Almas (Vondy)

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  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Almas - Vondy*

    Nessa histria vocs conhecem a jovem fotgrafa Dulce Maria e um bombeiro chamado ChristopherUckermann, que numa noite entre amigos em um bar da cidade acabam alvejados por tiros, juntos vivemuma !M e"perincia quase morte e descobrem que e"iste muito mais coisas entre a vida e a morte do

    que se imagina#$ uma linda histria de amor entre duas almas predestinadas a ficarem juntas, tudoseria f%cil se apenas as almas se encontrassem, mas quando essas almas recebemseus corpos, tornam aquela pai"&o num grande desastre, seus defeitos, ambi'(es,medos e inseguran'as ficam cada ve) mais evidentes#Uma batalha se inicia, as energias positivas tra'am caminhos para que eles seencontrem e vivam esse amor, enquanto as trevas e as energias negativas lutam para que eles nuncafiquem juntos#Coisas estranhas acontecem, dem*nios surgem e desaparecem quando menos seespera, suas almas s&o perseguidas e encurraladas enquanto lutam para sair domundo dos mortos e quando saem### ai sim, as coisas realmente ficam estranhas#$ uma histria deliciosamente envolvente que de maneira simples nos fa) perceber

    que nada acontece por acaso, basta ficarmos atentos aos sinais### eles sempre est&o ai### Nossocrebro bem mais poderoso do que podemos imaginar, ele nos protege

    sempre, seguindo exatamente as crenas que alimentamos ao longo da vida, mesmoque essa maneira de proteo no seja adequada em todos os momentos, como oque estou vivendo agora

    Acredite! "e uma #ora para outra tudo pode mudar, tudo aquilo que voc$ con#ecia

    pode simplesmente acontecer de %orma di%erente, mas crer e con%iar que tudo podeser %eito, o primeiro passo para o recomeo &em isso nada acontece, sem issotodo camin#o j' constru(do %ica completamente perdido

    )u sei eu sei, complicado e at insano pensar assim, mas exatamente dessa

    maneira que as coisas acontecem, ao menos %oi assim que aconteceu para mim

    assei por algo que os mdicos c#amam de )+, )xperi$ncia +uase orte

    ma experi$ncia quase morte descrito pela ci$ncia como a experi$ncia vivida no

    crebro, nos instantes que antecedem a morte Acontece entre o momento exato queseu corao p'ra de bater at a perda de%initiva e irrevers(vel das %un.es cerebrais

    /Noooooossa0 assustador!

    1udo bem, eu concordo com voc$ ) %ica pior quando acontece projeo da

    http://fanfics.com.br/fanfic/15781/almas-vondy-vondyhttp://fanfics.com.br/fanfic/15781/almas-vondy-vondy
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    consci$ncia e autoscopia, tudo ao mesmo tempo

    1en#o certe2a que agora piorei ainda mais, %ique calmo eu vou explicar! ara cada

    um desses nomes con%usos, existe uma de%inio

    rovavelmente voc$ j' con#eceu algum ou escutou #ist3rias sobre pessoas que

    despertaram do coma, algumas delas di2em ter escutado conversas de seus entes

    queridos e outras contam que estiveram %ora do corpo vagando por ai arasitua.es assim damos o nome de proje.es de consci$ncia e autoscopia

    rovavelmente voc$ tambm j' ouviu algo sobre pessoas que acreditavam que

    iam morrer e sentiram o corpo leve, ou ouviram ru(dos esquisitos, viram sombras

    sinistras, vivenciaram as trevas e depois a lu2 bril#ante no %im do t4nel

    )nto basta que a pessoa esteja morrendo e pu%t! &eu corpo %ica leve, tudo

    embaa, voc$ ouve sons que no consegue entender, aparecem sombras at tudo

    escurecer completamente e se voc$ %oi uma pessoa boa em vida, %ique tranq5ilo alu2 bril#ante com certe2a vai aparecer e voc$ estar' seguro

    1entei explicar isso 6s pessoas, at aos mdicos, mas descobri que para cada

    uma das min#as experi$ncias a ci$ncia tin#a uma explicao, no acredita7

    8 4nico respons'vel por todas essas sensa.es e acontecimentos seu crebro

    que est' tentando desesperadamente te proteger para poder %a2er o trabal#o dele,

    salvar sua vida! )xistem %ontes que comprovam isso, so dados tcnicos comnomes complicados e conex.es com velocidade espantosa que passa por nossacabea, vai por mim ouvi essas in%orma.es de maneira detal#ada de cada mdicoque me examinou

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    Viu!! &empre tem uma explicao l3gica e racional!

    &imples assim!

    %a! Ainda bem que existe explicao cienti%ica para tudo

    as preciso di2er, esquea todas as explica.es cient(%icas, eu vou te contar uma

    #ist3ria bem mais interessante- Aaaa#! - eu aspirei desesperada sentindo o ar voltar aos pulm.es, abri os ol#os

    assustada, como se estivesse voltando de um pesadelo terr(vel isquei algumas

    ve2es tentando me orientar, eu estava sentada em um banco, num corredor longocom

    muitas janelas, ol#ei por elas e vi que era noite, aquilo parecia um corredor de

    #ospital, tin#a c#eiro de #ospital, com aquele piso t(pico de #ospital e era limpocomo

    um #ospital

    Aos poucos o barul#o comeou e era in%ernal como se todos estivessem %alando

    ao mesmo tempo, o mais interessante eu no conseguia ver ningum por perto

    Voltei a %ec#ar os ol#os e coloquei as mos nos ouvidos tentando no escutar as

    pessoas %alando, tentei me concentrar, %iquei assim por alguns segundos, sem

    qualquer resultado, as pessoas ainda %alavam demais, eu no conseguia parar de

    ouvi-las e min#a cabea estava comeando a doer

    - No vai adiantar %a2er isso, eu j' tentei

    Abri os ol#os e ol#ei na direo da vo2, ele parecia exausto sentado de maneira

    largada no banco ao meu lado

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    - +uem voc$7 8 que eu estou %a2endo aqui7 9sso aqui um #ospital7 :omo vim

    parar aqui7

    - Assim que decidir qual resposta quer primeiro me avise moa

    - )u con#eo voc$7

    - oa, por acaso essa resposta que quer primeiro7

    - Voc$ est' bem7

    - A#! )nto quer essa resposta primeiro7 ; ele parecia se divertir enquanto tirava

    sarro da min#a cara

    - )i, qual a graa7

    - or %avor, quer se decidir moa7

    - "ecidir o qu$7

    - "ecidir sobre qual resposta quer primeiro moa!

    :on%usa, ol#ei no longo corredor a min#a %rente, ainda ouvia pessoas %alando e

    todas ao mesmo tempo, queria ao menos pedir que parassem por um instante, ol#ei

    novamente para meu amigo ao lado e num estalo lembrei-me dele

    - )u sei quem voc$ ; %alei, lembrando agora de algumas coisas que

    aconteceram naquele noite

    - oa, isso uma a%irmao ou uma pergunta7 ; ele sorriu novamente

    - Voc$ era um deles ; continuei %alando tentando ignorar sua maneira irritante de

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    se divertir as min#as custas

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    ; >amento moa )u sinceramente nem sei o que estou %a2endo, s3 queria di2er

    que te ac#ei bonita +uer di2er, antes que mais alguma coisa estran#a acontea

    +uase no acreditei ter ouvido suas desculpas to es%arrapadas "e qualquer

    maneira retribui o ol#ar deixando claro que no gostei

    - 8l#a, me desculpe, esquea o que eu disse, j' estou con%uso o su%iciente o

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    n4meros que deveriam se re%erir ao batal#o e a letra que deveria ser seu tipo

    sangu(neo

    )le usava camiseta vermel#a com algum tipo de emblema do lado direito do peito

    e em seu pescoo estava pendurado uma corrente com uma plaquin#a de

    identi%icao daquelas t(picas usadas por militares quando esto em servio, suacala era cin2a e ele usava botas pretas

    No consegui evitar e continuei a observ'-lo com ol#os cr(ticos de %ot3gra%a

    pro%issional, seus cabelos eram negros e curtos, seu porte %(sico %a2ia a camiseta

    de%inir alguns m4sculos, sua pele bron2eada era como de algum que tin#a acabadode voltar de %rias e seus ol#os eram pretos como a noite l' %ora

    +uase assobiei, se um dia eu quisesse ter uma %antasia, esse cara era per%eito

    para estar nela, quando ele se mexeu entrei em p@nico, no quis que ele me visse

    boba a admir'-lo e tentei di2er algo inteligente

    - -ensei que bombeiros s3 aparecessem para apagar inc$ndios, tirar gatos de

    'rvores para vel#in#as idosas, salvar pessoas em enc#entes, v(timas dedesli2amento, ou capivaras do rio 1iet$ na marginal

    al terminei de %alar e percebi o quo idiota %oi meu coment'rio, quando o vi rir eu

    desisti e %ui obrigada a rir junto com ele- Quase isso moa... Eu estava tentando controlar um incndio num baronde alguns assaltantes tiveram a brilhante idia de atear fogo para dicultar aao da polcia, lamentavelmente em assaltos acontecem tiroteios e algumaspessoas so alveadas a bala... - alguns segundos de silncio encheram o ambientede suspense, en!uanto ele me olhava, talve" esperando !ue eu dedu"isse o resto,mas como continuei calada ele prosseguiu sem muitos rodeios. # $em, alveadas abala como... aconteceu com voc%

    Em !uesto de segundos, um turbilho de imagens apareceu em minha

    cabea todas relacionadas ao !ue havia acontecido no bar.

    &spirei o ar r'pido e colo!uei a mo nas costas onde eu havia sentidouma !ueimao forte, escorreguei a mo pelo ombro onde tambm h' poucotempo havia uma dor cortante e olhei na minha perna direita, !ue antes tinha umburaco feito por uma bala, mas no encontrei !ual!uer sinal de !ue a!uilo haviamesmo acontecido.

    - (or!ue eu no sinto nada) * !ue aconteceu) +o tem sangue)

    - Qual resposta !uer primeiro, moa) # sua risada divertida ecoou pelo corredor.

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    - (or!ue eu sou to engraada)

    - Ento essa resposta !ue !uer primeiro)

    - (or!ue responde minhas perguntas com outras perguntas)

    Ele continuou a rir e acabou por me ignorar, olhou em volta e depois seconcentrou no corredor, como se procurasse por algo. nstintivamente, eu tambmolhei, por!ue ainda era f'cil ouvir as pessoas falando, mesmo sem poder v-las,!uando voltei a olh'-lo ele havia se encostado e estava com os olhos fechados.

    - Ei, estou falando com voc, pode me dar algumas respostas) # fuifalando en!uanto cava em p na frente dele. # Ei, est' me ouvindo) - cutu!ueisua perna com meu sapato, fa"endo ele abrir os olhos parecendo "angado.

    - Estou ouvindo moa, s no consigo responder tudo de uma ve", por issodecida antes de perguntar) - ele disse tambm cando em p, ele era !uase umpalmo mais alto !ue eu, por isso fui obrigada a dar um passo para tr's para verseu rosto e !uando o encarei as coisas caram piores. Entenda, homens bonitostentando fa"er cara de mal, so os melhores para fotografar%

    au% (osso fa"er um calend'rio com esse cara, como lindo% /eu coraobateu r'pido prestando ateno em cada detalhe dele.

    - * !ue foi) (erdeu a lngua agora) # sua vo" "angada me trou0e de voltaa realidade.

    - 1esculpe !ue eu... eu... eu... me distrai... # respondienvergonhada, provavelmente corei, tentei disfarar e virei um pouco com mo natesta para !ue ele no percebesse !ue eu estava babando por ele.

    - 2oc est' bem) # senti !uando ele tocou em meu brao.

    m gesto simples, mas !ue tornou tudo pior, por!ue no mesmo instanteuma sensao estranha percorreu meu corpo, imagens confusas de situa3esdiversas vieram a minha cabea em todas eu o vi, em lugares e pocas diferentes,era uma energia e0tremamente forte como se por toda minha vida eu o

    conhecesse4 cou evidente em seu rosto !ue ele tambm vira as mesmas imagens!ue por!ue rapidamente retirou a mo e cou me olhando assustado.

    - /oa, voc es!uisita%

    - Es!uisita eu)

    - /elhor sentar moa, no sei se possvel, mas est' com cara de !uevai desmaiar...

    5entei sem !ue ele me audasse, talve" estivesse com medo de tocar emmim novamente, !uei agradecida por isso, ' !ue tudo estava confuso demais.

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    - 1o !ue se lembra)

    - Eu me lembro de ter recebido uma ligao do 6eonel, meu namorado,pedindo !ue nos encontr'ssemos em um bar, perto do trabalho dele, odeio a!uelelugar% # esse coment'rio saiu antes !ue eu pudesse impedir, por isso !uei sem

    eito. - ...desculpe... # falei sem graa. # mas !ue eu no !ueria ir, estou cansadae pretendia ir direto para casa, preciso revelar algumas fotos para amanh... -levantei a cabea me dando conta !ue a!uilo parecia impossvel. - voc estava l',agora voc est' a!ui... estou morta) # falei apavorada com a possibilidade.- 8l#a moa, levando em considerao que estou %alando com voc$, sinceramente espero queno!

    - as no entendo7

    - )u tambm no!

    =icamos em sil$ncio por alguns minutos perdidos em nossos pensamentos, passei a mo naperna da cala onde eu #avia visto os bombeiros cortar o jeans, depois abri um boto da camisa edesli2ei o dedo no ombro onde eu me lembro de estar doendo provavelmente tambm #avia sidoatingida e por 4ltimo perto da coluna onde eu senti uma queimao insuport'vel que agoradesaparecer'

    - &e estava cansada, porque %oi l', ento7

    - "esculpe, o que disse7 - ol#ei con%usa sem compreender direito a pergunta e ele se inclinou namin#a direo me ol#ando bem perto

    - Voc$ disse que estava cansada, porque %oi at l'7

    1en#o certe2a de ter ouvido a pergunta e dessa ve2 compreendido, s3 que no conseguiaresponder, to vidrada %iquei com seus ol#os escuros sobre mim, era como se eu j' os tivessevisto tantas e tantas ve2es

    - )st' me ouvindo moa7

    :ompletamente boba me a%astei, ele tentou esconder um sorriso convencido enquanto esperavamin#a resposta, %ec#ei os ol#os por alguns segundos buscando algo inteligente para di2er, massuspirei desistindo

    - No gosto de discutir por bobagens - respondi erguendo os ombros cansada de parecer idiotaperto daquele cara, mas s3 ento percebi que ele continuava me ol#ando como se essa respostano %osse su%iciente - +ual o problema7 s ve2es eu %ao coisas que no estou a %im, porque nemtudo vale 6 pena discutir, ir at l' era apenas uma bobagem no quis contrariar meu namorado -conclui esperando que ele entendesse agora meu ponto de vista

    - Bobagem7 ; ele parecia incrdulo ; ruivin#a, %oi por essa bobagem que levou tr$s tiros!! ; suaindignao era evidente ao %alar

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    - "ulce, meu nome "ulce aria! ; respondi %irme, quem ele pensa que para me dar um apelidoassim7

    - 8u desculpe, "ulce! ensei que no discutisse por bobagens

    - 8l#a, escuta aqui, a culpa no %oi do ablo aconteceu porque tin#a queacontecer

    - Nada acontece por acaso, "ulce, nada nessa vida, ou seja, l' onde estamos - ele %oi tentando seexplicar enquanto ol#ava dos lados ; en%im, nada acontece por acaso, pense nisso da pr3ximave2!

    - 8 que aconteceu a%inal7 ; suspirei com esperana dele poder me explicar

    - "o que se lembra depois que entrou no bar7

    - )ncontrei alguns amigos do ablo, convers'vamos enquanto ele no c#egava ra variar eleestava atrasado ; %iquei irritada me lembrando disso - depois alguns #omens anunciaram oassalto - parei alguns segundos pensando ; bem, um deles atravessou o balco e %oi para ocaixa, encostou a arma na cabea do sen#or, exigiu todo o din#eiro ; senti-me perdida semlembrar do resto completamente - sinceramente, no sei, tudo muito con%uso

    - ais nada7

    - ac#o que no pode me esclarecer7

    - N3s %omos c#amados porque o lugar estava pegando %ogo, parece que em algum momento osladr.es atearam %ogo no bar para tentar escapar da pol(cia, nos entramos, controlamos o inc$ndioe encontramos C pessoas com %erimento por arma de %ogo, uma delas era voc$, estava ca(dapraticamente desacordada, voc$ inalou muita %umaa at que a encontr'ssemos ; #avia umpesar em sua vo2 e eu %iquei agradecida - n3s a atendemos e a estabili2amos, voc$ levou um tirona perna - ele disse apontando um palmo abaixo do joel#o - um tiro de raspo no ombro e umtiro nas costas

    + de ouvilo pronunciar meu ferimento nas costas me estiquei como se sentisse a queima'&onovamente#

    nquanto alguns policiais ainda circulavam pelo estabelecimento a procura do -ltimo bandido foragido,nos est%vamos terminando de coloc%la na prancha para removla, n&o sei como o tiroteio recome'ou,acho que o bandido se deparou com m dos policiais e trocou tiros, na confus&o me acertaram e eu cai,desequilibrando a prancha e voc caiu em cima de mim###

    !uis duvidar, mas s a maneira confusa dele gesticular dei"ava claro que tudo era verdade#

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    N&o sei e"plicar, provavelmente foi r%pido demais para isso realmente ter acontecido, mas a ultima coisaque lembro foi voc di)endo pra eu n&o dei"%la so)inha### . ele sorriu convencido erguendo os ombros# ###e aqui estamos/

    0embrei de algumas coisas, principalmente da fuma'a que dificultava minha respira'&o e fa)ia meu peitodoer, como todos, eu corri e tentei sair, mas a dor na perna me fe) parar, depois a dor foi substitu1da pelaqueima'&o nas costas e quando percebi minha camisa branca ficou vermelha rapidamente na regi&o doombro e eu cai#

    2 caos e a fuma'a fi)eram meu peito doer ainda mais, fui perdendo a conscincia completamente, nessemomento eu pedi a Deus que me enviasse um anjo que me tirasse de l%#

    2lhei para meu amigo ao lado e sorri, com certe)a minhas s-plicas foram atendidas e algo aconteceuporque agora estou aqui ao lado de um anjo vestido de bombeiro# Como isso 3 poss1vel4 N&o tem sangueou roupas rasgadas, n&o e"iste dor, respiro normalmente, apenas ou'o as pessoas falando e ainda n&osei onde elas est&o#

    Como pode ser4 perguntei#

    N&o sei# . sua resposta era s3ria e ele parecia t&o perdido quanto eu#

    N&o quero morrer###

    le sorriu#

    5amb3m n&o planejei isso para hoje, ruivinha###

    +orri como se essa n&o fosse uma conversa absurda, ficamos assim, apenas nos olhando por algunsminutos de alguma maneira absurda eu sabia que estava segura ao lado dele, como se o conhecesse portoda a vida e enfim o tivesse encontrado#

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    Um barulho de portas sendo abertas as pressas me fe) pular de susto, levantei num pulo sem nem saberpor que# ra como se algo me chamasse para aquela dire'&o, comecei a andar pelo corredor e emseguida a correr como se minha vida dependesse disso, fi) a curva para esquerda no final do corredor e ocen%rio a minha volta era outro, agora eu via as pessoas que falavam tanto, aquela era uma alade emergncia em um hospital qualquer#

    6%rias enfermeiras e m3dicos andavam apressados correndo contra o tempo tentando salvar pessoasque ali chegavam, alguns di)iam que eram ao menos 7 os feridos pelo incndio e tiroteio no bar, escutei asirene de ambul8ncia e vi quando duas encostaram simultaneamente e os procedimentos apressados seiniciaram ainda na porta do hospital#

    Uma maca estava sendo empurrada por um dos param3dicos que ia descrevendo ao m3dico o estado dapaciente, quando comecei a ouvir fiquei assustada e percebi que t&o assustado como eu estava meuamigo bombeiro ali ao lado#

    9ssalto em bar seguido de tiroteio e incndio, garota de :; anos, baleada nas costas, perna e ombro,com hemorragia interna,

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    >ui me sentindo atordoada com tudo, comecei a respirar com dificuldade, era como se o ar n&o chegassemais a meus pulm(es, s me dei conta que n&o estava so)inha quando senti meu amigo bombeiro mechacoalhando#

    @uivinha olha para mim### . procurei seus olhos sem entender o que e"atamente ele queria# . isso olhepara mim, t%### respire devagar, bem devagar, calma, voc est% hiperventilando### apenas olhe para mim erespire devagar### consegue fa)er isso4

    >a)er o qu4 . mal conseguia ouvir o que ele di)ia tamanha era a falta de ar#

    le segurou meu rosto e me fe) olh%lo diretamente, repetiu mais algumas ve)es suas orienta'(es, at3que eu aparentasse estar entendendo, definitivamente ele queria que eu respirasse ou algo assim###

    Calma, apenas respire devagar### fique respirando, ok### eu j% volto/ ele saiu correndo e voltou depoisde poucos minutos, segurando uma sacola pl%stica e entregou na minha m&o#

    +e antes eu n&o respirava, agora eu n&o raciocinava, porque n&o tinha id3ia do que fa)er com aquelasacola nas m&os, olhei para o bombeiro em d-vida, ele sorriu percebendo o quanto idiota tinha sido aome entregar aquilo sem di)er nada#

    Desculpe### respire aqui dentro, vai ajudar, respire lentamente umas AB ve)es seguidas, calma respire###

    le me ajudou e eu fui seguindo as orienta'(es, ainda ouvia sua vo) ali ao meu lado tentando me acalmare sem nem saber porque agradeci a Deus por ele estar ali#

    9os poucos aquela sensa'&o de p8nico foi diminuindo enquanto ele ainda tentava me acalmar#

    2 que aconteceu4 . perguntei com esperan'a sincera dele saber#

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    !uando voc hiperventila, seu cora'&o bate mais r%pido e voc tem a sensa'&o que falta ar, seusbra'os, pernas e rosto, principalmente a boca formigam, isso porque voc est% eliminando g%s carb*nicoem e"cesso durante a respira'&o por isso tem uma sensa'&o de que vai morrer###

    2lhei incr3dula com a resposta#

    N&o 3 isso que eu perguntei seu idiota/ stou naquela maca e estou aqui/ . apontei para uma sala ondeeles haviam levado meu corpo# ele sorriu erguendo os ombros#

    em, essa parte eu n&o sei e"plicar### . sua maneira despreocupada ao responder dei"ava evidente quese divertia cada ve) que me irritava#

    stou sonhando, definitivamente estou sonhando/

    9ntes que ele fi)esse mais alguma gracinha me afastei andando de um lado para o outro, falandoso)inha#

    Calma Dulce, autoscopia n&o e"iste, isso 3 coisa da cabe'a da Maite, aquela doidinha acredita nessascoisas, ningu3m pode sair do corpo### a alma n&o se separar do corpo f1sico### a n&o ser que voc morra/. olhei novamente para a sala onde estava meu corpo e me desesperei# eu quero acordar, precisoacordar, eu n&o posso estar morta/

    Depois de alguns gritos e total falta de controle da minha parte, meu amigo bombeiro foi at3 um de seuscolegas da corpora'&o, aquele bombeiro loiro, o mesmo que havia empurrado seu corpo na maca apouco, mal teve tempo de se apro"imar e um terceiro bombeiro entrou correndo se apro"imando deles#

    Christian, onde ele est%4 . perguntou o terceiro bombeiro aflito#

    st&o fa)endo avalia'&o### precisamos esperar 9lfonso# . o tal Christian respondeu angustiado#

    Droga/ !ue idiotice a dele### . era o bombeiro 9lfonso e parecia )angado resmungando pelo corredor#

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    Cala a boca 9lfonso### vai questionar uma decis&o dele4

    N&o estou questionando, ele levou um tiro no peito, isso 3 idiotice// o 9lfonso parecia inconformado#

    les ainda trocaram algumas palavras e aos poucos a discuss&o foi se dissipando at3 acabar e todosficaram quietos cada qual com suas apreens(es#

    Meu amigo bombeiro que como eu era uma alma perdida no momento, tentou chamar aten'&o de seusamigos, fiquei atenta observando#

    Christian/ Christian/ stou aqui Christian, pode me ouvir4 . meu amigo bombeiro come'ou a cham%losem que o tal Christian se desce conta, esticou a m&o encostando em seu bra'o, mas nada mudou, ent&oele me olhou e eu assustada por ver isso, me afastei um pouco mais e bati a cabe'a no e"tintor logoatr%s#

    le n&o te ouve/ le n&o te v/ 6oc colocou a m&o nele e ele n&o percebeu/ . eu ia falando e minhavo) cada ve) saia mais alta e descontrolada, meu amigo bombeiro deu alguns passos e foi at3 o outrobombeiro )angado#

    9lfonso/ ele chamou, mas o tal 9lfonso nem se deu conta, continuava a andar pelo corredor aflitoesperando not1cias# 9lfonso/ ele gritou e nada acontecia, nenhum deles ouvia, meu desesperoaumentou#

    9lma fora do corpo, proje'&o de conscincia, e"perincia quase morte e autoscopia, isso n&o e"iste, eun&o acredito/ . fui repetindo sem parar at3 me dar conta que s havia uma e"plica'&o# eu vou morrer/

    Deus, vou morrer/

    Um m3dico saiu da sala para dar informa'(es ao Christian e ao 9lfonso, tanto eu como meu amigobombeiro nos apro"imamos, para escutar as not1cias, estava certa que nesse momento ele anunciariaminha morte#

    ###eles ser&o levados imediatamente para sala de cirurgia, o caso dos dois 3 grave, perderam sangue e

    ela est% com hemorragia interna, n&o sabemos e"atamente o que vai acontecer, faremos todo o poss1velpara salv%los#

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    st%vamos todos ali, ao lado do m3dico que conclu1a sua e"plica'&o, o tal Christian, o outro bombeirochamado 9lfonso tamb3m, receber essa not1cia n&o havia sido f%cil e sem mesmo nos darmos conta,todos sentamos no banco em frente um ao lado do outro#

    ngra'ado compartilharmos o mesmo sentimento devastador sem que ao menos o Christian e o 9lfonsopudessem nos ver# 9inda aturdida com tudo senti quando algu3m tocou meu bra'o por isso olhei#

    6ai ficar tudo bem### . meu amigo bombeiro estava ali, tentando mais uma ve) me tranquili)ar#

    !uero muito acreditar em voc### . balbuciei#

    9s macas sa1ram das salas de emergncia entrando cada uma em um elevador, tentei pensar em algo,mas n&o sabia o que fa)er, antes que eu pudesse impedir, meu amigo bombeiro segurou minha m&o ecorreu me arrastando pelo corredor, n&o sei e"plicar como, mas segundos depois est%vamos dentro doelevador#

    No centro cir-rgico as macas foram colocadas em salas separadas, ainda sem acreditar voltei olhar e mevi ali deitada com muitos machucados e sangue por todo o corpo, sem agentar, sai correndo da sala indopara o corredor, procurando ar que me faltava novamente#

    u vou morrer/ u vou morrer/ u vou morrer/

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    6oc n&o est% entendendo4 solteime de seus bra'os e dei alguns passos para longe# autoscopia n&oe"iste, mas ainda assim minha alma est% aqui e meu corpo est% ali sendo operado, eu s posso estarmorrendo, ou ent&o 3 pior, eu j% estou morta/

    6oc n&o est% morta, ningu3m vai morrer hoje, entendeu4 ele disse s3rio me olhando nos olhos#

    N&o quero morrer/ . minha vo) saiu bai"a como numa s-plica#

    N&o vai/ Ningu3m vai morrer hoje/ Ns vamos viver, 6?6@/ ele gritou continuando a me olhardiretamente#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Costumo di)er a meus pais que os amo, mas preciso di)er mais ve)es/ ?nfinitas ve)es###

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Nunca pulei F ondas no mar quando 3 r3veillon/

    Nunca participei de um baile de carnaval/

    6iu s### n&o posso morrer, n&o me dei"a morrer/ pedi olhando para ele como se ele pudesseinterceder por mim#

    6ai ficar tudo bem, voc n&o vai morrer/ . foi sua resposta ao me abra'ar#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    6voc### vo###c 3 o cara mais bonito que j% falou comigo e eu vou morrer sem te conhecer# . fui di)endoenquanto apontava minha m&o de cima a bai"o nele, achando mesmo que esse -ltimo dado era a provafinal que eu realmente iria morrer hoje#

    @uivinha, assim me dei"a encabulado e convencido/ . ele respondeu com um sorriso idiota no rosto#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    rincadeira4 9cha que isso aqui 3 brincadeira4

    9h/ 5udo bem### o que eu quero di)er 3 que seu c3rebro vai assimilar seu pedido de morte e voc n&ovai responder a cirurgia como deveria e fatalmente vai morrer### fatalmente### de verdade, para sempre,entende4

    !uem voc 3 afinal4 . perguntei tentando entender o que ele di)ia# um padre4

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    6oc est% tentando achar uma e"plica'&o racional para o que est% acontecendo aqui4 pergunteiincr3dula#

    N&o ruivinha/

    Dulce/ gritei/ 3 t&o dif1cil assim, guardar meu nome4

    2k, Dulce/ Calma, fique calma, o que sei 3 que quando chego para socorrer algu3m, preciso que ela semantenha calma e fique tranqila para que eu possa fa)er meu trabalho, quando isso n&o acontecesse osocorro 3 mais demorado e o risco de fatalidade aumenta, n&o sei e"plicar o que est% acontecendo, maspense comigo, assustada como est% s vai dificultar as coisas, 3 insano eu sei, mas precisa pensar emviver/

    6iver4 repeti sem entender direito o que deveria fa)er#

    ?sso### pense pelo que gostaria de viver### >eche os olhos e mantenha seu pensamento em coisas boasque a faria desejar viver#

    Continuei com os olhos arregalados olhando para ele que sorria tranquilo#

    >eche os olhos### ou pelo menos me olhe de maneira menos assustadora# . ele riu so)inho da prpriapiada#

    +uspirei derrotada e fechei os olhos como ele disse, senti quando ele segurou meus bra'os e eu segureios dele, tentei me concentrar em algo que me fi)esse querer viver, mas n&o conseguir#

    N&o consigo me concentrar### . o desespero reapareceu, tentei me soltar de seus bra'os, mas ele mesegurou ainda mais firme#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    N&o/ Concentrese, voc consegue/ 2 que te fa) querer viver4 . pude ouvilo di)er e repetir issoalgumas ve)es# feche os olhos, respire devagar e me diga o que te fa) querer viver ruivinha###

    Dulce/ . retruquei sem abrir os olhos, mas tenho certe)a que ele sorriu ao me ouvir#

    N&o consigo, eu s tenho a sensa'&o que vou mor###

    N&o diga/ ele falou mais alto# n&o diga essa palavra, tente ficar calma, mas n&o diga isso, ok# lecontinuava tentando me acalmar#

    Comecei a choramingar porque sabia que ia morrer, mas eu n&o quis aceitar, no desespero o empurreicom toda for'a que consegui#

    2nde est%4 . fui me afastando, olhando em volta no corredor#

    2nde est% o qu4

    9 lu), deve haver alguma lu), alguma coisa para que a gente possa ir, n&o pode simplesmente acabarassim/ . continuei andando pelo corredor procurando uma lu) que me desse sinal que eu deveria seguir#

    N&o tem lu) aqui/ . ouvi sua vo) bem atr%s de mim#

    5m que haver, alguma lu) em algum lugar, 3 assim que acontece, voc n&o 3 religioso4 pergunteivirando para olh%lo, mas ele n&o respondeu, apenas sorriu achando engra'ado o que eu fa)ia#

    !ual o seu problema4 perguntei brava com aquele sorriso lindo idiota estampado no rosto dele# n&oentendeu a gravidade da situa'&o4 + eu estou ficando louca aqui4 6oc 3 um anjo e sabe o que vaiacontecer, por isso, est% t&o tranqilo###

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    !ual resposta quer primeiro4 . foi sua pergunta quando se encostou na parede, cru)ando os bra'osconfortavelmente depois sorriu para mim, me dei"ando possessa de raiva#

    +inceramente n&o posso acreditar/ 5anta gente para estar ao meu lado no momento da morte, Deus memanda esse idiota/ $ lindo, n&o posso reclamar, mas completamente idiota/ . fui falando altocompletamente irritada com ele, abai"ei a cabe'a e afundei os dedos no cabelo pensando no que fa)er#

    i, pense em vida/ 6ai ficar tudo bem### confie###

    Como pode ter tanta certe)a disso4 voltei a encar%lo#

    N&o sei, apenas acredito que tudo ficar% bem, o que mais podemos fa)er4 ran)i a testa olhando cada detalhe dele ali encostado na parede de bra'os cru)ados me olhando comaquele sorriso de matar e para piorar a camisa vermelha com emblema dos bombeiros, aquela plaquinhade identifica'&o pairando em seu peito e todo o resto fa)iam minha cabe'a ter uma -nica certe)a, eu iamorrer/

    ###voc 3 bonito### despreocupado### seguro### engra'ado### protetor### tem um corpo escultural### seutrabalho 3 herico### . olhei s3ria para ele# . voc 3 solteiro4

    +im# . ele respondeu me olhando desconfiado, provavelmente achando que fiquei louca#

    $ gaG4

    N&o/ . ele respondeu de imediato e fran)iu a testa parecendo realmente curioso com meu surtorepentino#

    6iu s/ ?sso prova que eu vou morrer, essas qualidades n&o s&o encontradas num mesmo homem, n&ose ele estiver vivo// . respondi boba olhando para ele que gargalhou de verdade do meu coment%riosincero#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    9 lu) da vida est% presente nas pequenas coisas, como o bocejar de um beb, o choro de um rec3mnascido, ou o amor de m&e ao amamentar seu filho, foi nesse lugar que minha maneira de ver o mundocome'ou a mudar#

    Cansou de rir de mim4 . perguntei ofendida com os bra'os cru)ados, mas ele me ignorou#

    6enha, vou te levar a um lugar### . olhei sua m&o esticada, esperando que eu a pegasse#

    N&o posso sair daqui, estou ali dentro mor###

    0utando para viver/ ele disse antes que eu pudesse finali)ar#

    +oltei o ar e olhei na dire'&o da sala onde eu estava sendo operada#

    6oc est% lutando para viver, diga isso, consegue4 . perguntou meu amigo bombeiro com os olhosvidrados nos meus# Diga/ 6amos, voc consegue###

    +uspirei#

    stou ali dentro lutando para viver/

    Htimo, acho que agora podemos dar uma volta#

    le deu alguns passos, mas quando percebeu que eu n&o me me"i ele parou e olhou para tr%s#

    6amos4

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Melhor ficar, vai que acontece algo inesperado### . dei um risinho sem gra'a, dei"ando claro que aindaacreditava que ia morrer#

    Dei"a disso### vem, vamos dar um volta, garanto que se acontecer algo ficaremos sabendo###

    ?ncr1vel como ele podia rir daquela situa'&o, eu apenas balancei a cabe'a n&o acreditando no que ouvia#

    6em### . ele insistiu voltando a andar e eu sem saber por que o segui, de alguma maneira eu sabia apartir de agora queria estar em qualquer lugar que ele estivesse, porque s ent&o tudo ficaria bem#

    2nde vamos4 perguntei assim que sa1mos daquele corredor#

    6amos dar uma olhada em um lugar cheio de vida/ . ele parecia animado, como se tudo aquilo n&oe"istisse de verdade#

    Ns continuamos a andar pelos corredores do hospital, conforme pass%vamos eu via as pessoas, masficou claro que elas n&o me en"ergavam, por isso me desviei de todas, fiquei com medo de ser atropeladaou pior atravessada, n&o queria ter uma recorda'&o como est%#

    6amos de escada###

    le foi na dire'&o de uma placa indicava sa1da de emergncia e quando chegamos perto, ele abriu aporta, o que me fe) sorrir, acho que almas perdidas n&o precisam atravessar paredes afinal, podemapenas abrir a porta, isso me fe) rela"ar um pouco#

    Ns descemos dois lances de escada e entramos em num outro corredor o ambiente ali era de pa), comose muita alegria pairasse no ar#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Como sabia que era nesse andar ficava o ber'%rio4

    +ou bombeiro, lembra4 I% trou"e alguns bebs para c%###

    5alve) esse fosse o mesmo ber'%rio que ele havia estado antes, mas eu tinha certe)a que ele nunca otinha visto dessa maneira# Dentro do ber'%rio havia AJ bebs, cada um deitado em um pequeno ber'o deacr1lico, a maioria deles usava macac(es maiores que seu corpo fa)endo com que suas pequeninasm&o)inhas ficassem escondidas enquanto eles se me"iam sem parar#

    2 ambiente era bem iluminado, mas a lu) que irradiava dos pequeninos ber'os, n&o era uma lu) artificial,era uma lu) divina, era a lu) da vida/ ra linda###

    + de ficar ali em p3 vendo aqueles bebs pude sentir a pa) e tranqilidade, tudo parecia mais leve emelhor, as coisas em volta tinham mais cores e as pessoas sorriam naturalmente com o cora'&o puro,enquanto admiravam os bebs#

    $ lindo/ . virei para encar%lo#

    ?sso 3 vida, minha cara/

    >icamos ali olhando aquelas criaturinhas divinas a nossa frente por um bom tempo, at3 que uma dasm&es entrou no ber'%rio, suas roupas e seu jeito dolorido ao andar dei"a claro que ela fora buscar seubeb#

    9 enfermeira lhe mostrou uma poltrona e se dirigiu ao lado do pequenino beb que estava na incubadora,seu tamanho dei"ava claro sua fragilidade quando ela o entregou a feli) m&e)inha pude entender o queela faria# ?ria amament%lo, isso me sensibili)ou e eu encostei a cabe'a no vidro sorrindo maravilhadacom a cena#

    9 m&e carinhosa se sentou em uma poltrona e ali eu a vi amamentar seu pequenino enquanto cantavauma can'&o de ninar, parece que todos os outros sons nesse momento se calaram e eu podia apenasouvila cantar para seu pequenino, fiquei ali sorrindo, achando aquela cena a melhor coisa que tinha visto

    na vida#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Desculpe, meu nome 3 Christopher### tenente Uckermann saiu por h%bito#

    K% quanto tempo 3 bombeiro Christopher4

    +ete anos#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    Eeralmente os bombeiros s&o chamados quando a situa'&o e"trapola ao comum, somos como umservi'o especiali)ado# . eu dei risada dessa coloca'&o# entramos em lugares sem nem saber direitoonde est&o as portas e janelas, precisamos estar preparados f1sica e psicologicamente porqueenfrentamos situa'(es mais adversas, definitivamente salvamos muitas vidas diariamente, mas nemsempre chegamos a tempo e s ve)es eu tenho algu3m morrendo em meus bra'os# . ele disse meolhando como se eu mesma tivesse morrido nos bra'os dele#

    0amento###

    ?sso n&o 3 nada agrad%vel pode ter certe)a### . ele parecia t&o triste e respirou fundo para podercontinuar# mas a voca'&o para o trabalho 3 fundamental, alegria e comprometimento fa) todo diferencial,n&o e"iste natal ou feriado, na verdade nessas 3pocas trabalhamos mais, e a gloria por me arriscar porpessoas que n&o conhe'o est% no reconhecimento da popula'&o### 3 bom ser heri/ . seu sorrisodenunciava que ele disse isso para dei"ar a conversa mais leve e eu sorri por ele ter sido sens1vel#

    Christopher, eu n&o sei o que vai acontecer, mas gostaria que soubesse que estou mesmo agradecidapor ter salvo minha vida/ . ele fe) carinho no meu rosto de maneira t&o gostosa que eu desejei quecontinuasse#

    Dei"a para agradecer depois, quando sairmos daqui ok, vamos jantar em seu restaurante preferido,pode pedir o prato mais caro, eu pago/ ele respondeu rindo do que eu havia falado e eu tamb3m sorri

    pensando que as coisas n&o podiam acabar assim#

    Mas se n&o sairmos### eu comecei a falar, mas ele brecou imediatamente#

    6amos sair/ . havia tanta certe)a nisso que eu me convenci#

    2k, vamos sair/

    @espondi ainda achando engra'ado estar presa entre a vida e a morte ao lado de um bombeiro lindodigno de um calend%rio, bem que eu queria ter a oportunidade de contar isso pra Maite, ela ia achar om%"imo/

    >oi at3 legal acordar num banco de hospital e te ver dormindo ao meu lado###

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    u estava dormindo4

    !uando a vi, realmente quis que estivesse dormindo, fiquei preocupado quando escorregou da pranchae caiu em cima de mim, v1timas de bala devem ser movidas com o maior cuidado poss1vel### . ele meolhou e parecia sincero# . pedi a Deus que estivesse apenas dormindo###

    9cho que ele te ouviu### . respondi sem gra'a e voltei a olhar os bebs, sabendo que estava segura comele ali ao meu lado, bem pertinho quase esbarrando em mim#

    9 enfermeira foi preparando algumas toalhas e pegando um dos bebs no bercinho, pelo que eu estavaentendendo ela iria lhe dar banho me senti privilegiada por poder assistir, assim de camarote#

    No momento que ela come'ou a tirar a roupa do pequenino ele chorou com toda for'a dos pulm(es emesmo de longe eu a ouvia di)er palavras doces tentando fa)er com que ele se acalmasse, rapidamenteela lhe deu um banho e o trocou o devolvendo em seguida em seu pequeno bercinho#

    >e) isso com cada beb e com carinho a cada novo choro ela di)ia que eles se acalmassem que logoeles estariam limpos e feli)es esperando a visita dos parentes, isso me dei"ou maravilhada e eu

    suspirava e ria feli) vendo tanta lu) da vida reunida em um mesmo lugar#

    Christopher esbarrou em mim, como se ele tivesse virado ou algo assim, por isso me virei tamb3m parasaber o que acontecia, ele olhava para o final do corredor por onde hav1amos chegado#

    2 que foi4

    5em alguma coisa errada### . mal terminou de falar e saiu andando pelo caminho que hav1amoschegado, sem saber o que fa)er o segui assustada#

    9briu a porta e subiu correndo a escadaria e eu tentei seguilo, mas fiquei para tr%s, definitivamente estoufora de forma#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    !uando cheguei ao centro cir-rgico ele j% estava dentro da sala onde seu corpo era operado, entreidevagar como se tivesse me esquecido que ningu3m ali conseguiria me ver, quietinha fui at3 onde eleestava, procurando entender o que se passava ali#

    ra uma cena imposs1vel de acreditar, o corpo do Christopher deitado na mesa de opera'&o em cirurgia eao meu lado sua alma estava perfeita, intacta sem qualquer ferimento ou arranh&o#

    le estabili)ou/ . disse um m3dico que acompanhava um dos monitores#

    Htimo### nos vamos conseguir### outro m3dico foi falando, fa)endo todos sorrirem de seu otimismo#

    Htima noite para salvar vidas/

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

    33/354

    5ivemos uma surpresa, havia um objeto cravado na testa dela, precisamos remover, mas a cirurgia foium sucesso, ficar% em coma indu)ido por alguns dias### coitada t&o jovem e trs tiros### 3 lament%vel aviolncia dessa cidade###

    a medula, est% ilesa4 . perguntou um outro m3dico, enquanto a cirurgia do 0uidi continuava#

    >oi bem perto, aparentemente n&o atingiu, n&o locali)ei estilha'os, acho que vai ficar tudo bem, vamosaguardar### 6amos ver a rea'&o dela ao acordar/

    >ran)i a teste tentando processar aquela informa'&o, quis me apro"imar, mas senti quando o Christophersegurou meu bra'o impedindo que eu sa1sse de perto dele#

    6em ruivinha, vamos sair agora/

    N&o espera, eu quero saber/ . tentei ficar e com raiva at3 dei alguns tapas no bra'o dele, mas foi in-til,fui arrastada para fora da sala#

    +olta droga/

    N&o vai entrar l%/ . foi sua resposta sem me dei"ar passar#

    les est&o falando de mim, eu quero saber/

    N&o deve ouvir, tudo vai ficar gravado em sua memria#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    i, n&o acha que eles v&o me di)er mais tarde no quarto, que diferen'a fa) agora ou depoisChristopher4

    scuta/ . ele disse preocupado# quando falarem com voc no quarto o m3dico vai usar as palavrascertas para te e"plicar o que est% acontecendo, porque no momento ele est% conversandodespreocupado com colegas sobre uma paciente qualquer, pode di)er o que quiser sem qualquer tato,eles est&o trocando opini(es, entende4

    N&o entendo nada/ gritei#

    Dei"a de ser teimosa, n&o vai entrar### santo Deus, o m3dico acabou de te operar, est% falando com umcolega de profiss&o### ent&o 3 melhor n&o ouvir, assim n&o corre o risco de tirar conclus(es precipitadas eter maiores complica'(es quando acordar de verdade#

    ssa 3 mais uma de suas teorias4 perguntei colocando a m&o na cintura# Como esse cara pode tertantos argumentos4

    +im, 3 mais uma de minhas teorias, por isso fique aqui/

    +uspirei, definitivamente ele n&o me dei"aria passar#

    N&o vou poder mais andar, 3 isso4 >oi isso que ele quis di)er4

    0uidi me olhou por alguns segundos que pareceram eternos, depois tentou sorrir, mas pigarreou, tentandoencontrar uma resposta convincente#

    N&o ouvi o que ele disse, n&o estava prestando aten'&o### . ele respondeu olhando para os lados e osorriso sumiu de seus l%bios, ent&o eu soube que ele mentia, provavelmente era isso mesmo, eu n&o iamais andar#

    ###o m3dico disse que a bala chegou muito perto da medula, aparentemente n&o atingiu### algo sobreestilha'os, eu n&o vou mais andar4 $ isso Christopher4

    N&o sei### eu### nn&o sei###

    Meu Deus, n&o posso acreditar, n&o, n&o, n&o/ . comecei a entrar em p8nico e sai andando pelocorredor#

    6iu o que eu disse/ . parei confusa ouvindo a vo) )angada do 0uidi ao meu lado# . ruivinha, n&o podepensar assim, vai comprometer sua reabilita'&o/

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

    35/354

    . gritei v%rias ve)es seguidas#

    echei os olhos com medo do que aconteceria, escutando ele falar que eu deveria ficar calma sem queeu conseguisse me acalmar, ele me abra'ou e ficamos ali parados por alguns minutos, enquanto eu oouvi incansavelmente di)endo que tudo ia ficar bem#

    9fasteime um pouco quando ouvi uma das portas abrirem, assim que ergui a cabe'a percebi que aluminosidade do corredor havia diminuido# >oi assustador# nquanto todo o ambiente ia ficando maisescuro um vento gelado passou por mim, olhei em volta procurando por algo sem nada en"ergar, vireiatenta para a porta aberta esperando o que sairia dali, nada se me"ia e o silncio era mortal#

    9ntes que eu pudesse perguntar o que acontecia afinal, vi algo parecido com sombras que sa1amcorrendo de dentro da sala, me encolhi assustada as vendo passar por todos os lados, nas paredes e noch&o, como se tivessem sido e"pulsas ou algo assim#

    st% sentindo###consegue ver4 . perguntei com olhos arregalados#

    ?nfeli)mente sim###

    9perteime mais em seus bra'os com medo que alguma daquelas coisas horr1veis tentassem me pegar#

    Calma ruivinha### talve) eles n&o percebam que estamos aqui### . quis rir, na verdade gargalhar, quandoa morte passaria assim, por duas almas perdidas sem ao menos not%las4

    est% pperto de mmim### . falei gaguejando sem ter certe)a que o som foi alto suficiente para que eleouvisse#

    Um arrepio que come'ou lentamente e um ar gelado que se instalava de mancinho era tudo que eu sentiaa princ1pio, mas depois um bafo gelado se apro"imava de mansinho at3 estar bem perto da minha nuca#

    M2@5/ . pensei sem conseguir abrir a boca#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

    36/354

    9 morte estava ali, sussurrando em meu ouvido que h% tempos me rondava, mas que dessa ve) ela iriame levar#

    ngoli seco como nunca fi) na vida, completamente temerosa por sentir com tanta e"atid&o que algo ruimnos circulava ora ao meu lado ora ao lado do Christopher, pude ouvir perfeitamente trs palavras quefi)eram meu cora'&o bater descompassado e minha respira'&o acelerar, se 3 que isso 3 poss1vel, sendoagora eu, apenas uma alma perdida#

    >a'a o acordoO eram as palavras vinda por aquela coisa ruim que baforava no meu pesco'o com argelado, como as madrugadas de inverno#

    spremi os olhos e encostei cabe'a no peito do 0uidi, n&o quis escutar o que mais aqueles sussurrossopravam sem parar em meu ouvido, somente pensava que n&o queria morrer que ainda n&o fi) tudo quedesejo fa)er#

    9os poucos o frio do ambiente foi desaparecendo e tudo foi voltando ao normal, inclusive a luminosidadedo corredor, agora o som do gerador era f%cil de ouvir, um pouco mais atenta e percebi barulhos ao longede carros e bu)inas provavelmente de uma avenida pr"ima, respirei aliviada por tudo estar normalnovamente#

    N&o sei se passou segundos, minutos ou horas, apenas sei que passou, aquilo ruim que esteve ali havianos dei"ado em pa)#

    Cristopher sorriu para mim, mas agora n&o era um sorriso descontra1do que apesar de t&o pouco tempoeu j% havia me acostumado, era um sorriso nervoso cheio de preocupa'&o, talve) at3 medo daquilo queficou a nos cercar#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    +ua alma est% aqui e seu corpo est% na maca###

    stou em coma/ . quis ser realista e aceitar que vou morrer#

    st% em coma, mas est% viva/

    6iva4 . quis ser ir*nica# como posso estar viva, sendo eu agora uma alma perdida sentada num

    corredor de hospital###

    N&o se viu na maca4 st% respirando e parece tranqila mesmo estando em coma###

    !uis gritar/ Como algu3m pode ser t&o passivo a tantas loucuras, talve) a -nica e"plica'&o seja essa,Christopher 3 um anjo que est% aqui para me proteger, t&o r%pido como esse pensamento se formou elese desfe)# Como seria um anjo se est% vestido de bombeiro4 Definitivamente isso s aconteceria emminhas fantasias, isso se eu me permitisse ter alguma#

    5alve) eu n&o volte a andar/

    5alve) a medula esteja intacta e voc ande normalmente ruivinha###

    5alve) eu n&o saia do coma/

    5alve) voc saia do coma e iremos jantar em seu restaurante preferido, pediremos o prato mais caro,conversaremos e falaremos sobre bobagens### apenas voc e eu###

    5alve) quando acordarmos n&o lembraremos de nada#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

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    5alve) a gente acorde e descubra que vivemos a maior aventura de nossas vidas### e fi)emos issojuntos/

    5alve) essa aventura nunca acabe# . um medo percorreu minha alma, eu n&o queria ficar presa ali#

    5alve) ela dure o tempo suficiente para nos conhecermos###

    5alve) voc me conhe'a e n&o goste de mim#

    5alve) eu tenha gostado de voc antes mesmo de te conhecer, enquanto ainda lutava para salvar suavida###

    2uvir essas palavras doces me fe) olhar diretamente para ele#

    5alve) Christopher###

    $ talve)### ruivinha###

    Continuamos assim apenas nos olhando#

    9final o que est% acontecendo, o que foi aquilo4 . perguntei num sussurro#

    9cho que estamos presos entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos e aquilo que vimos esentimos a pouco eram almas desgarradas que a morte, se n&o um dem*nio arrasta por onde passa###

    9rregalei os olhos apavorada#

  • 7/25/2019 Almas (Vondy)

    39/354

    ?sso deveria me tranquili)ar4

    Desculpe### n&o quis assust%la, nem quero agora, mas aquela coisa disse no meu ouvido que um denos precisa ir###. seus olhos assustados n&o desviavam dos meus# ###n&o quero que voc v% ruivinha,n&o dessa ve)###

    Como pode ser4

    u n&o sei, 3 a primeira ve) que isso me acontece### ele respondeu e deu risada, como se tivesserecuperado o bom humor, parecia que nada daquilo era de verdade e ns ficamos em silncio, talve) rirseja a maneira dele n&o sentir medo, porque eu estava apavorada#

    9lgum tempo passou at3 que ele levantou bruscamente, passou a m&o no rosto e balan'ou um pouco acabe'a como se quisesse se orientar#

    2 que foi agora4 quis saber, achando que meu cora'&o n&o agentaria tantos golpes, quer di)er, issose meu cora'&o estivesse aqui junto a minha alma#

    Deve ter alguma coisa est% errada/ stou ficando cansado# . quase n&o entendi suas palavras quando ovi ir apressado para sala de cirurgia onde seu corpo estava sendo operado e quando entramos toda aequipe parecia agitada#

    Christopher, porque eles parecem preocupados4

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    2 ambiente ficou pesado e novamente a luminosidade oscilou, mas diferente da primeira ve) nenhumasombra se me"eu, apenas uma sensa'&o ruim tomou conta de mim como se alguma parte de mimestivesse a ponto de sumir#

    Doutor### algu3m come'ou a di)er a um dos m3dicos#

    + mais alguns minutos, estou bem perto agora# . foi a resposta do m3dico parecendo irritado com todoaquele descontrole da equipe#

    Completamente arrepiada senti o ar ficar mais gelado, imediatamente estiquei o bra'o de lado paraalcan'ar o Christopher que imaginei estar ali, quando n&o encontrei nada olhei assustada e o vi seescorando na parede muito atr%s de mim#

    Ns o estamos perdendo/ algu3m gritou quando um dos monitores apitou, uma das enfermeiras pegouo desfibrilador#

    5udo era confuso e todos agiam ao mesmo tempo, o anestesista consultou a tela di)endo que o ritmocard1aco estava cr1tico, enquanto outro m3dico pegava os ressuscitadores das m&os da enfermeira e os

    esfregou um contra o outro antes de coloc%los sobre o tora" do Christopher#

    +ob o impulso da descarga, o corpo de Christopher curvouse antes de tornar a cair pesadamente sobre amesa de opera'&o# 9 linha da tela onde os m3dicos olhavam permanecia inalter%vel#

    6amos, volte/ 6oc consegue/ algu3m gritou como se soubesse que o 0uidi poderia escutar#

    >icou claro nesse instante que ele estava morrendo#

    Corri at3 ele, ou melhor corri at3 sua alma, que curvado respirava com dificuldade apoiado na parede#Deus, como 3 poss1vel4 +ua alma t&o forte e saud%vel aqui ao meu lado, mas seu corpo est% ali deitadocompletamente sem vida### n&o o dei"e morrer/

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    Christopher, o que pensa que est% fa)endo4 . fiquei esperando uma resposta, mas ele apenas devolveuo olhar, como se n&o entendesse minha pergunta# Droga/

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    2lha para mim/ . posteime na frente dele segurando seu rosto# ###isso mesmo, olhe para mim, agorapense### pense em sua fam1lia/

    !uis ajudar, quis fa)lo lembrar de algo que o fi)esse viver, envolvi seus bra'os ao meu redor, dei"andoo espa'o suficiente para que seus olhos e sua aten'&o ficassem apenas em mim#

    >am1lia4 Minha m&e morreu e n&o falo com meu pai h% quase um ano### eles eram a minha fam1lia###

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    stou olhando para voc# ele respondeu sorrindo# morrerei feli) por estar olhando para coisa maislinda desse mundo#

    6iver, viver, viver, pense em viver/ gritei#

    2utra ampola de cinco miligramas de adrenalina e uma unidade de lidoca1na, agora mesmo/ umm3dico gritou#

    N&o sei o que me fa) viver### estou cansado e preciso descansar#

    !uando o vi seu olhar se perder vendo seu corpo sem vida na mesa de opera'&o, senti como se elerealmente estivesse indo embora e tudo que vinha na minha cabe'a era que ele n&o podia morrer#

    Continue olhando para mim, s para mim### mantenha seus olhos em mim### eu pedi querendo decora'&o que ele vivesse, supliquei a Deus que os m3dicos conseguissem fa)er sua parte, enquanto eu oconvencia a voltar pra mim#

    stou confuso e cansado muito cansado### . sua respira'&o ficava mais dif1cil a cada minuto e mesmon&o querendo eu o vi fechar os olhos tentando continuar em p3#

    2lha para mim/ gritei, erguendo seu rosto fa)endo com que ele abrisse os olhos#

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    9fasteime um pouco sem soltar suas m&os e virei uns instantes para olhar seu corpo deitado a mesa deopera'&o esperando que ele voltasse a vida#

    6oc n&o est% reagindo### . falei devagar voltando a olhar para ele# vamos reaja/ . gritei percebendoque nada acontecia, ele me olhou como se n&o tivesse resposta para aquilo e eu me apavorei#

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    asta/ Dei"e que ele se v%### um dos m3dicos falou e todos pareciam ter dado por encerrando astentativas de reanim%lo#

    NP2/ . gritei procurando pela sala o m3dico que n&o me ouvia#

    9cho que agora 3 o fim, me dei"a ir ruivinha###

    Meu nome 3 Dulce, seu idiota/ Como pode querer ir4 ?r para onde4 ?sso aqui 3 morrer/ Morrer, morrer,morrer/ . gritei enfurecida com o cora'&o angustiado# le me olhou triste como se eu fosse uma crian'a#

    nt&o acho que 3 minha hora de morrer###

    le me pu"ou para um abra'o apertado, daqueles que se prolongam e enche o ambiente de carinho,quando me soltou eu n&o quis que ele me visse chorar, coloquei minha m&o trmula na testadesesperada e com muito medo#

    @espirei algumas ve)es antes de decidir se aceitaria que ele fosse ou se o queria aqui ao meu lado, pela-ltima ve) quis olhar para ele, guardar na memria seu bom humor que tanto me irritou nas -ltimas horas,mas assim que ergui os olhos estava l%, eu nem sei como, talve) por pretens&o ou at3 por desespero,mas era evidente### eu simplesmente soube como fa)lo viver###

    >iquei na ponta do p3 e como -ltima s-plica eu pedi#

    >ica comigo/

    Um beijo atrapalhado aconteceu, envolvi meus bra'os nele de maneira confusa enquanto o beijava, fiqueitensa quando ele n&o devolveu o beijo e ainda na ponta do p3, encostei minha boca em seu ouvido ecomo num sussurro voltei a pedir#

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    >oi como o despertar, ele me enla'ou em seus bra'os me beijando tamb3m, segundos se passaram, massinceramente naquele momento eles pareceram eternos para mim#

    2 som cont1nuo do monitor interrompeuse bruscamente e foi substitu1do por uma s3rie de ru1dos breves,fa)endo com que os m3dicos que saiam da sala parassem para prestar aten'&o, eu ainda o beijavasuplicando em meus pensamentos para que ele ficasse, o som do monitor come'ou a oscilar e por fimadotou um aspecto quase normal, como um eco para as batidas de seu cora'&o, aos poucos ele mesoltou e sorriu me fa)endo sorrir tamb3m#

    Doutores, como disse### essa 3 uma tima noite para salvar vidas/ 6amos continuar o garot&o querviver###

    Ns ouvimos um dos m3dicos di)er enquanto via aquele sorriso lindo ali na minha frente#

    2brigado ruivinha### . o escutei di)er em meu ouvido e pude ent&o fechar os olhos aliviada e rela"ar emseus bra'os, sentindo uma sensa'&o maravilhosa de seguran'a e pa)#

    Dulce### meu nome 3 Dulce###

    2 som de nossas risadas preencheu o ambiente#

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    5ente garota, voc consegue, vamos tente### . era a vo) do m3dico, mas sua boca n&o se me"ia#

    Com medo do que estava acontecendo, fechei os olhos, mas os pensamentos deles continuavam

    entrando na minha cabe'a e com esses outros tamb3m come'aram a aparecer, primeiro quando algu3mpassou no corredor e outros mais que eu nem sabia de onde vinham#

    5odos os pensamentos come'aram a se misturar at3 que tudo virou uma grande cacofonia, apertei osolhos e tampei os ouvidos com as m&os querendo fa)er aquelas vo)es sumirem#

    >icou dif1cil conseguir respirar, por mais que eu tentasse o o"ignio n&o era suficiente para encher meuspulm(es, senti frio### muito frio como se eu entrasse numa c8mara frigor1fica, fui sentindo meu sanguegelar lembrando daquilo que me visitara antes l% em cima no corredor do centro cir-rgico#

    5alve) fosse a morte de novo ou um dem*nio como disse o Christopher, tentei me orientar, mas aclaridade n&o era total, como se o dia estivesse aos poucos se tornando noite, me encolhi quando assombras correram pelas paredes do quarto como animais em disparada, ru1dos e gritos chegaram aminha cabe'a e toda minha vis&o foi ficando turva#

    Chorei quando senti o bafo gelado bem perto do meu ouvido, como se sentisse pra)er em meamedrontar, sussurros confusos tentavam formar palavras### aquilo era diferente dos filmes, era real sejal% o que fosse, realmente estava l% ao meu lado se divertindo ao me aterrori)ar#

    spremi os olhos percebendo que meu corpo era jogado de um lado para o outro, talve) o m3dico e aenfermeira tentando me socorrer, talve) eu estivesse tendo uma convuls&o ou pior aquela coisa estivesseusando meu corpo como marionete#

    9 -nica coisa que eu queria era estar segura novamente, pensei no Christopher de alguma maneira eusabia que ao lado dele eu ficaria bem### os sussurros intensificaram como se me obrigando a ouvir,palavras confusas e descone"as eram ouvidas cada ve) que eu sentia o bafo gelado perto do meuouvido, mas antes que toda tormenta acabasse um -nico som ficou aud1vel, como se pronunciado porum animal, talve) um animal bestial### trs palavras que me fi)eram petrificar#

    >a'a o acordo### . pude ouvir como se o vento frio entrasse por meu ouvido indo direto a minha cabe'a#

    nt&o tudo escureceu como num pesadelo sombrio#

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    9pareceu ruivinha4 uma vo) conhecida perguntou me fa)endo abrir os olhos, olhei em volta e euestava sentada em uma maca em algum corredor ainda dentro do hospital, ao meu lado estava oChristopher, e ele sorria me olhando#

    Dulce/ eu disse agitada olhando para ele confusa que sorriu ainda mais#

    9pareceu Dulce/

    Como voltei para c%4 perguntei olhando em volta vendo que novamente estava com as roupas queestive no bar, elas estavam intactas e eu sem qualquer arranh&o, como se nada daquilo estivesserealmente acontecendo#

    Contive minha respira'&o, sem lembrar direito porque eu me sentia t&o perturbada, num gesto quaseautom%tico passei a m&o no cabelo, sorri, eu podia me me"er completamente, balancei minhas pernassentada na maca e minha fala saia perfeitamente, era se a cada minuto tudo indicasse que eu estavabem novamente#

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    $ essa resposta que quer primeiro4

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    Dessa ve) eu posso te fa)er feli)### . ele fran)iu a testa rindo de minhas palavras esquisitas# . !uerdi)er### se vai te fa)er feli)### posso afirmar que em outras circunst8ncias teria ficado contente em te ver###

    9ntes que dissesse mais alguma besteira, pulei da maca e fui para perto da janela onde o dia estavalindo l% fora#

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    2 que quer que eu diga, estamos presos mesmo, olha em volta, v alguma lu)4 ele disse )ombandopor eu ter dito isso antes#

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    6oc est% certa, estamos kits, vou precisar arrumar outra desculpa### para sair com voc/

    Dei risada de verdade vendo seu jeito despreocupado ao falar e tudo ficou escuro novamente#

    9bri os olhos mais tarde e ouvi novamente o som de um bip que seguia uma seqncia quase r1tmica,estava de volta ao quarto no mundo dos vivos, pensei sorrindo de leve, lembrando do Christopher quesempre di)ia isso#

    5udo parecia igual, a -nica coisa diferente ali era que pela janela n&o entrava mais claridade e havia umalu) acesa dentro do quarto, provavelmente j% era noite#

    2uvi um ronco e olhei para o lado, vi meu pai largado no sof%, quis me sentar, mas minhas pernas n&ome"eram, abri a boca para cham%lo, mas o som n&o saiu, fechei os olhos, talve) fosse melhor se eupudesse voltar e ficar no mesmo lugar onde o Christopher estava, ao menos l% eu podia falar e andar,suspirei desanimada esperando o dia clarear#

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    ilha, voc vai ficar boa, voc 3 uma lutadora, vai conseguir/ ele pensava e eu podia ouvir nitidamente,sua energia t&o positiva que me deu for'a e encheu meu cora'&o de alegria#

    2s dois ficaram ali ao meu lado, minha m&e apertava tanto a minha m&o que ela chegou a formigar, deipequenos pu"(es tentando fa)la entender que precisava solt%la, mas ela permanecia firme ali, tadinha,

    talve) estivesse com medo que eu entrasse em coma novamente#

    +eu namorado esteve aqui# meu pai disse#

    !uando olhei para ele eu soube que era mentira, em sua mente ele procurava alguma desculpa para n&oter que di)er que o

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    !uer escrever4

    nquanto meu pai saiu para pedir papel e caneta a uma das enfermeiras, minha m&e ficou ao meu lado,com gestos ela nervosos sem saber o que fa)er, tentava arrumar meu cabelo e limpar meu rosto,enquanto ajeitava sem parar o len'ol em volta da cama, quando passou pelo meu p3 colocou as m&osneles, mas eu n&o senti, ela me olhou e sorriu, enquanto pensou#

    2s p3s dela est&o frios, meu Deus, ser% que ela vai voltar a andar4 9penas virei a cabe'a para o outrolado, fechei os olhos para que ela n&o percebesse que eu havia visto o que ela fe)#

    Meu pai voltou com alguns pap3is na m&o e me entregou numa prancheta, deveria ter conseguido comuma das enfermeiras, fi) movimentos com as m&os para que meu pai entendesse que deveria erguermais a cama#

    rguer a cama4 N&o pode sentar ainda Dulce, o m3dico disse n&o deve se me"er at3 os pr"imose"ames###

    2 que aconteceu4 escrevi, mostrando ao meu pai#

    6oc ligou para o

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    6oltamos a rir, mas ele foi olhando meu estado ali na cama deitada e aos poucos foi parando de rir#

    2 que foi4 . quis perguntar, mas n&o sabia como fa)er, ent&o fi) um leve movimento com a cabe'a paraque ele se apro"imasse#

    le pareceu pensar vendo minha m&e de um lado e meu pai do outro, mas resolveu arriscar, quando elepassou por tr%s da minha m&e, ela se encolheu esfregando os bra'os#

    st% esfriando, melhor pegar um cobertor para voc### ela falou simplesmente dando por encerrada adiscuss&o com meu pai, depois saiu do quarto a procura de uma enfermeira que pudesse lhe dar umcobertor#

    Nunca imaginei que as pessoas pudessem realmente sentir a presen'a de esp1ritos# 2lhei para ele e mesenti como um im&, tudo nele me atraia, seu corpo, seu cheiro, seus gestos, suas gracinhas, tudo naquelaalma perdida me dei"a fascinada#

    !uando ele olhou diretamente para mim meu cora'&o disparou assustado, talve) ele tivesse vindo di)eradeus, algumas l%grimas emba'aram meus olhos e ca1ram sem permiss&o#

    Calma, vai ficar tudo bem### . ele respondeu apressado vendo que eu chorava, tentou passar a m&o nomeu rosto para secar as l%grimas, mas apenas senti algo frio, acariciando minha face#

    u n&o posso tocar em voc### . era como se ele n&o pudesse acreditar nisso, tentei colocar a minham&o sobre a dele, mas tamb3m n&o consegui segur%la, era como encostar no m%rmore gelado e minhapele completamente arrepiada#

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    Meu pai ficou observando o que eu fa)ia e come'ou a pensar que eu estava agindo de maneira estranhae que talve) fosse melhor chamar o m3dico#

    9cho que ainda n&o chegou a hora de di)er adeus# . foi a resposta do Christopher encostando sua m&ofria na minha lamentando por n&o poder segur%la#

    Dulce, eu estou desse lado, voc n&o est% me en"ergando4 meu pai perguntou tocando minha m&o,onde a m&o do Christopher estava tamb3m, imediatamente meu pai a soltou como se tivesse seguradouma pedra de gelo de maneira inesperada#

    +ua m&o est% fria Dulce, ainda bem que sua m&e foi buscar um cobertor###

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    spelho# mostrei a meu pai, ele olhou em volta a procura de algo, depois entrou no banheiro, mas saiurapidamente#

    Dulce, o espelho daqui 3 fi"o, vou ver se sua m&e tem algum###

    nquanto dei"ava o quarto seus pensamentos di)iam que ele estava aliviado por ter um motivo para sair,j% que eu estava agindo estranho, talve) vendo um fantasma ou uma alma penada#

    +orri, pensando que ele acertara, eu estava vendo uma alma, mas n&o uma alma penada/

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    9penas quis que ele ficasse, ent&o bati as m&os na cama tentando fa)er algum barulho que chamassesua aten'&o, ele parou sem olhar, meu pai e minha m&e estavam atentos aos meus movimentos, seuspensamentos indicavam isso#

    Nesse momento eu n&o me importava com o que eles estivessem pensando apenas queria o Christopherum pouco mais ali, por isso, voltei a bater na cama fa)endo barulho enquanto ele permanecia parado,decidindo se ia ou se voltava#

    ati mais uma ve) e dessa ve) nem foi com for'a, ele virou e voltou na minha dire'&o, se inclinou ficandobem perto, fa)endo todo meu corpo arrepiar sentindo um frio intenso, desli)ou os dedos em algumasmechas do meu cabelo que estava bagun'ado, acariciou meu rosto com sua m&o gelada e encostou seusl%bios nos meus me fa)endo amolecer#

    9 sensa'&o n&o era de um beijo comum, era como ser envolvida por uma corrente fria que sopra no

    outono enquanto caminhamos agasalhados na rua, pude sentir seus dedos frios entre os meus cabelos,devagar fui fechando os olhos querendo que aquela sensa'&o diferente que me envolvia nunca acabasse#

    Meu Deus como aqui est% frio, olha a janela, deve estar aberta/ minha m&e disse ao meu pai enquantoesfregava os bra'os, provavelmente a sensa'&o de frio que ela tinha era pelo Christopher estar t&o perto,ao ouvila falar ele foi se afastando, ficou acariciando meu rosto enquanto falava#

    N&o dei"e que o espelho te engane, voc 3 mais forte do que qualquer um desses machucados,acredite em voc### @eaja/

    Coloquei minha m&o sobre a dele tentando fa)er com que ele entendesse que eu queria que ele ficasse#

    N&o posso ficar, voc vai acabar sendo transferida para ala psiqui%trica porque fica fa)endo coisasestranhas enquanto estou aqui### s quero que saiba que sinto sua falta### ele foi se afastando e eu osegui com os olhos at3 que ele sa1sse do quarto#

    >iquei encantada transbordando felicidade, apesar de insano eu sabia que era verdadeiro a alma doChristopher esteve aqui, ele veio me ver#

    0entamente fui rela"ando e sorri fechando os olhos como uma adolescente apai"onada, foi apenas umsegundo o suficiente para buscar energias e enfrentar agora os pensamentos dos meus pais que j%come'avam a me incomodar, minhas p%lpebras mal se fecharam e eu vi nitidamente um par de olhos me

    encarando e nesse momento palavras ecoaram na minha cabe'a, fa'a o acordoO foi e"tremamenter%pido como um relampear, mas eu tenho certe)a que aconteceu#

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    9bri os olhos assustada olhando em volta a procura de alguma coisa sinistra, mas tudo parecia normal,meu pai atento a tv e minha m&e se agasalhando#

    6oltei a me encostar, descartei qualquer possibilidade de fechar os olhos novamente, vaguei empensamentos at3 que me parei pensando no Christopher e em sua condi'&o, ainda em coma e so)inhona U5?, meu cora'&o apertou como se minha alma clamasse pela dele, fiquei envergonhada, imaginandoque com esses pensamentos agora a loucura seria minha melhor amiga#

    9final, estar atra1da por uma cara que nem conhe'o e pior est% preso no mundo dos mortos### s pode serloucura mesmo/

    9lgum tempo depois, meu pai dormiu no sof% e seus pensamentos foram substitu1dos por seu ronco e eusorri aliviada, assim que comecei a ouvilos#

    Dulce### filha### . virei olhando para minha m&e#

    6ou at3 a lanchonete comer alguma coisa, se importa em ficar so)inha com seu pai4

    Me"i a cabe'a para que ela entendesse que poderia sair sossegada, mesmo porque seus pensamentosdei"avam claro que ela estava brava em ouvir meu pai roncar#

    nquanto ela se arrumava para sair, uma enfermeira entrou e se apro"imou sorrindo, n&o era a mesma

    que eu havia visto no outro dia, essa irradiava simpatia e assim que me olhou imediatamente come'ou apensar#

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    quis saber sendo gentil e eu fi) que sim com a cabe'a, mesmo sem entender se era poss1vel sentir dorpelo corpo se n&o conseguia me"lo# . os medicamentos v&o ajudar### eu sei que tudoparece complicado agora, mas com o tempo tudo se ajeita, tenha f3, nada acontece por acaso### . haviacarinho em sua vo) e seus pensamentos di)iam que ela realmente acreditava naquilo e desejava que eumelhorasse, por isso sorri tentando tamb3m acreditar que com o tempo as coisas se ajeitariam#

    Nesse momento meu pai roncou mais forte como se o ar estivesse lhe faltando e a enfermeira olhou para

    o sof% com cara de riso, eu n&o agentei e comecei a rir da cena#

    !uer que eu o acorde4 neguei com a cabe'a, provavelmente ele estava cansado, al3m disso, quandoacordasse iria come'ar a pensar e me dei"aria quase louca novamente# tudo bem, mais tarde venhobusc%la, t%### ergui as sobrancelhas tentando entender e ela percebeu# vamos fa)er mais algunse"ames, o m3dico liberou sua alimenta'&o, seu caf3 da tarde j% deve estar chegando, procurese alimentar### quer mais alguma coisa4 neguei e ela sorriu e saiu do quarto#

    Minha vida s&o meus pais, minha irm& Claudia, minha melhor amiga Maite, alguns amigos queridos emeu gato Earfield, sobre o

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    9cho que vou dar uma volta# ele disse come'ando a se afastar, mas eu segurei seu bra'o, fa)endo eleme olhar, assim que ele o fe) eu fi) sinal que gostaria de escrever algo e ele pegou o papel e a caneta eme entregou#

    iquei so)inha com a minha m&e tadinha ela 3 uma boa m&e, mas como todas 3 cheia de medos ereceios e quando se depara com algo fa) o que a maioria dos pais esclarecidos fa), ou seja, bobagemO,por isso ela tem tantos pensamentos perturbadores, est% assustada por n&o saber como lidar com essasitua'&o#

    Meu pai demorou a retornar e quando voltou sorriu ao entrar, ele terminou de descascar uma balaapressado e a colocou na boca em seguida# u o via fa)endo isso desde minha adolescncia, quando elefumava escondido da minha m&e, mas de uns anos para c% seu m3dico o havia proibido de fumar, porisso olhei com censura quando ele se apro"imou da cama, seus pensamentos quando viram meu rostoforam autom%ticos#

    N&o conte para sua m&e# ele pensava sorrindo sem gra'a enquanto encostava ao meu lado, bem, pelocheiro forte de cigarro ele deveria ter fumado o ma'o todo, ela s n&o perceberia se n&o quisesse, porisso tive certe)a que logo mais assistiria outra briguinha engra'ada entre eles#

    le ficou ali ao meu lado sem falar nada s vendo as imagens da 56, por isso achei que ele tivesseesquecido de ir buscar informa'(es sobre o Christopher, pu"ei de leve sua camisa fa)endo com que elebai"asse os olhos em minha dire'&o, depois levantei um pouco as m&os abertas e ergui a sobrancelhacomo se perguntasse se ele tinha conseguido a informa'(es que eu pedi#

    2u, sim, desculpe, havia esquecido# ele foi di)endo sorrindo, mas ficou s3rio em seguida#

    u n&o sabia se prestava aten'&o em suas palavras ou em seus pensamentos#

    >alei com o m3dico filha e ele disse que foi mesmo um bombeiro que te salvou e que no meio do tiroteiouma bala perdida o atingiu no peito#

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    +ente alguma coisa4 fi) sinal com o dedo que n&o, tentando mais uma ve) falar sem que qualquer somsa1sse, vendo minhas tentativas seus pensamentos foram imediatos#

    Nada de refle"os, nenhum som, sem qualquer motivo aparente### todos e"ames est&o ok### seuorganismo est% perfeito, ent&o porque n&o reage garota4

    +uspirei cansada de tentar e nada acontecer#

    5udo bem menina### ele disse colocando sua m&o sobre a minha para que eu n&o me esfor'asse mais# 6amos descobrir a causa disso, fique tranqila, ok#

    9 enfermeira vai te dar um medicamento e daqui uns AJ minutos voc vai ter um sono incontrol%vel, n&orelute em dormir, porque faremos um e"ame mais detalhado e para isso voc precisa estar dormindoprofundamente#

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    +im/ respondi em pensamento erguendo a m&o para que ele entendesse tamb3m#

    9quela que n&o consegue falar4 . apesar de ter dito isso ficou claro que n&o teve inten'&o de meofender#

    +im/ respondi em pensamento erguendo a m&o novamente achando engra'ado aquele tipo decomunica'&o#

    Caraca, levou ; tiros, isso 3 que 3 ter a)ar// . seu coment%rio me fe) rir, ele era t&o espont8neo quechegava a ser engra'ado#

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    Dulce, nos vamos te dar um anest3sico, ele certamente far% com que voc entre em sono profundorapidamente, o e"ame 3 demorado, mas fique sossegada quando acordar novamente estar% em seuquarto junto aos seus pais# le terminou as e"plica'(es e uma enfermeira come'ou a ligar alguns fios emmeu dedo, outros em meu peito#

    2lhei para o m3dico novamente tentando fa)er com que ele entendesse que eu queria saber por quetodos aqueles aparelhos estavam sendo ligados em mim, sinceramente n&o estava achando que elesfa)iam parte do e"ame#

    N&o se preocupe com todos esses fios, s&o apenas para monitor%la, vai tudo correr bem, apenas fiquetranqila e durma sossegada# ele sorriu, dando sinal ao anestesista que aplicasse o anest3sico#

    Dulce, conte at3 de)# algu3m disse, e eu mentalmente comecei a contar, um, dois, trs### qua###tro###cin###

    6olte a 6iver/

    +eis, sete, oito, nove, de)/ 9cho que v&o precisar me dar um pouco mais desse anest3sico porque sesse n&o foi suficiente pensei e antes que eu tivesse qualquer rea'&o eu senti aquele bafo gelado seapro"imando, era como um sopro que ia ficando cada ve) mais e mais gelado me fa)endo saber que eleestava ali pertinho de mim bem ao meu lado#

    Meu cora'&o acelerou e o ar pareceu faltar como num grito de animal eu ouvi mais uma ve) aquela coisagritar#

    >a'a o acordo Dulce/

    9bri os olhos num estalo como se nem os tivesse fechado, confusa procurei pelo m3dico, mas o cen%riona minha frente era outro, eu estava em p3 no corredor onde havia passado a pouco, usando as mesmasroupas que eu estava no bar, sem qualquer arranh&o ou machucado#

    2lhei para um lado e para o outro tentando confirmar se era mesmo aquilo que eu via a minha frente, deialguns passos indo na dire'&o da sala onde eu havia sido empurrada a pouco de maca para fa)er o

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    e"ame# Na ponta do p3 vi pelo vidro o Dr# Dion1sio, a enfermeira e o anestesista dentro da sala todossobre meu corpo como se de alguma maneira eles estivesse tentando me tra)er de volta, era tudo terr1velnos olhos deles havia apreens&o e tudo acontecia muito r%pido, virei o rosto angustiada e sai daquelelugar#

    9ssim que entrei no corredor encosteime na parede com a m&o no peito, fechei os olhos por algunsinstantes, talve) fa)endo isso minha alma voltasse para meu corpo de onde nunca deveria ter sa1do, abrios olhos e olhei em volta ainda estava no corredor, como isso pode ser4

    2lhei para os lados procurando decidir o que fa)er, mas algo no fundo daquele corredor me chamouaten'&o, l% estava porta de acesso a U5?, onde o Christopher estava, sem pensar eu fui at3 l% eapressada corri, para consegui entrar enquanto algu3m abrira a porta para sair#

    U5?, 3 o lugar onde se atende pacientes graves que necessitam de vigil8ncia permanente e tratamentointensivo, nunca havia entrado em uma U5?, ao menos n&o quando eu estivesse acordada#

    Dava para contar ao menos L camas todas com rodinhas para facilitar a locomo'&o, cada cama eraseparada por cortinas que poderiam ficar abertas ou fechadas de acordo com a necessidade do paciente,atr%s de cada cama havia uma s3rie de aparelhos que monitoravam a situa'&o de cada paciente#

    2 ambiente muito bem iluminado, limpo e organi)ado e para minha felicidade nem todas as camasestavam ocupadas, continuei a andar pela grande sala a procura do Christopher#

    Kavia J pacientes deitados nas camas, todos estavam ligados em algum tipo de aparelho, assim quecomecei a passar por elas, percebi que ao lado de alguns desses pacientes encontravamseacompanhantes, achei estranho porque at3 onde sei n&o costumam ficar acompanhantes na U5?#

    Um pouco a frente uma senhora idosa que eu imaginava ser uma acompanhante acenou para mim, mefa)endo parar, olhei novamente na dire'&o dela e ela sorriu dei"ando claro que realmente estava meen"ergando, olhei para os outros dois acompanhantes e todos pareciam me olhar, nesse momento eusoube, cada um deles era a alma de cada pessoa que estava ao lado na cama, dedu)i queaqueles pacientes que n&o tinham suas almas ao lado estavam em melhor estado desa-de, provavelmente sairiam dali em breve#

    Depois disso nunca mais veria o mundo da mesma maneira e isso me apavorava/

    9ssim que me recuperei do susto, voltei a andar procurando pelo Christopher, fui encontr%lo na -ltimacama as cortinas que fa)iam a divis&o estavam abertas e quando olhei para tr%s por um instante todos asalmas me olhavam com curiosidade, se um dia eu contar ningu3m vai acreditar/

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    2u, desculpe### . ele ficou sem gra'a# como voltou4 Melhor, porque voltou4 . cada palavra erapronunciada devagar, talve) ele estivesse com medo da resposta#

    u n&o sei### . falei com sinceridade# s me lembro de um e"ame, alguma coisa sobre anest3sico###provavelmente as coisas n&o sa1ram como o Dr# Dion1sio esperava, porque aqui estou eu/ . quis parecerengra'ada erguendo os bra'os num gesto feli)#

    st% em coma novamente4 . ele perguntou s3rio#

    Melhor que estar morta/ . falei tentando continuar a piada, mas seu rosto preocupado dei"ou claro quen&o tinha conseguido# . Desculpe, Christopher, talve) voc tenha uma e"plica'&o melhor/

    0amento ruivinha, ultimamente n&o consigo e"plicar muito bem as coisas que tenho visto, ouvido ousentido### . essa -ltima parte foi certeira e ele nem tentou disfar'ar, sem gra'a, olhei dos lados#

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    9cha mesmo que se eu deitar sobre meu corpo, vou acordar4

    N&o, eu n&o acho# . falei sorrindo# mas n&o custa tentar/ . o que mais eu podia di)er###

    6oc acha isso engra'ado4

    N&o claro que n&o/ . falei r%pido tentando me e"plicar# ?sso 3 bem s3rio/ stou achando engra'ado seujeito, s isso###

    2k, vou deitar, como eu fa'o isso4

    N&o sei, apenas deite#

    Como n&o sabe4 6oc 3 a especialista aqui, sua alma tem sa1do e voltado para o seu corpo muito ve)es

    ultimamente#

    Mas eu n&o sei como isso acontece/

    5udo bem, ent&o eu deito e vamos ver se acordo#

    le sentou na cama e foi deitando sobre seu corpo, nesse momento eles se fundiram como se sua almadesaparecesse e eu pudesse apenas ver seu corpo ali deitado# >iquei ali perto esperando que algoacontecesse#

    5entei segurar sua m&o, mas eu n&o consegui toc%la, ent&o me lembrei que agora a alma perdida era eu,acariciei seu rosto, vendo alguns machucados leves que pareciam estar quase curados, desli)ei meusdedos por seu bra'o, vendo que ao toque a pele ficava arrepiada, abai"ei um pouco o len'ol e vi umgrande curativo do lado direito no peito onde ele havia levado o tiro, desli)ei o dedo devagar,tra'ando uma linha do curativo at3 o cora'&o, percebendo que se tivesse acertado do lado esquerdo teria

    sido direto no cora'&o, suspirei agradecendo a Deus por ele ainda estar vivo, o recobri com o len'ol eesperei mais alguns segundos para ver se algo acontecia, olhei em volta e vi que as outras ; almas, ainda

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    me olhando, talve) tamb3m esperassem que algo acontecesse# ai"ei os olhos e cheguei mais pertofalando bai"o#

    Christopher/ chamei querendo saber se havia dado certo, mas n&o tive resposta# i, Christopher, vocest% ai4 st% bem4 insisti sem qualquer resposta#

    0entamente fui me apro"imando mais e mais coloquei a m&o no colch&o ao lado para me debru'ar, com ocora'&o batendo r%pido, pensando no que havia acontecido, talve) n&o deveria ter mandado ele deitar#9final, o que foi que eu fi)4

    Christopher/ voltei a chamar chegando mais perto do rosto dele# Christopher, di) alguma coisa### >aleibai"inho completamente inclinada sobre ele, bem perto de rosto#

    222K/ ele disse e sua alma sentou na cama me abra'ando, gritei apavorada me encolhendo, elecome'ou a rir em seguida, sem se conter#

    N&o precisei olhar para saber que eu provavelmente havia proporcionado o momento mais alegre dos-ltimos tempos para aquelas almas ali dentro da U5?, todos riam da minha cara/

    2s monitores card1acos ns quais eles estavam ligados apitaram, provavelmente provocada peladescarga de adrenalina pelo riso espont8neo, v%rios enfermeiros correram para as camas, tentandoverificar o que havia acontecido, um enfermeiro olhava para o outro tentando e"plicar, porque quatroaparelhos haviam apitado ao mesmo tempo na U5?, enquanto tudo por ali era sempre t&o silencioso#

    +eu idiota/ . falei e o empurrei com for'a saindo de perto da cama, com meu cora'&o acelerado pelo

    susto, enquanto ainda ouvia algumas risadas#

    Dei alguns passos em dire'&o a janela, cru)ei os bra'os tentando fa)er minha raiva diminuir#

    i### espera### ouvi o Christopher falando enquanto descaradamente ele ainda ria do acontecido#

    !ual a gra'a4

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    seus amigos4 Ningu3m aqui sabe4 perguntei apontando na dire'&o as outras almas perdidas que euvia ali#

    9cham que almas n&o podem conversar entre si, ou ent&o eles s&o do tipo, cada um cuida da sua vida,ou da sua morte, sei l%### ele deu os ombros sem se importar#

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    Como sabe4

    6oc me disse, no outro dia, quando seu cora'&o parou na mesa de cirurgia###

    u disse isso4 N&o me lembro### . ele sorriu sem gra'a#

    em### eu estava tentando achar algo que te fi)esse viver### voc disse que tem duas namoradas, mas

    n&o gosta delas, que sua m&e 3 falecida e que n&o conversa com seu pai a quase um ano###

    Cru)ei os bra'os me arrependendo das -ltimas palavras n&o quis ser intrometida#

    9h/ 9gora me lembro de alguma coisa### . ele gesticulou como se realmente lembrasse, colocando asm&os no bolso da cal'a, olhando tarde l% fora pela janela#

    >iquei sabendo que seu pai vem aqui te visitar###

    $ ele tem vindo###

    le me olhou e antes que eu pudesse impedir ele desatou a falar#

    Minha m&e faleceu h% quase um ano e desde ent&o n&o falo com meu pai, tivemos uma discuss&o nodia do enterro dela### . ele deu um longo suspiro antes de me olhar diretamente# ###e agora ele vem aquie conversa com meu corpo#

    Mas n&o conversa com sua alma4

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    $### ele conversa comigo, mas eu n&o sei como me reconciliar com ele### n&o sou bom com ossentimentos#

    +ente saudade dele4 Digo de abra'%lo e de conversarem de verdade###

    Muita### . ele sorriu# ele 3 um grande homem, sou quem sou, tudo gra'as a ele###

    le tamb3m 3 bombeiro4

    N&o, ele era cirurgi&o, hoje 3 biom3dico, um tipo de cientista que procura a cura de algumas doen'as,ele procurava a cura para a doen'a da minha m&e, passava tanto tempo enfiado no laboratrio que seesqueceu de estar ao lado dela enquanto ela ainda tinha vida, por isso brigamos### . ele confessou triste#

    le deveria am%la muito, por isso procurava pela cura### . falei pensando o quanto deveria ter sido duropara o pai dele, ser m3dico e cientista, ter tantos conhecimentos e n&o poder livrar a pessoa que ama damorte#

    $ acho que no fundo ele a amava mesmo, disse aqui mesmo no outro dia que ainda procura pela curada doen'a que a matou### disse que n&o vai descansar enquanto viver, porque ele acha que se n&o podesalv%la vai poder salvar outras pessoas###

    le me parece uma boa pessoa###

    $ ele 3 incr1vel###

    nt&o quando sair daqui, apenas dei"e as coisas acontecerem, permita que suadalma fale por voccomo est% fa)endo agora, at3 onde entendi, voc ficou terrivelmente triste porque ele se afastou de suam&e enquanto ela ainda tinha vida, mas e voc4 2 que est% fa)endo com ele4 +e afastando###

    Coloquei minha m&o em seu bra'o enquanto ele pensava no que eu havia dito, depois ele segurou minham&o e deu um beijo demorado#