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AMANDA BEGOSSO GOZZE Epidemiologia da malária de fronteira agrícola: fatores associados à infecção e doença em estudo de base populacional na Amazônia rural brasileira São Paulo 2012 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Biologia da Relação Patógeno- Hospedeiro do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências.

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AMANDA BEGOSSO GOZZE

Epidemiologia da malária de fronteira agrícola:

fatores associados à infecção e doença em estudo de

base populacional na Amazônia rural brasileira

São Paulo 2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências.

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AMANDA BEGOSSO GOZZE

Epidemiologia da malária de fronteira agrícola: fatores associados

à infecção e doença em estudo de base populacional na Amazônia

rural brasileira

São Paulo 2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Área de concentração: Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro Orientador: Prof. Dr. Marcelo Urbano Ferreira Versão Corrigida. A versão original eletrônica encontra-se disponível tanto na Biblioteca do ICB quanto na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP (BDTD).

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ppeellaass nnooiitteess ddee pprreeooccuuppaaççããoo ee ppeellaass aalleeggrriiaass

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Marcelo Urbano Ferreira pela oportunidade, sabedoria e paciência, enfim, pela

orientação.

À população do Ramal do Remansinho, Ramal dos Goianos, Ramal da Castanheira, Ramal da Linha

1 e Ramal dos Seringueiros sem a participação dos quais este trabalho não teria sido concebido.

Gostaria de agradecê-los também pela vivência enriquecedora que adquiri nos meses que

convivemos.

À todos que compartilharam comigo o calor e as picadas de mosquitos, além da exaustão do

trabalho de campo, foi muito bom trabalhar com vocês: Vanessa Cristina Nicolete, Pablo Secato

Fontoura, Mônica da Silva Nunes e Carlos Eugenio Cavasini.

À Rosa Del Carmem Miluska pela companhia durante o tempo que moramos juntas em

Acrelândia.

A toda equipe do Laboratório de Epidemiologia Molecular de Malária pelo suporte no trabalho

laboratorial, em especial à Maria José Menezes, Melissa da Silva Bastos, Vanessa Cristina Nicolete,

Nathália Ferreira Lima e Raquel Muller Gonçalves.

A toda equipe do Instituto de Ciências Biomédicas II da Universidade de São Paulo pelo suporte

logístico e administrativo para consecução desta dissertação.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa de Mestrado

concedida.

A toda equipe organizadora e participantes do XVI Seminário Laveran & Deane pela oportunidade

de participação e pelas sugestões pertinentes a este trabalho.

À equipe do Laboratório de Malária do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fiocruz de Minas

Gerais, pelo trabalho com nossas amostras.

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À Rosangela Augusto pós-doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, pela gentil

colaboração e por toda orientação sobre a modelagem estatística.

Especial agradecimento à Priscila Thihara Rodrigues, Melissa da Silva Bastos, Bianca Cechetto

Carlos, Maria José Menezes e Vanessa Cristina Nicolete pelo apoio e amizade durante essa

jornada da minha vida, que com o companheirismo de vocês foi mais feliz.

À minha mãe querida, Cilene Maria Begosso Gozze, por todo o amor, dedicação, incentivo e

orações nos momentos de necessidade. Obrigada por me ensinar o que é correto e me guiar

durante meu crescimento.

Ao meu pai, Carlos Eduardo Gozze, pelo amor, pelos ensinamentos, e por todo apoio que me

concedeu ao longo de minha vida. Muito obrigada por me guiar e me prover nesta jornada.

Meus agradecimentos ao meu irmão, Carlos Eduardo Gozze Junior, por toda colaboração.

Às minhas avós, Maria Aparecida Gomes Begosso e Leonilda Marroni Zanchetta, pelo carinho e

pelas orações constantes.

Ao Carlos Henrique Prudente por todo amor, compreensão, e paciência, por me incentivar a não

desistir diante das dificuldades que se interpuseram durante o tempo que passamos juntos.

E principalmente a DEUS pela vida, saúde e proteção, por sempre iluminar e guiar os meus

caminhos. Por me consolar nos momentos de aflição e me proporcionar os momentos de

felicidade junto aos meus.

Enfim, muito obrigada a todos que contribuíram para realização deste trabalho.

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““JJuullgguuee sseeuu ssuucceessssoo ppeellaass ccooiissaass qquuee vvooccêê tteevvee qquuee

rreennuunncciiaarr ppaarraa ccoonnsseegguuiirr..””

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RESUMO

GOZZE, A. B. Epidemiologia da malária de fronteira agrícola: fatores associados à infecção e doença em estudo de base populacional na Amazônia rural brasileira. 2012. 85 f. Dissertação (Mestrado em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. O interesse em compreender a epidemiologia da malária no Brasil, fornecendo subsídios para seu controle, decorre principalmente de sua elevada morbidade em populações expostas continuamente ao risco de infecção; entretanto, a ocorrência de infecções subclínicas por plasmódios na Amazônia brasileira é outro alvo importante de investigação. Esta dissertação investiga a epidemiologia da malária, com ênfase em infecções assintomáticas por plasmódios, na Amazônia rural brasileira. Objetiva estimar a prevalência de infecção (independentemente da presença de sintomas) por plasmódios e fatores de risco associados à infecção malárica (independentemente de sintomas) e à malária clínica (sintomas na vigência de infecção malárica). Entre março de 2010 e abril de 2011, foram realizados quatro inquéritos transversais em um assentamento agrícola localizado no sul do estado do Amazonas, com o recrutamento de 395 indivíduos de idades entre dois meses e 66 anos. Das 794 amostras de sangue colhidas durante os inquéritos transversais e examinadas para a presença de plasmódios por microscopia convencional, 6,5% foram positivas. Considerando os resultados moleculares obtidos por PCR em tempo real em 731 amostras sanguíneas, obteve-se positividade de 17,8%, aproximadamente três vezes maior do que a detectada pelo exame microscópico, com a detecção de infecções mistas apenas pela técnica molecular. Cerca de dois terços das infecções diagnosticadas (independentemente do método utilizado) eram assintomáticas. Das covariáveis analisadas, apenas idade, tempo de exposição em área endêmica e a data do inquérito transversal mostraram associação significante aos desfechos. Os resultados enfatizam a importância de infecções assintomáticas infecções, muitas vezes submicroscópicas, na manutenção da transmissão de plasmódios e caracterizam o papel de aspectos comportamentais ligados à idade e da exposição cumulativa à malária como fatores de risco e de proteção, respectivamente, no contexto da malária de fronteira agrícola da Amazônia. Palavras-chave: Malária. Plasmodium. Assentamento rural. Prevalência. Sintomas gerais. Epidemiologia.

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ABSTRACT

GOZZE, A. B. Epidemiology of agricultural malaria frontier: factors associated with infection and disease in population-based study in rural Brazilian Amazonia. 2012. 85 p. Masters thesis (Biology of the Relation Pathogen-Host) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

Understanding the epidemiology of malaria in Brazil, to support malaria’s control, has attracted interest mainly due to its high morbidity in populations continuously exposed to the risk of infection, however, the occurrence of subclinical infections by parasites in the Brazilian Amazon is another important target for research. This dissertation investigates the epidemiology of malaria, with an emphasis on asymptomatic infections, in rural Brazilian Amazonia. It aims to estimate the prevalence of infection (regardless of symptoms) by parasites and risk factors associated with malaria infection (regardless of symptoms) and clinical malaria (symptoms in the presence of malaria infection). Between March 2010 and April 2011, four cross-sectional surveys were conducted in a farming settlement located in the southern of Amazonas state, with the recruitment of 395 patients aged between two months and 66 years. Of the 794 blood samples taken during the cross-sectional surveys and examined for the presence of parasites by conventional microscopy, 6.5% were positive. Considering the molecular results obtained by real time PCR in 731 blood samples, we obtained a positivity of 17.8%, nearly three times greater than that detected by microscopic examination, with the detection of mixed infections only by molecular technique. About two thirds of the infections diagnosed (regardless the diagnostic used) were asymptomatic. Of the covariates examined, only age, time living in an endemic area and date of the cross-sectional survey showed a significant association with outcomes. The results emphasize the importance of asymptomatic infections, often submicroscopic, to the maintenance of the transmission of parasites and characterize the role of behavioral issues related to the age and cumulative exposure to malaria as factors associated with risk and protection, respectively, in the context of agricultural frontier malaria in the Amazon. Keywords: Malaria. Plasmodium. Rural settlement. Prevalence. General symptons. Epidemiology.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Distribuição das áreas sob risco de transmissão de malária no mundo, em

2010..................................................................................................................................................22

Figura 2 – Número de casos de malária registrados entre 1960 e 2009 na Amazônia brasileira

segundo as principais espécies de plasmódios circulantes...............................................................24

Figura 3 – Áreas de transmissão de malária no Brasil, do ano de 2000 a 2008, de acordo com o

Índice Parasitário Anual (IPA)...........................................................................................................25

Figura 4 – Localização do assentamento agrícola conhecido como Remansinho, a principal área de

estudo, em relação ao município de Acrelândia (sede do laboratório de campo) e à rodovia BR

364....................................................................................................................................................34

Figura 5 – Imagem da distribuição do desmatamento na região Norte do país...............................36

Figura 6 – Distribuição da localização dos domicílios de acordo com as coordenadas geográficas

obtidas nos inquéritos......................................................................................................................37

Figura 7 – Exemplo de curva-padrão obtida em PCR em tempo real, para quantificação de

parasitemias de Plasmodium vivax e P. falciparum..........................................................................40

Figura 8 – Modelo conceitual hierárquico para seleção de fatores associados aos desfechos........44

Figura 9 – Distribuição dos indivíduos do estudo segundo a região do país em que nasceram, em

porcetagem.......................................................................................................................................47

Figura 10 – Distribuição do total de indivíduos (n=395) do estudo segundo idade e gênero..........48

Figura 11 – Distribuição dos genótipos de Duffy detectados pelo estudo, em porcentagem..........56

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Figura 12 – Relação entre carga parasitária (parasitos/µl) e o número de casos entre indivíduos

sintomáticos e assintomáticos..........................................................................................................57

Figura 13 – Relação entre carga parasitária (parasitos/µl) e o número de casos entre indivíduos

com exame de gota espessa negativa e positiva, apenas para P. vivax............................................58

Figura 14 – Relação entre carga parasitária (parasitos/µl) e as amostras detectáveis e não-

detectáveis, segundo a metodologia de diagnóstico empregada atualmente pelos órgãos de

vigilância e controle epidemiológico da malária...............................................................................59

Figura 15 – Relação entre a porcentagem de cada intervalo de parasitemia (parasitos/µl) e a

distribuição das amostras considerando o tempo acumulado (anos) de exposição à

malária..............................................................................................................................................60

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Lista da sequência de primers utilizados no RT-PCR da genotipagem de

Duffy................................................................................................................................................41

Tabela 2 – Proporção de infecções assintomáticas (%) entre indivíduos com parasitemia detectada

por microscopia convencional e RT-PCR, nos inquéritos transversais..............................................49

Tabela 3 – Número de infecções maláricas detectadas por microscopia convencional e RT-PCR, em

quatro cortes transversais, em zonas de assentamento agrícola pertencentes ao município de

Lábrea, AM........................................................................................................................................52

Tabela 4 – Correspondência entre microscopia e RT-PCR, das amostras dos quatro inquéritos

transversais.......................................................................................................................................53

Tabela 5 – Resultados do seguimento de 30 dias dos indivíduos assintomáticos detectados pelo

estudo em cada corte transversal.....................................................................................................54

Tabela 6 – Incidência de malária de Março a Dezembro de 2010 para a região do Ramal do

Remansinho......................................................................................................................................61

Tabela 7 – Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível. O número amostral (n) se

baseia no número de observações totais, ou seja, a participação em cada corte transversal é

considerada uma observação...........................................................................................................62

Tabela 8 – Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Infecção’....64

Tabela 9 – Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Infecção por

P. vivax’.............................................................................................................................................65

Tabela 10 – Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Doença’...66

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Tabela 11 – Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Doença por

P. vivax’.............................................................................................................................................67

Tabela 12 – Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível para o desfecho presença de

sintomas (sintomáticos). O número amostral (n) se baseia no número de observações totais dos

indivíduos infectados nos quatro cortes transversais.......................................................................68

Tabela 13 – Modelo multinível da regressão de Poisson gerado somente a partir dos indivíduos

infectados que relataram a presença de sintomas...........................................................................70

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AC – Acre

ACP – análise de componentes principais

AM – Amazonas

Asp – aspartato ou ácido aspártico

C – citosina

CEP – Comissão de Ética e Pesquisa em Seres Humanos

DARC – Duffy antigen receptor for chemokines

DBP – Duffy binding protein

DDT – Diclorodifeniltricloroetano

DETER – Detecção de desmatamento em tempo real

DNA - ácido desoxirribonucléico

ES – erytrocyte silent

Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz

FTA – filter paper-based DNA extraction

Gly - glicina

H – Horas

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IC – Intervalo de confiança

ICB – Instituto de Ciências Biomédicas

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPA – Incidência Parasitária Anual

IRR – razão de prevalência

Km – quilômetros

MG – Minas Gerais

N – tamanho amostral

Neg – negativo

No. – número

NY – New York

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OR – Odds Ratio

OMS – Organização Mundial da Saúde

p – probabilidade de significância

PCR – reação em cadeia da polimerase

PDS – Projeto de desenvolvimento sustentável

PvDBPII – Region II of the Duffy binding protein

RDTs – Rapid Diagnostic Tests (Teste rápido)

RO – Rondônia

rRNA – ácido ribonucleico ribossômico

RT-PCR – reação em cadeia da polimerase em tempo real

SIVEP – Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences

Stata – Package for Data Analysis and Statistical Software

T – timina

UBS – Unidade Básica de Saúde

USP – Universidade de São Paulo

°C – graus Celsius

ρ – coeficiente de correlação de Pearson

µl – microlitro

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................20

1.1 Malária....................................................................................................................................20

1.2 Epidemiologia da malária.........................................................................................................21

1.3 Histórico dos programas de controle e erradicação..................................................................23

1.4 Malária no Brasil......................................................................................................................24

1.5 Movimentos migratórios e malária..........................................................................................26

1.6 Malária de fronteira.................................................................................................................27

1.7 Importância das infecções assintomáticas................................................................................28

1.8 Polimorfismo em DARC e suscetibilidade à malária vivax.........................................................31

1.9 Objetivos.................................................................................................................................32

1.9.1 Objetivo geral...........................................................................................................................32

1.9.2 Objetivo específico...................................................................................................................33

2 METODOLOGIA........................................................................................................................34

2.1 Área e população de estudo.....................................................................................................34

2.2 Delineamento do estudo.........................................................................................................37

2.3 Procedimentos laboratoriais....................................................................................................39

2.3.1 Diagnóstico de malária.............................................................................................................39

2.3.2 Genotipagem do grupo sanguíneo de Duffy.............................................................................41

2.4 Análise estatística....................................................................................................................41

2.5 Composição do Índice de Riqueza............................................................................................45

2.6 Aspectos éticos........................................................................................................................46

3 RESULTADOS...........................................................................................................................47

3.1 Análise descritiva dos inquéritos transversais..........................................................................47

3.2 Atividades laboratoriais...........................................................................................................53

3.2.1 Diagnóstico de malária.............................................................................................................54

3.2.2 Genotipagem do grupo sanguíneo de Duffy.............................................................................55

3.3 Análise das parasitemias..........................................................................................................56

3.4 Análise da incidência de malária..............................................................................................60

3.5 Modelo multinível...................................................................................................................61

4 DISCUSSÃO..............................................................................................................................71

4.1 Análise das prevalências..........................................................................................................71

4.2 Análise dos fatores associados à infecção e doença.................................................................74

4.3 Limitações do estudo...............................................................................................................75

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5 CONCLUSÃO............................................................................................................................77

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................78

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Malária

A malária é uma doença parasitária, causada pela infecção por protozoários do gênero

Plasmodium spp., produzindo quadros de doença febril aguda que podem muitas vezes, mas não

sempre, serem caracterizados pelo acesso malárico clássico: arrepios e calafrios, seguidos de picos

febris de cerca de 40 °C e sudorese, que podem levar a fadiga e sono. Os paroxismos, ou acessos

maláricos, podem perdurar por várias horas, ocorrendo com certa periodicidade, que coincide

com a liberação de plasmódios no sangue pela ruptura de hemácias parasitadas (KARUNAWEERA

et al., 1992).

Estes paroxismos podem ocorrer a intervalos regulares de 48 h (febre terçã), ou em

intervalos de 72 h (febre quartã) (BOYD, 1949). Essa periodicidade está relacionada com a espécie

de plasmódio infectante e seu ciclo de vida. Atualmente, considera-se que cinco espécies de

plasmódios são causadores de infecção em seres humanos: Plasmodium falciparum, Plasmodium

vivax, Plasmodium malariae, Plasmodium ovale e Plasmodium knowlesi (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2011).

O ciclo de vida destes parasitos é composto pelo mosquito vetor do gênero Anopheles e pelo

hospedeiro humano. Os mosquitos transmitem a malária pela inoculação de esporozoítos no ser

humano durante o repasto sanguíneo. Estes esporozoítos invadem hepatócitos, dentro dos quais

se desenvolvem em esquizontes (ciclo pré-eritrocítico). A ruptura de cada hepatócito infectado

libera de 10.000 a 30.000 merozoítas que invadem os eritrócitos circulantes. A invasão, o

crescimento, e a lise que estes parasitos provocam nas hemácias resultam nos acessos de

calafrios, febre e sudorese; bem como outras possíveis manifestações da doença. Os sintomas da

malária são tipicamente evidenciados de duas a quatro semanas após a picada do mosquito

anophelino.

Durante o desenvolvimento nos eritrócitos (ciclo eritrocítico), alguns parasitos sofrem uma

transformação, ainda pouco compreendida, para as formas sexuais gerando gametócitos

femininos e masculinos. Estas serão as formas infectantes para os mosquitos vetores. No intestino

dos mosquitos, estes gametas geram zigotos diplóides, que se diferenciam em oocinetos que

atravessam a parede do intestino, onde se desenvolverão em oocistos que contém mais de 1.000

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esporozoítos, que emergirão e serão carregados pela hemolinfa do inseto para invadir as

glândulas salivares. Este processo no mosquito pode durar de uma a duas semanas.

No hospedeiro humano, os ciclos de invasão e crescimento em eritrócitos aumentam

exponencialmente a carga parasitária, causando febres e desencadeando processos patológicos

como a anemia, devido à perda eritrocítica, e, mais gravemente, a malária cerebral, desencadeada

pelo intenso sequestro microvascular de parasitos (FAIRHURST; WELLEMS, 2005).

A transmissão de malária depende, portanto, da presença e do relacionamento entre três

componentes epidemiológicos básicos: o hospedeiro, o vetor e o ambiente. O ambiente é o termo

geral que abrange três aspectos importantes para a veiculação da doença, que são: os aspectos

físicos e biológicos do ambiente que compreendem o clima, as precipitações, a cobertura vegetal,

a temperatura entre outros; e, os aspectos socioeconômicos como saneamento, condições da

habitação, ocupação, e pobreza (GILLES, 1993).

1.2 Epidemiologia da malária

A distribuição da malária no mundo está restrita às regiões de clima tropical e subtropical,

sendo encontrada, portanto, na África subsaariana, no sudeste da Ásia, e na América Latina. De

um modo geral observa-se que o P. falciparum e o P. malarie são encontrados mundialmente.

Enquanto P. vivax é pouco frequente no continente africano e comum nas demais áreas, e o P.

ovale está presente na África e em alguns focos na Ásia e Oceania. Com relação à distribuição de

P. knowlesi ainda pouco se sabe (FAIRHURST; WELLEMS, 2005).

Apesar dos esforços de controle e prevenção ao longo das últimas seis décadas, a malária é

considerada como um dos principais problemas globais de saúde pública, com cerca de 3,3 bilhões

de pessoas vivendo em áreas de risco de infecção, sendo este montante equivalente à metade da

população mundial (WHO, 2011).

Estimativas indicam que, em 2009, 225 milhões de casos de malária foram registrados no

mundo todo. Entre os anos de 2000 e 2009, observa-se tendência de aumento no número de

casos até 2005, com declínio a seguir, atribuído ao sucesso parcial das medidas de vigilância e

controle da malária em escala global. Nas Américas, reduziu-se em 42% o número de casos

registrados entre 2005 e 2009. O relatório da Organização Mundial da Saúde mostrou também

que o número de óbitos por malária no mundo diminuiu em cerca de 20% entre 2000 e 2009, com

a região das Américas responsáveis pela maior redução proporcional, de 48% (WHO, 2010).

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Figura 1 - Distribuição das áreas sob risco de transmissão de malária no mundo, em 2010.

FONTE: WHO, 2011.

A malária induz o aumento nas taxas de morbidade e mortalidade e correlaciona-se com os

níveis de pobreza e menor crescimento econômico das nações nas quais é endêmica. A malária

pode afetar diversos aspectos de um país, com impacto direto ou indireto no nível sócio-

econômico e na taxa de fertilidade (geralmente elevada devido à grande mortalidade infantil),

gerando impactos negativos no desenvolvimento cognitivo de crianças, reduzindo a produtividade

dos adultos, estimulando movimentos migratórios e afetando os níveis de investimento e

poupança da população (SACHS; MALANEY, 2002).

O controle epidemiológico da malária prioriza o tratamento dos indivíduos infectados e o

tratamento profilático de populações que residem em áreas de alto risco, além do controle do

mosquito vetor, que é realizado pela borrifação intradomiciliar de inseticidas e o uso de

mosquiteiros impregnados com inseticidas (KAPPE et al., 2010). Existem alguns empecilhos para a

eficácia destas medidas: (i) a quantidade restrita de antimaláricos para uso na terapêutica, (ii) o

relato de resistência a drogas e, portanto, a necessidade de desenvolver novos fármacos efetivos

para o tratamento da doença (iii) resistência dos mosquitos aos inseticidas usados no controle

vetorial. Embora grandes esforços tenham sido feitos para o desenvolvimento de vacinas que

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interrompam a transmissão, esta ainda parece ser uma alternativa viável apenas a médio e longo

prazo (KAPPE et al., 2010; PARIJA; PRAHARAJ, 2011; TALISUNA et al., 2004).

1.3 Histórico dos programas de controle e erradicação

A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs, em 1955, o primeiro plano mundial de

combate à malária, o Programa de Erradicação Global da Malária. Suas estratégias focavam a

utilização da cloroquina para o tratamento e prevenção da doença, bem como a rápida e massiva

borrifação intradomiciliar com diclorodifeniltricloroetano (DDT) (conhecida como “dedetização”)

para o controle vetorial. Apesar de bem sucedidas em áreas de baixa transmissão, essas medidas

planejadas para terem alcance global não foram implementadas de modo satisfatório na África

subsaariana, o que provocou duras críticas ao programa. Essas estratégias globais ainda não

consideravam as características geográficas e epidemiológicas específicas de cada área, o que

contribuiu para seu insucesso. No período de vigência desta campanha, surgiram relatos de

plasmódios resistentes à cloroquina e de vetores resistentes ao DDT, o que culminou em 1969 no

abandono da idéia de erradicação e do plano em questão (FEACHEM; SABOT, 2008; GREENWOOD

et al., 2008; WHO, 1956).

No Brasil, a adesão ao Programa de Erradicação da Malária resultou em decréscimo

significativo no número de infecções diagnosticadas a cada ano, de cerca de seis milhões na

década de 1940 para 36,9 mil no início dos anos 1960 (BARROS-BARRETO, 1940; TAUIL; DANIEL-

RIBEIRO, 1998). Entretanto, no final da década de 1960 e início dos anos 1970, com os programas

de incentivo à colonização da Região Amazônica, o número de casos registrados anualmente

atingiu níveis preocupantes, de 52.000 casos em 1970 para 578.000 casos em 1989 (MARQUES,

1987; OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010; TAUIL; DANIEL-RIBEIRO, 1998), Figura 2.

Com a extinção do Programa de Erradicação Global da Malária, o número de casos

aumentou significativamente em várias áreas do mundo, mantendo-se níveis elevados de

transmissão nas áreas endêmicas remanescentes. Em 2008, com o objetivo de reduzir e erradicar,

a longo prazo, a malária do mundo foi criado o Plano de Ação Global Contra Malária, em parceria

com o movimento Roll Back Malaria que reúne mais de 500 associados (países endêmicos, setor

privado, fundações, organizações não-governamentais e instituições acadêmicas e de pesquisa).

Esse novo plano utiliza abordagens distintas nas diversas áreas endêmicas do mundo, entendendo

que as diferenças políticas, religiosas, geográficas e epidemiológicas são fatores decisivos no

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sucesso de uma intervenção. Para tanto, prioriza-se a utilização de mosquiteiros impregnados

com inseticidas de longa duração, borrifação residual intradomiciliar, tratamento preventivo

intermitente de mulheres grávidas e a pesquisa de novas ferramentas e estratégias para dar

suporte ao controle global e aos esforços de eliminação da doença (ROLL BACK MALARIA, 2008).

Figura 2 - Número de casos de malária registrados entre 1960 e 2009 na Amazônia brasileira segundo as principais espécies de plasmódios circulantes. Enfatizando o grande aumento nos casos de malária no início dos anos 1980 devido à migração massiva e descontrolada, incentivada pelas políticas de colonização do norte do país.

FONTE: Oliveira-Ferreira et al., 2010.

1.4 Malária no Brasil

A malária permanece entre as principais endemias parasitárias brasileiras. Entre 1970 e

meados da década de 1990, a incidência anual de malária no Brasil multiplicou-se por dez,

estabilizando-se por vários anos em torno de 500.000 casos anuais, dos quais mais de 99% são

adquiridos na Amazônia Legal (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2008). De acordo com a

Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO, 2009), em 2008 o número de casos clínicos de

malária no Brasil correspondia a 56% de todos os casos relatados nas Américas e no Caribe, sendo

que 42% destes casos foram relatados no Estado do Amazonas.

Em 2010 foram registrados no Brasil 333.424 casos de malária, com 99,7% destes casos

provenientes da Região Amazônica (TAUIL, 2011). Considerando o IPA (Incidência Parasitária

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Anual; número de casos registrados por mil habitantes), é possível observar que, apesar das

diversas estratégias de controle aplicadas no Brasil, os níveis de transmissão estão em constante

mudança, e isso requer um monitoramento frequente a fim de aperfeiçoar o alcance e eficácia

das medidas empregadas (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010), Figura 3.

Figura 3 - Áreas de transmissão de malária no Brasil, do ano de 2000 e 2008, de acordo com o Incidência Parasitária Anual (IPA). IPA baixo: < 10 casos/mil pessoas; IPA médio: 10 a 49,9 casos/mil pessoas; IPA alto: > 50 casos/mil pessoas notificados.

FONTE: Oliveira-Ferreira et al., 2010.

Atualmente, as estratégias de controle da malária no Brasil estão focadas no tratamento

rápido e adequado dos infectados, borrifação intradomiciliar de inseticidas, além do aumento no

número de postos de atendimento para o diagnóstico e o fornecimento de antimaláricos para o

tratamento (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010).

Embora no continente africano Plasmodium falciparum seja a espécie que

predominantemente causa esta moléstia (HAY et al., 2009), no Brasil P. vivax é responsável por

83,7% dos casos notificados, enquanto P. falciparum é o agente etiológico de apenas 16,3% dos

casos de infecção (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010). Apesar do caráter ‘benigno’ atribuído a P.

vivax até pouco tempo atrás, sabe-se, atualmente, que esta espécie é capaz de causar quadros

clínicos graves (GENTON et al., 2008; PRICE et al., 2007). P. vivax possui ainda em seu ciclo de vida

no hospedeiro humano, um estágio em que produz formas do parasito que ficam quiescentes

(hipnozoítos) no fígado do hospedeiro e podem ser reativadas mediante sinais pouco

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compreendidos (KROTOSKI et al., 1982). Esta produção de hipnozoítos dificulta ainda mais o

controle epidemiológico da doença, pois, apesar de tratados, alguns indivíduos ainda apresentam

recaídas (GARCIA, 2010).

O interesse crescente em compreender a epidemiologia da malária no Brasil, fornecendo

subsídios para seu controle, decorre principalmente de sua elevada morbidade em populações

expostas continuamente ao risco de infecção. Além disso, a ocorrência de infecções subclínicas

por plasmódios na Amazônia brasileira mostra grande importância no contexto epidemiológico

em que ocorre (COURA et al., 2006), revigorado desde a publicação do relato de infecções

assintomáticas frequentes em populações ribeirinhas do estado de Rondônia (ALVES et al., 2002).

Populações expostas a níveis relativamente baixos de transmissão de malária, quando

comparados ao padrão da África subsaariana, parecem capazes de adquirir imunidade clínica que

as protege dos sintomas da malária, ainda que não necessariamente permita-lhes eliminar os

parasitos. Resta determinar que fatores demográficos e biológicos favorecem o desenvolvimento

de imunidade clínica em populações de áreas hipoendêmicas.

1.5 Movimentos migratórios e malária

Diversos estudos enfatizam a relevância dos movimentos migratórios na dinâmica de

transmissão da malária, priorizando inclusive a necessidade de medidas de controle desenvolvidas

coordenadamente entre países vizinhos (PROTHERO, 1961; SNOW et al., 2008; TATEM; SMITH,

2010). Atualmente, considera-se a migração como um dos elementos fundamentais para o

planejamento de medidas adotadas no controle da doença (CARTER, 2009; WHO, 2005). O

ressurgimento de casos de infecção em áreas que já haviam alcançado a eliminação (BARAT, 2006;

MABASO; SHARP; LENGELER, 2004), além da manutenção dos casos existentes, corroboram essa

preocupação (TATEM; SMITH, 2010).

Os estudos de Marques (1986) mostram uma influência importante das áreas de alta

transmissão no quadro epidemiológico, não apenas local, mas também de regiões distantes,

decorrente dos movimentos migratórios populacionais atuantes na disseminação da malária pelo

país. Neste estudo, aparentemente, dois tipos de atividades favorecem ainda mais a transmissão

da malária na região amazônica - a mineração e os assentamentos agrícolas – sendo que em

ambos os casos o contato entre o hospedeiro e o vetor é facilitado.

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Um estudo realizado por Castro et al. (2006), em um assentamento agrícola no estado de

Rondônia (Projeto de Assentamento Machadinho), mostrou que a migração de uma população

oriunda de área endêmica para um assentamento recentemente estabelecido pode ser um fator

determinante para o aumento acentuado no número de casos de malária. Esta elevação seria

consequência das condições de vida precárias, da exposição intensa aos vetores, dos serviços de

saúde incipientes, e da alta densidade vetorial favorecida pelas florestas pouco modificadas

(SAWYER, 19881 apud CASTRO et al., 2006).

Outro estudo, realizado em um assentamento agrícola no estado do Acre (Ramal do

Granada), mostrou que populações migrantes estabelecidas há mais tempo nestas áreas,

aproximadamente oito a dez anos, apresentavam tendência a queda na probabilidade de ter a

doença, evidenciando uma situação em que migrantes desenvolveriam certa imunidade contra os

sintomas da malária (da SILVA-NUNES et al., 2008). Essa queda de risco ao longo do tempo pode

estar também associada à elevada degradação ecológica decorrente do maior tempo de

residência na área, como sugerido por Castro et al. (2006).

Estes trabalhos apontam para a importância dos movimentos migratórios nos contextos em

que ocorrem, e, indicam novas perspectivas de estudo, uma vez que o tempo de permanência em

área endêmica parece estar intimamente associado ao desenvolvimento de certo grau de

imunidade (ALVES, 2002; da SILVA-NUNES et al., 2008).

1.6 Malária de fronteira

Castro et al. (2006), baseados nas propostas de Saywer (1988, 19922 apud CASTRO et al.,

2006), propôs que o ecossistema amazônico, sob constante modificação, exigi para a

caracterização do risco de malária a consideração dos fenômenos biológicos, ecológicos e sócio-

demográficos que estão relacionados ainda aos fatores comportamentais e econômicos. Segundo

os autores estes fatores atuantes podem ser divididos em três escalas espaciais: micro/individual,

comunitária e estatal ou nacional.

1SAWYER, D. R. Frontier malaria in the amazon region of Brazil: types of malaria situations and some implications

for control. Brasília, Pan American Health Organization/WHO/Special Programme for Research Training in Tropical Diseases, 1988.

2SAWYER, D. R. Malaria and the Environment. Brasília: Instituto SPN, 1992.

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O nível micro/individual é caracterizado pela alta densidade vetorial favorecida pelas

modificações do ecossistema; pela intensa exposição humana decorrente do conhecimento

limitado sobre a malária e suas formas de prevenção; pelo predomínio de infecções por P.

falciparum que figura como parasito primário, pela alta morbidade e baixa mortalidade que

reflete uma evolução incomum da virulência de P. falciparum na região amazônica; pela menor

imunidade entre os novos indivíduos assentados que muitas vezes provém de áreas não-

endêmicas; pelas habitações precárias devido ao recente processo de colonização, e, por isso

borrifação residual deficiente; e pelos postos de saúde esparsos, limitando a distribuição de

antimaláricos.

No nível da comunidade, a malária de fronteira é caracterizada por coesão comunitária

mínima, marginalidade política dos assentados, e altas taxas de migração. Estes fatores associados

criam um ambiente caótico, que restringe as tentativas de gestão dos ecossistemas para diminuir

o risco de malária e criar postos de atendimento e diagnóstico. Além disso, a mobilidade humana

favorece às dinâmicas de transmissão dos plasmódios.

Finalmente, no nível estatal ou nacional, malária de fronteira é caracterizada pelo

desenvolvimento de novas áreas de assentamento não planejados, que foram induzidos por falhas

em assentamentos anteriores, embora esta situação atue apenas na promoção da transmissão de

malária.

Saywer e Saywer (19923 apud CASTRO et al., 2006) sugeriram ainda uma escala temporal

para a caracterização de malária de fronteira. Relacionando as duas escalas, espacial e temporal,

tem-se que na abertura da área de assentamento a carga de infecção aumenta rapidamente, e os

níveis micro/individual e comunitário são totalmente operantes. Cerca de seis a oito anos depois a

migração instável e as transformações ecológicas são substituídas por um processo mais

organizado de urbanização e desenvolvimento de coesão na comunidade. E assim lentamente a

malária de fronteira é substituída por níveis de transmissão baixos e estáveis.

1.7 Importância das infecções assintomáticas

3 SAWYER, D. R.; SAWYER, D. O. In Advancing the Health in Developing Countries: The Role of Social Research, ed.

Chen, L. C. (Auburn House, Westport, CT), 105–22, 1992.

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O quadro clínico da malária compreende um amplo espectro de sintomas e sinais de

intensidade variável. Os paroxismos e a febre alta, considerados os sintomas mais característicos

da doença, podem não ser necessariamente os sintomas encontrados entre uma parcela

significativa dos pacientes que buscam os postos de diagnóstico no Brasil. Um estudo realizado no

Acre entre 2004 e 2005 mostra que 47,4% dos pacientes não relatam febre alta como sintoma

para a busca de tratamento, sendo que 19,1% destes não relataram qualquer episódio febril. Na

verdade, esses pacientes buscaram tratamento por causa de outros sintomas, como cefaléia e

mialgia (da SILVA-NUNES; FERREIRA 2007). Aparentemente, os sintomas estão associados à

parasitemia da infecção: quanto maior a quantidade de parasitas circulantes, maior a intensidade

dos sintomas. De fato, as dificuldades do diagnóstico clínico e laboratorial podem influenciar na

manutenção da transmissão, uma vez que as infecções assintomáticas são caracteristicamente

infecções com baixas parasitemias (da SILVA-NUNES; FERREIRA, 2007).

O desenvolvimento de imunidade clínica é comumente relatado em áreas hiperendêmicas e

mesoendêmicas, permitindo o estudo de potenciais mecanismos imunológicos de proteção contra

as principais manifestações clínicas da doença (BLOLAND et al., 1999; TRAPE et al., 1994).

Contudo, alguns estudos recentes têm apontado para o desenvolvimento deste fenômeno em

áreas hipoendêmicas, como é o caso do Brasil. Este fato foi sugerido em estudos feitos com os

mais diversificados tipos populacionais: mineradores (de ANDRADE et al., 1995), populações

ribeirinhas (ALVES et al., 2002), e populações assentadas (da SILVA-NUNES et al., 2008), indicando

que o desenvolvimento de imunidade aos sintomas da doença é mais frequente do que o

imaginado, inclusive em áreas de baixa transmissão.

As infecções assintomáticas servem como reservatório para a malária humana, inacessível às

medidas profiláticas focadas no diagnóstico e tratamento precoces de infecções sintomáticas. O

recente relato de redução de risco de malária clínica subseqüente entre portadores de infecção

assintomática, observada em estudos de coorte na África Ocidental, acrescenta uma nova

dimensão ao problema. Esses dados sugerem a hipótese intrigante de que as infecções

assintomáticas conferem certo nível de proteção contra a superinfecção (definida como a

aquisição de nova infecção em indivíduos já portadores do parasito), com potenciais

consequências clínicas e em Saúde Pública (MALES et al., 2008). A associação entre infecções

assintomáticas e risco de superinfecção e doença, no entanto, permanece inexplorada em outros

contextos epidemiológicos.

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A intensidade e a regularidade de transmissão de malária determinam os níveis de

imunidade adquirida encontrados na população naturalmente exposta à infecção. Em áreas de

transmissão estável, como grande parte do continente africano, a população está constantemente

exposta à infecção e adquire imunidade contra a doença (ainda que apresente infecções

assintomáticas com grande freqüência) antes de atingir a adolescência, enquanto em áreas com

transmissão instável e menos intensa a doença permanece comum entre os adultos expostos. Na

Amazônia brasileira, as infecções por P. falciparum e P. vivax podem produzir sintomas de

intensidade muito variável, resultando em um amplo espectro clínico da doença (da SILVA-NUNES;

FERREIRA, 2007).

As infecções completamente assintomáticas, entretanto, não são tão raras como se supunha

até recentemente (CAMARGO et al., 1994, 1996). Geralmente associadas a baixas parasitemias,

muitas vezes submicroscópicas, as infecções subclínicas são observadas tanto em populações

ribeirinhas expostas ao parasito desde o nascimento (ALVES et al., 2002; LADEIA-ANDRADE et al.,

2009) como em populações compostas majoritariamente por migrantes que passaram a expor-se

no momento de sua mudança para a Amazônia (da SILVA-NUNES et al., 2008). Não existe

consenso sobre os fatores ligados aos parasitos e aos hospedeiros que contribuem para a

ocorrência de infecções assintomáticas por plasmódios em diferentes contextos epidemiológicos

observados na Amazônia brasileira (COURA et al., 2006).

Um estudo realizado por Alves et al. (2005) testou a infectividade de mosquitos entre

pacientes sintomáticos e assintomáticos, a fim de verificar a importância desses tipos de infecções

para o quadro epidemiológico. E, observou-se que apesar da taxa de infecção obtida no estudo ser

menor entre os mosquitos alimentados com o sangue de indivíduos sem sintomas, o trabalho

mostra claramente que mesmo assim indivíduos assintomáticos são capazes de infectar

mosquitos. O estudo ainda relaciona o tempo em que os pacientes continuam sem sintomas e a

menor taxa de infecção, sugerindo um efeito compensatório, isto é, indivíduos assintomáticos

permanecem infectantes para o vetor por mais tempo devido à ausência de sinais clínicos.

Outro problema relacionado às infecções subclínicas reside nas deficiências das técnicas de

diagnóstico laboratorial. O padrão-ouro diagnóstico é o exame de gotas espessas preparadas com

sangue capilar. Este tipo de diagnóstico microscópico é capaz de detectar a espécie do parasito e

permite sua quantificação, com sensibilidade entre cinco e 100 parasitos/µL de sangue. A

limitação desta técnica reside na precisão do resultado que está diretamente vinculado ao

treinamento e à experiência do microscopista (SUAREZ-MUTIS et al., 2007). Outro método de

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diagnóstico adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil são os chamados testes rápidos (RDTs -

Rapid Diagnostic Tests), utilizados quando há impossibilidade de realização do exame

microscópico. Essa técnica baseia-se na detecção de proteínas do parasito por anticorpos

monoclonais impregnados em uma fita. A sensibilidade dos RDTs é semelhante à gota espessa

para P. falciparum, mas muito inferior para P. vivax, que é a espécie predominante no país

(HARRIS et al., 2010). Além destas técnicas outra comumente empregada é a reação em cadeia da

polimerase (PCR), um teste molecular de detecção de DNA, muito mais sensível quea microscopia

convencional e os testes rápidos (SNOUNOU et al., 1993). Embora tenha muitas vantagens na

detecção de parasitos, essa técnica é cara e complexa, sendo utilizada apenas em projetos de

pesquisa (HWANG et al., 2011; WONGSRICHANALAI et al., 2007).

Em uma meta-análise, realizada por Okell et al. (2009), comparando a eficácia das duas

principais técnicas utilizadas no diagnóstico, o exame de gotas espessas e a PCR, observou-se que

em média as gotas espessas detectam apenas 50% do que é passível de identificação pela PCR.

Estes dados podem indicar um quadro epidemiológico muito mais acentuado do que o mostrado

nos relatórios das organizações competentes, indicando a real magnitude desta moléstia.

Com base na experiência prévia de trabalho com populações amazônicas (da SILVA-NUNES

et al., 2008; da SILVA et al., 2010; LADEIA-ANDRADE et al., 2009), este trabalho visa a investigar a

epidemiologia das infecções por plasmódios em um assentamento agrícola típico da Amazônia.

Baseia-se no uso de métodos padronizados de diagnóstico de infecção e de critérios clínico-

epidemiológicos que permitam definir infecção assintomática de modo robusto e reprodutível.

Essas abordagens padronizadas foram aplicadas a um estudo de base populacional, para avaliar os

fatores que proporcionam a ocorrência de infecções assintomáticas por plasmódios e seu

potencial impacto na manutenção da transmissão da malária humana em uma população rural

amazônica.

1.8 Polimorfismo em DARC e susceptibilidade à malária vivax

Enquanto P. falciparum utiliza numerosos receptores para a invasão dos eritrócitos,

incluindo glicoforinas A, B e C/D e outros ainda desconhecidos (nomeados X, Y e Z), (PERSSON et

al., 2010), a via majoritária de penetração na célula hospedeira utilizada por P. vivax requer a

presença do antígeno Duffy/receptor de quimiocinas (DARC) (MILLER et al., 1976). A invasão das

células sanguíneas depende da interação estabelecida entre o receptor DARC, presente na

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superfície dos eritrócitos, e a Duffy binding protein (DBP), uma proteína localizada nos

micronemas e liberada para a superfície do merozoíto somente no momento da invasão.

Duffy/DARC é expresso em células endoteliais e hemácias. O gene que o codifica tem dois

polimorfismos principais, com impacto funcional. O primeiro, uma transição TC no nucleotídeo -

33 na região promotora (alelo conhecido como FyNeg ou FyES [ES = erytrocyte silent]), abole

completamente sua expressão em hemácias, mas não afeta sua expressão nos demais tecidos. O

segundo polimorfismo, uma substituição AspGly no códon 42 da região amino-terminal do

antígeno, determina a transição do fenótipo Fyb (forma ancestral) para o fenótipo Fya. O

polimorfismo que afeta a expressão do receptor DARC nos eritrócitos reduz a susceptibilidade do

indivíduo à infecção natural por P. vivax. Embora já tenham sido registrados casos de malária

vivax em indivíduos Duffy negativos, sugerindo uma via alternativa de invasão (CAVASINI et al.,

2007; MENÁRD et al., 2010), eritrócitos que não expressam o receptor DARC em sua superfície

mostram-se altamente refratários a infecção por esse parasito (MILLER et al., 1976). Na África,

onde infecções por P. vivax são raras, cerca de 90% da população é negativa para o antígeno Duffy

(MILLER et al., 1976).

Entretanto ainda não se sabe se o segundo polimorfismo (FybFya) afeta a suscetibilidade

das hemácias à invasão por P. vivax. Observou-se recentemente que PvDBPII tem menor

capacidade de ligar-se a hemácias que expressam o alelo Fya (uma redução da ordem de 41-50%)

quando comparadas a hemácias que expressam o alelo Fyb (KING et al., 2011). Esses dados

sugerem que o polimorfismo (FybFya) possa desempenhar um importante papel na modulação

da suscetibilidade à malária vivax. De fato, dados de um estudo de coorte prospectiva realizado no

Brasil sugerem que os indivíduos com hemácias Fya (em homozigose ou heterozigose) têm muito

menor incidência de malária vivax do que os habitantes da mesma comunidade que apresentam

hemácias Fyb (KING et al., 2011). Como esperado, esse polimorfismo não afeta a suscetibilidade à

malária falciparum nessa comunidade, pois P. falciparum não utiliza o receptor Duffy/DARC para

invadir hemácias. Diante dessas incertezas sobre o impacto do polimorfismo FybFya na

susceptibilidade à malária vivax, no presente trabalho a maioria dos participantes teve o receptor

DARC genotipado.

1.9 Objetivos

1.9.1 Geral

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Este trabalho teve por objetivo investigar a epidemiologia das infecções maláricas

(independentemente da presença de sintomas) por plasmódios em assentamentos agrícolas na

Amazônia brasileira e descrever fatores de risco associados.

1.9.2 Específico

Estimar a prevalência de infecção sintomática e assintomática por plasmódio, com base em

microscopia e método molecular, e caracterizar fatores de risco sócio-demográficos, ambientais e

genéticos para a infecção e para o desenvolvimento de sintomas na vigência de infecção malárica,

a partir de quatro inquéritos consecutivos de base populacional em uma população rural

amazônica.

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2 METODOLOGIA

2.1 Área e população de estudo

A área de estudo situa-se no extremo oeste do estado de Rondônia e no sul do estado do

Amazonas, junto à fronteira com o Acre, a cerca de 120 km de Acrelândia (sede de município mais

próxima). Estende-se perpendicularmente à rodovia BR-364, na fronteira entre Rondônia e Acre (a

cerca de 60 km de Acrelândia), ao sul, até as margens do Rio Macurene, no estado do Amazonas,

ao norte (Figura 4).

Figura 4 - Localização do assentamento agrícola conhecido como Remansinho, a principal área de estudo, em relação ao município de Acrelândia (sede do laboratório de campo) e à rodovia BR 364, que liga Rio Branco e Acrelândia, no Acre, a Rondônia e ao restante do país.

Fonte: Ferreira (2012)4.

Essa área compreende zonas de assentamento agrícola ao redor de uma estrada principal

chamada Ramal do Remansinho, localizadas aproximadamente a 40 km da rodovia BR-364, no

estado do Amazonas. Este estudo abrange a população das margens da via principal e de mais

4 FERREIRA, M. U. São Paulo, 2012. Dados não publicados.

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quatro vias menores em seu entorno, conhecidas como Ramal dos Goianos, Ramal da Castanheira,

Ramal da Linha 1 e Ramal dos Seringueiros.

Parte da população do estudo é composta pelos habitantes do assentamento agrícola

denominado Ramal do Remansinho (também conhecido como Seringal Nova Esperança, PDS

Gedeão ou Gleba Iquiri), localizado no sudeste do Estado do Amazonas. De uma maneira geral,

estes assentamentos rurais constituem a principal via que o governo utiliza para o

desenvolvimento de ações de reforma agrária no país (GIRARDI, 2008).

Esta é uma área de ocupação recente, que foi sede do conflito entre trabalhadores rurais e

um latifundiário que havia ocupado a área com documentos questionáveis de posse. Essa região

totaliza 37 mil hectares de terras pertencentes à União. Na época da ocupação inicial (2005) e

durante o conflito que perdurou até 2007, os agricultores permaneciam acampados antes da

ponte do Rio Remansinho, supostamente fora das terras do latifundiário. Com a ação do INCRA e

da Polícia Federal, o suposto proprietário destas terras foi expulso e hoje a população ocupa 12

mil hectares da área em questão (INCRA, 2007). Os lotes que foram distribuídos na área estão

majoritariamente incluídos em uma área de PDS - Projeto de Desenvolvimento Sustentável, uma

forma não- reformadora de distribuição de terras, que visa ao reconhecimento de terras e seus

beneficiários (ROCHA, 2008).

Este tipo de loteamento permite, supostamente, conciliar a produção agrícola com a

conservação ambiental. Contudo, o que se observa, em áreas de assentamento da Amazônia Legal

é um intenso processo de desmatamento e posterior introdução da atividade agropecuária ou,

ainda, o abandono da terra devido às dificuldades enfrentadas no meio (GIRARDI, 2008).

Desenvolvem-se nesses loteamentos, principalmente, a agropecuária e a exploração madeireira, o

que afeta diretamente os níveis de degradação e desmatamento florestal (ALBUQUERQUE;

COELHO; VASCONCELOS, 2004; LAURANCE, 2000; WALKER; MORAN; ANSELIN, 2000). Um estudo

com 343 assentamentos, realizado entre 1970 a 2002, mostrou que este tipo de ocupação possuía

taxa de desmatamento de 1,8% ao ano, valor quatro vezes maior se comparado à taxa média de

desmatamento da Amazônia (0,42% ao ano, no período de 1997 a 2004) (BRANDÃO JR.; SOUZA

JR., 2006).

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Figura 5 - Imagem da distribuição do desmatamento na região Norte do país. Operação Disparada/Ibama.

FONTE: DETER/INPE (2012)5.

Rastreamentos do desmatamento realizados pelo INPE (dados não publicados) na Bacia

Amazônica mostram as áreas mais afetadas pela ação humana, bem como a magnitude destas

ações (Figura 5). É importante ressaltar que a área de estudo em questão está situada em uma

região (no município de Lábrea) considerada pelos rastreamentos como área de alta concentração

de desmatamento.

Em estudo realizado no município de Mâncio Lima no estado do Acre, que analisou os dados

de incidência de malária e sua relação com o desmatamento, observou-se associação positiva

entre as variáveis. O trabalho mostrou que o desmatamento registrado entre os anos de 1997 e

2000 estava associado ao aumento da incidência de malária no período (OLSON et al., 2010).

Considerando as coordenadas geográficas (latitude e longitude) da localização dos domicílios

do estudo, obtivemos a Figura 6, na qual cada círculo representa uma casa; assim, é possível

observar a distribuição dos indivíduos no assentamento agrícola. A população de estudo são os

habitantes dos assentamentos agrícolas conhecidos como Remansinho, Goianos, Castanheira,

5 Detecção de desmatamento em tempo real (DETER), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 2012.

Apresentação de slides. Dados não publicados.

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Linha 1 e Seringueiros, situados a 60 km do distrito de Nova Califórnia (pertencente ao Município

de Porto Velho, Rondônia).

Figura 6 - Distribuição da localização dos domicílios de acordo com as coordenadas geográficas obtidas nos inquéritos.

Fonte: Ferreira (2012)6.

2.2 Delineamento do estudo

A linha de base foi estabelecida com o primeiro inquérito transversal, durante o qual foi

aplicado um amplo questionário sócio-demográfico e de morbidade pregressa e atual. Os

instrumentos utilizados foram criados com base em estudos prévios realizados em diversas

populações amazônicas e testados no campo nos meses de abril e junho de 2009.

Na linha de base do estudo, todos os indivíduos foram convidados, independentemente da

presença de sintomas, a fornecer uma amostra de sangue (venoso ou capilar) para realização de

microscopia convencional e diagnóstico molecular de malária. O recrutamento foi feito em visitas

domiciliares a cada membro da comunidade, pela equipe de campo, sendo considerados aptos a 6 FERREIRA, M. U. São Paulo, 2012. Dados não publicados.

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38

participar do estudo todos os indivíduos com mais de dois meses de idade. Não há outros critérios

de exclusão definidos.

Quantos aos sintomas os indivíduos foram questionados sobre presença e intensidade de:

febre, calafrios, sudorese, fraqueza, cefaléia, perda de apetite, dor abdominal, dor nos

hipocôndrios, náuseas, vômitos, mialgia, artralgia, lombalgia, diarréia, icterícia, alteração na cor

da urina, sangramento, alteração de consciência, tosse, falta de ar, tontura ou algum outro

sintoma.

Uma alíquota da amostra sangüínea colhida na linha de base foi utilizada para realização de

diagnóstico microscópico de malária por um microscopista de Acrelândia, sede do laboratório de

campo, para a identificação de portadores sintomáticos e assintomáticos de infecção. Caso a

lâmina fosse positiva esta era analisada novamente pela microscopista do assentamento para a

liberação da medicação. Os portadores de infecção, independente de sintomas, diagnosticada por

microscopia, foram imediatamente tratados segundo os esquemas terapêuticos preconizados

pelo Ministério da Saúde. Outra alíquota foi utilizada para o diagnóstico molecular realizado,

então, no laboratório do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo.

Outros três inquéritos transversais, semelhantes ao primeiro, foram realizados posteriormente.

Além disso, para avaliar casos incidentes de malária entre os inquéritos transversais,

utilizaram-se os registros de casos que alimentam o banco de dados SIVEP-Malária do Ministério

da Saúde, provenientes do posto de microscopia do assentamento, da Unidade Básica de Saúde

(UBS) do distrito de Nova Califórnia (RO) e da Unidade Mista de Saúde da cidade de Acrelândia

(AC).

Estes dados obtidos a partir do SIVEP-Malária são essenciais no contexto em que são

coletados, pois auxiliam no monitoramento do número de casos nas diversas regiões do país e sua

qualidade é assegurada devido à notificação compulsória que esta doença exige junto aos órgãos

de vigilância epidemiológica do país.

Esses dados foram utilizados com duas finalidades: (a) estimar a incidência de malária clínica

durante o estudo e (b) estimar a incidência de malária clínica entre os indivíduos com infecção

assintomática diagnosticada durante os inquéritos transversais. Com essa segunda finalidade,

fizemos um seguimento de trinta dias após cada coleta, em que os sujeitos sem sintomas eram

procurados nos registros a fim de que verificássemos a sua busca por atendimento, certamente

decorrente do aparecimento de sintomas.

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39

Para realizar a análise dos casos incidentes de malária na área de estudo, foram digitadas as

informações sobre a data da coleta da lâmina de indivíduos sintomáticos, resultado da gota

espessa e parasitemia dos indivíduos participantes do estudo. Então, somou-se o número de dias

de permanência de todos os sujeitos em um mês e este número foi dividido pelo número de dias

deste mês, obtendo-se assim o número de pessoas/mês. Em seguida, foram divididos o número

de casos registrados no SIVEP naquele mês, pelo número de pessoas/mês obtidos para o mesmo

período. Devido a problemas estes registros foram obtidos apenas até o mês de dezembro de

2010.

Desse modo, os dados obtidos durante os inquéritos transversais permitem determinar a

prevalência de infecção, sintomática e assintomática e investigar fatores de risco associados ao

estado de portador assintomático, enquanto os dados colhidos entre os inquéritos transversais

permitem avaliar a incidência de malária clínica ao longo do período de estudo.

2.3 Procedimentos laboratoriais

2.3.1 Diagnóstico de malária

O diagnóstico microscópico de malária realizado em lâminas com gotas espessas coradas

com Giemsa, e, o exame de pelo menos 200 campos microscópicos de grande aumento foram

utilizados para definir o resultado de cada lâmina (TRAPE, 1985). Amostras de sangue de todos os

indivíduos recrutados nos estudos transversais foram testadas para a presença de DNA de

plasmódios humanos através de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) descrita

por Gonçalves et al. (2010), utilizando os primers descritos por Kimura et al. (1997), que tem como

alvo o gene que codifica a subunidade 18S do rRNA.

A sequência-alvo de cada espécie tem aproximadamente 100 pares de bases de

comprimento. Para a quantificação das parasitemias, empregou-se como padrão (com número

conhecido de cópias da sequência-alvo) um fragmento amplificado com os oligonucleotídeos

espécie-específicos, purificado e clonado em vetor plasmidial (pGEM T-Easy, Promega), usado

para transformar bactérias competentes da linhagem DH10B. Os plasmídeos recombinantes

foram sequenciados para confirmar se a sequência clonada estava correta. As soluções contendo

os plasmídeos com a sequência correta foram quantificadas por espectrofotometria e o número

de cópias por µl da sequência-alvo foi calculado. Para cada espécie foi construída uma curva de 10

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pontos a partir de diluição seriada (fator de diluição: 10) da solução plasmidial. O primeiro ponto

contém 1,468 x 109 cópias da sequência alvo. Um exemplo de curva-padrão é apresentado na

Figura 7.

Figura 7 - Exemplo de curva-padrão, obtida em PCR de tempo real, para a quantificação de

parasitemias de Plasmodium vivax e P. falciparum. Na parte superior da figura são mostrados valores de fluorescência a cada ciclo de amplificação, enquanto na parte inferior da figura mostra-se a curva-padrão obtida com esses dados.

Fonte: Bastos, (2011)7.

A PCR quantitativa em tempo real foi padronizada utilizando-se o kit comercial Máxima SYBR

Green (Fermentas, Lituânia). Os ensaios foram realizados em triplicata nas seguintes condições:

desnaturação a 95 °C por 10 minutos, 40 ciclos de 95 C por 15 segundos e 60 C por 1 minuto

(com aquisição de fluorescência no final de cada etapa de extensão), extensão final a 95 C por 15

segundos e 60 C por 15 segundos. Curva de dissociação: 60 C – 95 C (20 minutos). Esse

procedimento foi realizado no Laboratório de Epidemiologia Molecular da Malária do ICB da USP.

7 BASTOS, M. S. São Paulo, 2012. Dados não publicados.

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2.3.2 Genotipagem do grupo sanguíneo de Duffy

As amostras de sangue venoso coletadas nos cortes transversais foram encaminhadas ao

Laboratório de Malária do Centro de Pesquisas René Rachou/CPqRR (Fiocruz, MG) onde foram

processadas pela PCR em tempo real com o primers relacionados na Tabela 1, conforme descrito

no protocolo de Souza et al. (2007).

Tabela 1 - Lista da sequência de primers utilizados no RT-PCR da genotipagem de Duffy.

Primers Oligonucleotídeos (5' → 3')

FGATA CCCGGGCCCGCCG CCC TCA TTA GTC CTT GGC TCT TTC

FAB CCC TCA TTA GTC CTT GGC TCT TTT

RABGATA A GGG GCA TAG GGA TAA GGG ACT

FY C TCA AGT CAG CTG GAC TTC GAA GAT

RYA AG CTG CTT CCA GGT TGG CTC

RYB CTG CTT CCA GGT TGG CGT Nota: Em negrito os nucleotídeos polimórficos. Sublinhado estão os

mismatches. Em itálico a cauda C/G inserida.

Fonte: Souza et al., 2007.

Nesta técnica foram utilizados seis primers para a genotipagem de Duffy. Para detecção do

polimorfismo Fya e Fyb foram utilizados os primers RYA e RYB. Estes primers foram usados com o

primer iniciador anterior FY. Para detecção da mutação na região promotora foram utilizados os

primers FAB (‘wild type promoter’) e FGATA (promotor mutado). Estes primers foram utilizados

com o oligonucleotídeo reverso RABGATA. Em FGATA, FAB, RYA e RYB os nucleotídeos

polimórficos estão na extremidade 3’. Devido à elevada homologia entre primers alelo-específico

foi introduzido um erro de pareamento (mismatch) exatamente antes do polimorfismo para

impedir a amplificação de um alelo non-matching. Além disso, foi inserido no primer FGATA uma

cauda C/G para aumentar a diferença de temperatura de anelamento com relação ao primer FAB.

Para o uso de pares de primers (FY/RYA e FAB/RABGATA em um tubo, e FY/RYB e

FGATA/RABGATA no outro), realizou-se uma reação multiplex.

2.4 Análise estatística

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Um banco de dados foi elaborado no software SPSS 16.0 - Statistical Package for the Social

Sciences - (SPSS Inc., Chicago, IL). Na análise dos dados dos inquéritos transversais, os desfechos

de interesse são: (a) ocorrência de infecção (independentemente de sintomas), (b) ocorrência de

infecção por P. vivax, (c) ocorrência de doença, isto é, presença de sintomas na vigência de

infecção, (d) doença causada por P. vivax e (e) presença de sintomas entre os indivíduos

infectados.

Com relação à ‘infecção’ e ‘infecção por P. vivax’, o desfecho era obtido a partir dos

resultados consenso entre RT-PCR e exame de gotas espessas, ou seja, um sujeito com diagnóstico

positivo é considerado ‘infectado’, e, apenas os que estavam infectados por P. vivax,

independentemente de infecção mista, eram considerados ‘infectados por P. vivax’. Os desfechos

‘doença’ e ‘doença por P. vivax’ eram gerados a partir das variáveis de diagnóstico consenso e da

variável referente à presença ou ausência de sintomas nos últimos sete dias antes da coleta; isto

é, em ambos os casos o sujeito deveria estar infectado, respectivamente, por qualquer tipo de

plasmódio ou apenas por P. vivax, e ainda deveria relatar a presença de algum sintoma. E para o

último desfecho ‘presença de sintomas’ apenas entre os indivíduos infectados, os demais sujeitos

foram removidos do banco de dados, logo, o tamanho amostral é muito menor para este

desfecho.

É importante enfatizar que os resultados foram observados separadamente para P. vivax por

causa da genotipagem de Duffy, que deve influenciar somente infecções por este tipo de

plasmódio.

Para as análises foram considerados assintomáticos os casos de infecção definida pelo

diagnóstico consenso e ausência de relato de sintomas nos sete dias anteriores à coleta de

amostras.

Modelos de regressão de Poisson foram empregados para descrever associações

independentes entre diversas covariáveis e os cinco desfechos de interesse. Optou-se pela

regressão de Poisson devido à alta prevalência encontrada para os desfechos, uma vez que o Odds

Ratio (OR) da regressão logarítmica não é considerado um bom estimador para eventos

frequentes e sim para desfechos raros (BARROS; HIRAKATA, 2003).

Malária é uma doença que pode ser influenciada por um conjunto de fatores diversos, mas

que podem ser separados como os fatores biológicos inerentes a cada indivíduo, e fatores

ambientais que os mesmos compartilham na comunidade. A análise multinível permite essa

separação na modelagem, que é crucial para compreensão adequada das doenças infecciosas. Os

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modelos multiníveis respeitam a estrutura agrupada da população de forma harmoniosa.

Facilitando a observação de muitos aspectos que formam o contexto que propicia o

desenvolvimento de doenças.

Este tipo de modelagem favorece, ainda, a análise de fatores em níveis micro e macro no

estudo da causa de doenças infecciosas ou crônicas. Portanto, pode-se dizer que os modelos

multiníveis surgiram recentemente como uma ferramenta analítica poderosa que permite a

investigação simultânea de fatores em nível populacional e em nível individual que, por sua vez,

contribuem para o desenvolvimento de doenças (DIEZ-ROUX; AIELLO, 2005; MAUNY et al., 2004).

Por causa da estrutura aninhada dos dados (o mesmo indivíduo pode ter uma ou duas

observações obtidas em inquéritos transversais consecutivos e diferentes indivíduos

compartilham o mesmo domicílio), foram utilizados modelos de regressão em três níveis: o

primeiro nível corresponde às observações individuais (uma ou mais por participante do estudo,

que mudam de inquérito para inquérito), o segundo nível inclui covariáveis referentes a cada

indivíduo que não mudam entre os inquéritos e o terceiro nível inclui variáveis referentes aos

domicílios, que são compartilhadas por todos os seus habitantes. A análise multinível foi realizada

com o programa Stata 10.0. Neste programa o comando utilizado para as análises foi o

“xtmepoisson”.

A análise dos fatores associados à infecção por plasmódios foi estruturada em duas etapas. A

princípio as variáveis independentes que apresentaram associações com esses desfechos com

valor de p<0,20 (teste de qui-quadrado para heterogeneidade e de tendência linear) foram

selecionadas para compor os modelos múltiplos. Na sequência, procedeu-se à análise múltipla

com seleção hierarquizada de variáveis em modelos de regressão de Poisson multinível (erro

padrão robusto) (BARROS; HIRAKATA, 2003), para estimação das razões de prevalência (IRR) dos

fatores associados e seus intervalos de confiança de 95% (IC95%), utilizando-se modelo conceitual

hierárquico definido a priori (Figura 8) de acordo com a descrição de Victora et al. (1997). A

análise do modelo múltiplo seguia do bloco distal para o proximal. Em cada nível de

determinação, as covariáveis selecionadas permaneciam nos modelos subsequentes e foram

consideradas como fatores associados aos desfechos.

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Figura 8 - Modelo conceitual hierárquico para seleção de fatores associados aos desfechos.

Fonte: Modificado de Victora et al., 1997.

Enfim, para combinar os desfechos com as covariáveis do estudo, estas foram inseridas em

blocos (conforme mostrado na Tabela 7). As covariáveis demográficas (sexo, idade, tempo de

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Amazônia, genótipo de Duffy e data do inquérito) foram inseridas inicialmente, e, caso gerassem

um nível de significância (p) menor do que 20% (0,2) eram mantidas no modelo. Em seguida,

inseria-se a variável sócio-econômica (índice de riqueza), que, como todas as variáveis, deveria

obedecer o pré-requisito para permanência no modelo (p<0,2). Depois eram inseridas as variáveis

ambientais (cômodo de dormir, janela do cômodo de dormir, uso do mosquiteiro, ramal de

residência) e as variáveis comportamentais (hora de dormir, hora que acorda, hora do banho,

ocupação, pesca e se o sujeito dorme próximo ao rio).

Logo, como critérios de exclusão do modelo foram utilizados: (i) p > 20% (ou maior que 0,2)

e/ou (ii) alterações menores que 10% na magnitude da IRR. O segundo item do critério de

exclusão se baseia na análise da influência que a inserção de uma nova variável poderia exercer

sobre as variáveis que já estavam no modelo, ou seja, caso fosse verificado um aumento ou

decréscimo na razão de prevalência (IRR) igual ao superior a 10% esta variável deveria

permanecer o modelo (MALDONADO; GREENLAND, 1993).

Com relação às variáveis idade e tempo de área endêmica é importante ressaltar que estas

duas possuem correlação moderada, verificada utilizando o coeficiente de correlação de Pearson

(ρ = 0,614). Basicamente por causa do contexto biológico, uma acaba sendo diretamente

proporcional a outra, isto é, quanto maior a idade do indivíduo maior o tempo de moradia área

endêmica, indicando a colinearidade entre elas.

2.5 Composição do Índice de Riqueza

Foram coletados dados em 100 domicílios na área de estudo. Para gerar a covariável Índice

de Riqueza, por domicílio, foram analisadas a presença ou ausência de alguns bens (rádio de pilha,

jogo de sala, gerador, poço, motosserra, motocicleta, carro/caminhão, e espingarda de caça),

além disso, verificou-se a quantidade de outros itens (bicicletas, camas, cavalos, porcos, galinhas,

patos e bois). A análise de componentes principais foi então executada, utilizando o software

XLSTAT, versão 7.5.2 (Addinsoft, New York, NY), para verificar o peso de cada componente para a

criação da covariável (FILMER; PRITCHETT, 2001). É importante enfatizar que esses bens foram

escolhidos por se ajustarem à condição local que os moradores vivenciam, uma vez que não há

energia elétrica na área.

A análise dos componentes principais (ACP) realizada para composição da covariável Índice

de Riqueza explicou 22,33% da variabilidade e concedeu os maiores pesos para os seguintes itens:

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galinhas (0,756), gado (0,695), e cama (0,612). Para padronizar as variáveis, o valor atribuído a

cada domicílio foi multiplicado pela média e dividido pelo desvio padrão da variável

correspondente. As variáveis padronizadas depois foram multiplicadas pelos valores dos pesos

obtidos na ACP. Os valores foram somados por domicílio produzindo assim o Índice de Riqueza

atribuído a cada domicílio. O índice foi estratificado em quartis em ordem decrescente, sendo o

primeiro quartil composto por 25% dos domicílios mais ricos.

2.6 Aspectos éticos

Os únicos riscos a que os sujeitos de pesquisa estavam expostos são aqueles decorrentes da

punção venosa para coleta de sangue (dor, com mínima possibilidade de sangramento local). O

uso de material descartável para coleta de sangue, associado à assepsia local, reduzem ao mínimo

o risco de infecção decorrente da punção venosa ou de polpa digital. O protocolo de pesquisa foi

avaliado e aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação com Seres Humanos do Instituto

de Ciências Biomédicas da USP (parecer 950/CEP, 29/06/2010).

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3 RESULTADOS

3.1 Análise descritiva dos inquéritos transversais

A linha de base foi estabelecida com o primeiro inquérito transversal realizado entre março

e abril de 2010, durante o qual foi aplicado um amplo questionário sócio-demográfico e de

morbidade pregressa e atual. Os sintomas mais frequentemente relatados foram cefaléia, febre e

mialgia.

Figura 9 - Distribuição dos indivíduos do estudo segundo a região do país em que nasceram, em porcentagem.

Fonte: Gozze (2012)8.

Participaram do estudo até o quarto inquérito transversal 395 indivíduos destas áreas, sendo

95,3% (dos indivíduos com mais de 18 anos de idade) migrantes de outros estados; destes 25%

são migrantes do Acre, 18,9% de Rondônia, 10,4% do Paraná, 8% de Minas Gerais e 5,7% do Mato

Grosso (Figura 9). Em relação ao gênero, 55,9% (221) do sexo masculino e 44,1% (174) do sexo

feminino. A média de idade dos participantes é de 26,2 anos (+- 0,9), com mediana de 23,6 anos e

amplitude de 0,17 a 71 anos. A distribuição dos indivíduos que compõem o estudo segundo idade

e gênero esta evidenciado na Figura 10.

8 GOZZE, A. B. São Paulo, 2012. Dados não publicados.

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Figura 10 - Distribuição do total de indivíduos (n=395) do estudo segundo a idade e o gênero.

Fonte: Gozze (2012).

Os indivíduos que compõem o estudo têm tempo médio de área endêmica, anterior à

residência nestes ramais, de 15,5 anos (+- 0,74), com mediana de 11,5 anos e amplitude de zero

(crianças que nasceram na área) há 64,9 anos.

No primeiro corte transversal, participaram os indivíduos dos Ramais do Remansinho e

Goianos. No segundo inquérito, participaram os mesmos indivíduos do primeiro corte, e foram

agregados os habitantes dos Ramais da Castanheira, Linha 1 e Seringueiros. No terceiro corte

participaram os cinco ramais já incluídos anteriormente. Até o último inquérito transversal,

quando se obteve uma população total de 395 indivíduos, esta era composta por 259 (65,6%)

sujeitos que moravam no Ramal do Remansinho, 15 (3,8%) no Ramal dos Goianos, 64 (16,2%) no

Ramal da Castanheira, 37 (9,4%) no Ramal da Linha 1 e 15 (3,8%) no Ramal dos Seringueiros. Estes

ramais adjacentes possuem níveis de transmissão de malária comparáveis aos encontrados no

Ramal do Remansinho. Entretanto, existem algumas diferenças quanto ao período de ocupação

da área, por exemplo, os moradores do Ramal da Linha 1 ocupado há mais tempo, chegaram na

região antes dos habitantes dos Ramais do Remansinho, Seringueiros e Goianos.

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No primeiro inquérito transversal foram recrutados 158 indivíduos, período em que uma

equipe de campo sediada em Acrelândia visitou a área diariamente. Neste corte registrou-se cerca

de 22% (45/203) de recusas dentre os indivíduos localizados na área. Estes sujeitos que estavam

indisponíveis podem ser separados entre os que realmente não apresentavam interesse em

participar do estudo e aqueles que não foram encontrados apesar dos esforços da equipe (falha

na amostragem).

Dos 158 indivíduos (73 do sexo feminino e 85 do sexo masculino) que tiveram amostra

sanguínea colhida em março-abril de 2010, 19 foram positivos para plasmódios na microscopia de

gota espessa e 46 foram positivos na PCR. Dentre os casos positivos, foram encontrados 36

indivíduos infectados por Plasmodium vivax e oito por Plasmodium falciparum, com 2 casos de

infecção mista. Assim, para este corte observou-se uma prevalência de 29,8% (46/154).

Relacionando a distribuição dos casos positivos por sexo, encontramos 20 (20/46) casos

diagnosticados em indivíduos do sexo feminino e 26 (26/46) casos entre os de sexo masculino. Na

distribuição dos casos positivos por faixas etárias, observou-se 1 (1/22) caso entre crianças de

zero a cinco anos, 12 (12/44) casos entre indivíduos de seis a 15 anos, 17 (17/41) casos entre

indivíduos de 16 a 40 anos e 16 (16/47) casos para indivíduos com mais de 41 anos. Para presença

de sintomas, dentre os casos positivos temos 21 (21/43) casos de malária assintomática, o que

corresponde a 48,8% do total de indivíduos com malária no primeiro corte.

Tabela 2 - Proporção de infecções assintomáticas (%) entre os indivíduos com parasitemia detectada por microscopia e RT-PCR, nos inquéritos transversais.

Inquérito transversal (período)

Mar-Abr 2010 Mai-Jul 2010 Out-Nov 2010 Mar-Abr 2010

No.

Assintomáticos No.

Assintomáticos No.

Assintomáticos No.

Assintomáticos

Positivos Positivos Positivos Positivos

Microscopia 17 47 16 68,7 11 72,7 3 66,6

RT-PCR 43 48,8 41 70,7 23 72,7 14 78,5

PCR positivo 31 51,6 27 74 15 73,3 11 81,8

GE negativa*

*RT-PCR positivo com microscopia de gota espessa (GE) negativa. Fonte: Gozze (2012).

A média de idade dos participantes foi de 26,4 anos (+-1,49), e a mediana foi de 23,4 anos. A

amplitude foi de 0,84 anos e o máximo foi 66,7 anos. O tempo de moradia médio na localidade foi

de 1,6 anos (+-0,10), e a mediana foi de 1,0 ano, o tempo mínimo de moradia foi de 0,04 ano e o

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período máximo foi de 6,0 anos. A amplitude do tempo de moradia na Amazônia foi de 0,16 a 65,0

anos, a média foi de 16,6 anos (+-1,22) e a mediana foi de 12 anos. Foram colhidas 158 lâminas

para exame da gota espessa 137 apresentaram-se negativas e 19 positivas, sendo todas estas

positivas para P. vivax. Quando perguntados sobre a presença de sintomas nos últimos 30 dias

53,2% (82/154) relataram algum sintoma, e nos últimos sete dias 40,6% (61/150) apresentaram

algum sintoma.

No segundo inquérito, realizado da segunda quinzena de maio a primeira quinzena de julho

de 2010, foram examinados 204 indivíduos. As recusas registradas neste corte foram de 18,4%

(46/250) da população presente na área.

Dentre os 204 participantes amostrados, 16 (15 indivíduos infectados por P. vivax e 1 caso

de infecção por P. falciparum) mostraram-se positivos à microscopia e 43 (29 infecções por P.

vivax, 12 por P. falciparum com duas infecções mista) à PCR. Baseado nos dados de consenso

entre o diagnóstico microscópico e molecular, na distribuição por faixas etárias, foram registrados

4 (4/27) casos entre crianças de 0 a 5 anos de idade, observamos 5 (5/43) casos nos indivíduos

com 6 a 15 anos, 21 (21/66) casos entre indivíduos de 16 a 40 anos, e 13 (13/67) casos entre os

indivíduos maiores de 41 anos de idade. Com relação à distribuição dos casos positivos por sexo,

observou-se que entre os sujeitos do sexo masculino foram encontrados 26 (26/112) casos, e

entre o sexo feminino verificou-se 17 (17/91) casos.

Neste corte 55,3% (113/204) dos indivíduos eram do sexo masculino e 44,6% (91/204) do

sexo feminino. A média de idade dos indivíduos foi de 28,4 anos (+-1,26), e a mediana foi 27,7

anos, sendo a amplitude de 0,4 ano a 67 anos. O menor período em que os indivíduos do estudo

residiram na localidade foi de 0,02 ano e o maior foi 14,0 anos; o tempo médio foi 2,2 anos; (+-

0,13), e a mediana foi 2,0 anos. O tempo médio de moradia na Amazônia foi 18,8 anos (+- 1,08), a

mediana foi 14,0 anos, a amplitude foi de 0,02 ano a 58,0 anos. Considerando a presença de

sintomas nos últimos 30 dias, 40,7% (81/199) disseram ter sentido algum sintoma, e, com relação

aos últimos sete dias 27,1% (54/199) queixaram-se de algo.

Observou-se prevalência de 21,9% (43/196). Dentre os casos positivos, 29 eram indivíduos

assintomáticos, o que corresponde a 70% (29/41) de todos os casos de malária encontrados no

segundo corte. Estes dados corroboram a relevância de tal estudo, explicitando a magnitude dos

casos assintomáticos na manutenção de infecções maláricas (Tabela 2).

O terceiro inquérito transversal realizado em novembro de 2010, contou com 218

indivíduos, e registrou recusa de 12,8% (32/250). Entre os indivíduos amostrados 53,7% (117) são

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do sexo masculino, e 46,3% (101) do sexo feminino. A média de idade dos indivíduos deste corte

foi de 26,2 anos (+-1,21), a mediana foi de 23,6 anos, a amplitude variou de 1,19 a 65,5 anos. O

tempo de moradia médio na localidade foi de 1,8 anos (+-0,11), a mediana foi 1,5 anos, e a

amplitude foi de 0,01 a 10,0 anos. Para a Amazônia o tempo médio de residência foi 17,5 anos (+-

1,02), a mediana foi 13,0 anos, o valor mínimo da amplitude foi 0,02 e o máximo foi 58,0 anos.

Foram coletadas 218 lâminas, das quais 207 foram negativas e 11 positivas, todas com P. vivax. O

diagnóstico molecular das amostras coletadas a partir de sangue capilar realizado com 194

amostras encontrou 171 casos negativos, 17 infecções por P. vivax e seis infecções por P.

falciparum, sendo que não foram observados casos de malária mista. Quanto a distribuição dos

casos positivos, de consenso entre gota espessa e RT-PCR, por sexo, observou-se 10 (10/25) casos

entre indivíduos do sexo feminino e 15 (15/25) casos entre o sexo masculino. Por faixas etárias

foram observados 7 (7/31) casos entre crianças de zero a cinco anos, 6 (6/54) entre jovens de 6 a

15 anos, 9 (9/74) casos entre indivíduos de 16 a 40 anos e 3 (3/56) casos entre indivíduos com

mais de 41 anos.

Com relação a presença de sintomas nos últimos 30 dias 28,7% (59/205) dos sujeitos

apresentaram alguma queixa, e nos últimos sete dias 21,5% (44/204) disseram ter sentido algo.

Dentre os casos positivos, verificou-se que 17 (17/25) indivíduos eram assintomáticos, perfazendo

um total de 68% de infectados sem sintomas.

No terceiro corte transversal não foram coletadas amostras de sangue venoso, apenas

sangue capilar em papel filtro. Porém, apesar das diferenças de sensibilidade das vias de

amostragem a tendência à queda na prevalência de malária foi mantida.

No quarto inquérito transversal, que ocorreu entre 21 de março e 18 de abril de 2011,

participaram do estudo 216 indivíduos, sendo 51,8% (112) do sexo masculino e 48,1% (104) do

sexo feminino. Neste corte houve 13,9% de recusas (35/251).

A média de idade dos integrantes deste corte foi de 25,5 anos (+- 1,28), com mediana de

20,6 anos e amplitude entre 0,58 e 71 anos. O tempo de moradia médio na localidade foi de 1,9

anos (+-0,24), mediana de 1,0 ano e amplitude de 0,02 e 38 anos. O menor período de moradia na

Amazônia foi de 0,02 e o maior foi de 56 anos, com tempo médio de 15,9 anos (+-1,04) e mediana

de 12,5 anos.

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Tabela 3 - Número de infecções maláricas detectadas por microscopia convencional e RT-PCR, em quatro cortes transversais, em zonas de assentamento agrícola

pertencentes ao município de Lábrea, AM.

Inquérito transversal (período)

Mar-Abr Mai-Jul Out-Nov Mar-Abr

Sintomas?* Infecção

2010 2010 2010 2011

GE PCR GE PCR GE PCR GE PCR

Sim P. falciparum 0 2 0 1 0 1 0 1

P. vivax 9 20 5 11 3 5 1 2

Mista 0 0 0 0 0 0 0 0

No. testado 61 61 54 51 45 39 34 31

Não P. falciparum 0 6 1 10 0 5 0 1

P. vivax 8 13 10 17 8 11 2 10

Mista 0 2 0 2 0 0 0 0

No. testado 89 86 145 139 165 151 181 170

Total P. falciparum 0 8 1 11 0 6 0 2

P. vivax 17 33 15 28 11 16 3 12

Mista 0 2 0 2 0 0 0 0

No. testado 150 147 199 190 210 190 215 201

Prevalência (%)

P. falciparum 0 5,4 0,5 5,7 0 3,1 0 0,9

P. vivax 11,3 22,4 7,5 14,7 5,2 8,4 1,3 5,9

Mista 0 1,3 0 1 0 0 0 0

*Sintomas referentes há sete dias antes da coleta Fonte: Gozze (2012).

Das 216 lâminas colhidas neste corte, apenas três eram positivas, e todas para P. vivax. O

diagnóstico molecular realizado com 202 amostras detectou 14 infecções, sendo 12 por P. vivax e

2 por P. falciparum. Considerando o resultado consenso entre o RT-PCR e a gota espessa,

verificou-se que por sexo as infecções estavam distribuídas: 5 (5/14) casos entre os indivíduos do

sexo feminino, e 9 (9/14) entre o sexo masculino. Por faixas etárias não observou-se nenhuma

infecção entre crianças com até cinco anos, observou-se 4 (4/14) infecções entre sujeitos de seis a

15 anos, 5 (5/14) infecções entre pessoas com 16 a 40 anos, 4 (4/14) infecções entre sujeitos com

mais de 41 anos, e, infelizmente, verificou-se uma infecção em um participante para o qual não se

tem dados de idade.

Considerando a presença de sintomas nos últimos 30 dias, verificou-se 21,7% (45/207) dos

indivíduos com queixas de sintomas. Nos últimos sete dias 14,9% (31/207) indivíduos queixaram-

se de algum sintoma. Na análise dos casos positivos detectados verificou-se que 11 (11/14) não

haviam relatado qualquer sintoma, ou seja, dentre os infectados 78,5% eram assintomáticos neste

corte (Tabela 3).

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Os dados obtidos no estudo enfatizam a subestimação que ocorre pela metodologia

diagnóstica empregada como padrão ouro pelo Ministério da Saúde do país, sendo o exame

microscópico da gota espessa consideravelmente menos sensível do que a técnica molecular de

RT-PCR. Comparando as técnicas, observou-se que RT-PCR detectou, em média, três vezes mais

infecções do que a microscopia convencional.

A RT-PCR revelou 4,6 e 4,8% infecções mistas dentre as positivas no primeiro e segundo

corte, respectivamente, sendo que, não foram encontradas infecções mistas por microscopia

convencional em nenhum dos inquéritos.

A Tabela 4 mostra a correspondência entre os resultados das gotas espessas e do RT-PCR. É

possível observar que houve três casos (de P. vivax) em que o resultado da lâmina foi positivo e o

PCR negativo. Estas lâminas serão enviadas para reavaliação por um microscopista do laboratório

de referência para diagnóstico microscópico de malária.

Tabela 4 - Correspondência entre microscopia e RT-PCR, das

amostras dos quatro inquéritos transversais.

Giemsa RT-PCR

Negativa P. falciparum P. vivax Mista Total

Negativa 600 26 58 3 687

P. falciparum 0 1 0 0 1

P. vivax 3 1 38 1 43

Total 603 28 96 4 731

Fonte: Gozze (2012).

Os quatro inquéritos foram realizados ao longo de 12 meses, abrangendo épocas com

diferentes condições climáticas. A maior parte dos indivíduos reside em casas de madeira (90%),

com cobertura de amianto (65%). A água de consumo provém de poços relativamente rasos

(75%). Não há rede de energia elétrica ou sistema de tratamento de esgoto. A escolaridade média

foi de três anos (+-0,15), com mediana de três anos de estudo e amplitude variando de zero a 15

anos. A maioria dos indivíduos (81%) refere ter tido malária alguma vez na vida, sendo que 71,7%

já tiveram malária vivax e 56,1% já tiveram malária falciparum.

3.2 Atividades laboratoriais

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3.2.1 Diagnóstico de malária

O diagnóstico microscópico de malária vem sendo realizado em lâminas com gotas espessas

coradas com Giemsa, com o exame de menos 200 campos microscópicos de grande aumento. De

cada paciente obtém-se um par de lâminas; uma é examinada em Acrelândia no laboratório de

campo, caso seja positiva a outra é examinada pela microscopista da área para liberação do

tratamento. Amostras de sangue de indivíduos examinados nos estudos transversais foram

testadas para a presença de DNA de plasmódios humanos através de reação em cadeia da

polimerase (PCR) em tempo real. Foram examinadas 794 gotas espessas nos inquéritos realizados,

e processadas 731 amostras sanguíneas.

Na análise dos casos assintomáticos utilizando os dados do SIVEP-Malária fizemos um

seguimento de 30 dias após cada coleta, em que os sujeitos sem sintomas eram procurados nos

registros a fim de que verificássemos a sua busca por atendimento, certamente decorrente do

aparecimento de sintomas (Tabela 5).

Tabela 5 - Resultados do seguimento de 30 dias dos indivíduos assintomáticos detectados pelo estudo em cada corte transversal.

No. de indivíduos

Inquéritos transversais

Mar-Abr Mai-Jul Out-Nov Mar-Abr

2010 2010 2010(*) 2011

Assintomáticos nos últimos sete 21

29

17

11

dias anteriores à coleta do estudo

Continuaram assintomáticos 10

13

6

5

depois de 30 dias

Tiveram lâmina do estudo 5

10

6

2

positiva e foram tratados

Tiveram sintomas e colheram nova 3

3

1

2

lâmina cujo resultado foi negativo

Colheram nova lâmina cujo resultado 1

1

1

2 foi positivo para mesma spp. do

estudo Colheram nova lâmina cujo resultado

2

2

0

0 foi positivo para spp. diferente do estudo

(*)Não foi possível completar o seguimento de três indivíduos por falhas no registros locais. Fonte: Gozze (2012).

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Considerando os níveis de transmissão de malária, o Brasil é considerado uma área

hipoendêmica o que denota segundo Gilles (1993) “áreas de baixa transmissão, nas quais o efeito

da malária na população geral não é importante”. De acordo com WHO (1963), a porcentagem de

crianças entre dois e nove anos de idade com exame de gota espessa positiva para malária deve

ser inferior a 10% para que a área seja considerada hipoendêmica. Analisando, especificamente, o

nível de endemicidade da área de estudo, verificou-se 5,3% (9/167) de positividade entre as

crianças dessa faixa etária, o que mantém a classificação empregada para todo o país.

3.2.2 Genotipagem do grupo sanguíneo de Duffy

Foram processadas 335 amostras para determinação do genótipo de Duffy, sendo o

genótipo FyaFyb o mais comumente encontrado com 30,7% (103/335). Os demais foram: FyaFy

com 23,0% (77/335), FybFyb com 17,6% (59/335), FybFy com 11,6% (39/335), FyaFya com 11,0%

(37/335) e FyFy com 6,0% (20/335), conforme mostrado na Figura 11. Para 60 indivíduos não foi

possível realizar a genotipagem, isto se deve a ausência de amostra de sangue venoso, sendo que

para estes sujeitos foram colhidas apenas a gota espessa e/ou FTA.

Estes dados condizem com o mapa da distribuição global do grupo sanguíneo de Duffy

(HOWES et al., 2011) em que tem-se a maior heterogeneidade alélica no continente americano,

com a presença, de até os dois alelos (CAVASINI et al., 2007), devido, ao estabelecimento de

populações de origens diversas no continente.

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Figura 11 - Porcentagem dos genótipos de Duffy detectados no estudo.

Fonte: Gozze (2012).

3.3 Análise das parasitemias

A carga parasitária está, muitas vezes, diretamente associada à presença e intensidade dos

sintomas (da SILVA-NUNES; FERREIRA, 2007). Enquanto as infecções assintomáticas, por sua vez,

estão relacionadas a baixas concentrações de parasitas no sangue do hospedeiro.

Na análise das parasitemias obtidas nos cortes transversais causadas por P. vivax (n=99) e

relacionadas à presença ou ausência de sintomas nos sete dias anteriores à coleta, o padrão

observado foi semelhante ao esperado, ou seja, uma concentração maior de infecções

assintomáticas com baixas parasitemias, e o decréscimo do número de amostras em

concentrações mais altas de parasitos (Figura 12). Embora o esperado para os indivíduos com

sintomas fosse o aumento do número de amostras entre as cargas parasitárias maiores, estes

resultados evidenciam uma situação contrária, provavelmente, devido ao pequeno número

amostral utilizado nestas análises.

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Figura 12 - Relação entre a carga parasitária (parasitos/µl) e o número de casos entre indivíduos sintomáticos e assintomáticos.

Fonte: Gozze (2012).

Foram calculados os casos considerados ‘detectáveis’ e ‘não-detectáveis’, segundo os

critérios usualmente adotados, ou seja, os casos detectáveis são os que apresentavam exame de

gota espessa positiva e a presença de sintomas, sendo os não-detectáveis os que ou não

apresentavam sintomas ou exame de gota espessa era negativo (Figura 14). O que se observa com

esta figura é que e a maior parte destas amostras não seria detectada, com a concentração mais

baixa de parasitas no sangue nenhuma das 39 amostras seria detectada pelos órgãos responsáveis

e mesmo as com parasitemias mais elevadas muitas destas amostras deixariam de ser notadas.

Nesta situação está representada a problemática real das dificuldades de diagnóstico de malária

em áreas endêmicas, uma vez que grande parte destas amostras seriam potencialmente não-

detectadas pela metodologia usual empregada pelos órgãos de vigilância epidemiológica do país.

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Figura 13 - Relação entre a carga parasitária (parasitos/µl) e o número de casos entre indivíduos com exame de gota espessa negativa e positiva apenas para P. vivax.

Fonte: Gozze (2012).

Em números gerais, então, verificou-se que 15 dos 99 casos de infecção detectados no

estudo seriam, portanto, detectados pelos órgãos responsáveis, por possuírem sintomas e exame

de gota espessa positivo. Enquanto 84 não seriam detectados, ou por não apresentarem sintomas

ou pelo exame de gota espessa ser negativo. Calculando a contribuição de cada grupo (casos

detectáveis versus casos não-detectáveis) com relação à carga parasitária observou que as 15

amostras contribuíam com 34,1% (39.820 parasitos/µl) de toda a parasitemia diagnosticada, e, as

outras 84 amostras contribuíam, por sua vez, com 65,8% (116.549 parasitos/µl). Estes dados

mostram que cerca de 2/3 de toda a carga parasitária presente nas amostras da área de estudo

não seriam notados, continuando incólume ao diagnóstico e tratamento, auxiliando na

propagação dos parasitos.

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Figura 14 - Relação entre a carga parasitária (parasitos/µl) e as amostras consideradas detectáveis e não-detectáveis segundo a metodologia de diagnóstico empregada atualmente pelos órgãos de vigilância e controle epidemiológico da malária. As amostras detectáveis são as que possuíam sintomas e resultado da gota espessa positivo, enquanto, as não-detectáveis são as que ou não apresentavam sintomas ou o resultado da gota espessa foi negativo.

Fonte: Gozze (2012).

Considerando a Figura 15 que relaciona a parasitemia ao tempo acumulado de residência

em área endêmica (anos), observa-se que há uma concentração das cargas parasitárias entre os

indivíduos com maior tempo de exposição, contudo, analisando a parasitemia referente a cada

barra, verifica-se que nas amostras com maior tempo de exposição a contribuição relativa das

menores parasitemias é alta também.

Além disso, entre as amostras com menores tempos de exposição observa-se a presença de

praticamente todos os estratos da parasitemia, enquanto, entre as amostras com maiores tempos

de exposição nota-se a presença de menos estratos.

É possível ver ainda nesta figura que a proporção de amostras com parasitemia mais baixa (1

a 10 parasitas/µl) aumenta com o maior tempo de exposição, e, que as maiores parasitemias

estão concentradas nos períodos de menor exposição, sugerindo, provavelmente o

desenvolvimento de imunidade contra o parasito relacionado a maiores períodos de contato com

o mesmo.

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Figura 15 - Relação entre a porcentagem de cada intervalo de parasitemia (parasitos/µl) e a distribuição das amostras considerando o tempo acumulado (anos) de exposição à malária.

Fonte: Gozze (2012).

Entretanto, estes dados não permitem extrapolações e devem ser analisados

cuidadosamente, uma vez que o tamanho amostral utilizado para composição destas figuras é

limitado (n=99).

3.4 Análise da incidência de malária

A análise de incidência auxilia na identificação da tendência da distribuição dos casos de

malária mês a mês na área de estudo. A partir dos dados obtidos é possível notar que os meses

em que a incidência de malária foi maior foram: abril (0,21 episódios/pessoa-mês), junho (0,24

episódios/pessoa-mês) e julho (0,23 episódios/pessoa-mês). Entretanto, esse período, entre abril

e setembro, é caracterizado pelo regime de seca na Amazônia ocidental, o que, geralmente, leva a

uma redução do número de casos de malária nessa época do ano. Os dados obtidos estão

apresentados na Tabela 6.

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Tabela 6 - Incidência de malária de Março a Dezembro de 2010 para a região do Ramal do Remansinho.

Meses/2010 Incidência total Incidência apenas por P. vivax

(episódios/pessoas-mês) (episódios/pessoas-mês)

Março 0,155 0,148

Abril 0,210 0,203

Maio 0,143 0,143

Junho 0,243 0,187

Julho 0,235 0,222

Agosto 0,092 0,092

Setembro 0,120 0,120

Outubro 0,154 0,154

Novembro* 0,108 0,108

Dezembro* 0,066 0,066

*Casos notificados na UBS de Nova Califórnia (RO) e Acrelândia (AC). Fonte: Gozze (2012).

3.5 Modelo multinível

Para estruturação do modelo multinível, utilizando a regressão de Poisson, foram

selecionadas as variáveis mostradas na tabela 7: sexo, idade, tempo na Amazônia (área

endêmica), genótipo de Duffy, data do inquérito (cortes transversais), índice de riqueza, condição

do cômodo de dormir, janela do cômodo de dormir, uso do mosquiteiro, ramal, hora em que o

indivíduo dorme, hora em que acorda, hora do banho, local do banho, ocupação, hábito de

pescar, e se o sujeito costuma dormir próximo ao rio. Estas variáveis foram utilizadas, de forma

contínua ou estratificada, como consta na tabela a seguir.

Os desfechos utilizados foram: ‘infecção’, ‘infecção por P. vivax’, ‘doença’, ‘doença por P.

vivax’ e ‘presença de sintomas’ apenas entre os infectados.

Utilizou-se o número de observações totais obtidas em todos os cortes para a composição

do modelo, isto significa que a cada vez que o sujeito participou do estudo este constituiu uma

observação. Como foram realizados quatro cortes transversais, cada sujeito pode contribuir com

até quatro observações.

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Tabela 7 - Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível. O número amostral (n) se baseia no número de observações totais, ou seja, a participação em cada corte transversal é considerada uma observação. (continua)

Infecção Doença

Variáveis demográficas n Qualquer sp.

P. vivax

Qualquer sp.

P. vivax

Sexo Masculino 406 74

54

24

21

Feminino 347 53

45

17

15

Idade Menores de 15 anos 291 39

30

10

9

Com 15 anos ou mais 462 88

69

31

27

Tempo na Amazônia 753 127

99

41

36

(variável contínua) Genotipo de Duffy FyaFyb 199 39

26

9

8

FyaFya 73 13

12

6

6

FybFyb 122 12

7

4

3

FyFy 38 2

2

1

1

FyaFy 181 42

32

18

15

FybFy 61 9

8

1

1

Dados ausentes 79 10

8

2

2

Cortes Transversais Primeiro 156 48

40

22

20

Segundo 199 42

29

10

9

Terceiro 200 24

18

6

5

Quarto 198 13

12

3

2

Variável Sócio-econômica Índice de riqueza (quartil) 1 159 28

23

9

9

2 178 30

25

10

8

3 212 38

29

11

9

4 142 24

18

8

8

Dados ausentes 62 7

4

3

2

Variáveis ambientais Cômodo de dormir Aberto ou fechado com frestas 559 92

70

28

25

Fechado 194 35

29

13

11

Janela do cômodo de dormir Aberta 276 44

33

14

11

Fechada 477 83

66

27

25

Uso do Mosquiteiro Nunca 210 38

30

10

9

Sempre 543 89

69

31

27

Ramal Remansinho 551 102

78

36

33

Outro ramal 202 25

21

5

3

Variáveis comportamentais Hora de dormir Até as 18:30 110 17

11

4

4

Depois das 18:31 638 110

88

37

32

Dados ausentes 5 0

0

0

0

Hora de acordar Depois das 6h 507 81

63

26

23

Antes das 6h 240 46

36

15

13

Dados ausentes 6 0

0

0

0

Hora do banho Antes das 18h 219 37

27

12

11

Depois das 18h 521 88

70

29

25

Dados ausentes 13 2

2

0

0

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Infecção

Doença

n Qualquer sp.

P. vivax

Qualquer sp.

P. vivax

Local do banho Domicílio e peridomicílio 538 98

76

32

27

Rio 200 26

21

9

9

Dados ausentes 15 3

2

0

0

Ocupação Atividades no peridomicílio 389 52

41

15

14

Atividades na floresta/agricultura 364 75

58

26

22

Pesca Não 405 65

50

20

17

Sim 344 62

49

21

19

Dados ausentes 4 0

0

0

0

Dorme na beira do rio Não 659 107

85

33

29

Sim 71 15

11

6

5

Dados ausentes 23 5 3 2 2

Fonte: Gozze (2012).

Para o melhor desempenho do modelo foram excluídas as observações que possuíam

valores ausentes, decorrentes principalmente de falha na aplicação dos questionários, para as

variáveis: tempo na Amazônia, janela do cômodo de dormir e uso de mosquiteiros.

Os modelos gerados quando combinados com os desfechos ‘Infecção’ e ‘Infecção por P.

vivax’ (Tabela 8 e 9, respectivamente) apontaram resultados significativos para as variáveis: idade,

tempo de residência em área endêmica, genótipos de Duffy (FybFyb e FyFy), os cortes

transversais, e a ocupação do indivíduo.

Aparentemente, os sujeitos com 15 anos ou mais apresentam um risco 66% maior de serem

infectados por plasmódios, e risco 90% maior de serem infectados por P. vivax. Com relação ao

tempo de moradia em área endêmica observou-se redução de 2% no risco de infecção para cada

ano que o indivíduo reside na região amazônica.

Tabela 7 - Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível. O número amostral

(n) se baseia no número de observações totais, ou seja, a participação em cada

corte transversal é considerada uma observação. (conclusão)

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Tabela 8 - Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Infecção’.

Variáveis IRR* p IC 95%

Idade

Menores de 15 anos 1,00

Com 15 anos ou mais 1,66 0,02 1,07 - 2,58

Tempo de área endêmica 0,98 0,09 0,97 - 1,00

(contínua)

Genótipo de Duffy

FyaFyb 1,00

FyaFya 0,87 0,68 0,46 - 1,65

FybFyb 0,53 0,05 0,27 - 1,02

FyFy 0,12 0,03 0,01 - 0,88

FyaFy 1,13 0,57 0,72 - 1,76

FybFy 0,90 0,79 0,43 - 1,87

Corte Transversal

Primeiro Corte 1,00

Segundo corte 0,68 0,08 0,45 - 1,04

Terceiro corte 0,40 0,00 0,24 - 0,65

Quarto corte 0,21 0,00 0,11 - 0,40

Ocupação

Atividades no peridomicílio 1,00

Atividades na floresta/agricultura 1,51 0,12 0,89 - 2,55

*Razão de prevalência. Fonte: Gozze (2012).

O genótipo de Duffy mostrou resultados significantes que indicam proteção para os sujeitos

portadores dos alelos FybFyb e FyFy com relação ao genótipo de referência FyaFyb. Com relação

ao alelo de Duffy negativo (FyFy) estes dados sugerem o que sabe-se atualmente com relação à

proteção deste genótipo, indicando um risco de cerca de 84 a 88% menor para os portadores

desta variante. Contudo, os dados também indicam uma proteção maior aos portadores do alelo

FybFyb (de 47 a 52% menos risco de infecção).

Os inquéritos transversais mostraram decréscimo do risco conforme as inferências eram

realizadas. Assim, do primeiro para o segundo corte observou-se redução de 32% do risco de ser

infectado, do primeiro para o terceiro houve redução de 60%, e, do primeiro para o quarto corte

observou-se 79% menos risco de infecção. Para infecções por P. vivax o mesmo padrão foi

verificado, embora, com pequenas variações.

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65

Tabela 9 - Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Infecção por P. vivax’.

Variáveis IRR* p IC 95%

Idade

Menores de 15 anos 1,00

Com 15 anos ou mais 1,90 0,01 1,16 - 3,12

Tempo de área endêmica 0,98 0,03 0,96 - 0,99

(contínua)

Genótipo de Duffy

FyaFyb 1,00

FyaFya 1,11 0,75 0,56 - 2,21

FybFyb 0,48 0,07 0,22 - 1,07

FyFy 0,16 0,07 0,02 - 1,21

FyaFy 1,23 0,42 0,73 - 2,05

FybFy 1,12 0,76 0,50 - 2,49

Corte Transversal

Primeiro corte 1,00

Segundo corte 0,57 0,02 0,35 - 0,93

Terceiro corte 0,36 0,00 0,20 - 0,63

Quarto corte 0,24 0,00 0,12 - 0,46

Ocupação

Atividades no peridomicílio 1,00

Atividades na floresta/agricultura 1,58 0,12 0,88 - 2,83

*Razão de prevalência. Fonte: Gozze (2012).

Das variáveis que compunham o primeiro bloco, das variáveis demográficas, apenas sexo

não mostrou significância estatística para permanecer no modelo. As variáveis do segundo bloco,

composto pelas variáveis ambientais, também não atingiram os pré-requisitos para serem

mantidas no modelo. E, finalmente, entre as variáveis comportamentais, do terceiro bloco, apenas

a variável ocupação teve alguma significância. Esta variável indicou um risco 51 a 58% maior entre

os sujeitos que exercem atividades agrícolas e/ou alguma atividade na floresta, como a extração

madeireira, muito comum na região.

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66

Tabela 10 - Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Doença’.

Variáveis IRR* p IC 95%

Idade

Menores de 15 anos 1,00

Com 15 anos ou mais 2,70 0,01 1,24 - 5,89

Tempo de área endêmica 0,96 0,00 0,94 - 0,99

(contínua)

Genótipo de Duffy

FyaFyb 1,00

FyaFya 1,89 0,23 0,65 - 5,43

FybFyb 0,79 0,70 0,24 - 2,59

FyFy 0,47 0,48 0,06 - 3,79

FyaFy 2,10 0,07 0,93 - 4,74

FybFy 0,50 0,52 0,06 - 4,05

Corte Transversal

Primeiro corte 1,00

Segundo corte 0,38 0,01 0,18 - 0,82

Terceiro corte 0,23 0,00 0,09 - 0,59

Quarto corte 0,11 0,00 0,03 - 0,39

*Razão de prevalência. Fonte: Gozze (2012).

Os modelos produzidos para os desfechos Doença e Doença por P. vivax são mostrados na

Tabelas 10 e 11. Nestes modelos apenas as variáveis demográficas demonstraram alguma

significância estatística, exceto a variável que determina gênero. Os dados sugerem um risco

muito alto (cerca de 170% maior) de desenvolver a doença, ou seja, a malária, entre os indivíduos

com 15 anos ou mais, indicando que a prevalência de malária na área deve estar muito mais

associada à ocupação do que a maturidade imunológica e ao desenvolvimento da imunidade

adquirida, uma vez que, se fosse esse o caso, entre adultos seria esperada tolerância maior à

doença. Entretanto, ocupação não foi estatisticamente importante para o modelo de ‘doença’, o

que pode ser conseqüência do tamanho amostral limitado utilizado nestas análises. Para ‘doença’

o genótipo FyaFy foi associado a um risco elevado (110% maior entre os portadores deste

genótipo), e, para ‘doença por P. vivax’ os genótipos FyaFya e FyaFy também mostraram este

padrão. O inquérito transversal, assim como no desfecho ‘infecção’, apontou um efeito protetor,

mostrando que depois do primeiro corte houve uma queda progressiva na probabilidade dos

indivíduos do estudo desenvolverem malária.

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Tabela 11 - Modelo multinível da regressão de Poisson gerados a partir do desfecho ‘Doença por P. vivax’.

Variáveis IRR* p IC 95%

Idade

Menores de 15 anos 1,00

Com 15 anos ou mais 2,76 0,01 1,21 - 6,32

Tempo de área endêmica 0,96 0,01 0,93 - 0,99

(contínua)

Genótipo de Duffy

FyaFyb 1,00

FyaFya 2,15 0,16 0,72 - 6,39

FybFyb 0,67 0,56 0,17 - 2,56

FyFy 0,53 0,55 0,06 - 4,28

FyaFy 1,97 0,12 0,82 - 4,72

FybFy 0,59 0,62 0,07 - 4,77

Corte Transversal

Primeiro corte 1,00

Segundo corte 0,38 0,01 0,17 - 0,85

Terceiro corte 0,21 0,00 0,08 - 0,58

Quarto corte 0,08 0,00 0,01 - 0,36

*Razão de prevalência. Fonte: Gozze (2012).

O último desfecho testado abrange apenas os sujeitos com infecção detectada no estudo e

que tivessem relatado a presença de sintomas nos últimos sete dias. Este desfecho foi estruturado

a partir de uma base de dados menor, que abrange somente os indivíduos que tiveram infecção

detectada nos cortes (Tabela 12).

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Tabela 12 - Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível para o desfecho presença de sintomas (sintomáticos). O número amostral (n) se baseia no número de observações totais dos indivíduos infectados nos quatro cortes transversais.

Sintomáticos

Variáveis demográficas n Qualquer sp.

P. vivax

Sexo Masculino 74 24

21

Feminino 53 17

15

Idade Menores de 15 anos 39 10

9

Com 15 anos ou mais 88 31

27

Tempo na Amazônia 127 41

36

(variável contínua) Genotipo de Duffy FyaFyb 39 9

8

FyaFya 13 6

6

FybFyb 12 4

3

FyFy 2 1

1

FyaFy 42 18

15

FybFy 9 1

1

Dados ausentes 10 2

2

Cortes Transversais Primeiro 48 22

20

Segundo 42 10

9

Terceiro 24 6

5

Quarto 13 3

2

Variável Sócio-econômica Índice de riqueza (quartil) 1 28 9

9

2 30 10

8

3 38 11

9

4 24 8

8

Dados ausentes 7 3

2

Variáveis ambientais Cômodo de dormir Aberto ou fechado com frestas 92 28

25

Fechado 35 13

11

Janela do cômodo de dormir Aberta 44 14

11

Fechada 83 27

15

Uso do Mosquiteiro Nunca 38 10

9

Sempre 89 31

27

Ramal Remansinho 102 36

33

Outro ramal 25 5

3

Variáveis comportamentais Hora de dormir Até as 18:30 17 4

4

Depois das 18:31 110 37

32

Hora de acordar Depois das 6h 81 26

23

Antes das 6h 46 15

13

Hora do banho Antes das 18h 37 12

11

Depois das 18h 88 29

25

Dados ausentes 2 0

0

Local do banho Domicílio e peridomicílio 98 32

27

(continua)

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69

Sintomáticos

n Qualquer sp.

P. vivax

Rio 26 9

9

Dados ausentes 3 0

0

Ocupação Atividades no peridomicílio 52 15

14

Atividades na floresta/agricultura 75 26

22

Pesca Não 65 20

17

Sim 62 21

19

Dorme na beira do rio Não 107 33

29

Sim 15 6

5

Dados ausentes 5 2 2

Fonte: Gozze (2012).

Para este desfecho permaneceram no modelo as variáveis: idade, tempo de residência em

área endêmica, genótipo de Duffy e os cortes transversais (Tabela 13). Para idade verificou-se que

entre os sujeitos com mais de 15 anos o risco de doença, isto é, de infecção sintomática, era 74%

maior para este estrato da população. O tempo de moradia em área endêmica também mostrou

tendência protetora, 3% menos risco a cada ano de permanência nestas áreas. Além disso, os

genótipos FyaFya e o FyaFy indicaram maior risco de infecção sintomática quando comparados ao

FyaFyb. E, finalmente, apenas o segundo corte evidenciou uma redução no risco de doença, de

47%, na comparação com o primeiro inquérito.

Com relação à genotipagem de Duffy é importante ressaltar que, independente dos

desfechos, associações mais proeminentes não foram observadas devido ao tamanho amostral

restrito, e que, além disso, estas genotipagens devem ser refeitas para confirmação dos

resultados.

Tabela 12 – Variáveis utilizadas na composição do modelo multinível para o desfecho presença de sintomas (sintomáticos). O número amostral (n) se baseia no número de observações totais dos indivíduos infectados nos quatro cortes transversais.

(conclusão)

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Tabela 13 - Modelo multinível da regressão de Poisson gerado somente a partir dos indivíduos infectados que relataram sintomas.

Variáveis IRR* p IC 95%

Idade

Menores de 15 anos 1,00

Com 15 anos ou mais 1,74 0,17 0,78 - 3,87

Tempo de área endêmica 0,97 0,11 0,95 - 1,00

(contínua)

Genótipo de Duffy

FyaFyb 1,00

FyaFya 2,11 0,16 0,72 - 6,16

FybFyb 1,65 0,42 0,48 - 5,60

FyFy 2,55 0,38 0,30 - 21,18

FyaFy 1,87 0,12 0,83 - 4,19

FybFy 0,51 0,53 0,06 - 4,17

Corte Transversal

Primeiro corte 1,00

Segundo corte 0,53 0,11 0,24 - 1,16

Terceiro corte 0,71 0,49 0,27 - 1,87

Quarto corte 0,51 0,29 0,15 - 1,76

*Razão de prevalência. Fonte: Gozze (2012).

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4 DISCUSSÃO

4.1 Análise das prevalências

Este trabalho foi desenvolvido em um assentamento agrícola do estado do Amazonas,

habitado principalmente por migrantes de outros assentamentos da região norte do país. Os

dados foram coletados no período de um ano, no qual foram realizados quatro cortes

transversais, com a aplicação de questionários e coleta de amostras de sangue capilar e venoso. O

diagnóstico de malária foi realizado por meio do exame de gotas espessas e PCR em tempo real. A

prevalência de malária detectada no estudo foi variável, mantendo, contudo, tendência à queda.

Durante o estudo a prevalência de malária foi de cerca de 29% em março e abril de 2010 a 6,4%

no mesmo período do ano seguinte, considerando o resultado consenso entre as metodologias de

diagnóstico utilizadas.

Este estudo obteve, portanto, prevalência global, considerando os resultados de consenso

entre as técnicas, de 16,9%. A prevalência global a partir do exame microscópico foi de 6,5%,

enquanto pelo diagnóstico molecular foi de 17,8%, evidenciando assim que o RT-PCR foi capaz de

detectar cerca de três vezes mais infecções do que a microscopia. Resultados semelhantes foram

observados por Okell et al. (2009) em uma meta-análise que compara estudos sobre a eficácia

desses dois principais métodos de diagnóstico para malária. Nesse trabalho os autores

verificaram que a PCR identificava o dobro de infecções quando comparada à microscopia. Estes

dados mostram que a microscopia deixa de detectar uma quantidade substancial de infecções, e

que os reservatórios de infecção submicroscópica devem ser considerados para promoção e

sucesso de programas de controle e vigilância epidemiológica da malária.

Analisando ainda a prevalência de malária, um trabalho similar a este realizado por da Silva

et al. (2010) em um assentamento agrícola em Acrelândia (AC), encontrou prevalência global de

11,3%, utilizando o PCR, em quatro cortes transversais.

Na Amazônia Peruana o estudo de Chuquiyauri et al. (2012), realizado em 13 vilas rurais de

Maynas, no nordeste do país, utilizando apenas o exame de gotas espessas encontrou prevalência

de 3,7%, em uma corte retrospectiva com a análise de 5.556 lâminas com 205 casos positivos,

sendo a maior parte destes (83,9%) causados por P. vivax.

Outro estudo realizado na região da Amazônia Peruana, em pequenas comunidades e vilas

de Loreto, utilizou a detecção passiva de casos com o exame de gotas espessas de indivíduos com

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sintomas e obteve prevalência de cerca de 20% para o ano de 2004, e 22,4% em 2005, com o

predomínio de malária vivax. Uma vez que o estudo foi realizado em área hipoendêmica e utilizou

apenas o diagnóstico microscópico os dados obtidos foram relativamente elevados se

considerarmos estas limitações do estudo (PAREKH et al., 2007).

O trabalho realizado por Ladeia-Andrade et al. (2009) com populações ribeirinhas do Rio

Negro encontrou prevalência de 14,4% utilizando o PCR, contra 4,2% nas gotas espessas. E

constatou o aumento das infecções assintomáticas concomitante ao aumento da idade dos

habitantes do Parque Nacional do Jaú (AM), ou seja, o desenvolvimento de imunidade clínica em

áreas consideradas hipo ou mesoendêmicas para malária.

Outro estudo (SUÁREZ-MUTIS et al., 2007) realizado no estado do Amazonas, com

populações de pequenos vilarejos das margens do Rio Negro, observou outra diferença

importante entre a microscopia e o PCR, com prevalência de 1,0 e 20,4%, respectivamente. Além

disso, verificou-se que nenhum sujeito com PCR positivo havia relatado a presença de qualquer

sintoma, o que nos mostra a magnitude alcançada pelas infecções submicroscópicas e evidencia

sua importância no contexto de manutenção da transmissão.

O estudo de Camargo et al. (1994), realizado em um assentamento agro-industrial em Urupa

(RO), utilizando apenas a microscopia para o diagnóstico em três cortes transversais verificou

prevalências mais baixas, de 0,5, 4,1, e 2,0%. Enquanto, outro trabalho realizado por Camargo et

al. (1996) em uma área urbana de Candeias do Jamary (RO) também encontrou baixa prevalência,

1,56%, considerando o exame de gotas espessas. Estes dois trabalhos hipotetizam a malária como

uma ‘doença profissional’, isso porque em ambos os trabalhos homens na idade adulta foram os

indivíduos mais afetados.

Esta dissertação, desenvolvida em uma comunidade agrícola situada na bacia Amazônica,

obteve resultados que indicam o proposto por Camargo et al. (1994, 1996), ou seja, que a

atividade que os habitantes destas áreas realizam como forma de trabalho, geralmente, a

extração de madeira e a agricultura são fatores preponderantes, uma vez que induzem à

exposição maior destes sujeitos ao mosquito vetor, auxiliando na propagação dos parasitos.

O interessante desta constatação é que ao contrário do que sempre se supôs para malária,

que crianças compunham a faixa etária mais suscetível (MARSH et al., 1995; SNOW et al., 1997),

não parece ser o que acontece entre os habitantes de assentamentos agrícolas. As crianças destas

comunidades geralmente habitam o peridomicílio, que são áreas com pouca cobertura vegetal e

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73

frequentemente distantes dos rios, uma vez que as casas costumam ficar próximas das vias de

acesso a estas localidades.

Nesse cenário de alta prevalência de malária evidenciada no estudo a proporção de sujeitos

assintomáticos dentre os que estavam infectados por plasmódios variou de cerca de 48% no

primeiro inquérito a 78% no último, com proporção geral de 66,3%. A prevalência de infecções

assintomáticas também acompanhou a queda observada na prevalência de malária, com

prevalência global de 10,02%.

Em 2002, Alves et al. mostrou que existem números elevados de prevalência de infecções

assintomáticas mantidos permanentemente entre populações nativas de áreas endêmicas do

Brasil. O estudo detectou 20% de infecções sem sintomas na comunidade Portochuelo, às

margens do Rio Madeira, e, 49,5% em outras seis comunidades situadas às margens do Rio

Machado, em Rondônia. Os autores sugerem que repetidas infecções desde a infância poderiam

propiciar o desenvolvimento de certo grau de resistência contra a malária. Em contrapartida este

trabalho realizado na região do Ramal do Remansinho analisou populações sujeitas a níveis

variados de exposição, muitas vezes descontínua, e mesmo assim observou proporções relevantes

de infecções assintomáticas.

O trabalho realizado por da Silva-Nunes et al. (2008), entre indivíduos migrantes de áreas

não endêmicas assentados há cerca de oito a 10 anos em áreas de transmissão, também

constatou alta proporção de infecções assintomáticas, 62%. O estudo verificou aglomeração

espacial significante dos casos de malária em áreas de ocupação mais recente da comunidade,

indicando que a entrada de indivíduos não-imunes em áreas pouco desmatadas auxiliam na

perpetuação do ciclo de alteração ambiental e colonização destas regiões de floresta o que

favorece a transmissão de malária em assentamentos rurais da região amazônica. Os autores

ainda constataram que a probabilidade destes indivíduos apresentarem malária decrescia depois

de seis a oito anos morando em áreas de transmissão. Como a população do Ramal do

Remansinho e ramais adjacentes estão assentados nestas áreas em média há seis anos talvez a

diminuição na prevalência de malária ao longo do período estudado seja resultado do tempo de

exposição acumulado de moradia em regiões endêmicas e, da condição local, de degradação

ambiental acentuada ao longo do tempo nestes ramais.

A relevância das infecções assintomáticas está associada a sua caracterização como

reservatório de gametócitos que permitem a manutenção da transmissão em épocas menos

favoráveis à propagação da doença. Este tipo de infecção representa um importante alvo às

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74

estratégias de controle porque não atinge apenas comunidades ribeirinhas e populações nativas

da Amazônia, mas também áreas de mineração e projetos de colonização implantados em áreas

endêmicas (COURA et al., 2006; TAUIL, 2011).

Com relação aos sintomas, no trabalho de da Silva-Nunes e Ferreira (2007) o espectro clínico

encontrado para as infecções sintomáticas foi muito heterogêneo, sendo que febre, o sintoma

mais característico da malária, não foi sequer referido por 19% dos pacientes. As dificuldades de

detecção deste tipo de infecção são preocupantes, já que independentemente dos mecanismos

utilizados na busca dos infectados (busca ativa ou passiva) estes casos podem passar

despercebidos, pois além da ausência de sinais clínicos a carga parasitária costuma ser baixa (da

SILVA-NUNES et al., 2011; LAISHRAM et al., 2012).

4.2 Análise dos fatores associados à infecção e doença

Os modelos de regressão de Poisson multiníveis foram propostos para observação dos

fatores que poderiam estar associados à infecção ou à malária. Idade, tempo de exposição em

área endêmica e os cortes foram as covariáveis estatisticamente significantes em ambos os

modelos.

A idade em ambos os modelos constituía um fator de risco para os sujeitos com mais de 15

anos de idade, e, aparentemente para o desfecho malária é ainda maior o risco para estes

indivíduos. No trabalho feito por Ladeia-Andrade et al. (2009), com regressão logística, a idade foi

utilizada como covariável contínua e testada com o desfecho infecção, apresentando um caráter

protetor, sendo que a cada ano que o sujeito envelhecia havia uma redução em cerca de 4% do

risco do mesmo ser infectado.

Outro estudo realizado no Camboja verificou os fatores de risco associados à infecção a

partir de um amplo estudo transversal realizado em três comunidades que fazem fronteira com a

Tailândia e são áreas com incidência elevada de malária. A faixa etária entre 15 e 39 anos foi

estatisticamente importante na área com a menor prevalência (até 10%) de malária, enquanto, as

outras duas áreas com prevalências maiores (até cerca de 50%) indicaram significância em

intervalos de idade mais amplos, entre zero e 39 anos (INCARDONA et al., 2007).

Nesta dissertação o tempo de exposição foi utilizado como covariável contínua e

independente do desfecho apresentou um padrão protetor, com redução no risco de 2 e 4% a

cada ano de exposição, para infecção e doença respectivamente. No trabalho realizado por da

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75

Silva-Nunes et al. (2008), em estudo longitudinal desenvolvido em uma comunidade agrícola

composta por migrantes de áreas sem transmissão de malária, o padrão de proteção encontrado

foi semelhante, com 8% menos risco de malária a cada ano morado em área endêmica.

De uma maneira geral os modelos indicam proteção com o aumento dos anos de residência

em áreas de transmissão de malária. Entretanto, o mesmo não foi observado na Figura 13 que

analisa a distribuição das infecções entre o tempo de exposição nestas áreas, indicando um

aumento do número de infecções entre os indivíduos com mais anos de exposição, porém, é

importante notar que entre os estratos de maior exposição as cargas parasitárias são menores.

O corte também mostrou-se estatisticamente significante em ambos os modelos, com

redução expressiva (aproximadamente de 20%) do risco a cada inquérito, o que poderia indicar a

sazonalidade da transmissão de malária na região. Contudo, outros fatores poderiam influenciar

esta redução: como a queda na transmissão decorrente de imunidade adquirida às cepas de

Plasmodium spp. circulantes na região, ou o desmatamento acentuado que dificultaria a

circulação do mosquito vetor na comunidade, ou ainda o diagnóstico e tratamento precoce dos

moradores favorecido pela instalação de um posto de atendimento na área recentemente.

A genotipagem de Duffy foi estatisticamente significante apenas para o desfecho infecção,

sendo que apenas o genótipo ‘Duffy negativo’ (FyFy) apresentou um caráter protetor importante,

os sujeitos com esse genótipo apresentavam 88% menos risco de serem infectados.

4.3 Limitações do estudo

Os estudos transversais, ou de prevalência, são bons indicadores do quadro epidemiológico

no momento em que são realizados, contudo, não são capazes de identificar tendências a longo

prazo. Os estudos longitudinais, ou de incidência, permitem uma visualização melhor do padrão

epidemiológico ao longo de um período de tempo mais longo, e por isso com dados mais

confiáveis e fidedignos (MEDRONHO; BLOCK, 2008).

Esta dissertação é baseada na consecução de quatro inquéritos transversais, logo, as

conclusões a partir dos achados são limitadas aos momentos analisados. De uma maneira geral o

trabalho é prejudicado pelo tamanho amostral conseguido durante os quatro inquéritos. Como a

população do estudo é formada de migrantes, a mobilidade destes durante o período do estudo

dificultou o acompanhamento dos mesmos.

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76

Além disso, outras alterações genéticas podem influenciar na suscetibilidade à malária e

estas não foram consideradas neste trabalho, como a deficiência africana e/ou mediterrânea a

enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD).

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77

5 CONCLUSÃO

Este estudo foi capaz identificar os casos de malária em quatro momentos ao longo de um

ano nesta comunidade agrícola. A população do estudo compreende os moradores de

assentamentos agrícolas da região amazônica que habitam áreas de ocupação recente, ainda

densamente recobertas por vegetação.

Este trabalho detectou que os indivíduos com 15 anos ou mais compunham a população

com maior risco de malária, provavelmente devido à maior exposição destas pessoas durante o

trabalho, embora a ocupação não tenha sido associada de modo estatisticamente significante,

com os desfechos testados. Estes resultados apontam para o que tinha sido proposto por

Camargo et al. (1994, 1996), que em comunidades rurais a malária pode ser considerada como

uma ‘doença profissional’, vinculada as atividades agrícolas e madeireiras que são favorecidas

pelo contexto de ocupação recente destas áreas de floresta.

Os esforços atuais para o controle da malária utilizadas no Brasil deixam de diagnosticar

cerca de 84% das infecções, seja porque as parasitemias são submicroscópicas, seja porque

muitos indivíduos infectados não têm sintomas, e este quadro prejudica todo o trabalho de

controle epidemiológico.

A proporção de malária assintomática encontrada no estudo, e em outros estudos

semelhantes (da SILVA-NUNES et al., 2008; SUÁREZ-MUTIS et al., 2007), é um indicativo de que

mesmo em populações com níveis variáveis de exposição ao longo da vida o desenvolvimento de

imunidade adquirida acontece frequentemente. E em áreas hipoendêmicas isso também é

possível, como mostrado por Ladeia-Andrade et al. (2009).

Enfim, o número de casos de malária é influenciado por fatores políticos, sócio-econômicos,

ecológicos e biológicos. Todos estes componentes incidirão na eficácia das medidas de controle e

prevenção e, portanto, são fatores primordiais na estruturação dos planos de combate à malária.

Os casos de malária assintomática apenas reforçam que, apesar dos esforços empregados, o

controle desta doença ainda é deficiente, com uso de técnicas limitadas de diagnóstico e

dificuldades na busca dos doentes. Com o investimento em pesquisas que busquem alternativas

viáveis a estes desafios talvez seja possível melhorar os resultados obtidos até hoje, e, a longo

prazo, diminuir a mortalidade e morbidade por malária.

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