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ANA BARBOSA* TURISMO ATIVO: UMA REALIDADE EM MUDANÇA Há uns anos atrás, quando se falava de Turismo Ativo, o entendimento comum sobre esta realidade cingia-se a um conjunto diversificado de atividades de ar livre como as caminhadas, os passeios em btt, a canoagem, o rafting ou o canyoning, entre tantas outras também denominadas atividades outdoor. Ana Barbosa texto TPNP fotografias Fotografia Rui Pires | FORMAÇÃO VS QUALIDADE DAS EAT’S 9

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ANA BARBOSA*TURISMO ATIVO:UMA REALIDADE EM MUDANÇA

Há uns anos atrás, quando se falava de Turismo

Ativo, o entendimento comum sobre esta

realidade cingia-se a um conjunto diversifi cado

de atividades de ar livre como as caminhadas,

os passeios em btt, a canoagem, o rafting

ou o canyoning, entre tantas outras também

denominadas atividades outdoor.

Ana Barbosa texto

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Se defi nirmos o Turismo Ativo como um conjunto

de atividades de descoberta que pressupõem a

participação do turista, no sentido em que, sem

a sua ação direta, as atividades pura e

simplesmente não existem porque o destinatário

não pode ser um mero recetor, temos que

reconhecer que as primeiras manifestações de

turismo ativo foram, de facto, estas atividades de

ar livre.

E nem todas. Lembro-me dos debates então

havidos entre alguns empresários do setor e de

termos concluído, com justeza creio eu, que um

passeio de jipe com condutor ou um passeio de

balão não podiam ser considerados nesta categoria

porque, na essência, eram como um passeio de

autocarro: as emoções podiam ser outras, tratava-

se de Turismo de Aventura com certeza, mas a

Os ingredientes de que precisamos para

construir os nossos produtos de turismo ativo

estão no estado de recurso disponível, em todo

o lado onde queiramos ir. Só temos que ter olhos

para ver, pernas para andar, imaginação para

conceber, profi ssionalismo para executar.

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verdade é que nestas atividades o turista era o

recetor de uma oferta que apenas exigia dele que

se apresentasse e tomasse o seu lugar.

À primeira vista parece heresia pôr as coisas

nestes termos, mas foram refl exões desta

natureza que nos levaram a compreender melhor

as características diversifi cadas da nossa oferta de

animação turística e, em consequência, a ser mais

rigorosos na apresentação das nossas atividades

aos nossos diferentes públicos-alvo.

É este rigor que nos leva a considerar hoje que, na

atual defi nição de animação turística, que inclui

quer as atividades de ar livre quer as atividades de

turismo cultural, o turismo ativo percorre toda a

oferta do setor. No fundo, habita todas as

atividades que nos convidam a “pôr a mão na

massa”, a experimentar. Está tanto na caminhada

por um trilho de montanha, na escalada de uma

falésia, na descida de um canyon, na luta com as

águas bravas do rafting, na exploração de uma

gruta ou num batismo de mergulho, como está na

experiência da vindima, do pisar da uva, da feitura

de um vinho, da apanha da azeitona, do pastoreio

de um rebanho, de um workshop de olaria ou de um

curso de cozinha tradicional.

É este o Turismo de Descoberta que motiva

milhões. É a ele que temos que nos referir, em toda

a sua diversidade, quando falamos de turismo

experiencial. É este Turismo, que tem como marca

diferenciadora produtos sustentáveis e genuínos,

ancorados em excelentes serviços de alojamento e

restauração, que temos que erigir em oferta de

primeira linha na promoção de Portugal no

mercado externo. É este o Turismo que melhor traduz a enorme potencialidade turística do Norte de Portugal, a riqueza patrimonial das suas cidades, os valores naturais das suas áreas protegidas, a sua gastronomia e os seus vinhos, a sua diversidade etnográfi ca, a fantástica paisagem do Douro, a tal paisagem única que, como disse Miguel Torga, “Deus não quis fazer sozinho”. Aqui, como em todo o país, os ingredientes de que

precisamos para construir os nossos produtos de

turismo ativo estão no estado de recurso

disponível, em todo o lado onde queiramos ir. Só

temos que ter olhos para ver, pernas para andar,

imaginação para conceber, profi ssionalismo para

executar.

Diferenciar, qualifi car, certifi car

Já são lugares comuns. No mundo global em que

vivemos e, sobretudo, num setor como o Turismo

em que a concorrência se faz à escala planetária e

os concorrentes são de peso, temos que apresentar

ao mundo produtos que nos diferenciem, qualifi car

a oferta e dizer ao mercado o que valemos pela via

da certifi cação.

Está tudo dito. Dizer é sempre muito fácil. E feito?

Já não temos o caminho todo para trilhar. Aliás, é

minha convicção que o problema da Animação

Turística não reside na criação do produto. Há

excelentes produtos de turismo ativo em Portugal,

efetivamente diferenciadores, concebidos com

equilíbrio e imaginação e que têm grande aceitação

no mercado externo.

O problema reside na escala e na promoção.

Precisamos que estes bons produtos que se

distinguem se desenvolvam, sejam melhor

conhecidos e possam constituir inspiração para

todos os que têm feito apostas menos bem-

sucedidas ou que estão agora a começar. Para

consolidarmos esta oferta, precisamos, pois, de dar

ao mercado os sinais de que ele necessita para

poder fazer as suas escolhas.

E é aqui que entram as certifi cações de qualidade.

Hoje, um processo de certifi cação já não tem que

ser para os empresários de animação turística o

bicho-de-sete-cabeças que era há uns anos atrás.

Podem não estar interessados em enveredar por

processos do tipo ISO 9001, mas encontrarão

seguramente motivos mais do que sufi cientes para

se candidatarem ao Selo de Qualidade criado pela

APECATE, auditado pela empresa de certifi cação

“Precisamos de dar

ao mercado os sinais

de que ele necessita

para poder fazer

as suas escolhas.”

Afi rma Ana Barbosa

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SGS e cujos requisitos de qualidade para as

empresas de Animação Turística foram totalmente

adaptados à realidade do setor. As candidaturas já

estão abertas e a documentação pode ser

consultada no website da Associação. A mera

leitura e análise dos requisitos constituem um

excelente incentivo à refl exão sobre o que

realmente é importante e distingue uma boa

empresa no que respeita aos deveres de

informação ao Cliente, ao desempenho ambiental,

à segurança, ao perfi l de competências dos seus

quadros e colaboradores e à sua capacidade de se

auto-avaliar, corrigir erros e progredir.

Trata-se da primeira certifi cação promovida por

uma associação setorial neste ramo de atividade e

está aberta a todas as empresas do setor, sejam ou

não associadas.

O seu grande objectivo não é apenas promover a

qualifi cação das empresas: é, também,

sensibilizar o Cliente para a importância da

qualidade. No que toca à animação turística, temos

consciência de que ainda é imenso o trabalho a

fazer. Grande parte das pessoas que nos contratam

continuam sem saber que as empresas registadas

no RNAAT são as únicas autorizadas a operar e que

os projetos profi ssionais nesta área, em que tudo é

ainda tão difícil em Portugal, são à partida projetos

exigentes, que levam a sério a formação dos seus

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técnicos, as normas de segurança a cumprir no

exercício das suas atividades, os princípios do

Turismo Sustentável.

É para estas empresas que existe o nosso Selo de

Qualidade. A nossa grande aposta é que ele

funcione, para quem tiver direito à sua utilização,

como uma marca distintiva perante o cliente, uma

vantagem justa, conquistada, merecida.

No entanto – e a compreensão disto é essencial –

para que o Turismo Ativo se desenvolva, não chega

nem o produto nem a qualifi cação/certifi cação das

empresas: um outro problema dos produtos de

animação turística reside na sua transversalidade e

na dependência das múltiplas entidades que gerem

os territórios onde eles se desenvolvem. Apesar do

tão falado Simplex, o excesso burocrático continua

a pesar na relação com as autoridades e nem todas

as entidades envolvidas compreenderam

devidamente a importância de apoiarem os

empresários em vez de lhes difi cultarem a vida. É,

ainda, o caso, por exemplo, de algumas Áreas

Protegidas, que continuam a ter uma política muito

restritiva e pouco efi caz; e de algumas autarquias,

que rivalizam com as empresas de animação

turística em vez de potenciarem os seus negócios.

Estamos no bom caminho mas ainda temos muitos

escolhos a vencer.

Promover produtos de nicho

Finalmente, uma palavra sobre as evidências da

importância da promoção. Nada do esforço dos

empresários terá sucesso se não houver um grande

investimento partilhado na promoção de Portugal,

das regiões e dos seus produtos e serviços. De

acordo com o modelo em vigor, todos somos

chamados a participar: privados e públicos. E

devemos fazê-lo, acompanhando o trabalho das

entidades regionais de turismo e das agências

regionais de promoção turística, colaborando na

defi nição dos seus Planos de Atividades, propondo

viagens educacionais que sejam do nosso interesse,

acompanhando feiras e roadshows, etc.

O setor da Animação Turística tem um papel de

charneira. É a interface que liga produtos e

serviços e, pela sua própria natureza, ativa efeitos

multiplicadores que nunca foram devidamente

contabilizados. Deve ser levado em consideração

por todas as entidades ligadas ao Turismo e ao

Desenvolvimento Regional, apoiado, acarinhado.

Mas há uma parte do trabalho que cada empresa

tem que fazer por si e para si: o porta-a-porta junto

dos operadores que trabalham produtos de nicho

como são os nossos. Graças às novas tecnologias,

não teremos que o fazer fi sicamente; mas ainda

estamos, todos, muito aquém de tudo o que as

ferramentas digitais têm para nos oferecer.

É um desafi o. E, em particular para os empresários

de animação turística que, graças à diminuição de

custos, já se registaram no RNAAT e são hoje

operadores de turismo ativo, é um desafi o que pode

trazer negócio rapidamente: só têm que fazer

cuidadosamente os seus pacotes, defi nir os seus

mercados prioritários e encontrar os parceiros

certos que andam pelo mundo à procura de

produtos como os seus e ainda não conseguiram

descobri-los.

* Presidente da Direcção da APECATE

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