Américo Figueiredo_março15

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A CARREIRA EXECUTIVA E A CONSTRUÇÃO DE UM LEGADO 18 ARTIGO vice-presidente de Recursos Humanos da Nextel e diretor voluntário do Instituto Ser+ “Não demora e um questionamento vai se materializando na vida desses executivos: afinal, qual é o significado maior das minhas ações e conduta perante as pessoas com as quais interajo?” ILUSTRAÇÃO: LOVATTO Primeiramente, gostaria de desmistificar um ponto que me parece importante: a ambição nos move. Trata-se de algo muito presente nas carreiras executivas. Os profissionais vão construindo uma reputação, desenvolvendo-se, ocupando os espaços no teatro corporativo, e começam a dar- se conta do estado de êxtase que esse poder proporciona. Acredito que esse ciclo seja normal e sadio (desde que venha acompanhado de mais estudos, dedicação e controle do próprio ego). Ao alcançar certo nível de maturidade, lá pelo estágio gerencial, o jovem profissional reconhece o ego se manifestando, mas, na maioria das vezes, ainda não tem controle sobre ele. O fato de sua ascensão profissional oferecer acesso a bens materiais (carros, motos, roupas, gadgets) parece ser o suficiente para gerar satisfação. Entretanto, à medida que essas conquistas profissionais vão acontecendo, este profissional passa a ser o “modelo de conduta”, referência de comportamento, para o bem ou para o mal. Ou seja, a carreira executiva promove uma vitrine para os seus ocupantes. Quanto maior o nível hierárquico, maior o grau de exposição. Numa grande empresa, isso significa impactar milhares de pessoas diariamente. Não demora e um questionamento vai se materializando na vida desses executivos: afinal, qual é o significado maior das minhas ações e conduta perante as pessoas com as quais interajo? Quando não mais estivermos lá e, principalmente durante os momentos de crises e dificuldades, como seremos lembrados? Os símbolos de poder já foram todos (ou quase todos) conquistados, mas, por que um certo vazio existencial persiste? Esse é um bom momento, penso, para se iniciar a busca pelo autoco- nhecimento, uma jornada poderosa, que nos ajuda a compreender a influência das máscaras que o ego, de forma sutil, nos faz usar em nosso cotidiano. E nos ajuda, também, a olhar para a nossa essência e nossos “dons” (atributos que geram boa energia para desenvolver projetos, estudar, li- derar equipes, superar desafios, conquistar novas oportunidades profissionais, ser um cidadão protagonista, que coloca em prática o melhor das suas capacidades). Acredito firmemente que precisamos usar esses “dons” com o propósito de dignificar a vida de todos à nossa volta. É claro que esse olhar mais holístico aparece com o tempo. É difícil acelerar o processo de amadurecimento. Mas, talvez seja possível abordar com jovens executivos, um pouco da preocu- pação a respeito de uma visão mais integral da gestão, na qual podemos incorporar aspectos que vão além do “hardware”, olhando para a gestão de pessoas, as comunidades, mediante o exercício de uma agenda socialmente responsável, que priorize a ética, os valores e que promova, cada vez mais, a gestão sustentável das organizações. Em minha visão, nunca o fator humano foi tão importante no sucesso das organizações como nos tempos atuais. E, na medida em que compreendemos a natureza humana, as emoções, a influência do ego no comportamento das pessoas, as suas histórias de vida, a autenticidade das suas reações, aumentamos as chances de que elas tenham nobres motivos para se sentirem mais felizes e, assim, as chances de estarem mais comprometidas com o trabalho e com os desafios das empresas, aumentam. Para tanto, é necessário gostar muito de pessoas, agir bem e liderar pelo exemplo, este, o mais forte dos legados. É preciso deixar as pessoas conhecerem-no, expondo as suas opiniões de forma clara, sem medo, defendendo causas justas, princípios e valores. Abraçar uma carreira executiva tem a ver com uma linda jornada de fazer o mundo ser um lugar melhor, mais justo, que respeita, que acolhe, integra de forma harmônica todos os seres vivos, respeitando-os, nutrindo-os. Isso é o que considero, realmente, construir um legado.

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A CARREIRA EXECUTIVA E A CONSTRUÇÃODE UM LEGADO

18

A R T I G O

vice-presidente de Recursos Humanos da Nextel e diretor voluntário do Instituto Ser+

“Não demora e umquestionamento vai

se materializandona vida desses

executivos: afinal,qual é o significado

maior das minhasações e conduta

perante as pessoascom as quais

interajo?”

ILU

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ÃO

: LO

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TTO

Primeiramente, gostaria de desmistificar um ponto que me parece importante: a ambição nosmove. Trata-se de algo muito presente nas carreiras executivas. Os profissionais vão construindouma reputação, desenvolvendo-se, ocupando os espaços no teatro corporativo, e começam a dar-se conta do estado de êxtase que esse poder proporciona. Acredito que esse ciclo seja normal esadio (desde que venha acompanhado de mais estudos, dedicação e controle do próprio ego). Aoalcançar certo nível de maturidade, lá pelo estágio gerencial, o jovem profissional reconhece oego se manifestando, mas, na maioria das vezes, ainda não tem controle sobre ele. O fato de suaascensão profissional oferecer acesso a bens materiais (carros, motos, roupas, gadgets) parece sero suficiente para gerar satisfação.

Entretanto, à medida que essas conquistas profissionais vão acontecendo, este profissionalpassa a ser o “modelo de conduta”, referência de comportamento, para o bem ou para o mal. Ouseja, a carreira executiva promove uma vitrine para os seus ocupantes. Quanto maior o nívelhierárquico, maior o grau de exposição. Numa grande empresa, isso significa impactar milharesde pessoas diariamente. Não demora e um questionamento vai se materializando na vida dessesexecutivos: afinal, qual é o significado maior das minhas ações e conduta perante as pessoas comas quais interajo? Quando não mais estivermos lá e, principalmente durante os momentos decrises e dificuldades, como seremos lembrados?

Os símbolos de poder já foram todos (ou quase todos) conquistados, mas, por que um certovazio existencial persiste? Esse é um bom momento, penso, para se iniciar a busca pelo autoco -nhecimento, uma jornada poderosa, que nos ajuda a compreender a influência das máscaras que oego, de forma sutil, nos faz usar em nosso cotidiano. E nos ajuda, também, a olhar para a nossaessência e nossos “dons” (atributos que geram boa energia para desenvolver projetos, estudar, li -derar equipes, superar desafios, conquistar novas oportunidades profissionais, ser um cidadãoprotagonista, que coloca em prática o melhor das suas capacidades). Acredito firmemente queprecisamos usar esses “dons” com o propósito de dignificar a vida de todos à nossa volta.

É claro que esse olhar mais holístico aparece com o tempo. É difícil acelerar o processo deamadurecimento. Mas, talvez seja possível abordar com jovens executivos, um pouco da preocu-pação a respeito de uma visão mais integral da gestão, na qual podemos incorporar aspectos quevão além do “hardware”, olhando para a gestão de pessoas, as comunidades, mediante o exercíciode uma agenda socialmente responsável, que priorize a ética, os valores e que promova, cada vezmais, a gestão sustentável das organizações.

Em minha visão, nunca o fator humano foi tão importante no sucesso das organizações comonos tempos atuais. E, na medida em que compreendemos a natureza humana, as emoções, ainfluência do ego no comportamento das pessoas, as suas histórias de vida, a autenticidade dassuas reações, aumentamos as chances de que elas tenham nobres motivos para se sentirem maisfelizes e, assim, as chances de estarem mais comprometidas com o trabalho e com os desafios dasempresas, aumentam.

Para tanto, é necessário gostar muito de pessoas, agir bem e liderar pelo exemplo, este, o maisforte dos legados. É preciso deixar as pessoas conhecerem-no, expondo as suas opiniões de formaclara, sem medo, defendendo causas justas, princípios e valores.

Abraçar uma carreira executiva tem a ver com uma linda jornada de fazer o mundo ser umlugar melhor, mais justo, que respeita, que acolhe, integra de forma harmônica todos os seresvivos, respeitando-os, nutrindo-os. Isso é o que considero, realmente, construir um legado.