Ana Flávia Figueiredo

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1 PROBLEMATIZANDO O CONCEITO DE IDENTIDADES TRANSNACIONAIS 1 Ana Flávia Andrade de Figueiredo UFPE/ Brasil Resumo Em um período de reconfigurações geopolíticas no mundo, um conceito caro à Antropologia Identidade tem ganhado novos ares de discussão através de pesquisas voltadas à formação de identidades que extrapolem tradicionais fronteiras físicas e políticas. O estimulante debate da década de 90 entre Identidades Nacionais como comunidades imaginadas (Benedict Anderson) e o Poder da Identidade (Manuel Castells) na reconfiguração de Estados e Nações na perspectiva de pertencimento cultural de uma sociedade em rede, permanece nas reflexões acadêmicas, agora ainda mais situadas no campo dos impactos das tecnologias da informação e das migrações fora do eixo sul-norte. Neste artigo interessa-nos mapear alguns debates a partir do conceito de identidade transnacional, optando como estratégia metodológica levantar artigos publicados em dois periódicos científicos nacionais que nos apontassem em seus resumos a temática que aqui se coloca. A partir destes foram analisados os artigos de interesse buscando apreender como a noção de transnacionalidade tem se colocado nos debates acadêmicos e qual o impacto que as viagens e as tensões de encontros e desencontros culturais exercem sobre a construção de identidades. Palavras-chave: Identidade, Transnacionalismo, debates acadêmicos. Introdução 1 Trabalho apresentado na 28 a Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de 2012, em São Paulo, SP, Brasil.

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PROBLEMATIZANDO O CONCEITO DE IDENTIDADES

TRANSNACIONAIS1

Ana Flávia Andrade de Figueiredo

UFPE/ Brasil

Resumo

Em um período de reconfigurações geopolíticas no mundo, um conceito caro à

Antropologia – Identidade – tem ganhado novos ares de discussão através de pesquisas

voltadas à formação de identidades que extrapolem tradicionais fronteiras físicas e

políticas. O estimulante debate da década de 90 entre Identidades Nacionais como

comunidades imaginadas (Benedict Anderson) e o Poder da Identidade (Manuel

Castells) na reconfiguração de Estados e Nações na perspectiva de pertencimento

cultural de uma sociedade em rede, permanece nas reflexões acadêmicas, agora ainda

mais situadas no campo dos impactos das tecnologias da informação e das migrações

fora do eixo sul-norte.

Neste artigo interessa-nos mapear alguns debates a partir do conceito de identidade

transnacional, optando como estratégia metodológica levantar artigos publicados em

dois periódicos científicos nacionais que nos apontassem em seus resumos a temática

que aqui se coloca. A partir destes foram analisados os artigos de interesse buscando

apreender como a noção de transnacionalidade tem se colocado nos debates acadêmicos

e qual o impacto que as viagens e as tensões de encontros e desencontros culturais

exercem sobre a construção de identidades.

Palavras-chave: Identidade, Transnacionalismo, debates acadêmicos.

Introdução

1 Trabalho apresentado na 28

a Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho

de 2012, em São Paulo, SP, Brasil.

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Este trabalho foi motivado primeiramente pela observância da necessidade de ampliação

de estudos da dinâmica de formação identitária de caráter transnacional e suas

potenciais ressonâncias na reconfiguração de fronteiras geopolíticas, ideológicas,

culturais e simbólicas. Tal dinâmica transnacional tem por vezes se estabelecido como

movimentos, até certo ponto, de ruptura a projetos político identitários de Estados-

Nação ultranacionalistas pautados pela exclusão.

Desse modo, busca-se também aqui pensar a formação de identidades transnacionais

contemplando o paradoxo que há entre a abertura de fronteiras ocasionada pelos

avanços tecnológicos e comunicacionais e a expansão de movimentos ultranacionalistas

geradores, por sua vez, de novos muros geopolíticos, ideológicos e culturais.

O contexto social do ocidente vivencia uma socialização marcada por conexões em

escala planetária que propicia relações de forte impacto cultural, ora estatizantes, ora

transculturais, estas últimas tão caras a Tzvetan Todorov. Neste campo, as trocas

simbólicas estabelecidas, mais amplas que meras trocas mercantis, traçam importantes

percursos de reconfigurações nacionais, glocais e globais. As identidades transnacionais

assim estabelecidas - em interface com as múltiplas atribuições de sentido geradas no

debate acadêmico das últimas décadas ao fluxo de pessoas, mercadorias e símbolos, aos

processos de desenraizamento e de estabelecimento e quebra de fronteiras – exigem um

refinamento de sentidos de forma complexa, dinâmica, polissêmica.

Nesta fase de nossa pesquisa, selecionamos três números temáticos publicados entre

2000 e 2009 pelo periódico internacional Horizontes Antropológicos2 (UFRGS) e

quatro números do periódico Anthropológicas (UFPE). No total, foram selecionados 20

artigos a partir da presença nestes de artigos que problematizassem explicita ou

implicitamente o conceito (ou as noções) de Identidades Transnacionais de maneira que

o recorte favorecesse o debate acadêmico sobre o tema.

Após esta etapa, traçamos um diálogo com o texto “Flow” de Stuart Alexander

Rockefeller3 (publicado no volume 52, número 4 de agosto de 2011 do periódico

Current Anthropology), cujo foco centrava-se nos usos do termo nas discussões

2 A revista publicou desde 1995, 36 números temáticos e é considerada uma das principais publicações

internacionais editada por um programa de pós-graduação em antropologia de universidade brasileira. 3 O texto de Rockefeller foi objeto de seminário na disciplina de Método e Técnicas Avançadas,

disciplina obrigatória do Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de

Pernambuco.

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antropológicas sobre globalização, circulação, migração, entre outros, no intuito final de

tecermos reflexões de caráter teórico-metodológico acerca do tema.

A perspectiva da identidade transnacional: reflexões de um breve mapeamento

científico

Para Tzvetan Todorov, Ulf Hannerz, António de Sousa Ribeiro e Boaventura de Sousa

Santos, para citar apenas alguns, fluxo, desenraizamento, fronteira, globalizações e

identidades transnacionais passaram de certo modo a oferecer os contextos para nossa

reflexão sobre cultura. Não foi sem apostas que o periódico Current Anthropology

nomeou o “fluxo” (flow no orginal) como uma das palavras-chaves da Antropologia

contemporânea, gerando uma seção especial para tal no ano de 2011.

Neste, o autor enfatiza que embora o termo tenha sido utilizado na história recente da

disciplina de forma ampla, pouca atenção tem sido dada às pressuposições que o termo

carrega por si. Assim, apresenta algumas das maneiras que o fluxo tem sido empregado

na Antropologia e em outras ciências sociais recentemente, traçando uma reflexão a

partir dos trabalhos de Deleuze, Guattari e de Henri Bergson, além de uma revisão em

artigos publicados na Current Anthropology entre novembro de 2003 e agosto de 2005.

O autor traz uma crítica sobre a forma em que vem sendo utilizado o termo, ora como

imagem de movimento em oposição a uma ideia estática de lugares, ora como uma

imagem de movimento sem agente, sem ponto de partida. Rockefeller defende que o

recorrente foco em agências de grande escala pela incapacidade de se reconhecer a

agência individual e o significado da pequena escala, impede a compreensão da natural

dinâmica das interconexões locais e globais.

O autor relata que ao retornar à Universidade de Chicago de um trabalho de campo na

Bolívia e na Argentina, rapidamente percebeu que as pessoas estavam debatendo sobre

conexões internacionais de uma maneira diferente de quando havia saído. Estavam

discutindo termos como desterritorialização tanto quanto transnacionalização e

globalização. ‘Hibridismo’, ‘lugar’ e ‘fronteiras’ haviam adquirido um novo significado

e urgência. E, apesar de do termo ‘Glocal’ para Rockefeller ter uma aparição breve, vale

ressaltar de onde o mesmo fala, pois ‘glocal’ seria um termo difundido por outros

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pesquisadores fora do eixo americano tais como o professor Boaventura de Sousa

Santos em Portugal e países como o Brasil.

‘Flow’ por sua vez havia se tornado amplamente utilizada nas ciências sociais e na

teoria crítica como parte de um modo de falar de movimentos transnacionais de

dinheiro, pessoas, imagens, commodities. A sua polissemia (multiplicidade) de

significado, para o autor, é uma ferramenta interessante para agregar às reflexões

acadêmicas sobre escala, agência, finanças globais, migrações internacionais, localidade

e mobilidade na cena global, uma realidade complexa e multiforme.

De todo modo, Rockefeller parte da premissa de que naquele primeiro período de

múltiplos usos do termo (meados da década de 90 e início dos anos 2000), não havia

maiores reflexões conceituais sobre o mesmo, levando anos para que ‘fluxo’ se tornasse

uma nova perspectiva social científica sobre a relação de escala, agência, localidade e

mobilidade.

Metodologicamente, Rockefeller traçou caminhos importantes para sua análise:

primeiramente se debruçou por distintas genealogias do termo, levantou seu uso como

palavras-chave, títulos, índices, de maneira usual... em livros que utilizavam fluxo em

seus títulos e em artigos publicados na Current Athropology entre novembro de 2003 e

agosto de 2005:

A palavra ‘fluxo’ ocorre ao menos uma vez em 28 dos 39 artigos que

apareceram durante este tempo4. Doze desses artigos pode-se dizer que em

certo sentido envolvem questões de globalização ou transnacionalismo; 13

incluem menções de "fluxo", cujo amplo sentido se encaixa com a palavra-

chave que estou discutindo. (...) A associação de "fluxo" com as palavras

‘transnacional’ ou ‘global’ é uma marca da palavra-chave; esse par de termos

é uma das características definidoras de muitas discussões da globalização

(ROCKEFELLER, 2011, p. 558- 559, tradução nossa).

E essencialmente inseriu em uma roda de pesquisadores alguns autores importantes

como Arjun Appadurai, Manuel Castells, Ulf Hannerz, Marc Augé entre outros.

Discutiu a partir de seus posicionamentos a relação tensa entre fluxo e os limites que

(não podem) conter, lugares em uma perspectiva limitante como estáticos e movimentos

de pessoas.

4 Exclue alguns artigos que contêm somente palavras relacionadas, como por exemplo, "estouro".

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No que tange à nossa investigação na Revista Horizontes Antropológicos foram

selecionados três números temáticos: Relações Interétnicas, organizado por Daisy

Macedo de Barcellos e Denise Fagundes Jardim e publicado em 2000 (no qual foram

trabalhados seis dos 9 artigos da publicação a partir de palavras-chaves contidas em

seus resumos que os aproximassem de nossa discussão); Imigração e Fronteiras (3

artigos selecionados), publicado em 2003 e organizado por Denise Fagundes Jardim e

Carlos Alberto Steil; Circulação Internacional, publicado em 2009 e organizado por

Ruben George Oliven, Bela Feldman-Bianco, Denise Fagundes Jardim e Cristiana

Bastos (aqui, dos 10 artigos presentes, foram destacados 7. Vale ressaltar que alguns

dos artigos nesta edição publicados são frutos de projetos de cooperação científica entre

órgãos e instituições acadêmicas portuguesas e brasileiras). A seguir, de maneira que

optamos por sistematizar, apresentamos alguns pontos de destaque em cada um dos

artigos. Após esta relação retomaremos nosso diálogo entre estes que por ora

apresentamos sinteticamente e o artigo de Stuart Rockefeller.

Relações Interétnicas:

1) Em Plural identities among youth of immigrant background in Montreal Deirdre

Meinel apresenta uma pesquisa voltada à identidade étnica de jovens de 18 a 22

anos – que foram entrevistados - descendentes de imigrantes (gregos,

portugueses, chilenos, vietnamitas e salvadorenhos, em comparação com grupos

de jovens quebecois de origem francesa) em Montreal, Canadá. O autor traz uma

crítica sobre os contextos de análise que este tipo de pesquisa tem gerado e

apresenta resultados que, segundo ele, não coincidem com as perspectivas

essencialistas correntes. A partir de entrevistas semiestruturadas com jovens e

seus pais e, ainda, observações do tipo participante realizadas por alunos de

graduação nos grupos de imigrantes incluídos no estudo, aponta: os jovens

possuem identidade étnica que o mesmo nomeia como fluidas e com múltiplas

formas de pertencimento étnico, incluindo como “fonte de enriquecimento ao

invés de conflito ou sentimento de inferioridade”. A transnacionalidade é

entendida no artigo como algo vantajoso e que ocorre a partir de evidências

de laços com o grupo cultural de origem “seja no país de origem ou outro

lugar e a trans-etnicidade, solidariedade com outros grupos étnicos em

Montreal que são vistos como culturalmente ou estruturalmente similares”. E

problematiza: “devemos questionar a conceitualização de identidade étnica

especialmente no que diz respeito a jovens de origem migrante”.

2) Denise Fagundes Jardim da Universidade do Rio Grande do Sul trata em

Diásporas, viagens, e alteridades: as experiências familiares dos palestinos no

extremo-sul do Brasil da experiência da diáspora em si e de como esta tem se

tornado uma categoria utilizada para reivindicações de um Estado Palestino.

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O fluxo em seu artigo tem uma conotação de movimento migratório e

aparece sendo utilizado ao longo do texto, mas não como termo chave. No artigo

de Denise, a diáspora seria este termo, assim como Identidade e, semelhante

às reflexões de Rockefeller sobre fluxo, discute o fato de que estes termos

congregam uma complexidade de sentidos, exigindo um novo olhar sobre

seus conceitos e ressonâncias. Sobre seus caminhos metodológicos: entrevistou

cerca de 60 pessoas no período de dois anos de observação direta e participante

das famílias. A autora insere trechos das falas dos entrevistados e traça reflexões

de modo a fazer-nos aproximar da realidade de pesquisa experenciada.

3) Tomke Lask, da Universidade de Liege, Bélgica, em Imigração brasileira no

Japão: o mito da volta e a preservação da identidade, trata essencialmente das

questões que envolvem as estratégias conscientes de preservação da

identidade brasileira por emigrantes no Japão. Ao longo de seu texto publicado

em 2000, o termo fluxo não aparece, constituindo eixo central de sua análise os

conceitos de identidade e transnacionalismo. A autora, alemã, após descrever

as atividades desenvolvidas pelas associações “Grupo Brasil” e Oizume e o foco

destes na manutenção da língua brasileira, visto a perspectiva colocada, pondera

a necessidade de aprofundamento dos estudos sobre a construção das

identidades em contextos de migração.

4) Giralda Seyferth, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, problematiza em

Identidades dos imigrantes e o melting potnacional os elementos solo e

sanguíneo na formação do ideal de nação brasileira. A autora discute formas

diferenciadas de pensar a nacionalidade, a etnicidade e a pluralidade

cultural na primeira metade do século XX. Seu referencial empírico se

sustenta em levantamento documental e bibliográfico relacionados à “elaboração

de identidades étnicas produzidas no contexto da imigração no sul do Brasil e

sua articulação com o processo de colonização voltado a ocupação de terras

públicas”. Fluxo é um termo presente ao longo do texto, mas sempre no sentido

de movimento de pessoas (migração). Em trabalho anterior (Seyferth, 1986)5,

vale destacar, assim como a própria autora o faz, desenvolve análise

comparativa sobre o surgimento da identidade étnica entre descendentes de

imigrantes italianos, alemãs e poloneses para mostrar ligações entre fé (religião)

e etnicidade, língua materna e ethos do trabalho.

5) José Carlos dos Anjos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul busca

desvelar em Cabo Verde e a importação do ideologema brasileiro da

mestiçagem a relação entre a formação de elites intelectuais e lutas em torno

da definição da identidade nacional em Cabo Verde. Para intelectuais cabo-

verdianos, nas duas primeiras décadas do século XX, uma identidade atlântica

emergia concorrente à identidade lusitana imposta pela colonização. Com a

censura política imposta pelo regime Salazar, o artigo conclui “sugerindo que

identidades (africanas, mestiças, crioulas, européias) disputadas em nível

transcontinental e estratégias geopolíticas transatlânticas adquiriram sentidos

inesperados nesse contexto e conjuntura determinada”. Seu foco permanece ao

longo de todo o texto no debate sobre a formação (ou invenção) de uma

identidade nacional cabo-verdiana que se sustenta entre elementos africanos e

desafricanizantes Transnacionalismo ou fluxo são termos que não aparecem

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em seu texto, carregado de debates sobre elementos pertinentes como

tradição, ideologia entre outros.

6) Ellen Fensterseifer Woortmann, da Fundação Universidade de Brasilia, em

Identidades e memória entre teuto-brasileiros: os dois lados do atlântico,

analisa dimensões da memória acerca da colonização alemã no sul do Brasil

entre 1824 e 1932. Silêncios em contraste com detalhamentos de fatos

relacionados à travessia e instalação desses imigrantes nas colônias são pensados

relacionando-os ao quadro de sua formação identitária. O foco do artigo assim

como na grande parte dos materiais investigados - neste número da Horizontes

Antropológicos - está no conceito e desdobramentos da formação identitária,

mais do que nos fluxos ou movimentos migratórios por si, tanto que a

presença de termos como fluxo e transnacionalidade não são comuns neste

período de investigação de publicações.

Imigração e Fronteiras:

Segundo os organizadores, "Imigração" e "fronteiras" são os dois conceitos-chave

polissêmicos que não se restringem à dicotomias como território/imigração, remetendo

a leituras mais amplas, em prol da superação da “porosidade da noção de fronteira; a

mestiçagem entre agentes sociais e os conflitos que produzem unidades sociais, e

desafiando pesquisadores a transpassar limites do conhecimento”.

1) Fabricio Pereira Prado, doutor em história e professor da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, no artigo intitulado Colônia do Sacramento: a situação

na fronteira platina no século XVIII reflete sobre a experiência de fronteiras

múltiplas vivenciadas pelos habitantes da colônia de Sacramento, atual Uruguai,

na primeira metade do século XVIII, onde coexistiam espanhóis, portugueses e

diferentes grupos indígenas. Estabelece como foco de pesquisa as redes sociais

construídas a partir de vínculos sociais e comerciais existentes entre os

habitantes de Sacramento e Buenos Aires.

2) Rolando Silla da Universidade Federal do Rio de Janeiro em San Sebastián de

Las Ovejas: pureza perdida y revitalización en el norte neuquino (Argentina),

reformulação, segundo o autor, de sua dissertação de mestrado na Universidade

Nacional de Misiones, irá descrever as mudanças ocorridas no festival San

Sebastian, em Lençóis, Neuquén, perto da fronteira com o Chile. Em termos de

linha teórica, destaco a passagem em que Rolando relembra que autores como

Enzo Pace (1997) argumentam que o processo de globalização anuncia o fim

das nações e do nacionalismo, e a transnacionalização econômica implica

uma indefinição dos estados de fronteira e nos direitos sociais e culturais.

Uma das palavras-chaves de seu resumo é turismo, contudo, ao longo do texto,

não encontramos nenhuma menção ao termo. Apesar de inicialmente gerar uma

expectativa de maiores discussões acerca de fluxos de mudança e relações

transnacionais, o autor não desenvolve argumentos mais diretamente

relacionados às questões centrais deste trabalho.

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3) Denise Fagundes Jardim, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao

escrever Palestinos: as redefinições de fronteiras e cidadania objetiva discorrer

acerca do tema das redefinições territoriais e de cidadania – tema caríssimo

aos estudos sobre Identidade e Identidades Transnacionais. Como suporte

empírico retoma a história recente de conflitos entre nações, redefinições de

fronteiras e embates diplomáticos relacionados diretamente à Palestina e, do

ponto de vista de seu campo de estudo, aos imigrantes palestinos que vivem no

Brasil. Para a autora, vale destacar:

Os estudos sobre imigrantes normalmente se pautam pelo aspecto pragmático

de uma sociedade que quer entender os "outros", estrangeiros, e de como os

"outros" deixaram de ser diferentes de "nós" e passaram a ser assimilados por

locais ou como parte da sociedade local. Todavia, uma reflexão sobre uma

autodenominação pode significar um distanciamento da situação de

"estrangeiro" (aos olhos dos outros), permitindo compreender os fluxos da

vida social e a capacidade de se inserir nas relações locais em seus mais

diversos níveis, através da ambigüidade de ser "de origem", de uma outra

coletividade, e, ao mesmo tempo, estar "entre os locais", como parte dos

jogos identitários nesse novo mundo social.

Denise ao longo do artigo posiciona-se perante seu campo de estudo não

deixando de esclarecer seus próprios pontos de partida etnográficos (suas

inquietações, motivações etc). Ainda, levanta reflexões bastante pertinentes

acerca de fronteiras simbólicas e afetivas. Trabalha o termo fluxo, assim como

outros artigos investigados na Horizontes, do ponto de vista da migração, mas –

como na citação acima – pensa sobre os fluxos também como movimentos,

dinâmicas da vida e relações sociais.

Circulação Internacional:

1) A antropóloga Bela Feldman-Bianco da Universidade Estadual de Campinas em

Reiventando a localidade: globalização heterogênea, escala da cidade e a

incorporação desigual de migrantes transnacionais, esclarece que este é uma

versão modificada de um artigo a ser publicado em uma coletânea em inglês. Em

seu resumo, apresenta sujeitos de pesquisas (migrantes portugueses em New

Bedforr, EUA), seu foco (práticas locais e transnacionais dos sujeitos à luz

dos reposicionamentos de New Bedford e de Portugal na economia política

global), e reforça que seu interesse é, mais do que adotar o grupo de migrantes

como unidade de análise, centralizar-se na cidade americana e na política ao

nível local para explicar as relações entre globalização, escala de cidade e a

incorporação de imigrantes. Apresenta resultados da pesquisa, o que a autora

coloca como sendo desvendamentos de “aparentes paradoxos subjacentes

aos projetos neoliberais em curso que se apoiam na organização flexível do

trabalho, em políticas migratórias restritivas de segurança nacional e decorrente

criminalização de imigrantes, bem como em ideologias de diversidade cultural”.

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2) Cristiana Bastos, do Instituto de Ciências Sociais de Portugal, em Maria Índia

ou a fronteira da colonização: trabalho, migração e política no planalto sul de

Angola, artigo que integra um projeto mais amplo de pesquisa na área de

Circulação do Conhecimento Médico, assim como pode ser considerado uma

versão posterior de pesquisas relacionadas a outro projeto desenvolvido no

âmbito de uma parceria com o CEMI – UNICAMP intitulado Circulação

Transnacional, Fronteiras e Identidades. Em seu resumo, a autora apresenta o

tema da pesquisa: um episódio da colonização ocorrida no Sul de Angola na

década de 1880, percorrendo de forma sensível elementos relacionados à

migração portuguesa, ora utilizada pelo governo “como bandeira de propaganda

num jogo que mantinha com outras nações europeias, e, por outro, no terreno, os

tratava como subgente”. A autora perpassa pela construção da noção de

identidade, de fronteira pessoal e do projeto colonial de nação.

3) Adriana Piscitelli, da Universidade do Estado de São Paulo, neste texto

Trânsitos: circulación de brasileñas em el âmbito de la transnacionalización de

los mercados sexual y matrimonial, desenvolvido a partir de trabalhos de campo

apoiados pela Guggenheim Foundation e pela Capes no Brasil, está vinculado ao

projeto “Gênero, Corporalidades”, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa

do Estado de São Paulo. Toma-se aqui como foco a migração brasileira à Europa

sendo os espaços da pesquisa localizados entre o Brasil, a Itália e a Espanha. A

investigação foi baseada na trajetória de 22 mulheres analisadas sob uma

perspectiva antropológica (a autora destaca o papel do método etnográfico em

seu artigo através de um tópico dedicado especialmente a ele) e uma abordagem

qualitativa. Possui o objetivo de compreender os direitos políticos, econômicos e

culturais relacionados com a migração, analisando a noção de

transnacionalismo no debate sobre prostituição e estudos de migração e dando

atenção às redes de relacionamento operadas durante o processo de

migração e ao grau de participação dessas pessoas na vida social nos países

de origem e destino.

4) José Lindomar C. Albuquerque, da Universidade Federal de São Paulo, em A

dinâmica das fronteiras: deslocamento e circulação dos “brasiguaios” entre os

limites nacionais”, retoma reflexões sobre fronteiras nacionais a partir de um

estudo sobre o deslocamento de brasileiros para a fronteira leste do Paraguai.

Albuquerque dá indícios de uma pesquisa documental e de trabalho de campo na

fronteira pelos trechos de entrevista que insere no desenvolvimento do artigo.

Como “conclusão” da pesquisa aponta que as “relações entre os "brasiguaios" e

a população paraguaia têm produzido novas formas de identificações étnico-

nacionais e produções de diferenças sociais e de hibridismos culturais”.

5) Denise Fagundes Jardim, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em As

mulheres voam com seus maridos”: a experiência da diáspora palestina e as

relações de gênero, foca na reflexão sobre o papel das mulheres muçulmanas/

árabes no debate ideológico acerca de integridade e autenticidade cultural

no mundo pós-colonial. Reflete ainda sobre questões de gênero e critica o

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modo como é comumente analisado o protagonismo dessas mulheres. Em seu

percurso metodológico, entrevista famílias de imigrantes de origem árabe no

extremo sul do Brasil e, pode-se dizer, o que torna o texto ainda mais

interessante, a autora é tocada pelo campo.

6) José Mapril, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa –

Portugal, em “Aqui ninguém reza por ele!” Trânsitos fúnebres entre o

Bangladesh e Portugal esclarece seu ponto de partida conceitual – do

“transnacional como os múltiplos e permanentes laços sustentados entre o país

de ‘origem’ e o país de ‘acolhimento’” e a dimensão teórica e etnográfica

crescente que os fenômenos migratórios tem ganhado na última década.

Neste artigo, a partir de um estudo de caso sobre bangladeshianos em Lisboa,

Portugal, realizado entre 2003 e 2007, apresenta dados acerca da gestão da morte

e do morrer revelando estes as “dimensões rituais da produção de lugares em

contextos transnacionais”.

7) Pedro Martins, da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Cabo-

verdianos em lisboa: manifestações expressivas e reconstrução identitária”, se

debruça por imigrantes ou seus descendentes cabo-verdianos na Região da

Grande Lisboa, em Portugal, na busca por apreender algumas de suas

estratégias estéticas e identitárias de adaptação ao contexto local. Suas bases

teóricas encontram nos pressupostos de que “tradições são inventadas

(Hobsbawn), comunidades são imaginadas (Anderson) e que manifestações

estéticas só fazem sentido no quadro social do qual emergem (Duvignaud)”.

Conclui que os imigrantes, “ao reinventarem suas tradições, criam manifestações

expressivas originais e encontram, no mundo do espetáculo, um espaço com

algum nível de democracia em que os estereótipos de ordem étnica são, de certo

modo, sublimados” (grifo nosso).

De certo modo proposital, quisemos traçar este percurso de 2000 a 2009 na Horizontes

Antropológicos na tentativa de perceber a presença de termos chaves aqui discutidos em

trabalhos de autores por coincidência fora do eixo norte americano. As pesquisas no

âmbito de cooperação entre o Brasil e Portugal foram uma grata surpresa e este perfil

dos 16 artigos subsidiaram até certo ponto um contraponto à perspectiva de usos do

termo fluxo em universidades americanas e autores de seu background bibliográfico.

Sobre nossa investigação na Revista Anthropológicas, publicada pela Pós-Graduação

em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, entre 2002 e 2010, foram

selecionados três números não temáticos: o Volume 21, n.02 de 2010, o Volume 18,

n.01 de 2008, Volume 17, n.02 de 2006 e o temático Volume 11, intitulado Série

Imaginário, de 2000. No total foram analisados 05 artigos a partir, novamente, de

palavras-chaves contidas em seus resumos que os aproximassem de nossa discussão.

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1) Volume 21, n.02 de 2010 - Em Entre fronteiras: identidades e culturas na

modernidade, Carmem Izabel Rodrigues, professora do Programa de Pós-

graduação em Ciências Sociais da UFPA, e Josefa Salete Barbosa Cavalcanti,

professora do PPGA/UFPE, investem em um olhar analítico acerca da

contemporaneidade de relações entre conceitos caros à antropologia, quais

sejam, etnicidade, identidade, cultura. Ao longo do artigo, as autoras, ao

relembrarem a importância das metáforas como expressões polissêmicas e seu

lugar nas ocasiões em que os conceitos científicos não dão conta, tocam em um

dos caminhos chaves de nossa análise: culturas como fluxos (Hannerz, 1997;

Appadurai, 1996). E nesta linha de raciocínio irão questionar em que limites e

fronteiras os atores irão construir uma autodenominação ou autoatribuição de

suas diferenças. A relação entre identidades e culturas estabelecida entre

fronteiras, parece-me aqui, ainda, percebida a partir da interposição lado a lado,

da delimitação de marcos, não como um lócus de encontros transculturais e/ou

transidentitários.

2) Volume 18, n.01 de 2008 - Marjo de Theije, professora no Departamento de

Antropologia Social em Amsterdã, Holanda, apresenta questões da imigração

brasileira ao Suriname como base para suas reflexões acerca de percepções

sobre cidadania e fronteiras geográficas e políticas e, ainda, rediscute o próprio

conceito e formação de comunidades partindo de discussões contextuais sobre

transnacionalismo e problematizando a tradicional visão antropológica que

percebe a comunidade como lócus de segurança, proteção, em contraponto ao

que defende ser uma comunidade de brasileiros garimpeiros no Suriname

“baseada nos aspectos comerciais e numa ligação compartilhada com o Brasil e

com ser brasileiro” e em que a insegurança faz parte de sua própria existência.

3) Volume 17, n.02 de 2006 - Jean Carlos de C. Costa discute o valor das noções

sobre identidade nacional, raça e etnicidade na formação da sociedade moderna

em A modernidade e o problema nacional: hermenêutica histórica das noções

de ‘nação’ ‘etnia’ e ‘raça’ na teoria social clássica e contemporânea. O autor

argumenta que nas últimas décadas que certas preocupações relativas ao

nacional têm sido revisitadas, seja pelo impacto da globalização, assim como

pela incorporação de novas reorientações teóricas. E destaca: “No sentido

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empregado por Weber e Mauss, a nação é definida menos como uma estrutura

política, econômica, administrativa, jurídica e militar substancializada em um

território autônomo – estrutura essa cada vez mais referenciada como “Estado” –

e passa a ser entendida como uma realidade subjetivamente montada em função

da diferentia specifica que atribui identidade a essa estrutura: sua cultura”

(grifo nosso). No artigo, ainda, Jean Costa faz ainda clara referência a Benedict

Anderson e suas “comunidades imaginadas” e à relação direta entre cultura e o

sentido de comunidade e compartilhamento gerado internamente às noções de

etnicidade produzindo a nação.

4) Volume 11, Série Imaginário, de 2000 – Edgard de Assis Carvalho discute o

conceito de polifonia cultural como forma de diálogo transcultural em Polifonia

Cultural e Ética do Futuro. Defende neste artigo a necessidade de múltiplas

vozes como possibilidade transpolítica que supera o limite territorial da

diversidade. Ao invés de relativizá-la, a problematiza pelos vieses da autonomia

individual e coletiva (Castoriadis) e pela hiperrealidade do ciberespaço (teremos

na profusão da relação homem/máquina, já simbiótica e identitária, colaboração

entre culturas ou novas formas de hierarquização de castas transnacionais?).

Apesar de Flow ter sido publicado em 2011, o autor traz reflexões que percorrem

justamente as duas últimas décadas. Lembra, por exemplo, que na abertura de uma das

edições da Revista Public Culture, então co-editada por Appadurai e Breckenridge

(1988, p.1) declaravam que a revista pretendia ser “an intellectual fórum for interaction

among those concerned with global cultural flows” (1988, p.1 apud ROCKEFELLER,

2011, p. 560). Em 2009, na abertura da edição de Circulação Internacional, os

organizadores afirmavam esperar que o número contribuísse aos debates em curso sobre

“circulação de pessoas entre localidades e países, suas motivações, mobilizações e

estratégias, bem como a organização e os significados de suas experiências de

deslocamento”. Ou seja, a polissemia dos sentidos e vozes relacionadas a termos como

fluxo e identidades transnacionais têm encontrado espaço de reflexão em veículos

acadêmicos, entrecruzando contextualizações particulares a um universo mais amplo de

estudos da antropologia, tais como migração, identidade, comunidade.

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Fica clara a conexão temporal dos temas, o que as leituras distanciam talvez esteja mais

na perspectiva dos termos e usos. Rockefeller pondera: o fluxo é tanto o problema

quanto a solução, a causa e os meios de investigação antropológica na era da

globalização. Neste sentido, nos artigos analisados, o fluxo estaria realçado, muito

embora em alguns deles não mencionado explicitamente, nos meios de investigação.

A revisão de uma construção teórica sobre os fluxos em Rockefeller somada aos

caminhos investigativos apresentados pelos artigos aqui analisados nos oferece uma

compreensão significativa de como podemos repensar a noção de identidade e mais

especialmente de Identidade Transnacional – que me parece ainda não conter uma

definição mais consensual – a partir de um olhar complexificado sobre elementos

presentes em nossas investigações.

Percorremos uma trajetória instigante dos percussos teóricos e metodológicos

empreendidos por importantes pesquisadores em espaços tradicionais e reconhecidos de

publicação na área. O que se constatou foi a presença ao longo do tempo da noção de

transnacionalidade problematizando as percepções acerca dos temas correlatos aos

impactos que exercem as viagens/ migrações e as tensões entre encontros e

desencontros culturais estabelecidos. Permanecemos na construção de uma genealogia

das noções de identidades transnacionais embebidas sobre as esferas dos fluxos,

espaços, fronteiras... de modo que possamos – para além de uma busca por consensos e

convergências teóricas absolutas – nos conectar com imagens mais complexificadas e

próximas dos contextos intensos e embricados das dimensões sócio-técnicas em rede

(dialogia entre local e global) hoje cada vez mais presentes em nossos estudos.

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