Amor Invertido por Maximiliano Souza
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Maximiliano Souza
Maximiliano Souza
Maximiliano Souza
Copyright ©, 2012 de Maximiliano Souza Título: Amor Invertido Linha literária: Ficção Capa: Gislene Vieira de Lima Fotografia: Fabiana Mendonça Revisão e texto de capa: Glória Lopes Diagramação: Gislene Vieira de Lima 1ª edição em 2012
Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Aparecido Toledo Melchiades – CRB1-2353
Souza, Maximiliano.
S729a Amor Invertido / Maximiliano Souza ─ Campo Grande, MS: Modo Editora, 2012.
196p.; iI. ISBN – 978-85-6558-821-8
1. Literatura brasileira 2. Ficção 3. Contos brasileiros I. Título
CDD 869.4.
Amor Invertido
1
O porteiro conferiu o RG, procurou por meu nome em
uma lista e estendeu a chave. Agradeci e puxei a minha mala até
o hall de entrada. O elevador se abriu e uma senhora desceu
com um garotinho gordo me jogando um cumprimento polido.
Entrei e apertei o décimo andar.
Já no corredor de piso branco girei a chave e invadi o
apartamento. Deixei a mala no meio da sala de estar e peguei o
bilhete que tinha sobre a mesinha:
“Desculpa Didi, acabaram me escalando. Pode ir se alojando
que eu devo voltar na segunda. Beijos.”
Ainda me lembrava da ligação que havia recebido de
Juliete. Não deu pra entender muito mais do que: “a chave vai
ficar com o porteiro”; pois a ligação estava péssima. Desabei
cansado no sofá estirando as pernas sobre o encosto. Tirei os
tênis com os pés.
O apartamento era confortável, porém com um ar meio
abandonado. Imagino que uma vez que Juliete era uma
aeromoça não devia ficar muito tempo entre aquelas paredes e
talvez, por isso, elas ainda não tivessem adquirido muito da
personalidade da dona.
Um miado baixo chamou minha atenção. Uma gata
cinza de pelo curto se aproximou de minha mão que estava
caída ao lado do sofá. Fiz-lhe um afago na cabeça.
Amor Invertido
─ Como vai Tia? Cheguei. Veio dar as boas vindas?
Ela deu um miado baixo, mas logo se desinteressou e se
afastou. Sentindo sede me levantei e fui até a cozinha. Abri a
geladeira e constatei meio decepcionado que tirando um pacote
de molho de tomate, uma caixa de leite e uma bebida láctea, ela
estava completamente vazia.
Não era algo muito espantoso de fato. Juliete sempre
fora uma péssima cozinheira. Olhei desconfiado para a data de
validade do leite. Pelo menos estava no prazo. Mexi na
embalagem e percebi que não tinha muito. Bebi direto da caixa.
Meu primeiro dia em meu novo lar. O que deveria
fazer? Pensava que a dona do apartamento iria estar ali me
esperando então não planejei nada. Talvez eu devesse tomar um
banho e depois dar uma volta pelas imediações. Quem sabe ir a
algum supermercado. A idéia me pareceu boa.
Fui até o fim do corredor e encontrei o banheiro. Tinha
toalha e sabonete lá dentro. Tirei as roupas e entrei no chuveiro
deixando a água quente espantar o cansaço. Era estranho poder
ficar à vontade em um lugar. De onde eu vinha sempre tinha
alguém chegando ou alguém saindo. Os momentos de solidão
eram raros. Era uma mudança boa para variar.
Lembrei-me que minhas roupas ainda estavam na mala
abandonada na sala. Sai do chuveiro enxugando a cabeça,
pensando em abri-la e separar uma muda de roupa quando, ao
chegar à sala de estar, me deparei com um homem
desconhecido.
Paramos os dois surpreendidos. Eu, por estar nu em
pêlo com a toalha na cabeça devo ter levado um pouco mais de
tempo para perceber a sua presença do que ele à minha. Quando
o vi ele já me observava com um ar sério e, em ato reflexo, tirei
a toalha da cabeça e a meti entre as pernas sentindo as orelhas
ficarem vermelhas.
Logo me repreendi por esta reação tão embaraçada.
Éramos homens afinal. Não cheguei a pensar que ele ofereceria
algum tipo de ameaça. Além de estar muito bem vestido ainda
carregava a gata que apenas ronronava calmamente. Imagem
muito diferente da que eu tinha de um assaltante ou assassino.
Maximiliano Souza
Era alto. Talvez 1,85. Endireitei os ombros tentando parecer
maior do que meus míseros 1,69 permitiam.
Ele continuava me observando. Senti-me nervoso já que
estava totalmente exposto. Por fim ele tomou o caminho da
cozinha dizendo com calma:
─ Vim apenas dar a comida da gata.
Aproveitei aquela ausência para envolver devidamente
a cintura com a toalha. Depois, agarrei minha mala pela alça e
corri até o banheiro para me trocar. Quando finalmente me meti
num jeans amassado e numa camiseta, retornei para a sala e ele
havia desaparecido sem deixar vestígios.
Apenas tive a certeza de não ter sido uma ilusão por
encontrar a gata na cozinha comendo o resto da ração que lhe
fora posta. A porta da entrada estava novamente trancada, no
que deduzi que ele tinha uma cópia da chave.
Quem seria? Talvez um namorado de Juliete? Não era
um pensamento tão louco assim. Explicava muita coisa. Tal
pensamento não chegou a me agradar muito. Minha irmã mais
velha deveria ter ao menos se dado ao trabalho de me por a par
de tais assuntos.
Amor Invertido
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