Ana Cláudia Kasseboehmer - midia.atp.usp.br · oxigênio (O), e duas bolinhas brancas, que...
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TÓPI
CO
Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
1.1 Introdução1.2 O que é Química?1.3 Níveis de representação em Química1.4 Modelo científico: idealização das teorias na Ciência1.5 O método Científico: As etapas fundamentais da construção de conhecimento na Ciência1.6 Psicologia Científica
Ana Cláudia Kasseboehmer
INTrOduçãO AOs EsTudOs dE QuíMICA1 Qu
ímic
a
O material desta disciplina foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) para o projeto Licenciatura em Ciências (USP/Univesp).
Créditos
Coordenação de Produção: Beatriz Borges Casaro.
Revisão de Texto: Marcia Azevedo Coelho, Marina Keiko Tokumaru e Paulo Barroso.
Design Instrucional: Érika Arena, Fernanda Diniz Junqueira Franco, Gezilda Balbino Pereira, Juliana Moraes Marques Giordano, Marcelo Alves da Silva, Michelle Carvalho, Roberta Takahashi Soledade e Vani Kenski.
Projeto Gráfico e Diagramação: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira, Priscila Pesce Lopes de Oliveira e Rafael de Queiroz Oliveira.
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino, Mauricio Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.
Fotografia: Jairo Gonçalves.
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Química AMBIENTE NA TERRA
Licenciatura em Ciências · usP/univesp
Objetivos• Compreender o que é Química.• Compreender as três etapas fundamentais do trabalho do cientista.
1.1 IntroduçãoO objetivo deste tópico é propiciar uma visão geral da Ciência Química e sobre como o co-
nhecimento é construído em ciência. Dessa forma, esperamos que você reconheça a Química
como uma ciência teórica e prática e inicie seus estudos sobre outro objetivo importante desta
disciplina: compreender sobre a natureza das ciências.
1.2 O que é Química?Na história, podemos encontrar referências à Química desde a época dos filósofos gregos, quando
se buscava compreender a composição da matéria criando algumas teorias como a dos quatro ele-
mentos ou do atomismo. Mais tarde, surgiram os alquimistas que, com seus objetivos específicos, rea-
lizavam experimentos e construíam diversas vidrarias, várias delas utilizadas até hoje pelos químicos.
Em nenhum desses períodos, porém, essas atividades foram caracterizadas como Ciência Química.
A Ciência Química surge quando o ser humano associa teoria e prática em uma relação
dialética. A Química é geralmente conhecida como uma “ciência experimental”, o que pode
remeter à ideia de que realizar experiências é a atividade principal de um químico. Entretanto,
a Química é uma ciência que procura explicar o mundo macroscópico utilizando-se das teo-
rias e modelos reconhecidos no mundo científico. Sendo a Química uma ciência de natureza
teórico-prática, ela acontece pela observação de um fenômeno pelos cientistas, que, por sua
Antes de iniciar a leitura deste texto, responda ao Questionário 1.Com ele queremos conhecer suas concepções sobre a natureza das ciências e fazê-lo refletir sobre suas próprias concepções.
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TÓPICO 1 Introdução aos Estudos de Química
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vez, elaboram uma teoria que tenta explicar determinada situação, podendo ou não esta teoria
desencadear novos experimentos, caracterizando assim a relação dialética.
Como se sabe, diversas são as áreas que têm como foco de interesse a natureza, o meio am-
biente, o Universo. Cada área, como a Física e a Astronomia, por exemplo, em uma perspectiva
diferente, procura montar o “quebra-cabeça” que é a natureza.
Mas o que compete à Química? Como essa área da ciência pode ser definida e diferenciada
das outras?
Na Figura 1.1 encontramos as subdivisões da matéria desde o nível macroscópico – visível
a olho nu: matéria, materiais e substâncias – até o nível submicroscópico – partículas e átomos
criados teoricamente para explicar o mundo macroscópico. O foco de interesse dos químicos
é a substância. Podemos definir Química como uma área das Ciências Naturais que estuda as
substâncias: sua constituição, suas propriedades e as suas transformações.
Matéria: tudo o que tem massa e ocupa lugar no espaço
encontrada na forma de
são constituídos por diferentes
constituídas por apenas um tipo de
é formada por
Materiais: porções de matéria com propriedades específicas. Ex.: madeira, metal etc.
Substâncias: conceito fundamental da Química; pode ser atribuída uma fórmula. Ex.: água (H2O); Ferro (Fe)
Partícula: quanto ao tipo de ligação química, podendo ser composto iônico, molécula etc.
Átomos
Figura 1.1: Formas de apresentação da matéria.
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O trabalho do químico em relação às substâncias pode ocorrer de quatro diferentes maneiras:
1. Extrair dos materiais da natureza as substâncias químicas úteis ao ser humano, geral-
mente de interesse para a indústria. Por exemplo, temos a extração de óleos essenciais
de plantas para fabricação de fragrâncias. Podemos inferir, então, que é interesse do
químico conhecer e desenvolver novas estratégias de separação de misturas;
2. Utilizar as diferentes substâncias extraídas dos materiais da natureza para produção de
novos materiais. Para exemplificar, podemos tomar a fabricação de um perfume, que
requer a mistura de óleos essenciais, algum álcool e outras substâncias. Essas substâncias
químicas precisam estar discriminadas nos rótulos dos produtos comerciais;
3. Sintetizar (produzir) substâncias que podem ser encontradas na natureza, mas o são em
quantidades muito pequenas, o que inviabiliza a sua exploração comercial;
4. Sintetizar substâncias químicas que não existem na natureza e que são planejadas e ob-
tidas a partir de pesquisas na área de síntese. Muitos remédios hoje disponíveis no mer-
cado foram produzidos dessa forma como fruto de anos de pesquisa em laboratórios.
Para empreender esses trabalhos, os químicos então estudam as substâncias em três diferentes
aspectos (veja a Figura 1.2).
As substâncias químicas são estudadas quanto às propriedades que apresentam em diferentes
condições e quais transformações físicas e químicas podem ocorrer, dadas determinadas con-
dições reacionais. Os químicos necessitam também construir modelos e teorias para explicar
do que são feitas essas substâncias e por que apresentam determinadas propriedades. Além
disso, esses modelos e teorias são também úteis para prever e explicar por que determinadas
transformações ocorrem e outras não.
Podemos perceber que, apesar de a experimentação ser uma componente forte do trabalho do
químico, a teorização anterior e posterior à realização dos experimentos é fundamental. E é essa
relação dialética – em que a teoria é utilizada para planejar experimentos e os resultados experimen-
tais, por sua vez, podem modificar teorias consolidadas – que caracteriza a Química como Ciência.
Substância
Constituição
Propriedades
TransformaçõesFigura 1.2: Focos de interesse da Química. / Fonte: modificado de Machado e MortiMer, 2007
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1.3 Níveis de representação em QuímicaO estudo da Química ocorre em três diferentes níveis de representação (veja a Figura 1.3).
O nível macroscópico refere-se àquilo que é observável: os fenômenos da natureza. É de
onde surgem os problemas sobre os quais os cientistas se debruçam para compreender. Nesse
contexto, é importante compreender a diferença entre fenômeno e fato.
O nível submicroscópico compreende as interações em nível de átomos e moléculas. Não
é possível visualizá-los a olho nu, nem com a ajuda de algum aparelho. Por isso, esse nível
compreende os modelos teóricos construídos sobre a constituição da matéria.
A constituição de um átomo e todas as teorias desenvolvidas para explicar os fenômenos da
matéria em nível submicroscópico, como qualquer teoria científica, não pode ser tomada como
verdade incontestável e continua sendo foco de estudos e novos questionamentos. A definição
de modelo será discutida a seguir.
Finalmente, as substâncias químicas bem como as transformações podem ser representadas
com a simbologia característica da área de Química.
submicroscópico
macroscópico
simbólicoFigura 1.3: Níveis de representação em Química.
• Fenômeno: ocorrências do meio e que podem ser percebidos pelos sen-tidos. Por exemplo, ferrugem, chuva etc.
• Fato: recorte de um fenômeno tomado como objeto de estudo pelos cien-tistas, geralmente, é extraído na forma de um problema. Por exemplo, “em quais condições ocorre a ferrugem?”; “a chuva da Região Sudeste é ácida?”.
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Na Figura 1.4, à esquerda há uma representação de
um cilindro com gás oxigênio armazenado, o que é ob-
servado em nível macroscópico. No lado direito, as molé-
culas dessa substância estão representadas utilizando-se
bolinhas verdes. Podemos ainda representar a substância
em nível simbólico, pois, uma vez que consideramos que
é uma substância, significa que ela é constituída por um
único tipo de partícula, que, neste caso, são moléculas de
oxigênio e a fórmula atribuída à substância é O2.
Em outro exemplo, a Figura 1.5 representa a substância
água em nível macroscópico – copo com água à esquerda –
e em nível submicroscópico – representação de moléculas
à direita. Em nível simbólico, podemos atribuir a fórmula
H2O, pois a substância é constituída por um único tipo de
partícula – as moléculas de água.
Na Figura 1.6, a molécula de água está constituída
por uma bolinha vermelha, que representa o átomo de
oxigênio (O), e duas bolinhas brancas, que representam
os átomos de hidrogênio (H). É disso que é derivada a
fórmula H2O.
Vale a pena, assim, aprofundarmos um pouco mais na definição de modelo científico.
Figura 1.4: Representação macro e submicroscópica da substância oxigênio. / Fonte: modificado de Banco de Imagens LENAQ/UFSCar.
Figura 1.5: Representação macro e submicroscópica da substância água. / Fonte: modificado de Banco de Imagens LENAQ/UFSCar.
Índice “2” significa que há 2 átomos H na molécula
H2OSem índice significa que há um átomo O na molécula
Figura 1.6: Molécula de água.
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1.4 Modelo científico: idealização das teorias na Ciência
De acordo com Gilbert e Boulter (citado por Ferreira e Justi, 2008, p. 32),
um modelo pode ser definido como uma representação parcial de um objeto,
evento, processo ou ideia, que é produzida com propósitos específicos como, por
exemplo, facilitar a visualização; fundamentar elaboração e teste de novas ideias;
e possibilitar a elaboração de explicações e previsões sobre comportamentos e
propriedades do sistema modelado.
Assim, os entes átomos, íons, substâncias puras, equação química etc. têm existência no
campo ou no sistema conceitual que se chama Química. Eles não são objetos. São os “obje-
tos teóricos que permitem construir conhecimento intelectual sobre os objetos concretos”
(Maldaner, 2003, p. 105). Os modelos são, então, idealizações do real, aos quais os objetos
concretos são aproximados ao serem conhecidos.
Os modelos não são de uso exclusivo da ciência e são utilizados no dia a dia como, por
exemplo, o modelo de pai e mãe, o modelo de um prato saudável etc. No caso dos modelos
científicos, eles não são cópia nem explicação incontestável da realidade. Eles são representações
que explicam algo que não é visível a olho nu e que são aceitos pela comunidade científica
como satisfatórios e coerentes, satisfazendo uma necessidade. Os processos de pesquisa em
Química são dependentes dos modelos e, portanto, o “saber ciência” implica a compreensão
dessa questão do universo dos modelos.
Na maioria dos casos, ao se “fazer Química” dois processos são fundamentais: a teorização
e a experimentação. Mas como o conhecimento científico é construído? Existe um único
método que norteia o trabalho dos cientistas?
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Gil Pérez e colaboradores (2001) explicam que, se não é possível caracterizar de maneira unificada “o que é ciência”, existem algumas “visões deformadas” que não se associam de maneira adequada a esse tipo de atividade. Todavia, elas podem estar presentes no ensino e, se não forem consideradas, podem gerar concepções distorcidas sobre a natureza das ciências. Segundo eles, as “visões deformadas” so-bre a natureza das ciências são as seguintes:a. concepção empírico-indutivista e a teórica: compreensão na qual se con-
sidera que a experimentação tem um “papel neutro”; não se percebe que o ato experimental é precedido de hipóteses e conhecimentos teóricos que orientam as atividades. Essa visão está relacionada à ideia de uma descoberta inesperada bastante divulgada pela mídia, especialmente na literatura das histórias em quadrinhos;
b. concepção rígida: percepção do método científico como uma sequência de etapas definidas e exatas, descartando-se o papel da criatividade, das tentativas e da dúvida;
c. concepção aproblemática e a-histórica: visão adquirida com o tratamento dos conteúdos desvinculados dos problemas que os originaram e das dificuldades encontradas na construção do conhecimento;
d. concepção exclusivamente analítica: compreensão decorrente do tratamen-to excessivamente fragmentado do saber, considerando que áreas científicas específicas não dialogam entre si;
d. concepção exclusivamente analítica: compreensão decorrente do tratamen-to excessivamente fragmentado do saber, considerando que áreas científicas específicas não dialogam entre si;
e. concepção acumulativa de crescimento linear: visão de conhecimento cien-tífico como produto da acumulação linear de conhecimento sem, então, per-ceber que essa produção envolve controvérsias e confronto de teorias opostas;
f. concepção individualista e elitista: consideração de que a ciência é obra de gênios, os quais, isolados ou em uma única equipe, podem construir sozinhos toda uma teoria;
g. concepção socialmente neutra da ciência: visão que entende os cientistas como pessoas “acima do bem e do mal” (p. 133), que não se deixam influen-ciar pelas relações entre ciência, tecnologia e sociedade.
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1.5 O método Científico: As etapas fundamentais da construção de conhecimento na Ciência
Retomemos algumas informações contidas no vídeo BBC - História das Ciências , a que
assistimos a partir da sexta aula da disciplina “Evolução da Ciência I”.
I. O jornalista explica que o astrônomo Tycho Brahe, após a construção de um observatório,
observou o Céu por mais de vinte anos, buscando compreender o movimento dos planetas;
II. Johannes Kepler, para explicar o movimento de Marte, realizou cálculos matemáticos
por mais de cinco anos. Sua hipótese inicial era a de que a Terra e Marte viajavam em
órbitas circulares em torno do Sol. Dada a impossibilidade de explicar matematica-
mente essa hipótese, ele elaborou outra - a de que a órbita desses planetas era elíptica
e, partindo desse pressuposto, foi possível conciliar os cálculos matemáticos com as
observações de Tycho Brahe;
III. Isaac Newton, procurando explicar por que os objetos sempre caem para baixo, ela-
borou a hipótese da lei da gravidade e uma experiência – a da bola de canhão sobre a
Terra em diferentes velocidades – que expressava o seu raciocínio.
Esses exemplos podem ilustrar que não existe um método único ou uma sequência de etapas
rígidas, que os cientistas devem seguir, que culminam na construção de novos conhecimentos.
Enquanto as contribuições de Brahe ocorreram através de observações sistemáticas, Kepler
apoiou-se em cálculos matemáticos e Newton sugeriu uma experiência. Ao mesmo tempo, é
possível levantar alguns pontos comuns às ciências.
Um conhecimento científico surge de um problema, um questionamento sobre algo ob-
servável, sobre o qual os cientistas se debruçam à procura de uma explicação; por exemplo, “o
que é o Céu?”; “como é o movimento de Marte?” ou “por que os objetos sempre caem para
baixo?”. A partir desse problema, é necessário que se crie uma provável explicação – ou hipó-
tese – que explique, de maneira coerente, o problema inicial. Segue-se então para a elaboração
de estratégias, sejam cálculos matemáticos, experiências etc., que validem ou derrubem essa
explicação. Finalmente, outros cientistas e a sociedade precisam ser convencidos daquela ideia.
Podemos caracterizar o conhecimento científico, então, como um fruto de trabalho social,
no qual pensamentos divergentes são questionados, e da validação social de uma hipótese, o que
confere à teoria o status de ideias que encontraram consenso entre os pares. No caso específico
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da Química, denominada ciência empírica, Popper (1972) define a área como aquela em que
cientistas formulam hipóteses ou sistemas de teorias e as submetem a testes, nos quais elas são
confrontadas com observações e experimentos.
Podemos, então, sugerir que a prática científica se alicerça sobre três pilares: a criação, vali-
dação e incorporação de conhecimentos.
Com relação ao primeiro pilar, Praia e colaboradores (2002) explicam que, enquanto, na
perspectiva empirista, a hipótese é pouco valorizada, na concepção racionalista contemporânea
ela ocupa papel central. E apresenta a definição extraída de uma enciclopédia:
aquilo que hoje em dia, no discurso científico classificamos de hipótese, apenas
pode ser considerado como uma paragem provisória do pensamento, seja por
conjecturar um facto descrito de modo a ser suscetível de ser estabelecido ou
refutado no quadro dos termos que o definem, seja por propor um conceito que
justifique provisoriamente a sua coerência e eficácia no raciocínio explicativo dos
fenômenos observados ou provocados (Praia et al., 2002, p. 254).
Os autores acrescentam que o processo de elaboração de hipóteses é complexo e pode ter
origem em uma imaginação fértil ou em ideias especulativas, as quais se apoiam em um fundo
reflexivo. A hipótese articula teorias e norteia a pesquisa.
Não pretendendo defender uma abordagem de ciência, uma vez criadas, as ideias
precisam ser validadas. A experimentação é assim desenvolvida não para provar hipóteses, mas
para retificar erros nelas contidos. O pesquisador observa os resultados, questionando-os em
busca de respostas não definitivas. Nesse caso, razão e experiência encontram-se intrinsecamente
entrelaçadas, sendo a razão aquela que procura desaprender através de uma metodologia cons-
ciente e a experiência científica, aquela que busca desmentir as conclusões do senso comum. A
experiência científica é norteada pela teoria que, com seus olhos, dialoga com o fenômeno e o
questiona, buscando respostas que não são definitivas ou suas representações fiéis, mas projeções
de possíveis modelos interpretativos do mundo. Os autores chamam a atenção para o fato de a
experiência dificilmente provar as ideias, sendo muito mais fácil falseá-las. Nesse aspecto, uma
hipótese é corroborada enquanto resistir aos testes de validação, os quais devem ser severos para
que a teoria siga compatível com os enunciados sobre os quais ela foi elaborada.
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TÓPICO 1 Introdução aos Estudos de Química
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Segue-se, então, o terceiro pilar da prática científica, no qual as construções são refletidas
sistematicamente e as ideias produzidas são confrontadas entre os pares para, então, serem acei-
tas pela comunidade científica. Isso implica que a atividade científica, sendo essencialmente
humana, está permanentemente sujeita às interferências sociais, econômicas e políticas.
Aprender sobre uma ciência não implica somente adquirir os principais conceitos que cons-
tituem o conhecimento da área. Significa também ter consciência de como esse conhecimento
é construído e saber fazer uso dele.
Uma particularidade interessante é como os cientistas expressam suas teorias e argumentam
em ciências. Uma delas é a questão do sujeito. Machado e Mortimer (2007, p. 34) explicam que
enquanto no dia a dia expressamos um fato utilizando os sujeitos em primeira pessoa, na linguagem
científica, o sujeito é suprimido de modo a caracterizar uma lei ou uma teoria. Veja o exemplo:
Ao nos referirmos a como o aumento de temperatura afeta a dissolução de
açúcar em água no nosso cotidiano, normalmente falamos: quando colocamos
açúcar em água e aquecemos, conseguimos dissolver uma maior quanti-
dade do que em água fria. Na linguagem científica, expressaríamos esse mesmo
fato de uma forma diferente: o aumento de temperatura provoca um au-
mento da solubilidade do açúcar.
As três etapas fundamentais ao trabalho do cientista podem ser assim sintetizadas:a. elaboração de hipóteses: consideradas como ideias transitórias construídas
para a solução de um problema de maneira coerente e com suporte teórico;b. elaboração de estratégias para verificar a coerência das hipóteses: temos
o planejamento de experimentos para falsear ou provar a veracidade da ideia inicial, o que pode acabar suscitando novas hipóteses e novos experimentos;
c. discussão coletiva: as hipóteses elaboradas são apresentadas e difundidas para a comunidade, produzindo uma discussão que leve à aceitação ou à sua refutação.
Problemas de aprendizagem relacionados a conceitos fundamentais em Quími-ca como, por exemplo, elemento químico, substância e formas de representação, geram concepções alternativas e outras dificuldades tanto na aprendizagem de outros conceitos quanto no ensino de Ciências na Educação Básica.
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1.6 Psicologia CientíficaRetomando novamente o vídeo BBC - História das Ciências, onde foi visto o acaso, a intui-
ção e a busca por poder são fatores que podem ser encontrados na história da ciência.
A compreensão da subjetividade na ciência pode ser útil, não apenas como um alerta para o
seu potencial de interferência. Nouvel (2001) aposta que a unidade que não pode ser encon-
trada na caracterização de um método científico universal pode estar presente na psicologia
científica. A motivação que impele o pesquisador à profissão, a que o autor chama de ‘a arte
de amar a ciência’, traz revelações interessantes e que podem ser aproveitadas para o ensino de
Ciências, mesmo porque é sugestiva a defesa do autor de que a reverenciada racionalidade quase
desaparece por completo quando os cientistas são observados em sua individualidade.
Nouvel (2001) explica que o cientista se dedica à pesquisa porque ela é interessante, e não
por buscar a verdade. Ela é atraente porque é perpassada por uma sensação de aventura, mistério
e imprevistos – visto ser necessário elaborar hipóteses, debruçar-se sobre elas por um período
que talvez não resulte em sucesso – que a distanciam da rotina e abrem oportunidade para “uma
liberação da mentalidade artista do cientista (...) que quer produzir grandes pensamentos” (p. 95).
Além disso, outras características compõem a psicologia científica: a influência do sentimento,
a vontade de ter razão e o prazer que se sente ao presenciar o nascimento de um conceito.
O sentimento influencia intrinsecamente a atividade científica e conduz o pensamento para
uma direção em detrimento de outra, pois permite que o cientista seja tomado pelo problema
e nele fixe seu pensamento. Nessa imersão, o pesquisador pode sentir tudo o que irradia do
problema e dos fatos que o acompanham, seu pensamento é cativado por uma ideia que o leva a
ter a audácia de elaborar hipóteses que, aparentemente, não estão sob o olhar rígido da razão. A
maneira como o cientista se comporta diante de um problema é bem caracterizada na narrativa
de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA: “Mesmo durante os bons filmes
me era impossível esquecer as bases. É essa emoção que constitui a disposição psicológica
favorável à descoberta: uma vontade de ter razão toma conta de seu objeto, e dele se apropria
de maneira exclusiva, possessiva” (p. 91).
O cientista é uma pessoa que experimenta constantemente o gosto pelo sucesso, uma von-
tade de ter razão, que torna a espera por um resultado um processo afetivo, não teórico, e
transforma o exercício científico numa atividade competitiva. Se sua hipótese é derrubada, o
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pesquisador prova uma forte sensação de decepção. Se é aceita pela comunidade, “o moral
vai lá em cima. Um sentimento de ter razão brilha de repente” (Nouvel, 2001, p. 62),
alegria essa que é também fruto da percepção da infinitude do pensamento, cujo poder extra-
polou as limitações de raciocínios que se haviam tornado costumeiros:
Seu futuro depende das indicações que você é capaz de dar provando que você
pode fazer alguma coisa por você mesmo. É simples assim. A competição é de
longe o traço dominante. É a principal emoção própria deste domínio. A segunda
é que você tem que provar para você mesmo o que você é capaz de fazer – e na
realidade é a mesma coisa (WatsoN, citado por Nouvel, 2001, p. 52).
Finalmente, a arte de amar a ciência pode ser percebida quando da concepção de um novo
conceito do ponto de vista do sentimento. A emoção que embala o nascimento de uma nova
ideia cria uma sedutora ilusão de que a verdade pode ser encontrada, e
Que um sentimento de alegria surja quando do nascimento de um conceito no
pensamento, que nessa ocasião o pensamento se encontre como que alçado fora da
massa indiferenciada do sentimento, da emoção (que agia sem ver, sem se perceber
como agente), e então talvez encontraremos a ocasião de perceber alguma particu-
laridade relacionada ao nascimento do conceito. Alguma coisa que era conhecida
sem ser nomeada irá encontrar seu nome. Essa alegria é a alegria de um primeiro
encontro. O primeiro encontro da palavra com o que ela designa, o reconheci-
mento do que é designado pela palavra. Alegria de assistir ao desenvolvimento da
potência do conceito com essa maneira de ave de rapina que ele tem de capturar
no chão um animal quase impossível de distinguir da massa confusa do solo e de
elevá-lo nos ares, tornando-o bem visível, destacando-o do meio indistinto onde
sua existência não era nomeada (Nouvel, 2001, p. 183).
Após ler este texto e assistir à videoaula, interaja com seus colegas no Fórum de Discussão. Bom trabalho!
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Priberam. Disponível em: <http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=empirismo>. Acesso em 07/2012.
Caso haja dúvidas acessar: fórum de dúvidas.