Ana Maria Nogales Vasconcelos QUALIDADE DAS ESTATÍSTICAS DE ÓBITOS NO BRASIL
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QUALIDADE DAS ESTATÍSTICAS DE ÓBITOS NO BRASIL:
UMA CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO
Ana Maria Nogales Vasconcelos∗∗
1. INTRODUÇÃO
A qualidade das estatísticas de óbitos no Brasil é um tema que desperta grande
interesse quando trata-se de obter níveis e tendências da mortalidade. Qual fonte de
dados utilizar? Qual metodologia privilegiar? Estimativas de mortalidade por métodos
diretos ou indiretos?
Em artigo anterior (Vasconcelos, 1998), a análise da qualidade das estatísticas de
óbitos no Brasil com base na comparação dos dois sistemas de informações sobre
mortalidade no País ( Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM - do Ministério
da Saúde e Sistema de estatísticas vitais do IBGE) evidenciou que apesar de existir
uma grande estrutura montada para a coleta, consolidação e publicação das estatísticas
de mortalidade desde a década de 70, vários problemas que comprometem a qualidade
dos dados ainda estão presentes. Se no nível nacional, os dados dos dois sistemas são
cada vez mais similares, no nível regional, diferenças importantes podem ser
observadas. Por outro lado, se nos níveis mais agregados, nacional e regional, as
diferenças entre os dois sistemas são sempre favoráveis ao sistema do IBGE, quando o
nível da análise é por Unidades da Federação as diferenças em favor do SIM aparecem
(ver Tabela 1). As grandes diferenças em favor do SIM podem ser explicadas pelo fato
de que, sendo o SIM um sistema descentralizado, os serviços de estatísticas vitais dos
Estados puderam adotar procedimentos específicos para a coleta de Declarações de
Óbitos fora do fluxo normal previamente estabelecido. Ou seja, além de coletar as
Declarações de Óbitos nos Cartórios de Registro Civil, em alguns Estados, sobretudo
nas regiões Norte e Nordeste, procede-se à coleta em outros locais como maternidades e
hospitais.
∗ Professora do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília.
De maneira geral, a amplitude das diferenças entre os dois sistemas e suas
variações ao longo do período 1977-1995 estão associadas à tradição estatística e à
importância que os governos estaduais dão à produção de informações sobre o
movimento da população. Desta forma, a amplitude das diferenças entre os dois
sistemas pode ser considerada como uma medida do bom funcionamento do SIM na
Unidade da Federação, já que esse sistema depende integralmente dos serviços de
estatística ali implantados. Sendo independente dos serviços de estatísticas vitais
municipais e estaduais, já que o sistema é centralizado, os dados do sistema do IBGE
são considerados como referência para o SIM. Se a coleta de dados segue o fluxo
normal estabelecido, teoricamente, para todos os óbitos registrados nos Cartórios de
Registro Civil (informação na qual se baseia o sistema do IBGE) existe uma Declaração
de Óbito correspondente (informação na qual se baseia o SIM).
Sendo a qualidade da informação do SIM bastante variável quando se considera
o nível mais desagregado, é de grande interesse buscar agrupar/classificar as Unidades
da Federação em grupos mais homogêneos segundo a qualidade das estatísticas de
óbitos. Quais Unidades da Federação apresentam dados de melhor qualidade? Para
quais Unidades da Federação, podem-se obter estimativas diretas de níveis e tendências
da mortalidade? Para quais Unidades ainda são necessárias correções por
subenumeração? O presente trabalho apresenta uma abordagem pela qual busca-se
responder a essas perguntas. Propõe-se uma análise de agrupamentos (cluster analysis)
das Unidades da Federação que poderá ser de grande ajuda aos produtores de
informações sobre movimento da população na implementação de ações que visem a
melhoria da qualidade das estatísticas de óbitos no País. Por outro lado, a análise de
agrupamentos poderá também auxiliar os usuários das informações do SIM na escolha
da melhor metodologia para obtenção de estimativas de níveis e tendências da
mortalidade.
2. METODOLOGIA
Para a análise de agrupamentos, foram consideradas variáveis relacionadas à
qualidade da informação do SIM. Em primeiro lugar, considerou-se a diferença média
entre o SIM e o IBGE no período recente (1990-1995). Além dessa variável, foram
consideradas a taxa de cobertura do sistema (taxa de subenumeração de óbitos) e a
proporção da população da Unidade da Federação residente em municípios classificados
como "com informação regular", duas variáveis utilizadas pelo SIM como indicadores
de qualidade da informação.
No que diz respeito à taxa de cobertura (ou taxa de subenumeração de óbitos),
considerou-se a taxa estimada pelo Ministério da Saúde em 1996 (Ministério da Saúde,
1998). Esta taxa de cobertura foi obtida relacionando-se o número de óbitos informados
pelo SIM e o número de óbitos verdadeiro estimado pelo IBGE. Infelizmente, a
metodologia de obtenção do número de óbitos verdadeiro estimado para cada Unidade
da Federação não é explicitada nas notas metodológicas apresentadas pelo Ministério da
Saúde. Mas, certamente, devem ter sido utilizados alguns dos métodos de correção
amplamente conhecidos, que podem ser divididos basicamente em dois grupos: 1)
métodos baseados no conceito de população estável e 2) métodos não baseados nesse
conceito. Todos os métodos têm suas vantagens e desvantagens, mostradas em diversos
trabalhos aplicados ao caso brasileiro (por exemplo, Moreira, 1982). As taxas de
cobertura (Tabela 2) apresentadas pelo Ministério da Saúde variam de 18,7% no Piauí a
107% no Rio de Janeiro. As taxas superiores a 100% entretanto não devem ser
interpretadas como sobre-registro de óbitos, mas sim como possíveis não observações às
hipóteses subjacentes ao método de correção utilizado. Alguns dos métodos são bastante
sensíveis à quebra dos pressupostos de estabilidade, como a presença de migrações.
Outros métodos são sensíveis à qualidade da informação de base ou ao modelo de
mortalidade escolhido. Desta forma, as taxas de cobertura devem ser analisadas com
muito cuidado. Mas, de modo geral, elas discriminam as Unidades da Federação
evidenciando que os problemas de subenumeração (e sub-registro) de óbitos são muito
graves no Norte e Nordeste, e quase inexistentes no Sul e Sudeste do País.
No que se refere à proporção da população residente em municípios onde a
disponibilidade da informação do SIM é considerada regular, os responsáveis pelo
Sistema de Informações de Mortalidade vêm esta proporção como um indicador da
consolidação e a extensão do sistema na Unidade da Federação. O principal critério do
Ministério da Saúde para classificar os municípios segundo a regularidade da
informação é a taxa bruta de mortalidade. A partir de 1990, o município é classificado
como tendo informação regular se a taxa bruta de mortalidade for igual ou superior a
6‰ (Ministério da Saúde, 1995). Este, entretanto, não é um bom critério de
classificação, visto que a taxa bruta de mortalidade é fortemente influenciada pela
estrutura etária da população. Por um lado, uma taxa inferior a 6‰ não indica
necessariamente uma subenumeração de óbitos pelo SIM, por outro lado, uma taxa
bruta superior a 6‰ não é um indicador de boa qualidade de dados. De acordo com esse
critério, as informações sobre óbitos da capital do Estado de Roraima e do Distrito
Federal não seriam regulares, apesar de o SIM, nos dois casos, poder ser considerado
como consolidado (o sistema coleta e processa informações da totalidade de eventos
registrados). No entanto, ainda que o critério da taxa bruta não seja o mais indicado,
decidimos utilizá-lo, mas mudando o limite de 6‰ para 4‰ (limite utilizado antes de
1990), já que esse valor é mais adequado às estruturas etárias de muitos municípios
onde o subenumeração pode ser considerado como praticamente inexistente. As
proporções apresentadas na Tabela 2 se referem a 1996.
Tabela 1 - Razão SIM/IBGE (%) segundo lugar de residência do falecido. Unidades da Federação. 1977-1995 (anos selecionados) Unidades da Federação 1977 1980 1985 1988 1990 1991 1994 1995 Média
1990-1995 Região Norte 75,1 86,5 93,1 94,7 88,2 89,9 88,2 89,9 89,8 Rondônia 67,1 99,0 99,4 102,4 99,3 96,7 91,8 97,7 95,5 Acre 92,3 92,7 95,2 105,8 82,0 107,0 92,9 92,9 94,5 Amazonas 66,9 84,7 91,5 91,7 85,5 83,2 89,9 92,6 88,1 Roraima 96,0 84,9 106,0 104,8 100,7 102,1 129,8 116,6 110,2 Pará 76,8 84,4 91,4 91,9 91,0 89,4 86,0 85,2 88,4 Amapá 80,9 90,6 96,6 106,1 104,5 93,2 90,7 87,7 95,7 Tocantins - - - - 49,7 84,9 79,4 90,8 82,8
Região Nordeste 55,3 82,8 92,2 95,0 91,9 93,6 91,9 94,0 93,2 Maranhão 30,3 49,5 81,8 91,3 90,0 101,7 78,9 84,9 92,5 Piauí 33,2 62,7 115,2 98,9 98,8 77,0 86,9 87,7 90,4 Ceará 30,8 63,9 79,1 80,6 86,4 85,0 98,0 94,9 91,5 Rio Grande do Norte 24,6 86,5 89,1 97,7 85,9 98,8 99,5 113,0 100,2 Paraíba 13,4 94,8 93,1 88,4 87,3 87,6 85,1 92,2 86,9 Pernambuco 92,5 93,6 99,2 112,6 100,2 99,4 95,1 95,0 96,8 Alagoas 29,0 94,7 101,0 102,6 99,3 100,1 95,9 100,4 98,6 Sergipe 39,6 103,3 100,0 95,7 97,2 110,7 104,7 115,9 109,6 Bahia 72,4 78,6 88,9 87,2 86,4 90,4 88,5 88,2 88,8
Região Sudeste 96,1 99,5 99,4 99,6 98,3 98,8 99,1 100,9 99,3 Minas Gerais 97,7 97,8 96,9 96,1 92,7 93,8 94,6 100,1 95,5 Espírito Santo - 97,2 99,7 98,3 97,0 98,8 97,9 94,4 97,0 Rio de Janeiro 100,3 99,9 100,7 102,7 100,8 101,2 101,2 101,2 101,2 São Paulo 100,1 100,4 100,0 99,9 99,6 99,9 100,1 101,7 100,2
Região Sul 92,8 98,3 99,2 99,7 98,7 99,2 99,2 98,6 99,1 Paraná 87,6 97,4 97,9 98,9 98,6 98,9 98,5 98,3 98,5 Santa Catarina 91,2 96,1 99,6 100,8 99,9 99,2 99,7 100,2 99,8 Rio Grande do Sul 99,1 100,0 100,2 100,0 98,3 99,5 99,5 98,1 99,3
Região Centro Oeste 52,2 82,4 97,4 97,9 84,9 91,3 95,9 101,8 94,2 Mato Grosso do Sul - 90,0 96,4 98,6 97,9 97,1 100,5 103,3 99,0 Mato Grosso 73,6 66,7 91,8 93,3 81,9 92,0 90,8 101,6 91,9 Goiás 26,8 79,1 100,6 102,3 78,2 91,1 100,9 107,5 96,5 Distrito Federal 95,3 96,9 93,9 87,8 90,3 85,3 84,6 87,6 86,0
Brasil 80,2 92,1 96,6 97,7 95,1 96,2 96,1 97,8 96,8 Fonte: IBGE, Estatísticas do Registro Civil, 1977-1995 e Ministério da Saúde, Estatísticas de Mortalidade, 1977-1995. Nota: O número de óbitos de residentes segundo o IBGE corresponde aos óbitos ocorridos e registrados no ano de referência mais os óbitos registrados no ano seguinte.
Tabela 2 – Variáveis utilizadas na análise de classificação Unidade da Federação
Sigla
Diferença média entre
os dois sistemas
(1990-1995)
Taxa de cobertura
(%)
Proporção da população com
informação regular
(%)
Classificação segundo a qualidade
dos dados de óbitos
Rondônia RO 4,5 69,0 32,2 3 Acre AC 5,5 80,5 65,9 2 Amazonas AM 11,9 61,4 52,2 3 Roraima RR -10,2 74,2 66,4 2 Pará PA 11,6 53,5 38,5 3 Amapá AP 4,3 86,9 76,9 2 Tocantins TO 17,2 59,1 30,6 3 Maranhão MA 7,5 29,4 14,5 4 Piauí PI 9,6 18,7 12,5 4 Ceará CE 8,5 54,7 62,1 3 Rio Grande do Norte RN -0,2 60,5 77,8 2 Paraíba PB 13,1 55,8 83,5 2 Pernambuco PE 3,2 72,7 91,5 2 Alagoas AL 1,4 59,6 78,0 2 Sergipe SE -9,6 79,1 69,6 2 Bahia BA 11,2 62,5 62,6 3 Minas Gerais MG 4,5 93,0 88,9 2 Espírito Santo ES 3,0 99,0 98,8 1 Rio de Janeiro RJ -1,2 107,2 100,0 1 São Paulo SP -0,2 106,5 99,9 1 Paraná PR 0,7 99,8 97,4 1 Santa Catarina SC 1,5 102,7 95,3 1 Rio Grande do Sul RS 0,2 107,6 99,4 1 Mato Grosso do Sul MS 1,0 102,2 93,7 1 Mato Grosso MT 8,1 71,3 48,5 3 Goiás GO 3,5 85,8 84,7 2 Distrito Federal DF 14,0 94,5 100,0 1 Fonte : Ministério da Saúde, IDB-98 : Brasil, 1999. Nota: Diferença entre os dois sistemas = (óbitos IBGE – óbitos SIM)/óbitos IBGE
Para a classificação das Unidades da Federação, utilizamos a metodologia de
classificação hierárquica e o critério de agrupamento "Average Linkage – Entre
Grupos". Foi utilizado o aplicativo SPSS®.
3. RESULTADOS
A análise dos coeficientes e do dendograma (Gráfico 1) obtidos a partir da
análise de classificação hierárquica, nos indica a escolha do agrupamento das Unidades
da Federação em quatro grupos distintos:
Grupo 1 – Boa qualidade de dados : compreende as UF’s onde o sistema do
Ministério da Saúde pode ser considerado como consolidado, as taxas de cobertura de
óbitos são superiores a 95% e as diferenças entre os dois sistemas (SIM/IBGE) são
pequenas (à exceção do Distrito Federal);
Grupo 2 – Qualidade de dados regular a deficiente : compreende as UF’s onde
o sistema do Ministério da Saúde está em processo de consolidação – mais de 65% da
população reside em municípios com informação regular -, as taxas de cobertura variam
entre 55% e 93% e as diferenças entre os dois sistemas são variáveis (na maioria das
UF’s a diferença é pequena, à exceção dos Estados da Paraíba, Sergipe e Roraima);
Grupo 3 – Qualidade de dados deficiente : compreende as UF’s onde o sistema
do Ministério da Saúde ainda não está consolidado – menos de 65% da população reside
em municípios com informação regular -, as taxas de cobertura variam entre 53% a 71%
e as diferenças entre os dois sistemas são elevadas;
Grupo 4 – Qualidade de dados muito deficiente : compreende as UF’s onde o
sistema do Ministério da Saúde tem ainda muito dificuldade em sua implantação e
consolidação, as taxas de cobertura são muito pequenas e as diferenças entre os dois
sistemas elevadas.
Gráfico 1 – Dendograma da classificação hierárquica "Average Linkage – Between Groups" (aplicativo SPSS®) Unidade da 0 5 10 15 20 25 Federação Num +---------+---------+---------+---------+---------+ RJ 19 -+ SP 20 -+ RS 23 -+-+ SC 22 -+ I MS 24 -+ +-------------+ ES 18 -+ I I PR 21 -+ I I DF 27 ---+ +-------------------------------+ RN 11 -+-+ I I AL 14 -+ +-----+ I I PB 12 ---+ I I I RR 4 -+-+ +-------+ I SE 15 -+ +---+ I I AC 2 ---+ I I I AP 6 -+ +-+ I GO 26 -+-+ I I MG 17 -+ +---+ I PE 13 ---+ I MA 8 -+-----------------------------+ I PI 9 -+ I I CE 10 -+-+ +-----------------+ BA 16 -+ +---+ I AM 3 -+-+ I I MT 25 -+ +-----------------------+ PA 5 -+-+ I TO 7 -+ +---+ RO 1 ---+
Os Estados da região Sul e Sudeste (à exceção de Minas Gerais), assim como o
Estado de Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal na região Centro-Oeste formam parte
do primeiro grupo. A boa qualidade dos dados que caracteriza este grupo pode ser
associada à relativa facilidade de implantação do sistema do Ministério da Saúde
quando da introdução da “Declaração de óbito” como formulário padrão para a
atestação da causa da morte. A existência anterior de sistemas de estatísticas vitais,
envolvendo a coleta de dados nos Cartórios de Registro Civil é um dos fatores que
explica a rápida implantação e consolidação do SIM nessas Unidades da Federação. À
exceção do Distrito Federal, que constitui um caso particular,1 as diferenças entre os
dois sistemas são muito pequenas, indicando que os Cartórios observam as normas para
o registro de óbitos, exigindo a apresentação da Declaração de óbito, e enviando as
informações dos registros ao sistema do IBGE e ao SIM. É importante lembrar que para
os dois sistemas, o Cartório de Registro Civil tem um papel fundamental no fluxo de
informações. Como na lei que regulamenta o registro civil de pessoas naturais no Brasil
(lei 6015 de 1973), menciona-se apenas a obrigatoriedade do envio de informações dos
eventos registrados pelos Cartórios ao sistema do IBGE, para a implantação e
consolidação do SIM, coube aos serviços de estatísticas vitais das Unidades da
Federação estabelecer uma relação estreita com os Cartórios para garantir o envio
periódico das Declarações de óbitos. Por outro lado, nessas Unidades da Federação, o
sub-registro de óbitos bastante reduzido está associado às condições sócio-econômicas
mais favoráveis, às elevadas taxas de urbanização e às taxas de mortalidade infantil
mais reduzidas. Em 1996, as Unidades da Federação que compõem o Grupo 1
representavam 49% da população brasileira e respondiam por 68% do Produto Interno
Bruto (Ministério da Saúde, 1999).
Tabela 3 – Caracterização dos grupos das Unidades da Federação segundo as variáveis consideradas na classificação
Variáveis Grupos 1 2 3 4
Número de UF's 8 10 7 2 Diferença entre os sistemas �� Média 2,4 1,5 10,4 8,5 �� Amplitude de variação -1,2 – 14,0 -10,2 –13,1 4,5 – 17,2 7,5 – 9,6 % População c/ inf. Regular (%Pop)
�� Média 98,1 78,3 46,7 13,5 �� Amplitude de variação 93,7 – 100,0 65,8 – 91,5 30,6 – 62,6 12,5 – 14,5 Taxa de cobertura �� Média 102,4 74,8 61,6 24,1 �� Amplitude de variação 94,5 – 107,6 55,8 – 93,0 53,5 – 71,3 18,7 – 29,4
1 As grandes diferenças entre SIM e IBGE para o Distrito Federal são explicadas pelas transcrições incorretas da informação sobre município de residência do falecido do livro de registros para o mapa de óbitos do IBGE. A informação do SIM reproduz aquela inscrita nos livros de registros arquivados nos Cartórios.
Gráfico 2 - Caracterização dos grupos das Unidades da Federação segundo as variáveis consideradas na classificação a. Diferença média (em %) entre os dois sistemas (1990-1995)
Grupo
4321
SIM
/IBG
E
20
10
0
-10
-20
TO
SERR
PBDF
b. Proporção da população residente em municípios com informação regular
Grupo
4321
%P
op
120
100
80
60
40
20
0
c. Taxa de cobertura do SIM (%)
Grupo
4321
Cob
ertu
ra120
100
80
60
40
20
0
Gráfico 3 - Agrupamento das Unidades da Federação segundo as variáveis de classificação.
Grupo
4
3
2
1
TO
DF
AMMT
PA
MG
BA AC
SC
AP
RSES
RO
MSSPRJPR
%Pop
GOPB
20 120
CE
20
40
PE
MAPI
100
60
AL80
10
RN
100
SE
80
RR
120
CoberturaSIM/IBGE600 40-10 20
No segundo grupo, a qualidade dos dados é mais variável. Por um lado,
encontram-se os Estados de Minas Gerais, Goiás e Pernambuco, cujas fortes tradições
estatísticas, contribuíram para a “interiorização” do SIM nesses Estados. As proporções
de população residente em municípios com informação regular são superiores a 84%.
No entanto, ainda existem muitos obstáculos e dificuldades para que o SIM alcance a
universalidade, tais como: a dificuldade de controlar o envio das informações pelos
Cartórios aliada à grande extensão territorial e ao grande número de Cartórios, e a
existência de regiões de extrema pobreza no interior desses Estados. No caso de
Pernambuco, da mesma forma que para os outros Estados da região Nordeste neste
grupo (Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe) – que se diferenciam dos outros
Estados da região pela rápida implantação do SIM (ver Tabela 1) -, o principal
problema ainda é o sub-registro de óbitos. Neste sentido, vale ressaltar o esforço do
serviço de estatísticas de mortalidade do Estado de Sergipe que, objetivando alcançar a
universalidade do SIM, apresenta para vários anos grandes diferenças em favor desse
sistema, evidenciando assim o uso freqüente dos recursos alternativos para coletar
Declarações de óbitos. Nos anos mais recentes, o Estado do Rio Grande do Norte
também vem apresentando diferenças favoráveis ao SIM. Por outro lado, o Estado da
Paraíba apresenta grandes diferenças em favor do IBGE, indicando que além do sub-
registro, o serviço de estatísticas de mortalidade do estado ainda tem dificuldades de
coletar as Declarações de óbitos junto aos Cartórios. Finalmente, os três Estados da
região Norte neste grupo (Acre, Amapá e Roraima) são os Estados menos populosos da
região e aqueles que apresentam as mais elevadas taxas de cobertura. O SIM funciona
relativamente bem nesses Estados, apesar das regiões de difícil acesso. Para concluir, o
segundo grupo pode, de fato, ser subdivido em dois subgrupos segundo a qualidade dos
dados do SIM. De um lado, os Estados onde a informação pode ser considerada como
de qualidade regular (Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Sergipe, Acre, Amapá et
Roraima) e, de outro, os Estados onde a informação é deficiente sobretudo devido às
baixas taxas de cobertura (Rio Grande do Norte, Alagoas et Paraíba).
O terceiro grupo é composto por Mato Grosso na região Centro-Oeste, Bahia e
Ceará na região Nordeste e pelos Estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Tocantins na
região Norte. Neste grupo, a qualidade dos dados deficiente é explicada sobretudo pelas
condições desfavoráveis à implantação do sistema de coleta das Declarações de óbitos
(grande extensão territorial, regiões de difícil acesso, existência de diversos cemitérios
clandestinos, falta de assistência médica, proporção elevada de população rural, elevada
taxa de sub-registro de óbitos). Mas, por outro lado, verifica-se que os serviços de
estatísticas de mortalidade desses Estados conseguiram introduzir a nova sistemática de
atestação da causa da morte, ao menos nas capitais dos Estados e nas principais zonas
urbanas. A generalização da prática de certificação da causa da morte e a observação
das normas de registro e do fluxo de informações estabelecido são objetivos difíceis a
serem atingidos. Associada às características geográficas e às condições sócio-
econômicas dos Estados que compõem este grupo, observa-se uma grande dificuldade
no controle dos procedimentos de registro e de sepultamento por parte dos órgãos
responsáveis pela produção das estatísticas de mortalidade.
Finalmente, no quarto grupo encontram-se os Estados do Maranhão e do Piauí
na região Nordeste. Estes são os Estados mais pobres do País, com mais de 60% da
população vivendo abaixo da linha de pobreza (com renda familiar per capita inferior a
½ Salário Mínimo) (Ministério da Saúde, 1999), com uma grande parcela da população
residente na zona rural e onde o sub-registro de óbitos é extremamente elevado. As
taxas de cobertura do SIM são bastante reduzidas (29% no Maranhão e 19% no Piauí) e
mais de 80% da população reside em municípios classificados como “com informação
não regular”. Os dados do SIM para estes Estados são portanto classificados como de
qualidade muito deficiente. Desta forma, a sua utilização não é recomendada.
Possivelmente, os dados para as capitais apresentem uma melhor qualidade.
4. CONCLUSÕES
A qualidade das informações sobre óbitos no País é muito variável e estreitamente
relacionada com as condições sócio-econômicas predominantes nas Unidades da
Federação. É importante observar que para metade da população brasileira, os dados do
SIM são de boa qualidade, podendo serem utilizados para a estimação de níveis e
tendências da mortalidade. Para os Estados onde a qualidade da informação foi
considerada regular, os dados devem ser utilizados considerando-se alguma técnica de
correção dos níveis de cobertura. Para os demais Estados, onde a qualidade da informação
é deficiente ou muito deficiente, os dados do SIM devem ser utilizados com bastante
cautela. Nesses Estados, serão necessários grandes esforços por parte dos governos
estaduais, apoiados pelo governo federal, para que a sistema de informações de
mortalidade do Ministério da Saúde possa ser generalizado.
Para finalizar, vale observar que neste trabalho não foi considerada a qualidade da
informação sobre causa de morte. Considerando-se este aspecto na qualidade dos dados do
SIM, outros agrupamentos das Unidades da Federação serão evidenciados.
5. BIBLIOGRAFIA
Fundação IBGE, 1977-1995, Estatísticas do Registro Civil, Rio de Janeiro.
Ministério da Saúde, 1979-1997, Estatísticas de Mortalidade. Brasil, CD-ROM, Brasília.
Ministério da Saúde, 1995, Estatísticas de Mortalidade. Brasil, Brasília.
Ministério da Saúde, 1998, Indicadores e dados básicos para a saúde - 1997, Brasília.
Ministério da Saúde, 1999, Indicadores e dados básicos para a saúde - 1998, Brasília.
Moreira, M., 1982, "Sub-registro de óbitos no Brasil", Anais do III Encontro da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais, ABEP, Vitória.
Vasconcelos, A.M., 1998, “A qualidade das estatísticas de óbitos no Brasil”, Revista
Brasileira de Estudos de População, ABEP, 15(1), jan-jul.