ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O USO DO CARVÃO … · Gabriel Meneghetti Faé Gomes –...
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ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O USO DO CARVÃO
MINERAL EM LEITO FLUIDIZADO BORBULHANTE:
DESSULFURAÇÃO IN SITU E OXICOMBUSTÃO
Gabriel Meneghetti Faé Gomes – [email protected]
Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC)
Av. das Indústria, 2270
CEP: 94930-230 – Cachoeirinha – Rio Grande do Sul
Leandro Dalla Zen – [email protected]
Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC)
Eduardo Kotz Bard – [email protected]
Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC)
Caterina Philippsen – [email protected]
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Resumo: O Brasil vive, nos últimos anos, uma situação de desenvolvimento econômico e crescimento
industrial não acompanhada por uma oferta de energia confiável. Ao mesmo tempo, a Região Sul do
Brasil, e, especialmente o Rio Grande do Sul, possui uma enorme reserva de carvão mineral que
ainda pouco contribui na oferta de energia no país. Neste sentido, este trabalho apresenta um estudo
experimental para o uso de dois tipos de carvão mineral em uma planta piloto de 250 kWt em leito
fluidizado borbulhante. Duas diferentes alternativas tecnológicas que estão na direção de uma maior
sustentabilidade na combustão do carvão mineral são apresentadas: dessulfuração em situ e
oxicombustão. Foram utilizados como combustível dois tipos de carvão mineral Leão, sendo estes
rejeitos do seu beneficiamento. Temperaturas em torno de 860°C no leito foram empregadas para
ambos os processos. A dessulfuração realizada no leito fluidizado, com a utilização de um calcário
oriundo também do Rio Grande do Sul, conseguiu atingir uma conversão de até 67,3% de SO2 com
uma velocidade de ar de 0,9 m/s na fluidização. Quanto à oxicombustão, o ajuste dos parâmetros
operacionais proporcionou uma concentração de CO2 de 69,5% em massa nos gases de combustão e
menores velocidades de fluidização, em comparação com a fluidização com ar atmosférico, foi
necessária.
Palavras-chave: carvão mineral, leito fluidizado, combustão, oxicombustão, dessulfuração
Abstract: Brazil is a country that, nowadays, passes through a situation of industrial and
economic development which is not accompanied by a reliable energy offer. At the same time,
Brazilian South Region and, especially, the Federative State of Rio Grande do Sul, has huge
coal resources that has not had considerable contribution at the energy matrix until now. In
this sense, this work presents an experimental study for the use of two brazilian coals in a 250
kWth pilot plant on bubbling fluidized bed. Two technological alternatives were used in the
way of a better sustainable coal use: in situ desulfurization and oxyfuel combustion. The
coals used were generated as wastes of its beneficiation. From the desulfurization realized,
by the use of a Brazilian limestone, a SO2 conversion to CaSO4 of 67,3% was observed with
the use of superficial velocity of 0,9 m/s. Concerning oxyfuel combustion, the adjustment of
the operational parameters provided the achievement of a CO2 concentration of 69,5 wt.%
and lower fluidization velocities when compared with air combustion.
Keywords: coal, fluidized bed, combustion, oxyfuel, desulfurization
1. INTRODUÇÃO
No atual momento, a utilização de combustíveis fósseis na geração de energia primária é
dominante, compreendendo cerca de 85% de toda a demanda mundial. Até que fontes auxiliares de
produção de energia, como a energia nuclear ou de fontes renováveis, estejam em uma situação
confiável para a produção de significativas quantidades de energia, os combustíveis fósseis
continuarão a desempenhar o papel mais importante (BUHRE et al., 2005). Em face de tal situação,
processos alternativos para a geração de energia a partir da combustão de combustíveis fósseis
necessitam de uma maior investigação, visando à minimização de alguns dos seus gases gerados ou
emissões, como o CO2 e o SO2.
Dentro das possibilidades de combustíveis fósseis, a participação do carvão mineral na
matriz energética brasileira sempre foi muito pequena. Em 2005, na oferta total de energia primária, o
carvão mineral representou apenas 6,4% e, na produção de eletricidade, essa participação foi ainda
menor, de 1,6%. No entanto, em face da perspectiva de dificuldades no aproveitamento dos recursos
hidrelétricos ainda disponíveis no país, aumentaram as atenções para uma possível expansão do uso do
carvão, principalmente dentro da perspectiva de longo prazo (BRASIL, 2006). Como exemplo, mesmo
aumentando em 120.000 MW a geração hidrelétrica, não será suficiente para suportar o aumento da
demanda. Também deve ser levada em consideração a disponibilidade das reservas de carvão mineral
– os níveis de produção atuais garantem o consumo mundial por mais de 160 anos – e o baixo custo do
carvão em comparação com os demais combustíveis fósseis. De qualquer maneira, para suprir a
demanda prevista, deverá haver, necessariamente, uma expansão da contribuição do carvão na matriz
energética brasileira. Esta expansão deverá ocorrer tanto em relação à termoeletricidade quanto ao
calor para processos industriais, de aproximadamente 700.000 t/ano em 2005 para 3.300.000 t/ano em
2030 (BRASIL, 2006). Dentro desta expansão, a tecnologia de leito fluidizado é a que se demonstra
como a mais aplicável em função das características do carvão mineral nacional, tanto para grandes
quanto para pequenas centrais termelétricas.
Nesta perspectiva, cabe considerar que a conversão de combustíveis fósseis via
combustão tem gerado, desde o início de sua utilização, um aumento da concentração de alguns
componentes indesejáveis na atmosfera, principalmente dióxido de carbono – CO2, óxidos de enxofre
– SOx e materiais particulados. Devido a isso, discussões e preocupações referentes à ação desses
compostos na atmosfera e no clima, tanto processos alternativos para a geração de energia a partir da
combustão de combustíveis fósseis têm evoluído tecnologicamente, quanto a redução ou compensação
da geração de CO2 (via tecnologias de captura de CO2 e/ou uso de biomassas puras ou blendadas com
carvão mineral), ou mesmo operações para tratamento de emissões, especialmente de SO2.
Neste sentido, é importante salientar a informação do 4° Report do International Panel
on Climate Change (IPCC, 2007), o qual mostra que a emissão de gases de efeito estufa devido às
atividades humanas, dentre eles o CO2, aumentou em 70% entre 1970 e 2004. O CO2, especificamente,
aumentou em 80% no mesmo período. Quanto às emissões de óxidos de enxofre, principalmente o
dióxido de enxofre – SO2, é esperado que os limites de emissões estabelecidos pelos órgãos
ambientais venham a sofrer uma considerável diminuição nos próximos anos. Tais diminuições terão
consequências diretas nos custos de operações de usinas termelétricas e plantas industriais que
utilizam carvão mineral, uma vez que o enxofre é um importante elemento constituinte dos carvões
brasileiros, chegando até valores de 7% na sua análise elementar.
Com relação à emissão de SO2 deve-se considerar a combustão em leito fluidizado, que é,
hoje, uma tecnologia consolidada e adaptável a distintas situações locais de características de
combustível, como o elevado teor de cinzas do carvão mineral nacional, e passível de proporcionar
uma adequada redução de compostos de enxofre. A grande vantagem do abatimento do SO2 via
utilização da tecnologia de leito fluidizado vem a ser a possibilidade de alimentação de compostos que
reagem com o SO2 dentro do leito, no momento da sua geração (FAÉ GOMES & DALLA ZEN,
2012), como a dessulfuração in situ. Consequentemente, há uma menor necessidade quanto aos
requisitos de dimensionamento dos equipamentos posteriores de abatimento de SO2.
O objetivo da dessulfuração in situ em leito fluidizado é, pela injeção de calcário, e partir
da calcinação do CaCO3 presente no mesmo, converter o máximo de SO2 a CaSO4 pela sua reação
com o CaO calcinado. No entanto, a reação de sulfatação está longe de ser quantitativa. Tipicamente,
uma conversão de 30 a 40% do CaO é obtida e excessos de Ca, por razões molares Ca/S de 2 a 3 são
utilizadas, o que vem a ser uma das limitações desta tecnologia (ANTHONY & GRANATSTEIN,
2001).
Mais ainda, apesar desta ser considerada uma tecnologia madura, há certas dependências,
entre as propriedades do calcário utilizado e o tipo de carvão utilizado além das condições
fluidodinâmicas e a conversão de SO2 que ainda merecem estudos e esclarecimentos (ALTINDAG et
al., 2004).
Considerando o contexto relativo à geração de CO2, no momento, existem três principais
tecnologias para a sua captura, as quais configuram processos ambientalmente mais favoráveis de
produção de energia termelétrica: captura na pré-combustão, captura na pós-combustão e na
oxicombustão. Os gases produzidos em plantas que utilizam tecnologias convencionais são
caracterizados pela baixa concentração de dióxido de carbono devido à presença do nitrogênio
presente no ar. A recuperação do dióxido de carbono diluído nestes gases acarreta altas penalizações
energéticas – o uso da tecnologia de oxicombustão evita esta penalização (RUBIERA et al., 2008).
Entretanto, outras penalizações energéticas surgem na utilização da referida tecnologia.
A tecnologia de oxicombustão, especificamente, consiste da utilização de oxigênio no
lugar de ar atmosférico para a combustão de um combustível fóssil. Uma vez que o nitrogênio do ar é
eliminado do gás de alimentação, o gás de combustão é altamente enriquecido com CO2 (TAN et al.,
2006). Para a captura do CO2 em forma de gás, é recomendada a compressão do mesmo para a fase
líquida após sucessivas etapas de purificação e, posteriormente, o armazenamento permanente do
mesmo ou a sua utilização industrial. (TAKAMI et al., 2009). O maior custo associado ao processo de
oxicombustão está relacionado à compressão e captura do CO2 (ANDERSSON & JOHNSSON, 2007).
Devido às diferenças de processo quando comparada à combustão com ar atmosférico, a
oxicombustão afeta alguns parâmetros usualmente controlados. Questões fundamentais envolvendo a
razão de reciclagem de gases, ignição, estabilidade de chama, transferência de calor, características de
combustão, e formação e redução de emissões atmosféricas têm sido estudadas e investigadas para
uma maior otimização do processo (SCHEFFKNECHT et al., 2011).
Cabe, também, salientar que a tecnologia de leito fluidizado possui muitas
variáveis descritas por modelos matemáticos, que incluem basicamente fenômenos físicos
(fluidodinâmica) e químicos (cinética química). Estes fenômenos estão interligados,
necessitando de análises mais detalhadas, tais como a influência dos parâmetros que
determinam a dinâmica do escoamento e parâmetros operacionais (taxas de alimentação dos
reagentes – ar e combustível) na taxa de conversão global do reator. A partir do exposto, este trabalho possui como objetivos a apresentação de resultados
experimentais, em planta piloto de leito fluidizado borbulhante, do uso de carvão mineral em duas
soluções tecnológicas mais sustentáveis: dessulfuração in situ e oxicombustão. Para tanto, as
operações com dessulfuração foram planejadas com diferentes condições fluidodinâmicas de maneira
a realizar uma relação das mesmas com a conversão do SO2. As operações em oxicombustão
descrevem o ajuste das condições operacionais da planta piloto utilizada para a obtenção de um gás
rico em CO2.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo experimental, tanto para a dessulfuração quanto para a oxicombustão, envolveu
o uso de carvão mineral da região de Minas do Leão – RS, ambos rejeitos dos respectivos processos de
beneficiamento. O calcário utilizado também é proveniente do Estado do Rio Grande do Sul.
2.1. Caracterização das materiais
Segue, Tabela 1, a caracterização dos carvões utilizados neste trabalho quanto à sua
análise elementar e poder calorífico inferior (PCI). Salienta-se que o Carvão A foi utilizados nas
operações de dessulfuração e o Carvão B foi utilizado nas operações em oxicombustão.
Tabela 1: Análise elementar dos carvões utilizados.
Carvão A B
C (%) 35,9 51,3
H (%) 2,8 3,4
S (%) 1,3 0,8
N (%) 0,6 0,8
O (%) 5,2 7,4
Cinzas (%) 45,7 28,2
PCI (kcal/kg) 3813,3 5240,3
Segue, na Tabela 2, a caracterização do calcário utilizado quanto aos seus óxidos,
analisado por fluorescência de raios X e a perda ao fogo.
Tabela 2: Caracterização do calcário.
CaO (%) 24,5
SiO2 (%) 23,8
Fe2O3 (%) 1,5
Al2O3 (%) 2,4
MgO (%) 20,0
Na2O (%) 0,01
K2O (%) 2,1
TiO2 (%) 0,1
Perda ao fogo (%) 28,0
2.2 Planta piloto
A Figura 1 mostra a configuração da planta piloto, de 250 kWt, utilizada tanto para as
operações com dessulfuração quanto para as operações em oxicombustão. A capacidade de
alimentação de combustível é de aproximadamente de 70 kg/h de carvão. Esta planta foi adaptada, a
partir da combustão com ar atmosférico para recirculação dos gases de combustão com injeção de
oxigênio. Combustíveis sólidos provenientes dos silos, assim como calcário, com vazões controladas
por roscas dosadoras, são injetados por gravidade por dutos na fornalha, onde ocorre a combustão. Os
gases gerados seguem para um ciclone de material refratário (além de abater parte das cinzas ainda
permite um maior tempo de residência) de onde saem para um trocador de calor, o qual pré-aquece os
gases de combustão. Se a opção é realizar a dessulfuração, após a passagem pelo ciclone 2, os gases
saem pela chaminé. Se a opção é realizar a oxicombustão, os gases, após serem resfriados no trocador
de calor e passarem pelo ciclone 2, dividem-se: parte é liberada para a atmosfera pela chaminé e parte
é recirculada no processo. Os gases de recirculação passam por uma válvula borboleta na saída do
ciclone 2 e seguem pelo sistema de ventilação para recirculação. Uma válvula guilhotina controla a
vazão de gases que são recirculados.
Figura 1: Configuração da planta piloto.
2.3 Dessulfuração
Para a dessulfuração, duas rotas distintas foram consideradas como passíveis de análise, a
partir das calcinação do CaCO3 para a geração de CaO e CO2. As Equações 1 e 2 descrevem a
possibilidade de dessulfuração via Rota 1 (YATES, 1983; ANTHONY & GRANATSTEIN, 2001) e a
Equação 3 descreve a possibilidade de dessulfuração via Rota 2 (SUYADAL et al., 2005).
Rota 1:
CaO + SO2 → CaSO3 (1)
CaSO3 + 1/2O2 → CaSO4 (2)
Rota 2:
CaO + SO2 + 1/2O2 → CaSO4 (3)
Para a adição de calcário durante a combustão, foram consideradas razões molares
Ca/S de 1,5, 2,0 e 2,5 para duas condições fluidodinâmicas: velocidade de entrada de ar de combustão
de 0,9 e 1,2 m/s. A conversão do SO2 a CaSO4 é dada pela Equação 4:
(4)
Sendo:
ni = número de mols por hora da espécie i que sai do sistema;
ni0 = número de mols por hora da espécie i alimentados no sistema.
2.4 Oxicombustão
As operações da planta em oxicombustão tiveram dois grandes objetivos:
Obter um gás rico em CO2 a partir do ajuste das variáveis de processo estudadas para
carvão mineral e biomassa;
Comparar as condições de processo, composição de gases e vazões de entrada e saída da
combustão e da oxicombustão para uma mesma alimentação de combustível em leito
fluidizado borbulhante a partir do balanço de massa e balanço de energia.
Para tanto, foi realizado um balanço material no reator de maneira a permitir a
comparação da combustão com ar atmosférico e da combustão tradicional. O volume de controle
considerado segue na Figura 2 para os dois processos.
Figura 2: Volume de controle para o balanço material na oxicombustão.
Balanço material
O balanço material do sistema compreende as entradas e saídas de cada espécie
constituinte das diversas correntes, conforme representado na Equação 5 para a combustão com ar
atmosférico e na Equação 6 para a oxicombustão.
cinzasgasesarcomb mmmm....
(5)
cinzasgasesreccomb mmmm....
(6)
Onde mcomb. e mar são as vazões mássicas de entrada no sistema: combustível e ar
atmosférico, respectivamente. Os termos mgases e mcinzas constituem as correntes de saída do sistema:
gases de combustão e cinzas, respectivamente. Pela Equação 6, mrec é a vazão de entrada no sistema
referente aos gases de recirculação.
Aplicando as Equações 5 e 6 aos diferentes constituintes das correntes de entrada e
saída, tem-se as Equações 7 e 8 para a combustão com ar atmosférico e oxicombustão,
respectivamente:
(7)
(8)
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A apresentação dos resultados é dividida para as operações em planta piloto com O
Carvão A e calcário, para dessulfuração, e com o Carvão B, para oxicombustão.
3.1 Dessulfuração
Para as operações com dessulfuração, a combustão foi realizada para duas diferentes
condições de entrada de ar comburente, velocidade superficial, Us, de 0,9 e 1,2 m/s, conforme mostra a
Tabela 3 para as condições 1 e 2, respectivamente. Devido a isso, diferentes alimentações de carvão e,
consequentemente, de ar atmosférico, foram utilizadas de maneira a manter a temperatura do leito
fluidizado em torno de 1123,15 K, que vem a ser a temperatura usualmente empregada na combustão
com leito fluidizado borbulhante. Tais temperaturas são representadas pelos parâmetros T04
(temperatura na entrada do leito) e T05 (temperatura na saída do leito), as quais devem manter-se em
valores próximos, o que confirma as condições desejáveis de mistura, turbulência e fluidização dentro
do leito. Ainda para controle das condições de fluidização, tem-se, na Tabela 3, os valores da queda de
pressão no leito fluidizado, ΔP, que possui valores que caracterizam tais condições dentro da
fluidização borbulhante, devido a medições realizadas anteriormente.
Mais ainda, verifica-se que foi necessária a manutenção de diferentes valores da Razão
Ar/Combustível utilizada nas duas condições, e consequente excesso de ar, para manter a temperatura
em torno de 1123,15 K. Também consequência da Razão Ar/Combustível utilizada vem a ser o tempo
de residência dos gases dentro do leito, tleito, onde ocorrem as reações de combustão e dessulfuração,
principalmente.
Tabela 3: Condições de operação na dessulfuração para o Carvão A.
Condição 1 2
Alimentação
carvão (kg/h)
28,08 42,04
Alimentação ar
(kg/h)
272,6 366,3
Razão
Ar/Combustível
6,5 8,7
Excesso Ar 82% 75%
Us (m/s) 0,9 1,2
tleito (s) 0,44 0,33
T05 (K) 1133,15 1128,15
T04 (K) 1126,15 1129,15
ΔP (mmCA) 4883 4756
P1 (mmCA) 7698 9159
Pf (mmCA) 196 245
CO2 (%) 13,2 13,2
CO (ppm) 120 112
SO2 (ppm) 1084,7 976,2
A Tabela 4 já apresenta os resultados da dessulfuração para as duas velocidades
superficiais utilizadas e diferentes valores da Razão Molar Ca/S, com a alimentação de calcário de
acordo com a alimentação de carvão. A partir dos valores das emissões de SO2 da Tabela 3 e das
concentrações de SO2 obtidas na Tabela 4, é possível determinar a conversão de SO2, conforme
apresentado na Equação 4.
Verifica-se uma leve melhoria da conversão de SO2 com a diminuição da velocidade
superficial utilizada, o que leva a um maior tempo de residência para a reação do SO2 com o CaO
oriundo do calcário.
Tabela 4: Condições da dessulfuração para o Carvão A com Us = 0,9 m /s e 1,2 m/s.
Condição 1 2 3 4 5 6
Us (m/s) Us = 0,9 m/s Us = 1,2 m/s
Razão Molar
Ca/S 1,5 2,0 2,5 1,5 2,0 2,5
Alimentação
Calcário
(kg/h)
3,8 5,0 6,3 6,0 8,1 10,0
SO2 (ppm) 515,3 406,9 319,4 539,7 530,1 381,6
Conversão
SO2 (%) 47,2 58,3 67,3 44,7 54,3 60,9
Na sequência, para uma melhor análise do processo de dessulfuração, as Figuras 3 (a),
(b) e (c) apresentam análises realizadas por difração de raios X das cinzas geradas na Condição 2 da
Tabela 3, Condição da Tabela 4 – Us = 0,9 m/s e Razão Molar Ca/S = 2,0 – e Condição 5 da Tabela 4
– Us = 1,2 m/s e Razão Molar Ca/S = 2,0, respectivamente.
Na Figura 3 (a), os maiores constituintes das cinzas geradas, sem a opção de
dessulfuração são o quartzo (SiO2) e a hematita (Fe2O3), em ordem decrescente. Ainda observa-se a
geração de CaSO4, devido ao enxofre e cálcio já presentes no combustível, mesmo antes da adição de
calcário ao processo.
(a)
(b)
(c)
Figura 3: Difratogramas para as cinzas obtidas das operações da Tabela 4 (a) Sem dessulfuração; (b)
Com dessulfuralção Ca/S 2,0 e Us = 0.9 m/s and (c) Com dessulfuraçãon Ca/S 2,0 e Us = 1.2 m/s
Na Figura 3 (b), quando tem-se a adição de calcário a uma Razão Molar Ca/S de 2,0 e Us
= 0,9 m/s, já tem-se o aparecimento de CaO devido à adição de CaCO3 ao processo e sua consequente
calcinação. Como já descrito na literatura, há a formação, no mecanismo de dessulfuração, de uma
camada de CaSO4 na superfície externa do CaO, devido ao maior volume molar do primeiro, o que
vem a gerar a necessidade de uma elevados valores de excesso de Ca em comparação com a proporção
estequiométrica de S, como mostram os valores utilizados da Tabela 4.
A Figura 3 (b) apresentou a presença de MgO e CaMgCO3 nas cinzas, ambos
provenientes do calcário. Além disso, cabe comentar a presença de MgO e CaMgSiO4 nas cinzas da
Figura 3 (c), sendo o primeiro oriundo da composição do calcário e o segundo a partir dos
mecanismos de reação que ocorrem no leito. Importante salientar, também, na mesma figura, a
presença de CaSO3 na mesma cinza. Como houve um excesso de ar utilizado elevado nesta condição –
82% – não seria a deficiência de O2 a causa para a formação de sulfito, também, com o enxofre em um
número de oxidação menor. Se observamos a Rota 1 para o mecanismo de dessulfuração, conforme
descrito pelas Equações 1 e 2, e considerando que, nesta condição, foi utilizada uma maior velocidade
superficial, sugere-se que o menor tempo de residência dos gases no leito para ocorrer as duas reações
em série desta rota fez com que houvesse uma menor conversão de SO2 a CaSO4, conforme também
evidenciado na Tabela 4.
Com isso, verifica-se que, para o leito fluidizado borbulhante, nas condições de operação
realizadas, a Rota 1 aparece mais adequada para a descrição do mecanismo de dessulfuração. Como a
mesma ocorre em duas reações em série, o tempo de residência e as condições fluidodinâmicas são
fundamentais para o aumento da conversão de SO2.
3.2 Oxicombustão
Antes de iniciar o procedimento para recirculação dos gases para passagem do sistema a
oxicombustão, foram realizadas operações com ar atmosférico de maneira a determinar condições para
comparação posterior com a modificação do processo. Para a alimentação de combustível realizada, o
processo foi estabilizado em uma temperatura em torno de 1173,15 K no leito fluidizado (T04 –
abaixo do leito e T05 – acima do leito). O objetivo de tais operações foi a obtenção de dados da
combustão tradicional. A Tabela 5 mostra as condições do processo já em estado estacionário.
Na Tabela 5, mcomb refere-se à alimentação de carvão, o parâmetro m0
ar refere-se à massa
de ar estequiométrico utilizada, o parâmetro ΔPleito refere-se à perda de pressão no leito, que vem a ser
controlada para verificação da continuidade das condições de fluidização, e Pf é a pressão na área de
freeboard do leito, a Razão AC (Ar/Combustível) expressa o quociente entre a vazão mássica de ar
utilizada e a alimentação de combustível.
Uma vez estabelecida a estabilidade do processo com combustão em ar atmosférico, de
acordo com a Tabela 5, procedeu-se a recirculação dos gases de combustão e ajuste das condições
operacionais do processo. Para tanto, três parâmetros são essenciais para controle e ajuste do processo
de maneira a minimizar a entrada de ar falso, encerramento da alimentação de ar atmosférico e
começo da alimentação de combustível: válvula de recirculação de gases, potência do ventilador (V1,
conforme Figura 1) e a consequente vazão de gases de entrada no leito fluidizado.
Tal ajuste é fundamental para estabelecer pressões positivas no sistema em locais mais
propícios à entrada de ar falso. Neste sentido, deve ser comentada a necessidade de minimização de
entrada de falso na oxicombustão, uma vez que a mesmo realiza uma considerável diluição do CO2 de
elevada concentração obtido nos gases. Concentrações elevadas de CO2 na saída da fornalha são
fundamentais para a sua futura purificação e captura.
A Tabela 6 mostra as condições de oxicombustão obtidas pela estabilização dos
parâmetros de processo de ajuste comentados. Para comparação com o processo de combustão com ar
atmosférico, a mesma alimentação de combustível foi mantida.
Na referida tabela, a temperatura de entrada, Te, refere-se à temperatura que os gases de
recirculação, já com a adição de oxigênio, retornam à fornalha e a análise dos gases é dada em base
seca. O ∆Pleito é mantido em um valor dentro da faixa de fluidização, sendo que os valores das
temperaturas T04 e T05, abaixo e acima do leito, confirmam a manutenção da fluidização.
Ratifica-se a diminuição da concentração de N2 e o aumento da concentração de CO2 nos
gases de recirculação em comparação com a combustão com ar atmosférico. Com isso, também foi
observado um substancial aumento da temperatura do leito, devido às mudanças nas propriedades dos
gases de entrada no volume de controle na combustão e na oxicombustão – calor específico,
emissividade e massa específica.
A partir da Tabela 6, e comparando com a Tabela 5, verifica-se, também, uma substancial
diminuição da pressão no freeboard da planta piloto, região localizada logo acima do leito. Tal
diminuição vem a ser consequência direta da diminuição da vazão de gases de entrada na fornalha na
oxicombustão. Isto ocorre devido à troca de comburente, ar atmosférico (N2 + O2) na combustão com
ar atmosférico e oxicombustão (O2).
Deve ser comentado, também, a concentração de CO2 obtida – 59,6% vol. – na
oxicombustão, que possuiu uma limitação devido à elevada entrada falsa de ar que ocorreu, 34,8%,
expressa pelo parâmetro α. Preusche et al. (2011) definiram a entrada de ar, α, como a razão entre a
vazão mássica de ar entrando no sistema e a vazão mássica de gases na saída do sistema. Aqui, foi
considerado o volume de controle do sistema como sendo a fornalha onde se encontra o leito
fluidizado. Este vem a ser um valor elevado para a entrada de ar, mostrando que, apesar de haver o
estabelecimento de pressão positiva na saída da fornalha, ainda é necessária a minimização da entrada
de ar na zona de recirculação, onde a pressão continua negativa devido à sucção do ventilador.
Tabela 5: Condições de operação na combustão com ar atmosférico. mcomb (kg/h) 31,0
mar (kg/h) 465,7
m0
ar(kg ar/kg comb) 6,85
m0
O2(kg O2/kg comb) 1,58
Razão AC
(kg ar/kg comb) 15,0
Excesso Ar (%) 117
ΔPleito (Pa) 4560
Pf (Pa) 706
T04 (ºC) 854
T05 (ºC) 859
GASES DE COMBUSTÃO
CO2 (%) 8,2
O2 (%) 11,3
Tabela 6: Condições operacionais obtidas na oxicombustão.
mcomb (kg/h) 31
mentrada (kg/h) 182,7
∆Pleito (Pa) 3923
Pf (Pa) 137
T04 (K) 1319,15
T05 (K) 1319,15
ENTRADA
CO2 (% vol.) 34,2
O2 (% vol.) 29,3
N2 (% vol.) 36,5
SAÍDA
CO2 (% vol.) 59,6
O2 (% vol.) 3,9
N2 (% vol.) 36,5
CO2 (% más.) 69,5
O2 (% más.) 3,3
N2 (% más.) 27,1
α (%) 34,8
Balanço material
A Tabela 7 mostra o balanço de massa para comparação das condições de estabilização
na combustão e na oxicombustão. Os dados mostrados foram obtidos das Tabelas 5 e 6.
Tabela 7: Balanço material para a oxicombustão.
ENTRADA
COMBUSTÃO OXICOMBUTÃO
Componente Concentração
(% más.)
Vazão
mássica
(kg/h)
Componente Concentração
(% más.)
Vazão
mássica
(kg/h)
O2 22,8 106,0 O2 26,9 49,3
CO2 0 0 CO2 43,2 79,0
N2 76,4 355,0 N2 29,4 53,7
H2O 0,8 3,9 H2O 0,4 0,7
Total 100 464,9 Total 100 182,7
SAÍDA
COMBUSTÃO OXICOMBUSTÃO
Componente Concentração
(% más.)
Vazão
mássica
(kg/h)
Componente Concentração
(% más.)
Vazão
mássica
(kg/h)
O2 11,7 57,1 O2 3,1 6,6
CO2 11,7 57,1 CO2 65,3 137,7
N2 73,1 356,6 N2 25,5 53,7
H2O 3,4 16,7 H2O 6,0 12,8
Total 100 488,0 Total 100 210,8
Segundo Fujimori e Yamada (2012), no processo de oxicombustão, o volume do gás de
combustão diminui de 75 a 80% se comparado com a combustão com ar atmosférico. Se, a partir da
massa específica dos gases de entrada no volume de controle, considerando as respectivas
temperaturas de entrada, determina-se o volume dos gases obtidos, chega-se a um valor de 31,6% do
volume de gás para oxicombustão entrando no volume de controle em comparação com ar
atmosférico. Este é um valor mais alto do que o comumente encontrado na literatura. Porém, como já
comentado, quando se tem a oxicombustão em leito fluidizado borbulhante, dada a necessidade de
uma vazão mínima para manter o gás entrando acima da velocidade mínima de fluidização, maiores
taxas de recirculação dos gases são necessárias.
Wall et al. (2008), a partir de um balanço de massa, mostraram que, para manter a fração
volumétrica desejada de 3,3 % em base úmida, foi necessário operar com uma entrada de gases com
27% O2 também em base úmida. A partir do balanço de massa da Tabela 7, e, novamente,
considerando as respectivas propriedades para as temperaturas obtidas, foi obtida uma fração
volumétrica de 3,4% O2 em base úmida. No entanto, uma fração volumétrica de O2 nos gases de
entrada foi de 29,1%, mostrando uma boa concordância com os valores apresentados na literatura.
4. CONCLUSÕES
Neste trabalho, foram estudadas, experimentalmente, duas possibilidades de uso do
carvão mineral da Região Sul do Brasil de maneira a minimizar as emissões de SO2, via adição de
calcário em leito fluidizado e para uma futura possiblidade de captura de CO2, via tecnologia de
oxicombustão.
Ambas as possibilidades estudadas mostraram-se viáveis tecnicamente em leito
fluidizado borbulhante já utilizado para combustão com ar atmosférico.
Para a dessulfuração in situ, são apresentadas as conclusões:
Uma conversão de SO2 de até 67,3% foi obtida com uma Razão Molar Ca/S de 2,5 e Us =
0,9 m/s. Ao mesmo tempo, tal conversão mostrou-se consequência direta da velocidade
superficial utilizada assim como do consequente tempo de residência;
A Rota 1 para o mecanismo de dessulfuração, mostrou-se mais adequada para a sua
descrição, novamente sendo influência direta do tempo de residência adotado;
Os difratogramas obtidos das cinzas oriundas da dessulfuração confirmaram a presença
de CaO não convertido juntamente com CaSO4 e a possibilidade de presença de CaSO3
de acordo com as condições fluidodinâmicas aodtadas.
Para a oxicombustão, segue algumas conclusões:
O processo de combustão em leito fluidizado borbulhante é adequado para o
desenvolvimento da oxicombustão. No entanto, a adaptação do processo de
oxicombustão em plantas existentes requer adaptações bastante sensíveis, principalmente
se um sistema de recirculação de gases é introduzido. A recirculação dos gases para a
introdução da tecnologia de oxicombustão, entretanto, provocou uma alta taxa de
infiltração de ar atmosférico no sistema. A manutenção de pressões negativas é
indesejável na oxicombustão, especialmente quando é realizada a adaptação de plantas já
existentes. Sendo assim, a verificação da perda de carga no sistema e o correto
dimensionamento do ventilador para proporcionar a recirculação dos gases devem receber
especial atenção;
Quanto à qualidade do gás obtido, com um ajuste dos parâmetros acima mencionados,
uma entrada de ar falso de 34,8% foi obtida, proporcionando uma concentração de CO2
de 69,5% em massa.
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