações

temporais, isto é, um “contraste negativo” (ver, também, o modelo Fração de

Desenvolvimento esperado de Firmino e Bueno (2008), para estudo de efeitos de modulação

tonal sobre o tempo subjetivo).

Na literatura sobre tempo subjetivo, existem dois paradigmas experimentais principais

para o estudo da estimação temporal: prospectivo, no qual o participante é avisado sobre a

tarefa de estimação temporal antes da apresentação do estímulo; e retrospectivo, no qual o

participante é avisado sobre a tarefa de estimação temporal depois da apresentação do

estímulo (Zakay, 1990).

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1.2 Relação entre música e tempo subjetivo

A apreciação musical também se relaciona com distorções temporais, que podem ser

avaliadas por meio de alterações que ocorrem no ouvinte durante a escuta musical. Muitos

pesquisadores realizaram o estudo do tempo subjetivo com o emprego de estímulos musicais

(Boltz, 1989; Jones & Boltz, 1989; Schmuckler & Boltz, 1994; Bailey & Areni, 2006;

Firmino & Bueno, 2008; Ramos, Bueno, & Bigand, 2011; Ramos & Bueno 2012; Firmino &

Bueno, 2016), mas a literatura mostra que estímulos musicais, feitos com músicas reais e de

longa duração, são pouco utilizados em estudos de cognição musical e de tempo subjetivo

(Firmino & Bueno, 2016).

Alguns autores estudaram a complexidade de um estímulo em relação ao tempo

subjetivo (Ornstein, 1969; Fraisse, 1984, Jones & Boltz, 1989; Firmino & Bueno 2008;

Firmino & Bueno, 2016). A influência da modulação tonal foi mostrada em tarefas de tons-

de-prova (Krumhansl & Kessler, 1982), bem como a assimetria do ciclo de quintas foi

pontuada por Cuddy e Thompson (1992). Entretanto, esses estudos exploraram apenas a

questão da dimensão espacial da tonalidade e da modulação. Em contrapartida, Firmino e

Bueno (2008, 2016) estudaram a modulação tonal. Os resultados encontrados por Firmino e

Bueno (2016) também mostraram que o conhecimento de hierarquias tonais ocidentais

influencia a estimação temporal de ouvintes ocidentais. O termo “hierarquia tonal” é usado

para designar um esquema de regularidades de alturas, específico para música ocidental, que é

armazenado na memória de longo prazo. Esse esquema é entendido pela literatura como não-

temporal, no sentido de que ele representa um conhecimento mais ou menos permanente

sobre o sistema musical, em vez de ser uma resposta a uma sequência específica de eventos

(Krumhansl, 1990).

Da mesma forma, esse conhecimento musical, de ordem superior das relações de

tonalidade, possui algumas similaridades com o conceito de memória semântica humana

(Schacter & Tulving, 1994). Essa aprendizagem implícita musical, favorecida a partir do

cotidiano acústico-cultural dos ouvintes ocidentais, resulta em mais do que o armazenamento

das regularidades estatísticas entre tons, acordes e tonalidades musicais (Tillmann, Bharucha,

& Bigand, 2000), ela também armazena a velocidade média da música ocidental em sua

trajetória, por meio do espaço de alturas. Essa informação temporal, associada com o espaço

de alturas tonal, é ativada quando se escuta a música modulatória. A duração esperada da peça

é comparada com a duração vivenciada e armazenada na memória operacional.

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1.3 A música xamânica

O campo da música é de difícil definição, todavia, alguns autores procuraram

expressar um significado do que realmente possa vir a ser a música, ao custo de imporem seus

próprios preconceitos. Música é tudo o que podemos escutar? Poderia ser definida como uma

organização de sons produzidos por instrumentos harmônicos, percussivos, com o canto ou

apenas por uma melodia cantada? O ruído não produz música? Para que, realmente, seja uma

“obra de arte”, a música precisa ter uma teoria complexa e ser envolvida por uma estrutura

rebuscada contendo harmonia, contraponto e formas musicais, para poder se tornar uma

composição musical? Berlyne (1974a) defendeu que as artes estão relacionadas com a estética

e esta é uma forma de “perceber”. Schoenberg (1999), no contexto de harmonia musical,

qualificou o som como “o material da música”, atuando diretamente no ouvido como forma

de “percepção sensível” e essa percepção desencadeia associações, que relacionam o som, o

ouvido e o universo sensorial.

A música se faz presente durante a ação da ayahuasca. A cultura moderna está

aderindo ao uso da ayahuasca fora do contexto da floresta. Anteriormente, apenas os

indígenas faziam o uso da ayahuasca no contexto ritualístico. As práticas da cultura moderna

não adotam toda ciência proveniente dos índios e aderem outras ritualísticas fora do contexto

indígena. Algumas religiões sincréticas no Brasil como, por exemplo, o Santo Daime, a União

do Vegetal e a Barquinha, permaneceram com o contexto “místico” evocado pelos índios, mas

elas não aderiram ao uso de outras plantas, como comumente fazem os índios, para a

administração da ayahuasca nos rituais de cura, feitos pelos curandeiros das tribos. Estas

religiões sincréticas converteram a maneira dos índios conversarem com a natureza em

orações, mantras e hinos. (Zuluaga, 2002).

Grupos sincréticos religiosos estão incorporando os rituais com a bebida ayahuasca.

No contexto religioso, o uso da ayahuasca no Brasil é amparado por lei federal desde 1986,

como afirma o parecer do antigo Grupo de Trabalho do Conselho Federal de Entorpecentes

(CONFEN, 1986,1992) e consolidado pelo atual Conselho Nacional Anti-Drogas (CONAD,

2004) – documentos em ANEXO A, B e C. As religiões hoasqueiras (rituais que utilizam a

bebida ayahuasca como: Santo Daime, União do Vegetal, dentre outras) estão difundindo-se

pela Europa e Estados Unidos, desencadeando um crescente número de pesquisadores

internacionais a estudarem sobre os efeitos da ayahuasca (Pires, Oliveira, & Yonamine,

2010).

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A música também funciona como estímulo para as visões que ocorrem durante a ação

da ayahuasca. Estas visões são chamadas pelos ayahuasqueiros de “mirar” (Moreira &

MacRae, 2011). A música xamânica pode ser composta por cantos, elementos da natureza,

sons eletrônicos, instrumentos de percussão, instrumentos de sopro, percussão corporal,

ruídos, dentre outros e todos esses elementos citados podem ser misturados ou executados,

individualmente, para a sua composição. O canto possui algumas particularidades, ele pode

ser repetitivo, pode envolver a fala como onomatopéias e a reprodução de inumeráveis tipos

de ruídos (Rouget, 1985).

A música xamânica possui o tambor como um instrumento componente de suas

composições, que também é um instrumento da cultura indígena importante, para chegar ao

estado de transe (Rouget, 1985; Kjellgren & Eriksson, 2010).

A música xamânica induz movimento no ouvinte, fazendo com que ele dance,

rodopie, despertando emoções. Rouget (1985) descreve que a propriedade da música

xamânica, no ritual, visa a levar o participante a uma experiência mística.

Resultados de estudos, comparando a música xamânica com músicas instrumentais de

meditação, mostraram que os participantes do experimento se sentiram mais calmos e mais

relaxados após a exposição da música, independente do estilo xamânico ou de meditação

instrumental (Gingras, Pohler, & Fitch, 2014). As instruções passadas para os participantes

antes da alteração do estado de consciência têm um grande potencial a ser explorado. Gingras

et al. (2014) obtiveram também como resultado que os participantes, antes de escutarem a

música xamânica, a qual neste experimento foi composta apenas de um rufar de tambor

repetitivo, e que receberam instruções de concentração xamânica para realizar o experimento,

apresentaram uma probabilidade maior de serem levados por experiências subjetivas

associadas com o relaxamento, a diminuição de níveis de excitação e estados de sonho, ao

serem comparados com o outro grupo de participantes que escutaram outros estilos de

músicas para meditação e não receberam nenhum tipo de instrução de concentração xamânica.

Segundo relatos dos organizadores das cerimônias hoasqueiras, para que possam

acontecer os rituais com o uso desta bebida (esses ritos são conhecidos como vivências ou

trabalhos), duas coisas são extremamente necessárias: o contexto do ritual e as músicas

executadas durante a cerimônia (Moreira & MacRae, 2011).

Observações de participantes do ritual sugerem que o fato da música ser desconhecida

pelo participante do ritual também influencia numa melhora, em potencial, para a indução do

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estado alterado de consciência1 (informação verbal). Fraisse (1967) avaliou que a quantidade

de vezes que uma pessoa escuta a música pode vir a interferir na forma da escuta. Estudos

afirmaram que uma variável importante, envolvendo a música como estímulo-padrão, se

refere à familiaridade do sujeito ao evento a ser apreciado (Ramos, 2008; Ramos et al., 2011).

Berlyne (1974b), ao abordar as pesquisas que envolvem a apreciação estética, afirmou que

essas investigações devem ser efetuadas analisando a obra de arte como um padrão de

estímulos colativos. Esses fatores são “formais” ou “estruturais”, suas proporções variam

entre opostos como: esperado – surpreendente; não familiar – familiar; simples – complexo;

estável – instável; ambíguo – claro. Berlyne (1971) explicou que esses fatores são muito

utilizados em estudos experimentais sobre a apreciação da estética, levando em consideração

o nível de familiaridade, o nível de novidade e de complexidade dos estímulos a serem

abordados. Hargreaves e Castell (1987) elucidaram que quanto mais um participante for

familiar a um estímulo, melhor ele o avalia, o evento se torna mais previsível e, por

conseguinte, menos complexo subjetivamente.

1.4 Ayahuasca

A palavra ayahuasca é originária da língua quíchua (quechua ou quéchua) e se refere a

uma bebida psicoativa, produzida por meio de plantas nativas da floresta amazônica (Pires et

al., 2010), de cor marrom, aspecto leitoso, gosto amargo e, em alguns casos, levemente

adocicada. Para os índios, esse gosto peculiar é a primeira etapa para colocar em prova a

determinação da pessoa que irá ingerir a bebida (Zuluaga, 2002). O chá é preparado por meio

do cozimento prolongado do cipó Banisteriopsis caapi triturado, que contém β-carbolinas,

que são inibidoras da monoaminoxidase (MAO), juntamente com as folhas do arbusto

Psychotria viridis, contendo a N,N-dimetiltriptamina (DMT) (Pires et al., 2010). A DMT é

degradada pela enzima MAO no fígado e no intestino. A harmina é um dos principais

alcalóides encontrados na ayahuasca bem como a serotonina (5-hidroxitriptamina). Estudos

observacionais e evidências clínicas preliminares sugerem que a ayahuasca não possui

propriedades viciantes (Dos Santos et al., 2007; Dos Santos, 2011; Osório et al. 2015; Dos

Santos, Osório, Crippa, & Hallak, 2016). Segundo Mabit (2002), participantes experientes

descreveram que, mesmo ficando vários meses sem consumir a bebida, não relataram o estado

de crise de privação. 1Washington Luiz Silva – relato pessoal.

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Um estudo com a ayahuasca obteve como resultado que os participantes do ritual de

Santo Daime demonstraram o estabelecimento de comportamentos mais serenos, assertivos,

alegres e, durante os estados alterados de consciência induzidos pela ayahuasca, a experiência

de numinosidade (definida com o significado religioso de estado de vivência que o ser possui

acerca de questões consideradas por ele como sobrenaturais, geralmente sagradas,

transcendentais ou de divindade, comportando-se e podendo ser influenciado por essas

questões) e a paz ocuparam o lugar das preocupações cotidianas, estendendo esse estado de

tranquilidade durante alguns dias, após a participação do ritual (Barbosa & Dalgalarrondo,

2003). Shanon (2002a) complementou que os estados alterados da consciência contribuem

potencialmente para o “testemunho” dos distintos “valores possíveis” aos “parâmetros” que,

possivelmente, desconhecemos. A ayahuasca pode induzir a mudanças nos traços de

personalidade, tradicionalmente consideradas herdadas (Bouso et al., 2012).

Pesquisadores analisaram a farmacologia da ayahuasca (Pires et al., 2010). Foram

feitas pesquisas sobre o seu conteúdo espiritual e religioso, envolvido nos rituais de Santo

Daime, União do Vegetal, Xamanismo e Barquinha (Krippner & Sulla, 2011) e Schenberg et

al. (2015) estudaram as alterações nos circuitos neurais, durante a ingestão do chá, registradas

pelo aparelho de eletroencefalograma. De acordo com Shanon (2002a), apesar desses estudos

serem de suma importância para se compreender os efeitos da ayahuasca, eles não chegam à

essência do que realmente é a ayahuasca.

Durante a ação da ayahuasca, podem ocorrer possíveis desconfortos (efeitos de purga)

como, por exemplo, náuseas, vômitos, midríase, aumentos leves da pressão arterial, diarréia,

frenesis, prostração, sonolência, formigamento de extremidades, tremores e sudorese

(Mckenna, Callaway, & Grob, 1998; Callaway et al., 1999; Shanon, 2002b; Dos Santos,

Landeira-Fernandez, Strassman, Motta, & Cruz, 2007). Para os participantes das cerimônias

ayahuasqueiras e para os índios, esses efeitos de purga são considerados como uma

“desintoxicação” ou como um processo de “limpeza”. Dessa forma, a bebida possui um forte

poder depurativo e terapêutico (Labate, 2002). Após o período da purga, a próxima fase da

ação da ayahuasca é acompanhada de sentimentos de serenidade, extrema paz da mente e

felicidade (Shanon, 2002b).

1.5 Transe, êxtase, alucinação e visão

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O conceito de transe induz diversos conflitos no pensamento científico

contemporâneo. Os estados alterados de consciência, gerados no indivíduo, acabam sendo

qualificados como “perturbações”, “patologias” ou “alucinação”. Zuluaga (2002) explicou

que o fenômeno alucinatório está envolvido com a perda das relações espaço-temporais, perda

da consciência de si e uma série de manifestações visuais e auditivas desordenadas. A

alucinação foi caracterizada como um dos sintomas principais da doença mental ou

psiquiátrica.

Schultes e Hofmann (1992) descreveram que a ayahuasca é uma bebida alucinógena e

possui como ingredientes ativos o alucinógeno da N, N-dimetiltriptamina (DMT) e alcalóides

da β-carbolina, tais como harmina, tetrahidroharmina e harmalina. Porém, estudos recentes

mostraram que as β-carbolinas na ayahuasca, aparentemente, não são alucinogênicas nas

doses comumente presentes na ayahuasca e estão associadas a efeitos sedativos (Dos Santos et

al., 2016;). O potencial ansiolítico do chá parece estar relacionado ao DMT e sua atividade

agonista a receptores corticais de 5-HT 2A. Essas substâncias atuam em áreas frontal e

límbica, ricas em receptores 5-HT 2A, e estão envolvidas na regulação do humor, da memória,

das emoções e das percepções (Dos Santos, 2011; Dos Santos et al., 2016).

Muitos se referem à ayahuasca como um “chá alucinógeno”, o que pode depreciar a

bebida e as pessoas que, de livre arbítrio, optam por transformarem o ritual com o chá como

parte de suas práticas de meditação, concentração, cura, oração ou religião. Em todos os

contextos tradicionais e institucionalizados da ayahuasca, o consumo da bebida é um

sacramento, um ritual sagrado. Para muitos que participam dos ritos, o termo “enteógeno”

refere-se a plantas que alteram a consciência, remetendo a pessoa a um estado de transe, sem

que esse indivíduo sofra uma degradação neural, ou passe por um processo de dependência

química e psicológica como outras drogas, naturais ou sintéticas. Como descrito

anteriormente, a ayahuasca não remete a pessoa a esses malefícios (ver Ott, 1996; Wasson,

Ruck, Bigwood, Ott, & Staples, 1979). O termo “enteógeno” está, atualmente, substituindo os

termos mais antigos e alguns pejorativos como “alucinógeno” e “psicodélico” (Shanon,

2002b).

O transe está relacionado com os estados alterados de consciência e com a cura que

ocorre nos rituais com ayahuasca (Silva, 2002). Rouget (1985) mostrou que o contexto do

ritual pode levar ao estado de transe ou êxtase. O autor explicou que transe e êxtase estão

ligados à quantidade de movimento do corpo harmonizado à música. Canções que levam ao

transe, na terminologia de Rouget, são aquelas que conectam o indivíduo a movimentos

corporais rítmicos, danças, emoções e super-ativação (hyperarousal). Músicas que induzem

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ao êxtase, por sua vez, acontecem em uma sub-ativação (hypoarousal) e parecem estar mais

relacionadas com a pura atividade mental, como meditação, contemplação, imobilidade e

similares. Rouget (1985) também exemplificou os estados de êxtase e transe: êxtase -

imobilidade, silêncio, solidão, nenhuma crise, privação sensorial, memória, alucinações.

Transe - movimento, ruído, em companhia, crise, superestimulação sensorial, amnésia, não há

alucinações.

Nos rituais de Santo Daime, é comum os participantes receberem hinos durante a ação

da bebida. O fundador da Igreja Santo Daime, mestre Irineu Serra, recebeu vários hinos. O

pesquisador Shanon (2002b) explicou que, no momento em que o mestre Irineu recebia os

hinos, este estava em um estado de “alto êxtase”.

Como descrito anteriormente, durante a ação da ayahuasca, visões podem ocorrer com

os participantes. O pesquisador Mabit (2002) levantou a seguinte questão: “As percepções

obtidas, mediante a modificação dos estados de consciência, depois de ter tomado plantas ou

produtos com efeitos psicotrópicos constituem uma ficção ou uma realidade?” (p.164). O

autor explica que o que ele quis dizer foi: “Funciona a ayahuasca?”. Esta é uma pergunta

muito questionada por pessoas iniciantes dos rituais e por aqueles que nunca participaram de

nenhuma sessão com o daime. Mabit (2002) mostrou que, segundo o dicionário, a palavra

alucinação significa “erro ou engano de nossa imaginação produzida por aparências falsas”

(p.164). Sendo assim, Mabit (2002) expôs as seguintes razões pelas quais parecem “válidas”

as mirações tidas com a ayahuasca: “Coerência”: as visões tidas por meio da bebida

ayahuasca são de caráter coerente; “Caráter coletivo”: muitas pessoas durante a mesma sessão

relatam terem tido o mesmo tipo de visão; “Capacidade adivinhatória”: para que o

participante chegue a esse nível, é exigido um pouco de prática, para que a pessoa não misture

as suas vontades com as visões que de fato estão aparecendo; “A eficácia”: as mirações

auxiliam no processo de transformação da pessoa, muitos participantes, mesmo que não

tenham entendido por completo todo o significado das visões, passam a ter uma mudança em

suas ações de maneira positiva.

Shanon (2002a) relatou como foi o contexto das suas visões durante as primeiras

quatro vezes que ingeriu a bebida:

Nestas primeiras sessões de ayahuasca vi arabescos maravilhosos,

serpentes e dragões ameaçadores, uma floresta encantada cheia de

animais e pássaros, tanto naturalista quanto fantasmagórica, um

panorama da história humana e uma cidade maravilhosa com palácios

de ouro e pedras preciosas. Eu também experimentei sentimentos

religiosos profundos e tive várias intravisões filosóficas. As últimas

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relacionam-se com a condição humana, a relação entre natureza e

cultura, o significado da história e da evolução, o relacionamento entre

as faculdades humanas de conhecimento e as verdades últimas do

universo, ética e providência divina. Por último, mas não menos

importante, senti que tinha vivido o que me pareceu equivalente a um

exame psicanalítico profundo. Em geral, as experiências geraram uma

apreciação profunda da maravilha do ser, amalgamada a uma gratidão

eufórica e um sentimento de amor à natureza e a meus companheiros

seres humanos. (p.641)

Figura 1 – Templo Sacrosanto

Fonte: Pintura de Pablo Amaringo – ex-curandeiro experiente em ayahuasca (Luna & Amaringo, 1991)

Fatos interessantes ocorrem durante as visões na ayahuasca. Pessoas totalmente

urbanas visualizam vários elementos da natureza, dentre eles pássaros, cobras e felinos são os

mais comuns, bem como a presença de elementos habituais à cultura urbana, a presença de

“palácios” e “complexos arquitetônicos”. Esses elementos urbanos também ocorrem nas

visões dos indígenas (Shanon, 2002a).

Os bebedores de ayahuasca não confundem suas visões com os estados das coisas na

realidade externa, eles fazem a realidade em suas visões, mas eles as concebem como

apresentando realidades separadas que não poderiam ser apreendidas sem ayahuasca (Shanon,

2002b).

1.6 Estados alterados de consciência e tempo

Segundo Shanon (2002a), a consciência constitui-se em um agrupamento de critérios

que “definem valores”, determinando a forma como o homem experiencia o mundo,

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mentalmente e fisicamente. Mudando os valores, a fenomenologia da vivência seria mudada.

O conceito dos “parâmetros” e da “determinação” de sua valia não é simples. Dentre as várias

características da “consciência”, tornam-se tão aparelhadas na nossa forma de agir “que elas

são tomadas como dadas e nós somos, usualmente, cegos a elas” (Shanon, 2002a, pp. 652-

653). Shanon (2002a), pesquisador e participante experiente em rituais com ayahuasca,

explicou:

A situação é completamente análoga àquela encontrada no caso dos

óculos. Se alguém continuamente usasse óculos que colorissem o

mundo ou transformassem o ângulo de visão, esse alguém tomaria as

transformações mencionadas como dadas e não estaria consciente da

existência dos óculos sobre seus olhos. (p.653)

O homem, naturalmente, ao longo da sua história, buscou alterar o seu estado de

consciência, seja com o uso de substâncias químicas ou por meio de exercícios, meditação,

jejum, flagelação, hipnose, fenômenos de transe induzido pela dança rítmica, cânticos

musicais, dentre outras atividades. A ioga também visa a alterar o estado de consciência no

decorrer de longos anos de treino e a utilização de uma substância como a ayahuasca visa a

acelerar esse processo (De Rios, 1972).

Estados alterados de consciência correspondem a uma alteração qualitativa no padrão

global de funcionamento mental (Tart, 1972). Substâncias como a ayahuasca possuem uma

grande base empírica na investigação biológica em estados alterados de consciência (De

Souza, 2011). Essa alteração de consciência não desencadeia em uma perda da consciência,

mas em uma mudança perceptual: o participante sabe quem ele é, não perde a noção do lugar

onde se encontra, do que ele ingeriu, se alguém esbarra no participante, ele percebe e é capaz

de responder o que lhe perguntam. A ayahuasca amplia o funcionamento cerebral e a

assimilação sensorial. A pessoa sente os seus pensamentos acelerados e é capaz de perceber

ao menor ruído. Sua capacidade de refletir e solucionar problemas encontra-se aumentada.

Para o homem contemporâneo, a ayahuasca institui um “desafio intelectual”, ela ultrapassa as

barreiras do conhecimento indígena e passa a ser objeto de estudo da ciência (Mabit, 2002).

Ainda sobre a percepção temporal, Shanon (2002b) mostrou que a indução de um

novo modo temporal para a mente é um dos efeitos mais básicos da ayahuasca.

Especificamente, a bebida induz estados mentais que, experimentalmente, desafiam o domínio

do tempo. Os estados alterados de consciência, induzidos por alguma substância, fornecem

bons modelos experimentais para conceitos e hipóteses sobre tempo subjetivo e representação

do tempo interno (Wackermannet al., 2008).

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Contudo, pode ocorrer, durante os rituais, a presença de pessoas imaturas. Por sua

vez, essas podem acabar adotando uma postura bruta com a ação da ayahuasca,

desencadeando uma “dissolução temporal da consciência”, ou seja, a pessoa não responde se

alguém chamar por ela e pode não se lembrar do que aconteceu durante a sessão. Isso não

representa perigo se o participante estiver em uma instituição séria, com um dirigente

capacitado, pois este consegue trazer a pessoa de volta à consciência (Mabit, 2002).

1.7 Diferenças entre participantes experientes x não experientes

Sensações como: estar lutando contra você mesmo, que você está enlouquecendo, que

está prestes a morrer, o que está acontecendo é irreversível e que nunca mais voltará para o eu

normal, são comuns durante a ação da ayahuasca. Com isso, pensamentos como “Por que

cometi o erro de tomar esta bebida?” podem amedrontar o participante durante o ritual.

Naturalmente, tudo isso, provavelmente, gerará desconforto. Com experiência, no entanto, o

medo pode ser mais bem gerenciado e o bebedor de ayahuasca pode aprender a ter controle

sobre as sensações da bebida. Porém, esses obstáculos são superados com o passar do tempo,

pois, possivelmente, a experiência com o ritual ayahuasqueiro seja uma das experiências mais

estimulantes que o ser humano possa ter (Shanon, 2002b).

Independente do tempo e da experiência do participante nas cerimônias hoasqueiras,

cada vez que a pessoa consumir a ayahuasca acontecerá uma experiência imprevisível. Da

mesma maneira, no decorrer de uma mesma sessão, a vivência de cada participante pode

acontecer de forma diferente das demais pessoas. “É impossível antecipar a natureza e

qualidade da sessão que se vai ter. Em outros termos, cada sessão é uma aventura” (Mabit,

2002, p. 158).

1.8 Banalização da ayahuasca e do xamanismo

A ayahuasca vem sendo popularizada mundialmente. Existem pessoas que dizem que

“a ayahuasca está na moda!”. Com isso, a banalização do xamanismo e da bebida tornaram-se

assuntos de revistas, noticiários, jornais e internet. Hoje em dia, qualquer pessoa consegue

facilmente uma garrafa de ayahuasca pela internet e, ainda, nos Estados Unidos, existem

agências de viagens com destino ao Brasil, Peru e Equador, com a proposta de oferecer

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viagens, através de “substâncias visionárias”, diretamente das mãos de um xamã. Atualmente,

é possível encontrar pela internet “cursos curtos de xamanismo prático” com “pseudo-xamãs”

e você ainda recebe a ayahuasca em sua casa (Zuluaga, 2002). Estes rituais não podem ser

confundidos com os rituais que ocorrem com os xamãs, reconhecidos pelos grupos xamânicos

como sérios, e nos institutos que administram o chá de maneira séria.

1.9 O ritual xamânico

Quais as modalidades de transe que envolvem o ritual xamânico com substâncias

psicoativas? Existe uma relação entre cura e transe?

A primeira forma de conhecimento aplicada entre os povos primitivos em todo o

mundo foi o xamanismo (Zuluaga, 2002). A ayahuasca é utilizada no xamanismo para que o

ser possa entrar em contato com o divino e para curar. Ela é um canal que conduz para o

“sobrenatural” (Brito, 2002). Com a evolução cultural do homem, ocorreu um distanciamento

das pessoas em relação às práticas xamânicas e, dentre esses procedimentos, o uso de plantas

psicotrópicas passou a ser visto como um costume “diabólico” e “tóxico”. Porém, nos últimos

trinta anos, o “homem branco” começou a praticar, a conhecer e a estudar o uso dessas

plantas, em contextos ritualístico e científico (Zuluaga, 2002).

A ayahuasca vem sendo utilizada por muitos anos em rituais de cura, independente da

classe social. Os participantes relatam visões, alterações somáticas e alterações de percepção

de movimento rápido durante a ingestão do chá (De Rios, 1972). No decorrer do rito, os

participantes procuram permanecer em estado meditativo e/ou de concentração.

Estudos mostraram que o ambiente é de grande importância para alterar os estados de

consciência, principalmente na jornada xamânica (Gingras et al., 2014; Kjellgren & Eriksson,

2010). Sendo esse um fator de extrema relevância, os experimentos desta pesquisa foram

realizados no próprio contexto do ritual.

Existem vários tipos de rituais xamânicos, que envolvem outros tipos de substâncias,

além da ayahuasca, para alterar a consciência como, por exemplo, tabaco, rapé, kambô,

sananga, dentre outras. Alguns grupos que realizam rituais com o uso da ayahuasca também

utilizam a Cannabis sativa (Goulart, 2003). Porém, o grupo que participou desta pesquisa

utiliza apenas a ayahuasca em seus rituais; em alguns rituais específicos são utilizados

também o tabaco e o Espaço Xamânico Monte Líbano deixa claro para seus participantes que

outros tipos de substâncias, além do tabaco e da ayahuasca, não são permitidos no Espaço

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Xamânico. Nesta pesquisa, foi analisado apenas o ritual com o uso da substância ayahuasca

para alterar a consciência.

O tipo de ritual xamânico que foi estudado nesta pesquisa ocorreu sob as condições e

as circunstâncias descritas a seguir. Um quiosque, construído em uma fazenda onde se

localiza o Espaço Xamânico Monte Líbano, feito de madeira, telhas, tijolos e cimento,

abrigou todos os participantes. Em círculo, homens sentaram-se ou deitaram-se à esquerda do

altar e as mulheres à direita, uma fogueira ficou ao centro e o bailado, que não foi obrigatório,

pôde ser realizado por meio da dança circular. Um banheiro masculino e um feminino

estavam localizados à direita e à esquerda do quiosque, acompanhando o lado em que os

homens e as mulheres permaneceram durante todo o ritual. As músicas foram reproduzidas,

digitalmente, por meio de um esquema de som contendo notebook, mesa de som, potência de

som e caixas de som, devidamente localizadas acusticamente. Os participantes usaram

vestimentas especiais. Incenso e palo santo foram utilizados para a defumação do ambiente.

Não foi permitido nenhum tipo de conversa entre os participantes durante todo o ritual e

fiscais auxiliaram os participantes durante todo o processo. A sequência de músicas foi

preparada pelo padrinho (nome dado pelo instituto religioso para o dirigente do ritual). A

ayahuasca foi servida pelo padrinho e pelos fiscais e, obrigatoriamente, todos os participantes

precisaram tomar a primeira dose, servida no início do ritual e acompanhada de uma pequena

quantidade de água e de frutas. A duração do ritual foi de quatro horas, a música iniciou-se

após todos os participantes terem consagrado a bebida e se ajoelhado, em agradecimento ao

ritual que se iniciou. Após uma hora e meia de ritual, uma segunda dose foi oferecida,

todavia, essa outra dose foi opcional para os participantes. Tambores e maracás também

puderam ser tocados pelos partícipes na segunda parte do ritual. No final do ritual, o padrinho

falou algumas palavras em agradecimento e todos se ajoelharam, em agradecimento ao

processo vivenciado durante o ritual. As pessoas ovacionaram o trabalho realizado e se

abraçaram em confraternização.

1.10 Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP)

A fim de desenvolver um procedimento para avaliar os estados de ânimo presentes dos

participantes, Engelmann (1986) realizou inúmeros trabalhos experimentais com pessoas

brasileiras no Brasil, com a finalidade de localizar, nos relatos verbais, estados subjetivos. A

Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP) é uma lista com 40 locuções, escritas na

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primeira pessoa do singular, que evidenciam diferentes estados de ânimo, tendo uma escala de

intensidade ao lado dessas locuções. Essa lista foi alcançada pela categorização de 536

palavras, até se chegar à lista final com 40 locuções. Um estudo feito por Engelmann (1986)

fez a análise fatorial das locuções da Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP), conforme

o valor hedônico e o nível de ativação atribuído a elas, de acordo com os participantes,

procurando mostrar uma propriedade de aproximação dos relatos verbais e suas apropriadas

locuções de estados de ânimo presentes. Dessa forma, as 40 locuções ficaram distribuídas e

agrupadas em 12 fatores. A Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP) permite a

mensuração da presença de estados de ânimo da pessoa, no exato momento em que está sendo

respondida.

A Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP) possibilita investigar alterações da

percepção do tempo em diferentes condições emocionais. Essas alterações perceptuais podem

auxiliar a identificar diferentes estados de consciência em rituais xamânicos. O estado de

ânimo proposto por Engelmann (1978, 1986, 2002) foi conceituado como um estado subjetivo

que pode ser emocional (por exemplo: com raiva, alegre), ou não emocional (fome, cansado)

e, deste modo, caracteriza-se por ser um estado disjuntivo. Engelmann (1986) definiu o

conceito de estado de ânimo, o qual se aproxima do que se entende por sentimento na

linguagem cotidiana. A LEAP tem sido empregada, recentemente, em estudos envolvendo

estados de ânimo presentes de atletas de diversas modalidades esportivas (Bueno & Di

Bonifácio, 2007) e no contexto hospitalar (Bueno, De Martino, & Figueiredo, 2003; Martino

& Misko, 2004).

2 JUSTIFICATIVA

Existe um conhecimento estrutural musical totalmente não-verbal, que pode ser

encontrado inclusive em não-músicos, isto é, pessoas sem treinamento sistemático prático e

teórico, envolvendo algum instrumento musical ou canto (Firmino & Bueno, 2008; Ramos,

Bueno, & Bigand, 2011; Firmino & Bueno, 2016). Essa aprendizagem implícita musical,

favorecida a partir do cotidiano acústico-cultural dos ouvintes ocidentais, resulta em mais do

que o armazenamento das regularidades estatísticas entre tons, acordes e tonalidades musicais

(Tillmann, Bharucha, & Bigand, 2000). Shanon (2002b) mostrou que a indução de um novo

modo temporal para a mente é um dos efeitos mais básicos da ayahuasca. A bebida induz

estados mentais que, experimentalmente, desafiam o domínio do tempo. Os estados alterados

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de consciência, induzidos por alguma substância, fornecem bons modelos experimentais para

conceitos e hipóteses sobre tempo subjetivo e representação do tempo interno (Wackermann

et al., 2008). Existem fenômenos psicológicos, como o decaimento, em que traços de

informação perdem sua ativação devida, principalmente à passagem do tempo (Brown, 1958;

Ricker, Vergauwe & Cowan, 2014) e devido, também, à expectativa, que é a espera pela

ocorrência de um evento em um determinado tempo (Boltz, 1993). Embora os estados de

ânimo pareçam estáveis, como os dados de Dela Vega Marcos et al. (2008) sugerem,

diferentes estímulos e contextos presentes como localidade, ambiente, contatos sociais, entre

outros, podem modificar a intensidade e a valência desses estados (Bueno & Di Bonifácio,

2007, 2009; Di Bonifácio, 2006, 2013; Nogueira, 2009; Souza, 2011; Dias-Silva, 2013; Da

Silva, 2013). Alterações dos estados de ânimo, em um determinado período de tempo, devem

ser estudadas para que se entenda como e quais aspectos podem influenciar as mudanças nos

estados de ânimo e a forma da escuta musical, sobretudo em participantes de rituais

xamânicos com estados alterados de consciência, atingidos por meio da bebida ayahuasca.

3 OBJETIVO

Nesse contexto, esta pesquisa possuiu como objetivos específicos verificar possíveis

alterações do tempo subjetivo em participantes, sob o efeito da ayahuasca e sem o efeito da

ayahuasca (por meio do uso de um veículo-controle), em função da música conhecida e da

música desconhecida, no ritual xamânico. A pesquisa visou, também, a analisar os Estados de

Ânimo Presentes no pico da ação da ayahuasca e no decaimento do efeito da ayahuasca, no

transcorrer do ritual. Foi examinado também o estado alterado da consciência dos

participantes do ritual, sob o efeito da ayahuasca, em rituais envolvendo música conhecida e

desconhecida.

4 MÉTODO

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31

4.1 Recrutamento

Foram convidados participantes de rituais xamânicos do Espaço Xamânico Monte

Líbano (Araraquara, Brasil), por meio de contatos pessoais e também com a ajuda de um site,

administrado pelo Espaço. Foram selecionados participantes experientes em práticas rituais

xamânicas, que tomaram o chá de ayahuasca mais de 60 vezes nos últimos três anos,

conforme sugeriu Bouso et al. (2013), no próprio Espaço ou em outras instituições similares.

4.2 Sujeitos

A amostra incluiu 15 participantes (oito mulheres e sete homens) residentes no Brasil,

com idade média de 35,6 anos, com audição normal, segundo relato dos participantes. Os

critérios de exclusão foram mulheres grávidas ou em período de lactação, pessoas que

realizaram cirurgia bariátrica ou que passaram recentemente por algum tipo de cirurgia, que

possuem históricos ou que foram diagnosticadas com hipertensão arterial, patologias

cardíacas, diabetes, que estão em fase de tratamento medicamentoso com ansiolíticos,

antipsicóticos, estabilizadores de humor, antidepressivos e inibidores de apetite à base de

anfetamina.

4.3 Equipamentos e material

Equipamento de controle experimental e registros de dados. A gravação de músicas

com a equalização de vários elementos de composição musical, para garantir a precisão de

reprodução sonora, foi feita no Centro de Estética Experimental do Laboratório de Processos

Associativos, Controle Temporal e Memória (USP-Ribeirão Preto). A sala possui as

seguintes características: 11,5 m2, pé direito de 3,1 m, paredes e teto revestidos com isolante

acústico Sonex Rock 625 x 625 mm., porta com recheio isolante acústico de lã de rocha e

Sonex na face interna, chão revestido com carpete, iluminação com duas lâmpadas de 40 W

cada uma e um ar condicionado Split Wall 9.500 BTU. Os equipamentos para o tratamento de

áudio foram: uma rack tubular de alumínio Titanium, um keystation M-AUDIO 61es, I Mac

20”, uma placa de som M-AUDIO Firewire 1814, um par de monitor de áudio M-AUDIO

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modelo BX8a, um equalizador Ciclotron CGE 2312s, um distribuir de canais Behringer,

modelo Powerplay PRO-XL, 1 microfone condensador M-AUDIO, modelo Luna, com

estante, cabos P2-P10, cabos P10-P10, cabos balanceados, Santo Angelo M30, um aparelho

de som estéreo Sony, modelo HCD-GT444.

Para a reprodução dos trechos musicais, foi utilizado um microcomputador notebook

IBM-PC, com o programa experimental Wav Surfer (Paula, Firmino & Bueno, 2003),

implementado no Visual Basic 6.0 for Windows, instalado para monitoramento das tarefas,

armazenamento e liberação dos estímulos e dos sinais de feedback, bem como registro das

reproduções temporais. Os participantes liberaram os estímulos de 20 segundos de duração,

de trechos musicais, e acionaram o início e o fim das estimações temporais, por meio de uma

caixa de botões. Essa caixa foi confeccionada adaptando um teclado numérico de conexão

USB com a tecla “enter” pintada de azul e escrito “ESCUTAR”, para a liberação do estímulo,

e as teclas menos (-) e mais (+), respectivamente, coloridas em verde, escrito “INÍCIO”, e em

vermelho, escrito “FIM”, para a reprodução temporal. Todas as demais teclas estavam

pintadas de preto. Um fone de ouvido fechado, JBL J55i, foi empregado para a apresentação

dos estímulos. Um sinal sonoro para uso de feedback (50ms) foi construído por meio do

software de síntese sonora Csound 4.19 (44100 Hz; resolução: 16 bits; modo: mono).

Equipamentos e material de preparação da ayahuasca e do veículo-controle. A

ayahuasca utilizada na pesquisa foi preparada no Espaço Xamânico Monte Líbano, com a

supervisão do feitor, que é experiente no processo de fabricação. O preparo foi feito com a

decocção de 60 quilos de talos macerados do cipó Banisteriopsis caapi (variedade tucunacá -

ourinhos), mais 15 quilos de folhas do arbusto Psychotria viridis. Toda a quantidade do cipó e

do arbusto foi dividida em três panelas. Dois terços desse material foram divididos em duas

panelas, cada uma contendo 40 litros de água e feito um primeiro cozimento desse material,

durante quatro horas. Após o cozimento, esse volume foi reduzido para 20 litros de chá por

panela, que foram reservados após serem separados dos talos de cipó e das folhas. A esses

talos de cipó e folhas, separados em duas panelas, foram acrescentados mais 40 litros de água

e feito um novo cozimento, por mais quatro horas, reduzindo para 20 litros de chá, em cada

panela, que foram separados e reservados. Novamente, a esses talos de cipó e folhas,

separados em duas panelas, foram acrescentados mais 40 litros de água por panela e feito um

novo cozimento, por mais quatro horas, reduzindo para 20 litros de chá em cada recipiente,

que foram separados e reservados. Após essas três fervuras, os três chás reservados resultaram

em 120 litros de chá. Foram acrescentadas a esses 120 litros de chá novas quantidades de talos

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do cipó e folhas, separados dos dois terços iniciais, e cozidos por mais quatro horas,

reduzindo o volume para 60 litros de chá. Depois desse cozimento, a infusão resultante foi

separada dos talos de cipó e das folhas e passou por uma última fervura para apuração,

chegando à concentração de 30 litros, desejada pelo feitor, obtendo assim a ayahuasca com a

concentração ótima, utilizada no ritual. Os participantes receberam até duas doses de 60 ml

dessa ayahuasca.

O veículo-controle teve uma concentração menor, em relação à ayahuasca com

concentração ótima, pois foi o resultado da infusão da primeira fervura no processo do

preparo da ayahuasca. O mesmo volume de 60 ml foi administrado de veículo-controle para

os participantes.

As análises cromatográficas da ayahuasca e do veículo-controle foram realizadas por

meio do equipamento “LC-LC-QqToFMS2. A detecção dos compostos foi realizada por um

detector de massas de alta resolução, tipo quadrupolo/tempo-de-voo (TOF/MS). Para isso,

utilizou-se um equipamento modelo MICROTOF-QII (Bruker Daltonics). Os compostos em

estudo foram ionizados por eletronebulização, no modo do íon positivo. As condições de

operação foram: voltagem do capilar (4,5 kV); pressão do gás nebulizador (4 bar); vazão do

gás secante (8 L/min.); faixa de massas monitorada (100-3000 daltons); taxa de aquisição de

espectros (1 Hz). Os resultados obtidos foram descritos na tabela 1.

2 Equipamento Multiusuários FAPESP, “LC-LC-QqToFMS” (processo no. 2004/09498-2), químico responsável

pela operação do equipamento: Dr. Guilherme Miola Titato (Laboratório de Cromatografia/Instituto de Química

de São Carlos/Universidade de São Paulo).

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Tabela 1 – Resultados gerais – comparativos entre as amostras DMT HARMINA HARMALINA TETRAHIDRO-

HARMINA Harmina/ ...DMT

1

Harmalina/ DMT

1

Tetrahidro-harmina/

DMT 1

Bebida %fração de área

%fração de área

%fração de área

%fração de área

Veículo-controle

14,2* 44,4** 9,6# 31,8

## 3,12 0,67 2,24

Ayahuasca 7,4 73,4 4,9 14,3 9,91 0,66 1,93

Fonte: Dr. Guilherme Miola Titato (Laboratório de Cromatografia/Instituto de Química de São

Carlos/Universidade de São Paulo).

*DMT: maior porcentagem na amostra 'Veículo-controle'.

**HARMINA: maior porcentagem na amostra 'Ayahuasca'. #HARMALINA: maior porcentagem na amostra 'Veículo-controle'. ##TETRAHIDROHARMINA: maior porcentagem na amostra 'Veículo-controle'.

Tempo crescente de extração (em temperatura alta): Veículo-controle – Ayahuasca . 1 Pelas três últimas colunas da tabela, relacionando a proporção de harmina, harmalina e tetrahidroharmina, em

relação à

quantidade de DMT, concluímos (considerando a amostra 'veículo-controle' como de menor efeito e a amostra

'Ayahuasca‟ como a de maior efeito) que quanto maior a relação HARMINA/DMT, maior o efeito do chá. A

razão

HARMALINA/DMT tem pouca influência no efeito do chá. A relação TETRAHIDROHARMINA/DMT

parece ter um efeito inverso, ou seja, quanto menor, maior o efeito do chá.

Para minimizar possíveis diferenças nos níveis de alcalóides, todos os chás

(ayahuasca/veículo-controle) utilizados no experimento tiveram a origem no mesmo lote de

produção.

Os recipientes utilizados para administrar os chás aos participantes foram construídos,

especificamente, para o estudo, por uma empresa especializada em vidrarias de laboratório.

Foram confeccionados 20 recipientes em vidro temperado, com pintura preta opaca, própria

para vidraria, com forma tubular cilíndrica de 30 mm de diâmetro e 160 mm de altura, com

fundo chato e abertura no topo, com borda de maior espessura.

Essas características permitiram administrar o volume de até 60 ml aos participantes e

minimizar a percepção entre as diferenças da ayahuasca e do veículo-controle, uma vez que

ambos os líquidos possuíam o mesmo cheiro e sabor, porém, consistências e colorações

diferentes, devido a diferentes concentrações de cada bebida.

4.4 Lista de Estados de Ânimo Presentes (LEAP)

Foi utilizada nesta pesquisa a Lista de Estados Ânimo Presentes (LEAP) (Engelmann,

1986, 2002. Foram utilizadas canetas, pranchetas e luminárias, para o preenchimento do

instrumento em quantidades suficientes para cada participante. A lista foi apresentada em uma

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folha de papel com 40 linhas, contendo cada linha uma locução, ladeada por uma escala de

diferencial semântico.

Nomeação e nível de presença dos Fatores da LEAP. A LEAP foi desenvolvida por

Engelmann (1986). É uma lista com quarenta locuções escritas na primeira pessoa do singular

(ver anexo D). A lista demonstra os estados de ânimo, tendo ao lado de cada locução uma

escala com graus de intensidade. Engelmann (1986) realizou um estudo aplicando a análise

fatorial das locuções da LEAP, conforme o valor hedônico e o nível de ativação atribuído a

elas pelos participantes, procurando mostrar uma característica de aproximação dos relatos

verbais e suas respectivas locuções de estados de ânimo presentes. A análise

fatorial identificou quais locuções apresentaram a mesma composição subjacente ou quais se

aproximaram. Os fatores da LEAP representaram os constructos que sintetizam os estados de

ânimo observados. Levando-se em conta as locuções correlacionadas a cada um dos estados

de ânimo e suas respectivas cargas, com a finalidade de facilitar a compreensão do que o

Fator representa, foi sugerida a seguinte nomeação em Picoli (2016: /Empatia; Fator V –

Fisiológico; Fator VI – Repulsa; Fator VII – Interesse; Fator VIII – Surpresa; Fator IX –

Fome; Fator X – Descaso/Inveja; Fator XI – Receptividade; Fator XII – Serenidade.

Para cada Fator, foi calculado um valor de presença. Esse valor é a média ponderada

das cargas das locuções relacionadas a cada Fator. Foi multiplicado o valor na escala de cada

locução da LEAP pela sua carga referente ao Fator. Por meio desse procedimento, verificou-

se que os fatores não estão equilibrados em termos de número de locução (o Fator I possui 14

locuções correlacionadas; o Fator V possui três locuções correlacionadas), portanto, suas

amplitudes de escala foram distintas, incapazes de desenvolverem uma comparação. Desta

forma, as escalas de cada fator foram ajustadas para possuírem um mesmo valor mínimo

(zero) e máximo (um), ou seja, a mesma amplitude de escala.

Como forma de possibilitar a análise descritiva dos dados, tendo em vista os cálculos

realizados para que as escalas pudessem ser comparadas, foi definido níveis de presença dos

valores obtidos para cada Fator. Foram considerados, arbitrariamente, como nível de presença

baixo entre 0 e 0,300 de média, nível de presença médio entre 0,300 e 0,700 e nível de

presença alto acima de 0,700.

4.5 Estímulos musicais

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Como o estudo envolveu a comparação entre os efeitos de músicas conhecidas e

desconhecidas, usadas em rituais xamânicos, foram consideradas como conhecidas as músicas

que são disponibilizadas regularmente em rituais do Espaço Xamânico, em sessões de

aproximadamente quatro horas, nos últimos três anos; como músicas desconhecidas, foram

compostas sete horas e 30 minutos de músicas, que nunca tinham sido apresentadas no Espaço

Xamânico.

Foram escolhidos 15 trechos musicais, cada um com duração de 20 segundos, de

músicas consideradas conhecidas. Todas as músicas conhecidas, utilizadas neste experimento,

foram enviadas por e-mail aos participantes. Foi solicitado que os participantes escutassem as

músicas ao menos 10 vezes. Os 15 trechos com músicas xamânicas desconhecidas foram

produzidos no Laboratório de Processos Associativos, Controle Temporal e Memória.

A coleta de dados dos trechos musicais ocorreu em um espaço em frente ao altar, no

local do ritual. O espaço consistiu em um o quiosque, feito com pilares de madeira rústica,

coberto por telhas com 22,5 m de diâmetro e centro principal com 11 m de altura. Ao centro

do quiosque, encontrava-se uma fogueira com 2 m de diâmetro, sustentada por um chapa de

metal e forrada com terra, para proteção do calor. Acima da fogueira, havia um pilar central,

que não tocava no chão, para a sustentação de todo o telhado, feito de madeira, com 5,3 m de

altura e localizado a 6 m do chão. Atrás da fogueira, localizava-se o altar com 10 m de

comprimento, feito de madeira rústica; foram distribuídas cinco mesas, contendo espaço para

dois participantes em cada uma. No altar, foram organizados mais três espaços para os

participantes reproduzirem os estímulos. Cada espaço, ocupado por um participante, foi

delimitado por cabines divisórias, construídas especialmente para este estudo, nas seguintes

proporções: 60 cm de altura, 75 cm de largura, abas laterais e superiores com 24 cm de

largura, feitas de papel acartonado paraná, de 2 mm, na cor celulose crua, para que cada

participante não tivesse contato com estímulos visuais e nem com os demais participantes. No

espaço, delimitado pelas divisórias, continha: uma caixa de botões para a reprodução dos

estímulos conectada a um notebook, que estava ao lado da divisória para o registro dos dados,

como descrito na sessão Equipamento de controle experimental e registros de dados, um fone

de ouvido, uma folha de papel contendo o questionário referente à reprodução dos estímulos,

uma caneta para responder ao questionário e uma cadeira para cada participante se sentar

confortavelmente. Atrás do altar, localizava-se uma bancada de 10 m, com duas pias, um

armário à esquerda e outro armário à direita, cada um contendo 5 m de altura, com 15 portas.

Geminado ao quiosque central, estava o banheiro masculino à direita e o feminino à esquerda,

cada um com 15 m2. O teto do salão possuía iluminação com luzes frias e brancas. Cada pilar

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de madeira que sustentava o quiosque possuía luzes de led lilás, que ficavam acessas durante

o ritual. Os pilares centrais, que sustentam o quiosque central, foram esculpidos com imagens

indígenas. No teto do quiosque central, o diâmetro foi decorado com banners, formando uma

mandala, com imagens de animais e personagens como Shiva, Cristo, entre outros. As paredes

dos banheiros, geminadas com o salão, eram decoradas por quadros com desenhos indígenas e

personagens místicos. Os banheiros eram iluminados com luzes de led lilás, durante o ritual.

Do lado de fora do quiosque central, dividindo o espaço entre homens e mulheres, localizava-

se uma segunda fogueira, em formato circular, com dois metros de diâmetro, delimitada por

pedras. Em frente a essa segunda fogueira, encontravam-se dois totens, um do lado masculino

e outro do lado feminino; cada toten possuía cinco metros de altura e havia canteiro, ao redor

de cada toten, com flores e luzes de led, para decoração e iluminação noturna. Na cerca e nas

árvores, ao redor de todo o espaço, luzes de led verde iluminavam e decoravam o local. Do

lado direito e esquerdo do quiosque central, encontravam-se outros dois quiosques menores,

com 2,5 m de diâmetro. Do lado direito, no lado masculino, após a parte delimitada para o

local do ritual, a paisagem era separada por cerca, composta por um pasto com árvores e

criação de gado. À esquerda, do lado feminino, localizava-se a casa do caseiro e dois

barracões. Um terceiro barracão estava sendo construído durante o experimento e hoje é o

novo local para a produção da ayahuasca, com o nome de “Casa de Feitio”.

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Figura 2 – Planta superior do quiosque

Fonte: Planta cedida pelo Espaço Xamânico Monte Líbano em 10/06/2017.

Figura 3 – Perspectiva leste

Fonte: Planta cedida pelo Espaço Xamânico Monte Líbano em 10/06/2017.

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Figura 4 – Pranchetas utilizadas no experimento, contendo caneta, luminária de led e

LEAP. À esquerda, uma simulação da luz diurna. À direita, uma simulação da luz noturna,

com as luzes do salão apagadas

Luz do dia Luz noturna

Fonte: Fotos tiradas pelo autor em 10/06/2017.

Figura 5 – À esquerda, podemos observar a diferença de cores entre os chás utilizados

no experimento. À direita, podemos observar o recipiente desenvolvido para o estudo,

contendo os respectivos chás

Diferença de cores entre os chás Recipiente desenvolvido para a pesquisa

Fonte: Fotos tiradas pelo autor em 10/06/2017.

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Figura 6 – Salão onde foram realizados os rituais no Espaço Xamânico Monte Líbano:

Acima, disposição das cabines divisórias, instaladas duas em cada mesa, para a coleta de

dados dos trechos de 20 s de músicas conhecidas e desconhecidas. Abaixo, Cabine divisória

com fone de ouvido e caixa de botões, para a liberação e estimação dos trechos musicais

Salão do Espaço Xamânico Monte Líbano

Cabine divisória

Fonte: Fotos realizadas pelo autor em 18/03/2017.

4.6 PROCEDIMENTO

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo) e observou todas as

recomendações éticas em pesquisa envolvendo seres humanos. Por conta de a pesquisa

ocorrer em duplo-cego, no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), não constou

que por duas das quatro vezes que os participantes realizaram o experimento, eles ingeririam

o chá veículo-controle. Numa entrevista individual, realizada após os rituais da pesquisa, foi

esclarecido aos participantes que, em função desta ser uma pesquisa, por duas das quatro

sessões de que eles participaram, eles consumiram um veículo-controle, em vez do chá de

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ayahuasca. O Espaço Xamânico autorizou, por escrito, que a pesquisadora realizasse a

pesquisa nas dependências do Espaço e com os participantes dos rituais.

Foram realizados cinco rituais em um local apropriado para a realização de rituais

xamânicos do Espaço Xamânico Monte Líbano. O experimento contou com dois esquemas de

sequências musicais: no primeiro esquema, na primeira parte do ritual, o participante ingeria a

substância ayahuasca ou veículo-controle e permanecia livremente na área disponível do

Espaço Xamânico, escutando por 90 minutos, apenas músicas conhecidas; depois de 90

minutos, o participante ingeria uma segunda dose da substância ayahuasca ou veículo-

controle, permanecendo na mesma área por 90 minutos escutando músicas desconhecidas; o

segundo esquema ocorreu da mesma forma, mas com a ordem inversa das sequências

musicais. Em cada dia de ritual, os participantes foram divididos entre os que ingeriam

ayahuasca e os que ingeriam veículo-controle. Cada participante foi submetido a quatro

rituais, dois rituais com ayahuasca nos dois esquemas de ritual e dois rituais com o veículo-

controle nos dois esquemas, distribuídos em cinco dias de sessões com intervalo de até 20

dias entre uma sessão e outra. O experimentador não utilizou ayahuasca durante os rituais da

pesquisa.

Aos participantes, que faziam o uso do tabaco e/ou da cafeína, foi exigido que pelo

menos uma hora antes do ritual não ingerissem nenhuma dessas substâncias. Aos

participantes, que faziam o uso do álcool etílico e/ou outras substâncias psicoativas, para fins

recreacionais, foi solicitada a abstinência delas, pelo período de 24 horas, antes de

participarem da pesquisa. No primeiro dia da sessão, antes do início da coleta de dados, todos

os participantes passaram por uma fase de treino, para aprender a reproduzir o tempo e para

aprender a responder à LEAP.

Em cada ritual, a sequência de atividades ocorreu da seguinte forma: os participantes

foram solicitados a se sentar em volta da fogueira, onde seria realizado o ritual, e foram

passadas verbalmente as instruções sobre o ritual e sobre a sequência de atividades; em

seguida, foram solicitados a responder à lista de estados de ânimo (LEAP) que lhes foram

entregues com uma prancheta, caneta e luminária de led anexada. Terminada a tarefa de

respostas à LEAP, os participantes foram solicitados a dirigirem-se para o local, em frente ao

altar, para a reprodução dos estímulos musicais de 20 segundos, sendo um estímulo de música

conhecida e outro de música desconhecida; o participante colocava um fone de ouvido para a

escuta do estímulo e, após cada apresentação, foi solicitado que o participante estimasse a

duração do trecho musical, usando as teclas apropriadas do teclado colocado sobre a mesa.

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Terminada a tarefa de estimação temporal da duração de música, os participantes receberam

até 60ml de ayahuasca/veículo-controle.

Em seguida, dava-se o início do ritual, com 90 minutos de duração, durante os quais

eram apresentadas, continuamente, músicas xamânicas (conhecidas ou desconhecidas,

conforme condições descritas anteriormente. Após 60 minutos da primeira ingestão do chá,

período considerado de pico da ação do chá (Riba et al., 2002), os participantes foram

solicitados a se sentarem, novamente, em volta da fogueira, e responderam de novo a LEAP.

Após 90 minutos do início do ritual, as músicas foram interrompidas, as luzes do local foram

acesas, como de costume do ritual.

Durante a preparação de uma segunda quantidade de chá, que seria servida aos

participantes, esses foram solicitados a se sentarem ao redor da fogueira e passaram por uma

nova avaliação da LEAP; em seguida, foram solicitados a dirigirem-se para o local da

reprodução dos estímulos musicais de 20 segundos, de músicas conhecidas ou desconhecidas,

onde passaram por nova avaliação de estimação temporal. Na sequência, a segunda

quantidade de ayahuasca/veículo-controle foi ingerida e as luzes do salão foram apagadas

novamente. A segunda parte do ritual reproduziu a sequência de eventos, descritos para a

primeira parte, modificando-se apenas a modalidade conhecida/desconhecida da música

apresentada durante a primeira parte do ritual. Imediatamente antes das tarefas de responder a

LEAP e realizar a tarefa de reprodução temporal das músicas apresentadas, o ritual foi

encerrado com palavras breves do dirigente do Espaço Xamânico e todos se ajoelharam em

agradecimento ao rito. Todos os participantes, portanto, passaram pela avaliação de sua

estimação temporal de músicas conhecidas e desconhecidas, bem como pela avaliação de seus

estados de ânimo ao longo do ritual, sob efeito da ayahuasca e do veículo-controle.

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5. RESULTADOS

Os participantes mantiveram-se conscientes e lúcidos, durante todos os rituais que

envolveram a coleta de dados do presente estudo, cooperando com a equipe de pesquisa para

a realização dos procedimentos de avaliação das funções. O participante que vomita e/ou não

ingere a segunda dose durante o ritual não é retirado do mesmo e, não há medidas conhecidas

para quantificar o aumento ou diminuição do efeito da ayahuasca após o vômito, que é um

processo denominado de purga. Os participantes que vomitaram e/ou não ingeriram a segunda

dose de ayahuasca não foram excluídos, porque a pesquisa teve como objetivo estudar o efeito

da ayahuasca no contexto do ritual. Seis participantes foram excluídos por terem faltado em

algum dos quatro rituais. A amostra final incluiu nove participantes (cinco mulheres, quatro

homens), com idade média de 37,7 anos.

O Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, version 22, IBM Corporation,

New York) foi utilizado para analisar os dados.

Reproduções temporais prospectivas com trechos musicais conhecidos e

desconhecidos pelos participantes (20segundos).

Diferenças em dados do tempo subjetivo foram analisadas por meio do Método da

Análise de Variância de Medidas Repetidas com quatro fatores repetidos (ANOVA). Não

houve interação significativa (F (1;8) = 3,81; p = 0,09) na reprodução dos estímulos

conhecidos de 20 segundos de duração,em comparação com os estímulos desconhecidos em

função dos chás (ayahuasca/veículo-controle). (Tabela 2).

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Tabela 2 – Reprodução dos estímulos conhecidos de 20 segundos de duração, em

comparação com os estímulos desconhecidos em função dos chás (ayahuasca/veículo-

controle)

Estímulos de 20 s Ingestões dos chás Médias (s) Desvios padrões

Conhecidos Ayahuasca 18,928 0,599

Conhecidos Veículo-controle 17,559 0,966

Desconhecidos Ayahuasca 18,241 0,659

Desconhecidos Veículo-controle 18,270 0,874

Nota. Os resultados apresentaram p = 0,09.

Os participantes sob efeito da ayahuasca, comparados ao do veículo-controle,

independentes dos estímulos serem conhecidos ou desconhecidos, não tiveram diferenças

estatisticamente significantes no tempo de reprodução.

Houve interação significativa na reprodução dos estímulos (independente de

conhecido ou desconhecido), em relação ao tempo de exposição às músicas do ritual

conhecidas, comparadas com as músicas desconhecidas, em função dos momentos do ritual e

da ayahuasca comparada com o veículo-controle (Tabela 3).

A tabela 3 descreveu as médias de reproduções temporais prospectivas com trechos

musicais conhecidos e desconhecidos, considerando o chá ingerido, o momento do ritual, a

exposição aos 90 minutos às músicas, conhecidas ou desconhecidas, executadas durante o

ritual.

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Tabela 3 – Médias e desvios padrões de reproduções temporais prospectivas com

trechos musicais conhecidos e desconhecidos pelos participantes, com durações de 20s1,

envolvendo os chás (ayahuasca/veículo-controle), os momentos do ritual e as exposições aos

dois gêneros musicais do ritual, com uma hora e 30 minutos de duração cada um Estimação

antes do ritual Ingestões dos chás

Momentos do ritual (min)

Exposições às músicas

Médias (s)

Desvios padrões

17,368 Ayahuasca 1ª parte - 90 Conhecidas 19,191* 0,557

17,368 Ayahuasca 2ª parte - 180 Conhecidas 18,665** 1,356

17,368 Veículo-controle 1ª parte - 90 Conhecidas 18,876 1,158

17,368 Veículo-controle 2ª parte - 180 Conhecidas 16,242 1,003

17,368 Ayahuasca 1ª parte - 90 Desconhecidas 18,701* 0,616

17,368 Ayahuasca 2ª parte - 180 Desconhecidas 17,781** 1,020

17,368 Veículo-controle 1ª parte - 90 Desconhecidas 16,791 0,640

17,368 Veículo-controle 2ª parte - 180 Desconhecidas 19,749# 1,302

1F(1;8) = 5,43p = 0,05 - A relação „exposição à música‟ e „momento do ritual‟ modificou-se quando a bebida

mudou.

* A média „exposição às músicas conhecidas‟ teve uma subestimação menor que a „exposição às músicas

desconhecidas‟, em presença da ayahuasca, no „momento do ritual 90 min‟.

** A média „exposição às músicas conhecidas‟ teve uma subestimação menor que a „exposição às músicas

desconhecidas‟, em presença da ayahuasca, no „momento do ritual 180 min‟. # Menor subestimação na reprodução do tempo comparado com todos os grupos.

Os participantes que ingeriram ayahuasca, após a exposição por uma hora e 30

minutos às músicas conhecidas, durante a primeira parte do ritual, tiveram uma pequena

subestimação temporal, comparados ao tempo real do estímulo, com duração de 20 segundos,

etiveram uma subestimação menor quando comparados aos partícipes que ingeriram o

veículo-controle, independente do estímulo conhecido ou desconhecido (Tabela 2). Nessas

mesmas condições, em função da ayahuasca, ao mudar o momento do ritual, na segunda

parte, aos 180 minutos, a subestimação dos participantes foi maior, ao serem comparados ao

momento 90 minutos do rito e também tiveram uma subestimação menor quando comparados

às mesmas condições aos 180 minutos ao ingerir o veículo-controle, independente do estímulo

ser conhecido ou desconhecido. Os participantes ao ingerirem a ayahuasca, após a exposição

por uma hora e 30 minutos às músicas desconhecidas, no momento 90 minutos do rito,

tiveram uma subestimação temporal maior, quando comparados às mesmas condições aos 90

minutos ao ingerirem o veículo-controle e expostos às músicas desconhecidas, mas, com

músicas conhecidas e, quando comparados às mesmas condições ao ingerir o veículo-

controle, independentemente do estímulo conhecido ou desconhecido, tiveram uma menor

subestimação temporal. Nessas mesmas condições, em função da ayahuasca e da exposição a

uma hora e 30 minutos de músicas desconhecias, na segunda parte,180 minutos do rito, a

subestimação dos participantes foi maior, quando comparados ao momento 90 minutos e,

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quando comparados às mesmas condições ao ingerir o veículo-controle com exposição às

músicas desconhecidas, no momento 180 minutos do rito, independente de estímulo

conhecido ou desconhecido. Os participantes que consumiram o veículo-controle, após a

exposição por uma hora e 30 minutos às músicas desconhecidas, na segunda parte do ritual,

momento 180 minutos, tiveram a menor subestimação temporal ao serem comparados com

todas as outras situações.

Diferenças e interações significativas nos fatores da LEAP. Os participantes

apresentaram níveis baixos de presença de fatores de estados de ânimo momentâneos, antes

de iniciar o ritual, no decorrer e no encerramento do rito nos fatores da LEAP: Fator I –

Humilhação/Raiva; Fator II – Fadiga; Fator IV – Limerência/Empatia; Fator VI – repulsa;

Fator X – Descaso/Inveja; Fator XI – Receptividade.

Os participantes apresentaram níveis médios de presença de fatores de estados de

ânimo momentâneos antes de iniciar o ritual, no decorrer e no encerramento do rito nos

fatores da LEAP: Fator V – Fisiológico; Fator VII – Interesse; Fator XII – Serenidade.

Houve diferenças significativas envolvendo os momentos do ritual, independente da

ingestão de ayahuasca/ veículo-controle e independente dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos); houve interações significativas envolvendo os momentos do

ritual e a ingestão de ayahuasca, comparada ao consumo de veículo-controle; houve

interações significativas envolvendo as músicas do ritual conhecidas, comparadas com as

músicas desconhecidas e em função da ingestão da ayahuasca, examinada em relação ao

consumo do veículo-controle.

As diferenças e as interações dos estados de ânimo presentes foram analisadas por

meio do Método da Análise de Variância de Medidas Repetidas, com três fatores repetidos. A

tabela 4 descreveu as diferenças e as interações significativas, encontradas em fatores do

LEAP, em relação ao tempo de exposição às músicas do ritual conhecidas, comparadas com

as músicas desconhecidas e em função dos momentos do ritual e da ayahuasca, examinada em

relação ao veículo-controle.

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Tabela 4 – Diferenças e interações significativas em fatores do LEAP, em relação ao

tempo de exposição às músicas do ritual conhecidas, comparadas com as músicas

desconhecidas e em função dos momentos do ritual e da ayahuasca, examinada em relação ao

veículo-controle. Diferenças envolvendo os momentos do ritual, independentes da ingestão de ayahuasca/veículo-controle e do gênero musical (conhecido/desconhecido).

Fator-LEAP

Presenças iniciais

dos fatores

Ingestões dos chás

Momentos

do ritual

(min)

Médias

das

presenças

Desvios

padrões

XII - Serenidade1 0,400 Ayahuasca + veículo-

controle

60 0,387 0,083

0,400 Ayahuasca + veículo-

controle

90 0,376 0,082

0,400 Ayahuasca + veículo-

controle

130 0,455 0,088

0,400 Ayahuasca + veículo-

controle

180 0,440 0,081

Interações envolvendo os momentos do ritual,em função da ayahuasca comparada ao veículo-controle,

independente dos gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos),das interações envolvendo os momentos

do ritual comparados aos gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos) e dos chás (ayahuasca/veículo-

controle).

III - Esperança2 0,248 Ayahuasca 60 0,236 0,077

0,248 Ayahuasca 90 0,232 0,079

0,248 Ayahuasca 130 0,306 0,086

0,248 Ayahuasca 180 0,332 0,077

0,248 Veículo-controle 60 0,236 0,09

0,248 Veículo-controle 90 0,252 0,089

0,248 Veículo-controle 130 0,251 0,088

0,248 Veículo-controle 180 0,244 0,088

V - Fisiológico3 0,424 Músicas conhecidas 60 0,340 0,035

0,424 Músicas conhecidas 90 0,360 0,037

0,424 Músicas conhecidas 130 0,270 0,043

0,424 Músicas conhecidas 180 0,230* 0,034

0,424 Músicas desconhecidas 60 0,310 0,037

0,424 Músicas desconhecidas 90 0,270 0,038

0,424 Músicas desconhecidas 130 0,350 0,059

0,424 Músicas desconhecidas 180 0,444* 0,066

VII - Interesse4 0,327 Ayahuasca 60 0,327 0,088

0,327 Ayahuasca 90 0,322 0,082

0,327 Ayahuasca 130 0,399 0,092

0,327 Ayahuasca 180 0,466 0,105

0,327 Veículo-controle 60 0,353 0,109

0,327 Veículo-controle 90 0,366 0,098

0,327 Veículo-controle 130 0,396 0,101

0,327 Veículo-controle 180 0,399 0,100

VII - Interesse5 0,327 Músicas conhecidas 60 0,390 0,099

0,327 Músicas conhecidas 90 0,360 0,090

0,327 Músicas conhecidas 130 0,390 0,094

0,327 Músicas conhecidas 180 0,400* 0,100

0,327 Músicas desconhecidas 60 0,290 0,097

0,327 Músicas desconhecidas 90 0,330 0,091

0,327 Músicas desconhecidas 130 0,410 0,100

0,327 Músicas desconhecidas 180 0,460* 0,104

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Interações envolvendo as músicas do ritual conhecidas, comparadas com as músicas desconhecidas, em

função da ayahuasca comparada ao veículo-controle, independente dos momentos do ritual.

XII - Serenidade6 0,400 Ayahuasca + músicas conhecidas 0,460 0,088

0,400 Ayahuasca + músicas desconhecidas 0,410** 0,090

0,400 Veículo-controle + músicas conhecidas 0,380** 0,074

0,400 Veículo-controle + músicas

desconhecidas

0,450** 0,092

1F(3;24) = 3,91; p = 0,01 - Com 60 min. e 90 min.< 130 min. e 180min. 2F(3;24) = 6,41; p = 0,002. 3F(3;24) = 7,38; p = 0,001 - Comparando os momentos do ritual entre si, nem sempre as músicas

desconhecidas apresentaram níveis de presença maiores. 4F(3;21) = 3,98; p = 0,02 - As diferenças entre os momentos do ritual variaram conforme mudou a ingestão

dos chás. 5F(3;21) = 3,38; p = 0,04 - As diferenças entre os momentos do ritual variaram conforme mudaram as

exposições aos gêneros (conhecidos/desconhecidos). 6F(1;7) = 8,74; p = 0,02.

* As exposições às músicas desconhecidas tiveram maiores presenças nos fatores comparadas com: músicas

desconhecidas, no momento do ritual em 180 min.

** O veículo-controle + músicas desconhecidas tiveram maior presença no fator, comparados com: ayahuasca

+ músicas desconhecidas e veículo-controle + músicas conhecidas.

Os participantes, quando comparados no Fator XII – Serenidade, nos momentos antes

do início e durante o ritual, independente da ingestão de ayahuasca/ veículo-controle e

independente do gênero musical (conhecido/desconhecido), obtiveram nível de presença

média (Tabela 4); após a ingestão dos chás, independente de ayahuasca ou de veículo-

controle, no momento 60 minutos do rito, após a primeira dose, ocorreu uma pequena queda

na presença do Fator XII; aos 90 minutos do ritual, a presença do fator teve outra leve queda;

aos 130 minutos, com uma segunda dose do chá, a presença do fator aumentou; aos 180

minutos, com duas doses dos chás, a presença do fator apresentou uma leve queda.

No Fator III - Esperança, interações envolvendo os momentos do ritual em função da

ayahuasca comparada ao veículo-controle, independentes dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos) e das interações, envolvendo os momentos do ritual comparados

aos gêneros musicas (conhecidos/desconhecidos) e independentes dos chás

(ayahuasca/veículo-controle), os participantes, antes de iniciarem o ritual, apresentaram nível

baixo de presença desse fator; após a ingestão do chá ayahuasca aos 60 minutos, momento

alto da ação da ayahuasca, a presença do fator caiu, tanto na condição do chá ayahuasca,

quanto na condição do veículo-controle; aos 90 minutos ocorreu outra queda na presença do

Fator - III na condição da ayahuasca; quando comparada às mesmas condições do veículo-

controle, ocorreu um aumento da presença do fator; após a ingestão da segunda dose da

ayahuasca, aos 130 minutos do rito, pico da ação da ayahuasca, a presença do fator subiu;

quando comparada às mesmas condições do veículo-controle, a presença do fator continuou

estável. No momento 180 minutos do rito, em função da ayahuasca, a presença do fator subiu

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novamente; quando comparada às mesmas condições ao veículo-controle, a presença do fator

caiu novamente.

No Fator V – Fisiológico, as interações envolvendo os momentos do ritual, em função

da ayahuasca, comparada ao veículo-controle, independentes dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos), das interações envolvendo os momentos do ritual, comparados

aos gêneros musicas (conhecidos/desconhecidos) e dos chás (ayahuasca/veículo-controle), os

participantes, antes de iniciarem o ritual, apresentaram níveis médios de presença; ao serem

comparadas os momentos do ritual entre si, nem sempre a presença do fator em exposição às

músicas desconhecidas foi maior, independente da ingestão da ayahuasca ou do veículo-

controle. Aos 60 minutos do início do ritual, em exposição às músicas conhecidas, as

presenças dos fatores foram estatisticamente iguais, quando comparadas às mesmas

condições, em exposição às músicas desconhecidas; aos 90 minutos do início do ritual, em

exposição às músicas conhecidas, a presença do Fator - V foi mais alta, quando comparada às

mesmas condições, em exposição às músicas desconhecidas; em 130 minutos com a

exposição às músicas desconhecidas, a presença do Fator - V foi maior,quando comparada às

mesmas condições em exposição às músicas conhecidas; em 180 minutos em exposição às

músicas conhecidas, a presença do Fator - V foi maior, quando comparada às mesmas

condições em exposição às músicas conhecidas.

No Fator VII – Interesse, interações envolvendo os momentos do ritual, em função da

ayahuasca comparada ao veículo-controle, independentes dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos), das interações envolvendo os momentos do ritual comparados

aos gêneros musicas (conhecidos/desconhecidos) e dos chás (ayahuasca/veículo-controle), os

participantes, antes de iniciarem o ritual, apresentaram nível médio de presença desse fator;

após a ingestão do chá ayahuasca, no momento 60 minutos do rito, momento alto da ação da

ayahuasca, estatisticamente, as presenças dos fatores permaneceram as mesmas, comparadas

com os chás (ayahuasca/veículo-controle) e antes do início do ritual; no momento 90 minutos

do rito, em função da ayahuasca, o nível de presença do fator foi menor, quando comparado

às mesmas condições, em função do veículo-controle; após a ingestão da segunda dose de

ayahuasca, aos 130 minutos, pico da ação da ayahuasca, a presença do fator VII foi

estatisticamente igual, quando comparada às mesmas condições, em função do veículo-

controle; no momento 180 minutos, a presença desse fator foi maior, quando comparada às

mesmas condições, em função do veículo-controle.

No Fator VII – Interesse, interações envolvendo os momentos do ritual, em função da

ayahuasca, comparada ao veículo-controle, independentes dos gêneros musicais

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(conhecidos/desconhecidos), das interações envolvendo os momentos do ritual comparados

aos gêneros musicas (conhecidos/desconhecidos) e dos chás (ayahuasca/veículo-controle), os

participantes, antes de iniciarem o ritual, apresentaram nível médio de presença desse fator; ao

comparar os momentos do ritual entre si, nem sempre a presença desse fator em exposição às

músicas desconhecidas foi maior após a ingestão do chá ayahuasca: aos 60 minutos do

momento do ritual, momento alto da ação da ayahuasca, a presença desse fator foi menor na

exposição às músicas desconhecidas, comparada com a exposição às músicas conhecidas; em

90 minutos do momento do ritual, a presença desse fator foi maior com a exposição às

músicas desconhecidas, comparada às mesmas condições no momento 90 minutos do rito e a

presença do fator continuou menor, comparada às mesmas condições da exposição às músicas

conhecidas do rito; em 130 minutos do início do ritual, momento alto da ação da ayahuasca, a

presença desse fator foi maior em exposição às músicas desconhecidas, comparada às mesmas

condições do momento 90 minutos do rito e a presença do fator foi maior, comparada às

mesmas condições da exposição às músicas conhecidas do rito; em 180 minutos do momento

do ritual, decaimento da ação da ayahuasca,a presença do fator foi maior em exposição às

músicas desconhecidas, comparada às mesmas condições do momento 130 minutos do rito e a

presença do fator foi maior, comparada às mesmas condições em exposição às músicas

conhecidas do rito.

No Fator XII – Serenidade, interações envolvendo as músicas do ritual conhecidas,

comparadas com as músicas desconhecidas, em função da ayahuasca comparada ao veículo-

controle, independente dos momentos do ritual, os participantes, antes de iniciarem o ritual,

apresentaram nível médio de presença desse fator; após a exposição de uma hora e 30 minutos

às músicas conhecidas, em função da ayahuasca, independente do momento do ritual, a

presença desse fator foi maior, comparada em função do veículo-controle; após a exposição

de uma hora e 30 minutos às músicas desconhecidas, em função da ayahuasca, independente

do momento do ritual, a presença desse fator foi menor,comparada em relação ao veículo-

controle.

Diferenças e interações significativas com a análise de sexos nos fatores da LEAP.

Embora não houvesse o interesse inicial nesta pesquisa de analisar as diferenças entre os

sexos, em uma análise ad hoc, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas

entre os fatores da LEAP, no Método da Análise de Variância de Medidas Repetidas, Modelo

Misto, com três fatores repetidos e um fator independente (sexo).

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Os participantes apresentaram níveis baixos de presença de fatores de estados de

ânimo momentâneos, antes de iniciar o ritual, no decorrer e no encerramento do rito nos

fatores da LEAP: Fator I – Humilhação/Raiva; Fator II – Fadiga; Fator IV –

Limerência/Empatia; Fator VI – repulsa; Fator X – Descaso/Inveja; Fator XI –

Receptividade.

Os participantes apresentaram níveis médios de presença de fatores de estados de

ânimo momentâneos antes de iniciar o ritual, no decorrer e no encerramento do rito nos

fatores da LEAP: Fator III – Esperança; Fator V – Fisiológico; Fator VII – Interesse; Fator

XII – Serenidade.

A tabela 5 descreveu as diferenças e as interações significativas, encontradas em

fatores da LEAP, em relação ao tempo de exposição à música do ritual conhecida, comparada

com a música desconhecida, em função do momento do ritual e da ayahuasca, comparada

com o veículo-controle.

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Tabela 5 - Diferenças e interações significativas, encontradas em fatores da LEAP, em

relação ao tempo de exposição à música do ritual conhecida, comparada com a música

desconhecida, em função do momento do ritual e da ayahuasca, comparada com o veículo-

controle.

Fator-LEAP Sexos Presenças

iniciais dos

fatores

Ingestões dos chás Momentos

dos rituais

(min.)

Médias

das

presenças

Desvios

padrões

III - Esperança1

Masculino

0,361

Ayahuasca +Veículo-controle

60

0,393

0,105

Masculino 0,361 Ayahuasca +Veículo-controle 90 0,372 0,115

Masculino 0,361 Ayahuasca +Veículo-controle 130 0,405 0,12

Masculino 0,361 Ayahuasca +Veículo-controle 180 0,385 0,116

Feminino 0,157 Ayahuasca +Veículo-controle 60 0,110 0,094

Feminino 0,157 Ayahuasca +Veículo-controle 90 0,137 0,103

Feminino 0,157 Ayahuasca +Veículo-controle 130 0,177 0,108

Feminino 0,157 Ayahuasca +Veículo-controle 180 0,211 0,104

VII - Interesse2 Masculino 0,437 Ayahuasca +Veículo-controle 60 0,502 0,113

Masculino 0,437 Ayahuasca +Veículo-controle 90 0,470 0,114

Masculino 0,437 Ayahuasca +Veículo-controle 130 0,487 0,138

Masculino 0,437 Ayahuasca +Veículo-controle 180 0,518 0,146

Feminino 0,239 Ayahuasca +Veículo-controle 60 0,178 0,113

Feminino 0,239 Ayahuasca +Veículo-controle 90 0,218 0,114

Feminino 0,239 Ayahuasca +Veículo-controle 130 0,308 0,138

Feminino 0,239 Ayahuasca +Veículo-controle 180 0,347 0,146

Interações envolvendo os momentos do ritual e os chás, independentes dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos).

XII - Serenidade3 Masculino 0,522 Ayahuasca 60 0,463 0,143

Masculino 0,522 Ayahuasca 90 0,478 0,116

Masculino 0,522 Ayahuasca 130 0,463 0,130

Masculino 0,522 Ayahuasca 180 0,570 0,111

Masculino 0,522 Veículo-controle 60 0,559 0,125

Masculino 0,522 Veículo-controle 90 0,525 0,133

Masculino 0,522 Veículo-controle 130 0,585 0,154

Masculino 0,522 Veículo-controle 180 0,495 0,139

Feminino 0,302 Ayahuasca 60 0,317 0,128

Feminino 0,302 Ayahuasca 90 0,232 0,104

Feminino 0,302 Ayahuasca 130 0,453 0,117

Feminino 0,302 Ayahuasca 180 0,362 0,099

Feminino 0,302 Veículo-controle 60 0,260 0,112

Feminino 0,302 Veículo-controle 90 0,319 0,119

Feminino 0,302 Veículo-controle 130 0,345 0,137

Feminino 0,302 Veículo-controle 180 0,370 0,124

Interações envolvendo os gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos) e os chás (ayahuasca/veículo-

controle), independentes do momento do ritual.

XII - Serenidade4 Masculino 0,522 Músicas conhecidas + Ayahuasca 0,494 0,131

Masculino 0,522 Músicas conhecidas + Veículo-controle 0,552 0,134

Masculino 0,522 Músicas desconhecidas + Ayahuasca 0,492 0,111

Masculino 0,522 Músicas desconhecidas + Veículo-controle 0,531 0,138

Feminino 0,302 Músicas conhecidas + Ayahuasca 0,423 0,117

Feminino 0,302 Músicas conhecidas + Veículo-controle 0,274 0,120

Feminino 0,302 Músicas desconhecidas + Ayahuasca 0,259 0,099

Feminino 0,302 Músicas desconhecidas + Veículo-controle 0,372 0,123

V - Fisiológico5 Masculino 0,400 Músicas conhecidas + Ayahuasca 0,279 0,060

Masculino 0,400 Músicas conhecidas + Veículo-controle 0,210 0,044

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Masculino 0,400 Músicas desconhecidas + Ayahuasca 0,277 0,081

Masculino 0,400 Músicas desconhecidas + Veículo-controle 0,301 0,046

Feminino 0,443 Músicas conhecidas + Ayahuasca 0,285 0,053

Feminino 0,443 Músicas conhecidas + Veículo-controle 0,392 0,039

Feminino 0,443 Músicas desconhecidas + Ayahuasca 0,437 0,073

Feminino 0,443 Músicas desconhecidas + Veículo-controle 0,339 0,041 1F(3;21) = 3,28; p = 0,04 - Presenças dos fatores no sexo masculino > sexo feminino; no sexo masculino, as

relações entre os momentos do ritual foi de igualdade; no sexo feminino, os momentos 60 min. e 90 min. foram

< que os momentos130 min. e 180 min. 2 F(3;18) = 3,80; p = 0,003 - Os valores foram completamente distintos, dependendo dos sexos. 3 F(3;21) = 3,13; p = 0,05 - Conforme mudou o sexo, as relações entre bebida e momento do ritual mudaram. 4F(1;7) = 11,65; p = 0,01 - Conforme mudou o sexo, as relações entre música e bebida mudaram. 5F(1;7) = 5,28 ; p = 0,05 - Presenças dos fatores no sexo feminino > sexo masculino; relações entre músicas e

bebidas mudaram conforme os sexos.

Foram apresentadas na tabela 4, no Fator III – Esperança, diferenças envolvendo os

momentos do ritual, independente da ingestão dos chás ayahuasca/veículo-controle e dos

gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos): os participantes do sexo masculino, antes de

iniciarem o ritual, apresentaram nível médio de presença desse fator; o grupo do sexo

feminino apresentou nível de presença baixo; após a ingestão do chá, independente de

ayahuasca ou veículo controle, observou-se que,no sexo masculino, a presença desse fator foi

maior, quando comparada ao sexo feminino, nas mesmas condições e em todos os momentos

da cerimônia; no sexo masculino, a presença do fator nos tempos 60 minutos e 130 minutos

foi maior, ao ser comparada aos momentos 90 e 180 minutos; no sexo feminino, a presença do

fator aumentou, conforme ocorreu a passagem do tempo no ritual.

Foram apresentadas na tabela 4, no Fator VII – Interesse, diferenças envolvendo os

momentos do ritual, independentes da ingestão dos chás ayahuasca/veículo-controle e dos

gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos). Antes de iniciar o ritual, os grupos dos sexos

masculino e feminino apresentaram níveis médio e baixo de presença desse fator,

respectivamente; após a ingestão dos chás, independente de ayahuasca ou de veículo controle,

observou-se que, no sexo masculino, a presença desse fator foi maior, comparada ao sexo

feminino, nas mesmas condições e em todos os momentos da cerimônia; no sexo masculino, a

presença desse fator, no momento 60 minutos, teve uma presença maior, quando comparada à

presença antes de iniciar o ritual; aos 90 minutos, o fator apresentou uma presença menor,

quando comparada ao momento 60 minutos do rito; aos 130 e 180 minutos, o fator apresentou

níveis de presenças maiores,comparados aos dois momentos da primeira parte do ritual. No

sexo feminino, a presença desse fator aumentou, conforme ocorreu a passagem do tempo no

ritual: aos 180 minutos, final do ritual, o grupo do sexo feminino apresentou o maior nível de

presença desse fator.

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Foram verificadas na tabela 4, no Fator XII – Serenidade, interações envolvendo os

momentos do ritual e os chás, independentes dos gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos): os participantes do sexo masculino, antes de iniciarem o ritual,

apresentaram nível médio de presença desse fator e, em todos os momentos (antes, meio e

final do ritual), o grupo masculino apresentou níveis de presença desse fator mais altos que o

grupo feminino. No grupo masculino, em todos os momentos do ritual, em função da

ayahuasca ou do veículo-controle, as presenças entre as condições apresentaram médias muito

próximas entre si, porém, na situação com ayahuasca, esse grupo chegou ao tempo 180

minutos do ritual com uma presença média desse fator maior que na situação com o veículo-

controle. No grupo feminino, não houve diferenças em função da ayahuasca comparada ao

veículo-controle e, ambos os grupos, masculino e feminino, terminaram os rituais com

presenças maiores desse fator, comparadas às presenças antes de iniciarem os rituais.

O Fator XII – Serenidade, em interações envolvendo os gêneros musicais

(conhecidos/desconhecidos) e os chás (ayahuasca/veículo-controle), independentes do

momento do ritual, apresentado na tabela 4, mostrou que os participantes do sexo masculino,

antes de iniciarem o ritual, apresentaram nível médio de presença desse fator e níveis de

presença mais altos, quando comparados ao grupo do sexo feminino; em todos os momentos,

após o início e até o final do ritual, a presença desse fator no grupo masculino permaneceu

maior, quando foi comparada ao grupo feminino; no sexo masculino, tanto em exposição às

músicas conhecidas ou desconhecidas, os participantes apresentaram menores níveis de

presença desse fator em função da ayahuasca, comparados ao veículo-controle; no sexo

feminino, ocorreram situações opostas ao grupo masculino, conforme mudaram os chás e os

gêneros musicais; a maior presença desse fator ocorreu em exposição às músicas conhecidas

em função da ayahuasca, para o sexo feminino; nas mesmas condições, o sexo feminino

apresentou presença baixa do fator em exposição às músicas desconhecidas, em função da

ayahuasca; nas mesmas condições, em exposição às músicas desconhecidas, em função do

veículo-controle, o sexo feminino apresentou a maior presença desse fator,comparada às

mesmas condições de exposição às músicas conhecidas, em função da ayahuasca, com nível

de presença baixa.

O único fator em que o sexo feminino apresentou níveis de presenças maiores que o

sexo masculino foi o fisiológico. O fator V – Fisiológico, com interações envolvendo os

gêneros musicais (conhecidos/desconhecidos) e os chás (ayahuasca/veículo-controle),

independentes do momento do ritual, apresentado na tabela 4, mostrou que os participantes do

sexo masculino, antes de iniciarem o ritual, apresentaram nível médio de presença e níveis de

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presenças mais baixos, quando foram comparados ao grupo do sexo feminino; em todos os

momentos, após o início e até o final do ritual, a presença desse fator no grupo feminino

permaneceu maior, quando foi comparada ao grupo masculino; no sexo masculino, tanto em

exposição às músicas conhecidas ou desconhecidas, os participantes apresentaram níveis de

presenças iguais, em função da ayahuasca, independente da exposição às músicas conhecidas

ou desconhecidas; em função do veículo-controle, no sexo masculino, a presença desse fator

foi maior em exposição às músicas desconhecidas e, nessas mesmas condições, esse fator em

exposição às músicas conhecidas apresentou a maior presença, comparada às demais

condições do grupo; no sexo feminino, as presenças desse fator variaram conforme mudaram

os chás e as exposições aos gêneros musicas; a maior presença do fator ocorreu em função da

bebida ayahuasca, em exposição às músicas desconhecidas; quando comparado ao sexo

masculino, o fator também apresentou o maior nível de presença; nas demais situações, tanto

no sexo masculino quanto no sexo feminino, houve presenças do fator abaixo desta interação.

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6. DISCUSSÃO

O tempo subjetivo em participantes sob efeito da ayahuasca e sem o efeito da

ayahuasca, em rituais xamânicos, se altera ao longo do tempo, com a exposição às músicas

conhecidas e desconhecidas. Existe um conhecimento estrutural musical totalmente não-

verbal e acontece inclusive em não-músicos, isto é, pessoas sem treinamento sistemático,

prático e teórico, envolvendo algum instrumento musical ou canto (Firmino & Bueno, 2008;

Bueno & Bigand, 2011; Firmino & Bueno, 2016; Ramos,). Essa aprendizagem implícita

musical, favorecida a partir do cotidiano acústico-cultural dos ouvintes ocidentais, resulta em

mais do que o armazenamento das regularidades estatísticas entre tons, acordes e tonalidades

musicais (Tillmann, Bharucha, & Bigand, 2000).

Os participantes, na condição de ingestão da ayahuasca, quando comparados aos

participantes que ingeriram o veículo-controle, monstraram que ambos os gêneros musicais,

conhecidos e desconhecidos, eliciaram uma pequena subestimação temporal. Os participantes,

em função da ayahuasca na tarefa de reprodução do tempo, quando comparados com a

situação de ingestão do veículo-controle, neste estudo, não apresentaram superestimações

temporais e/ou grandes distorções temporais. Os resultados obtidos mostraram que, na tarefa

de reprodução, para os estímulos desconhecidos, os participantes fizeram reproduções muito

próximas dos valores precisos dos estímulos, inclusive nos milissegundos.

Na tarefa de reprodução para os estímulos conhecidos, os participantes, sob efeito da

ayahuasca, apresentaram reproduções mais próximas dos 20 segundos, em comparação com

os participantes que ingeriram o veículo-controle. Embora esses resultados, quando

comparadas suas diferenças entre si, tenham sido apenas marginalmente significativos, com p

= 0,09, e tenham sido obtidos com uma amostra pequena, no entanto, são resultados novos;

por meio de uma pesquisa metódica feita na literatura, este foi o primeiro estudo que analisou,

de forma sistemática, a tarefa de reprodução do tempo, com um cronômetro, em função dos

estados alterados da consciência, induzidos pela bebida ayahuasca.

Shanon (2002b) mostrou que a indução de um novo modo temporal para a mente é

um dos efeitos mais básicos da ayahuasca. A bebida induz estados mentais que,

experimentalmente, distorcem subjetivamente o tempo objetivo. Substâncias como a

ayahuasca, geralmente, retardam o fluxo do tempo percebido. O presente estudo encontrou

resultados discrepantes aos mencionados até agora pela literatura, à qual mostra que

distorções do tempo são experiências relevantes relatadas pelos participantes após a ingestão

de alucinógeno, uma vez que, até o presente momento, a literatura aborda a substância

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ayahuasca como um alucinógeno serotoninérgico como LSD e psilocibina (Wittmann et al.,

2007).

Thomas de Quincey (1821), com Confessions of ran English Opium Eater, Huxley

(1954), em seus relatos de uso da mescalina e Benjamin (2010), por meio de relatos com o

uso de haxixe, enfatizaram a ocorrência de superestimações temporais durante a ingestão de

drogas alucinógenas. Esses relatos de superestimações e distorções temporais, em função de

alucinógenos serotoninérgicos, foram complementados por pesquisas sistemáticas com outras

substâncias alucinógenas, como psilocibina, mostrando que o tempo subjetivo foi distorcido

nas tarefas de percepção do tempo com duração na gama de segundos (Wackermann,

Wittmann, Hasler, & Vollenweider, 2008). Substâncias psicoativas não só podem distorcer o

tempo subjetivo, mas, em casos extremos, podem provocar uma ruptura na percepção

temporal e remeter sentimento de intemporalidade (timelessness) (Shanon, 2001).

Houve uma diferença significativa com a reprodução do tempo, relacionada ao tempo

de exposição às músicas executadas nos rituais, comparando com a exposição às músicas

conhecidas e músicas desconhecidas. Fraisse (1967) avaliou que a quantidade de vezes que

uma pessoa escuta a música pode vir a interferir na forma da escuta. Estudos afirmaram que

uma variável importante, envolvendo a música como estímulo-padrão, se refere à

familiaridade do sujeito ao evento a ser apreciado (Ramos, 2008; Ramos, Bueno & Bigand,

2011;). Berlyne (1974b), ao abordar as pesquisas que envolvem apreciação estética, afirmou

que essas apreciações devem ser efetuadas analisando a obra de arte como um padrão de

estímulos colativos. Estes fatores são “formais” ou “estruturais”, suas proporções variam entre

opostos como: esperado – surpreendente; não familiar – familiar; simples – complexo; estável

– instável; ambíguo – claro. Berlyne (1971) explicou que esses fatores são muito utilizados

em estudos experimentais sobre a apreciação da estética, levando em consideração os níveis

de familiaridade, de novidade e de complexidade dos estímulos a serem abordados.

Hargreaves e Castell (1987) mostram que quanto mais um participante for familiar a um

estímulo, melhor ele o avalia; o evento fica mais previsível e, por conseguinte, menos

complexo subjetivamente.

O tempo em que os participantes foram expostos aos dois diferentes gêneros musicais

estudados nesta pesquisa mostrou influenciar a percepção temporal dos partícipes. Fraisse

(1984) destacou que o tempo subjetivo não existe por si só, mas como característica essencial

daquilo que continua. Na presente pesquisa, quando os participantes foram expostos por 90

minutos, após a primeira parte do ritual, às músicas conhecidas durante os ritos, ocorreu uma

pequena subestimação temporal na resposta à tarefa da reprodução musical, independente dos

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estímulos de 20 segundos serem conhecidos ou desconhecidos. Quando comparados com as

mesmas condições (ficarem expostos por 90 minutos às músicas conhecidas), mudando

apenas o momento à exposição musical, essa condição eliciou uma leve subestimação

temporal, que foi maior quando comparada à primeira situação. Em ambos os casos

(ayahuasca/veículo-controle), no final do ritual, momento 180 minutos, houve uma

subestimação significativa na reprodução do tempo, maior que no momento 90 minutos.

A observação da experimentadora pode identificar um estado meditativo/concentração

dos participantes durante todo o ritual; segundo Wittmann et al. (2015), participantes

experientes em práticas meditativas tendem a sofrer uma maior subestimação temporal, ou

seja, no final da segunda parte do ritual, além do efeito da ação da ayahuasca que produziu

uma subestimação temporal, os participantes também apresentaram maiores subestimações,

por somarem o tempo maior da meditação (no final do ritual, os participantes permaneceram

por 180 minutos em meditação/concentração). A literatura ressalta que o tempo que a pessoa

permanece em meditação influencia na percepção temporal (Wittmann et al., 2015).

Os dados desta pesquisa mostram que, ao serem expostos a 90 minutos de músicas

desconhecidas, os participantes apresentaram maiores subestimações temporais ao serem

comparados com os participantes expostos às músicas conhecidas. Como ocorreu na

exposição às músicas conhecidas, o momento final do ritual, 180 minutos, eliciou nos

participantes uma maior subestimação temporal comparados ao momento 90 minutos nas

mesmas condições, ou seja, os resultados sugerem que houve um efeito cumulativo da ação da

ayahuasca com a exposição às músicas desconhecidas no estado de meditação/concentração.

Os participantes deste estudo, em condição de ingestão do veículo-controle, ao serem

expostos por 90 minutos às músicas conhecidas do ritual, tiveram uma subestimação maior na

reprodução do tempo dos estímulos de 20 segundos, independente de estímulos conhecidos ou

desconhecidos, quando comparados, nas mesmas condições, ao ingerirem ayahuasca, tanto na

primeira parte do ritual, momento 90 minutos, quanto na segunda parte, momento 180

minutos. A literatura explica que participantes experientes em meditação tendem a ser mais

conscientes (Wittmann et al., 2015); a ayahuasca possui substâncias que atuam em áreas

frontal e límbica, ricas em receptores 5-HT 2A, e que estão envolvidas na regulação da

memória e das percepções (Dos Santos, 2011; Dos Santos et al., 2016).

Portanto, os participantes, ao ingerirem a ayahuasca, expostos por 90 minutos às

músicas desconhecidas, tiveram a prática meditativa somada à ingestão da ayahuasca,

proporcionando uma maior atenção, memorização, percepção da passagem e reprodução do

tempo, quando comparados, nas mesmas condições, ao ingerirem o veículo-controle no final

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da primeira e da segunda parte do ritual e serem expostos a 90 minutos de músicas

conhecidas. Em contrapartida, na condição de veículo-controle, no final da segunda dose do

ritual, no momento 180 minutos, ao serem expostos às músicas desconhecidas, os

participantes responderam com a menor subestimação temporal, quando comparados com

todas as situações propostas neste experimento. Um estudo recente, analisando a prática

meditativa, obteve como resultado que, em alguns casos, a prática de meditação, a longo

prazo, pode retardar a passagem subjetiva do tempo, devido a um foco maior no auto-

sentimento e no ambiente percebido no momento atual (Wittmann et al., 2015).

Os estados de ânimo de participantes experientes de rituais xamânicos se alteraram ao

longo da cerimônia, em padrões específicos, considerando a ação do decaimento da bebida

ayahuasca. Variáveis contextuais como o gênero musical conhecido ou desconhecido pelos

participantes também mostraram possuir influência nessas alterações. Fatores relacionados à

fisiologia, interesse, serenidade e esperança foram os estados de ânimo que estiveram

presentes durante todo o estudo. Os participantes deste estudo apresentaram níveis de

presenças baixos nos Fatores: Fator I – Humilhação/Raiva; Fator II – Fadiga; Fator VI –

Repulsa; Fator X – Descaso/Inveja antes, durante e após às cerimônias da pesquisa.

O uso, a longo prazo, da ayahuasca parece estar associado à melhoria da saúde mental

estudos em animais e em humanos sugerem que a ayahuasca tem propriedades ansiolíticas e

antidepressivas (Dos Santos et al., 2016 ). Porém, mesmo nos fatores em que os partícipes

apresentaram níveis baixos de presença, o grupo do sexo masculino exibiu uma presença

maior, ao ser comparado com o grupo do sexo feminino. A literatura mostra que as mulheres

possuem uma predisposição maior à ansiedade, relacionada ao transtorno do pânico, quando

comparadas aos homens (Enoch, Xu, Ferro, Harris, & Goldman, 2003). A presente pesquisa,

ao contrário, encontrou que o grupo do sexo feminino aqui estudado, por meio da análise

descritiva de presença momentânea dos estados de ânimo, mostrou ter presenças mais baixas

nos fatores que estão relacionados à ansiedade e ao pânico, quando comparado ao grupo do

sexo masculino, mesmo antes do início do ritual.

Pesquisas visando a avaliação de diferenças emocionais entre os gêneros mostraram

que as mulheres, em determinadas circunstâncias, expressam mais emoções e são mais

afetuosas que os homens (Brody & Hall, 1993; Briton & Hall, 1995; Bueno & Di Bonifácio,

2007). Porém, ao se observar os resultados obtidos com a análise Fatores: Fator III –

Esperança; Fator VII – Interesse; Fator XII – Serenidade, o presente estudo mostrou que o

grupo do sexo feminino, por meio da análise descritiva de presença momentânea dos estados

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de ânimo, mostrou ter presenças mais baixas nos fatores que estão relacionados ao afeto e à

emoção, quando comparado ao grupo do sexo masculino, mesmo antes do início dos rituais.

Desconfortos como náuseas, diarréias (período de purga), aceleração dos batimentos

cardíacos, sensação de morte durante os rituais, dentre outros, como descrito anteriormente,

podem ocorrer. A ayahuasca possui substâncias que estão envolvidas na regulação do humor e

das emoções (Dos Santos, 2011; Dos Santos et al., 2016). Os resultados mostraram que o

Fator XII – Serenidade, nos momentos 90 minutos e 180 minutos do ritual, diminuiu sua

presença comparado com a presença destes fatores dos participantes antes de iniciarem os

rituais; os resultados mostraram que nos momentos 130 minutos e 180 minutos, relacionados

à segunda parte e ao final do ritual, o nível da presença do Fator XII – Serenidade é maior

comparada nos momentos 60 minutos e 90 minutos do ritual. Shanon (2002b) descreve que,

após o período da purga, a próxima fase da ação da ayahuasca é acompanhada de sentimentos

de serenidade, extrema paz da mente e felicidade. A presente pesquisa mostrou que os

participantes experientes não deixaram de sentir os desconfortos, físicos e emocionais,

relacionados à ação da ayahuasca, porém, eles conseguiram ter um controle maior sobre esses

efeitos.

Os resultados obtidos mostraram que o ritual é importante durante a ação da

ayahuasca. Em um estudo feito com participantes experientes em rituais com ayahuasca, os

partícipes relataram que o contexto do ritual é de extrema importância para “mudanças

positivas” em seus comportamentos, que o fato de beberem o chá, no contexto ritualístico, é

como estar em contato com um “navio” que lhes conduzem com segurança aos estados

alterados da consciência, induzidos pela ayahuasca (Labate, 2002).

O presente estudo levantou novas hipóteses, por meio dos resultados obtidos: será que

os participantes experientes com o uso da ayahuasca sofrem algum tipo de modificação na

percepção da passagem do tempo, em seu estado normal de consciência, devido ao uso

contínuo da substância? Pôde-se verificar que a média dos participantes, na reprodução dos

estímulos, antes de iniciar o ritual, exibiu uma subestimação temporal. Estes resultados não

monstram nenhum tipo de prejuízo na percepção temporal dos participantes experientes em

rituais com a bebida ayahuasca. Não ocorreu uma subestimação temporal acentuada em

resposta às tarefas de reproduções do tempo, realizadas pelos participantes antes de iniciarem

os rituais. A literatura mostra que a superestimação e a subestimação temporais estão

relacionadas aos conteúdos de pensamentos que ocorrem ao realizar a tarefa de reprodução

dos estímulos musicas em estados não alterados de consciência e, quanto o participante

percebeu como mais ou menos complexa a tarefa de reprodução dos estímulos (Ornstein,

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1969; Hicks, Miller, Gaes, & Bierman, 1976; Block & Reed, 1978; Jones & Boltz, 1989;

Schmuckler & Boltz, 1994; Bailey & Areni, 2006; Firmino & Bueno, 2008; Ramos, Bueno, &

Bigand, 2011; Ramos & Bueno 2012; Firmino & Bueno, 2016).

Os autores Schultes e Hofmann (1992) descreveram que a ayahuasca é uma bebida

alucinógena e possui como ingredientes ativos o alucinógeno da N, N-dimetiltriptamina

(DMT) e os alcalóides da β-carbolina, tais como harmina, tetrahidroharmina e harmalina.

Porém, estudos recentes mostraram que as β-carbolinas, nas doses comumente presentes na

ayahuasca, aparentemente, não são alucinogênicas e estão associadas a efeitos sedativos (Dos

Santos, 2011; Dos Santos, 2016). O potencial ansiolítico do chá parece estar relacionado ao

DMT, enquanto a sua atividade agonista, aos receptores corticais de 5-HT 2A (Dos Santos,

2011; Dos Santos et al., 2016 ).

Um estudo feito com a identificação de curtos intervalos temporais, ao administrar

LSD e mescalina, teve como resultados que em uma tarefa de identificação de duração em

intervalos curtos de tempo, entre 300 e 1000 ms, o LSD e a mescalina não afetaram o

desempenho dos participantes (Mitrani et al., 1977) porém, todos os partícipes relataram a

perda do sentido do tempo no decurso do experimento feito com o LSD e a mescalina e um

dos participantes, ao ingerir o LSD, desenvolveu uma esquizofrenia experimental típica,

forçando os pesquisadores a pararem o experimento. Outro estudo, feito de forma sistemática

com a percepção e o desempenho temporal em humanos, concluiu que qualquer tratamento

farmacológico que afeta a capacidade da memória de trabalho interfere no processamento

temporal, em intervalos de tempos mais longos (Wittmann et al., 2007).

Wittmann et al. (2007) analisaram a substância psilocibina; os autores não

encontraram efeitos da perda da noção do tempo, em função da psilocibina, em durações

inferiores a dois segundos. Os resultados indicaram que apenas em intervalos mais longos o

processamento é afetado pela psilocibina. No estudo de Wittmann et al. (2007), a psilocibina

afetou intervalos dos tempos nas sincronizações sensório-motor e reprodução temporal acima

de 2 a 3 segundos. Neste presente estudo, pôde-se verificar que a ayahuasca afetou de forma

diferente a tarefa de reprodução do tempo, quando os efeitos dessa bebida foram comparados

aos resultados apresentados pela literatura, que classifica a ayahuasca conjuntamente com os

demais alucinógenos serotoninérgicos (psilocibina e LSD). Os participantes do presente

estudo também não apresentaram algum tipo de interferência na memória de trabalho. Os

modelos de processamento sensorial demandam que um tipo de tempo-base, repetitivo e

cumulativo, seria armazenado em forma de pulsos por um dispositivo que geraria sinais

internos de tempo. Esse mecanismo constituiria um “órgão do tempo” (Block & Zakay,

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1996), nomeado de “relógio interno” (Treisman, 1963, Church, 1984; Gibbon & Church,

1984; Gibbon, Church, & Meck, 1984).

O relógio interno é, originalmente, formado de uma estrutura que considera a

percepção e a produção do tempo. Um marca-passo (pacemaker) produz pulsos regularmente.

Quando um sinal de tempo externo é compreendido, um interruptor (switch) permite que os

pulsos atravessem até um acumulador (accumulator). O número total de pulsos que irá

determinar a duração compreendida é transferido para a memória de trabalho, que realiza a

comparação com o conteúdo da memória de referência, armazenando um número aproximado

de pulsos acumulados, por meio de experiências antecedentes. Quando os dois valores são

correspondentes o bastante, uma estimativa do tempo é realizada, contudo, a vivência do

tempo pode ser dilatada ou comprimida, por meio da memória de trabalho, por componentes

atencionais e por processos decisionais (Treisman, 1963; Church, 1984; Gibbon & Church,

1984; Gibbon et al., 1984). Uma pesquisa subsequente a esta, com um número maior de

participantes, poderá corroborar os resultados do presente estudo, que encontrou pequenas

subestimações temporais em estados alterados da consciência, em função da ayahuasca.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados das análises deste estudo sugerem, portanto, que a ação da ayahuasca é

dependente da dose ingerida pelos participantes e, geralmente, é bem tolerada pelos

partícipes, pois apresentaram níveis de presença baixos dos Fatores: Fator I –

Humilhação/Raiva; Fator II – Fadiga; Fator VI – Repulsa; Fator X – Descaso/Inveja durante o

ritual. Os resultados acrescentam dados novos aos da literatura. Até o momento, não havia

sido estudado o gênero conhecido e desconhecido sobre músicas executadas em rituais

xamânicos, em função da bebida ayahuasca e em práticas de meditação/concentração com e

sem a ação de uma substância, para auxiliar aos estados alterados da consciência. Por meio

dos resultados encontrados, pode-se afirmar que o caráter da música ser desconhecida pelos

participantes deste estudo influenciou nos estados alterados da consciência, durante os rituais

xamânicos, tanto na prática da meditação/concentração dos participantes dos rituais, como na

ação da própria bebida utilizada nos rituais. Ocorreu um efeito somatório da prática da

meditação/concentração com os estados alterados da consciência, em função da bebida

ayahuasca e das exposições às músicas desconhecidas, executadas durante os rituais

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xamânicos, confirmando as hipóteses subjacentes às perguntas propostas, inicialmente, na

introdução desta pesquisa.

Este estudo teve como objetivo mostrar que os estados alterados da consciência, em

função da ayahuasca, têm como fatores relevantes, além de sua farmacologia, o contexto do

ritual e as músicas desconhecidas empregadas nas cerimônias, que afetam a passagem do

tempo. Os resultados mostraram que, o contexto dos rituais, associados às músicas

desconhecidas, potencializou a ação da bebida, em resposta aos estados alterados de

consciência envolvidos na jornada xamânica.

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ANEXOS

ANEXO A – PARECER CONFEN 1986

Segue-se o parecer do Grupo de trabalho, submetido à plenária em 31 de janeiro de 1986, que foi aprovado por unanimidade:

“O Grupo de Trabalho instituído pela resolução Número 04/85 para examinar

questão relacionada com a produção e consumo de substâncias derivadas de

espécies vegetais;

CONSIDERANDO o exame e o respectivo relatório, elaborados pelos

Drs.ISAC GERMANO KARNIOL e SÉRGIO DARIO SEIBEL, relativamente às

plantas conhecidas, popularmente, por “Mariri” e “Chacrona”, cujos nomes científicos

são “Banisteriopsis Caapi” e “PsychotriaViridis”;

CONSIDERANDO que o supracitado exame foi realizado em Rio Branco,

Capital do Estado do Acre, junto a comunidades religiosas, que fazem o uso ritual do

produto da decocção do “Mariri” e “Chacrona”, produto esse que corresponde ao

chá, comumente chamado de “Daime”;

CONSIDERANDO que o referido uso ritual do “Daime” há muitas décadas

vem sendo feito, sem que tenha redundado em qualquer prejuízo social conhecido;

CONSIDERANDO que, segundo o relatório antes referido, “padrões morais e

éticos de comportamento em tudo semelhantes aos existentes e recomendados na

nossa sociedade, por vezes até de modo bastante rígido, são observados nas

diversas seitas”;

CONSIDERANDO que a Resolução Número 04/85, atenta aos múltiplos

aspectos envolvidos no uso ritual de substâncias derivadas de espécies vegetais,

por comunidades religiosas ou indígenas, tais como os sociológicos, antropológicos,

químicos, médicos e da saúde, em geral, determina o exame de TODOS esses

aspectos, que devem ser, assim, levados em conta em decisões sobre questões

relativas ao uso daquelas espécies vegetais;

CONSIDERANDO, entretanto, que pela Portaria 02/85 da DIMED, o

“Banisteriopsis Caapi” foi incluído entre as drogas constantes da lista de produtos

proscritos, sem a observância, porém, do que dispõe o § 1º, do artigo 3, do Decreto

Número 85110, de 02/09/1980, posto que, sem prévia audiência do CONFEN, a

quem cabe a orientação normativa e compete a supervisão técnica das atividades

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disciplinadas pelo Sistema nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de

Entorpecentes;

CONSIDERANDO, finalmente, a necessidade de implementar diversos outros

estudos referidos na Resolução 04/85, além daqueles procedidos pelos Drs. ISAC

GERMANO KARNIOL e SÉRGIO DARIO SEIBEL, o Grupo de Trabalho sugere ao

Egrégio Plenário do Conselho Federal de Entorpecentes seja chamado à ordem o

processo de inclusão do “Banisteriopsis Caapi”, na supracitada lista da DIMED, para

ser, provisoriamente, suspensa aquela inclusão, até que sejam completados os

estudos de todos os aspectos referidos na Resolução 04/85 mantido, até lá,

rigorosamente, o estado anterior (“status quo ante”) à indigitada Portaria 02/85 –

DIMED, oficiadas as seitas usuárias do “Daime” ou outro nome que tenha a

beberagem resultante da decocção das espécies supracitadas, sendo certo que o

CONFEN poderá, a todo tempo, reformar a decisão de suspensão provisória, ora

sugerida, caso sejam apurados fatos supervenientes que indiquem, por qualquer

forma, o mau uso do chá, inclusive traduzido no aumento de usuários.

É o parecer – S.M.J.”

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ANEXO B – ATA 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA DO CONSELHO FEDERAL DE

ENTORPECENTES – CONFEN RESOLUÇÃO DO CONFEN SOBRE A AYAHUASCA

Publicado no Diário Oficial, Seção 1, N.º: 11467 Em 24 de AGO 1992. (Of. n.º:157/92)

CONSELHO FEDERAL DE ENTORPECENTES - ATA DA 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA

(Realizada em 2 de Junho de 1992)

Às nove e trinta horas (9:30), do dia dois (02) de junho de mil novecentos e

noventa e dois (1992), reuniu-se, na Sala de Reuniões do Edifício Anexo II do

Ministério da Justiça, Brasília – DF, o Conselho Federal de Entorpecentes

CONFEN), em sua Quinta (5ª) Reunião Ordinária do ano de em curso, sob a

Presidência da Dr.ª Ester Kosovski, representante titular do Ministério da Justiça.

Presentes os seguintes membros: CÂNDIDA ROSILDA DE MELO, Representante

Titular do Ministério da Educação; DITA PAULA SNEL DE OLIVEIRA, Representante

do Suplente do Ministério da Educação; ARNALDO MADRUGA FERNANDES,

Representante Titular da Associação Médica Brasileira; ALOÍSIO ANDRADE

FREITAS, Representante Suplente da Associação Médica Brasileira; UBYRATAN

GUIMARÃES CAVALCANTI, Representante Suplente do Ministério da Justiça;

FRANCISCO DA COSTA BAPTISTA NETO, Representante Titular do Ministério da

Justiça; CARLOS CÉSAR CASTELLAR PINTO, Representante Suplente do

Ministério da Justiça; DOMINGOS SÁVIO DO NASCIMENTO ALVES,

Representante Suplente do Ministério da Saúde; WILSON ROBERTO GONZAGA

DA COSTA, Representante Titular do Ministério do Trabalho; MARIA DULCE SILVA

BARROS, Representante Titular do Ministério das Relações Exteriores; ÁLVARO

NUNES DE OLIVEIRA, Representante do Ministério da Economia Fazenda e

Planejamento; CECÍLIA ISABEL PETRI, Representante Suplente do Ministério da

Economia Fazenda e Planejamento; SÉRGIO SAKON, Representante Suplente da

Secretaria de Polícia Federal, DOMINGOS BERNADO GIALLUISI DA SILVA SÁ,

Representante Titular Jurista e NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO,

Representante Suplente Jurista. Contou ainda com a presença da Dr.ª ANA LÚCIA

ROCHA STUDART, Coordenadora Geral de Articulação Setorial e de ADÉLIO

CLAUDIO BASILÉ MARTINS, Assessor daquela Coordenação. A Dr.ª ESTER

KOSOVSKI, deu por aberta a Reunião,...

TRECHO DA ATA PERTINENTE A AYAHUASCA:

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d) – O Conselheiro Domingos Bernardo Gialluisi da Silva Sá proferiu Parecer

sobre o "CHÁ AYAHUASCA", cujo teor foi aprovado por unanimidade e na conclusão

diz: "29 – A conclusão proposta, em 1987, no Relatório final, resultante dos estudos

desenvolvidos pelo Grupo de Trabalho; constituído pela resolução do CONFEN, n. º

04, de 30.07.1985, têm sido mantidas pelo CONFEN, ao longo de suas várias

gestões. Não vejo porque mudá-la. Muito ao contrário, há hoje um sério argumento,

que se soma aos demais, para confirmá-la – o tempo transcorrido, desde 1986,

quando se deu a suspensão provisória da interdição. São seis anos de

acompanhamento, pelo poder público, do uso da ayahuasca no Brasil, após sua

proibição em 1985, época em que foi interrompida a utilização que dela se fazia,

havia décadas. 30 – O tempo contribuiu para mostrar que o CONFEN agiu e vem

agindo com acerto. A comunidade soube exercer os seus controles de forma

plenamente adequada, sem qualquer interferência do Estado que, de outra forma,

apenas criaria problemas com desnecessária e indébita intervenção. ISTO POSTO,

submeto à soberana decisão do Plenário, agora as seguintes recomendações:

a) – a ayahuasca, cujos principais nomes brasileiros são "Santo Daime"

e "Vegetal", e as espécies vegetais que a integram o "Banisteriopsis caapi",

vulgarmente chamado de cipó, jagube ou mariri e a "Psychotria viridis",

conhecida como folha, rainha ou chacrona, devem permanecer excluídos das

listas da DIMED ou do órgão que tenha responsabilidade de cumprir o

que determina o art.36 da Lei n.º 6.368, de 21.10.1976, atendida, assim, a

análise multidisciplinar constante do Relatório Final, de setembro de 1987 e do

presente parecer;

b) – poderá ser objeto de reexame o uso legítimo da ayahuasca, aqui

reconhecido, bem como, aliás, de qualquer outra substância com atuação no

Sistema Nervoso Central, desde que com base em fatos novos, cujos aspectos

substantivos ou essenciais não tenham sido, ainda, apreciados pelo CONFEN,

tendo em vista que o acatamento a decisões relativas a matérias sobre as

quais já se haja pronunciado o Colegiado, é fator de estabilidade das relações

no âmbito da própria Administração Pública e perante os interesses individuais

envolvidos;

c) – deve ser organizada comissão mista integrada pelo CONFEN que

poderá convidar assessores, e por representantes de entidades que observam

o uso da ayahuasca em seus ritos com o objetivo de consolidar os princípios e

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regras básicas, comuns às diversas entidades referidas, para fins entre outros,

de acompanhamento da Administração Pública;

d) – fazem parte integrante e complementar do presente parecer, o

relatório final e os documentos que os instruíram, apreciados pelo CONFEN em

sua reunião plenária e setembro de 1997 e que ora são reapresentados, por

cópia, para os arquivos do CONFEN e atendimento aos eventuais pedidos de

esclarecimento formulados pelos interessados em geral."

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ANEXO C – PARECER DA CÂMARA DE ASSESSORAMENTO TÉCNICO-

CIENTÍFICO SOBRE O USO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

PARECER DA CÂMARA DE ASSESSORAMENTO

TÉCNICO-CIENTÍFICO SOBRE O USO RELIGIOSO DA

AYAHUASCA

Importa destacar os seguintes aspectos analisados pela câmara:

a) a decisão do INCB (International Narcotics Control Board) das Nações

Unidas, sobre o chá denominado ayahuasca;

b) a importância do enfoque bioético e a compreensão da autonomia individual

no exame da questão;

c) o uso da ayahuasca por crianças e mulheres grávidas;atribuição para

decidir pelo uso ou por sua interdição parcial ou total;

d) a questão do uso da ayahuasca com finalidades terapêuticas e o estímulo a

pesquisas clínicas;

e) o exame de eventuais fatos novos, sobre o uso da ayahuasca, cujos

aspectos substantivos não tenham sido, ainda, analisados em decisões

anteriores do CONFEN ou do CONAD, desde a Resolução n° 06, de

04/02/1986, do CONFEN ;

f) o exame de restrições diretas ou indiretas ao uso religioso da ayahuasca

Ponto n° 1 - Ao examinar a questão do uso da ayahuasca a partir de uma

visão multidisciplinar, que soma saberes, interdisciplinar, pela qual os saberes se

complementam e transdisciplinar, que serve, como observa ANTONIO MOSER6,

“chave interpretativa capaz de responder aos problemas levantados pela análise

inter e multidisciplinar”, é ponderável registrar que o INCB (International Narcotics

Control Board), das Nações Unidas relativamente à ayahuasca, afirma que, sendo a

planta utilizada praticamente in natura não cabe nenhum controle, acrescentando

que não haverá controle das plantas usadas em forma de chá, segundo a opinião do

INCB, pois não há purificação, concentração ou isolamento de substâncias.

Ponto n° 2 - Deve ser ressaltada a relevância da bioética no exame do uso da

ayahuasca, haja vista que entre os princípios fundamentais que a norteiam

6Moser, Antônio – Biotecnologia e Bioética – Ed. Vozes – 2004 – pgs. 326/327

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sobressai o “princípio da autonomia como uma espécie de princípio primeiro e

fundante de uma nova postura global”7, apontando para a importância da decisão

individual, devidamente alicerçada, entretanto, na mais ampla gama de informações,

prestadas por profissionais das diversas áreas do conhecimento humano, pelos

órgãos públicos e pela experiência comum, recolhida nos diversos segmentos da

sociedade civil. Trata-se do direito da pessoa a ser informada, para a tomada segura

de decisão individual ou pelo círculo social-familiar. É indispensável, porém, ressaltar

a dimensão axial da sociedade para o correto entendimento do princípio da

autonomia que, portanto, não pode ser absolutizado. A propósito, observam com

inteira propriedade COHEN e MARCOLINO8 que “assim como não nascemos éticos,

nos tornamos ético no nosso processo de humanização, também não nascemos

autônomos. A autonomia nunca será total, para qualquer ato social, nem

permanente, ou seja, não podemos afirmar que ela, uma vez alcançada, não poderá

ser mais questionada, pois ela será sempre autonomia para certas coisas, portanto,

poderá variar durante a vida do indivíduo, a autonomia é um atributo que a

sociedade outorga ao cidadão”.

Ponto n° 3 - O uso da ayahuasca por crianças e mulheres grávidas e a

atribuição para decidir sobre as condições desse uso, ou sobre níveis de restrição ao

mesmo, é tema que, coerentemente com as premissas postas nos pontos 1 e 2,

supra, somente pode ser avaliado num contexto em que os diferentes saberes se

complementem e preservando-se, embora, a especificidade de cada disciplina, seja

possível transcender o seu âmbito próprio, para “responder aos problemas

levantados pela análise inter e multidisciplinar.” Avulta, cumpre reiterar, o direito à

decisão individual informada. Ainda, é indispensável “levar em conta o saber detido

pelo grupo de usuários”, como anota Edward MacRae9. Assim, é essencial levar “em

consideração as situações concretas das pessoas, e até mesmo contingências

históricas”10, parecendo ter influência definitiva na decisão sobre o tema, o exame da

quantidade ministrada e do seu valor ritual e simbólico. O exercício do poder familiar

(art. 1.634 do Código Civil em vigor, anteriormente chamado de “pátrio poder”)

abarca um campo amplíssimo, comprometendo os pais na adequada criação e

7Moser, Antônio – op. cit. pg. 319

8Cohen,C; Marcolino J.A.M. – Autonomia & Paternalismo. inSegre M.; Cohen C. – Bioética. São Paulo, EDUSP 3ª ed. pg. 51-62, 2002 9Texto encaminhado à CATC – O uso ritual de substâncias psicoativas na religião do Santo Daime como um exemplo de redução de danos. 10

Moser, Antônio – op. cit. pg. 325

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educação dos filhos, sujeitando-os à perda desse poder em caso de abuso de

autoridade ou falta aos deveres que a lei lhes comete. Vale reiterar a advertência de

Cohen e Marcolino, que não se pode afirmar que a autonomia “uma vez alcançada,

não poderá ser mais questionada”, pois ela é “um atributo que a sociedade outorga

ao cidadão”. Assim, exemplificativamente, o uso indevido, pelos filhos menores, de

qualquer substância, bebida, alimento ou medicamento, em qualquer que seja a

hipótese, pode gerar responsabilidade civil e penal para os responsáveis, além da

perda do poder familiar. O exercício de poder familiar constitui, assim, elemento de

superlativa importância que não pode ser afastado na equação do problema.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13/7/1990) prevê

que o direito à liberdade assegurado à criança e ao adolescente compreende

“crença e culto religioso” (art. 16, III) e acrescenta que “No processo educacional

respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social

da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o

acesso às fontes de cultura. ” (art. 58).

A participação da criança e do adolescente no culto religioso de seus pais

está ligada, intimamente, ao estabelecimento, pelos mesmos pais, do nível dessa

participação pela qual são responsáveis, levando em conta - além das condições

físicas e psíquicas peculiares à fase de desenvolvimento e estruturação da

personalidade - os valores culturais, próprios do contexto social da criança e do

adolescente. Posta a questão de forma ampla: os rituais de passagem, os jejuns ou

abstinências, mais ou menos rigorosos, as mortificações ou penitências, de

modalidades diversas e variada intensidade, constituem práticas de transcendental

importância, integrantes das religiões aceitas e, por todas as justas razões, acatadas

por nossa sociedade. O temperamento dessas mesmas práticas, porém, vai buscar

sua fonte na família, na sociedade e na autonomia individual, sendo impossível e até

mesmo indesejável uma intervenção onipresente, onividente e onisciente do Estado.

Pelas razões expostas e considerando mais o enfoque bioético e os

princípios que o informam (“princípios” aí entendidos como “fontes” ou “origem”)11 o

uso religioso deveria permanecer como objeto de recomendação aos pais e

grávidas, no sentido de que seriam sempre responsáveis pela interdição completa

ou parcial do consumo, e nesse último caso (de restrição parcial), que o uso seja em

11Leo Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine – Problemas atuais de Bioética – Ed. Loyola – 2002 – pgs.33/34

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quantidades mínimas e compatíveis com a preservação do desenvolvimento e a

estruturação da personalidade do menor e do nascituro. A atualização da pesquisa

sobre o tema deve levar em conta a perspectiva biopsicosocial.

Ponto n° 4 - A questão da utilização da ayahuasca “para finalidades

terapêuticas” tem íntima ligação com a posição já firmada pela Câmara de que é

fundamental estimular estudos do chá, realizando inclusive pesquisas clínicas. É

sabido de todos o monumental poder fitoterápico da floresta amazônica, a maior

farmácia natural do planeta, a despertar o interesse e a cobiça, de toda ordem,

interna e externamente. Obviamente, sobressai, neste contexto, a importância da

ayahuasca e “o interesse de grandes indústrias farmacêuticas por seus segredos e o

desenvolvimento de numerosos remédios baseados em preparados de origem

indígena”, como observa MacRae, no trabalho antes citado (“O uso ritual de

substâncias psicoativas na religião do Santo Daime”), quando enfatiza que todo “o

ritual é um componente essencial dos sistemas populares de cura”.

Não pode mais o Brasil refestelar-se na sua extraordinária pujança

fitoterápica sem pesquisá-la, em benefício de seu povo e da humanidade, ou,

provavelmente, correremos o risco de que outros o façam, nem sempre animados

por tão nobres objetivos. A Câmara propõe o estudo do uso terapêutico da

ayahuasca, em caráter experimental, a ser, prontamente, iniciado, mediante a

constituição de um grupo de trabalho. Tal grupo seria formado por representantes

das áreas que atendessem, entre outros, aos seguintes aspectos: antropológico,

farmacológico/bioquímico, psicológico, social, psiquiátrico e jurídico. Integrariam,

também, o grupo, dois representantes das comunidades usuárias da ayahuasca. As

indicações seriam realizadas após prévio diálogo entre as respectivas áreas

acadêmicas.

Ponto n° 5 - Há mais de dezoito anos, pela Resolução n° 06, de 04 de

fevereiro de 1986, do CONFEN, foi suspensa, provisoriamente, a inclusão na lista

da DIMED, da espécie vegetal - Banisteriopsis caapi – que integra a ayahuasca,

situação que, posteriormente, se tornou definitiva, constando da ata do CONFEN,

publicada no D.O. de 24/8/1992, a reiteração, aprovada por unanimidade, das

conclusões do relatório final sobre a matéria, de 1987, no sentido de manter

excluídas das listas da DIMED, ou do órgão competente, as espécies vegetais que

integram o chá. Assim, o uso ritual da ayahuasca passou a ser regulado legalmente,

por intermédio do órgão competente para tanto. Além dessas decisões, o CONFEN

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recomendou, em 1995, interdições ao uso do chá por pessoas com distúrbios

mentais e por menores, matéria de que se tratou no ponto n° 3, supra. Desde então,

não parece ter havido fatos novos, cujos aspectos substantivos ou essenciais não

tenham sido, ainda, analisados pela Administração Pública, através da instância

própria. As abordagens referidas nos pontos anteriores explicitam os pareceres

supracitados e com eles são compatíveis, havendo, portanto, complementaridade,

razão pela qual devem ser mantidos aqueles pareceres, aditados com as novas

abordagens.

Ponto n° 6 - Tendo em vista as “Sugestões sobre o conteúdo do relatório

sobre o uso ritual da ayahuasca”, encaminhadas pelo integrante da Câmara Edward

MacRae, cumpre registrar a observação, constante de suas “sugestões”, de que,

não obstante o uso ritual legalizado da ayahuasca pelas diversas comunidades

religiosas, há “outras maneiras de coibir suas atividades e expansão. Assim, passa-

se a dificultar a produção e distribuição de seu sacramento central...dificulta-se o

transporte do chá para localidades fora da Amazônia mediante a exigência do

cumprimento de complexos trâmites burocráticos. ” Em face destas observações,

tendo em vista que o CONAD é o órgão normativo do Sistema Nacional Antidrogas –

SISNAD – e que suas decisões “deverão ser cumpridas pelos órgãos e entidades da

Administração Pública integrantes do Sistema” (arts.3°, I, 4°, 5°, II e 7°, do Decreto

n° 3.696, de 21/12/2000), a Câmara propõe ao CONAD que fique registrado em ata,

para fins, inclusive de utilização pelos interessados, que não pode haver restrição,

direta ou indireta, às práticas religiosas das comunidades, baseada em proibição do

uso ritual da ayahuasca, tendo em vista as decisões do colegiado, especialmente as

referidas no ponto n° 5, supra.

CONCLUSÕES

1. a Câmara ratifica as decisões anteriores do Colegiado, com os

aditamentos do presente parecer, conforme referido no ponto nº 4;

2. recomenda-se a consolidação, em separata, de todas as decisões

supracitadas, para acesso e utilização dos interessados;

3. a liberdade religiosa e o poder familiar devem servir à paz social, à qual

se submete a autonomia individual;

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4. deve ser reiterada a liberdade do uso religioso da ayahuasca, tendo em

vista os fundamentos constantes das decisões do Colegiado, em sua

composição antiga e atual, considerando a inviolabilidade de

consciência e de crença e a garantia de proteção do Estado às

manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, com

base nos arts.5°, VI e 215, § 1° da Constituição do Brasil, evitada,

assim, qualquer forma de manifestação de preconceito.

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ANEXO D – Lista de Estados de Ânimo Presentes (Engelmann, 1986)

NOME:________________________________________________________________

IDADE:________ DATA:____/____/______

INSTRUÇÕES DE PREENCHIMENTO

No fim dessas instruções você encontrará uma lista de expressões capazes de identificar seus

sentimentos. Use a lista com o objetivo de identificar seu sentimento ou estado no momento em que

você lê as palavras.

Se as palavras descreverem intensidade 1 (um) o que você sente naquele instante, faça um

„X‟ no primeiro espaço após a expressão. Assim, por exemplo, se na hora de você ler a expressão

“Estou aborrecido(a)”, você sentir muito fraco este estado, ponha o „X‟ do seguinte modo:

Estou aborrecido(a) X

Se as palavras descreverem intensidade 2 (dois) o que você sente naquele instante, faça um

„X‟ no segundo espaço após a expressão. Assim, por exemplo, se na hora de você ler a expressão

“Sinto-me calmo(a)”, você sentir fraco este estado, ponha o „X‟ do seguinte modo:

Sinto-me calmo(a) X

Se as palavras descreverem intensidade 3 (três)o que você sente naquele instante, faça um

„X‟ no terceiro espaço após a expressão. Assim, por exemplo, se na hora de você ler a expressão

“Sinto-me despreocupado(a)”, você sentir mais ou menos este estado, ponha o „X‟ do seguinte modo:

Sinto-me despreocupado(a) X

Se as palavras descreverem intensidade 4 (quatro) o que você sente naquele instante, faça um

„X‟ no quarto espaço após a expressão. Assim, por exemplo, se na hora de você ler a expressão “Sinto-

me enamorado(a)”, você sentir presente este estado, ponha o „X‟ do seguinte modo:

Sinto-me enamorado(a) X

Se as palavras estão fortemente presentes, descrevem intensidade 5 (cinco) o que você sente

naquele instante, faça um „X‟ no último espaço após a expressão. Assim, por exemplo, se na hora de

você ler a expressão “Sinto-me surpreso(a)”, você sentir fraco este estado, ponha o „X‟ do seguinte

modo:

Sinto-me supreso(a) X

OBSERVAÇÃO:

1. Trabalhe rapidamente. SUA PRIMEIRA REAÇÃO É A MELHOR.

2. Por favor, não pule nenhuma linha. MARQUE CADA EXPRESSÃO.

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1 2 3 4 5

01-Estou aceitando alguma coisa

02-Sinto uma admiração por alguém

03-Estou alegre

04-Sinto um alívio

05-Sinto atração sexual por alguém

06-Sinto-me calmo(a)

07-Estou com calor

08-Estou cansado(a)

09-Estou cheio(a)

10-Sinto ciúme de alguém

11-Estou conformado(a)

12-Estou tomando cuidado

13-Sinto-me culpado(a)

14-Sinto um desejo

15-Estou com esperança

16-Acho algo estranho

17-Estou com fome

18-Estou com frio

19-Estou gostando de alguém

20-Acho algo gozado

21-Sinto-me humilhado(a)

22-Sinto-me interessado(a)

23-Sinto inveja de alguém

24-Estou com medo

25-Sinto uma necessidade

26-Estou com nojo

27-Sinto uma obrigação

28-Sinto-me orgulhoso(a)

29-Tenho pena de alguém

30-Faço pouco caso de alguém

31-Tenho raiva

32-Estou refletindo

33-Sinto saudade de alguém

34-Estou com sede

35-Estou sem graça

36-Estou com sono

37-Sinto-me surpreso(a)

38-Acabo de levar um susto

39-Sinto-me triste

40-Estou com vergonha