Amor Inesperado SRP

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31 Amor inesperado- SRP Autora - SRP Revisora - Valéria Avelar O livro conta a história de Fernando Salvatore, um advogado brilhante, que dirigi uma advocacia com mãos de ferro. Ele guarda um segredo: Ele é alcoólatra. Ele contrata Stella. Ela será sua secretária pessoal. Com a convivência, percebem a atração que sentem um pelo outro, mas ambos resistem a essa atração. Fernando tem um processo difícil em suas mãos, o mais difícil que pegou em sua

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Amor inesperado- SRP

Autora - SRPRevisora - Valéria Avelar

O livro conta a história de Fernando Salvatore, um advogado brilhante, que dirigi uma advocacia com mãos de ferro. Ele guarda um segredo: Ele é alcoólatra.

Ele contrata Stella. Ela será sua secretária pessoal.

Com a convivência, percebem a atração que sentem um pelo outro, mas ambos resistem a essa atração.

Fernando tem um processo difícil em suas mãos, o mais difícil que pegou em sua carreira.

Uma viagem de negócios aproximará Stella e Fernando, e o que era uma simples atração se transformará em amor, mas uma descoberta, o tornará impossível.

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Dedico esse livro a minha amiga, Valéria Avelar

Obrigada Valéria pelo seu incentivo, que gerou em mim a

vontade de escrever novamente.

CAPÍTULO I

Espanha, Cádiz 1990

Stella saiu do carro naquela tarde ensolarada, e estudou a casa de tijolos vermelhos. O exterior era composto por uma grande diversidade de azaleias com cores vivas e grama recém cortada. Tudo muito bem cuidado.

O barulho das gaivotas e do mar eram o único som em Cádiz. Assim que ela se lembrava: um lugar maravilhoso e tranquilo.

Stella Allan suspirou alto, estava em frente à casa de seu pai depois de seis anos sem estar com ele. A não ser em eventuais encontros.

Stella vivia com sua mãe e seu padrasto em um apartamento espaçoso e bem decorado em Sevilha.

Quando seus pais se separaram Stella tinha apenas dez anos de idade, as brigas deles eram constantes, mas mesmo assim fora difícil para ela lidar com a separação. Seu pai desde então sempre a pegava nos finais de semanas. Embora fizessem vários programas juntos: como ir ao cinema, zoológico, restaurantes e teatro, isso não preenchia a ausência de seu pai, pois eles sempre tiveram uma ligação muito forte. Ele a entendia como ninguém, muito diferente de sua mãe, que era muito distraída, e mesmo morando juntas, era

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muito ausente.Jason Allan depois de dois anos separado de sua

mãe casou-se novamente, e acabou se mudando para outra cidade, e suas visitas ficaram menos frequentes.

Stella, muito apegada ao pai, sentiu na alma esse afastamento, isso lhe doeu muito no coração. Por muito tempo chorou, pois foi difícil criar um conformismo com a situação.

Nos finais de semanas quando ele não aparecia, sentia a falta dele, das conversas, do carinho...

Stella, na época, conhecera a nova família de seu pai, pois em eventuais encontros, ele a levara em restaurantes com Eleonora e Raquel, que era fruto de outro casamento de Eleonora.

Quando a mãe de Stella se casou novamente, Stella estava com dezenove anos, e para dar tranquilidade aos recém-casados, Stella fora morar um tempo com seu pai.

Em duas semanas, Stella experimentara uma alegria sem igual.

Foram dias maravilhosos: as gaivotas sobrevoando o mar, as chuvas quentes que costumavam cair no verão no final da tarde, a areia fina que lhe envolvia os pés nus, dando uma sensação de aconchego, a alegria de acordar todos os dias e poder nadar e aproveitar a tranquilidade do lugar. O silêncio era tamanho que podia ouvir o ocasional zunido de algum inseto.

Stella também usufrui da companhia de seu pai. Ele se mostrou muito satisfeito e feliz por sua estadia lá. Ela também, logo se identificou com Rachel, pois tinham a mesma idade e gostos parecidos, como música, filmes, e além de muitas outras coisas em comum.

Passou a conhecer Eleonora e amá-la, pois ela lhe acolhera como uma filha. E isso se comprovou, no

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terrível episódio que se seguiu. Semanas depois de sua estadia foi um tormento para Stella.

Aquele pensamento lhe trouxera de volta a lembrança da primeira vez em que vira Raul.

Stella ficou tensa, recordando-se da época em que começara a nutrir uma ingênua paixão por Raul. Aos doze anos, havia sido uma garota tímida, que se sentira pouco à vontade na companhia dos meninos de sua idade.

Stella estava com dezenove anos, e Raul, dez anos mais velho, parecera para ela à personificação da masculinidade a seus olhos inexperientes.

Olhou instintivamente para a rua, e avistou ao longe a casa abandonada de Raul. Um momento de amor, perdido num tempo distante, tomavam forma novamente.

Errara sim, mas não podia negar o fato de tê-lo amado. Carregara Raul por muito tempo em seu coração.

Então o peso da realidade que Raul estava morto, foi maior que as recordações e lágrimas rolaram por seu rosto. Tristemente suspirou. Jamais passaria por sua cabeça, que Raul morreria tão prematuramente.

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CAPÍTULO II

Seis anos atrás...

Raquel era retraída por ser gordinha na infância, sofrera muito na escola, isso fez de Raquel uma mulher insegura e com baixa autoestima.

Raquel era uma mulher bonita, mas infelizmente não se via assim, pois ela entendia que o padrão de beleza era ser muito magra, e não adiantava falar que ela era linda com suas formas mais cheinhas.

A amizade das duas fora muito benéfica para Raquel, que ficara mais solta, mais feliz. Na mesma época Raquel namorava Raul, um rapaz 10 anos mais velho que ela.

Raul havia herdado de seu falecido pai uma imobiliária. Raquel explicou que seus negócios se expandiam por toda Espanha, e com isso, ele viajava constantemente. Stella, então, não chegara a conhecê-lo de imediato.

Raquel estava entusiasmada com Raul, pois falara muito dele. Eles namoravam há seis meses exatos.

Raquel estava apaixonada.Stella nunca havia sentido tal sentimento, e

escutava Raquel com curiosidade, em ver a vivacidade da amiga quando falava de Raul.

Raquel contou-lhe de sua competência em administrar os negócios, passando uma imagem de Raul de um homem perspicaz.

Formando em administração, pois desde muito jovem já visara assumir os negócios da família, era um verdadeiro gênio da comunicação, entendia de público, programação e vendas como ninguém, comandava tudo com maestria.

Raquel falara tanto dele, que Stella sentira como

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se já o conhecesse bem. Sábado à tarde, Stella e seu pai estavam sentados

frente a frente, compartilhando uma jarra de suco gelado, pois estava muito quente, nessa hora Stella pode ouvir Raquel do lado de fora falando com alguém, foi então que a porta da sala se abriu, entrando a figura de Raquel radiante de braços dado a um homem. Stella logo compreendeu que pelo sorriso de Raquel de orelha a orelha, que o homem à sua frente se tratava Raul.

Stella voltou sua atenção para o visitante, e analisou a figura máscula diante de si. Raul com seus 31 anos aparentava bem mais idade do que realmente tinha. Seus cabelos eram espessos e negros como o carvão, o rosto de traços retos e atraentes. Os olhos eram negros e observadores. A testa era larga e a boca grande e bem talhada.

Raquel ao lado dele parecia uma criança feliz, e imatura. A imagem era muito reveladora: Raquel e Raul destoavam. Não combinavam.

Stella também não se sentira suficientemente madura para namorar um homem como Raul. Perto dele, ela parecia uma criança boba e desengonçada.

Impressionada, Stella continuou a observá-lo. Sem dúvida, Raul era extremamente atraente, além de passar uma imagem de firmeza e segurança.

Logo lhe viera à mente:Mulheres jovens como elas, só se envolviam com

esse tipo de homem uma vez na vida. A não ser que gostassem de sofrer.

Raquel entusiasmada então apresentou Raul a Stella, que se aproximou para cumprimentá-lo com um sorriso.

— Prazer em conhecê-lo.Raul fez um gesto cortês com a cabeça, porém

não sorriu. Apertou-lhe a mão com firmeza, soltando-a em seguida.

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O que se viu em seguida fora seu pai e Raul conversando descontraidamente na sala, enquanto Stella e Raquel, bebericando um café fresquinho que Eleonora havia passado.

Stella, curiosa, os ouvia atentamente e observando as respostas breves e inteligentes que Raul dava ao seu pai, percebeu que, longe de soar pedante, sua maneira de ser, realçava ainda mais a aura de autoridade e mistério que dele emanava.

Ela reparou nas sobrancelhas levemente levantadas, no queixo firme e nos lábios sensuais, que provavelmente não sabiam o que era um sorriso há muitos dias. Sentiu dificuldade em tirar os olhos dele, e nisso descobriu que não era imune àquela magia; suas reações eram tão intensas e embaraçosas que precisava lembrar-se a toda hora que Raul era namorado de Raquel, e que ela devia manter seus sentimentos neutros, e indiferentes a figura de Raul.

Raul passara então a frequentar a casa, ele sempre chegava a noitinha, depois do trabalho. Estar na presença dele todos os dias tornara sua vida um tormento. Na época por ser imatura não conseguira entender a intensidade com que ele a perturbara. Hoje ela entendia o porquê do fascínio que ele exercera sobre ela.

Ela podia explicar aquela fascinação que ele transmitia com uma única palavra: carisma. A magia, a capacidade inata que certas pessoas têm para serem líderes. Coisa que, além da beleza e do charme, Raul sem dúvida possuía!

Quantas noites, Stella demorara dormir, acordando sempre de madrugada e não conseguindo mais conciliar o sono. A presença de Raul na casa todos os dias a incomodara muito.

Por quê? Perguntara-se tantas vezes. Por que não conseguira resistir ao charme de Raul?

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Por que quando ele a beijou, ela não reagiu, passando uma imagem que estava aprovando tal ato?

Como a explosão de uma bomba distante, a antiga culpa dominou-a. Não com a dolorosa intensidade que a atingira no início, mas era inevitável que viesse à tona. Sua culpa era uma carga que ele levaria por toda a vida. A culpa era sua punição. Mesmo após vários anos, ainda se recordava como se fora ontem.

Tudo acontecera, quando ela se dirigia para casa, na luz do crepúsculo, andando ao longo da calçada larga, calmamente, mas com uma leveza nos passos que não ecoava em nada a leveza de seus pensamentos, pois justamente fizera a caminhada para se acalmar mediante os sentimentos que a confundiam e imperavam em seu coração.

Quando já estava em frente à casa, resolvera não entrar logo, se demorara justamente para dar o tempo de Raul ter deixado a casa. Raul morava a algumas quadras dali. Isso já se tornara rotina, pois em uma semana, desde que Raul passara a frequentar a casa, Stella saía antes de ele chegar e só voltava quando ele já tinha ido embora.

Apenas uma vez, ela conversara com ele e mesmo assim na presença de Raquel. Raul havia lhe contado um pouco de seus negócios e a morte prematura de seus pais. A conversa inteira levara poucos momentos, mas na época, ela se repetira dentro de sua cabeça, como em câmera lenta. Stella de costas para casa estivera tão absorta em seus pensamentos, que olhava a paisagem com olhos vidrados, mas sem ver.

Nesse dia, a sua rotina fora quebrada, e nessa quebra, fora o suficiente para mudar a trajetória de toda uma vida. Stella, que pretendia morar definitivamente, com o pai, tivera que ir embora,

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carregando essa culpa, que não a deixara desde então.

Sozinha na varanda da casa, e distraída ela não estava preparada para o que estava por vir...

— Apreciando à vista? — A voz máscula e neutra soou em suas costas. — Fazendo com que Stella se assustasse.

Virou parcialmente e viu Raul, sua expressão revelava tão pouco, pois ele estava semi-ocultado pelas sombras. Seus traços, delineados pela luz do luar, revelavam a sua natureza arrogante, parecia um selvagem. Os contornos do rosto, a linha firme do queixo, a pele morena, o nariz aquilino e orgulhoso. Uma onda de pânico invadiu-a. Havia algo na voz dele que Stella não conseguiu decifrar, mas uma coisa ela sabia, precisava sair de lá rápido. Ele não parecia estar lá para falar do tempo ou coisa parecida.

Stella se viu forçada, em um ato de defesa, a desviar a vista para livrar-se daquele desumano olhar que a enfeitiçava com uma fascinação proibida. Teve que limpar a garganta antes de poder falar.

— Já vou entrar.Stella quis se distanciar, esconder-se. Não pôde

evitar recuar um passo, quando seus pés se deram no final do degrau.

— Cuidado!

Raul Torres se moveu tão rápido que ela congelou. Dedos longos e morenos se fecharam em seu pulso quando ele a puxou para frente, e um hálito quente soprou seu rosto.

Foi impossível para Stella se mover. Impossível falar ou mesmo pensar. Tudo o que pôde fazer foi sofrer com a torrente de emoções que irrompeu dentro dela, as quais se derramaram por cada nervo que possuía.

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Aquilo era uma tortura.Um arrepio a percorreu. Sentindo-se subjugada

com a presença dele, só ficou a observá-lo sem nada dizer e sentindo desprezo por ela mesma.

Uma sensação estranha apossou-se de Stella, pois sentiu como se tudo que estivesse acontecendo fosse irreal.

Saiu então como se estivesse em um transe e num tom ríspido conseguiu falar, sem conseguir disfarçar o quanto sentia raiva por ele perturbá-la tanto.

— Obrigada. Agora me solte.Raul percebeu e sorriu. Stella Sentiu o coração bater mais pesado.

Recuou um pouco, de modo que ele não lesse sua expressão.

Ele é o namorado de Raquel. Ele é namorado de Raquel!

As palavras martelavam em sua cabeça. Ela não se perdoaria se fraquejasse.

Raul se moveu inquieto. Porque ele não parava de olhá-la daquele jeito?Os longos cílios de Stella baixaram, fugindo de

seu olhar. Ela tentou esquivar-se. E antes que ela tivesse ideia do que ele ia fazer, sentiu sua mão ser tomada e levantada.

— Eu a quero demais! — confessou ele com voz rouca.

Um tremor a sacudiu. Não estivera preparada para aquilo.

Stella perplexa jogou a cabeça para trás e encarou-o com os olhos arregalados e os lábios entreabertos. A respiração que estivera suspensa por um instante tornou-se terrivelmente audível. Raul moveu o corpo para junto dela, para ler sua expressão, seus quadris tocaram as coxas musculosas dele. Ela perdeu o fôlego ao sentir a

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rigidez do membro másculo a queimar lhe a pele sob o tecido fino do vestido.

Lutou por compostura. Isso não deveria acontecer! Ele é namorado de

Raquel! Ele é um estranho! Eu não o conheço!Mas conhecia o suficiente para saber que desde

que Raul passou a frequentar a casa, ele a encarava abertamente, seu olhar parecia sempre desnudá-la e mesmo abraçado a Raquel ele não parecia disposto a disfarçar.

Muitas vezes Stella se perguntava: Como Raquel não percebia?

— Eu a quero tanto... Você não é a mais bela mulher que já conheci, mas há algo em você que me abalou desde o primeiro instante em que a vi. — Disse Raul num tom firme e afirmativo, e muito sério observava-lhe a reação.

Então ele a beijou... Stella fez menção de se afastar, contudo Raul não

permitiu que ela fizesse isso, os braços envolvendo-a com carinho e cuidado. Ele não a aprisionava, daria para Stella sair daqueles braços, mas Stella não o fez, e se perdeu em seu beijo. Muito mais difícil do que ela imaginava, sentiu na pele o poder da atração entre eles, e cada vez sua entrega fora maior. Naquele momento só importava estar no calor dos braços de Raul e todo o seu corpo correspondeu aquele beijo...

Quando se afastaram, ele continuou a olhá-la, a expressão inescrutável.

Viu então lentamente a mão dele estendendo-se, sentiu dedos quentes roçarem seu rosto, um toque incrivelmente leve. Aquilo durou apenas um momento, mas fez sua pele esquentar, e, mesmo depois que ele baixou a mão, era como se continuasse tocando-a. Ele deu um sorriso divertido, ainda prendendo seu olhar. Stella então

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ficou presa naquele sorriso, era a primeira vez que o vira sorrir.

Nessa hora Stella quase deu aquele meio passo fatal em direção a ele novamente, sabia que Raul a envolveria nos braços e tomaria sua boca...

Quase...Mas não fez isso. Reunindo forças, ao contrário

recuou.— Isso não deveria ter acontecido... — Exclamou

como um desabafo. E sem saber o que dizer, pois ela poderia ter dado um tapa merecido em seu rosto, ou sei lá, ter feito algo para impedi-lo, ao contrário, correspondeu seu beijo.

— Boa noite. — A voz de Stella soou determinada. Como um ponto final naquele, que para ela, era um desastroso episódio.

— Boa noite. — O brilho desaparecera dos olhos de Raul. A voz era fria e educada. Então, gesticulando brevemente com a cabeça, ele se foi.

Stella entrava em casa, quando viu Eleonora que se aproximou dela pensativa, então seus olhos adquiriram uma estranha intensidade. E tudo indicava que ela havia presenciado tudo pela janela da sala. Stella abriu a boca e fechou. Não sabia o que dizer, que argumento ela daria a mãe de Raquel?

— Stella, Stella, Stella... — Eleonora meneava a cabeça enquanto falava. — O que foi aquilo? — E se calou por um momento.

Stella baixou a cabeça, não conseguia olhar para Eleonora. Estava pronta para receber um insulto, um sermão ou coisa parecida. Mas o que se vira depois a surpreendeu...

— Te conheço o suficiente para saber que você não é falsa, e gosta da minha filha. E você é muito jovem também...

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Ainda ao seu lado soltou um suspiro de impaciência.

— Raul é um homem experiente, e diante de tudo que vi, sei que ele a envolveu, e atribuo a ele a culpa de tudo que eu presenciei agora.

Fez então uma breve pausa e continuou:— Vou conversar com ele. Ele não serve para

minha filha! Mas você entende, que mesmo que, Raul e Raquel se afastem você não deverá ter qualquer envolvimento com ele, não seria justo para com Raquel.

E com firmeza acrescentou:— Ele não serve para você Stella, pois da mesma

forma que amo Raquel, eu aprendi a amar você também. Quero seu bem...

Stella nessa hora ergueu os olhos surpresa e envergonhada correu para os braços de Eleonora e chorou, uma mistura de sentimento de perda, tristeza, culpa...

Eleonora então a afastou e disse-lhe muito séria.— Ele não teve a dignidade de terminar com

minha filha. Ele é maduro o suficiente para saber que por respeito à Raquel, ele não deveria ter se envolvido dessa forma com você.

Eleonora viu o aspecto cansado e triste de Stella e deu o assunto por encerrado. Mas para Stella o que acontecera, ficara martelando em sua cabeça, acusando-a.

Naquela noite, em seu quarto, passara a noite em claro em frente à janela, ora andando de um lado para outro, infeliz, muito infeliz. Não dormira a noite inteira, tensa demais para relaxar, após aquela cena atormentada com Raul, só quando amanhecia Stella conseguira dormir, olhos inchados, exausta.

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CAPÍTULO III

No dia seguinte, Raul terminara com Raquel, antes mesmo que Eleonora falasse com ele. Raquel abalada se trancou no quarto. Eleonora em particular o chamou, e expusera sua aversão em relação à atitude dele e ordenou que ele se afastasse de todos daquela casa.

Stella levantara tarde naquele dia, tinha ainda os olhos inchados, fruto de uma noite mal dormida, e de tanto chorar. Eleonora logo a inteirara do que estava acontecendo e contara-lhe também de sua conversa com Raul.

Seu pai não parecera surpreso com o término do namoro de Raquel e Raul.

Eleonora não quis omitir de seu pai o que havia acontecido na noite anterior. E reuniu Stella e seu pai na biblioteca e de portas trancadas, contou para seu pai todo o ocorrido. Sem acusação, apenas expusera os fatos, e ao contar, colocou toda a culpa em Raul, expondo a seu pai a imaturidade de Stella, e a sagacidade de Raul em envolvê-la. Stella ouvia calada, mas por dentro se culpava.

Seu pai nessa hora a abraçou, e da mesma forma que Eleonora, não lhe imputara culpa alguma, deixando claro que sua ótica em relação a tudo que ocorrera, era a mesma que de Eleonora.

Mas mesmo com toda compreensão que recebera dos dois, Stella se sentira muito mal desde então.

Ela não se perdoaria nunca!O cenário que se viu em seguida foi difícil para

Stella assistir: Raquel caiu em depressão.Stella tentou animá-la, mas parecia tudo em vão.

Stella se fazia de forte, mesmo com seu coração em frangalhos.

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Tentara inutilmente passar força para Raquel, mas ela mesma sofria as penas do inferno e chorava toda noite, culpada.

Raul por hora, tinha se afastado, mas a abrupta decisão de Eleonora afastá-lo o pusera em seu encalço. Estava envergonhada por ter-lhe permitido o beijo, sabia que, por parte dele, só existia desejo.

Depois de três dias do episódio do beijo, Stella estava sozinha na praia quando Raul a procurou. Ela estava sentada nas pedras contemplativa. A preguiça havia tomado conta dela, pois não dormia bem desde então. Deitou-se. Acomodou-se sobre a grande pedra que estava sentada, cobrindo sua cabeça com um chapéu fechou os olhos e pegou no sono; Não sabia quanto tempo dormira, quando uma voz familiar lhe despertou:

— Precisamos conversar.Stella abriu os olhos, quando viu Raul. Ele estava

vestido com um short branco, camiseta branca e descalço. Começou a escalar as pedras, e com uma rapidez de um felino. Logo se colocou de pé ao seu lado.

Nessa hora Stella gelou internamente, mesmo estando no sol, sentindo a pele quente. Sentou-se rápido, um misto de frustração e ódio a invadiu, sobrepujando a precaução e seu instinto de autodefesa.

— Posso me sentar?Sua raiva a exortou a se defender, a fazer com

que ele soubesse exatamente que tudo aquilo fora um erro, que só lhe trouxera prejuízo. Levantou-se então rapidamente:

— Não!Olhos escuros, com cílios incrivelmente longos,

fixaram-se nela, a expressão séria denotando o formidável ar de comando que o envolvia. Stella o observou.

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Ele é do tipo que dá ordens... E é obedecido.Raul quando a viu arisca, lhe disse com firmeza.— Eleonora conversou comigo, me proibiu de

frequentar a casa, disse que nos viu. Enquanto ela falava, só pensava em você... Pude sentir no beijo que trocamos, que você naquela hora era minha. Senti sua entrega, e sei que nós nos atraímos muito. Não quero me afastar de você, de maneira nenhuma. E vim lhe fazer uma proposta.

Ela respirou fundo: Precisava disso para lembrar que Não era

imune a Raul, ao seu charme, mesmo que ainda um completo estranho, pois o que ela conhecia dele? E por mais impacto que lhe causasse, estava ali em frente a ela e em seus olhos demonstrava que gostava do que via.

Seu cérebro pareceu se partir em dois. Uma metade vibrava com a percepção. A outra gritava em aviso. Hora de prestar atenção no aviso.

Stella balançou a cabeça.— Obrigada, mas não. — Sua voz soou firme. —

Não quero nem ouvir o que tem a me dizer. Raul permaneceu parado por um momento. E

então se mexeu impaciente. — Você está sendo covarde. O que sentimos pode

acontecer só uma vez na vida. E eu não estou disposto a deixar passar esse momento.

Por um instante, uma imagem vívida preencheu sua cabeça. Lembrou-se do beijo, do seu toque gentil, do quanto seria maravilhoso conhecê-lo, estar com ele...

Meu Deus! Não podia!!!— Raul, eu errei, você errou... Que proposta

diante de tudo isso você tem para me dizer? O que apaga o fato de eu ser responsável por ver Raquel num estado de depressão que me faz mal?

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— Raquel é mimada. Ela precisa amadurecer. Entender os “nãos” da vida.

Stella sorriu com amargor.— Isso serve para você!Raul se aproximou dela, de forma rápida e

perigosa...— Vejo sim em seus olhos.A voz profunda causou-lhe o mesmo friozinho na

barriga. Assim como a figura alta e os olhos escuros que olhavam dedutivamente...

Stella engoliu em seco. Sabia exatamente o que deveria fazer. Deveria

virar as costas e sair dali. Isso era o que deveria fazer. Qualquer outra coisa era loucura. Era pedir por complicações.

O que ele tinha ainda a lhe dizer? Que proposta era essa? O que um homem como Raul, com seus 31 anos, teria para dizer para uma jovem mulher como ela? Pois assim como Raquel, ela era muito jovem, não sabia nada da vida.

E essa situação? O que apagaria o fato de Raquel estar em depressão por sua causa?

Um calafrio a percorreu. Enquanto entretinha a possibilidade de ouvi-lo,

sabia que era muito improvável que ele tivesse uma boa proposta.

Ele lera a inquietação nos seus olhos?Será que ele Interpretara sua hesitação

momentânea em querer ouvi-lo? Achava que ela o aprovava mesmo sendo o namorado de Raquel e a ter beijado?

Provavelmente, porque, antes que ela pudesse responder, ele falou novamente:

— Stella, eu quero lhe comprar um apartamento, em qualquer lugar a sua escolha. Investiria em seus estudos, com a condição de que você seja minha. Só minha... Estarei com você sempre que puder. Eu

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tirarei férias no final do mês. Seria ótimo para procurarmos um apartamento a sua escolha, os móveis...

Stella ficou imóvel, o coração violentamente disparado, pensamentos girando na cabeça. Ela nem mais ouvia o que ele dizia, o que ele lhe dissera era o suficiente.

Ele quer que eu seja sua amante? O convite não deixa dúvidas quanto a isso! Nenhuma ambiguidade, apenas um convite direto...

A decepção fora tão grande que ela sentiu um alívio... Seu coração, sua mente se libertara do homem à sua frente.

Esse era o Raul que ela não conhecia...Stella então sorriu, e então gargalhou. Raul ficou sem reação por um breve momento, e

depois logo ele adquiriu um semblante fechado. Stella viu ira em seus olhos. Sabia que ele não esperava tal reação dela.

Stella contendo-se fechou o semblante e disse com a firmeza de uma mulher madura, parecia que tinha ganhado dez anos a mais de vida.

— A resposta é não, e mais... Fico feliz de ser a causadora do término do seu namoro com Raquel, foi um livramento para ela... Agora vejo! E mais... Nunca seria sua amante! Tenho sonhos. Sonhos de me casar, ter filhos. Ter uma família.

Então uma lógica passou em sua cabeça, e isso a fez perguntar-lhe:

— Até quando Raul, eu viveria nessa condição? Tenho certeza que não muito, pois logo seria descartada por você como um sapato velho. Quero um homem que me ame. Quero que ele me veja envelhecer, que não esteja comigo em encontros eventuais... Encontros furtivos, não sou seu objeto...

Dito isso desceu escalando as pedras, com uma agilidade enorme, que adquiriu naquela hora, por

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causa da adrenalina que sentia correr nas veias. Caminhou para casa, deixando Raul lá parado vendo a figura de Stella se afastando, correndo...

Ele não podia ver, mas suas lágrimas desciam como cascata enquanto corria o mais rápido que pode. Nunca mais o vira, isso lhe deu a certeza que ela estava certa quanto sua proposta, pois ele não a procurou mais, nem se defendeu.

Uma semana depois, o dia de sua partida se aproximou. Eleonora então, convidara Stella para morar permanentemente com eles. Stella ponderou suas opções e concluiu que seria mais sensato ir embora, e arranjou várias desculpas.

Stella agora reconhecia a falta de caráter de Raul, mas mesmo mediante ao reconhecimento que fora melhor o término do namoro de Raquel com ele, não se conformava em ver sua amiga naquele abatimento.

Stella gostaria que fosse de qualquer outra forma que o namoro dos dois terminasse, que de alguma forma Raquel enxergasse que Raul não a merecia, mas ser a causadora de tudo isso fazia com que ela se sentisse igual a ele: Sentia-se suja, duas caras, uma traíra.

Eleonora e seu pai sabiam do sofrimento de Stella. As olheiras e seu abatimento eram evidentes. Somente Raquel estava alheia à aparência da amiga, pois ela estava envolta em sua própria dor.

Stella voltara então para casa de sua mãe. Mas sua mente se ocupara constantemente com a imagem de Raul. Nunca o esquecera. Saiu da conversa naquele dia da praia, vitoriosa. Conseguira desvencilhar da sua proposta com um não. Mas por dentro não se sentia vitoriosa, e isso fez com que Stella entendesse que havia se

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apaixonado por ele, mesmo constatando a sua falta de caráter.

Dois anos depois ficara sabendo da morte prematura de Raul. Ele sofrera um acidente terrível de carro, pois estava alcoolizado. Stella quando soube, teve um misto de sentimentos, a princípio a incredulidade, depois o mal-estar, e pôr fim a sensação de perda.

Ferida Stella passou então a dedicar-se cada vez mais aos estudos. Queria fechar aquele círculo em que por muito tempo ficou. Era tempo de começar vida nova!

No primeiro ano de faculdade, os professores já haviam percebido que ela possuía um talento nato para a Administração. Era boa ouvinte, com enorme capacidade de absorção e tinha um ótimo senso prático.

Seis anos se passaram e Stella estava ali agora formada em administração de empresas, mais segura de si, mais madura. Poderia agora enfrentar os fantasmas do passado.

Olhou ansiosa para a porta...

Lembrou-se de sua mãe, o quanto ela relutara o fato de Stella morar com seu pai. Stella quase acabara cedendo, mas tinha um agravante, no qual a ajudou a tomar essa decisão: Ela não gostava de seu padrasto.

Ele era um homem muito severo, fechado e mal-humorado, tinha mania de limpeza e era totalmente contrária a vontade de Stella trazer alguém para a sua casa.

Stella acabou não cultivando amizades e com o tempo ela passou a se sentir muito sozinha.

Na faculdade chegou a namorar Henrique, um rapaz de sua idade, gentil e muito bem-humorado,

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mas acabou não dando certo, pois Stella percebera que estava com ele mais por carência afetiva, do que por amá-lo de verdade.

Hoje Stella estava com vinte e quatro anos. Alta e magra, os cabelos, ondulados e de um castanho escuro que caíam levemente sobre os ombros, contornando o rosto de traços perfeitos.

Vestia jeans de brim preto e uma jaqueta de couro preta. O zíper, aberto até a altura do busto, deixava ver a blusa branca. As botas pretas de saltos altos completavam o traje ao mesmo tempo esportivo e sofisticado.

Fechando os dedos trementes em torno da alça da bolsa, armou-se de coragem e se aproximou da pesada porta. Pensou em como era formosa a paisagem marinha seguindo a rua da casa, quantas vezes ia para a praia, embora, muitas vezes sozinha, pois Raquel se recusava por se achar gordinha.

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CAPÍTULO IV

Enxugou as lágrimas de dolorosas lembranças e afastando o cabelo do rosto, Stella voltou a tocar a campainha.

— Já vou — anunciou uma voz masculina. Papai! Tinha passado muito tempo, e Stella desde que

voltara novamente a morar com sua mãe depois das férias, nunca mais tinha visto seu pai.

Sentiu no estômago uma dor, quando ouviu o ruído de passos aproximando-se da porta.

Então a porta se abriu.— Meu Deus, filha! — Jason Allan abriu os braços

e Stella se aninhou neles. — Papai, que saudades. — Stella chorou em seu

peito.—Pensei que você viesse só à tarde. — Seu pai

disse emocionado.Stella o afastou, notando os cabelos grisalhos,

mas que não revelavam seus cinquenta e oito anos, e as rugas no canto dos olhos verdes iguais os dela. Ele era bem conservado.

— Eu sei. Mas a ansiedade era tanta por chegar que vim mais cedo. Fiz mal?

Jason Allan se afastou sorrindo, com os olhos cheios de lágrimas.

— Claro que não. Deixe-me olhar para você. Você está muito diferente daquela jovenzinha magrela que saiu daqui.

Stella enxugou as lágrimas e lhe deu mais um abraço.

— Senti tanto sua falta papai.Jason a afastou e a observou com ternura.— Eu também, muita mesmo. — Jason, então

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afastando as lágrimas que começavam a cair, falou desconcertado. — Mas entre, Raquel, não vê a hora de te ver. Dê-me as chaves do seu carro, que eu pego as malas. Você ficará no quarto do final do corredor. — Ele então sorrindo acrescentou. — Aquele sempre será seu quarto.

Stella sorriu e deu-lhe as chaves do carro e entrou na sala.

Os minutos seguintes foram passados numa confusão de risos e abraços. Raquel e Eleonora a receberam muito bem. Todos queriam falar ao mesmo tempo e ninguém entendia o que o outro estava dizendo.

Seu pai entrou então com as malas.

— Eleonora, olha como essa menina está diferente. Uma bela mulher.

Raquel sorrindo disse para Stella.— Você está maravilhosa.Stella observou o cabelo ruivo da amiga e os olhos

verdes. O corpo exibia formas bem definidas, cheinho, mas bem feito.

— Você também Raquel, ficou ainda mais bonita.Raquel lhe lançou um sorriso triste.— Eu?Eleonora a repreendeu.— Pare já com isso Raquel, não há nada de errado

com seu corpo. Você é linda. — Eleonora comentou com Stella. — Não sei por que ela se acha gorda? E se fosse? Tem muitos homens que gostam.

Stella fitou-a séria.— É verdade Raquel. Eleonora está certa e você

está linda. — Então Stella gracejou. — Talvez você fale isso, só para receber elogios.

Raquel sorriu e deu de ombros.— Fiquei muito feliz com sua decisão de morar

conosco. — E sorrindo completou — Depois quero

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conversar com calma com você. Quero que você venha até meu quarto. Tenho novidades... — Disse Raquel bem próxima a Stella.

Stella assentiu. Seu pai a pegou pela mão nessa hora.

— Vem, filha, você deve estar com fome. — Não papai. Não estou. Mamãe me fez tomar um

café reforçado antes de sair. E falando nisso preciso ligar para ela. Ela pediu que eu ligasse quando chegasse.

— Claro, do jeito que conheço sua mãe, ela deve estar ansiosa pelo seu telefonema.

— Com certeza, por isso vou ligar agora para ela.Stella se afastou e entrou na biblioteca, conhecia

a casa como a palma de sua mão. A casa não havia mudado nada.

A casa era ampla, com quatro quartos todos com suíte. Um lavabo, uma sala de estar, uma de jantar, uma cozinha espaçosa, biblioteca, piscina e uma grande área de descanso que ficava na parte externa da casa, toda gramada.

Mais tarde enquanto almoçavam, conversavam todos alegremente. Stella lembrou-se da casa de sua mãe, lá comiam em silêncio absolutos, pois o padrasto não gostava de conversas na mesa.

O amor deve nos cegar. Pensou consigo. Pois sua mãe fazia tudo para deixá-lo feliz. E sei

que provei disso! Fui cega por um tempo.Stella se concentrou no que seu pai lhe dizia.— Filha come mais, você comeu tão pouco.— Estou sem fome. — Stella, então se lembrou do

cargo de secretária que seu pai tinha mencionado. — Papai, o senhor me falou que eu teria a oportunidade de um emprego aqui em Cádiz.

— Filha, você acabou de chegar, e já está pensando em trabalhar.

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— Papai, o senhor me conhece. Eu até agora estudei, fiz apenas um estágio de seis meses. Mamãe fez questão que eu só estudasse. Não vejo à hora de ter minha independência.

Raquel meneou a cabeça.— Credo. Levantar cedo todos os dias, não é

comigo.— Raquel querida, você tem um dom maravilhoso

com suas telas, que segundo papai está vendendo muito bem. Eu não. Sou apenas uma simples mortal, que tem que ralar para conseguir o pão de cada dia.

Jason se serviu mais de vinho e sorriu para Raquel.

— Raquel, realmente tem se saído muito bem. — E voltando a atenção para Stella, disse. — Se você quiser, eu marco amanhã para você a entrevista.

— Que bom papai... — Então Stella o fitou insegura. — Papai. E essa vaga? Seu amigo não está fazendo isso só para me ajudar, está?

— Não filha, essa vaga está disponível, eles têm se virado só com uma secretária. Parece que ela se aposentará. Mas pedi à Alejandro um tempo para você, na verdade uma semana, para você gozar um pouco suas férias.

— E ele aceitou? — Stella olhou desconfiada para o seu pai.

— Aceitou sim. Alejandro é uma ótima pessoa, ele entendeu meu pedido.

— Papai, eu detestaria aceitar um emprego por que eu sou a filha do amigo do dono da empresa.

Jason ergueu as sobrancelhas.— Stella, na entrevista você passará pelos seus

próprios méritos.Eleonora então se manifestou, percebendo a

impaciência do marido. — Stella, minha querida. Confie em seu pai, eu o

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não conheço pessoalmente, mas seu pai sempre me falou muito bem dele. Fiquei tranquila. Seu pai não está forçando uma situação. — E sorrindo mudou de assunto. — Fiz uma sobremesa maravilhosa. Tenho certeza que você gostará.

Stella percebeu a virada de assunto de Eleonora e sorriu, aceitando a sobremesa que ela lhe estendia: um manjar branco com calda de ameixas.

Stella enquanto comia pensava sobre o assunto.Detestaria entrar num lugar de favor, mas

iria à entrevista. Caso conseguisse a vaga, se esforçaria ao máximo para aprender, daria seu melhor.

Seu pai no jantar todo ria e contava suas estripulias na infância, nos tempos que ele era casado ainda com sua mãe. Relembrar a infância lhe trouxe paz, e a preocupação quanto ao emprego passou por um momento.

Depois do jantar animado, a pedido de Raquel, Stella foi ao quarto da amiga. Ele era todo em tons rosa claro e branco.

Raquel quando a viu entrar em seu quarto lhe sorriu.

— Vem. Eu quero te contar as novidades.Stella a acompanhou até a varanda, onde tinha

duas espreguiçadeiras, com vista para o jardim. Ele estava apenas iluminado pela luz prateada do luar. Ao longe se avistava a piscina que era iluminada com luzes internas. A vista era linda...

Mas a curiosidade era tanta, que Stella passou rápido os olhos na paisagem e logo lhe perguntou:

— Raquel, que novidades são essas? Conta logo. Eu estou curiosa.

— Stella, eu conheci um homem muito interessante.

Stella exclamou sorrindo.

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— Que bom! Fico muito feliz por você. Você está namorando? De onde ele é?

Stella estava feliz pela amiga, e seus olhos brilharam de felicidade. Raquel hoje mais madura, não lembrava a velha Raquel, tão insegura e tímida. Observou à amiga, Raquel não tinha ideia como era linda.

Stella suspirou feliz pela amiga.— Eu estava expondo meus quadros em uma

galeria aqui perto, ele veio até mim, e elogiou muito minha arte. Começamos a conversar e ele encomendou um quadro comigo, ficou de me levar até um lago que ele gostava muito de nadar com o irmão dele que faleceu. E pediu para eu pintá-lo. Ele foi muito gentil e prestativo comigo.

— Ele disse o nome dele? O ele que faz? Onde mora?

— Não, bem na hora que nós íamos começar a falar de modo mais pessoal um com o outro, fomos interrompidos. Mas ele era muito sério, fino, gentil e ficou de me ligar.

— Fico feliz por você. E quando ele te ligará?— Isso ele não disse, mas estou muito ansiosa.

Tão ansiosa que já provei um monte de roupas.— Vai com calma Raquel, não gere muitas

expectativas. Espere ele ligar, seja profissional, e com o passar do tempo vocês vão se conhecendo.

— Eu gostei muito dele, Stella. Muito mesmo.Stella riu feliz e abraçou a amiga.— Torço por você. Você sabe que eu gosto muito

de você Raquel, e quero a sua felicidade. Mas vai com calma.

Então uma sombra de pensamento passou nos pensamentos de Stella, e Raul veio a sua mente.

Reviveu os dias que Raquel falava-lhe de Raul, e talvez por isso tivesse se envolvido tanto com ele. Isso a fez se levantar e dizer a amiga:

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— Bom, eu vou me deitar agora. Amanhã vou levantar cedo, vou à entrevista.

Raquel transparecendo decepção, por ela cortar a conversa disse suspirando.

— Boa noite então. Torça por mim.Stella sorriu.— Claro! Sempre torcerei por você.Stella saiu do quarto de Raquel e se dirigiu ao seu

quarto. Acendeu a luz e ao fechar a porta encostou-se nela feliz. Os olhos de Raquel brilhavam ao lhe contar do rapaz. Sabia como era bom se apaixonar, amar alguém e ser amada, mas isso se configurava a um amor possível, e não a um amor proibido.

Depois de Raul, Stella não tinha chegado nem perto disso. Nunca mais seu coração batera forte por homem algum.

Se um dia se casasse queria um casamento duradouro, não queria que seus filhos passassem pelo que ela passou com seus pais, quando se separaram.

No dia seguinte Stella levantou-se cedo, segundo seu pai, o senhor Alejandro Salvatore a aguardava para a entrevista, ás nove horas. Por fim tinha chegado a hora da verdade. Desceu e as escadas e encontrou seu pai lendo o jornal no sofá da sala, ele ergueu olhos do jornal e a fitou com aprovação nos olhos.

Stella vestia um terninho cinza e uma camisa branca por baixo, seus cabelos estavam presos a um coque e alguns fios estavam soltos nas laterais de seu rosto.

— Filha, você está linda. Vamos tomar café?— Papai, eu não costumo comer nada de manhã,

só tomarei um copo de iogurte.Minutos depois, Stella saiu da cozinha e

encontrou Raquel. Eleonora e seu pai a mesa, tomando o café.

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— Tchau, me desejem sorte.— Boa sorte. — Disseram em coro. Stella sorriu,

pegou a bolsa e pasta, que havia colocado no sofá da sala e saiu.

Reprimindo sua ansiedade, Stella entrou em um alto edifício de escritórios situado na parte mais prestigiosa do centro de Cádiz. Era um edifício novo de dez andares com a fachada de tijolos à vista vermelhos. Segundo seu pai, Advocacia Salvatore era uma das mais reconhecidas e conceituadas da Região.

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CAPÍTULO V

Os saltos da Stella ressoavam no mármore da recepção. Embora já houvesse saído com seu pai nessa zona da cidade em outras ocasiões, aquela era a primeira vez que entrava naquele impressionante edifício.

Estava nervosa, e tinha motivos para isso. Não tinha experiência nenhuma, apenas um pequeno estágio em escritório pequeno de uma construtora.

Voltando-se ao passado, compreendia que tinha sido uma tola em não ter insistido com sua mãe para trabalhar, agora com vinte cinco anos, se sentia uma dondoca indo ao primeiro emprego.

Mas seu pai lhe dissera que quando Alejandro se inteirou de que ela acabava de obter um graduado na escola de Administração de Empresas e contava com um certificado que lhe permitia trabalhar como secretária executiva, logo lhe propôs essa vaga.

A princípio Stella se tinha mostrado resistente, mas eram poucas as oportunidades de encontrar trabalho naquela região, por ser um local de turismo. Resolveu então engolir seu orgulho e enfrentar a entrevista.

A recepcionista a recebeu muito amavelmente, com um enorme sorriso que Stella lhe devolveu esperando parecer uma mulher confiante.

— Tenho uma entrevista com Alejandro Salvatore — Disse-lhe.

A mulher, que devia estar pelos trinta e poucos anos, era muito bonita, tinha uns enormes olhos verdes e uma pele perfeita, olhou sua agenda.

— É você a senhorita Allan?— Exato.— Por favor. Sente-se e lhe direi ao senhor

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Salvatore que já está aqui.— Obrigado.Stella se sentou em uma das cadeiras estofadas

da recepção e pegou uma revista. Stella nem sequer teve tempo de folhear a revista

quando apareceu um senhor grisalho muito bonito. Ele deveria ter a idade de seu pai uns cinquenta e oito anos. Segundo seu pai, Salvatore era um homem agressivo, trabalhador e ambicioso era especializado em Direito Empresarial.

— Olá, Stella, me alegro de conhecer a filha de Jason Allan — Disse Salvatore, dando um passo adiante.

— Eu também — Levantou-se e lhe estendeu a mão.

Salvatore apanhou sua mão entre as suas. Não era um homem especialmente alto e ela, com seu mais de metro setenta, tampouco era pequena, mas sua mão parecia minúscula entre as do senhor Salvatore, umas mãos sólidas e fortes.

— Vim para falar sobre a possibilidade de trabalhar como secretária executiva em seu escritório — Disse.

Tinha a sensação de que, tratando-se do amigo de seu pai, o melhor era abordar as coisas diretamente.

— Ótimo, vamos a meu escritório?Uma vez em seu escritório, Salvatore lhe fez um

gesto para que se sentasse, rodeou o a mesa de carvalho e se reclinou contra o assento de couro negro de sua cadeira.

— Obrigado por me atender. — Disse Stella, cruzando as pernas.

— É um prazer — A fitou pensativamente. — Você recentemente se formou em Administração?

Stella assentiu.— Sim, licenciei-me em Administração de

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empresas, estagiei um ano em uma construtora como secretária, onde digitava, cuidava do arquivo, e atendia os clientes.

Salvatore a fitou seriamente.— Você estará substituindo a secretária de meu

filho que se aposentará. — Não sabia disso, pensei que fosse trabalhar

para o senhor.Salvatore meneou a cabeça.— Não. — Então ele ficou sério. — Muito bem!

Você pode começar hoje?Stella respondeu de pronto.— Claro.O Senhor Salvatore levantou-se então a chamou. — Vem. Acompanhe-me.Stella o seguiu até um corredor e entrou em uma

grande sala, onde havia uma senhora de cabelos brancos, olhos azuis e rosto bondoso.

— Lúcia. Essa é Stella Allan. Ela que ocupará o seu lugar.

— Muito prazer. Salvatore então lhe sorriu e lhe deu a mão. Stella

o cumprimentou.— Seja bem-vinda.Stella sorriu-lhe.— Obrigada. — Meu filho, Fernando, chegou hoje de viagem, e

só virá segunda-feira para o escritório.Então a estudando com atenção perguntou.— Está segura de que quer trabalhar aqui? —

Stella assentiu— Sim, sem dúvida nenhuma. Alejandro sorriu.— Que bom. Fico feliz. Eu e seu pai nos

encontramos por acaso, e ele me falou de você. Há muito tempo não nos falávamos. Seu pai era um ótimo jornalista, pena que ele se aposentou.

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Adorava ler os artigos dele no: Notícias. — Era muita correria para ele. Agora ele está

mais sossegado.— É eu entendo. Eu já penso em me aposentar,

ainda bem que meu filho, tem dado conta do recado, pois irei me aposentar mais tranquilo. — Em sorrindo disse-lhe. — Bom trabalho. —Partiu fechando a porta.

Ao final do primeiro dia, Stella já se sentia como se tivesse estado trabalhando durante toda uma semana.

Deram-lhe um pequeno escritório situado ao lado do escritório de Fernando Salvatore. O escritório se Alejandro Salvatore era no mesmo andar, mas no final do corredor.

Lúcia lhe passou uma multidão de tarefas, entre as que incluía digitar os processos, tomar nota dos recados e organizar os arquivos.

Na hora do almoço saíram juntas e foram em um pequeno restaurante ao lado.

Depois de haverem feito o pedido, Lúcia sorriu para Stella.

— Você irá gostar de trabalhar para Fernando. Ele é um rapaz de ouro, mas muito exigente também.

Stella sorriu.— O senhor Salvatore me falou que o senhor

Fernando está viajando.— Sim, ele precisou ir a Madri, pessoalmente,

colher algumas informações para um caso que pegamos. — Então Lúcia exclamou. — Puxa. Ainda bem que hoje é sexta-feira.

Stella sorriu e deu uma olhadinha para a janela, onde o sol irradiava lá fora a todo vapor.

— É amanhã pelo visto fará sol. Vou aproveitar a praia.

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Lúcia sorriu de volta.— Eu gosto muito do mar e de observar a

natureza.Stella sorrindo disse.— Eu também gosto. Amo a paz, e a tranquilidade

da paisagem.

No final do expediente Stella foi até seu carro. Acomodando-se atrás do volante, ela observou um grupo de crianças gargalhando na calçada enquanto passavam uniformizadas, deveriam ser de alguma escola ali perto. Sorriu e ao longe avistou as palmeiras, ao fundo o mar de um azul turquesa, feliz dirigiu até em casa.

Quando entrou na sala a primeira pessoa que viu foi Raquel, que estava radiante. Usava um vestido verde que combinava muito bem com seus cabelos ruivos.

— E então, conseguiu o emprego? — Consegui.— Que bom, estou muito feliz por você. E

advinha?Stella observou a felicidade estampada no rosto

de Raquel.— Lembra do rapaz que eu te falei? Stella sorriu para amiga.— Amanhã ele vem me pegar e vamos ao lago da

Candelária.— Que ótimo. Eu amanhã vou acordar cedo e vou

à praia.Nessa hora Jason entrou na sala.— Filha, e então? Pelo visto você começou hoje.

Gostou?Stella foi até seu pai e lhe abraçou e sorrindo lhe

deu um beijo no rosto.— Amei. Tenho certeza que vou gostar muito de

trabalhar lá. E Eleonora?

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— Ela está com dor de cabeça e foi deitar cedo. Vamos jantar?

Stella sorriu.— Papai, eu estou louca por um banho e estou

sem fome. Jason falou desapontado.— Pelo visto só comerei eu e Raquel.— Nada disso, eu estou de regime. Resolvi perder

alguns quilos...Stella ergueu as sobrancelhas perfeitas e sorriu,

entendendo a preocupação da amiga de ficar mais atraente por causa do rapaz que ela havia conhecido, mas mesmo assim ela meneou a cabeça:

A atitude de Raquel era preocupante, pois tinha medo que a amiga se tornasse uma anorexia. Mas não tinha jeito. Não importava o que dissessem, ela se sentia gorda.

Uma hora depois, quando estava se preparando para meter-se na cama, Stella suspirou feliz. Meteu-se debaixo dos lençóis e pensou consigo, de como estava dando tudo certo com ela. Tinha se formado com notas boas, agora o emprego, só faltava agora conhecer alguém interessante, e amar. Queria tanto que sua vida sentimental engrenasse. Tinha tanta curiosidade de descobrir o que era amar e ser amada, sem culpa, somente entrega.

Idealizava um homem bom, carinhoso, prestativo, boa índole. Queria tanto estar assim empolgada como Raquel... Então um arrepio lhe percorreu na espinha...

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CAPÍTULO VI

No dia seguinte Stella espreguiçou-se na cama e constatou que havia dormido muito, o relógio digital do criado mudo marcava nove horas.

Stella vestiu rápido seu biquíni, um modelo preto e branco e colocou uma saída de banho. Desceu as escadas e avistou Eleonora.

Ela lhe sorriu.— Bom dia. Já vi que vai aproveitar o sol. — Perdi a hora. Queria tanto chegar cedo à praia.

Só vou tomar um copo de iogurte e ir. Senão ficará muito tarde. — E olhando ao redor perguntou com estranheza. — E papai? Raquel?

— Seu pai foi fazer umas compras que eu pedi e Raquel saiu com o rapaz, foi ver a área que ela irá pintar para ele.

— Raquel está bastante empolgada com ele.Eleonora a pegou pela mão e a fez sentar no sofá.

E sentando-se em seguida comentou.— Depois de Raul, nunca vi Raquel tão empolgada

com uma pessoa. — Eleonora fitou-a pensativa por um momento. O som do nome de Raul foi suficiente para fazer o coração de Stella disparar, mesmo depois de tantos anos. Mas se controlou para não demonstrar. Nada mais importava agora, ele estava morto.

Eleonora continuou.— Raquel infelizmente é muito frágil, me

preocupo com ela. E esse interesse dela por esse rapaz. Espero que faça bem, essa paixão toda, a minha filha. Ela demorou muito para se reerguer. Seu pai na época sugeriu a ela que fizesse uma terapia. Ela se recusou. Mas depois de tanta insistência conseguimos fazer com que ela fizesse.

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E graças a Deus ajudou muito.Stella a fitou surpresa;— Eu não sabia... Vocês me passaram que ela logo

ficara bem, que tinha se conformado...— Não queríamos te preocupar, pois sabíamos o

quanto você estava sofrendo com tudo o que aconteceu.

— Como ela lidou com a morte de Raul?Eleonora riu.— Por incrível que pareça, ela lidou muito bem.Stella a fitou surpresa.— Pelo jeito ela superou mesmo... — Stella

lembrou-se de quantas noites chorou pela morte dele. Precisava ter feito uma terapia também.

Ficou imóvel quando se lembrou do que Raul lhe disse.

“Raquel é mimada”. Seria possível que Raquel sofresse somente pela

rejeição do que pelo amor perdido? Ou a terapia a tinha ajudado mesmo?

Stella confusa se levantou.— Bem, eu vou indo. Quero aproveitar o sol. — E

completou sorrindo. — Lembre-se que acabou a moleza, estou trabalhando agora!

— Claro, tome seu iogurte e vai logo, senão o sol fica muito forte.

O momento de tensão se esvanecera, porém, Stella ficara pensativa pelo fato de Raquel ter superado tão bem.

Talvez Raquel fosse mais forte do que todos imaginassem.

No entanto, tais pensamentos foram logo esquecidos. Depois de cinco minutos de caminhada da casa até a praia, ela já se sentia feliz. Adorava o cheiro do mar, o som das gaivotas, a paz então reinou em seu coração. Tudo agora era passado. Nada mais importava...

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Stella, então resolveu caminhar contornando o mar até um ponto em que ela se transformava muna estreita faixa de areia, coberta de rochas e algas marinhas secas.

Stela ficou um tempo sentada nas rochas, observando o mar que batia nelas com força, o ir e vir das gaivotas que rondava o céu procurando peixes, onde algumas mergulhavam e saiam com eles no bico.

O sol das onze horas estava forte e ela não teve alternativa senão retornar. Uma vista maravilhosa era o sol batendo nas águas, um pequeno mundo encantado.

Quando chegou a casa subiu a escada e se dirigiu ao quarto no seu banheiro anexo ao quarto tomou uma ducha. Colocou um vestido branco e sandálias brancas e se dirigiu à sala.

Seu pai preparava uma bebida. E transparecendo bom humor cumprimentou seu pai.

— Bom dia papai. — Bom dia, você está mais corada. — E

observando os cabelos de Stella molhados pelo banho indagou. — Você foi até a praia?

— Fui. Estava um dia maravilhoso. Muito bom mesmo.

— Faz tempo que eu não caminho na praia. — O senhor deveria. Ia lhe fazer muito bem!Eleonora apareceu na porta da cozinha.— Stella, me ajuda a servir o almoço...Stella sorriu.— Claro.— Hoje dei folga a Ruth, a cozinha hoje é por

nossa conta. Ainda bem que ela deixou uma lasanha pronta e foi só esquentar.

— Eu adoro lasanha. — Disse Stella se dirigindo à cozinha.

Ela então percebeu que Eleonora colocou um

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lugar a menos na mesa.— E Raquel?Eleonora sorriu.— Creio que almoçará com o rapaz, pois até agora

não voltou.— Você o conheceu?— Não. Nessa hora eu estava com seu pai no

quarto e só a ouvi dizer um já vou. Era cedo, umas oito horas. E Raquel detesta levantar cedo. Para você ver como ela deve estar empolgada com o rapaz.

Stella fitou Eleonora admirada também, era bom para Raquel viver esse momento. Tristemente pensou em Raul. Ficava feliz que ela agora estava dando um novo rumo a sua vida.

O dia passou tranquilo, a casa estava silenciosa, seu pai e a madrasta foram ao cinema, Stella então aproveitou para fazer as unhas, e ler algumas revistas.

Às quatro horas da tarde, Stella ouviu um carro estacionar em frente à casa, ela colocou a revista que estava lendo de lado e deu uma olhada pela janela, então viu Raquel se inclinar e o rapaz beijar-lhe o rosto. Stella forçou-se a enxergá-los, mas não conseguiu vê-los direito, pois ambos estavam em meio às sombras no carro. Stella se afastou da janela e sentou-se no sofá.

Raquel entrou suspirando, Stella a avaliou. Ela estava linda, com uma saia preta, sapato preto de saltos alto e camisa branca entreaberta, onde se via o vão dos seios.

Quando Raquel viu Stella sorriu e se sentou ao lado dela no sofá.

— Stella. Estou apaixonada. — Como foi? — Perguntou Stella ansiosa.— Saímos cedo, fomos conversando até o lago, no

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percurso inteiro. Lá ele me mostrou o lago, e o ângulo que ele queria que eu pintasse. Nossa. O lago era muito bonito mesmo. Ele me contou do irmão que morreu. Disse-me que ele morreu cedo, de Leucemia e de como eles desfrutavam o lago quando jovens, ele me pediu para eu pintar o quadro, ele quer dar de presente para o pai, que fará aniversário.

— E ele é jovem? Quantos anos tem?— Ele deve ter uns trinta e seis anos. Nessa hora a porta se abriu e Eleonora e seu pai

entraram.— Filha e aí? — Eleonora perguntou para Raquel

animada.Stella se levantou e deixou-os conversando... No jantar Raquel não comeu novamente e deitou-

se cedo. Stella também se despediu e foi para o quarto, mas antes de sair, viu a felicidade da madrasta contando para o seu pai do rapaz, sorrindo subiu as escadas. A felicidade de Raquel pelo visto já contagiava todos.

Stella acordou cedo, não eram nem sete horas da manhã e se dirigiu a cozinha, e espantada encontrou Eleonora.

— Meu Deus que cedo! Eu vou à praia, mas e você? Por que levantou tão cedo?

— Seu pai não te falou?— Falou o quê? — Todo domingo nós vamos ao clube aqui perto.

Não quer ir conosco?— Não. Fiquei tanto tempo longe da natureza que

vou andar na praia. Ontem até peguei uma cor. —Mostrou-lhe os braços sorrindo. — E Raquel?

— Raquel não vai, parece que o Fernando vem pegá-la.

Stella ergueu as sobrancelhas, pensando na coincidência dos nomes, pois seu chefe também se

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chamava Fernando.— Ainda tem puchero. É só esquentar. Stella sorriu.— Não se preocupe comigo. Eu me viro.Eleonora saiu da cozinha. Stella abriu a geladeira,

e pegou um copo de iogurte e tomou, pegou algumas tortilhas e seguiu em direção à praia.

A vista da praia era maravilhosa. Ao longe o mar azul se estendia até o horizonte, deixando que os primeiros raios de sol lhe dourassem de leve a superfície. O cheiro de água salgada juntava-se ao perfume das flores e ao mato molhado que recobriam todo o caminho desde a praia até a casa, enchendo o ar com a expectativa de um novo e belo dia.

Stella alcançou a praia e andou até as pedras. Sentada ficou a olhar o mar. Perdeu-se em seus pensamentos. Sempre fora sozinha à praia, pois Raquel detestava o mar e implicava com a areia.

Então a imagem de Raul invadiu sua mente, pois lá fora onde ela tinha tido a última conversa com ele.

Quando pensou em voltar, ao longe viu a figura de Raquel bem distante com um homem, eles andavam para outra direção, Stella ficou em pé nas pedras e ficou a olhá-los. Eles andavam lado a lado conversando em direção a casa. Ele era bem alto, usava terno preto, com as calças arregaçadas caminhava na areia segurando os sapatos. Raquel estava de vestido branco e gesticulava muito, esbanjando felicidade. Do ponto que Stella os observava, não dava para vê-los nitidamente.

Stella ficou mais um pouco e resolveu dar um mergulho na água gelada.

Tirou a saída e das pedras mergulhou em um local seguro, nadou um pouco e saiu. Sentiu uma sensação de bem estar, como era bom o contato da

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água gelada, no corpo quente do sol.Pegou a saída de praia nas pedras, vestiu e se

dirigiu para a casa. Será que finalmente ia descobrir quem era o tal

homem misterioso? Caminhou a passos lentos para casa, pois tinha

receio de atrapalhar o romance dos dois. Quando chegou viu Raquel almoçando sozinha na sala de jantar.

— Raquel, foi impressão minha, ou eu te vi com o rapaz?

— Realmente era eu. Mas ele teve que ir embora.Stella observou à amiga e disse.— E você está magoada. Triste? O que houve?— Por que você acha que estou me afundando na

comida? Fiquei triste sim, afinal, esperava que ele passasse o dia comigo. Mas não vou ficar me lamentando, vou agora mesmo pegar minhas telas e pincéis e vou para o lago. Aproveitar a luz, que hoje está boa.

— Isso mesmo, não fique se lamentando pelos cantos por ninguém. Se valorize que ele irá te valorizar. — Stella estava preocupada com a amiga, mas perguntou expressando naturalidade. — Ele disse por que não podia passar o dia com você?

— Não foi muito evasivo. Só falou que tinha um monte de coisas para fazer.

Stella sorriu e disse com ironia.— Eu me surpreendi de te ver na praia com ele.

Você que detesta ir à praia, se sujar de areia? Raquel sorriu.— Pois é. Até eu me surpreendi, mas foi só ele ir

embora fui correndo lavar os pés para tirar à areia... Ah, aproveita que a comida está quente, está lá no fogão.

— Eu vou tomar um banho primeiro, depois venho comer. Não ligo se estiver um pouco fria não.

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— Então tá. Você é quem sabe. Stella fitou com preocupação a amiga. Raquel

sempre fora uma menina muito frágil, emotiva, se abalava por qualquer coisa.

A primeira impressão que ela havia amadurecido se esvanecia com as atitudes de Raquel. A verdade era que Raquel ainda se mostrava muito imatura. Com esses picos de alegria e tristeza, que eram regidos pelo o que acontecia em sua vida.

Talvez por isso que pintasse tão bem, talvez ela colocasse suas frustrações nas telas. Pois quando ela pegava para pintar, podia esquecer-se dela. Ela simplesmente se desligava do seu redor e se dedicava a sua arte.

Stella passou uma tarde tranquila, seu pai e Eleonora chegaram à tardezinha e Raquel chegou um pouco depois, carregando suas coisas para o seu quarto que era bem espaçoso e tinha um espaço que ela fazia de ateliê.

Todos muito quietos, Raquel meio emburrada, e seu pai e Eleonora pareciam meio cansados.

Raquel não quis jantar. Stella então jantou com seu pai e Eleonora.

Seu pai então perguntou.— Filha, como foi seu dia?Stella sorriu.— Foi tranquilo, andei bastante na praia. Jason ergueu as sobrancelhas.— Você sabe o que aconteceu com Raquel? Por

que raios essa menina está emburrada agora? Stella suspirou.— Ela está aborrecida, pois ela colocou

expectativas no rapaz que ela está pintando o quadro, ela esperava que ele a convidasse para sair hoje.

Jason balançou a cabeça.— Essa Raquel é muito mimada, as coisas não são

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como ela quer, nem sempre tudo acontece conforme nossos planos.

Stella a defendeu, mesmo que em seu interior soubesse que seu pai estava certo.

— Ela está gostando do rapaz. Eleonora sorriu para Stella.Stella não entendeu o sorriso de Eleonora, se ela

concordava com seu pai, ou se ela achou graça dela defender a amiga.

Jason deu de ombros e disse com expressão cansada.

— Filha. Só sei de uma coisa, eu vou me deitar. — Então se dirigindo a esposa sorriu. — Vamos subir. Eleonora?

Eleonora se levantou e disse pronta.— Vamos, pois estou cansada também. Deixe a

louça aí que amanhã Ruth lava.— Não custa nada eu lavar. Boa noite para vocês.Jason levantou-se e beijou a testa de Stella.— Boa noite, filha.No dia seguinte Stella chegou ao trabalho cedo.

Lúcia quando a viu, se levantou da cadeira e foi ao seu encontro.

— O chefe está aí?— O senhor Alejandro Salvatore?— Não, seu Fernando Salvatore.Stella ergueu as sobrancelhas perfeitas e sorriu.— É verdade, tinha me esquecido que ele chegava

hoje. Ele perguntou por mim?— Não. Ele disse um bom dia e já se enfiou no

escritório. Mas Alejandro deve ter falado de você.— O que é que eu faço? Bato na porta e me

apresento?— Eu te anuncio. — Lúcia pegou o telefone e ligou

o ramal dele. — Senhor Salvatore, a nova secretária chegou. Peço para ela entrar?

Lúcia sorriu para Stella.

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— Pode entrar. Ele a espera.

CAPÍTULO VII

Stella passou as mãos na saia apreensiva e respirou fundo. Abriu a porta e o viu. O homem estava atrás da mesa de carvalho entretido em um papel, quando a ouviu entrar levantou a cabeça e seus olhos negros encontraram-se com os verdes de Stella.

Aqueles escuros, queimantes olhos. Um quente rubor varreu sobre seu corpo. Seu coração não apenas começando a correr mais rápido, ele saiu de controle. Muito mais do que as palmas estavam úmidas. Fernando Salvatore então se levantou e Stella deu com seu um metro e noventa, o elegante, forte corpo. Sentiu-se tensa.

A visão dele foi como um choque. Ela engoliu em seco... Cabelos negros dele como tinta eram bem penteados para trás, o terno negro, gravata vermelha e camisa branca, contrastava com a pele morena. Beirava uns 38 anos.

Ele então sorriu, mostrando dentes perfeitos brancos.

Fernando Salvatore estendeu a mão em um cumprimento.

— Stella Allan. Prazer em conhecê-la. Meu pai me falou de sua contratação. — Stella pegou-lhe a mão quente e recebeu o cumprimento, e um arrepio involuntário passou por seu corpo. Stella constrangida logo tirou a mão. Não estava gostando nada dessa sensação que ele lhe provocava.

— O prazer é meu. — Disse Stella educadamente, com um sorriso cordial.

— Sente-se, por favor. — Fernando apontou a

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cadeira para Stella e sentou-se novamente na sua cadeira de couro vermelha.

Stella sentou, observando-o nervosamente, colocou uma mecha do cabelo castanho escuro atrás da orelha. Os olhos de Fernando também a estudavam.

Ele se reclinou na cadeira.— Bem. O que espero de você é pontualidade,

rapidez, tanto na taquigrafia, como no digitar os processos. E muito mais do que tudo isso que descrevi, é confiança. Sigilo absoluto de tudo que você ouvir e ver aqui. Você acha que é capaz de desempenhar bem essa função?

Stella observou os olhos negros perspicazes a observando atentamente, e viu certo brilho maroto. Stella se irritou.

Por que ele a olhava como se ela fosse algum divertimento?

Stella fechou a cara e disse séria.— Sim, eu creio que sou capaz. Mas pelo seu

olhar, creio que o senhor não acredita muito. Fernando sorriu aberto.— De maneira nenhuma. — E sorriu mais

divertido ainda. — É que me desculpe. Você me lembra de uma garota que gostei muito na faculdade... E na época numa das minhas investidas levei um tapa no rosto.

Stella ergueu as sobrancelhas e imaginando a cena, sorriu para ele. Fernando então se colocou em pé.

— Mas isso é passado. — Fernando se voltou para sua mesa e pegou uma pasta. — Por favor, tire cópias para mim, e me chame Lúcia, que preciso passar umas coisas para ela, para ela te orientar.

Stella pegou a pasta das mãos dele, reparou que elas eram bem trêmulas.

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Levantou-se e disse agradecida.— Obrigada pela oportunidade. Não vou

decepcioná-lo. Fernando a estudou sério.— Tenho certeza que não...Stella assentiu e saiu da sala. E se dirigiu a Lúcia.— O senhor Salvatore quer falar com você. Lúcia sorriu.— E então? Ele é um encanto de pessoa. Não é?Stella assentiu séria. Encanto até demais...— Sim... Ele parece ser uma ótima pessoa.Lúcia sorriu largo.— Mas ele é exigente. Ele parece ser um doce,

mas no trabalho ás vezes se comporta como um carrasco.

— Não tenho medo de trabalho. Acho que quanto mais nos envolvemos, mais o dia passa rápido. — Stella mostrou a pasta. — Onde eu posso tirar xerox?

— Vai ao final do corredor e você encontrará a sala de xerox.

Stella concordou e saiu do recinto. Pouco tempo depois Lúcia havia lhe passado

vários processos. Stella estava tão envolvida que uma hora da tarde ainda digitava quando Fernando saiu da sala.

— Você já voltou do almoço? Stella levantou a cabeça e fitou os olhos negros

indagadores de Fernando.— Eu ainda não saí. Fernando lançou lhe um olhar de desaprovação. — O que Lúcia andou te falando? Por acaso ela te

colocou medo de mim, para você se preocupar tanto em acabar esse processo?

— Não, eu é que perdi a noção do tempo.Fernando sorriu.

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— Não duvido nada que Lúcia tenha feito a minha caveira. Tem certeza que ela não me chamou de carrasco?

Stella ficou sem ação, mas acabou sorrindo e disse de forma natural.

— Bem, na verdade ela me disse que você era muito exigente e que chegava a ser um carrasco ás vezes.

Fernando sorriu e se aproximou da mesa de Stella.

— Sabia! Mas Lúcia está desculpada. Ela pegou uma fase difícil na advocacia. Tivemos que lutar muito para a advocacia Salvatore ter um nome.

Stella incomodada com os olhos negros intenso de Fernando se levantou.

— Bem. Eu vou almoçar então.— Vamos almoçar juntos...Stella o fitou surpresa e abriu a boca para

protestar, mas não conseguiu, pois Fernando pegou-lhe a bolsa e sorrindo, disse-lhe num tom que não admitia desculpas.

— Vamos?Ainda brigando consigo mesma, disse sem

escapatória:— Vamos. — Forçou um sorrisoFernando afastou o corpo e lhe deu a bolsa. Stella

saiu na frente, mas logo Fernando se colocou ao seu lado. No corredor encontraram Lúcia que voltava do almoço. Ela os observou surpresa. Isso incomodou Stella.

— Lúcia, eu tenho uma reunião com o Thomas Anderson ás três horas, ligue para ele e diga que vou me atrasar um pouco.

Lúcia assentiu e fitou Stella, que olhava para os sapatos, constrangida.

Ela sentiu a mão quente de Fernando em seu braço e levantou o rosto sério. Lúcia já entrava no

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escritório quando ela fitou Fernando. Os olhos negros dele passearam por seu rosto e se detiveram em sua boca e se voltaram para os seus olhos de novo.

O coração de Stella quase saiu pela boca, e aumentou seu constrangimento.

— Vamos? — Eu não quero atrasá-lo para a reunião... —

Stella disse rápido.Fernando sorriu. — Você não me atrasará. E eu preciso almoçar...

Eu não deveria te dar explicações, mas meu atraso se dará, pois depois do almoço eu irei ao fórum.

Stella ficou vermelha. — Claro... Desculpe-me. — Mas se ficarmos parados aqui, aí sim você irá

me atrasar.Fernando então a conduziu ao elevador. No

elevador, Stella evitou olhar para Fernando, mas sentia os olhos dele pousados sobre ela.

Quando o elevador abriu, Stella se precipitou para fora, seguida por Fernando.

Na calçada ensolarada pelo sol da tarde, Fernando a pegou pelo braço.

— Vamos por aqui, nessa mesma calçada tem um ótimo restaurante pesqueiro. Você gosta?

Então subitamente ele parou. Stella parou e o fitou. Não conseguia dominar o nervosismo ao vê-lo passar os dedos pelos cabelos negros, enquanto ele aguardava sua resposta.

— Sim. Eu gosto muito... — Conseguiu dizer num tom natural.

Ele sorriu e a pegando pelo braço novamente, a conduziu, mas fora um gesto rápido, mas Stella ainda podia sentir o toque de seus dedos em seu braço.

Stella percebeu que ele estava pensativo. Como

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se algo o preocupasse. Caminharam por cinco minutos na calçada sem nada dizer, até chegarem ao restaurante.

A decoração era simples e acolhedora. O chão revestido de mármore em tons variados era enfeitado por aquários de peixes marinhos multicoloridos, as mesas com toalhas vermelhas e plantas diversas estavam espalhadas em cada canto. O lugar era fresco e agradável.

Fernando puxou-lhe a cadeira, ela sentou-se e observou-o sentar à sua frente com um sorriso maroto, como que adivinhando seu constrangimento por estar almoçando com o chefe. Ele não parava de fitá-la e isso aumentava seu constrangimento.

Fernando lhe deu o cardápio e voltou à atenção para um bando de crianças que riam ao ver os peixinhos. Stella aproveitou esse momento em que ele estava entretido e o observou.

Notou as mãos enormes morenas que eram um pouco trêmulas, a cabeleira negra um pouco despenteada por causa do vento, e os espessos cílios negros.

Ele levantou os olhos e deu com o olhar de Stella. Stella se recompôs e segurando o olhar, disse naturalmente.

— Eu não sei o que escolher. O que o senhor sugere?

Fernando sorriu.— Por favor, me chame de Fernando. — Fernando

então se recostou na cadeira. — A moqueca de Cação com arroz branco é ótima. O que você acha?

— Acho ótimo.Fernando sorriu.— Hum. Então o que você quer beber?— Suco de abacaxi.— Boa pedida. Eu vou pedir para mim também.

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Stella concordou e sentiu os olhos de Fernando sobre ela. Evitando seu olhar, tentou distrair-se com o movimento ao seu redor: observou um casal que conversava descontraidamente, as crianças que riam. O ir e vir das pessoas...

Fernando então disse contrariado.— O que foi Stella? Não sou uma boa companhia?

Você parece incomodada.Stella voltou seus olhos rápido para ele e disse

veemente e um tanto surpresa.— Não... Não é isso! Eu é que me distraio com

facilidade.Nessa hora o garçom os serviu. Stella se deteve

na comida e saboreou bebericando o suco, de vez em quando olhava Fernando que a fitava pensativo...

— Stella... Não sei como te dizer isso... Mas eu te trouxe aqui para te falar um problema que eu estou enfrentando... Como você será minha secretária de confiança, você terá que me cobrir minhas saídas...

Stella o observou sem entender. Fernando suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Eu sou alcoólatra... Três vezes por semana, participo do AA. Meu pai não sabe... Ninguém sabe... Estou participando já faz três semanas...

Stella assentiu sem saber o que dizer. Fernando então mostrou as mãos tremulas.

— Você já viu as mãos de um alcoólatra?Stella meneou a cabeça com um não. Fernando

sorriu tristemente.— Esse lugar para mim, é uma tentação... Não é

fácil esse vício... Outra coisa, eu não sirvo bebidas para os meus clientes, pois eu cairia na tentação de beber, por isso você servirá para mim. Tudo bem?

Stella fitou os olhos negros de Fernando que a observavam ternamente.

— Eu sei que não é a sua função, mas...

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Stella o interrompeu.— Eu não me importo! Eu sirvo as bebidas...Stella então pensou: E Lúcia sabia de sua condição? Ela também

o ajudava a ocultar do Sr. Salvatore suas idas ao AA?

Queria entender seu papel como secretária. E isso a fez perguntar-lhe:

— E Lúcia sabe?Fernando a fitou sombrio.— Quando eu disse que ninguém sabe, quis dizer

ninguém sabe mesmo. Mas ela era uma estranha para ele, e ele

confiou o seu segredo a ela. Por que ocultou de Lúcia?

Stella movida por dúvidas insistiu:— Por que você me confidenciou essa sua

condição? Um silêncio profundo se estabeleceu até que por

fim Fernando disse:— Entendo seu questionamento. Não confidenciei

a Lúcia, pois ela está há mais de 20 anos trabalhando conosco, e isso fez com que laços se estreitassem. Ela é muito amiga de meu pai, e tenho certeza que chegaria aos ouvidos de meu pai. E eu não quero. Meu pai já sofreu muitas perdas na vida.

Stella o fitou por um longo momento, com um leve rubor nas faces.

— Lúcia nunca desconfiou?— Nunca dei satisfação de minha vida para Lúcia.

Muitas vezes não aparecia no trabalho, pois estava bêbado na casa de algum amigo. A bebida é uma droga silenciosa e diria tão inocente para muitos… Desde muito jovem tive períodos de bebedeiras, mas naqueles tempos eram momentos curtos, dias

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ou semanas, mas desde o início deste ano passei por um longo período de ingestão alcoólica e, como muitos, achava normal, comecei com algumas latinhas de cervejas diariamente… No início bebia somente à noite, depois após o meio-dia, até chegar a passar dias sem comer e dormir, apenas bebia… Após desmaiar algumas vezes vi que precisava de ajuda. Meu pai sabe que temos muita pressão no escritório, são casos difíceis que chegam a nós, somos tidos como o melhor escritório de advocacia de nossa região. Muitas causas que parecem sem solução, que muitos advogados desistiram, nós vencemos. Eu nunca fui relapso com meu trabalho, então meu pai nunca me questionou se sumia ás vezes, creio que ele achava que precisava de um tempo. Agora que Lúcia está se aposentando, espero seu total sigilo. Posso confiar em você?

Stella o estudou. Parecia haver tristeza nos olhos dele. Um calafrio a percorreu, mas sua voz saiu firme.

— Pode. Você tem a minha total discrição. Fernando deu por encerrada a conversa, pois

pegou a carteira e tirou uma nota e colocou na mesa. Afastou a cadeira para Stella, e juntos emudecidos, caminharam pela calçada.

Stella encontrou Lúcia que a olhou estranhamente. Stella a ignorou e voltou a digitar o processo, logo viu Fernando se despedindo dizendo que não voltaria mais naquele dia.

A tardezinha, Stella chegou a casa e encontrou Raquel na sala.

Raquel quando a viu sorriu-lhe.— E então? Está gostando do trabalho?Stella esgotada se jogou no sofá.— Estou.Raquel fez uma careta.— Pois não parece. Você está com uma cara.

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Stella sorriu.— Só cansada... E você? Saiu hoje? Como anda a

pintura?— Hoje o sol estava muito forte, não fui ao lago,

perdi a hora, e não pude retratá-lo. Mas amanhã eu vou...

Raquel bocejou.— O jantar é só esquentar... Papai e mamãe foram

ao cinema.Stella sorriu.— Quando você trará seu namorado misterioso?Raquel sorriu e se levantou.— Ele é um mistério para mim também. Eu nem

sei o que ele faz, ou trabalha... Falamos sobre as pinturas, sobre o irmão morto, tudo muito superficial. Ele é muito contido. Sempre quando quero me aprofundar no assunto ele muda a conversa. —Raquel suspirou. — Vou dormir. Boa noite. Bom trabalho amanhã.

— Boa noite. Durma com os anjos. Mais tarde, Stella crítica, se olha no espelho.

Observou seus cabelos castanhos escuros, que estavam precisando de um corte, gostava de seus olhos, eram arredondados de um verde claro. Stella ainda assim não se sentia bonita, queria ser mais sofisticada, se sentir bem com cortes de cabelo da moda, mas não ousava mudar. Era muito tradicional para isso.

Lembrou-se então de Fernando, a mínima lembrança dele provoca-lhe um arrepio, por todo o seu corpo e fez seu sangue correr rápido nas veias.

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CAPÍTULO VIII

O dia estava bonito. Stella observou da janela de sua sala enquanto tomava um café.

A semana passou rápido.Trabalhava com afinco e pouco viu Fernando. De vez em quando ele aparecia e se trancava em

sua sala, sempre chamava por Lúcia, que resolvia tudo com muita competência.

Lúcia depois lhe ensinava tudo. Ela era muito didática e Stella não teve dificuldade nenhuma de entender o que lhe era passado.

Depois de uma semana, que Stella trabalhava, Fernando viajou. Mas ele mantivera contato durante todo o tempo, via fax, telefone... Stella percebera que ele era do tipo que levava os negócios muito a sério.

Fernando deixara uma grande quantidade de processos para organizar, coisas para digitar e hoje o trabalho todo era por sua conta, pois ontem tinha sido o último dia de Lúcia.

Quase não viu Raquel também, que se dedicou a pintura. Mas o pouco que a vira, ela estava mal-humorada. Stella sabia que se devia ao fato dela estar frustrada com a ausência do rapaz.

O escritório muitas vezes ficava em um silêncio completo, de vez em quando o Sr. Salvatore aparecia e lhe pedia algum documento para levar. Sua sala ficava no mesmo andar no final do corredor. Mas a maior parte do tempo ele ficava ausente, pois ele que fazia a captação dos clientes. Passava por ele antes de passar por Fernando, pois o Sr. Salvatore fazia uma triagem dos clientes. Mas quem os representava era Fernando. Ele que assumia o caso. Então o Senhor Salvatore fazia, por

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assim dizer a parte comercial.O Edifício por ser comercial, tinha uma boa

movimentação. Já fizera até amizades rápidas na espera do elevador. Conhecera Joaquim, corretor de imóveis, trabalhava em uma imobiliária no andar acima do seu. Nunca conseguiram conversar muito, mas o pouco que eles se falaram, Stella percebeu que ele era muito bem humorado.

Conhecera Sônia, ela era secretária de um escritório de contabilidade. Algumas vezes almoçaram juntas. Ela tinha 40 anos, mãe solteira e tinha uma filha de dez anos. Era deslumbrada por Fernando, pois sempre lhe perguntava dele: Se ele era comprometido, ou casado, se tinha filhos...

Stella nunca tinha resposta para dar, ela mal o via.

Dois dias depois que assumira como secretaria interina, enquanto entrava no elevador, lembrou-se de que Lúcia dissera que Fernando chegaria hoje.

Parou no 3°. Andar dirigiu-se rapidamente ao escritório. Fernando já estava em sua sala como pressentira e com certeza à sua espera. Estava a olhar pela janela, pensativo de costas para ela. Sua camisa estava toda amassada.

— Bom dia. — Disse Stella educadamente.Fernando demorou-se um pouco quando se virou

para Stella. E sem lhe responder o cumprimento disse direto. Como se tivesse algo urgente para resolver.

— Stella, por favor, venha até meu escritório... — Ele passou por ela como um furacão e entrou em sua sala. Stella sentiu um odor forte, de suor, misturado a colônia.

Stella demorou-se um pouco procurando seu bloco de anotações. Quando entrou na sala de Fernando o encontrou sentado com o olhar parado em um ponto fixo, tinha olheiras profundas, e um

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leve tremor nas mãos. Os cabelos negros despenteados, sem gravata e a camisa muito amassada.

— Você está bem? Fernando a fitou impaciente e indicou a cadeira

para ela sentar. Stella sentou-se rápido, e o observou colocar a cabeça entre as mãos. Stella preocupada insistiu.

— Fernando?Fernando ainda com a cabeça apoiada sobre as

mãos disse entoando frustração.— Ontem, fraquejei... Fiquei bêbado, dormi na

casa de um amigo, vim direto de lá, nem troquei de roupa... Preciso que você saia e me compre uma camisa limpa e uma gravata... Não quero que meu pai me veja assim.

Stella se levantou e os olhos de Fernando caíram sobre ela.

Embora ele estivesse com uma terrível dor de cabeça, com mal-estar e enjoado, estava mais vivo e alerta do que nunca. Os pensamentos de Fernando voavam e pensava como seria tirar aquela garota do sério. Sempre tão certinha e ao mesmo tempo tão jovem. O pouco que falara com ela, e a vira, criaram nele uma percepção aguçada da jovem. Nada parecia aliviar a tensão que experimentava em sua presença. Tinha consciência dela constantemente.

Stella sentiu uma onda aquecer seu corpo. Fernando se deu conta que a estivera encarando por muito tempo.

Desviou os olhos.— Por favor. Pegue para mim um café forte e

aspirinas, elas ficam guardadas na sala do café, em um armário de canto... Por favor...

Alguns minutos depois Stella entrava na sala de Fernando e o encontrou inclinado sobre a cadeira

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de olhos fechados... Stella pigarreou, mas ele continuava imóvel. Stella foi mansamente até ele e o tocou no ombro... Fernando abriu os olhos, que estavam injetados e vermelhos...

— Não quero que me olhe assim.Stella não entendendo meneando a cabeça

perguntou-lhe:— Como?Fernando fitou-lhe os olhos com uma expressão

sinistra e perigosamente intensa.— Com piedade.Stella abriu a boca e a fechou sem saber o que

dizer.— Por favor, Stella. Eu preciso que me compre

uma camisa antes que meu pai chegue. Não quero que ele me veja assim, todo amassado. — E tirando uma nota de trinta pesos lhe disse. — Tamanho 6.

Stella sem discutir ou argumentar. Saiu feito um furacão, não estava gostando nada de servir Fernando Salvatore como uma empregada, e ainda estava irritada, pois por mais que ela tentasse reprimir a excitação que ele provocava, admitia que era uma tarefa árdua. Exigia dela muito esforço. Pensava nisso andando com muita pressa, quando deu um encontrão com o senhor Salvatore na recepção.

— Meu Deus menina, onde você está indo com tanta pressa? Vai apagar algum um incêndio?

Stella constrangida e apreensiva, pois sabia que o Sr. Salvatore ia até a sala de Fernando, lhe disse sem lhe dar mais explicações.

— Senhor Salvatore, o senhor está indo ver Fernando?

— Sim, por quê?— Fernando não está. — Disse se odiando pela

mentira. — Ele teve que ir ao fórum. E me orientou a dizer-lhe que caso o Senhor fosse procurá-lo, ele o

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receberá à tarde. — Stella disse torcendo para ele não perguntar novamente aonde ela iria.

Salvatore deu de ombros. — Tudo bem. Não era urgente... Diga a ele que à

tarde falo com ele... E tirando uma pasta, estendeu para Stella. —Entregue esta pasta para ele, pede para ele ler esse processo, assim à tarde, quando eu falar com ele, será meio caminho andado.

— Claro. Salvatore se deu por satisfeito, e mudou a

direção, indo em direção à rua. Stella suspirou aliviada, e para não sair logo atrás dele, foi até a máquina de café, esperou um pouco, e só depois saiu. Sentiu o ar quente, pela ausência do ar condicionado. Suspirou. Olhou insegura em que direção seguir, ainda não conhecia nada da região. Tudo havia mudado muito desde a última vez que tinha ido naquelas redondezas. Por fim escolheu uma direção...

Não demorou muito encontrou uma loja masculina. Comprou uma camisa azul claro e gravata azul marinho e se dirigiu ao escritório.

Stella entrou meia hora depois na sua sala com a sacola das compras em uma das mãos, e a outra a pasta que Salvatore lhe havia entregado. Dirigiu-se a sala de Fernando e sem bater entrou.

Fernando se encontrava agitado, andava de um lado para outro, não parecia o mesmo Fernando que ela havia deixado meia hora atrás.

Ele quando a viu parou imediatamente, impaciente exclamou:

— Mas que Diabos! Por que a demora?A testa de Fernando revelava pontos de suor.Stella, séria, tentando conter as batidas

disparadas do coração, fitou-o por um longo momento.

— Seu pai me atrasou. Ele me encontrou na

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recepção, se dirigia para cá, eu disse que você havia saído, ele me deixou essa pasta. — Colocou a pasta na mesa e a sacola, enfrentando seu olhar.

Fernando não se mostrou abalado nem sem jeito, pelo contrário, lhe devolveu o mesmo olhar, detendo se por um pequeno momento no ponto em que a blusa branca de Stella mostrava o início da curva dos seios. Stella sentiu os batimentos cardíacos aumentarem. Ela deu as costas para Fernando, queria sair dali, tentava se recompor emocionalmente.

Apenas o fato de estar na mesma sala com Fernando já a deixava sem forças, ele parecia um campo de força que a mantinha magnetizada e incapaz de pensar com calma.

O único homem que fora capaz disso estava morto. Stella não queria misturar trabalho com envolvimento pessoal. Por mais que Fernando a atraísse.

Ouviu um movimento atrás de suas costas — Stella, não vá. Desculpe-me. — Ele a pegou gentilmente pelo braço, isso fez com que ela se virasse e o encarasse.

Ele estava muito próximo. Stella podia sentir a colônia que ele usava

misturada ao suor e a bebida. Stella entendeu que ele precisava de ajuda, isso a fez recuperar a sobriedade e conseguiu se recompor mediante a figura frágil de Fernando. Ela então o fitou profissionalmente.

Fernando continuou.— Meu Deus, me perdoe. Mal você começou a

trabalhar comigo e já estou dando meu show. Sei muito bem que não é sua função sair para comprar um alfinete sequer.

Uma onda de tristeza a invadiu. Estava incomodada em ver Fernando daquele jeito.

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Stella impaciente se apressou em dizer. — Tudo bem.

Fernando se afastou, como que consciente de seu odor.

Ficou por um momento de costas para ela, olhando a janela, como se ela não tivesse mais lá.

Ele então a fitou. Stella o fascinava, desde a primeira vez em

que a vira. Ela tinha uma aura e uma graça feminina que o atingira. Talvez por ser muito jovem e ao mesmo tempo passar a segurança de uma mulher madura. Parecia ser do tipo bem comportada, e ao mesmo tempo deveria ser alegre e cheio de vida nas horas vagas.

Ele a viu colocar uma mexa do cabelo que teimava em cobrir-lhe um dos olhos. Notou o traje recatado de Stella. Uma estranha emoção o percorreu. Quantas vezes tinha se deparado com mulheres que se vestiam de forma provocante, e não lhe surtia o efeito que Stella provocava nele agora?

Tentou afastar o olhar dela, mas ela o atraía de volta.

— Seu pai virá à tarde, ele pediu para você ler o processo antes dele falar com você.

De repente a imagem que Stella fazia dele passou a incomodá-lo. A boca esculpida de Fernando se comprimiu numa linha fina, quando sentiu uma onda de raiva atingi-lo que o forçou a liberar a tensão que enrijecia seus ombros. Sentou na cadeira de couro. Voltou a estudar Stella que o fitava.

E Fernando podia entender por quê.Estava um trapo humano. Como poderia passar

uma imagem de competência e autoridade sendo um fraco? Pois era isso que a bebida fazia, o deixava exposto, roubava-lhe a vida, a sobriedade.

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Um sentimento violento e angustiado o invadiu. Fazendo-o responder seco.

— Obrigada. Pode ir. — Ele desviou o olhar daquela figurinha que o incomodava novamente e se concentrou nos papéis a sua frente.

Fernando, então, entrou no banheiro anexo do escritório tirando a camisa, com raiva a jogou longe.

Lavou as axilas o rosto e o tórax com vigor. Colocou a camisa e a gravata. Gostou do resultado.

Stella tem bom gosto. Fernando fechou os punhos diante da lembrança

da sensação quando pensou na figura de Stella, com raiva reprimiu o pensamento. Não tinha condição de se envolver com quem quer que fosse. Muito menos com sua secretária, sua ética profissional não o permitia.

Que ética! Seu íntimo zombou de seus pensamentos.

Mal podia se controlar diante de um copo de bebida. Como podia pensar em ética?

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CAPÍTULO IX

Saiu do banheiro se sentindo melhor fisicamente, mas seus pensamentos estavam caóticos. Precisava se ocupar. Pegou a pasta e começou a ler o processo, queria fazer algumas anotações antes de falar com seu pai. Mas a imagem seu pai o fez ficar pensativo por um instante. As paredes do seu escritório luxuoso pareciam fechar-se a seu redor de modo sufocante. Daquela mesa, tinha ganhado muitas causas. Ele e seu pai eram bons no que faziam.

Seu pai nunca desconfiara do seu vício, graças a sua independência. Já morava sozinho há mais de 5 anos. Não queria dar esse desgosto ao seu pai, já não era fácil conviver com a ausência de seu irmão, que morrera prematuramente e também a morte de sua mãe.

Uma dor lancinante, como se alguém tivesse virado uma faca dentro dele, o fez levar a mão ao peito. Jonas e ele eram muito unidos. Não fora fácil pra ele lidar com sua morte. Não foi fácil assistir seu irmão lutar pela vida, quando a leucemia o puxava para a morte. Foram dois anos de luta. Quando a doença venceu a batalha. Ela não só levou seu irmão, mas desestruturou toda uma família: Seu pai, sua mãe e ele.

Fernando, na época tinha vinte e cinco anos, já morava sozinho, e com a perda de seu irmão pensou em até voltar a morar com seus pais. Mas o gostinho da liberdade não o permitiu, pois Fernando, desde os tempos da faculdade tinha uma vida social bastante agitada.

Com a morte de seu irmão, entende hoje, que como fuga, passara a viver num ritmo alucinado de

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festas e muitas amizades.Sempre bebeu socialmente, e nunca sentira preso

à bebida, mas conforme a sua vida agitada evoluía, mais a bebida se tornara parte de sua vida. Com o passar do tempo, precisava de mais e mais álcool, pois o organismo se torna tolerante a bebida e cada vez mais precisa de uma quantidade maior para ter as mesmas sensações daquela única cervejinha que tomava quando começou a beber. As doses foram aumentando e os tipos de bebida também. Então, quando se viu, não controlava mais à vontade de beber, pois ela tomou as rédeas de sua vida, e passou a dominar suas vontades. Bastava um copo, para a vontade incontrolável de beber o dominasse. Uma sede sem fim... Como um saco sem fundo, muitas vezes bebendo até cair.

Depois da morte de seu irmão, seu pai também, como fuga se dedicou ao trabalho, sua mãe não suportou a perda, e por causa da saúde que já era frágil, morreu um ano depois.

Não. Não seguiria aquela linha de pensamento. Era melhor que a amargura que permeava seu passado permanecesse sepultada, não queria reabrir suas antigas feridas. Já tinha um grande problema nas mãos, lidar com o fato de ser um doente, pois hoje sabia que o alcoolismo era uma doença, uma doença incurável, mas controlável.

Riu amargo... Mas que ainda ele não conseguia controlar.

A imagem do lago da Candelária o fez sorrir. Daqui alguns dias seu pai faria 65 anos e como presente Fernando contratara Raquel Montoya, uma pintora que retrataria Candelária, local onde ele e seus pais sempre frequentaram, quando eles eram uma família unida e feliz.

Raquel era uma jovem, cheio de vida, muito jovem para tanto talento. Logo que conhecera seu

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trabalho, quando ela expunha em uma galeria em Sevilha, se apaixonou pela sua arte. Sabia que era uma jovem promissora. Precisava de um empurrãozinho, acreditar mais em seu talento. Muitas vezes, quando conversavam, Fernando tentava passar para ela essa segurança, incentivá-la, pois percebera que Raquel era muito insegura em relação a sua arte.

Fernando, então, sorriu. A insegurança dela era somente no talento, pois ela flertava com ele abertamente. Às vezes o deixava constrangido. Fernando passava para ela uma imagem profissional, de um cliente que apenas estava interessado em seu trabalho. Mas ela era dura na queda. Ele chegou até a visitar sua casa, mas apenas andaram na praia, não queria estreitar os laços. Ainda não chegara a ser claro a respeito disso com palavras, pois entendia que seus gestos já diziam tudo.

Fernando consultou o relógio, uma hora da tarde. Não sairia para almoçar. Stella já devia ter saído. Nem tinha estômago para comer alguma coisa, a dor de cabeça ainda não tinha passado, e precisava ler aquele processo antes que seu pai chegasse.

Fernando estava fazendo anotações quando ouviu uma leve batida na porta.

— Entre.Fernando então viu a figura de Stella entrar,

estava com um copo do que parecia ser um suco verde nas mãos.

Fernando continuou silencioso, parado ali, com um ar sombrio ao seu redor. O rosto era como uma máscara... Completamente fechado.

Stella ignorou seu mau humor e falou:— Eu trouxe para você, a bebida, não sei se sabe

desidrata, e esse suco te fará bem, ajuda também na enxaqueca.

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Uma expressão intrigada sombreou os olhos de Fernando.

A voz de Stella era tão doce... Mas ao mesmo tempo segura. Certamente, ele não precisava ser tão duro, precisava? Stella parecia imune a ele, era bom o falto dela dar essa distância profissional, mas isso na verdade o incomodava. A verdade é que ela o perturbava.

Stella percebeu que o semblante de Fernando desanuviou. Parecia que ele momentaneamente tinha baixado a barreira invisível que ele erguera. Ele então suspirou e sorriu. Stella sentiu como se uma força emanasse dele.

O coração de Stella disparou adrenalina bombeando em suas veias. Ela se conteve e ainda o fitava séria.

Ele ainda sorrindo disse:— Obrigada. Deixe na mesa... E a propósito, onde

você achou esse suco? E como sabe que é bom? Você tem alguém na família que sofre esse mal? — Perguntou-lhe irônico.

Uma expressão perturbada brilhou nos olhos de Stella. Ela desviou o olhar dos intensos olhos de Fernando. Que ainda a fitava com ironia.

— Eu sempre gostei de ler livros de medicina natural, ervas que curam, e me valendo dessa informação pedi no restaurante em que almocei que eles fizessem um suco de limão, com abacaxi e hortelã.

Fernando riu aberto. — Muito eficiente. Stella desarmou e sorriu.Fernando estudou-a e viu a fisionomia de Stella se

tornar subitamente embaraçada. Foi como se uma bomba explodisse em seu peito,

dando-lhe um prazer, um prazer maior do que ele experimentava na bebida.

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Precisava lhe fazer sorrir mais vezes. Stella o viu como um menino obediente pegando o

suco e bebendo de uma só vez. O que era para ser uma alegria se tornou uma sensação de mal-estar, pois era como se Stella visse a imagem dele virando o copo de bebida alcoólica.

Hoje ele devia beber, pelo vício, nem mais por prazer, não mais como uma pessoa normal, que bebe um vinho ou Martine e saboreia o que bebe.

Fernando quando deixou o copo na mesa, fitou Stella e um desconforto o envolveu, pois ela o olhava contemplativa, não mais com os olhos sorridentes. Ele sabia exatamente o que ela estava pensando. Era exatamente o que ele fazia com um copo de bebida nas mãos... Ele virava o copo.

Stella obrigou-se a se concentrar no presente e se aproximando da mesa, pegou o copo vazio. Estava saindo da sala, viu o Sr. Salvatore entrando. Os olhos vivos e perspicazes se fixaram no copo em suas mãos.

Então ele falou sorrindo.— Meu filho anda dando muito trabalho para você

Srta. Allan?Fernando se levantou desconfortável.— O que é isso, papai? Assim ela vai pensar que

sou um carrasco! — Fernando tocou no braço de Stella, ela involuntariamente estremeceu. Ele é a conduziu até a porta. — Obrigada Srta. Allan pela aspirina. Qualquer coisa eu te chamo.

Stella viu a porta fechar-se atrás de si. Ainda sentindo o toque de Fernando, voltou aos seus afazeres, tentando esquecer o incidente. E tinha muita coisa a fazer. Ia começar pelos arquivos. Tinha um monte de processos para arquivar e catalogar.

Os ânimos então se alteraram, Stella ouvia agora pai e filho alterados, quase aos berros.

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Stella se aproximou da porta, curiosa. Quando ouviu Fernando dizer.

— Pai, eu não quero pegar esse caso! — Não estou te entendendo Fernando. Você

nunca me negou um caso antes? Ele é um amigo. Será que você não consegue entender?

— Pai então assuma você esse cliente. — Fernando, o que é isso rapaz? Você pegou

casos mais difíceis que esse?— Pai, eu não quero tirar um filho de uma mãe.— Fernando, mas ela é negligente... E você já fez

isso antes. Lembra-se do caso dos Arnold?Stella se afastou não se sentiu bem ouvindo a

conversa. Saiu um pouco da sala e se dirigiu a salinha de

café. Quando voltou estava tudo quieto novamente. Voltou ao arquivo, e já estava entretida quando o Sr. Alejandro Salvatore passou por ela e disse boa tarde e saiu em seguida.

— Srta. Allan...Stella entrou na sala de Fernando e o viu

contemplativo na janela. Quando ele a ouviu entrar se virou para ela.

— Amanhã terei que ir pessoalmente a um cliente em Sevilha. — Fez uma pausa, Stella se sentiu avaliada quando ele falou. — Você irá comigo.

Stella levantou as sobrancelhas perfeitas, surpresa.

— Faça hoje suas malas. Amanhã partiremos cedo.

— Malas? Como assim malas?Fernando a fitou impaciente.— Preciso de você nesse caso. Você irá comigo

para organizar a papelada e digitar as provas que vou pessoalmente juntar nesse processo.

Uma excitação a percorreu, como se o tempo parasse e ao mesmo tempo o chão tremesse.

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Stella não queria que ele achasse que ela estava tendo ideias sobre ele.

Estava lá para trabalhar não estava? Ia dar o melhor de si.

Com esse pensamento, mesmo com o coração descompassado, o olhou friamente.

— Quantos dias nós ficaremos?— Depende... Depende o quão rápido eu juntar as

provas. Ficou imóvel, o coração pulsando com força.— Não sei. Desculpe, é que eu não estava

preparada para viajar, mesmo que a trabalho.— Ficaremos no máximo uma semana.A compostura de Stella nessa hora se foi, ela

então ficou agitada.— Uma semana? — Por um momento viu algo no

rosto dela que o surpreendeu. Era uma expressão abatida, quase desesperada.

Fernando ficou incomodado com o fato de ela resistir-lhe a companhia. Então, lembrou-se de sua condição. Ela estava com medo de sair com ele, pois afinal, ele era um alcoólatra.

Ou será que ela tinha alguém? Algum namorado... Seus olhos correram a figura de Stella

procurando respostas. Ela agora parecida frágil diante dele.

Stella observou Fernando: Os cabelos negros levemente despenteados de tanto passar os dedos por eles, aqueles olhos escuros, a boca firme e sensual. Um metro e noventa de puro charme.

Meu Deus! Viajar com ele? Ela estava nervosa sobre isso. Ele era um homem que a impressionava. Devastador!!

Como conviver com ele e resistir ao seu encanto? Tinha medo de se ferir nessa história.E se ele tentasse algo? Teria força para resistir-

lhe?

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— Não se sinta assim... Sei o que está pensando.Stella sentiu o rosto arder. Com certeza ficara

vermelha.— Eu não irei dirigindo, se isso a preocupa. O

motorista particular de meu pai nos levará a Sevilha. E prometo a você, vou vigiar, pretendo estar sóbrio.

Stella sentiu raiva de si mesma. Lógico que ele não estava interessado nela.

Por que se preocupava? O que um homem como Fernando veria numa moça comum como ela? Mas afinal, não era isso que era queria?

Essa constatação doeu em seu coração. A curiosidade então a fez perguntar.

— Seu cliente é inocente?Fernando a observou pensativo por um instante,

demorando-se a responder, como se ele estivesse longe. Os olhos dele então se encontraram com os seus e seco respondeu.

— Sim, eu não defendo bandido... — Ele então de moveu inquieto. — Você ainda não me respondeu. Há algum problema em me acompanhar nessa viagem?

Sentindo-se desnorteada, Stella se agitou em seu íntimo e lutou por compostura.

Precisava parar de ter tais reações diante desse homem e simplesmente acatar suas ordens.

— Não, nenhum problema. Eu irei.Fernando então passou as mãos pelos olhos num

gesto cansado.— Muito bem. Quero que me separe uma pasta

com esses documentos. — Entregou-lhe uma lista. Stella não via a hora de sair de lá, pegou a lista que ele lhe estendia apressadamente.

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Stella ergueu o queixo ignorando o calor que invadia seu corpo, quando seus dedos se tocaram.

— Mais alguma coisa? Ele balançou a cabeça devagar com um sorriso

que a deixou ainda mais quente. — Não, é tudo por enquanto. — Dando as costas

para voltar à própria sala, fez Stella suspirar, aliviada, mas logo se voltou, pois ele completou. — E você pode bater esse acordo para mim? Espero que entenda minha letra? Ah... Leve alguns vestidos de noite.

Stella gesticulou um sim e saiu, não ousou perguntar o porquê.

Stella entrou em sua sala e se sentou na cadeira. Quando voltou a si. Ainda segurava o bloco de anotações e a lista contra o peito. A perspectiva de passar muito tempo com Fernando a fez entrar em pânico.

Fernando depois de um tempo passou por ela, deu um “até amanhã” e saiu.

Stella durante o jantar comunicou a todos que iria viajar a trabalho, acompanhando o Sr. Salvatore em uma viagem de negócios. Sua madrasta demonstrou surpresa.

— Nossa. Mas já? Você tem tão pouco tempo de trabalho.

Seu pai fitou Eleonora e com reprovação na voz lhe disse.

— Eleonora é natural. Stella está trabalhando como secretária executiva. É natural que ela acompanhe o Sr. Salvatore. — E então observou Stella. — Eu conheço minha menina, sei da sua competência, e sei que ela irá como uma profissional. Não é Stella?

Stella sorriu passando tranquilidade que ela estava longe de sentir.

— Claro papai.

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Raquel se limitou a ouvir a conversa, estava calada e mexia na comida, sem comer. Quando todos foram se deitar. Stella a procurou em seu quarto. Bateu na porta de leve.

Raquel de camisola abriu apenas uma fresta da porta.

— Posso falar com você?— Stella, eu estou morrendo de sono. É rápido?Stella se sentindo dispensada, perguntou.—Só vim me despedir, sei que amanhã você

levanta tarde e não vamos nos falar. E as pinturas?— Está bem adiantada.— Raquel, parte para outra. Sei que está assim

por causa dele.— Stella, é tarde. Não vamos falar sobre isso.Stella deu de ombros.— Tudo bem. Dê-me um abraço de despedida. Raquel abriu um sorriso dizendo. — Boa viagem e

se divirta um pouco. — E a abraçou.Quando as duas se afastaram. Stella disse

animada.— Vou tentar não pensar só em trabalho e

aproveitar a viagem. — Disse isso para Raquel, mas no fundo queria vestir uma capa de uma mulher profissional. Não podia se envolver com seu chefe.

Stella saiu do banho, enrolou-se na toalha e percorreu rapidamente o quarto. Todos ainda dormiam. Colocara o despertador para as cinco e meia, uma hora mais cedo do que o habitual. Vestiu-se, maquiou-se e secou os cabelos desceu as escadas em direção à cozinha. Já havia arrumado a mala na noite anterior, não se esquecera de nada, mas mesmo assim estava intranquila. Esperava demonstrar competência, e vestir sua máscara de mulher segura e madura.

Na cozinha, pôs a chaleira no fogo. Seis e quinze. Era cedo ainda. Ainda chegaria com folga ao

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escritório, antes de Fernando. Iria deixar o carro no estacionamento da empresa, que ficava no subsolo.

Era importante permanecer calma e tranquila na viagem. Precisava controlar as batidas do seu coração. Conseguira o emprego, um passo grande para sua carreira. Queria alcançar respeito, independência e segurança. Esse era o seu sonho.

Pensou em Fernando, riu, ela estava preocupada em viajar com ele, não por ele ter lhe revelado sua condição. Na verdade, ele a assustava, tinha aquela áurea de segurança, competência. Sabia esconder seu problema muito bem. Quem visse Fernando Salvatore e a maneira que ele dirigia seus negócios, não imaginava que ele fosse um alcoólatra.

Mas o que havia de errado com ela? Por que gastava seu precioso tempo pensando nele?

Precisava se controlar! Controlar seus pensamentos!

Havia um ditado que os pensamentos descem para o coração, e aí se aloja, e dificilmente sairá.

De fato, precisava de alguma maneira ser indiferente a presença de Fernando.

Como gostaria de uma amiga experiente nessa hora...

Riu-se. Raquel nem pensar. A atitude de Raquel demonstrava o contrário. Lembrou-se de Raul. Poderia pensar nele, e lembrar o que era se perder num momento de paixão. Pensar nas consequências, pensar com a razão.

Faria isso!Que atitude tola de sua parte. Não havia

razão alguma para se preocupar. Fernando a olhava com olhos profissionais. Ia dar tudo certo.

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Outro dia arrumando os arquivos, o vira em uma capa de revista sorrindo ao lado de seu pai e estava com uma loira linda escorada em seus braços.

Stella franziu a testa. Preciso parar de pensar nele! Stella consultou mais uma vez o relógio, enquanto

ligava o carro. Sete horas. Stella blasfemou quando o carro falhou. Tentou a segunda vez... E nada!!!

— Para! Para! — Era seu pai que saía da casa ainda de roupão. — Você vai afogar o carro.

— Pai, eu não quero me atrasar!— Eu te levo.Jason Allan em cinco minutos pegou a chave de

seu carro. Stella riu. Iria levá-la de roupão mesmo. Isso que era

apostar no seu sucesso!Jason pegou suas malas e colocou em seu carro.

Stella sentou-se no banco de passageiro e mal Jason se acomodou no volante. Stella o abraçou e beijou.

— Obrigada papai.Jason sorriu. — O que um pai não faz pelos filhos? Isso não é

nada. Fiquei muito tempo longe de você. Não pude fazer metade das coisas que gostaria de ter feito. E principalmente, te vê-la crescer.

Stella enxugou as lágrimas.— Sei de seu carinho, do seu amor, mesmo na sua

ausência, sei que sempre se importou comigo. — Jason sorriu tristemente. E comovido deu partida no carro.

Fernando Salvatore aguardava o farol abrir, embora fosse cedo, queria chegar antes de Stella. Deu-se conta de que estava irritado tinha medo de fraquejar com a bebida. Tudo seria um stress. Pois se não bastasse isso, precisava olhar Stella com um olhar profissional.

Seu semblante se fechou. Passou os dedos nos

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cabelos escuros, como se pudesse se acalmar. Stella o agradava, era diferente das mulheres que costumava sair. Perdia muitas vezes o controle diante daquela figurinha. Adoraria estar pronto para se relacionar.

Queria sim, se casar, imaginava uma esposa com personalidade calma para acompanhá-lo nas batalhas do dia-a-dia. Mas queria estar controlado, pois sua condição de alcoólatra o incomodava e muito.

Uma vez contara a seu irmão de seus sonhos. Ele lhe dissera:

— Você! ... Cara. Nunca vi alguém tão agitado e festeiro como você. Não te vejo amarrado maninho.

Fernando riu ao relembrar o fato. Só que ele mudara. Hoje evitava festas, até os amigos estava evitando. Estava virando um eremita.

Da última vez fraquejara. Encontrou Charles no mercado perto de seu apartamento. Conversaram muito, riram bastante, estava tão estressado que aceitara seu convite de ir a um barzinho ali perto.

Fernando sabia que não podia beber. Pediu um suco de laranja, mas ver seu amigo bebendo o uísque, a conversa descontraída, e as torrentes de palavras fizeram-no pedir um uísque também. Ah... Aí foi o estopim, para que sua sede não aplacasse. Como resultado: ele não conseguiu parar de beber, seu amigo teve que levá-lo para sua casa carregado, pois ele ficara tão bêbado que Charles ficou com medo de que ele se afogasse no próprio vômito.

No dia seguinte Charles o acordou e disse que ele precisava sair rápido, pois sua mãe chegaria de viagem e ele não queria que ela o encontrasse.

Acordara com uma dor de cabeça horrível, e pela sensação de mal-estar, a bebedeira não havia passado, ainda sentia o álcool no sangue. Não

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passara em casa, naquele dia, pois sabia que encontraria sua tia que o ajudava na limpeza do apartamento. E ele cheirava mal. Não tinha como disfarçar seu estado. Foi direto para o escritório. Respirou fundo lembrando-se dos olhos assustados de Stella quando o viu naquele estado.

Fernando estacionou o carro, se preparava para sair, no momento que viu logo à frente dele um carro cinza estacionar. A garota beijou o homem do que parecia estar vestido só com um roupão, quando ela fez um movimento para abrir a porta, Fernando viu que a garota era Stella Allan. Viu quando o homem saiu e depositou as malas no chão.

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CAPÍTULO X

Stella saiu do carro e viu a sua frente o carro de Fernando. O ignorou e sorriu para seu pai que a abraçou e lhe deu um beijo leve nos lábios, o viu entrar no carro e acenou quando ele deu a partida, o viu pegar a avenida e sumir na curva.

Quando voltou sua atenção para Fernando, perguntou-se:

Estava paranoica ou havia certo ar de hostilidade no olhar dele?

Tentou deixar de pensar nisso. Estava imaginando coisas. Não estava à espera

dela àquela hora. Além disso, não estava atrasada. O olhar de Fernando percorreu-a e, apesar de

estar vestida de modo apropriado, o mais discreta possível, saia preta, blusa branca com um decote V não muito profundo com botões dourados, sentiu como se estivesse numa exibição. Os olhos negros a observaram com uma negligência estudada. Stella sentiu-se estranhamente fraca. Ela teve que fazer um esforço para não lhe virar as costas.

Por que ele está me olhando desse jeito? Viu ele se aproximar como um felino. Por um

momento, os seus olhos verdes foram capturados e detidos pelos olhos negros dele. Então, sentindo-se obrigada a dizer algo, mesmo que apenas para afastar a seu próprio desconcerto, Stella encontrou as palavras para quebrar o silêncio que havia se formando.

— Bom dia! Não o esperava tão cedo. — Disse-lhe dando o seu mais cintilante sorriso.

Fernando sorriu forçado.— Quis chegar cedo para conferir a lista de

documentos que pedi para você separar ontem. E

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você, caiu da cama?Stella olhou para ele firmemente, detectando

críticas nas suas palavras, mas não havia zombaria na sua expressão agora. Pelo contrário, observou suas mãos trêmulas se colocarem nos bolsos do paletó.

Fernando observou Stella, ela o olhava séria agora. Ela devia ter percebido sua irritação.

Precisava se controlar, não tinha nada a ver com a vida dela. Se ela tinha ou não um amante.

A imagem do homem grisalho só de roupão, veio-lhe a mente. Sentiu seu sangue ferver.

O cara era bem mais velho que ela. Mas que raios uma garota como ela estaria fazendo com um cara bem mais velho que ela?

Stella observou Fernando que já se mostrava hostil novamente.

Será que ela estava imaginando coisas, ou ele confundiu seu pai com um amante?

Fernando num gesto nervoso pegou suas malas e abrindo o porta-malas de seu carro depositou as suas malas.

— Vamos entrar no escritório, enquanto eu olho os documentos você nos prepara uma xícara de café.

— Sim, vamos! — Disse seca. Stella sentiu um crescente sentimento de irritação. O julgamento dele incomodou lhe. Desde que acontecera o episódio com Raul, ela sempre lutou para passar uma imagem de uma mulher madura e séria para os homens. Passou a ser até neurótica em relação a isso.

No elevador Stella lembrou-se que ele havia falado de ir com o motorista. E estranhou o fato dele colocar as malas no carro dele. Ia questioná-lo,

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quando o viu de olhos fechados com as mãos nos bolsos da calça inclinado para trás. Stella não resistindo à tentação, se deleitou em observá-lo.

Ele estava lindo, os cabelos negros levemente despenteados. A expressão serena, cílios longos, moreno e bonito não denunciava de maneira nenhuma fraqueza, mesmo quando desarmado. O nariz reto a linha do queixo forte e voluntariosa. O terno cinza italiano, camisa branca e a gravata vermelha...

Foi então que Fernando abriu os olhos, e quando notou que ela o estava observando, sorriu zombeteiro.

Stella sorriu de volta, um sorriso fraco e sem graça, desviou os olhos e deu graças a Deus, pois nessa hora a porta do elevador se abriu.

Ela apertou os passos, alcançando o corredor se refugiou na pequena área onde ficava a máquina de café.

Fernando entrou em sua sala e viu os documentos que ele pediu em uma pasta. Abriu rápido e verificou os papéis. Conferindo um a um.

Stella dez minutos depois entrava com a bandeja e as xícaras de café. Fernando observou de maneira estudada. Stella pegou a xícara e aproximou-se de Fernando, sentiu o calor e o cheiro masculino do corpo tão próximo ao seu. Stella a colocou na mesa ao lado dele, quando os braços deles roçaram os dela, ficou arrepiada. Stella deu a volta e pegou sua xícara evitou olhá-lo, sorveu o café em pequenos goles, quando o ouviu dizer.

— Está tudo certo. — Fernando colocou na pasta o documento que estava lendo.

Stella colocou a xícara na bandeja. Fernando a encarou sério.

— Estamos sem motorista. Eu irei dirigindo. E não se preocupe que estou sóbrio. Só cansado. — Um

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estranho brilho iluminou aqueles olhos negros — Espero que seu namorado não se importe.

Stella demorou-se em responder de propósito. E o observou. O rosto dele ficou perigosamente sombrio, apesar de ainda manter um sorriso no rosto. Stella lutando para manter a voz neutra, mesmo que por dentro começava a ficar com raiva. Ele tinha se mostrado hostil desde o momento em que a viu descer do carro. Stella pressentia que havia algo de mais pessoal naquilo tudo. Por quê?

— Você se refere ao homem que me trouxe? — Perguntou seca e séria. Surpresa de não estar conseguindo controlar a raiva. Ele parecia ter o dom de mexer com seu sistema nervoso. — Se for, ele não é meu namorado, e sim meu pai.

Fernando ao ouvir aquelas palavras, ficou desarmado e percebeu que aquela era exatamente a reação que ela queria lhe provocar. E ao mesmo tempo sentiu-se bem com a resposta dela.

Fernando então sorriu.— Vi que era um homem mais velho, mas seu pai

é bem conservado. Eu jurava que era seu namorado.

Stella sentiu-se perturbada com aquele sorriso. Tudo nele emanava sensualidade, e o pior era que despertava sua sensualidade. Teve que lutar para não ser dominada.

Fernando então se levantou. — Vamos, então. Temos um longo caminho pela

frente.Stella ia levar a bandeja. Suas mãos estavam

trêmulas com a ideia de viajar ao lado de Fernando.— Deixe aí. Depois a Sra. Sanches leva. Stella lembrou-se bem da senhorinha, que cada

dois dias limpava o escritório. Era uma senhora baixinha e gordinha, devia ter uns 55 anos, mas fazia a limpeza com muita eficiência. Era uma

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mulher sofrida, e muito calada. Stella fez um gesto afirmativo com a cabeça e

seguiu Fernando que já segurava o elevador para ela entrar. Não obstante, não pôde evitar que o coração lhe pulsasse com força enquanto entrava.

Fernando observou Stella, sabia que por mais que ele tenha levado na esportiva em relação ao pai dela, ela ficara ofendida.

Mas como ele iria saber? E que despedida foi aquela?No fundo ele sabia que Stella não era esse tipo de

garota.Meu Deus! O que deu nele!Nunca conhecera alguém tão jovem com

uma personalidade tão forte como a de Stella. Ela era dura na queda, e ao mesmo tempo tinha uma feminilidade que o atraía.

A porta do elevador se abriu tirando-o dos devaneios. Fernando esperou Stella sair. E a seguiu, mas a frieza de Stella o incomodava.

Fernando a alcançou na calçada e praguejou. Neste instante, ele segurou-a pelo braço.

— Stella, me perdoe. — Ela olhou dentro dos olhos quentes de Fernando. Stella mal podia perceber os carros que passavam já freneticamente na avenida. — Sei que te julguei mal, e por isso humildemente peço perdão. — Ele se ajoelhou como um mocinho dos livros de fantasia que pede a mão da mocinha em casamento, e encurvou a cabeça.

Stella não esperava isso dele. Atordoada, ficou sem ação e recordou-se o quão áspero tinha estado essa manhã por causa do mal-entendido.

Mas por que Fernando Salvatore levava para o lado pessoal? Será que ele tinha algum trauma com mulheres desse tipo? Sabia que Fernando era rico, bem sucedido, devia ter pegado ojeriza de mulheres

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interesseiras.Stella resolveu então levar na brincadeira, como

ele, e abriu um sorriso.— Cavaleiro de armadura brilhante, levante-se. Fernando levantou o rosto e viu o sorriso

luminoso de Stella. Ele sorriu e se levantou. Stella de forma descontraída disse:— Vamos esquecer isso. — Você irá escrever o que fiz na areia, onde o mar

leva e apaga? Ou na pedra, onde fica registrado por muito tempo, onde nem o sol, nem o vento que castigam conseguem apagar?

A princípio, a sensação era de simples relaxamento, mas aos poucos, outras emoções a invadiram, quando viu a intensidade dos olhos negros de Fernando.

— Vou escrever na areia, para que sejam apagados... Na verdade, a onda já apagou. Vamos?

— Vamos. — Fernando sorriu, e juntos seguiram até a Mercedes vermelha de Fernando. Ele abriu a porta para ela dizendo. —Hoje gostaria de tirar um tempo para nós.

Stella sentou-se no banco tentando alcançar o que ele queria dizer com um tempo para nós? Quanto mais ela pensava, mais seus joelhos fraquejavam. O viu sentar-se atrás do volante.

— Tempo para nós? — Perguntou.— Sim, reservei um hotel. Vamos nos acomodar

primeiro depois almoçamos. Ah... Reservei um espaço no hotel para trabalharmos.

Fernando ligou o carro e pegou a avenida. Stella o observou ele estava pensativo, tentou desesperadamente encontrar alguma coisa para dizer, mas não conseguiu. Não lhe passava pela cabeça falar de coisas superficiais, e qualquer conversa mais séria seria queria evitar, seria penoso demais para ela. Evitaria a todo custo, ia a

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manter-se distante!Fernando observou à expressão de Stella, ela já

assumira uma postura séria novamente. Aquilo o incomodava, mas era melhor essa distância. Esforçava-se por pensar assim, ele não tinha hoje nada a oferecer. Era um alcoólatra em recuperação.

Ele então a fitou sério e comentou. — Depois de descansarmos, almoçaremos juntos.

Quero te passar o caso que peguei, os detalhes...Stella percebeu que por um momento o rosto de

Fernando ficara sombrio... Ele então desviou os olhos para o trânsito. Stella observou as mãos grandes e os dedos morenos, que apertavam o volante. Algo o incomodava.

O carro começava a ganhar velocidade. Em uma hora e quarenta eles chegariam ao seu destino.

O silêncio reinou. Stella conhecia bem aquela estrada a Autopista Del Sur.

Não tinha aberto para Fernando que viera de Sevilha, e que para ela, era como se voltasse para casa. Conhecia bem aquela paisagem, Stella fechou os olhos e recostou-se melhor no banco.

Casa? Sentia a casa de seu pai, mais sua casa do que a que viveu praticamente a vida toda.

Tinha deixado poucos amigos e amigas, dava para contar nos dedos. Mas as poucas amizades que fizera lhe marcaram a adolescência, sabia que era seletiva...

— Stella, fale-me um pouco de você. — Fernando pediu, de repente.

Stella abriu os olhos e ficou surpresa com o interesse inesperado de Fernando.

Ela resolveu ser sucinta e calmamente falou de si.— Meus pais são separados. Separaram-se

quando eu tinha dez anos de idade. Meu pai se casou logo. Minha mãe também refez sua vida

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casando-se quando eu completei dezenove anos. Nessa época fui morar com papai. Gostei muito da minha madrasta, Eleonora. E me dei muito bem com Raquel, fruto de outro casamento de Eleonora. Hoje moro com papai, pois meu pai sofreu muito com a separação. Éramos muito ligados. Fiz administração como sabe e fiz pequenos trabalhos como freelance.

Fernando avaliou Stella, ela parecia que tinha lhe narrado seu currículo, sempre fria e distante. Voltou sua atenção para Autopista.

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CAPÍTULO XI

Stella fechou os olhos novamente, e se sentiu aliviada, pois Fernando parecia ter dado por satisfeito. Ela tinha tudo planejado... Ao menos achava que tinha. Sem esperanças de ter qualquer envolvimento que não fosse o profissional, e acima de tudo, sem sentimentos de nenhum tipo.

Então Fernando disse, num tom indiferente e calmo:

— Já se apaixonou alguma vez?Stella abriu os olhos e fitou seu colo em seguida,

tentando ganhar algum tempo para acalmar-se. — Por que essa pergunta? — Sua voz saiu calma.— Apenas curiosidade.Ela observou Fernando encolher os ombros. Parecia estar confuso, como se ele próprio

não soubesse o verdadeiro motivo de estar indagando sobre a vida amorosa dela.

— Já. — Respondeu seca.Fernando observou Stella, que agora fitava a

janela. Sabia que ela era uma caixinha de surpresa. Por

isso não estava surpreso com sua resposta.Stella então não se conteve e perguntou.— E você já se apaixonou alguma vez? — Ouviu-se

perguntando, e na hora se arrependeu. Precisava dominar mais seus impulsos, se cobrou.

Fernando sorriu, com um toque de desafio na expressão, como se tivesse conquistado algo. Ele não esperava a mesma pergunta.

Estaria começando a vencer as barreiras dela?— Não! Hoje sei o porquê. A vida que eu tinha,

não havia lugar para um relacionamento sério. Hoje vejo que era uma vida muito fútil, eu me divertia,

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mas saía de lá vazio. Comia mas estava sempre com fome. Entende? E se torna um círculo vicioso, é uma procura constante para preencher esse vazio, pois você acaba se acostumando com as festas, com as pessoas... Hoje dou mais valor aos laços familiares. — Passou as mãos nos cabelos, como se quisesse afastar pensamentos que ainda o incomodavam.

Fernando suspirou, ficou calado por um momento. Stella observou que ele olhava o trânsito com o olhar vazio, como se estivesse longe.

Então disse tristemente.— Isso se intensificou quando meu irmão morreu.

— Stella observou quando os nós dos dedos dele ficaram brancos, de apertar o volante.

Fernando, com os olhos no trânsito, completou:— Infelizmente eu não conhecia outra vida. E

acabei me afundando mais e mais nesse mundo.Stella por um momento ficou imóvel. Não

conseguia dizer as palavras certas. Ele então a observou.

— Stella não gosto desses olhinhos de piedade.— Você está enganado. É que eu apenas não sei o

que dizer. — Stella sorriu e falou bem humorada. — Na verdade sei. Você acordou e entendeu que precisa de ajuda. Quantas pessoas demoram a enxergar isso logo?

Fernando então sorriu. Seus olhos adquiriram uma expressão bem-humorada.

— Eu só preciso conseguir me controlar...— Você irá conseguir! É só ter força de vontade.Fernando então deixou a estrada principal, dirigiu

a Mercedes para os lados do lago e prosseguiu através de uma avenida movimentada até estacionar em frente ao Hotel Palácio de Villa panes, onde foram recebidos por um manobrista. Stella desceu do carro.

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Como era bom esticar as pernas. Fernando abriu o porta-malas e funcionários do

hotel de pronto, as levaram para dentro. O hotel era luxuoso e imponente, Stella sabia que

era um dos mais caros da cidade, tinha dois restaurantes. O mais sofisticado deles só funcionava à noite. Era um dos poucos da região que exigia a frequência com trajes formais e raramente estava vazio. As reservas eram feitas com antecedência

Stella limitou-se a dirigir um rápido olhar para Fernando que sorriu para ela. Pela sua expressão, Stella percebeu que ele sabia que ela estava surpresa pela escolha do hotel. Ele pegou a pasta com os documentos e pegou de leve Stella pelo braço. O porteiro mantinha a porta de vidro aberta, Fernando inclinou a cabeça em um cumprimento.

— Senhor Salvatore, seja bem-vindo! — Obrigada Diego. Depois de pegar as chaves, Fernando e Stella

caminhavam juntos em silêncio no corredor. Ele escolhera os quartos próximos um do outro.

Fernando pediu para o funcionário primeiro colocar suas malas em seu quarto, enquanto Stella aguardava do lado de fora, da suíte, ela o observou guardando o documento em uma gaveta. Ele veio ao seu encontro. Stella observou seu andar confiante, e o comparou a uma pantera negra quando caminhava.

Em seguida Fernando a acompanhou até seu quarto. Entraram juntos. Esperou o funcionário colocar suas malas, deu-lhe uma gorjeta, e o aguardou sair.

Stella apreensiva observava Fernando, pois ele ficou parado ali durante um longo minuto. Stella então sorriu.

— Obrigada. Vamos nos encontrar mais tarde?

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Os espessos cílios dele, tão negros, ocultavam os olhos impenetráveis. Ele se aproximou perigosamente. Stella instintivamente deu um passo para trás. O coração de Stella começou a bater com violência. Estava certa de que os pensamentos loucos que passavam em sua mente transpareciam em seu rosto.

— Calma... É que tem uma folha alojada em seu cabelo.

Stella sentiu seu rosto quente e viu a mão dele erguendo suavemente e tirando uma folha seca.

Stella ergueu os olhos e encontrou os olhos negros de Fernando que tinha um brilho perigoso.

Stella sorriu educadamente e baixou os olhos, esperando ele sair.

Fernando observou Stella. Parecia uma coelhinha assustada. Deu-se conta que precisava dela de um jeito que

ele não conseguia entender.O olhar de Fernando cruzou com o dela. Stella

teve tempo de se recompor. O rosto voltou à cor natural e os olhos brilhavam.

— Quem te feriu, Stella?Quando ela assimilou a pergunta que ele fez, toda

calma dela foi para o espaço. Stella olhou para ele surpresa. Podia sentir o aroma do perfume dele. Reparou nos cílios espessos e escuros, no nariz reto, no olhar terno. E sedutor. Ela sentiu o coração acelerar.

Fernando continuou.— Sim, te feriu! — Disse com veemência E ainda a observando completou. — Você está sempre na defensiva. Não precisa

agir assim comigo. Sei que sabe que estamos aqui por razões profissionais.

Stella respirou fundo. Retraindo-se imediatamente.

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Cada vez que Fernando se arriscava a fazer um comentário pessoal, ela o evitava deliberadamente. E por isso apenas comentou:

— Foi muito tempo atrás. Mas não gostaria de falar nesse assunto. — Surpreendeu-se com a própria voz. Seria o esforço de suprimir a emoção? Ou seria a voz da mulher madura em que se transformara?

— Foi com o homem que você se apaixonou? — Ele insistiu.

Stella desviou o olhar e se se afastando dele, lhe deu as costas.

— Sim, Fernando. Mas isso como disse é passado, e já não me incomoda mais. — Raul realmente ficara no passado. Evitava falar de Raul, não mais por que lhe feria, mas se esforçava para eles, apenas se limitassem, a uma relação profissional.

Fernando foi até ela. Stella sentiu o calor do corpo dele. Sentiu as mãos dele em seus ombros.

— Descanse agora. Ao meio-dia nos encontraremos no salão.

Na suíte do hotel, após banhar-se, vestiu uma calça preta e uma camisa branca de algodão. Enquanto enxugava os cabelos pensava em Stella. Ultimamente ela não lhe saía da cabeça. Fernando olhou para suas mãos, desde aquele dia estava sem beber. Nem um gole, a fissura pela bebida ainda não estava totalmente sob controle. Mas ao menos não ficava pensando toda hora em beber. Sabia que Stella tinha muito a ver com isso, desde aquele dia, aquele trágico dia ele não tomara uma única gota de bebida.

Stella, em sua suíte, olhou-se no espelho. Tinha tomado um banho relaxante de imersão, com sais perfumados. Sentia-se outra pessoa. Examinou seu vestido preto discreto. A única ousadia que se permitiu é que ele era acima dos joelhos. Prendeu

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os cabelos em um coque, a maquiagem bem leve, apenas realçando os olhos verdes.

Fernando estava no salão, fitou o bar, onde pessoas de todos os tipos tomavam seus aperitivos antes do almoço. Desviou os olhos, chegava-lhe a dar água na boca, ao pensar na bebida. Nessa hora viu Stella que entrava passando os olhos pelo salão, quando o avistou. Ela sorriu e caminhava até ele.

Fernando a observou, ela esbanjava feminilidade, observou as pernas longas, branquinhas, com certeza a pele devia ser macia ao toque.

Stella reparou na aparência dele. Como estava atraente naquela camisa branca semiaberta no peito, onde pelos negros se evidenciavam. Tinha um físico bonito, cabelos tão negros que chegavam a brilhar. Sentiu uma vontade louca de tocar neles.

Stella conseguiu perguntar com naturalidade:— Está há muito tempo à minha espera?— Não. — Falou sorrindo. — Você está muito

bonita.Stella sorriu e pegando as pontas do vestido se

inclinou de leve, baixando levemente a cabeça. — Obrigada.Fernando sorriu aberto.— Vamos. Já reservei uma mesa tranquila na

parte externa do hotel. Ele a pegou pelo braço, que já estava virando

costume, e a conduziu para fora.Conforme caminhavam, Stella notou que as

mulheres a olhavam com inveja. Fernando sem dúvida nenhuma despertava atenção, mas parecia não perceber isso. Stella se sentiu bem ao lado dele. Não por ele ser bonito, elegante, ou por causar inveja nas mulheres, mas por ele estar completamente alheio ao que lhe acontecia ao redor. Como se ele estivesse acostumado a ser notado, e fizesse pouco caso disso. Gostava disso

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em Fernando. Sua humildade apesar de ser privilegiado em muitos aspectos.

Stella desviou os olhos delas e se limitou a reparar no lugar. O hotel era decorado em tons pastéis, extremamente agradável. Canteiros floridos estavam espalhados em lugares estratégicos pelo hotel.

Os homens, que frequentavam, maioria eram executivos, poucas mulheres de sua idade. A maioria senhoras, que com certeza acompanhavam seus esposos em suas viagens de negócio, ou turismo.

A parte externa era de cair o queixo. Stella observou impressionada a grande quantidade de plantas, o teto de vidro, mesas espalhadas com toalhas de renda branca enfeitada com vasos de flores vermelhas.

— Lindo! — Exclamou Stella. Ela agora sentia uma calma estranha, semelhante à dos sonhos, a entorpecer lhe o corpo. Aos poucos, parecia se recuperar do esgotamento de ter que se parecer fria, profissional e conseguiu relaxar com ele.

Fernando sorriu. Stella parecia agora muito à vontade com ele. Sentiu-se bem ao lado dela. Ele se agarrou aquele momento, saboreando a felicidade. Mas tinha em mente que o quebra-cabeça ainda não estava completo. Tinha muito a descobrir sobre Stella.

— Que bom que gostou.Fernando tinha escolhido uma mesa de canto, que

tinha vista para a piscina, que agora estava vazia. A água, irradiada pelo sol, brilhava convidativa. Fernando puxou a cadeira para Stella e se acomodou à sua frente.

O almoço foi tranquilo. Logo, a beleza do dia sublimou o humor de ambos, afastando a tensão. Fernando não pensava mais no caso que tinha em

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suas mãos. Que era algo que estava o corroendo por dentro, ambos agora, estavam falantes.

Ela se expressava com naturalidade, parecia que ele tinha conseguido pelo menos, por aquele momento, derrubar a barreira que ela erguera. Falaram de gostos musicais, espetáculos e filmes assistidos.

Fernando analisava Stella detidamente. Ela estava muito bonita. Era uma mulher adorável, e isso lhe provocava o desejo de tomá-la nos braços e beijar aqueles lábios rosa.

Um crescente contentamento tomou conta dos dois, e demoraram-se para sair da mesa. Poucos casais ocupavam agora o restaurante.

Fernando então sugeriu.— Vamos caminhar? Stella sorriu.— Vamos. Onde você sugere?— Vamos para a área externa. — Indicou a

piscina.Fernando a conduziu por entre as mesas, onde ao

fundo havia uma porta de vidro, que dava acesso para a área de recreação. Stella sentia o perfume das flores que se misturava a colônia que ele usava. Caminhavam calados lado a lado, até chegarem ao um jardim formado por labirinto de arbustos. Stella viu um banco à sombra, Fernando sorriu e gesticulou para eles sentarem.

Stella percebeu agora que ele estava tenso.

O clima de há pouco tinha virado. Estava muito pensativo. Ao contrário dela, que gozava a paz do momento. Stella percebia claramente que ele se preocupava com alguma coisa.

Será que ele estava sentindo falta da bebida?Fernando respirou fundo:— Stella, te trouxe aqui para falar do caso que

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peguei.Fernando refletiu calado por um segundo.— Esse caso, eu só peguei por causa de meu pai.

Meu pai sabe ser persistente quando quer. —Fernando desviou os olhos dela e fitou o vazio. — Chegamos a discutir.

O silêncio que se seguiu foi constrangedor, Stella acabou confessando.

— Eu ouvi...Fernando a observou. Os olhos verdes agora o

fitavam atentos. Stella sorriu. Aquilo o incentivou e ele continuou.

— O amigo de meu pai, é o avô de um menino. O neto é filho de seu filho, João Martinez, que já está separado há um ano. Ele quer que o Juiz passe a guarda definitiva para seu filho. Segundo ele, o menino é negligenciado pela mãe, Andréia de Pádua.

Fernando passou as mãos pelos cabelos. Stella já estava familiarizada com esse gesto, ele o fazia sempre quando estava nervoso, tenso, preocupado...

Fernando contraiu os lábios. — Já fiz isso muitas e muitas vezes, sem dó.

Juntava provas, constatava que procedia o argumento de mãe relapsa e lutava na justiça para o pai ter a guarda definitiva.

Fernando se levantou e ficou por um momento de costas para ela. Stella permanecia sentada. Não queria forçar. Seu coração agora se apertava, pois era nítido que estava travando uma luta interior.

— Andréia de Pádua, a mãe, é alcoólatra.Stella se levantou tocou seu ombro. Fernando se

virou, ele sorriu de leve, mas seus olhos brilhavam, parecia que se controlava para não chorar.

— Fernando o menino sofre, deve estar sofrendo. Não há motivos para você ficar assim.

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Fernando a puxou e a fez sentar-se novamente e sentou ao seu lado. Virou-se para ela, de forma que ficassem frente a frente.

— Você não entende não é? Stella, que moral eu tenho para tirar o filho de uma mãe? Se eu enfrento também esse vício?

Stella ficou séria e foi firme.— Não pense assim. Não pense no seu vício, não

pense na mãe, pense no menino. Nós viemos aqui para você juntar provas, não é?

Fernando concordou com um gesto de cabeça, mas seu semblante continuava sombrio.

— Então, se comprovar o fato dela negligenciar o filho, faça o que tem que fazer.

Fernando sorriu e seus olhos ficaram mais intensos, balançando a cabeça disse calmamente.

— Eu te entendo Stella. Sei que quando não estamos vivenciando um problema, temos um olhar prático daquilo que entendemos ser certo. E você é mulher, olha com os olhos de uma mãe, e a julga, pois não tolera a negligência.

Fernando então a fitou sério.— Stella, só eu sei, o que é viver com essa doença.

Incurável, mas controlável. E estou certo que se eu tirar o filho dessa mãe, essa mulher irá se afundar na desgraça. Pois ela bebe não porque quer, ela bebe porque é doente. Ela precisa de ajuda, e não de julgamento. Ela precisa de uma mão que possa a reerguer novamente. Ela precisa de uma chance para se recuperar, para ela ver que é possível passar um dia sem colocar um copo de bebida na boca, e que a luta é diária, todos os dias ela precisa vencer o vício. — Fernando disse emocionado.

Stella percebeu que ela levou para o mundo da racionalidade e do bom senso. Sentiu-se péssima. Fernando não olhava com os olhos da razão, mas ele tinha a sensibilidade de ver o ser humano acima

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dos fatos. E por vivenciar o que aquela mãe passava, sentir na pele a luta para ficar sóbrio, tomou o problema de Andréia de Pádua para si.

Seu coração se inundou de um sentimento de amor por Fernando. Embora Raul tivesse mexido com seu ser, nada era comparado a esse homem que agora estava a sua frente com os olhos marejados de lágrimas.

Eu o amo. Lágrimas ameaçaram extravasar, e tratou de

reprimi-las.Não vou chorar! Não vou chorar! Não vou chorar!Stella, não se conteve e o abraçou. Fernando

ergueu o rosto de Stella e a viu com os olhos marejados de lágrimas. Ele então beijou seus olhos com tanta delicadeza, que Stella naquele instante viu que não podia mais lutar, parecia que o mundo estava de ponta cabeça e era natural ficarem abraçados, beijando-se.

— Stella... — Fernando tomou sua boca, num beijo incrivelmente quente. Com um passe de mágica Stella se viu no colo de Fernando, que agora explorava sua boca com a língua, tirando de Stella arrepios.

Stella se ainda nutria dúvidas, naquele momento dissipavam-se. Abraçou Fernando com força, sentindo o prazer crescer cada vez mais, até o mundo desaparecer. Tudo ao seu redor reduzia-se a nada, apenas a sensação de um doce calor do corpo de Fernando, seus lábios num beijo cada vez mais exigente, misturada a palavras sussurradas incompreensíveis, quando ele lhe beijava o pescoço.

Eles ficaram um bom tempo, abraçados. Stella ainda em seu colo, quieta, de olhos fechados sentindo a fragrância da colônia que ele usava. Foi então que ela caiu em si e afastou-se envergonhada...

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Fernando sorriu e disse irônico.— O que fizemos agora, não tem volta. Não

poderemos nos falar como se nada tivesse acontecido.

Stella sorriu com suavidade, e passando o dedo em seus cabelos, disse:

— Eu sei.Fernando então pegou sua mão e deu um beijo

quente em sua palma. — Stella, não queria que fosse assim. Ainda estou

lutando com essa doença, não pense que planejei isso tudo... —Stella acreditou em suas palavras. Ele não havia planejado nada... Apenas acontecera.

Stella o calou com um beijo. Fernando nunca tinha sentindo o que sentia por ela. Seu coração batia agitado no peito, com uma paixão crescente.

Quando se afastaram, Stella sorriu, confirmando que ela sabia da veracidade de suas palavras, que foram surpreendidos pelo amor.

Sim pois ele a amava. Mas ainda não se sentia digno de dizer que a amava... Queria vencer a bebida, pois ainda não confiava em si mesmo. Queria fazer isso por ele mesmo, e depois por Stella.

Stella fitou-o preocupada.— E agora? O que você fará a respeito desse

caso?Fernando sorriu tristemente. — Essa noite, eu não consegui pregar os olhos

pensando... E cheguei à conclusão que irei investigar, colhendo as informações, depoimentos de vizinhos, pessoas próximas a essa mãe. Vou averiguar se tem fundamento. Vou ser advogado, mas também nesse caso serei promotor. Essas informações são feitas em qualquer caso, sempre averiguamos se tem fundamento ou não, é praxe.

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Caso se confirme, vou sugerir ao juiz que ela entre numa clínica de reabilitação, ou fazê-la frequentar o AA. E estipular um prazo para ela se recuperar, sugerir que uma assistente social acompanhe dia-a-dia o caso, para averiguar se ela se recuperou. Só então, depois disso, quero, mediante os fatos, ver até que ponto esse filho é importante para ela. Se Andréia de Pádua, se importar com o filho, eu tenho certeza que ela irá se recuperar. Caso não. Ai sim, eu lutarei na justiça para que a guarda seja do pai.

Fernando balançou a cabeça e se levantou. — O problema, é que estou sendo pago pelo pai, e

não sei se ele irá olhar com bons olhos o que vou propor. Sei que estou entrando em uma guerra. Pensei em fazer tudo isso debaixo dos panos, e quando estivermos na presença do juiz eu propor a recuperação de Andréia. Mas estaria infligindo à relação cliente e advogado. Eu estaria passando por cima de um juramento que eu fiz, da ética, que é a de ser claro em todos os passos que darei no caso, com um cliente.

Fernando, num gesto exasperado, passou as mãos com força nos cabelos e se queixou com vivacidade na voz.

— Por que tudo é tão difícil?Stella se levantou também e pegou a sua mão

esquerda, que ainda era trêmula, pela abstinência da bebida, e levou aos lábios. Fernando sorriu, e a puxou para si. Stella passou os braços pela cintura dele e colocou a cabeça em seu peito.

Assim abraçados ele lhe confessou:— Stella você não sabe, mas você tem sido minha

força para me manter sóbrio. Toda vez que penso em beber, me lembro do fatídico dia, em que você me viu naquele estado. Ainda hoje eu olhei para o bar do hotel, com um desejo de extravasar o que sinto: a pressão, frustração em um copo de bebida.

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Ele fez uma pausa e continuou.— E pensar que precisei cair na desgraça para me

questionar: Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida? E mesmo assim não parei, até você aparecer.

Stella se afastou dizendo:— Fernando, não se martirize mais... Tenho

certeza que você de alguma forma conseguirá administrar essa situação.

Fernando sorriu fraco.— Espero Stella.Fernando lhe lançou um olhar terno:— Vamos subir? — Subir?Fernando sorriu largo:— Sim, subir. Sabe que horas são?Stella viu que já esfriava e sorriu.— Sei que é bem tarde.— Stella. São cinco e meia. Nós almoçamos e

passamos à tarde juntos e nem sentimos as horas passarem.

Fernando então a abraçou e percebeu que os braços dela estavam gelados.

— Vamos. Se você ficar doente, me sentirei mais culpado.

— Vamos então! — Stella o puxou pela cintura. Eles abraçados, e em um silêncio não mais

constrangedor, fizeram o caminho de volta a suíte. Enquanto caminhavam, Stella não parava de pensar o que faria caso ele quisesse entrar em sua suíte. Não queria estragar tudo, sentia uma estranha sensação de leveza e liberdade. Mas ainda não se sentia segura em estar com ele em um quarto fechado, não tinha medo dele, mas dela mesma.

Em frente à suíte de Stella eles pararam. Ela sorriu sem graça.

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— Fernando... Eu...Fernando sorriu e colocou o dedo em seus lábios.— Shh... Não precisa fazer essa carinha

preocupada que eu não vou entrar. Sei meu limite. E você é uma tentação para mim. Sempre foi. Desde o primeiro dia em que a vi. O que me chamou atenção em você foi seu jeitinho certinho: tão jovem e tão segura, tão séria. Você me despertava um desejo irresistível de te tirar do sério.

— Agora é minha vez.Fernando ergueu as sobrancelhas. — Sua vez?Stella sorriu.— Você me despertou atenção, desde o primeiro

dia. Tive que me esforçar muito para manter essa máscara de mulher séria e comportada com você. Você me tirava do sério.

Fernando riu com gosto.— Não parecia. Você sabe disfarçar muito bem!Stella sorriu e sentiu seu rosto esquentar. As

pupilas de Fernando escureceram, tornando seus olhos mais negros e brilhantes. Ele baixou a cabeça e tomou a boca de Stella em um beijo apaixonado. Quando se afastaram ambos estavam ofegantes.

Stella tirou a chave do bolso lateral do vestido e abriu a porta. Fernando beijou-lhe de leve os lábios e se afastou. Stella fechou a porta e encostou-se nela. As pernas pareciam gelatinas. Se não fosse o caso difícil que ele tinha nas mãos, e que a preocupava naquele momento, nada apagaria a felicidade que estava sentindo.

Stella deitou-se na cama como que a sonhar. Não pretendia de maneira nenhuma se envolver com Fernando.

Deus era testemunha de como o resistiu. Então, lembrou-se da humanidade de Fernando, a

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sua preocupação com Andréia, seu coração se encheu de ternura, aquilo foi o estopim que ela precisava para quebrar nela qualquer julgamento da falta de caráter de Fernando. Dissipando todo o trauma que Raul havia deixado.

Percebeu que Fernando, na verdade, sempre tinha guardado dentro dele os valores familiares, compaixão, sensibilidade... Que foram aguçados quando ele caiu na realidade, e saiu do mundo da futilidade.

Stella depois de um banho revigorante. Demorou a ficar pronta. Seu coração batendo mais depressa na expectativa de se encontrar para jantar com Fernando. Sua demora se devia ao fato de trazer vestidos sóbrios, havia se preparado para estar ao lado dele como uma profissional, a questão era, que agora a incomodava não ter caprichado na escolha dos vestidos.

Por fim, depois de verificar os vestidos, optou por um longo azul marinho. Caprichou na maquiagem, mas não a carregou, não queria nada forçado, sempre achou a maquiagem bonita quando puxada para o natural.

Mais uma rápida olhada no espelho, foi para o salão ao encontro de Fernando.

Fernando estava nervoso, parecia um adolescente. Se pudesse, com certeza, já tinha tomado um copo de uísque com duas pedras de gelo. Mas sabia que se tomasse alguma coisa não tinha a capacidade de parar.

Quando viu Stella ficou durante alguns instantes parado, hipnotizado pela figura feminina que se aproximava, o vestido era discreto, mas marcava-lhe levemente o corpo, a cintura e os quadris.

Fernando se aproximou dela devagar saboreando o momento, que parecia um reencontro. Como se tivesse passado dias sem se verem. Stella agora o

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tinha visto. Sorrindo caminhava para ele. Stella observou Fernando que lhe sorria. Como estava atraente naquele terno esporte bem cortado!

Fernando lhe pegou as mãos frias e lhe beijo a testa.

— Reservei um lugar especial para nós. Não quero estar com você em um lugar cheio de gente.

Stella sorriu. De mãos dadas, Fernando a conduziu por um corredor, onde dava a um salão iluminado a meia luz, onde casais dançavam ao fundo ao som jazz suave, tocado por um grupo de seis homens de meia-idade.

O Maitre os conduziu a uma mesa ao fundo, iluminada por uma pequena lamparina em forma de bola de cristal. Fernando afastou a cadeira para Stella, ela se sentou. Ele se acomodou a sua frente sorrindo.

Stella sabia que Fernando frequentava aquele hotel toda vez que viajava para Sevilha. Stella agora se perguntava se ela era a primeira garota que ele trazia para aquele local.

Fernando observou Stella distraída observando os casais que dançavam. Fernando tocou sua mão direita, que estava depositada na mesa. Stella voltou sua atenção para ele.

— Gostou do lugar?— Sim muito agradável. — Eu nunca estive aqui. É minha primeira vez

também. Stella sentiu certo alívio, já estava se sentindo

mais uma conquista de Fernando. E sorriu para ele, se sentindo tola em pensar que ele pudesse ter trazido alguma mulher ali. Pois o lugar parecia ser feito para casais apaixonados.

Fernando sorriu zombeteiro.— Perguntei ao gerente do hotel se havia um

lugar tranquilo para um casal apaixonado.

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Ele apertou sua mão. Fernando estava lendo o que lhe passava pela cabeça. Houve um silêncio entre os dois, depois ele pegou no rosto dela.

— Hoje é um dia especial.Stella gracejou: —Dia especial?— Sim, pois estou ao lado de uma mulher

especial. — Eu estou muito feliz também, Fernando.Fernando sorrindo lhe passou o cardápio. — O que você gostaria de provar?Stella observando o cardápio pediu.— Eu gosto muito de salmão, mas estou indecisa,

pois há pratos variados. O que você sugere?— Com molho branco é muito bom. — Fernando

ficou sombrio de repente. — Stella se você quiser pedir alguma bebida, vinho, champanhe...

— Fernando, não. Um suco de abacaxi seria maravilhoso.

— Stella... Preciso me acostumar a ver as pessoas beberem, e ser forte o suficiente para resistir à tentação.

— Eu te entendo, mas hoje não. Quero estar sóbria também para gozar cada minuto com você.

A resposta de Stella, o agradou o suficiente, pois ele não tocou mais no assunto.

Depois de jantarem, Fernando a convidou para dançar. Tocava uma música lenta, extremamente melodiosa e agradável.

Ele a envolveu antes que ela pudesse se preparar para a intimidade daquele contato. Ficou trêmula ao sentir o calor daquele corpo, debaixo do tecido fino de sua camisa.

Dançaram em silêncio. Os corpos moviam-se como se estivessem muito acostumados um com o outro. Stella olhava para a camisa preta, sem ousar levantar o rosto. Por fim, a mão dele comprimiu sua

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cintura fina, puxando-a mais para perto, e ela não pôde deixar de enrijecer o corpo, entre os braços dele.

— Relaxe — ele murmurou junto aos cabelos sedosos.

Stella fechou os olhos e se deixou conduzir. Sentindo o cheiro dele, ouvindo sua respiração e as batidas de seu coração. Como era bom, estar assim. Agradeceu aos céus, pela música ser suave, não estridente, que lhe permitiu provar o sabor da intimidade.

A noite havia sido maravilhosa, digna de um conto de fadas. Stella e Fernando, abraçados, subiram calados até a suíte. Em um silêncio cúmplice, prazeroso.

Fernando esperou Stella abrir sua porta e disse a meia voz, pois já era muito tarde.

— Amanhã começaremos nosso trabalho, eu já tenho uma solução para o caso.

Stella perguntou ansiosa:— Que solução?Fernando ignorou sua pergunta e beijou lhe os

lábios.— Fale-me. — Stella insistiu.— Amanhã, Stella. Agora durma com os anjos.

Dez horas nos encontramos no saguão. — Beijou-lhe a testa com um beijo longo e delicado. Afastou-se e se dirigiu a sua suíte ao lado.

Stella observou-o procurar as chaves no bolso, e quando ele abriu a porta, lhe deu um último sorriso e entrou.

Ela entrou em seu quarto. Suspirou... Sentia um misto de felicidade e expectativas para o dia seguinte. Não sabia o que Fernando tinha resolvido, mas sabia que ele seria sensato sem sua resolução, parou diante da janela, e observou a piscina iluminada, o céu estrelado anunciando que amanhã

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faria um belo dia de sol.Stella acordou cedo, vestiu uma saia preta,

camisa branca e sapatos de salto alto. Prendeu os cabelos fazendo um coque. Maquiou-se levemente.

Ansiosa andava de um lado para outro no quarto. Aguardando o horário de descer. Às dez horas, desceu e esperou Fernando no local combinado. Ansiosa estranhou o fato de ele não aparecer no horário combinado.

Será que ele tinha perdido a hora? Estava para subir e bater na porta da suíte de

Fernando, quando um rapaz jovem passou por ela e a observou.

Stella não reparou, pois com os olhos procurava Fernando. Ele voltou e parou à sua frente.

— Stella!Stella voltou sua atenção para o rapaz. Henrique

estava ali parado com um sorriso largo no rosto. Ela lhe sorriu de volta surpresa, disse alegre. — Henrique, que surpresa! — Ela observou o

terno do rapaz bem cortado. — Está aqui a trabalho? — Henrique estava muito diferente da época em que tiveram um namorico. O terno dava a ele um ar de executivo de sucesso. Ele se formara em administração, estudaram juntos, na mesma turma.

— Estou, apontou uma mesa onde homens o aguardavam. Só vim aqui te cumprimentar. Vou te ver mais vezes? Você está hospedada aqui?

— Sim, estou aqui a trabalho também. Nessa hora Fernando chegou. Ele encarou o

rapaz com o rosto duro e frio. E perguntou para Stella.

— Algum problema Stella?— Não. — Stella voltou sua atenção para o rapaz.

—Henrique Félix é um amigo. — Dirigiu-se a Fernando sua atenção agora e fez as

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apresentações. — Henrique, esse é Fernando Salvatore, meu chefe.

O jovem não se deixou intimidar por Fernando que o olhava agora com ar de hostilidade. Henrique disse educado.

— Prazer em conhecê-lo. — Henrique estendeu a mão, que Fernando apertou a contragosto, Stella então sentiu os olhos de Fernando sobre ela.

Henrique a beijou no rosto. — Foi bom reencontrar você. Mais tarde estarei

livre. Podemos bater um papo, relembrar os velhos tempos?

Stella sorriu, e não conseguiu responder, pois Fernando interrompeu, falando por ela:

— Temos muito trabalho a fazer. Não será possível, mas sei que sabe como é o mundo dos negócios, eles não esperam.

Henrique sorriu aberto.— Sim, claro. Eu entendo. — Voltou sua atenção

para Stella. — Quem sabe outra hora então… — Mediu Stella da cabeça aos pés — E você Stella, continua linda!

— Obrigada. — Stella sorriu.Quando o rapaz virou as costas, Fernando se

queixou.— Não posso me ausentar um minuto que os lobos

atacam.Stella achou graça. Observou-o carrancudo.Ele estava com ciúmes? — Eu estudei administração com ele, éramos da

mesma turma. Namoramos por um tempo, mas não evoluiu para algo mais sério.

Fernando perguntou seco.— Ele é o homem que você amou?Stella o fitou séria.— Não Fernando. Fernando a pegou pelo braço. Como se quisesse

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dar por encerrado esse assunto.— Vamos. Stella se deixou conduzir, atravessaram o salão do

hotel até uma área privativa, passaram por uma sala de reuniões, que deveria ser o centro de convenção do hotel e entraram em um escritório equipado com um computador, impressora e telefone.

— Sente-se Stella. — Fernando apontou a cadeira para Stella e puxou outra para ele e sentou-se de frente para ela. Ele parecia mais preocupado do que irritado, enquanto a examinava com uma expressão muito séria.

Stella não conseguiu deixar de notar como ele estava lindo, examinou a calça jeans, a camisa polo branca, era a primeira vez que o via vestido menos formal.

— Hoje cedo eu fui até a casa de Andréia.A pasta que Stella tinha separado para Fernando

continha o endereço de Andréia, a certidão de nascimento do menino, endereços de lugares que ela costumava frequentar, nome dos vizinhos próximos à casa dela, nome da empresa que ela trabalhava, os horários que ela saía, endereço do trabalho, até o nome do chefe. Fontes que o próprio avô do menino havia passado para seu pai. Em posse disso, Fernando tinha ido à casa de Andréia, se apresentou como futuro advogado de João Martinez, seu ex-marido.

Andréia não quis abrir logo a porta de seu apartamento num bairro da periferia de Sevilha. Fernando sabia que a encontraria cedo no apartamento. Segundo os relatórios ela saía para trabalhar às oito horas, deixava seu filho em uma creche no caminho ao trabalho.

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CAPÍTULO XII

Stella fitou-o séria e ansiosa apertou as mãos no colo. Fernando passou as mãos nos olhos.

— Me apresentei a ela, como futuro advogado de seu ex-marido. Deixei claro que não ele ainda não era meu cliente, que estava ali numa visita extraoficial. Que estava ali não como inimigo. Mas queria ajudá-la, ouvir a versão dela, pois segundo João Martinez, ela negligenciava o filho, pois era alcoólatra.

Fernando narrou para Stella então a cena que se seguiu...

Andréia afastou o corpo da porta e o deixou entrar. Fernando entrou no apartamento. Um apartamento extremamente simples, mas limpo, mas estava bem desarrumado, pois brinquedos estavam espalhados por toda a sala.

Fernando tirou um carrinho e se sentou no sofá enquanto ela se sentava em outro e o observava assustada. Ela era uma mulher com traços bonitos, mas tinha uma expressão sofrida, cabelos estavam desalinhados e eram negros e ralos. Era muito magra, extremamente magra. Fernando observou-lhe as mãos que tremiam que poderia ser pelo vício ou pelo nervosismo da presença dele ali.

— Sra. De Pádua, como disse, ainda não peguei esse caso. Primeiro verifico os fatos, se procede à acusação, só então, que assumo o caso.

Fernando a fitou com o olhar compreensivo. E continuou...

— Mas quero deixar claro que mesmo que se configure o fato de a Sra. realmente sofrer com a doença alcoolismo. — Andréia o fitou surpresa... — Sim, pois é uma doença, e tem tratamento. Eu irei propor à justiça a sua reabilitação. Seu filho tem seis anos, não tem?

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Andréia concordou.— Sim, ele tem seis anos.Fernando a fitou sério.— Essa idade para uma criança é de fundamental

importância a presença de uma mãe. Ele já criou laços fortes. Eu estou ciente disso. Por isso quero te ajudar. Mas gostaria que você fosse sincera comigo. E me responda: Você sofre da doença: Alcoolismo.

Andréia colocou as mãos no rosto e chorou por um momento, e depois levantou a cabeça confessando.

— Sim. — Ela então nervosa completou. — Mas não negligencio meu filho. Eu bebo a noite quando ele está dormindo. O único problema é que muitas vezes falto no emprego, pois estou de ressaca. — Então ela se justificou. — Mas não saio para beber, bebo aqui mesmo.

Fernando pegou seu lenço e estendeu para Andréia.

— Então se eu investigar sua vida e perguntar aos vizinhos, eles confirmarão sua versão?

Andréia ficou branca, como papel. Demorou um pouco para responder.

— Não totalmente, pois uma vez, mas somente uma vez, eu pedi ajuda a uma vizinha para ficar com Felipe para mim, pois não me encontrava em condições para olhar ele, estava bêbada, isso foi em um sábado.

Fernando a fitou sério, não mais com olhos compreensivos.

— Sra. de Pádua eu sou alcoólatra. Todo dia tenho que vencer o vício. Conheço sua doença. — Mostrou-lhe as mãos trêmulas. — Isso é abstinência da bebida. Por isso não estou aqui para julgá-la, mas para ajudá-la. Quero propor ao seu marido sua recuperação. A senhora será assistida por uma assistente social. E conseguiremos para a senhora

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uma clínica de reabilitação, ou se a senhora preferir o AA. Eu frequento o AA, e há pouco tempo caí na tentação, não será fácil, não vou enganá-la, mas você tem como estímulo seu filho. Você vai lutar contra essa doença por ele. Vou propor ao juiz o acompanhamento da senhora durante um ano. —Fernando então suspirou. — No entanto, se a senhora não se esforçar, e tiver recaídas, eu não serei caritativo. E sem dó, passo a guarda de seu filho para seu ex-marido.

Andréia o fitou séria. Nessa hora a conversa fora interrompida pela presença de seu filho, um menininho de pijama azul corria para os braços dela. Fernando observou a cena, ainda sério.

Não teria dó, ou ela resolvia mudar de vida, ou ela sofreria com o fruto de sua ação. Sabia que era possível se controlar, ela tinha uma motivação, que era o amor de seu filho.

Fernando então perguntou:— A senhora está disposta a mudar? Lutar contra

essa doença? — Fernando frisou então. — Incurável, mas controlável?

Andréia beijou o menino e fez que sim, com um gesto de cabeça.

— Quero ouvir verbalmente. — Fernando falou duro.

— Sim. Eu quero lutar. Não quero perder Felipe.Fernando então abriu a pasta e tirou um acordo,

onde firmava o compromisso de Andréia em se dispor a se recuperar, e lhe deu para assinar.

—É um acordo, onde você se compromete a se tratar e não atrapalhar o trabalho da assistente social. Ela acompanhará seu caso. Muitas vezes chegará em horas impróprias. Você não deverá evitá-la, e sim recebê-la. Pois é de fundamental importância que ela acompanhe seu caso. Pois o parecer de sua “cura”, será dela. É ela que irá

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avaliar se você tem condição ou não de criar seu filho. Ela poderá sugerir também que você passe por ajuda psiquiátrica.

Fernando então explicou:— Antes de se iniciar o tratamento da

dependência química do álcool é indispensável fazer uma avaliação clínica apurada para avaliar qual o tipo de tratamento adequado para cada caso. A população de dependentes de álcool é bastante heterogênea. Um alcoólico só é igual ao outro se olhado à distância. O sofrimento é sempre diferente. Logo de cara, deve-se avaliar se além da dependência química existe uma co-morbidade psiquiátrica, principalmente depressão e ansiedade. Esse diagnóstico é importante, pois é comum instalarem-se quadros de depressão e ansiedade e existe uma relação significativa entre uso de álcool e esses transtornos psiquiátricos. Senhora Andréia, tratar só do alcoolismo e esquecer a depressão de nada adianta, porque ela é um mecanismo poderoso que induz as recaídas.

Fernando fez uma breve pausa, pois o menino exigia atenção da mãe. Andréia lhe deu um brinquedo, que ele logo se distraiu e Fernando continuou.

— Por incrível que pareça, o fato da pessoa ter as duas doenças melhora o prognóstico, se elas forem identificadas e o paciente receber tratamento efetivo para cada uma delas. Controladas a depressão e a ansiedade, o fator de risco que estaria perpetuando a dependência do álcool desaparece e a evolução do quadro é muito melhor.

Andréa o encarou, séria e disse firme.— Eu farei qualquer coisa para não perder meu

filho. —Fernando aliviado em ouvir a ênfase dela, então lhe estendeu o Acordo, que Andréia depois de ler assinou.

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Então ela desabafou desanimada:— Sr. Salvatore, meu ex-marido não aceitará sua

proposta, pois desde que nos separamos, ele quer me tirar Felipe.

Fernando sabia da guerra que estava entrando, pois quando o procuravam era para vencer a guerra e não para entrar em acordo. Sabia que isso era fruto de seu trabalho, pois a Advocacia Salvatore era conhecida por vencer as causas.

— Fique tranquila. Se ele não aceitar, eu serei seu advogado.

— Mas eu não tenho como lhe pagar pelos seus serviços.

— Eu te representarei sem custo algum.Andréia soltou seu filho dos braços e correu até

Fernando e chorou em seus braços. Fernando ficou duro sem ação.

Quando a afastou lhe disse duro.— Agarre então essa oportunidade. Se esforce.

Você vai conseguir!Andréia fez um gesto afirmativo com a cabeça...Stella com lágrimas nos olhos, ouviu Fernando e a

cada cena que ele contava, brilhava em seus olhos a admiração, jamais pensou, nem em sonho que trabalharia para um homem, que a cada dia que conhecia, revelava sua nobreza de caráter.

Fernando então se levantou.— Você irá agora bater um contrato, onde

colocaremos uma clausula, que somente assumirei esse caso, se o Sr. Martinez aceitar que vou propor ao juiz a recuperação de sua ex-esposa Andréia de Pádua... — Fernando fez uma pausa, parecia estar angustiado. — E caso ela não consiga a recuperação, que será assistida por uma assistente social, aí sim lutaremos para passar a guarda ao Sr. Martinez. — Stella entendeu sua angústia. Fernando sentia na pele o esforço para vencer a

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barreira do vício. Stella sabia que no íntimo dele, ele tinha medo que Andréia fracassasse.

Stella se levantou e o abraçou. Fernando a abraçou apoiando a cabeça entre seus seios.

— Fernando. Sei que está preocupado. Ela irá conseguir. Ela ama o filho, sei que irá se esforçar.

Fernando suspirou entre seus seios. Stella estremeceu com a sensação que ele lhe despertava. Além do grande amor, que nasceu conforme foi conhecendo Fernando.

— Não sei Stella. Sei o quanto é difícil vencer esse maldito vício. Há três dias eu estava bêbado. Você sabe disso.

— Ela tem um estímulo. Talvez ela precisasse disso para sair do vício. Ela sabe que se não colaborar, ela perde a guarda.

Fernando ergueu a cabeça, os olhos negros de Fernando, fitou os olhos verdes de Stella. Ele muito sério confessou-lhe.

— Você tem sido meu estímulo, sabia?Stella sorriu.— Você já me disse. E eu fico muito feliz... Fernando tomou sua boca num beijo apaixonado,

a fez sentar em seu colo e suas mãos corriam o corpo de Stella. Fernando sentiu o quanto precisava de Stella, o amor que sentia por ela foi latente. Sufocou um gemido; Ele tinha esquecido do poder que ela exercia sobre ele, estava para perder o controle e ela mal o tocara. Veio com força a cena do jovem que a abordou. Um sentimento de posse, jamais sentido o dominou. Isso fez transformar seu beijo num beijo selvagem. Não mais terno.

Stella o afastou com força, passando a mão pelos lábios machucados.

— Você me machucou.Fernando se levantou.— Perdoe-me... Estou tenso, sei que isso não

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justifica. —Fernando passou as mãos nos cabelos negros.

Stella o fitou séria.— Isso não justifica, mesmo! Você me beijou como

se quisesse me punir! — Exclamou Stella.Fernando suspirou e confessou.—Tudo bem. Eu me lembrei do jovem que te

abordou. Confesso! Incomodou-me o fato de você sorrir para ele. —Fernando se aproximou e disse seco. — Você mal sorria para mim até pouco tempo atrás!

Stella suspirou.— Ele é apenas um amigo querido. E eu não

sorria para você, pois lutava com meus sentimentos. Lutava pelo fato de você me atrair, e muito.

Fernando se aproximou de Stella e abraçou.— Perdoa-me, perdoa-me.Stella disse com voz tremula entre o peito dele,

que cheirava colônia misturada à roupa lavada.— Tudo bem. Vamos passar uma borracha nisso

tudo.Fernando então baixou a cabeça muito

lentamente e o coração dela começou a bater mais depressa. Ele beijou-lhe levemente o rosto, depois atrás das orelhas, por fim começou a descer pelo pescoço. Ela estava sentindo uma espécie de letargia, que a deixava incapaz de se mexer.

Então ele se afastou, resignado. E com um olhar irônico, disse em tom de brincadeira.

— Stella. Preciso lembrar-me que você está trabalhando para mim. — E concluiu sério. — Vamos acabar nos perdendo profissionalmente.

Stella concordou séria.— Eu sei disso. Fernando pegou a pasta na mesa e abriu e tirou

todas as informações que precisava para que Stella

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digitasse o contrato.Stella então perguntou-lhe, enquanto ligava o PC.— Quando você verá o Senhor Martinez?— Hoje à tarde.Fernando então se deu conta que Stella não tinha

tomado café.— Meu Deus Stella. Você não comeu nada até

agora.Stella confirmou.— Não.— Eu fiquei tão envolvido com o caso que me

esqueci por completo.— E você, Fernando? Você comeu alguma coisa?Fernando sorriu.— Não. Vou pedir para nos servirem aqui.Stella pediu séria.— Eu quero estar presente quando você falar com

o Senhor Martinez.— Não Stella, pois não sabemos o tipo de gente

que estamos lidando. Não quero que você corra nenhum risco.

Stella se levantou, e falou com veemência.— Mas é por isso mesmo! Temo por você. Comigo

aqui, irá inibi-lo se ele quiser te fazer algum mal.Fernando disse violento.— Não! — Então suspirou e disse sério. — Volto

logo. Vou pedir o café.Meia hora depois tomavam café em silêncio.

Fernando tinha pedido croissant, café fresquinho, leite, frutas variadas, iogurte e um pote de granola.

Fernando se sentia mais confiante. Um peso saiu de seus ombros depois que conversara com a Andréia. Ficara mais animado depois que ela assinou o Acordo.

Agora tinha meios para argumentar com João Martinez. Mesmo que ele não o assinasse, sua consciência estava limpa.

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Stella, aliviada, observava Fernando, ele agora estava sereno. Sabia que se devia ao fato de ter conseguido com que Andréia tomasse a resolução de deixar o vício pela guarda do filho.

Stella suspirou, lambendo os dedos.— Desse jeito não vamos almoçar.Fernando sorriu aberto.— Você quer dizer jantar. Pois podemos almoçar

mais tarde. Esse hotel é ótimo por isso. Aqui não tem horários rígidos, pois a maioria dos frequentadores são altos executivos. Por que você acha que eu o escolhi?

Dez minutos depois Stella voltou a digitar o contrato. Fernando observava a janela de costas para ela.

— Pronto.Fernando se virou. Ele pegou o documento que

ela estendia. Ele leu e releu. E disse sério.— Agora suba, descanse... Se quiser ir à piscina, o

dia está lindo. — Na mesma hora lembrou-se do jovem que a abordou. Ela estaria agora sozinha...

Mas que diabos! Precisava confiar em Stella!

Descobriu-se um verdadeiro machista. Tentou não pensar na presença do rapaz no hotel. Afinal ela estava com ele!

Stella argumentou.— Fernando! Eu gostaria de ficar.— Stella, não seja teimosa. Enfrentei piores tipos.

Sei me cuidar. Às vezes estamos fazendo tempestade em copo d’água. Ele poderá aceitar.

Stella meneou a cabeça.— Você quer enganar a quem? Você sabe que ele

te contratou por você ser um dos melhores advogados da região. Ele te contratou para vencer!

— Então devo ter uma boa lábia. Posso convencê-

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lo a aceitar o fato da ex-esposa precisar de ajuda.Stella meneou a cabeça.— Geralmente um casamento quando se acaba,

sobram ressentimentos. Vi isso com meus pais. Você pode ter uma boa lábia, mas não irá convencê-lo.

Fernando a abraçou carinhoso.— Não se preocupe.Os lábios dele consumiam-na, as mãos fortes a

acariciavam loucamente, provocando arrepios de prazer. Ela o desejava tanto que sentia vontade de gritar. Stella começou a perceber que Fernando tentava sempre convencê-la envolvendo-a em um beijo, carinho...

Duas horas da tarde...Stella não sentia nenhuma vontade de se divertir,

sabendo que Fernando ia enfrentar um homem, que com certeza, a todo custo queria tirar o filho da ex-esposa. As pessoas com raiva se tornam imprevisíveis. Stella andava no quarto de um lado para outro. Até o café que tinha tomado, agora estava lhe fazendo mal por causa do nervosismo.

Fernando deixou avisado no hotel da presença de João Martinez que o estaria esperando na sala de reunião do hotel. Fernando havia tomado um banho e trocado de roupa. Colocara um terno italiano preto, camisa de algodão egípcio branco e gravata cinza.

A porta então se abriu. Fernando levantou-se da cadeira em que estava sentado, e recepcionou o homem que entrava.

— Fernando Salvatore?Fernando observou o homem à sua frente. Era um

homem de uns cinquenta anos, cabelos loiros, mais ou menos de sua altura, vestia terno azul marinho e gravata vermelha.

— Sim.

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— João Martinez. — Fernando sério pegou a mão que o homem oferecia em um cumprimento.

— Sente-se, por favor.João Martinez sentou-se confiante, sorria muito.

Fernando ainda sério pegou a pasta de documento. João Martinez, então começou:— Senhor Salvatore, é uma grande honra

conhecer o Senhor, meu pai me deu ótimas referências e me falou muito do seu brilhantismo em vencer as causas impossíveis. Não via à hora de conhecê-lo. Sei que não me decepcionarei com o senhor...

Fernando o interrompeu.— Obrigado Sr. Martinez, mas sou conhecido

também por pegar causas justas. Creio que por isso eu as vença, pois quando a pessoa é inocente a verdade sempre aparece.

João Martinez riu satisfeito.— Então será fácil vencer a minha causa. Pois

todos os vizinhos da minha ex-mulher sabem que ela é uma bêbada!

Fernando o fitou nos olhos sem sorrir. — Fiz um contrato, gostaria que lesse com calma.

E caso ainda me queira no caso, assine.— Claro que o quero no caso! — Riu.Fernando nada falou, estendeu a ele o

documento, onde o homem pegou avidamente, colocou os óculos e começou a ler. Fernando se sentou impassível, observava a expressão do homem que conforme lia mudava à sua frente. Ele voltou à leitura como se não entendesse o que lia, quando terminou se levantou.

— O senhor só pode estar de brincadeira! Você não espera que eu aceite esses termos! — Disse alterado.

Fernando o fitou sereno.— Sim, espero, pois essa é a condição para eu te

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representar perante a lei.João Martinez tirou os óculos e ficou lívido de

raiva.— Você está favorecendo aqui minha ex-esposa.

Eu te contratei para me representar, aquela vagabunda não merece a guarda de meu filho.

Fernando o fitou sério e disse seco.— Fui ver sua ex-esposa hoje, e ela assinou um

acordo onde ela se compromete em se tratar, com a supervisão de uma assistente social, e caso ela não consiga e tiver qualquer recaída, ela perderá a guarda de seu filho. E o senhor terá a guarda definitiva.

— Eu não aceito! Meu filho ficará exposto. O senhor irá se responsabilizar se algo acontecer ao meu filho? — Ele frisou as palavras

Fernando sabia que era um risco, mas também conhecia o amor maternal. O apartamento dela demonstrava que ela não era displicente, pelo pouco que ele viu, pois era limpo. E percebeu o amor da criança por ela, constatando que ele não sofria maus tratos.

— Estou dando a ela a chance de se tratar. Alcoolismo é uma doença...

Ele interrompeu Fernando.— Ela não é doente, e sim uma sem vergonha!Fernando também se levantou. E com a voz

serena disse.— Não vou discutir com o senhor. Esses são meus

termos para pegar o caso.— Eu vou procurar outro advogado! — Ele lhe

cuspiu as palavras.Fernando riu impassível.— Faça o que achar melhor. Mas para o senhor

não ter surpresas, saiba que se o senhor caso não assine, vou representá-la.

João Martinez ficou vermelho e branco.

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— Como assim o senhor irá representá-la?— É simples, serei o advogado da sua ex-esposa.O homem riu.— Ela não tem condições financeiras para

contratá-lo!Fernando disse sério.— Quem disse que vou cobrar?João Martinez ficou possesso.— Ora seu desgraçado...E lhe desferiu um soco inesperado no nariz.

Fernando foi caindo se segurando nas cadeiras. Ele segurou o nariz que sangrava muito, manchando toda sua camisa, procurou imediatamente o lenço e o apertou.

Fernando exclamou:— Você é louco! — E disse ameaçador. — Dei uma

olhada em seus negócios, você tem teto de vidro. — Fernando jogou as palavras. Jogou verde para colher maduro, e observou a reação do homem. O homem agora ficara lívido e branco. A reação do homem, fez com que Fernando seguisse mais sua intuição e reforçou a ameaça. — Ou você acha que se eu fuçar a sua vida, eu não acharei podres?

Fernando disse então taxativo. — Caso sua ex-esposa não vencer a doença, serei

o primeiro a tirar-lhe a guarda. Pretendo acompanhar o caso durante todo o tempo de sua reabilitação.

Martinez agora calado observava Fernando que se sentava por causa da tontura. Mas Fernando não se deixou por vencer.

— Você tem até amanhã para decidir se aceita meus termos. Se não, procure outro advogado.

O homem saiu pisando duro e bateu a porta. Fernando então suspirou. Sabia que agora seu

ato ia chegar aos ouvidos de seu pai. Teria que abrir que era alcoólatra, para poder explicar sua

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decisão. Seu único receio agora era: Andréia não conseguir se recuperar.

Quem era ele para lhe tirar a guarda? Agora mais que nunca precisava vencer a doença. Precisava provar a si mesmo que era possível.

Só assim seria possível, ele ter forças para ter uma atitude a esse respeito em relação a ela! Mas hoje ele não se sentia com moral nenhuma!

Fernando saiu da sala de convenções se sentindo melhor. O mal-estar passara. Quando chegou à suíte, tomou um banho demorado de imersão. Sentia-se leve, muito leve. Tinha feito sua parte, tinha jogado a isca, agora era esperar para ver o que acontecia. Tinha certeza que Martinez ia procurá-lo, ele não iria querer tê-lo como seu inimigo, ele iria engolir seu orgulho e tê-lo como aliado.

Saiu da banheira, colocou um roupão e se olhou no espelho. O soco no nariz tinha algo de bom, ele não ficava roxo. Não queria preocupar Stella. Deitou na cama, exausto e pegou no sono. Não soube quanto tempo dormiu quando ouviu baterem na porta. Assustado levantou na penumbra.

— Meu Deus! Tinha perdido à hora. Fechou o roupão com força

e abriu à porta, sua intuição lhe dizia que era Stella.

Ele abriu a porta e viu Stella. Ela estava linda, mas os olhos estavam inchados, indicando que havia chorado muito. Ela quando o viu o abraçou, enterrando a cabeça em seu peito.

— Eu não sabia o que pensar. Você sumiu. Esperei, esperei, esperei. Desci então escutei o pessoal do hotel falar de uma discussão que ouviram na sala de reunião. Eu não pude mais esperar, por isso estou aqui. Se soubesse que estava descansando, não teria te acordado.

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Stella se sentia feliz agora, sentindo o calor do corpo de Fernando, as batidas de seu coração que estavam rápidas agora, seu cheiro. Feliz pensava: Estava tudo bem!

Fernando a afastou e a fitou com ternura. — Eu perdi a hora. Perdoa-me. Sei que minha

dívida está grande com você. Stella o observou, ele estava bem, era isso que

importava. — Então não houve briga?Fernando sorriu. — Não da minha parte. Vamos dizer que os

ânimos se alteraram um pouco.Stella o avaliou o medindo dos pés à cabeça. — Então houve briga! — Sim, mas estou bem mocinha!Stella suspirou. Fernando a puxou para si, e

mordiscou lhe a boca, a orelha e tomou sua boca num beijo incrivelmente bom.

Ele a afastou e perguntou sério: — Você confia em mim o suficiente para

jantarmos aqui em meu quarto? Não estou com ânimo para descer, e não gostaria de jantar sozinho.

Stella sorriu.— Tudo bem. Fernando acendeu as luzes, ligou para a recepção

e pediu o jantar. Stella ficou observando a vista lá fora, que era a mesma vista da suíte dela. Fernando entrou no banheiro e colocou uma calça de moletom, observou a silhueta de Stella. Ela estava com um vestido verde escuro, acima dos joelhos. Cabelos soltos que lhe chegavam até os ombros.

Fernando a enlaçou por trás, com os braços em sua cintura. Stella se apoiou no peito dele, ambos ficaram emudecidos, simplesmente abraçados.

Quando a refeição chegou, Fernando atravessou o

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quarto e abriu a porta. O garçom entrou com um carrinho e depositou a bandeja em uma mesa que ficava em outra extremidade do quarto. Stella viu Fernando dar uma gorjeta, e depois que o homem saiu, Fernando foi até a cadeira, quando ia puxar para ela, o telefone tocou. Fernando frustrado atendeu rápido.

Stella observou os cabelos levemente despenteados e agora ele apertava os lábios.

— Pai, com calma, depois te explico. Confie em mim!

Fernando apertou os olhos e olhou para Stella.— Pai tudo dará certo. Fiz o que tinha que ser

feito. Tomei essa decisão segundo as informações que colhi.

Fernando frustrado sentou, em uma cadeira próxima.

— Pai, eu falhei alguma vez?— Não pai... Sei que vim a contragosto, mas isso

não foi à causa da minha decisão.— Pai. Vou desligar... Pai meu jantar chegou...

Boa noite!Fernando se levantou, tinha um ar cansado.— Meu pai... Está uma fera. — Percebi...Você terá que contar sua condição. —

Stella o puxou e o envolveu com os braços. — Posso te fazer uma pergunta?

Fernando a puxou para si e seus intensos olhos negros a fitavam agora com amor.

— Pergunte!— Se você não estivesse passando por esse

problema. Você teria da mesma forma, agido como agiu? Teria proposto a reabilitação de Andréia? Ou teria estado do lado do pai do menino?

Fernando disse categórico.— Teria ficado do lado de Martinez. Não teria

conhecimento da doença, seria taxativo, julgaria

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Andréia como uma mulher fraca e por isso, irresponsável e lutaria na justiça pela guarda definitiva do pai.

Stella puxou a cabeça de Fernando e beijou-lhe os lábios. Fernando tomou sua boca com paixão, explorando sua boca com a língua, tirando de Stella a percepção de qualquer coisa ao seu redor, toda a sua mente e corpo estava voltada a sensação que ele lhe despertava.

Stella disse emocionada depois que se afastaram:— Obrigada por ter sido sincero comigo.— Stella. Nem sempre fui o mocinho. Muitas

vezes fui o vilão. Sempre tive um senso prático. Isso quem me passou foi meu pai. Hoje entendo que devemos ouvir os dois lados e ter jogo de cintura para tentar em comum acordo uni-los, não separá-los. E ao mesmo tempo saber discernir o que é certo é certo, o que é errado é errado.

Stella concordou com um gesto de cabeça.— Tudo é um aprendizado Fernando. Nossas

experiências nos lapidam, formando a cada dia nossa opinião sobre tudo ao nosso redor. Uns pela mediocridade do caráter levam para o lado mau, outros, como você. — Stella sorriu. — Tiram proveito das fraquezas, das experiências traumáticas e as transformam em força para realizar o bem.

Fernando constrangido. Sorriu e mudou de assunto:

— Vamos jantar? Nossa comida deve estar fria.Stella sorriu.— Eu não me importo.Fernando tomou seus lábios em um longo beijo.No dia seguinte Stella se espreguiçou na cama.

Fernando a liberou na parte da manhã. Ela já havia tomado uma ducha.

E agora preguiçosamente estava deitada na

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cama. Ia pedir a refeição no quarto, queria dar um tempo para Fernando. Sabia que ele esperava o telefonema de João Martinez que segundo ele, ia ligar. Stella se surpreendeu com a segurança de Fernando. Anos de trabalho haviam dado a ele uma percepção dos fatos, como se as pessoas se tornassem previsíveis.

Coisa de advogado!Resolveu ligar para sua mãe, para saber como

andava as coisas, e depois para casa de seu pai. Vinte minutos depois, Stella desligou o telefone.

Sua mãe ficara feliz em saber que ela estava bem, deu todo o relatório desde sua chegada até o presente momento. Ocultou de sua mãe que estava namorando o chefe. Sentiu-se envergonhada. Parecia estranho dizer isso.

Seu pai irradiou felicidade quando ouviu sua voz. Contou-lhe que Eleonora e Raquel haviam viajado para Madri, para Raquel expor seus quadros. Stella ficara feliz com a notícia. Quando seu pai lhe perguntou como andava as coisas, Stella omitiu dele, também, que estava namorando Fernando. Não tinha segurança ainda o suficiente para contar-lhe.

Queria conhecê-lo melhor, sentir dele os sentimentos dele por ela. Poderia ser só empolgação.

Não! Esperaria. Esperaria o amor amadurecer, e conforme o

desenrolar, contaria a sua família sobre Fernando!Fernando levantou cedo. Sabia que Martinez iria

ligar, tinha certeza que sua intuição não falharia. Se possível iria marcar essa tarde para ele assinar o contrato. E mediante o contrato, marcaria uma audiência com o Juiz, onde estaria presente Andréia de Pádua, João Martinez, e uma assistente social.

Seu trabalho levara menos tempo que havia

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imaginado, pois Andréia confessara que era alcoólatra e assinara o acordo, facilitando muito as coisas. Esse fator fora decisivo para a virada do jogo, pois caso ela não admitisse, teria todo o trabalho de procurar as testemunhas oculares: pessoas que trabalhavam com ela, vizinhos para colher informações, e transformá-las em testemunhas de acusação. Feito isso, comprovando-se o fato de Andréia ser alcoólatra teria ainda que convencer essas testemunhas a depor. E só então mediante as provas, e o convencimento das testemunhas, teria que procurá-la novamente e confrontá-la. E se mesmo mediante os fatos, ela ainda assim negasse, teria que lutar na justiça para passar aguarda do menino ao pai.

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CAPÍTULO XIII

João Martinez, como Fernando previra, ligara dez horas da manhã marcando a assinatura do contrato à tarde.

Fernando e Stella almoçaram juntos, riram bastante, depois caminharam pelos arredores do hotel, fora um momento descontraído.

À tarde, então, Fernando o recebeu. João Martinez pouco falou, foi bem objetivo, apenas pediu o contrato para assinar. Fernando nesse caso não havia pedido um valor alto para representá-lo, apenas os custos da viagem. Depois de tudo, ele não queria se expor.

Não iria cutucar a onça com a vara curta. Queria sim, se ver livre desse caso. Nunca, nos seus dez anos de carreira, tinha se envolvido emocionalmente. Sempre fora muito prático. Isso adquirira ao longo da carreira, quanto menos se envolvia, mais obtinha sucesso.

Fernando parou no semáforo. Estava indo agora marcar a audiência com o Juiz, poderia levar semanas, às vezes meses. Depois disso, seu compromisso em Sevilha estava finalizado. Só voltaria no dia da audiência, onde estaria presente, juntamente com as partes envolvidas, Andréia de Pádua e João Martinez.

Stella ficara no hotel, iria tirar à tarde para ficar na piscina. Fernando sorriu, quando se lembrou da ida deles em uma loja nas proximidades para comprar um maio.

Stella estava muito diferente agora, e quanto mais a conhecia mais a amava. Nunca ninguém despertou tantos sentimentos de uma só vez nele, como Stella. Só ele sabia como ela estava sendo um

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balsamo para seus dias. Sem ela seus dias eram ruins caso não bebesse. O tremor e a irritação aumentavam. Fernando muitas vezes não conseguia controlar-se nem funcionar direito. Os sintomas de abstinência são intensos, porque o cérebro reclama da falta de álcool. Estava agora, há cinco dias sem beber, e a fissura do álcool ainda não havia passado.

Stella saiu da piscina, estava começando a esfriar, colocou a saída que Fernando havia comprado para ela, e se dirigia para um local reservado para troca. Entrou e vestiu-se. Olhou-se no espelho, estava corada, os cabelos molhados ainda pingavam um pouco.

Quando se dirigia para a sua suíte, viu Henrique caminhando em sua direção. Queria evitá-lo. Estava louca para se arrumar para ver Fernando, mas mesmo assim forçou um sorriso.

— Ora, ora, ora... Enfim te encontrei de novo.— Oi. Estava indo para meu quarto... — Henrique

sorriu largo, e a interrompeu — Senti tantas saudades... Nunca me esqueci de você Stella...

Stella fechou o semblante estava para cortar aquela conversa, quando Fernando apareceu inesperadamente, e a fitava carrancudo. Stella corou até a raiz dos cabelos; seus lábios tremeram com o choque e com o prazer de revê-lo, seu coração bateu violentamente. Stella nem viu de onde ele surgiu. E parece que havia ouvido a conversa, pois ele a abraçou de forma possessiva. E medindo Henrique perguntou.

— O que há de tão engraçado? — Pois Henrique ainda sorria para ela.

— Nada. — Ela respondeu, depressa. — Stella ignorou a presença de Henrique e se queixou com Fernando. — Você demorou, eu estava preocupada.

— Acredito — Fernando murmurou dando a

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entender o contrário, e comentou encarando o outro. — Demorei um pouco por causa do trânsito. Peguei na ida e na volta.

Henrique se sentindo sobrando disse.— Bem, eu já vou indo. Preciso resolver alguns

assuntos. Felicidades Stella. —Disse sério.— Obrigada. Dê lembranças a sua mãe. Quando ele os deixou. Fernando perguntou

agressivo.— Você estava com ele na piscina?— Não. Fernando colocou as mãos trêmulas no bolso da

calça. —Vamos para a suíte? Você está gelada.Stella concordou. Fernando estava muito quieto.

Com as mãos no bolso caminhavam lado a lado. Stella parou no meio do caminho e perguntou séria.

— O que você tem? Não tenho culpa de ter encontrado Henrique no meio do caminhou estava indo para a suíte quando ele me abordou. E ele é apenas “UM AMIGO.” Ela deu ênfase às palavras.

—Vamos para o quarto. Vamos conversar. Mas não aqui. —Fernando não estava facilitando nada. Havia gelo em sua voz, como também em seus olhos negros, que pareciam mais escuros.

Quando chegaram à suíte de Stella, Fernando esperou ela abrir a porta e entrou. Stella fechou a porta e o observou andando de um lado para outro.

— Fernando, você está me deixando nervosa.Fernando sentou-se na cama e colocando a

cabeça nas mãos, suspirou.— Você não tem culpa. Stella, ás vezes penso que

não vou aguentar. Demorei porque quando estava voltando, encontrei com Heitor, um amigo. Conversamos e ele praticamente me carregou para um bar. Eu disse que precisava voltar, só pensava em você Stella. Mas ele disse que era rápido. “Só

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um traguinho”. Eu acabei entrando no bar, pensei comigo, preciso aprender a ver os outros beberem e não beber. Preciso saber dizer não para esse vício maldito.

Stella se ajoelhou nas pernas dele e perguntou:— Você bebeu? Fernando riu amargo.— O que você acha Stella? Você acha que eu

estaria aqui agora, se tivesse bebido? Stella sorriu com meiguice.— Então! Por que você está assim? Você

conseguiu! Fernando mostrou as mãos que tremiam muito.— Olha como fiquei Stella. Eu nem ouvia o que

Heitor me dizia, só pensava em resistir à bebida, então comecei a pensar em você. Ele dever ter percebido meu mal-estar, pois nos despedimos logo. Eu não via à hora de te ver. Aí te encontro com essa cara!

Fernando colocou as mãos no bolso do paletó. E suspirando fundo fitou o vazio, nitidamente desanimado. Stella o beijou nos olhos, mordiscou lhe a boca. Fernando caiu para trás na cama e a puxou. Stella sentiu as batidas de seu coração repercutindo no cérebro e acariciou Fernando com as mãos trêmulas, entreaberta, correspondendo plenamente ao contato daquele corpo viril, e ao toque de suas mãos que pareciam brasas em seu corpo. Quando ele a virou, e ela sentiu o peso do corpo dele sobre o seu, seu cérebro a alertou que deveria parar por ali.

Com uma força de vontade suprema, pediu:— Não. Fernando. Por favor. Ainda é muito cedo. Fernando parou respirando alto, no quarto

silencioso.— Tudo bem. — Sentou-se.Stella o abraçou, oferecendo os lábios. Fernando

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lhe beijou de leve. E se levantou. Não era uma máquina, onde se apertava um botão e se desligava. Precisava se afastar de Stella, ela o atraía demais.

— Você ficou chateado? — Stella perguntou insegura.

Ele a abraçou, passando a mão nos cabelos sedosos de Stella.

— Não, eu entendo. Mas estou muito excitado. Melhor você voltar para seu quarto.

Stella entendeu, e sorriu.— Você ficará bem? Fernando suspirou. Sorriu e gracejou. — Tomarei um banho gelado.— Não foi isso que eu quis dizer. Fernando assentiu e disse sereno.— A fissura do álcool passou. Pois minha mente se

ocupou com algo muito mais saudável. Stella enrubesceu. Fernando então disse:— Deixe sua mala pronta, nossa missão foi

concluída. Partiremos amanhã. Te encontro no saguão às nove horas.

— Está certo.Stella beijou-lhe os lábios, um beijo rápido e saiu.

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CAPÍTULO XIV

O clima do carro na partida para casa era outro, muito diferente de quatro dias atrás quando chegaram ao hotel. Stella sorria, conversavam muito. Stella abriu que sua mãe morava em Sevilha, onde Fernando sorriu surpreso, e feliz pois a barreiras que ambos tinham levantando, ruíram. Ele por ser alcoólatra, e ela por ter colocado o profissional acima de qualquer envolvimento, emoção, ou pessoal.

Fernando a admirava muito por isso. Sabia o quanto Stella era competente, e reconhecia que o trabalho que ela desempenhava para ele, não era nada comparado a capacidade que ela tinha em crescer profissionalmente. Mas egoisticamente a queria por perto. Já fazia planos, queria conhecer muito a família de Stella, não sugerira isso ainda por causa da sua condição. Queria ter certeza que era capaz de controlar a doença. Agora ele a estava deixando na casa da mãe de Stella, em um bairro próximo ao hotel, de lá ele voltaria para Cádiz.

Fernando passou a mão nos olhos, cansado. Stella o observou. Fernando iria deixá-la na casa

de sua mãe. Tinha combinado com ela na noite anterior, disse a ela que não era certeza que iria conversar com seu chefe. Stella ainda não abrira para sua mãe de Fernando. Sabia que Fernando não estava pronto ainda, pois ele nunca tocara no assunto de conhecer sua família. Mas Stella hesitou, preocupou-se em ver que ele viajaria sozinho até Cádiz.

— Fernando, você está cansado. Eu volto com você! Não me sinto segura de te deixar voltar sozinho para Cádiz. Você parece cansado.

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Fernando pegou suas mãos que estavam no colo, e as apertou e passando confiança disse:

— Nada disso! Eu estou bem. Já fiz esse percurso sozinho várias vezes. Muito mais cansado do que agora.

— Eu só estou indo, pois minha mãe insistiu muito. Não esperava que ela quisesse me ver tão cedo, pois fazem apenas poucas semanas que estamos distantes.

Fernando sorriu.— Não precisa se justificar. Já disse que entendo. Duas horas depois Fernando chegava em casa.

Tinha deixado Stella, e não se surpreendeu de ver que Stella cresceu em um apartamento bem confortável, e o bairro também era uns dos melhores de Sevilha. Percebeu logo que ela fora muito bem educada, e tinha maneiras finas.

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CAPÍTULO XV

Fernando entrou em seu apartamento luxuoso. Tirou toda a roupa e foi nu para o banheiro, abrindo o chuveiro e entrando embaixo sem se importar com a temperatura da água, pois estava calor, e queria aplacar um pouco seus nervos. Iria agora enfrentar seu pai, que o esperava para almoçar. Teria que abrir sua condição e o que o levara a uma decisão tão radical no caso que ele pegou.

Fechou a torneira do chuveiro e enrolou-se numa toalha, enxugando-se automaticamente. Vestiu calças jeans, que moldavam os músculos de suas pernas, e uma camisa branca. Olhou em volta, perturbado, incapaz de acalmar-se. Doía-lhe o fato de dar esse desgosto ao seu pai. Depois da morte de seu irmão e de sua mãe, seu pai colocara nele toda a expectativa. Fernando sabia disso, e sempre que podia agradava o velho.

Observou o apartamento, que estava limpo e cheirava bem. Sua tia fazia questão de cuidar de seu apartamento. Desde que seu irmão morreu, ela para estreitar os laços, se prontificou a cuidar de tudo. Fernando sabia que começara tudo isso por preocupação com ele. Mas logo ela foi pegando gosto pela coisa, e hoje não adiantava argumentar que ela estava ficando muito velha para cuidar de tudo, que ela se ofendia. Fernando então lhe dava uma boa quantia em dinheiro, era uma forma de agradecimento aos cuidados que ela passava. Sempre sua geladeira estava abastecida, ela sempre cuidava disso também. Muitas vezes tinha que jogar comida fora, ainda mais na época das bebedeiras. Sumia com o lixo para ela não desconfiar, que ele quase não comia, e só bebia.

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Fernando meia hora depois estacionou em frente à casa de seu pai. Seu pai ainda vivia naquela casa enorme, cheio de lembranças de tempos felizes. Fernando se entristecia, quantas vezes dizia ao seu pai para vender a casa e se mudar para um apartamento menor, além de ser mais seguro. Mas o velho sempre fora irascível, quando colocava algo na cabeça, dificilmente mudava sua opinião. Por isso Fernando estava agora nervoso. Não seria uma conversa fácil.

Fernando passou pelos seguranças que já o conheciam e seguiu a pé pelo grande gramado que cercava a casa, mal chegara à varanda, seu pai o vira e se levantou da cadeira em que estava sentado com cara de poucos amigos.

— Bom dia pai. Alejandro Salvatore o olhava sério agora.— Como você espera que eu tenha um bom dia,

depois que você humilhou meu cliente? Entre! Não quero discutir aqui.

Seu pai era muito reservado, com certeza não queria que os seguranças ouvissem a conversa. Fernando suspirou fundo e entrou. Encarou seu pai muito sério, enfrentando-lhe o mau-humor.

— Antes de tudo, gostaria que o Senhor sentasse.Seu pai disse firme.— Estou bem em pé.Fernando perdeu a paciência. — Pai, porque você não facilita as coisas?Alejandro Salvatore sentou-se contrariado.

Fernando sentou-se no outro sofá próximo.— Pai o que tenho a lhe dizer, é muito difícil para

mim. Por que se trata da minha vida pessoal.Alejandro o interrompeu nervoso.— Fernando, seu assunto pessoal vamos deixar

para depois. O que quero agora é saber o que deu em você para fazer um acordo com aquela bêbada?

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E se algo acontecer com o filho de João Martinez? Você irá se responsabilizar?

— Pai eu sou alcoólatra! Bebo de cair no chão. Bebo de muitas vezes meus amigos me carregarem para a casa deles, com medo de me trazer para a minha casa e eu ter um coma alcoólico.

Salvatore ficou pálido. Fernando continuou. — Agora te pergunto: Você já me viu alguma vez

negligenciar o trabalho? Pois é, NUNCA! Jamais.Fernando levantou-se nervoso. E o encarou. — Alcoolismo é uma doença, não tem cura, mas é

controlável. Sei disso, pois participei de muitas reuniões do AA. Fiz uma visita a Andréia extraoficial, vi com meus próprios olhos o amor da criança pela mãe, e o apartamento dela era limpo. Ela não negligencia a criança. Eu apenas dei a chance a ela de se recuperara desse vício. A idade da criança não ajuda muito também. Ele já está acostumado com a mãe, seis anos, pai, o menino tem seis anos. Seria uma agressão afastar esse filho dessa mãe! Pai que moral eu tenho? Eu enfrento a luta contra esse vício todos os dias! Acredito que fiz o melhor, que dei a ela a chance de se reerguer. Ao invés de julgá-la!

Fernando viu Alejandro Salvatore se desfazer em lágrimas. Ele se levantou e abraçou Fernando. Bateu lhe leve batida nas costas e se recompôs.

— Filho, por que você não me contou?— Pai, quantas vezes ensaiei para te contar,

quantos domingos passamos juntos, e eu não criava coragem.

Fernando suspirou.— Eu ainda tenho dificuldades em me manter

longe da bebida. Esforço-me todos os dias. A luta é diária. Tenho esperanças que essa fissura um dia vai passar. Queria ter superado tudo isso para te contar, quando não encontrava coragem, era essa a

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desculpa que eu dava para mim mesmo. E isso passou a ser meu incentivo.

Pai e filho se sentaram, e Fernando então contou desde o início de como tudo começou. Contou-lhe da viagem, de como havia conduzido o caso. Contou-lhe também de Stella. Não ocultou que a amava. Que ela estava sendo, hoje o bálsamo para os seus dias difíceis. Seu pai agora o compreendia.

Fernando sorriu ao ver seu pai se dirigir ao bar para tomar um aperitivo antes do almoço e desistir, quando se lembrou da condição de Fernando.

O clima era outro. Almoçaram juntos, e passaram a tarde inteira conversando. Seu pai lhe deu muitos conselhos e conversaram muito sobre Stella. Fernando contou da resistência dos dois no início, ambos com suas razões, e como a convivência evolui para que se conhecessem melhor. Já era noite quando Fernando chegara em seu apartamento, apenas tirou as roupas e caiu exausto na cama.

Stella chegou na casa de seu pai no dia seguinte. Seu padrasto havia a deixado em frente à casa. Tinha passado o dia anterior inteirinho com sua mãe. Helen com seu jeito estabanado, falou de si o tempo todo. Stella já esperava, sabia como ela adorava ser o centro das atenções. Para Stella foi ótimo, pois não se expôs muito. Agora era a vez de seu pai que já a puxava para que ela contasse as novidades, seu pai era o oposto de sua mãe.

Stella contou-lhe por cima, não expôs Fernando. Não abriu que estava o conhecendo mais

intimamente e nem que Fernando sofria com o alcoolismo. Achou que não era sensato contar-lhe. E caso evoluísse o namoro dos dois, cabia a Fernando a decisão de contar ou não.

Raquel e Eleonora ainda demorariam mais para voltar. Stella aproveitou para fazer uma faxina na

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casa, pois Ruth estava doente, e já havia faltado dois dias. Seu pai bem humorado a ajudou no que pôde. Stella percebeu que ele não tinha muito jeito para cuidar da casa.

Stella agora, depois de um banho tomado, percebera que não deixara o telefone de sua casa com Fernando. Ele também não pedira. Isso a preocupava um pouco, pois tinha medo de ser apenas uma aventura para ele. Esse pensamento, tão logo veio, passou, pois Stella lembrou que ele confessara-lhe que também a resistiu, pois não queria se envolver com ninguém por causa da luta que estava passando. Stella entendia a luta que ele travava o fazia ir com calma na relação.

No dia seguinte Stella chegara cedo ao escritório. Estava morrendo de saudades de Fernando e ao mesmo tempo, achava estranho, sua situação como secretária agora que eles estavam se conhecendo mais intimamente. Quando o visse, o abraçaria com saudades, mas constrangida, pois sabia que estava lá para trabalhar. Precisava encontrar um meio termo para o romance dos dois. Stella abriu o arquivo à procura de um processo que precisava acabar. Era uma destilaria que havia pegado fogo, e a seguradora não queria pagar, pois achava que o incêndio era criminoso.

Stella estava digitando o processo quando Fernando chegou. Stella só ergueu os olhos e sorriu para ele. Ele estava lindo, terno cinza, risca de giz, camisa branca e gravata cinza com tons brancos. Ele quando a viu lhe exibiu um sorriso radiante. Stella estava ansiosa para saber se ele havia conversado com o pai, e pelo visto dera tudo certo. Stella se levantou e foi até ele, que lhe pegou pela cintura e a ergueu como criança, e a beijou nos lábios. Quando a colocou no chão tomou sua boca em um beijo prolongado, apaixonado... Quando se

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afastaram Stella observou-o com admiração silenciosa.

Fernando a abraçou, lhe cheirando os cabelos.— Estava morrendo de saudades.Stella sorriu.— Eu também.Fernando a puxou.— Vamos até minha sala. Quero te contar a

conversa que tive com meu pai e também a festa que estou organizando para comemorar seus 66 anos de vida.

Stella o seguiu até o escritório e Fernando narrou toda a conversa que tinha tido com Alejandro Salvatore. Stella estava feliz em ver a vivacidade com que Fernando falava, parecia outro homem. De certo, estava feliz por ter aberto o coração de um problema que ele carregava por muito tempo sozinho.

Fernando observava Stella, nem parecia àquela jovem fechada que entrava em sua sala, com aquele ar profissional, com respostas secas e breves. Ela estava linda, com uma saia vermelha e blusa branca com pequenos detalhes em renda.

Fernando então falou em tom baixo depois de fechar a porta da sala.

— Como te disse meu pai, completa 66 anos. Sábado, farei uma festa, em comemoração ao aniversário dele. Não convidei muitas pessoas, só amigos mais íntimos, meus tios, primos. Eu há um bom tempo venho planejando esse dia. Inclusive o presente, que sei que o alegrará muito.

Stella sorriu, se sentindo feliz por Fernando estar mais animado e sempre era bom unir a família para uma ocasião tão especial.

— Fico feliz Fernando. Então Sábado não nos veremos?

Fernando riu. Stella pensava que ele ia excluí-la

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desse momento.— Não meu amor. Você irá à festa. Eu abri para

meu pai que estávamos nos conhecendo mais intimamente. Quero que você me acompanhe como minha namorada.

Stella ergueu as sobrancelhas surpresa.— Não é muito cedo para isso?Fernando fez com que Stella baixasse os olhos

ante a intensidade de seu olhar. Stella enfrentou seu olhar e disse com apelo na

voz:— É que eu mal comecei a trabalhar com você

Fernando. Com certeza encontraremos Lúcia, seu pai mesmo sabe que nessa viagem que nos aproximamos mais. Não me sinto segura para enfrentar sua família como sua namorada. Poderemos ficar juntos, dançarmos juntos, e isso já será muito sugestivo para os convidados. Eles imaginarão que podemos estar juntos, mas não terão certeza. E aos poucos eu vou conquistando-os com minha presença.

Fernando não mais sorria e resignado apenas disse.

— Tudo bem Stella. Entendo. Não apressarei as coisas.

Stella levantou-se da cadeira e quando ia até ele abraçá-lo e dizer que o amava. Ouviu o telefone tocando em sua sala.

Fernando sério disse:— Então é isso. Stella. Pode ir. — falava como

chefe, não mais como o homem da sua vida.Stella sabia que ele estava com o orgulho ferido.

Ela sorriu tentando amenizar as coisas. E saiu da sala, apertou os passos e pegou rápido o telefone.

Depois que ela lhe passou a ligação. Ela começou a pensar na conversa que há pouco tinha tido com Fernando. Em parte ela queria ceder, aceitar e

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esquecer-se de todo o resto. Mas ela lutou tanto, depois do episódio com Raul, para passar uma imagem de seriedade que tinha vergonha agora de mal estar trabalhando e já estar namorando o chefe. Não por causa do julgamento das pessoas, mas depois daquele episódio infeliz, ela mesma se cobrava muito com isso. Ficara intrínseco em sua personalidade.

Fernando olhava a avenida movimentada pela janela de sua sala, com olhos vidrados pensativo. Stella no fundo tinha razão. Talvez estivesse mesmo forçando uma situação. Ela já estava feliz, era claro isso em seus gestos, em seus olhos. Era bom que ela se sentisse bem ao lado dele, poderia circular pela festa, ir conhecendo seus parentes, seus amigos, dançariam juntos... O importante era seu pai saber de sua felicidade, fez questão de contar para dar-lhe segurança que Stella era uma motivação a mais para a sua recuperação.

Balançou a cabeça, quando lembrou-se da figura de Raquel. Ela era persistente. Tão persistente que estranhou o fato dela não ligar à noite para o apartamento, a sua procura.

Já se sentira muitas vezes irritado com essa insistência dela em estreitar os laços, por isso ficara frio e distante, e não se preocupou em muitas vezes, quando ela de um jeito ou de outro investia, em transparecer o quanto isso o incomodava.

Estava acostumado com tipos como Raquel, nas noites, nas festas que já frequentara. Mas Raquel era uma moça de uma boa família e ele queria muito que ela pintasse o lago, que para ele e seu pai tinha um grande significado e por isso a levara em banho-maria. Se fosse outra garota, teria sido extremamente claro que não estava pronto para compromissos sérios, riu... Até Stella aparecer.

Fernando quando chegou de viagem chegara a

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ligar para a casa dela para saber se o quadro já estava pronto. O padrasto de Raquel dissera que ela estava viajando. Isso o preocupou, pois Raquel sabia do prazo, que ele estipulara: a data da festa. Mas logo ele o tranquilizou dizendo que Raquel já o finalizara e que ele receberia o quadro nos próximos dias.

E foi o que ocorrera, pois hoje cedo o porteiro de seu prédio lhe entregou a encomenda.

Fernando desembrulhou delicadamente o pacote e impressionado ficara a olhar a pintura que Raquel retratara tão bem: O sol irradiando no lago negro que desembocava no mar turquesa, os barcos ao longe, a areia fina, os quiosques. Fora como se tivesse entrando em um túnel do tempo, onde conseguia visualizar ele e sua família, reunidos em um dia de Domingo.

O dia passou rápido, Fernando já estava tranquilo e Stella entendeu que ele entendera seu ponto de vista. Almoçaram juntos, mas na volta não caminharam de mãos dadas. Stella ficou aliviada por isso. Não queria misturar as coisas, embora sabia que era difícil, pois estavam muito envolvidos sentimentalmente um com o outro, e se atraíam mutuamente.

No final do expediente, Fernando a convidou para sair, jantarem em um restaurante romântico. Stella negou com delicadeza, explicou que seu pai estava sozinho, pois a sua madrasta e a filha haviam viajado.

Fernando entendeu a preocupação de Stella com seu pai. Mas passara o dia alucinado, louco para estar com ela, mais intimamente e a puxou para sua sala, olhou para ela durante um longo tempo e perdeu o controle, agarrando-a com violência, puxando-a para junto de si, juntando sua boca com a de Stella. Ela retribuía seus beijos avidamente,

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não deixando que levantasse a cabeça, mergulhando na onda de sensualidade que ele despertava nela. Seu corpo estava grudado ao de Fernando, seus braços em volta da cintura dele, abraçada a ele com abandono. Quando se afastaram ambos estavam ofegantes, e sorriam felizes, pois cada dia reforçava o amor que sentiam um pelo outro.

Stella durante o restinho de semana que precedeu, trabalhou com afinco; tinham conseguido levar o romance a um meio termo, Fernando parecia até mesmo evitar olhar diretamente para ela. Era como se estivesse determinado a esfriar os ânimos, tanto quanto fosse possível exceção feita somente à relação de trabalho, pois no final do expediente, se amavam loucamente no escritório. Fernando nunca passara do limite com Stella. Tudo aquilo agradava imensamente Stella, que agia da mesma maneira. Contudo, nada parecia aliviar o desejo que experimentava em sua presença. Tinha consciência dele constantemente; e sabia que com ele se passava a mesma coisa. De vez em quando Stella se apanhava lembrando-se da intensa virilidade do corpo dele, e seus beijos que eram de enlouquecê-la.

Sexta-feira, no dia que antecedia a festa, Stella já estava nervosa, a ponto de seu trabalho não render. Fernando não aparecera, pois estava acertando todos os detalhes para que tudo desse certo.

A festa seria na casa de seu pai, Fernando já havia contratado o buffet, teria música ao vivo. Segundo Fernando seu pai estava animado com a ideia, pois poderia rever familiares e amigos. Fernando lhe dissera também que tinha preparado um presente especial e que tinha certeza que seu pai iria gostar muito. Stella quando perguntou-lhe o que era, Fernando sorriu, e lhe dissera misterioso.

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“Você verá! Pretendo entregar a ele depois que os convidados forem embora. E quero muito que você esteja presente nesse momento.”

Stella soltara a imaginação, tentando adivinhar o que poderia ser:

E porque a presença dela era tão importante naquele momento?

Que tipo de presente seria para agradar um homem que faria 66 anos? Pois com certeza ele já teria de tudo.

Talvez fosse algo que firmasse os laços familiares, de pai e filho. Mas o quê?

No dia seguinte, Stella levantou cedo, foi a um salão de beleza e fez um corte sem tirar o comprimento, repicou as pontas de modo que caiam suavemente no rosto. Fez as unhas e ia deixar para maquiar-se a noite. Já havia separado seu vestido. Era lindo e discreto, nada exagerado. Não ia para brilhar na festa, iria para agradar Fernando, mas se possível queria passar despercebida. O vestido era verde escuro, acetinado, acima dos joelhos e o decote em V era discreto.

Raquel e a madrasta não haviam chegado ainda, e seu pai já estava fora há dois dias, tinha aproveitado para visitar uns parentes distantes. Fernando andava muito ocupado, e preocupado com a festa, Stella então, nem chegara a comentar que estava passando as noites sozinha, pois sabia que ele iria ficar preocupado.

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CAPÍTULO XVI

A festa...

Stella ficara pronta meia hora antes do horário combinado com Fernando, ele havia passado no escritório ontem à tarde e se prontificado a pegá-la em casa. Stella negou veementemente, pois sabia que ele precisava estar lá para receber os convidados. Fernando então, contrariado, passou-lhe o endereço.

Stella certificou-se que a casa estava bem fechada, verificou todas as janelas e se dirigiu para o carro. Estava nervosa, com a expectativa de estar com Fernando, pois sabia que ao circular com ele na festa, mesmo não querendo, iria chamar atenção.

Não estava acostumada com badalações, sempre vivera uma vida pacata. Sua mãe a educara bem, sabia como se portar em uma mesa, a ter educação, mas não a preparou para festas.

Helen sempre a deixara com a babá quando alguma festa surgia. Quando Stella cresceu, isso se repetiu, pois sua mãe não fazia questão nenhuma de levá-la. Stella nunca insistira, aproveitava para ler um livro, assistir televisão ou conversar por telefone com alguma amiga.

Stella chegou ao endereço indicado e parou de frente a um enorme portão branco onde um senhor ruivo e gordo abriu, quando a viu se aproximar, e perguntou-lhe o nome, segurava uma prancheta.

Com a confirmação de seu nome os portões foram abertos, e Stella pode ver toda a área de um grande gramado já repleta de carros.

Stella reparou que a casa era um casarão em

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estilo moderno, revestida pedra, pintada de branco e cinza. O bairro era composto por grandes propriedades que com certeza eram de empresários bem-sucedidos.

Stella estacionou o mais próximo da entrada da casa que pode, e trancando o carro nervosamente se dirigiu ao grande terraço que cercava a casa, onde algumas pessoas já bebiam do lado de fora.

Uma mulher de vestido branco com detalhes em renda sorriu para ela, Stella a cumprimentou devolvendo-lhe o sorriso.

Entrou em uma grande sala, onde os móveis haviam sido retirados. Stella observou o ambiente: Ao fundo via-se apenas um homem tocando uma melodia suave no piano. Alguns casais dançavam: idosos, adultos e até crianças brincavam dando alguns passos. Dois adolescentes conversavam rindo em um canto da sala. Uma grande mesa estava disposta com variados canapés, onde algumas pessoas se serviam. A iluminação não era muito forte, mas era suficiente forte para dar um ar acolhedor.

Stella se sentira imediatamente bem, pois como Fernando dissera, era uma reunião familiar. A calma que ela havia encontrado naquele ambiente acolhedor, caiu por terra quando seus olhos se encontraram com os de Fernando.

Ele estava lindo, vestindo um terno escuro, muito elegante; a calça perfeitamente cortada, destacando a musculatura das pernas, camisa azul-claro completavam o traje. Os cabelos negros estavam penteados para trás.

Era sem dúvida nenhuma um homem perturbadoramente atraente, transpirando masculinidade, pensou Stella abalada, sentindo que em seu estômago a sensação de aperto era cada vez mais forte.

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Stella sorriu, e esperou que ele atravessasse a sala, pois suas pernas não se moviam. Stella recebeu dele um beijo no rosto. Ela sorriu timidamente, pois todos os olhares se voltaram agora para ela.

Fernando observou Stella tímida, seu coração se enterneceu. Ela era muito diferente das mulheres que passaram por sua vida. Talvez por isso nunca firmara compromisso nenhum com nenhuma delas, simplesmente gozava o momento. Um prazer fugaz, e logo se esquecia delas.

—Você está linda!Stella movimentou de leve a cabeça com um

agradecimento. — Onde está o aniversariante? — Disse

procurando Alejandro Salvatore com os olhos.Fernando deu um meio sorriso. — Foi buscar mais vinho na adega. Agora ele me

vigia o tempo todo. — E acrescentou com ironia, mas Stella viu tristeza em seus olhos.

Fernando então a pegou levemente pelo braço e disse:

—Vem, quero te apresentar Tia Júlia. Ela que mantém meu apartamento em ordem.

Stella lembrou-se da conversa que tiveram no restaurante do hotel, onde estavam mais soltos, mais abertos para conversarem. Estavam se conhecendo e aos poucos, ambos sem querer, estavam deixando de lado as reservas.

Stella fitou a senhora que vira na entrada, logo que chegou.

— Tia Júlia, essa é Stella. Minha secretária e....Uma grande amiga.

— Prazer em conhecê-la Stella. —E se dirigindo para Fernando exclamou. —Nossa! Ela é muito linda!

Fernando fitou Stella com intensidade nos olhos

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negros.— Concordo tia. Ela é linda. Stella fugiu dos olhos de Fernando que a

constrangia e viu o Sr. Alejandro Salvatore, arrumando os vinhos que havia trazido da adega.

Fernando seguiu seus olhos, e viu seu pai.—Vem. Vou te levar até papai.Stella o seguiu lado a lado, agora sentindo falta

do toque de Fernando, mas sabia que ela tinha imposto essa distância na festa.

— Papai. Stella quer te cumprimentar.— Sr. Salvatore, parabéns. —Estendeu-lhe a mão,

onde o Sr. Salvatore a puxou para um beijo. —Preciso beijar minha futura nora. Fernando me contou, fiquei feliz em saber que estão juntos. E piscou para Fernando. —Stella constrangida recebeu o beijo nas faces e sorriu para Fernando. Abriu uma pequena bolsinha que levava e lhe deu uma caneta, personalizada, de presente. Estava apenas em uma caixinha transparente e envolta por uma fita vermelha em forma de flor. A tinha comprado na hora do almoço no dia anterior.

— É apenas uma lembrança.Sr. Salvatore puxou o laço e abriu a caixinha

tirando a caneta, exclamou com olhos ternos. — Obrigada, Stella.Stella sorriu e dirigiu seus olhos para Fernando

que observava calado a cena. Quando seus olhos se encontraram, ele sorriu, para Stella. O Sr. Salvatore disse educadamente.

— Bem, vou deixar os pombinhos às sós.Stella constrangida sorriu sem graça. Fernando

quando viu seu constrangimento disse-lhe com uma voz doce.

— Me perdoe Stella. Como disse contei para o meu pai que estávamos juntos. Queria muito que ele soubesse a força que você tem me dado nesses

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últimos dias.— Eu sei. Você já havia me dito. Tudo bem. Sei

que foi um baque para ele saber que você tem lutado contra o vício, e é bom ele te ver feliz.

Tocava uma música lenta de Elton John no piano, onde o pianista cantava maravilhosamente bem. Fernando a puxou para o meio da sala, para dançarem. Stella se deixou ser conduzida por ele e no embalo da música e fechou os olhos.

Ele não a apertava nos braços, como fizera quando dançaram no hotel. Ele sabia da preocupação dela. Por isso só a envolvia. Stella se sentia quente por dentro, sentindo o perfume dele, as mãos dele em sua cintura.

Stella percebeu, que mesmo nessa dança inocente, quando acabou a música, muitas pessoas os observavam. Fernando se afastou e sorriu.

Stella sorriu levemente e desviou os olhos dos de Fernando, pois se sentia vulnerável, e perturbada com a presença dele.

Foi quando Stella viu Lúcia, a antiga secretária. Stella sorriu de leve para ela, Lúcia retribuiu com um aceno de mão e um radiante sorriso.

Fernando seguiu seus olhos e sorriu para Lúcia, então voltando-se para Stella disse:

— Não quero monopolizar sua atenção. Lúcia talvez queira conversar com você. Eu entendo... Mais tarde quando todos forem embora, quero que fique. Vou presentear meu pai com um quadro que pedi para uma pintora talentosa, embora iniciante, pintar. E quero você esteja comigo.

Stella prendeu o ar dos pulmões. E as palavras quadro foram latejando em sua mente.

— Quadro?— Sim. Stella. — Fernando sorriu. E disse com

ênfase. —Quadro. Pedi para uma jovem pintora, Raquel Montoya, retratar um lago, que quando

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jovens frequentávamos. Dias felizes... Quando meu irmão era vivo. Ficamos tão envolvidos com o caso de Andréia de Pádua e de João Martinez que ainda não te contei nada de mim? Contei? Temos muito, ainda, para dizermos uma ao outro, para nos conhecermos melhor.

Stella ficou pálida. Fernando percebeu.— Meu Deus Stella! —A segurou pela cintura e

devagar a levou a uma cadeira próxima, onde uma criança estava sentada que na hora se retirou para que ela sentasse.

Fernando colocou sua cabeça para baixo. Stella só pensava que ele era o mesmo homem que Raquel estava apaixonada.

Meu Deus, como queria ter descoberto isso antes! Falaram de tantas coisas, como gostos musicais, filmes...

Ficaram tão envolvidos no caso de Andréia de Pádua, já era tão dramático tudo isso, que com certeza Fernando não se aprofundou mais no seu passado triste...Se ele tivesse falado da perda desse irmão ela ligaria ele à Raquel.

Raquel deu tanta ênfase que o cliente chamado Fernando queria um quadro que retratasse lembranças felizes da família, quando o irmão era vivo.

Na hora Stella achou até engraçado a coincidência dos nomes, quando Fernando ainda era somente seu chefe.

Fernando agora levantava sua cabeça.— Stella você comeu alguma coisa antes de sair? Stella forçou um sorriso, mas seu coração

sangrava.— Já estou bem. Acho que minha pressão caiu. —

Envergonhada viu que todos se aglomeravam para vê-la. Fernando foi dispersando a todos, dizendo que ela já estava bem.

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Stella respirou fundo e disse.— Já passou. Vou comer alguma coisa. Lúcia se prontificou.— Eu a levo.Stella sorriu agradecida a Lúcia e se levantou.

Lúcia a pegou pelo braço e juntas se dirigiram a mesa de canapés.

Fernando inseguro, não sabia se a acompanhava também. Mas conforme viu as duas caminharem, Fernando viu que Stella já caminhava firme.

Stella apoiada no braço de Lúcia só pensava em uma maneira de sair da festa sem ser notada. Stella sentia o tempo todo, os olhos de Fernando sobre ela, revelando preocupação. Stella conversou com Lúcia passando naturalidade falou-lhe evasivamente do escritório e forçou-se a comer um canapé. Quando procurou Fernando com os olhos, não o viu. A oportunidade era agora, precisava ir embora.

— Lúcia, avise a Fernando, que segunda-feira nos falamos. Estou cansada, diga a ele para não se preocupar que estou bem. Mas que não poderei ficar mais.

— Mas você está bem mesmo Stella? Você não quer que eu a leve para casa?

— Não, eu estou de carro. — Forçou um sorriso. — Obrigada.

Deu um beijo rápido em Lúcia e saiu apressadamente. Apertou os passos, quase correu até o carro, tal era a sua vontade de sair dali.

Deu partida e arrancou com o carro. Quando já pegava a avenida, extravasou. A expressão aflita, as lágrimas que começaram a acumular em seus olhos. Ela não precisava mais contê-las. As lembranças do passado vieram à tona, e se repetia agora. O destino havia lhe armado uma cilada. Toda culpa que experimentara agora vinha à tona, com

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toda força. As lágrimas continuaram escorrendo num turbilhão de emoções intensas. A dor de amar Fernando, e saber que a ela só cabia a atitude de renunciar esse amor. Não saberia conviver mais uma vez com a destruição dos sonhos de Raquel.

No dia seguinte Stella estava moída, essa era a sensação que tinha, havia chorado a noite inteira. Ficou na cama um bom tempo olhando vazio para o teto. Quando conseguiu forças para sair da cama, a manhã já estava avançada. Seguiu até a cozinha, viu seu pai servindo-se de um café, que já devia ter feito bem mais cedo.

— Papai.Jason Allan se virou com um sorriso no rosto que

logo morreu pois observou os olhos inchados de Stella.

— Stella. O que foi? Está doente?Stella o abraçou, contendo o choro.— Acho que peguei uma gripe. — Mentiu-lhe,

sendo que adoraria se abrir com ele, contar-lhe, tinham tanto em comum. Seu pai fora sempre seu confidente. Mas não queria expor nada a ela agora. Iria esperar. Raquel estava para chegar. Ia sondá-la, quem sabe contar-lhe da coincidência e ela demonstrar desinteresse por Fernando. Quem sabe?

— Filha, volta para cama. É muito tarde para tomar café agora. Eu trouxe um picadinho de carne. Minha prima fez questão que levasse um pouco. — Então riu. — Pois ela percebeu que eu gostei. Mas gostei no primeiro dia. Então comi picadinho dois dias inteiros e ainda ela me deu para levar. Não posso nem ver mais picadinho. — Fez uma careta.

Stella sorriu, seu pai fazia umas caras, era muito expressivo. Como o amava!

— Tudo bem papai, eu volto para a cama e como esse picadinho. Assim o senhor não fica culpado de

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jogar fora. — Stella sorriu, pois sabia que se seu pai jogasse fora, ele não se perdoaria. Tinha um coração de manteiga.

Stella passou o dia deitada, sem ânimo para nada. Domingo passou rápido. Stella olhava agora da

janela a escuridão lá fora. Amanhã, teria que enfrentar Fernando. Não tinha

ideia o que dizer.Como dizer a ele que o que começaram não tinha

futuro? Que desculpa daria a ele? Tinha sumido. Sem satisfação. Nunca dera a ele o telefone de casa, nem seu endereço. Também, estavam iniciando o namoro. Ainda se conhecendo. Agora dava graças a Deus, por poder pensar longe dele. Pois com certeza se ele soubesse onde encontrá-la, ele iria atrás dela.

Seu currículo tinha feito quando estava em Sevilha, caso ele procurasse lá seu endereço. Pois na época mandara para seu pai, que mandou para Alejandro Salvatore, quando ela ainda estava prestes a se mudar para Cádiz.

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CAPÍTULO XVII

Stella acordou cedo, vestira um conjunto cinza, que tinha por objetivo esconder sua feminilidade. Era um pouco folgado, e abaixo do joelho. Maquiou-se de leve, e passou um discreto batom. Estava satisfeita por ter conseguido uma aparência profissional séria.

Ainda não tinha um plano de como enfrentar Fernando. Mas sabia de uma coisa. Tinha que tirá-lo pelo menos por enquanto de sua vida. Raquel parecia estar muito envolvida sentimentalmente por Fernando. Precisava sentir de Raquel se ainda isso persistia.

Ela chegaria Terça-feira ou Quarta-feira, segundo Eleonora. A exposição deveria estar bem agitada. Depois de tantos dias, Eleonora ligara ontem para seu pai. Conversaram bastante. Stella o deixou às sós e foi deitar cedo. Pegou um livro, tentou se concentrar, mas as páginas dançavam, só pensava em Fernando. Depois de muito chorar, tomou novamente um banho, para relaxar e só então conseguira dormir.

Stella entrava em sua sala quando viu Fernando em sua cadeira. Ele estava abatido, e ao mesmo tempo tinha uma máscara de frieza. Stella viu que ele fumava, quando a viu apagou o cigarro o apertando na lixeira.

Stella o encarou séria, percebeu que ele correu os olhos para seu corpo e fixou-se em sua barriga.

Stella disse calmamente.— Bom dia!Fernando sorriu irônico, então a olhou com olhos

febris, fazendo o coração de Stella disparar.— Eu posso saber o que aconteceu para você

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sumir sem dar explicações, me deixando louco?— Eu não saí sem dar explicações, falei com

Lúcia. Ela deve ter lhe dito que eu precisei ir embora.

— Chega! — ele resmungou, então respirou fundo. — Você deveria ter me procurado! Será que não temos intimidade o suficiente para você se abrir comigo? Stella, o que eu sei de você? A relação consiste em confiança, cumplicidade.

Stella respirou fundo. Stella sabia que Fernando estava em seu limite. Mas precisava acabar logo com isso.

— Eu resolvi que não podemos ter mais nada um com o outro.

Fernando ficara nitidamente tenso.— Oh, Deus! — Os dedos de Fernando apertaram

uma caneta que estava segurando. — Então é isso! — Seus olhos negros a olhavam perdidos, como se tentasse entender o que se passava com ela. — Isso tudo está relacionado ao homem que você...? — Stella percebeu que Fernando não conseguia dizer as palavras.

— Sim. — Stella não negou. Fernando hesitou, e então lhe perguntou:— Você está grávida?— Não. — Falou com veemência.Fernando a fitou incrédulo. Stella vendo a

incredulidade nos olhos dele disse desanimada:— Mas isso não importa. Vamos dar tempo ao

tempo. Preciso resolver algumas coisas em minha vida...

Fernando levantou-se da cadeira. — Não precisa me falar mais nada. Sem dar qualquer aviso, Fernando inclinou-se

sobre ela, e tomando-a nos braços, a puxou para si. Stella ficou sem ação. Estava apavorada.

Fernando correu os dedos pelo rosto de Stella.

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Todo o corpo dela formigava, o coração disparou, seus olhos brilhavam.

— Então tudo que vivemos foi mentira... — Seus olhos fixaram na boca de Stella, e seus intensos olhos negros, encontraram com os olhos assustados de Stella. — Foi tudo a minha imaginação?

Stella meneou a cabeça, mal ousando falar. Dessa vez não ia deixar Fernando dominar a situação. Tinha aprendido a lição com Raul.

Deu-lhe um empurrão:— Fernando! — Gritou Stella, com um misto de

dor e exasperação. — Por favor! Pare de falar assim!

— Por quê? — Os olhos dele se apertaram. — Como espera que eu me comporte, Stella? Vendo sua mudança de uma hora para outra? — Fernando então com olhos sofridos passou as mãos pelos cabelos. — Será que você não percebeu que eu te amo?

Aquela declaração seria tão bem vinda, tão esperada, se não fosse um momento como aquele.

Stella o olhava com olhar preocupado. E se ele voltasse a beber, por ela ter-lhe ferido o

coração? Como gostaria de poder lhe confessar que o

amava com todas as forças de seu coração!Stella desviou os olhos dele. A vontade que tinha

era de chorar. Segurava-se agora para não se desmanchar em lágrimas.

— Stella! — exclamou Fernando com voz atormentada. — Olhe para mim!

Precisava ser forte! — Stella mentalmente repetiu.

Stella o encarou impassível. Com o coração se desfazendo por dentro.

Fernando então vendo sua expressão indiferente a sua declaração de amor, caiu num silêncio

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sombrio, a olhou pensativo por um tempo. Suspirou resignado.

— Não quero forçar nada. Você ainda trabalhará para mim?

Stella fez um gesto positivo com a cabeça. E completou. — Caso ainda me queira trabalhando para o Senhor.

Fernando quando a ouviu chamá-lo de Senhor, sabia que a tinha perdido. Eles voltaram à estaca zero.

— Eu não misturo minha vida pessoal e sentimental com os negócios. Você já viu alguma mulher ligar aqui?

Fez uma pausa, esperando que ela dissesse algo. Mas Stella permanecia calada.

— Não. — Ele mesmo respondeu. — Sempre levei meu trabalho a sério. Se você trabalhar direito, não terá por que sair.

Stella acenou um sim, triste. Ela sentia-se infeliz demais para incomodar-se em esconder seu pesar.

Fernando então lhe disse duro.— Não preciso de sua piedade!— Mas não tem mesmo! — Exclamou Stella.A conversa sofreu uma interrupção com o toque

do telefone. Stella esperou Fernando afastar o corpo para atender. O viu então entrar na sua sala e fechar a porta. Stella pegou o telefone rápido. Era um cliente novo, Stella então anotou o telefone para passar para o pai de Fernando, que fazia a seleção de clientes novos. Nem todos os casos eles pegavam.

Stella trabalhou em silêncio. Tinha muitos processos para pôr em ordem, para digitar... Stella tentou se concentrar totalmente no trabalho, pois quanto mais pensava a respeito de tudo, mais se corroía.

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Às duas horas, Stella voltou do almoço correndo. Fernando iria receber um cliente que era dono da destilaria que pegou fogo. Stella torcia as mãos no colo, pois ainda não tinha visto Fernando sair para almoçar. Stella bateu na porta e hesitou só entrou, quando o ouvir dizer “entre”.

Ficou parada no meio do escritório de Fernando até que ele se dignasse a notar sua presença. Estava lendo um processo, e sem erguer os olhos para Stella.

— Pode falar! — Disse num tom áspero. Levantou os olhos e observou Stella que permaneceu imóvel. Fernando baixou o olhar para a mesa outra vez e começou a fazer anotações.

Stella então suspirou. — O Senhor tem uma reunião marcada para às

15:00hrs. Fernando a fitou rapidamente e continuou a

escrever;— Obrigada. Pode ir. — Disse seco.Stella perdeu a paciência. E o olhou com

preocupação.— Fernando. O Senhor almoçou? Se quiser posso

trazer alguma coisa para comer. O Senhor ainda tem quase uma hora antes da reunião.

Suas palavras despertaram a atenção de Fernando. Ele arqueou as sobrancelhas e recostando-se na cadeira displicentemente, disse irônico.

— É mesmo?Stella ignorou sua atitude. — O Senhor ainda tem quase uma hora antes da

reunião. — Stella repetiu.— Stella. — ele murmurou, erguendo a cabeça

com um ar irritado. — Não sou seu professor, não sou seu pai... Pare de me chamar de Senhor. — Então Fernando a olhou sério. — Não é isso que vai

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me impedir de te amar, de te desejar como mulher. Nem que você vier vestida com uma burca! Mas pode ficar tranquila que você está segura comigo.

Os olhos de Stella encheram-se de lágrimas, era tarde para contê-las. Fernando parou imediatamente. Levantou-se e em passos rápidos e seguros a embalou.

— Meu Deus Stella, me perdoe. — Stella agora estava com a cabeça enterrada em sua camisa. Sentindo o cheiro e o calor dele.

Stella foi se acalmando e se afastou, limpando as lágrimas.

— Você não tem culpa de nada. Eu que ando muito emotiva.

— Stella, você está grávida? — Fernando insistiu. Stella se indignou. — Já disse que não!Ele lançou lhe um olhar impaciente.— Pelo amor de Deus, Stella! Confie em mim!Stella sentiu-se triste, seu coração se apertava no

peito. Não podia se abrir com ele naquele momento. Precisava falar com Raquel, sentir dela qual era o interesse dela por Fernando.

Sabia que Fernando não amava Raquel. Quantas vezes, Raquel se lamentava por ele ser indiferente e frio com ela. Mas Raquel precisava abrir mão dele.

Caso Stella constatado o fato que Raquel não lutaria por ele, Stella se abriria com ela e lhe contaria tudo o que aconteceu.

Como Stella permaneceu quieta. Fernando virou-se num movimento brusco e voltou para sua mesa, cada passo revelando frustração reprimida. Suas mãos estavam fechadas, era nítido que ele se controlava.

— Estou sem fome. Quando o cliente chegar, me informe. E fique atenta, pois posso chamá-la, caso eu precise de alguma coisa.

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Stella fez leve movimento de cabeça em um sim e saiu da sala. Seu coração batia acelerado enquanto ela se afastava apressada.

O cliente chegou pontualmente às 15:00hrs. Era um senhor de meia-idade, usava terno e muito gentil. Fernando não a chamou. Stella continuou seu trabalho, e por volta das 15:30hrs, a reunião havia acabado.

Stella cumprimentou o senhor que agora saía com um sorriso no rosto. Observou a porta aberta de Fernando. Resolveu ir lá para ver se ele precisava de alguma coisa. Stella o viu então de costas, olhando a janela. Stella estudou-o inconscientemente, observou que ele tinha tirado a gravata, estava de calça verde escuro que lhe moldava as pernas, camisa branca. Ele ostentava tanta masculinidade que apurava em Stella a sensação de ser mulher.

Ele não a tinha visto ainda. Stella observou dois copos em cima da mesa. Ela sentiu como se morresse nessa hora.

Fernando sem se virar disse.— É refrigerante Stella. Não precisa se

preocupar, eu não bebi.Stella instintivamente observou o lixo e viu as

latinhas de guaraná. Sentiu-se aliviada. Estava preocupada com ele. Não queria ser o motivo que o fizesse voltar a beber.

Ela ia pegar os copos quando Fernando se virou e enquanto a observava, falou duramente.

— Stella, resolvi que não vou mais beber. Não quero usar ninguém de muletas para não beber. Faço por mim mesmo.

Stella emocionada se alegrou. Sorriu pela primeira vez naquele dia. Um dia que se arrastava lentamente.

— Fico imensamente feliz que pense assim, a

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força tem que vir de você e não apoiada em alguém.Fernando nada disse por um tempo. Por fim a

dispensou.— Deixe tudo aí. Pode ir para casa. Estou te

dispensando mais cedo.Stella protestou.— Mas não são nem quatro horas da tarde?Fernando disse em um tom irritado.— Não discuta Stella. Fernando a viu sair, quando não mais a ouviu na

sala ao lado. Sentou na cadeira e chorou; por puro inconformismo.

Não tinha outra explicação para a atitude de Stella. Ela poderia estar desconfiada de uma suposta gravidez. Sabia que ela havia amado alguém no passado. E se esse passado interferiu em seu presente. E se o homem que ela amou, ou amava... Não sabia... E se ele a procurou antes deles se conhecerem e a engravidou?

Fernando colocou a cabeça entre as mãos...Stella se sentia esgotada, moída. Já não sabia se

teria condições de continuar trabalhando com Fernando. Tudo era muito doloroso, estressante. Como era difícil se manter fria agora que conhecia o sabor dos beijos dele. Quando experimentara o prazer de estar nos braços dele, e conhecer o cheiro dele.

Stella estava fazendo a curva para estacionar em frente à casa, quando notou o carro de Eleonora estacionado na garagem.

O coração de Stella quase saiu do peito diante da expectativa de revê-las. E ao mesmo tempo se sentia tão fragilizada nesse momento que não sabia se seria capaz de passar à calma que precisava para as duas, sem desabar em lágrimas.

Stella caminhou lentamente sem pressa nenhuma de encontrar Eleonora e Raquel. Abriu a porta já

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ouvindo a conversa agitada na sala. Stella se esforçou para aparentar calma, serenidade e alegria por vê-las. Não que não estivesse feliz. Mas o momento não era propício ainda. O dia teve tantas emoções que não se sentia preparada para mais nenhuma. E já estava imaginando Raquel falando de Fernando toda hora, dizendo-se com saudades, etc. A angústia dominou sua mente.

Stella entrou na sala e seus olhos logo deram com a figura de um homem abraçado a Raquel. Stella piscou algumas vezes e viu Raquel abrir um sorriso para ela. Eleonora abraçada ao seu pai, estava sentada em outra extremidade no sofá.

Stella voltou seus olhos novamente para o homem que acompanhava Raquel, e percebeu que ele alisava-lhe com carinho a cintura.

— Stella. — Eleonora levantou-se imediatamente do sofá quando a viu. — Stella sorriu para Eleonora, mas a cena de Raquel não lhe saía da cabeça. — Que saudades da minha filha do coração!

Stella sorriu emocionada para Eleonora, seus olhos brilhavam de lágrimas. Eleonora a abraçou.

— Já vi que sentiu minha falta.Stella apertou Eleonora, quase desabando em

lágrimas. Afastou-se e viu Raquel se aproximando.— Stella. Que roupas são essas? — Fez uma

careta para a roupa larga de Stella. Depois a abraçou, quando se afastou perguntou. — E aí, como andam as coisas? Você chegou cedo hoje. Não foi trabalhar?

Stella se refez e disse.— Saí mais cedo. Raquel a puxou.— Stella. Quero lhe apresentar meu namorado.Stella suspirou, revelando sua intensa alegria.

Stella seguiu Raquel até onde o rapaz estava. Ele era jovem, pouco mais velho que Raquel, usava Jens

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e camiseta da moda.— Pedro, essa é Stella. A amiga que te falei. — E

virando-se para Stella apresentou o rapaz. —Pedro é pintor também. Nos conhecemos na galeria.

Stella sorriu e recebeu o cumprimento do rapaz, que lhe deu um aperto de mão.

Stella virou-se para todos e disse. — Desculpe-me todos, mas preciso sair. Só vou

trocar de roupa.Raquel ergueu as sobrancelhas. — Você está saindo com alguém?Stella sorriu misteriosa.— Depois te explico Raquel.Stella deu um beijo no pai e subiu as escadas

correndo. Jogou as roupas na cama, todas elas. Com as mãos as revirava. Procurando algo que a agradasse. Que lhe devolvesse a feminilidade. Achou um vestido vermelho. Ele não era provocante, mas ressaltava sua alegria. Pois queria que por fora se refletisse o que lhe ia por dentro. Felicidade!

Tomou um banho rápido se perfumou, aplicou uma maquiagem leve. Verificou as horas 18hrs. Desceu as escadas com um sorriso no rosto.

Precisava encontrá-lo no escritório. Seu pai a chamou. Stella o beijou quando passou

por ele. — Pai, agora não!Stella abriu a porta da sala com dificuldade,

tamanha sua ansiedade. Entrou no carro e logo ganhou a avenida. Dirigiu o mais rápido que pode. Não usou o estacionamento e estacionou em frente ao prédio. Com o coração na mão, apressou os passos e entrou no elevador que estava aberto. Caminhou até sua sala e viu a sala de Fernando fechada. Respirou fundo e entrou.

Stella praguejou.

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Ele não estava lá!Andou de um lado para outro e lembrou-se da

casa do pai de Fernando. Iria lá. Talvez o encontrasse ou pediria o endereço de Fernando.

Stella saiu rápido, precisava ter calma. Ia encontrá-lo.

Stella estacionou em frente aos portões da casa do pai de Fernando. O segurança saiu da guarita e pediu-lhe o nome para anunciá-la. Os portões foram abertos. Stella estacionou e constrangida, engoliu seu orgulho e seguiu ao terraço onde o Senhor Salvatore a esperava.

Ele quando a viu se levantou da cadeira em que estava sentado, parecia aflito.

— Aconteceu alguma coisa com Fernando? — Stella mal chegou ao terraço e o viu perguntando.

— Não. Fique tranquilo. Gostaria muito de falar com o senhor. É sobre eu e Fernando.

— Sente-se. — Sr. Alejandro Salvatore indicou uma cadeira próxima da dele no terraço.

Stella então respirou fundo e narrou, sua vida, começando um pouco pela sua infância, a separação dos pais, que culminou nela o desejo de um dia ter uma família estável, a ida nas férias na casa de seu pai quando tinha apenas dezenove anos, contou-lhe de Raul, como tudo aconteceu e a culpa que carregou por tantos anos, que somou-se a tristeza da morte de Raul.

Contou-lhe com alegria o amor que sentia por Fernando, até que na festa, descobriu que ele era o mesmo homem, que Raquel dizia-se apaixonada, e a decisão de se afastar de Fernando. A cena do escritório onde ela teve que ser forte e terminar tudo. E finalmente a descoberta que Raquel chegara de viagem acompanhada, feliz com o novo namorado.

Alejandro Salvatore escutou tudo atentamente,

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observando a emoção de Stella quando lhe contava cada cena. Quando ela finalizou, estava em lágrimas.

Sr. Salvatore suspirou. — Stella. Por isso vi Fernando inquieto quando

você saiu da festa sem avisá-lo. No Domingo ele me procurou, como um louco para pegar seu currículo, ele queria ver seu endereço, para te procurar. Mas lembro-me que na época você estava de mudança para Cádiz e seu endereço ainda era de Sevilha. Eu e seu pai também sempre saíamos, para beber, conversar, ele sempre me convidou para ir à sua casa, mas nunca cheguei a ir. Então eu também não sabia onde te encontrar. Sou velho que gosta de ficar no meu cantinho. Ele estava muito preocupado, aflito mesmo. — Fez uma pausa e suspirou. — Fernando me presenteou com o quadro, um lindo e significativo quadro. Ele queria muito que você estivesse presente nessa hora, e quando você foi embora sem dar explicações, ele ficou sem entender, e começou a achar que algo de muito grave estava acontecendo.

Salvatore então se levantou. — Não perca tempo então menina. Espere que eu

anotarei o endereço para você.Stella o seguiu até a sala onde os móveis já

estavam dispostos novamente. A sala agora parecia pequena, ao fundo o piano onde com emoção Stella se lembrou de Fernando e ela dançando ao som de uma música de Elton John. Stella emocionada então viu o quadro, e a assinatura de Raquel. Era simplesmente tocante, lindo... O sol brilhando ao fundo do mar no horizonte, onde um braço de um lago desembocava em um rio. Navios navegavam ao longe a areia branca, coqueiros e pequenos quiosques, traziam harmonia ao quadro. Stella emocionada, imaginou Fernando pequeno com a

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família reunida correndo, soltando pipa, nadando... Sr. Salvatore emocionado se colocou ao lado de

Stella.— Lindo, não é? Para mim não é uma paisagem

qualquer. É minha vida. Lembranças felizes.Stella sorrindo, enxugando as lágrimas:— É admirável a sensibilidade de Fernando, e

conforme eu fui conhecendo-o, isso é o que mais me chamou atenção nele.

— Vai filha! Não deixe meu menino sofrer por mais tempo. Você é um balsamo que meu filho precisa nesse momento difícil que ele está passando.

Stella pegou o endereço e beijou Alejandro Salvatore, e quando ia saindo, ele disse emocionado:

— Espero que vocês encham essa casa com muitos netos. Quero que essa casa volte a ter alegria, e que possamos viver muitos momentos felizes.

Stella não conhecia quase nada de Cádiz. Na pressa não se lembrou de perguntar para Alejandro as coordenadas de como se chegava lá.

Mas quem tem boca vai a Roma!Stella depois de perguntar algumas vezes para

alguns transeuntes, chegou ao endereço indicado. Era um belo edifício de vinte andares com grandes sacadas, num dos melhores bairros de Cádiz. Stella sabia que teria que se anunciar na portaria. Mas queria pegar Fernando desprevenido. Queria lhe fazer uma surpresa. Então estacionou o carro e esperou o movimento, queria se juntar aos moradores. Ia tentar passar despercebida.

Stella viu uma família, ao longe caminhando com pacotes de supermercado, e a mulher com o marido segurava uma criança, e outro estava no carrinho. Stella desceu do carro e esperou para ver se ela se

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dirigiria aos apartamentos. Stella percebeu que o portão eletrônico fez barulho, pois o vigia conhecia a família. Stella se infiltrou e elogiou o bebe e puxou conversa com a mulher, com isso conseguiu entrar.

Stella pegou o elevador com a família, pegou no colo o filhinho deles, um lindo menino de olhos verdes. Stella sorriu para ele, lembrando-se de Alejandro Salvatore e o desejo deles darem netos. A família desceu no 10º andar, ela desceria no 18º. Conforme o elevador subia, mais seu coração batia forte de euforia em poder vê-lo, em poder declarar-lhe o quanto o amava.

A porta do elevador se abriu. Stella respirou fundo e se dirigiu a uma grande porta de madeira trabalhada. Nervosamente secou as mãos úmidas no vestido. Tocou a campainha e esperou.

Nervosamente caminhava de um lado para outro e nada. Tocou novamente com um toque mais prolongado. Depois de um tempo a porta se abriu.

Fernando estava com os cabelos molhados, vestido com um grande roupão felpudo azul-marinho. Ele estava com os olhos muito vermelhos a olhava sem entender. Por fim sua voz saiu rouca, meio engasgada, quase num sussurro.

— Stella.Stella pediu timidamente.— Posso entrar?Fernando passou a mão nos cabelos, num gesto

nervoso, que Stella conhecia bem. Fernando afastou o corpo e com olhos vivos a observava, tentando entender o que Stella fazia em seu apartamento às nove horas da noite. Como ela encontrou seu endereço?

Fernando depois de um tempo se recuperou da surpresa, fechou a porta e disse irônico.

— Pago tão caro por segurança e aqui você está

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sem precisar se anunciar. — E depois de um tempo perguntou. —Como você conseguiu entrar?

— Isso é o que menos importa. Quero conversar com você. —Stella o observou, preocupada. Os olhos dele estavam muito vermelhos. — Fernando você bebeu?

Fernando sentou-se displicentemente no sofá. Stella se sentiu mal com o olhar duro que ele lhe deu.

— É por isso que está aqui Stella? Para controlar minha vida? Para se livrar da consciência pesada, de ter me envolvido, me feito te amar e você ter me jogado para escanteio como um sapato velho?

Stella se aproximou hesitante dele. Era difícil se abrir, fora mais fácil se abrir com Alejandro, mas com Fernando tão arredio...

Stella sentou-se perto dele. — Não vim para te julgar e nem por estar com a

consciência pesada...Fernando então a observou melhor, o vestido

vermelho, os cabelos sedosos, os olhos verdes brilhantes, a boca sensual de Stella.

— Veio então, para me atormentar. — Fernando disse suavemente como se dissesse a si mesmo. Seus olhos então adquiriram um estranho brilho e ele perguntou. —É por isso que entrou de surpresa, esperando me encontrar bêbado, cambaleando? É por isso que está aqui?

— Vim para dizer que nada mais impedirá de eu dizer que te amo. Aquilo que me impedia se resolveu.

Fernando demorou-se para entender que ela havia lhe declarado que o amava. E ficou a olhar sem entender. Stella observou a confusão nos olhos negros. E sem palavras tomou a boca de Fernando em um beijo.

Fernando perdeu o controle, agarrando-a com

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violência, puxando-a para junto de si, juntando sua boca com a de Stella, beijando-a com toda a agonia acumulada. Stella retribuía seus beijos avidamente, não deixando que levantasse a cabeça, mergulhando na onda de sensualidade que ele despertava nela. Seu corpo estava grudado ao de Fernando, seus braços em volta do pescoço dele, abraçada a ele com tanta entrega que desmanchou as dúvidas dele que ela não o amava.

Quando se afastaram, Fernando a beijava demoradamente em cada cantinho do rosto de Stella.

Stella fechou os olhos sorria e chorava. Fernando lhe secava as lágrimas com os lábios.

Stella sorrindo o afastou com olhos cheios de ternura.

— Eu te amo! Fernando a abraçou, seu corpo convulsionava.— Esperei tanto para ouvir isso, Stella. — Disse

emocionado.Fernando a afastava agora. E a fitava com

lágrimas nos olhos.— O que aconteceu? Que amarras eram essas que

a impedia de ser minha? Por que você não se abriu comigo? Eu teria te ajudado. Não importa o que tenha acontecido, não teria te julgado.

— Não podia. Você era a causa de meu afastamento, não existe outro homem. O homem que amei já morreu há 5 anos.

Fernando se sentou sem entender:— Stella, como assim eu?Stella passou o dedo na ruguinha que se formou

na testa dele. E disse com ternura.— Lembra-se da moça que pintou seu quadro.

Raquel Montoya? Fernando assentiu sem entender.— Ela é filha de minha madrasta Eleonora.

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Fernando olhou espantado para ela, e passou a mão na nuca impaciente.

— Stella, eu nunca tive nada com Raquel!Stella passou as mãos em volta dele e disse

veementemente.— Eu não tenho dúvidas disso.Fernando ainda sem entender lhe disse

impaciente.— Stella, eu não acredito que você se afastou de

mim por causa daquela desmiolada! O que ela falou para você?

Stella suspirou.— Ela nem sabe que eu te conheço!Fernando com olhos febris tentava buscar no

rosto de Stella o que ele não conseguia entender. — A minha decisão de me afastar de você,

Fernando, está relacionado com meu passado. Stella então abriu o coração e lhe contou tudo. Da

mesma forma que havia contado para o Alejandro Salvatore. Fernando ouvia tudo calado. Stella, contou-lhe da culpa que carregava por ser responsável pelo fim do relacionamento de Raquel, e o fato novamente se repetir com Fernando. Quando ela finalizou o quebra-cabeça se fechou.

Fernando ficou pensativo por um momento. E perguntou-lhe:

— E se Raquel não desistisse de lutar? Stella falou carinhosamente, roçando os lábios em

seus cabelos negros.— Eu não desistiria de você. Mas não seria a

causa da destruição dos sonhos dela. Esperaria o momento certo para te procurar, esperaria ela desistir de você, conversaria com ela, me abriria com ela. Mas sei que estaria me arriscando a te perder.

Fernando a abraçou com força.— Jamais você iria me perder. — Disse abafado,

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emocionado. — Eu te amo Stella! Como te amo!

Fernando tomou sua boca em um beijo. Stella abriu os lábios quando a boca macia de Fernando e o doce fogo da língua dele a tocaram. Ela sentiu o calor que emanava dele ao redor dela, ela sentiu uma explosão de calor. Murmurando palavras doces, Fernando a apertou mais nos braços. Ela não pensava mais em nada só a sensação dos lábios de Fernando contra os dela. Enquanto ele a beijava, um suspiro escapou dos lábios de Stella, sentindo aquele corpo forte contra o dela, seu desejo não pôde mais ser suprimido. Com um gemido suave, ela colocou os braços ao redor do pescoço dele. Fernando então ofegante a afastou, o roupão estava aberto no peito, revelando os pelos negros.

— Se não pararmos agora, você sabe que não terá volta.

Stella lembrou-se de seu pai, que saiu como uma louca, sem dar explicações.

— Fernando. Preciso ligar para papai. Eu ainda sou a menininha dele. —Sorriu. — Preciso ir também.

— Eu entendo. Ligue. Agora eu sei seu endereço. — Riu, fitando Stella com aqueles intensos olhos negros.

Stella ligou para seu pai, que já estava aflito. Ela o tranquilizou e disse que já estava indo para casa. Fernando se dispôs a levá-la. Stella não protestou, depois pegaria seu carro.

Fernando estacionou em frente à casa de Stella e desligou o carro. Stella sorriu para ele. Inclinou-se para beijá-lo, ele a puxou e lhe deu um longo beijo. Fernando acendeu a luz do carro.

— Stella. Sei que é cedo. Não é o lugar certo, talvez não seja o momento apropriado. E não sei se vai confiar em mim o suficiente para aceitar.

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Stella se virou para vê-lo melhor.— Não quero prolongar nosso namoro. Quero que

se case comigo. Stella emocionada o abraçou. E disse:— Eu aceito. Podemos prolongar um pouquinho o

noivado?— Então ela justificou. — Vai ser um baque para

minha família. Meu pai precisa te conhecer melhor, fico pensando em Raquel...

Fernando a interrompeu impaciente.— Stella. Pelo amor de Deus! Esquece Raquel!Stella riu.— Eu sei. Mas vai ser um choque para ela. Preciso

conversar com Eleonora também. Contar-lhe tudo desde o início. Sinto-me como se fosse aquelas crianças que choram, pois querem o brinquedo que a outra está brincando, mesmo tendo um monte a sua escolha.

Fernando a fitou com olhos febris. — Têm tantos assim a sua escolha? Stella riu. — É uma forma figurada de se falar. — Stella

explicou achando graça o ciúme dele.Fernando disse determinado.— Te dou até amanhã para você conversar com

eles. Não vejo a hora de resolver tudo isso. De manhã tire para conversar com sua família, e a tarde eu virei para conversar com eles. — Stella viu Fernando passar as mãos nos cabelos. — Stella. O amor perdido precisa gerar em você um conformismo. Enquanto ele não se cria em seu coração, você sofre. E eu não me conformava! Era tudo tão sem sentido, você não me deixou uma boa explicação. — Fernando riu. — E nem que você me deixasse uma, eu não me conformaria. Pensei que estivesse grávida. Te vi passar mal na festa, você me falou depois que terminou tudo quando te

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perguntei por causa desse homem. Eu estava até disposto a assumir seu filho.

Stella ergueu as sobrancelhas surpresa. E gracejou.

— Você me ama mesmo, né?— Amo, mas não abusa! — Fernando disse em

tom de brincadeira, mas com seriedade na voz.Stella riu e virou-se para trás e deu uma olhada

na casa. Seus olhos viram a janela repleta de cabecinhas se espremendo para vê-los.

— Fernando, dá uma olhada na janela da sala. — Stella riu. —Vou precisar encará-los agora.

Fernando seguiu a direção dos olhos de Stella, disse sério.

— Eu entro com você!Stella protestou.— Não! Amanhã você vem cedo. E você conversa

com eles. Deixa-me falar com eles primeiro. Fernando suspirou.— Amanhã estarei aqui cedo!Stella se assustou. — Não tão cedo!Fernando sorriu.— Nove horas. Está bom?— Está ótimo. Stella abriu a porta do carro e deu-lhe um beijo

rápido, pois tinha uma plateia curiosa os observando.

Fernando apagou as luzes do carro e deu a partida e saiu. Stella nessa hora suspirou. Quando ela se virou observou que todos haviam se afastado da janela.

Stella abriu a porta e a primeira pessoa que viu foi Raquel que logo lhe questionou:

— Stella, você está saindo com Fernando?Stella suspirou, com um sentimento de

contrariedade. Não queria que fosse assim. Seu pai

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e Eleonora que observavam a cena, mudos. Stella resolveu ser direta.

— Fernando é meu chefe. Viajei com ele a trabalho e nos apaixonamos. Descobri na festa do pai dele que era o mesmo Fernando que você estava pintando o quadro. — Stella a fitou triste. — Na mesma hora deixei a festa. Vim para casa. Resolvida a terminar tudo com ele. Isso foi no Sábado, segunda-feira terminei. Sem explicações, disse que não poderíamos ter nada um com o outro. Então trabalhei com ele. Vim decidida a pedir demissão no dia seguinte, pois seria impossível trabalhar com ele. Então quando entrei por aquela porta, tive a surpresa de ver que você havia desistido dele. Por isso corri, o procurei e reatamos.

Stella observou seu pai e Eleonora que a olhavam surpresos. Raquel assobiou.

— Stella, você não perde tempo mesmo! Stella se irritou. — Como assim não perco tempo? Raquel a olhou com indignação. — Mamãe me contou na viagem que aconteceu

com você e com Raul. O pai de Stella praguejou. — Você fez isso Eleonora! Por que desenterrar o

passado? Stella observou os olhos assustados de Eleonora

e disse: — Foi bom! Carreguei essa culpa por muito

tempo. Foi bom está tudo às claras agora! No passado eu errei Raquel. Eu errei! Admito!

— Errou mesmo! Errou feio, Stella! — Mas agora, não! Você não ouviu tudo que eu

contei? — Ouvi! Mas e seu não tivesse desistido de

Fernando? — Eu não te disse? Eu sairia do emprego, e

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tentaria conviver com isso. Creio agora que me mudaria novamente para Sevilha. Voltaria a morar com minha mãe. Pois aprendi a lição! Mas creio que não o esqueceria, e talvez, tentaria uma reconciliação, caso não vingasse seu romance com ele. Pois eu o amo! — Stella então se virou para todos. E comunicou. — Vamos ficar noivos. Ele vem amanhã cedo. Quer conversar com todos.

Seu pai agora parecia que ia ter um ataque.— Stella, mas é muito cedo!Stella foi até ele.— Papai, eu sei. Nosso noivado será longo. Eu

pedi isso a ele. Sabia que você teria essa reação. Fernando é muito inseguro, pois ele tem passado por alguns problemas. Mas nada que o desabone. Ele é uma ótima pessoa. O senhor vai gostar dele. Ele então quer apenas firmar nosso compromisso. Mas pode ficar tranquilo que não nos casaremos, enquanto o senhor não conhecê-lo bem, papai. Digo isso por você, pois o tempo que convivi com ele, sei da pessoa formidável que ele é. Não tenho dúvidas se precisasse me casar amanhã com ele.

Stella abraçou Jason, e se virou para Eleonora. — Foi bom você ter contado. Se você não o

fizesse, eu o faria. Eleonora a abraçou. — Perdoe-me Stella. Na viagem eu e Raquel nos

aproximamos tanto como mãe e filha que acabei contando para ela.

Stella a afastou. — Eu entendo. Foi boa então a viagem para vocês

duas. Raquel questionou Stella. — Teria mesmo Stella? Teria me contado tudo? Stella suspirou e levantou os ombros. — Raquel, pense o que quiser. O que tinha que

falar, falei. Se você não acredita, vou fazer o quê?

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— E olhando a todos disse. —Vou dormir, pois ontem não dormi bem, e amanhã às 9hrs, Fernando virá falar com todos. Boa noite a todos.

No dia seguinte Stella acordou cedo. Tomou um banho e vestiu jeans, uma camisa jeans que fez um amarrado na frente, para marcar a cintura e tênis. Prendeu os cabelos, e se maquiou levemente.

Quando entrou na cozinha viu Ruth fazendo o café. Era o dia de limpeza.

— Bom dia Ruth.— Bom dia menina. Hoje não é dia de trabalho?Stella sorriu. — Não, hoje será um dia especial. Ficarei noiva. Ruth a olhou surpresa.— Meu Deus, mas você acabou de se mudar para

Cádiz e já vai ficar noiva.Stella ergueu as sobrancelhas, e suspirou.

Pensando assim, era plausível a surpresa de Ruth.— Tudo aconteceu muito rápido.Ruth a observou.— Você está grávida?Stella exclamou. — Não! O que aconteceu rápido foi o amor.

Conheci um homem maravilhoso. Ele é meu chefe. A convivência nos uniu. —Stella pegou uma xícara e despejou café. — Ele chegará daqui a pouco. Deixe a sala para limpar depois.

Ruth sorriu. — Tudo bem... Todos levantaram cedo, com exceção de Raquel.

Eleonora e seu pai já esperavam Fernando na sala. Nove horas em ponto a campainha tocou. Stella se levantou nervosa do sofá e abriu a porta.

Fernando estava lindo. Os cabelos ainda molhados do banho, bem barbeado, de jeans, camisa branca com alguns pelos querendo escapar. E cheirava muito bem.

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Fernando quando a viu, abriu um sorriso. E a puxou, tomando sua boca com um beijo quente, apaixonado.

Afastaram-se, ambos com o coração batendo forte. Fernando sorriu para Stella.

— Bom dia! — Ansioso perguntou. — Deu tudo certo ontem?

Stella sorriu confiante. — Bom dia! Deu. Deu tudo certo. Estamos te

esperando. — E Raquel? Stella deu de ombros. — Não está aí! Fernando disso impaciente. — Eu não te perguntei isso... — Fernando

reformulou a pergunta. — Ela aceitou bem? — Depois te conto. Vem entra! — Stella o puxou. Fernando entrou e a porta se fechou... Depois de dois meses Stella se casou. Stella

mudou-se com Fernando para a casa de Alejandro Salvatore, que não se cabia de alegria, de ver a casa cheia novamente. Stella e Fernando ainda tinham uma surpresa para ele. Um neto que selaria a felicidade de todos...

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