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ARMAZÉM DA MEMÓRIA NACIONAL

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www.almanaquebrasil.com.br

Auto-estima é a reputação que adquirimos de nós mesmos.

Nathaniel Branden, psicoterapeuta canadense.

Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak AndreatoEditor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis VecchioneEditora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton SeverianoRedatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane BenettiDesigners Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas, Soledad Cifuentes e Juliana Cavalhieri (estagiária)

Gerente administrativa Eliana FreitasAssistentes administrativas Viviane Silva e Geisa Lima Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)Impressão Gráfica Oceano

PUBLICIDADEFernanda Santiago (11) 3873-9115E-mail: [email protected]

Nos caminhos da poesia

Elifas Andreato

a juventude, quando iniciava a minha jornada como desenhista e já engajado na perigosa luta pela redemocratização do País, ouvi um disco intitulado A Nova Canção do Povo Espanhol. A venda era destinada aos movimentos que se opu-

nham à ditadura do general Franco. Um verso me chamou atenção: Caminhante não há caminho / Se faz o caminho andando, de uma canção de Joan Manuel Serrat com versos do poeta Antonio Machado.

Foram estes versos do poeta espanhol a inspiração para superar as dificuldades que en-frentei trabalhando em pequenos estúdios de arte e agências de publicidade. Raramente ganhava algum dinheiro e era perversamente explorado por seus donos e diretores de arte.

Nada do que passei me afastou dos ensinamentos poéticos de Antonio Machado. Já tinha a certeza de que abriria meu próprio caminho e assim tem sido até os dias de hoje. Há ainda muitos a serem desbravados. Eu os encaro destemidamente porque tenho um longo cami-nho já percorrido que não me permite desanimar para o que ainda há a percorrer. As dores e dissabores do passado hoje são boas lembranças do meu aprendizado. Lembranças de um tempo pelo qual todos passam de um jeito ou de outro.

Jamais esqueci os versos inspiradores da minha perseverança. Fiz e faço o meu caminho sem esquecer que, nesta longa caminhada, nunca estive sozinho. Neste espaço, pratico o que aconselha um velho ditado francês: “A gratidão é o coração da memória”. Por acreditar que nenhuma obrigação é mais urgente que a gratidão, recorro sempre à memória para agradecer àqueles que generosamente tornaram possível o meu caminhar. A memória guarda uma enorma lista de benfeitores.

Um deles é Attilio Baschera, que no fim da década de 1960 se deparou com um desenho meu feito para um outdoor, anunciando a programação da Rádio Piratininga. Gostou do que viu e mandou seu assistente me procurar. Levou-me da pequena agência de publicida-de na qual trabalhava para ser estagiário da editora Abril.

Um novo e auspicioso caminho que, em pouquíssimo tempo, transformou a minha vida. Na Abril aprendi meu ofício e encontrei os grandes mestres que, com suas lições e exem-plos, deram à minha vida e trabalho o nobre significado da solidariedade.

Sou grato a todos. Não posso deixar de agradecer ao assistente de Attilio Baschera que me trouxe o bilhete premiado. E seu nome, vejam só, era Salvador!

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zadas para uso não comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodu-ção com outros fins, entre em contato com a Andreato Comunicação & Cultura. Leia a íntegra da licença no site do Almanaque.

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Distribuição em voos nacionais e internacionais

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O Almanaque é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura.Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115

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Parceria

índice 5 cARtA ENiGMáticA

6 você SABiA?

13 PAPo-cABEÇA

16 iLUStRES BRASiLEiRoS

20 ESPEciAL

24 BRASiL NA tv

26 JoGoS E BRiNcADEiRAS

27 o tEco-tEco

28 vivA o BRASiL

32 EM SE PLANtANDo, tUDo Dá

34 BoM HUMoR

Ruy ohtake

A alma do negócio

Paulo Machado de carvalho oliva – parte 2

Pátio do colégio

capa Rodrigo Terra Vargas cANtoS E LEtRAS

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Março 2012

“Essa garota ainda está muito crua”, errou Tom Jobim ao recusar Elis Regina para um musical nos anos 1960. Diferente da previsão do maestro, a gaúcha recém-chegada ao Rio de Janeiro logo mostrou a que veio. A foto da época faz jus ao apelido que recebeu no começo da carreira: “Hélice Regina”. Companheiro dela no programa O Fino da Bossa, Jair Rodrigues tenta acompanhar a coreografia frenética. O movimento expressivo de balanços e giros com os braços a acompanharia carreira afora.

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vida parecia que levaria Mauro Faccio Gonçalves para a Arquitetura. O rapaz nascido na mineira Sete Lagoas chegou a se matricular na Faculdade de Belas Artes de Belo Horizonte

na década de 1950. Mas a sua real paixão – apesar da timidez – era outra. Decidiu então largar os estudos para se dedicar aos tablados e ao rádio. Anos depois, e com outro nome, se transformou em um dos humoristas mais conhecidos do País.

A trajetória foi rápida. Primeiro entrou em um grupo de teatro, ao mesmo tempo em que fazia esquetes de humor na rádio Inconfidência de Belo Horizonte. Em 1963, chegaria à tevê, na pele do desastrado garçom Moranguinho, num programa da TV Excelsior do Rio. Não sairia mais da telinha.

Na década de 1970, foi convidado por três humoristas para fazer parte de um outro programa. Para criar o personagem, inspirou-se num sujeito simples com quem havia convivido

na infância. E, para batizá-lo, usou o nome de um galo que criava em seu quintal em Sete Lagoas.

Era considerado o melhor ator do grupo – até porque seu per-sonagem era o mais diferente de sua personalidade real. Afinal, definia-se como “um sujeito careca, baixinho e barrigudo, sem graça alguma”. Mas quando dava vida ao personagem, surgia um rapaz ingênuo, doce e divertido.

Além da tevê, também participou de dezenas de filmes ao lado do grupo. As crianças adoravam imitar seus trejei-tos e, principalmente, sua risada característica. Uma infecção pulmonar lhe tirou a vida em 18 de março de 1990. Tinha apenas 56 anos. Um de seus companheiros de programa, às lágrimas, o definiu: “Era como se ele não tivesse crescido. Era um sonhador, sem maldade nem malícia. Vai fazer uma falta tremenda”. (BH)

SOLUçãO NA P. 26

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M A R Ç O

26/3/1772É fundAdA PORtO AlegRe,

AtuAl cAPitAl dO RiO gRAnde dO Sul. O PRiMeiRO nOMe dA cidAde fOi

fRegueSiA de SãO fRAnciScO dO PORtO dOS cASAiS.

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u sou apenas um rapaz latino-americano sem parentes militares”, disse Augusto

Pontes em sua posse como professor de Comunicação da Universidade de Brasília, no começo dos anos 1970. Na plateia estava Belchior, que se inspirou no discurso do amigo para criar Apenas Um Rapaz Latino-Americano, um de seus maiores sucessos. Essa é apenas uma das contribuições do poeta, compositor e publicitário para a cultura cearense e nacional.

No fim dos anos 1960, Pontes ajudou a organizar, ao lado de Belchior, Ednardo, Fagner e outros, um movimento que misturava música e literatura: o Pessoal do Ceará. Já no fim dos 1970, foi um dos produtores do histórico Massafeira Livre, evento que novamente colocou a produção cultural cearense em evidência nacional. Além disso, compôs mais de 500

Inimigos não teriam chance com Augusto Pontes

letras de canções, como Carneiro e Lupscínica.

Mas sua especialidade era a conversa franca em mesas de bar, onde surgiam suas frases curtas e provocativas, como “a união só se faz à força” e “o comunismo acabou antes de chegar aos pobres”. “Difícil imaginá-lo como professor da UNB. Ele definitivamente estava imune à proverbial chatice acadêmica”, escreveu o poeta Ruy Vasconcelos.

Quando Pontes morreu, em 2009, o jornalista Augusto Cesar Costa escreveu um tocante texto sobre o amigo, em que

finalizava: “Amou muito, foi amado, teve amigos a perder de vista. Não se tem notícias de inimigos. Mesmo porque nunca tiveram a menor chance”.

No site do AlmANAque, leia uma matéria sobre o Pessoal do Ceará.

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5/3 dia do p

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No site do AlmANAque, confira outras matérias sobre o plantio de árvores nas cidades.

le ainda nem se entendia por gente, mas já entendia as plantas. Caetano Beccari era

menino e ajudava o pai na lavoura em Santo Antônio de Posse, interior de São Paulo. Nascido em 1924, aprendeu cedo a tirar o sustento da terra.

Aos 19 anos, foi procurar seu caminho na

Aos 87 anos, seu Caetano segue plantando árvores para o futuro

E(Laís duarte)

cidade grande. Voou bem alto: entrou

para a Aeronáutica. Tornou-se especialista em hidráulica de aviões. Passou anos a fio dedicando-se à mecânica, cuidando com esmero das aeronaves mandadas para a guerra na Itália, mas nunca perdeu o hobby da jardinagem.

De muda em muda, deixava espalhadas as árvores que tanto admira.

Aos 67 anos, já aposentado, seu Caetano resolveu dar nova cara aos terrenos que a Aeronáutica tem na capital paulista. escolhia as sementes, preparava o solo para receber a plantinha, e pronto. Até 2009,

a contabilidade dele somava precisamente 1.023 árvores plantadas, a maioria frutífera. ergueu bosques em seis unidades da Aeronáutica, incluindo uma no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Cada tronco é registrado segundo a espécie e a localização em um catálogo. Sua maior plantação fica no aeroporto Campo de marte, no bairro de Santana: mais de 340 unidades.

escolas, praças, canteiros públicos e privados também receberam as árvores de seu Caetano. Aos 87 anos, ele ainda não pensa em abandonar o ofício voluntário. quer continuar semeando vida, regada a muita modéstia: “eu acho que ainda posso fazer uma coisa boa”.

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29/3/1693É fundAdA cuRitibA, AtuAl

cAPitAl dO PARAná. O PRiMeiRO nOMe dA cidAde

fOi nOSSA SenhORA dA luz dOS PinhAiS.

21/3 dia das flo

restas

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Março 2012

Inimigos não teriam chance com Augusto Pontes

construção da usina hidrelétrica de Serra da Mesa trouxe grande impacto ambiental e social para a região norte de Goiás. Mas, por conta de seu lago,

trouxe também o turismo, a pesca e fez ressurgir lendas como a do Nego d’Água, que pode ser ouvida em todo o Brasil. Em Goiás, ela já era contada pelos mais antigos, que juravam ver nos rios, principalmente nas cachoeiras, o bicho danado.

Antes da construção da hidrelétrica, existia no rio Maranhão a cachoeira do Machadinho. Segundo moradores mais antigos, ela surgiu a partir de um grande paredão de pedras construído por escravos para garimpar ouro no fundo do rio. Quando o paredão não resistiu, a água levou escravos e o ouro, formando a cachoeira. Lá os pescadores diziam ouvir gritos e até uivos: seriam os gemidos dos escravos mortos com o desabamento que, revoltados, apareciam como Negos d’Água, assombrando as pessoas.

Seu Pedro, um dos moradores da região, afirma com certeza que foi vítima da assombração: “Não gosto nem de lembrar. A canoa começou a balançar forte, peguei o facão e fiquei procurando. De repente, vi uma mão preta com os dedos tortos sacudindo a canoa. Desci o facão! Nem sei se o grito foi meu ou do bicho!”. Depois, tratou de juntar os dedinhos despedaçados em uma latinha.

Aí a história cresceu, tomou estrada e o fantasma continuou aparecendo em várias partes do lago. Os assustados que o veem só ainda não notaram se é o mesmo Nego d’Água de seu Pedro, sem os dedos da mão.

203 candidatos disputaram a presidência em 1894

(BH)

No site do AlmANAque, leia sobre outras passagens do mandato de Prudente de morais.

Nego d’Água volta a assombrar o norte de Goiás

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(Sivaline, de uruaçu-Go – oVeRMuNdo)

SAIBA MAIS leia outros textos sobre lendas brasileiras em www.overmundo.com.br.

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pós a proclamação da República, tivemos dois presidentes escolhidos por acordos

políticos: Deodoro da Fonseca, em 1889, e Floriano Peixoto, em 1891. eleições diretas só aconteceram em 1894. Apenas homens alfabetizados e de posse, acima de 21 anos, além de militares e religiosos, puderam ir às urnas decidir o futuro político do País.

Duzentos e três cidadãos lançaram candidatura para o posto mais importante da Nação. entre eles, figuras famosas, como Prudente de morais, Afonso Pena e Rui Barbosa.

No dia do pleito, em 1º de março de 1894, 356 mil pessoas compareceram às urnas – o voto não era obrigatório e apenas 35% dos eleitores estiverem presentes. O escolhido foi o paulista Prudente de morais, com avassaladora vitória: 88% dos votos. Já Rui Barbosa, um dos intelectuais mais importantes da história do País, terminou as eleições apenas em quarto lugar, com menos de 1% dos votos.

enigma figurado

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R.: confira a resposta na página 26

O pequerrucho da foto, nascido em Fortaleza em 8 de março de 1962,

sempre teve jeito para o humor, principalmente para as imitações.

Seu primeiro emprego, no entanto, foi como revisor de texto em

um jornal. Aos 20 e poucos anos, chegou a apresentar um telejornal

regional da Globo, mas queria mesmo era estar nos palcos. Com o

apadrinhamento de Chico Anysio, tornou-se um dos humoristas mais

conhecidos do País, vivendo um personagem que abusava do álcool.

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Prudente de morais, o primeiro presidente eleito por voto direto.

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Com poema de Bilac, Cecília opôs Brasil e Alemanha

u não sou sorvete para ser dissolvido”, ironizou o treinador João Saldanha. mas

no dia 17 de março de 1970, às vésperas da Copa do mundo, a Confederação Brasileira de Desportos resolveu “dissolver” a vitoriosa comissão técnica da seleção verde e amarelo.

Na definição do cronista Nelson Rodrigues, o comandante de Pelé, Tostão e companhia era “capaz de explodir na presença de um fósforo aceso”. Semanas antes da demissão, teria perdido a paciência ao ser pressionado pelo presidente médici, responsável por algumas das maiores barbaridades da ditadura militar brasileira, a escalar um jogador que admirava. Ao ser perguntado por um repórter se não colocaria em campo o centroavante Dadá maravilha, Saldanha disparou: “me entendo bem com o presidente. Nem eu escalo ministério, nem ele escala seleção”.

Saldanha perdeu o cargo, Zagallo assumiu o comando e Dadá vestiu a camisa canarinho. Como sequer entrou em campo na Copa, pode-se dizer que não contribuiu para o tricampeonato mundial conquistado no méxico. Tampouco Zagallo mudou muito a forma de a seleção jogar, uma vez que o time já estava astuciosamente organizado.

Para o pesquisador Carlos Ferreira Vilarinho, autor de Quem Derrubou João Saldanha, a declaração foi apenas a gota d`água em uma relação já estremecida. em 1969, o treinador não medira palavras sobre os crimes cometidos às escuras pelo regime, depois que seu amigo, o guerrilheiro Carlos marighella, fora assassinado. era inadmissível para os militares no poder que um desafeto do regime conquistasse a maior glória do futebol nacional.

SAIBA MAIS Quem Derrubou João Saldanha, de Carlos Ferreira Vilarinho (livros de Futebol, 2010).

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ecília Meireles era só uma garota de 11 anos quando recebeu do poeta Olavo Bilac uma medalha

de ouro. Ainda nenhuma relação com versos – o prêmio destacava “distinção e louvor” da jovem estudante durante o curso primário. Quem diria que algumas séries adiante a estudante dedicada fosse punida por questões de disciplina? Com uma coincidência: Bilac estava de novo na história.

Era um poema dele que a menina declamava no intervalo das aulas em uma sala vazia, aos 13 anos. O diretor recém-empossado da Escola Normal do Rio de Janeiro passava pelo corredor e, ao ouvir Cecília, tratou de acabar com o recital. Proibiu que as futuras professoras continuassem declamando um autor tão “imoral”. As normalistas se inflamaram. Um movimento de “insubordinação ao diretor” chegou até aos jornais e algumas alunas foram convocadas a depor em altas instâncias da educação.

“A aluna Cecília Benevides Meireles, que vai ser inquerida pela alta administração da prefeitura, é órfã de pai e mãe e filha da falecida professora pública Mathilde Meireles.” Foi assim que o nome da adolescente apareceu na imprensa pela primeira vez, em 1915. No fundo, tudo estava ligado ao posicionamento do Brasil contra a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. O diretor era alemão; e Bilac, um defensor da aliança contra os alemães.

No fim do incidente, Cecília ganhou uma advertência formal. Mas não demorou para que o caso terminasse de vez com o afastamento de Hans Heilborn da direção da escola.

SAIBA MAIS Pensamento e Lirismo Puro na Obra de Cecília Meireles, de leila V. B. Gouvêa (edusp, 2008).

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16/3 dia da normalista

João Saldanha não queria

ditadores escalando

a seleçãoconfira a resposta na página 26

de quem são estes olhos?

Nascida na paulista Taubaté em 8 de março de 1929, a dona destes olhos lançou-se

na vida artística como integrante da dupla caipira Rosalinda e Florisbela. Depois,

a moça apareceu nas primeiras transmissões da TV Tupi, em 1950, e desde então

está presente na telinha. Considerada a rainha da tevê brasileira, até hoje

comanda um famoso programa de variedades. Ficou fácil, não?

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Março 2012

O que se colhe em MARÇO

estação colheita

Goiaba, limão, tomate, caqui, pera, repolho, tangerina, figo.

o baú do Barão

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

ela primeira vez no Brasil, o carnaval gravado em filme com todos os seus

ruídos”, anunciavam os cartazes pelas ruas do Rio de Janeiro. em 6 de março de 1933, estreava A Voz do Carnaval, primeiro longa-metragem brasileiro produzido com o processo movietone, em que os sons eram gravados na película. Até então, na hora de exibir um filme, o projecionista tinha que se desdobrar para sincronizar as imagens com discos de 78 rotações por minuto. A Voz do Carnaval marcou também a estreia de Carmen miranda como protagonista.

O filme-revista carnavalesco, dirigido por Adhemar Gonzaga e Humberto mauro, misturava realidade e ficção. Começava com a chegada do Rei momo ao porto do Rio. quem dava vida ao gorducho era o verdadeiro inspirador do surgimento do Rei momo, o jornalista moraes Cardoso.

Na estreia de Carmen, Rei Momo fugiu para ver o carnaval

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m 6 de março de 1817 eclodiu no Recife a Revolução Pernambucana. entre os ideais dos rebeldes estavam a independência do

Brasil e a instauração do regime republicano. um dos entusiastas do movimento era José Ignácio Ribeiro de Abreu e lima, conhecido como Padre Roma, que não era padre, mas advogado – o fato de ter frequentado um convento e morado na Itália lhe rendeu o apelido.

Os revolucionários conseguiram depor o governador da província e tomar Pernambuco. Padre Roma foi então incumbido de estender os ideais à Bahia. Ao chegar lá, porém, foi preso e executado, em 29 de março de 1817.

Os baianos pró-monarquia exaltaram a atitude. Até versinhos foram feitos: Foi preso o padre e os seus / O que for justo direi / Por se levantar contra o rei / Nosso senhor / Então justiça destroça / Dos falsos pernambucanos / Que sempre serão dos baianos / Inimigos.

As forças portuguesas derrotariam a Revolução Pernambucana dois meses depois, adiando em cinco anos a independência do Brasil e por mais de sete décadas o fim da monarquia.

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SAIBA MAIS Carmen, de Ruy Castro (Companhia das letras, 2005).

marçotambém tem

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Dia do Turismo Ecológico

Dia da Luta contra a Censura no Brasil

Dia Nacional do Meteorologista

Dia das Sociedades de Amigos de Bairro

Dia do Filatelista Brasileiro

Dia da Padroeira dos Pescadores

Dia Mundial da Oração

Dia Internacional da Mulher

Dia da Padroeira dos Pintores

Dia do Sogro

Dia Estadual do Motociclista (SP)

Dia Mundial do Café

Dia do Conservacionismo

Dia do Careca

Dia Mundial do Consumidor

Dia da Era Espacial

Dia Internacional da Marinha

Dia da Chuva

Dia Mundial do Artesão

Dia do Gari Goianense

Dia Mundial da Poesia

Dia Mundial da África

Dia Mundial da Meteorologia

Dia da União dos Povos Latino-Americanos

Dia do Especialista em Aeronáutica

Dia do Mercosul

Dia do Acupuntor

Dia do Revisor

Dia da Central do Brasil

Dia do Futebol de Salão

Dia da Integração Nacional

No site do AlmANAque, leia sobre a atuação de José Inácio de Abreu e lima, filho de Padre Roma, na independência da América espanhola.

Revolução Pernambucana não atravessou fronteira com a Bahia

O soberano teria que cumprir uma agenda oficial, mas não quis saber de formalidades. quebrou o protocolo e foi curtir o carnaval pelas ruas cariocas. Carmen miranda entrava em cena entoando canções como Fita Amarela, de Noel Rosa, e moreninha da Praia, de Braguinha.

Depois da estreia carioca, o filme foi apresentado em outras cidades pelo Brasil e até em Paris. A Voz do Carnaval tornou-se uma série, filmada a cada carnaval até os anos 1940. Do filme inaugural, entretanto, não sobrou uma cópia para ilustrar a história.

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“Quando uma estrela de Hollywood se vê obrigada a usar o mesmo marido durante dois anos é sinal evidente de que está em grande decadência.”

Cena de A voz do Carnaval, primeiro longa de Carmen miranda.

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Fases da Lua1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31

cheia novacrescente crescenteminguante

ocê é um índio offline? Torne-se um índio online”. É assim que o portal Índios Online convida os povos indígenas a trocarem experiências pela

rede mundial de computadores. O projeto de reunir em um mesmo site as diferentes caras indígenas do Brasil surgiu em 2005 e hoje é administrado pelo ponto de cultura Thydêwás. Desde então, o portal integra comunidades de Alagoas, Bahia, Paraíba, espírito Santo, mato Grosso e pretende alcançar todas as regiões do País.

A proposta é que o espaço seja um local no qual as comunidades se comuniquem, troquem informações e promovam suas tradições. Seja por meio de textos, fotos ou vídeos. Por dia, há mais de 1.500 acessos. um dos primeiros entusiastas da novidade foi o índio Nhenety, da tribo Kariri-xocó. Ao conhecer o site, ele tornou-se um dos incentivadores de um projeto paralelo, o livro Arco Digital, com textos e trocas de informações de diversas etnias. “Hoje, o computador também pode ser usado pelos índios como um instrumento de defesa e caça”, afirma Nhenety.

O portal também é muito usado para denúncias. em uma postagem recente, o cacique Sumakrir, da comunidade mato-grossense de Guajajaras, alerta para a perseguição de fazendeiros da região. Noutro texto, índios Pataxó Hãhãhãe, da Bahia, pedem ao governador que se empenhe no julgamento sobre a validade de seu território.

Aos poucos, os indígenas vão percebendo que o sinal de internet pode ser bem mais eficaz que os sinais de fumaça que utilizavam alguns de seus antepassados.

Sinal de fumaça é coisa do passado na era da internet

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onheça o mundo.” As palavras de um cartaz afixado em um ônibus de Belém do Pará

chamaram a atenção de Hildelene Lobato Bahia. Ela prestou atenção no anúncio sobre a abertura de vagas na escola da Marinha Mercante não porque estivesse interessada em cruzar os mares. A dica era para o irmão, que sonhava em fazer parte da corporação. Foi o acaso que a levou a desbancar a exclusividade masculina e ser a primeira mulher a frente de um petroleiro, aos 35 anos.

A então estudante de contabilidade só se inscreveu no teste para estimular o irmão. Em 1997, pela primeira vez o centro de instrução abriu vagas também para o sexo feminino. Com dois empregos, Hildelene nem imaginava que seria a única dos dois Lobato Bahia a passar da primeira fase. Enfrentou até a última etapa da seleção, uma prova de natação em que garantiu o primeiro lugar. Detalhe: aprendeu a nadar 15 dias antes.

A promessa do cartaz no ônibus se cumpriu: Hildelene conheceu o mundo, em viagens à Europa, África e Oceania. E não só. Em 2009, ao tornar-se a primeira mulher a assumir o comando de um navio-tanque brasileiro, afirmou: “A bordo dos navios, conheci o mundo que era quase totalmente masculino. E ajudei a construir um novo mundo, onde a equidade de gêneros é um fato”.

Hildelene pegou um ônibus e cruzou os oceanos

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(Np) (BH)

No site do AlmANAque, confira uma matéria sobre mulheres pioneiras.

SAIBA MAIS Site do portal Índios Online: www.indiosonline.net.

Origem da expressão

Fazer um biscate Os portugueses chamavam de biscatos as migalhas de

alimentos que as aves levavam a seus filhotes. Por associação, tornou-se o nome dado

a pequenas gratificações que os funcionários públicos davam a seus protegidos. A

expressão, o mesmo que “fazer um bico”, passou então a ser usada para definir quem

realiza trabalhos rápidos, a fim de levantar um dinheirinho a mais.

17/3 dia internacional da marinha

31/3dia da inclusão digital

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Março 2012

1 domingo Odilo2 segunda Macário de Alexandria 3 terça Genoveva4 quarta Elisabete Seton5 quinta João Nepomuceno6 sexta Reis Magos7 sábado Raimundo de Peñafort8 domingo Torfino9 segunda Constantino 10 terça Gonçalo11 quarta Baltazar12 quinta Tatiana13 sexta Hilário de Poitiers14 sábado Barbásimas15 domingo Mauro16 segunda Marcelo17 terça Antão18 quarta Cátedra19 quinta Mário20 sexta Sebastião21 sábado Inês22 domingo Vicente da Espanha23 segunda João, o Esmoler24 terça Francisco de Sales25 quarta Paulo26 quinta Paula27 sexta Ângela de Bréscia28 sábado Tomás de Aquino29 domingo Gildas30 segunda Bertila31 terça João Bosco

ÁriesO ariano é acima de tudo alguém que luta pelos ideais em que acredita. covardia de situações arriscadas e medo da opinião alheia não estão no vocabulário deste signo regido por marte. extrovertido e espontâneo, costuma ser líder nas empreitadas das quais faz parte. compra brigas, mas sempre em busca do que considera justo. como não podia deixar de ser, o elemento que acompanha o ariano é o fogo.

21-3 a 20-4

e terno e gravata, Tony Tornado foi muito elogiado pelo papel de Gregório Fortunato,

em 1993. A carreira de ator em humorísticos, filmes e novelas ganhou prestígio com o papel de braço direito de Getúlio Vargas em uma minissérie. Antes de encarar a atuação como profissão, porém, Antonio Viana Gomes já tinha dado muito assunto para a opinião pública em situações bem diferentes.

lenços extravagantes, sapato plataforma e calça boca de sino: Tony acompanhava elis Regina na canção Black is Beatiful, no Festival Internacional da Canção de 1971. quando a frase “eu quero um homem de cor” soou no estádio do maracanãzinho lotado, ele deixou o protocolo: levantou o braço com o punho fechado, assim como faziam os panteras negras americanos. “Saí de lá algemado”, lembra. O engajamento do artista pela causa lhe custaria a saída do País, em tempos de ditadura militar. Já conhecia o exterior: tinha sido lá que tomara consciência do movimento.

Paraquedista da turma de Silvio Santos no exército, Tony chegou até a servir ao Brasil no egito. mas a viagem que mais marcou sua vida foi quando desistiu de tudo para arriscar a sorte nos estados unidos. Ao voltar para o Rio de Janeiro com um enorme cabelo black power e sotaque nova-iorquino do Harlem, não agradou em nada os militares que haviam tomado o poder quatro anos antes.

Além da dança à la James Brown que o apelidou, no bairro negro de Nova Iorque Tony tinha aprendido também a lutar contra a discriminação racial. Jogou-se na carreira de cantor entoando versos como Sou negro e ninguém vai rir de mim e Quando duas mãos se encontram / Jogam no chão a sombra da mesma cor. entre vários suingues de soul abrasileirado e letras políticas, teve o compacto Deus Negro censurado. Você teria por ele esse mesmo amor/ Se Jesus fosse um homem de cor?, indagava a faixa.

enquanto fingia ser uma atração estrangeira em boates cariocas, Tony não incomodava muito. O problema foi quando o articulador do movimento musical Black Rio venceu um Festival Internacional da Canção em escala nacional de televisão, ao interpretar BR-3, em 1970. Ter um caso amoroso com uma apresentadora branca também não ajudava a salvar sua ficha. Inventaram até que a dramática BR-3 fazia apologia ao uso de cocaína.

“Paguei muito caro por comandar o movimento Black Rio. Acharam que estávamos incitando o racismo e me chamavam de crioulo comunista”, comenta ele. Os militares temiam que na agitação cultural de música black nascesse uma espécie de panteras negras tupiniquim.

No fim, Tony precisou viver anos exilado no uruguai, na Tchecoslováquia e em Cuba. mas quando avalia o período, só guarda orgulho: “O saldo do movimento black foi acima do que estávamos esperando”. Sobre o exílio, também não tem mágoas: “Não tem problema, não, dom. Voltei mais brasileiro que nunca”.

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Tony Tornado pagou caro por defender sua cor 21/3

dia para eliminação da

discriminação

racial

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No site do AlmANAque, confira músicas de Tony Tornado dos anos 1970.

São Constantino

Rei de uma região onde hoje é a escócia,

cometeu uma série de pecados, inclusive assassinatos, em

nome do poder. mais tarde arrependeu-se dos atos e decidiu seguir o caminho de Deus. Renunciou ao trono e se isolou em um mosteiro durante sete anos. Ao voltar a sua terra, já era

um homem simples e espiritualizado, dedicado a evangelizar a população.

Quem são esses brasileiros?Também conhecida como Classe C, a Nova Classe Média Brasileira (NCM), representada por famílias com renda domiciliar média de R$ 2.374,00, dita as atuais regras do mercado brasileiro. Se há 10 anos era considerada um nicho, hoje abrange 53,9% dos brasileiros. Estamos falando de quase 100 milhões de pessoas que juntas respondem por mais de R$ 1 trilhão do poder de compra no País. A NCM é, sem dúvida nenhuma, a engrenagem de consumo no Brasil.

Como chegaram lá?Com a melhora do quadro econômico do País e, principalmente, com o fim da hiperinflação, os integrantes da NCM conquistaram enfim a estabilidade na carreira profissional. Tendo acesso a empregos formais, obtiveram o direito de usufruir de linhas de crédito, o que lhes permitiu a realização de boa parte dos sonhos de consumo. Agora, além de adquirir eletrodomésticos e móveis, a Nova Classe Média Brasileira viaja de avião, planeja a compra de imóveis e faz planos para o futuro.

Quais espaços ocuparam?A Nova Classe Média Brasileira está presente em diversos espaços de consumo. Os seus integrantes acessaram lugares onde nunca haviam imaginado estar. Por exemplo, a NCM é maioria entre os consumidores do País que faz refeições fora de casa. Também conquistaram o poder para, além de adquirir bens de consumo, pagar por serviços diversos. Algo que faz desse pessoal presença constante nos shopping centers, cinemas, aeroportos, cruzeiros marítimos e universidades.

Rua Haddock Lobo, 337 – 3º andar - Cerqueira CésarSão Paulo - SP CEP 01414-001 • Tel: (11) 3218-2222 e-mail: [email protected] • Twitter: @DataPopularRM

Quer saber mais? Ligue pra gente:

De onde são? Estão espalhados por todo País, mas, ao contrário do que a grande maioria pensa, não estão concentrados na região Nordeste, que na verdade é um reduto da Classe D. A Nova Classe Média Brasileira tem maior presença proporcional em relação às demais classes na região Sul do país.

Curiosidades• Florianópolis é a capital mais Classe C do Brasil. • Sete em cada dez cartões estão nas mãos da NCM ou das classes D e E.• Metade dos veículos novos é vendida para pessoas das classes C, D e E.

Renato Meirelles Sócio diretor do Data Popular

Olá, leitor de Almanaque Brasil.Você que já está acostumado aos

diversificados assuntos trazidos mensalmente por esta publicação, terá neste e nos próximos meses um espaço exclusivo para nós, do Data Popular, revelarmos as curiosidades da Nova Classe Média Brasileira (NCM).

Além de temas relacionados à cultura popular,

Nova Classe Média é o retrato do Brasil de verdade

de pessoas que acessaram definitivamente o mercado consumidor no País, traremos resultados de recentes pesquisas desenvolvidas por nossa equipe de especialistas.

Qualquer dúvida sobre os assuntos que aqui serão abordados ou querendo conversar com a gente, não hesite em entrar em contato, por e-mail, telefone ou redes sociais.

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Março 2012

Em 2002, o escritório de Ruy Ohtake recebeu um telefonema inesperado. Do outro lado da linha estava um representante da associação de moradores de Heliópolis, uma das áreas mais carentes

de São Paulo. O homem o convidava para ajudar a bolar alguns projetos para a comunidade, principalmente voltados às crianças e adolescentes. Assim o aclamado arquiteto se envolveu em

uma grande empreitada pela identidade da comunidade. “A arquitetura pode contribuir para uma cidade mais igualitária”, aprendeu na prática. Os projetos desenvolvidos em Heliópolis são um

dos grandes orgulhos de Ruy Ohtake, que se notabilizou por construções como o Hotel Unique e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, ou a embaixada brasileira em Tóquio. Filho da artista plástica Tomie Ohtake e admirador de Oscar Niemeyer, desde os anos 1960 “o mais carioca dos

arquitetos paulistas” aposta na extravagância de cores e curvas. Defende: “Quem tem medo de ousar nunca será de vanguarda. O desafio da arte é romper com o senso comum e abrir novos caminhos”.

Ruy sabe que as obras de hoje formarão a arquitetura do nosso tempo. “Por isso trabalho acreditando na estética, buscando inovação, sensação, emoção. E acreditando no Brasil”, completa.

Ruy Ohtake

Por Bruno hoffmannÉD

I PER

EIRA

A arquitetura tem que provocar emoção

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www.almanaquebrasil.com.br

Sua mãe tinha um ateliê dentro de casa. Isso influenciou sua forma de ver e fazer arquitetura? Influenciou, sim. É uma das razões para tanto eu quanto meu irmão sermos arquitetos. Não porque ela tenha dito para cursarmos arquitetura. Nunca to-cou no assunto. Foi uma decisão nossa, mas o ambiente de pintura ajudou. Outra influência dela, que entendi bem de-pois de formado, foi acreditar na intuição. Ela sempre pin-tou acreditando muito nela, apesar de não dizer. Nós fomos percebendo depois. É muito importante saber desenvolver a intuição, tanto quanto possuir técnica.

Suas obras são ousadas e, por vezes, recebem críticas. Como você lida com isso? A vanguarda sempre foi polêmica. E quem tem medo de polêmica nunca será de vanguarda. Inovar é cami-nhar pelo desconhecido, ir um pouco além do consenso, seja para qual direção for. A intuição diz o caminho que se deve seguir. O desafio da arte é romper com o senso comum e abrir novos caminhos. É algo que fui amadu-recendo em minha vida. Sempre que viajava, o que eu queria ver era a arquitetura recente de cada local. E ficava imaginando uma conversa minha com o autor da obra, tentando adivi-nhar o que ele tinha pensado para projetar da-quela maneira. A estética na arquitetura é muito importante. Pouca gente vai para o Mu-seu Guggenheim, em Bilbao, ou para o Coli-seu, em Roma, simplesmente pela história ou pelas exposições. A beleza das construções é o que atrai.

Qual obra contemporânea mundial mais lhe im-pressiona? O Museu Guggenheim e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói. São obras muito representativas do mundo moderno. Só entrar no MAC já é um passeio. Sobe-se pela rampa e, antes de entrar, se depara com a baía da Guanabara. Os museólogos convencionais diziam que o espaço não serviria para exposi-ções porque a visão da Guanabara seria tão atraente que o público não prestaria atenção nas obras. Eu refutava: “Então que se coloque exposições importantes”.

Sua arquitetura é marcada pelas cores. Por que as obras das nossas cidades, pelo contrário, insistem na neutralidade de bege, cinza e branco? Há uma certa influência europeia de umas décadas pra cá. O Brasil historicamente sempre teve muita cor. Pode pe-gar o exemplo de cidades muito antigas preservadas, como Parati, Ouro Preto ou Salvador. É tudo muito bonito e colori-do. E não uma cor pastel, mas cores fortes. Se é vermelho, é vermelho mesmo. Se é azul, é azul mesmo. É o que chamo de cor de compromisso. O Brasil sempre foi assim, mas, no en-tanto, nos últimos 80 anos tem deixado um pouco de lado essa identidade. Eu insisto na cor desde o princípio da carreira.

Suas obras também são conhecidas pelas curvas. Por que a opção por formas arredondadas? Eu acredito que a arquitetura sempre

tem que provocar emoção. As curvas trazem elementos que provocam sensações diferentes das formas convencionais. No começo da carreira, por causa da opção pelas curvas, eu passei até a ser chamado de “o mais carioca dos arquitetos paulistas”, em referência aos cariocas da época famosos por esse estilo, como o próprio Oscar Niemeyer.

O Niemeyer, então, é importante para a criação do seu estilo? É, sim. Ele é o arquiteto mais significativo não só do Brasil, mas do mun-do. Outro dia disse que ele era o maior do século 20 e ele ficou bravo: “Pô, estamos no século 21 e eu não morri ainda!”. E está trabalhando pra caramba até hoje. Pra mim, o Niemeyer é o bra-sileiro mais ilustre desde a chegada de Cabral. Ao mesmo tempo, é uma pessoa muito simples, não usa palavreados difíceis.

Qual dos seus novos projetos mais te entusiasma? Um dos que mais gosto é o Aquário do Pantanal, em Campo Grande, que deve

ser inaugurado em 2013. Serão 27 tanques com os peixes da região e outros a céu aberto com jacarés, ariranhas e todas as outras espé-cies que não podem viver dentro do aquário. Tudo com uma área acadêmica de pesquisa forte. A intenção é que a biblioteca seja uma referência para universidades brasileiras e es-trangeiras sobre o Pantanal.

Como você se envolveu com os projetos em Heliópolis, em São Paulo? Há 10 anos um representante da associação de moradores me convidou para que eu fosse um dia à comunidade com pro-postas para melhorá-la. Eu não conhecia nin-guém, nunca tinha estado lá. Aceitei. Antes de começar a reunião pedi para caminhar pelas vielas, para sentir melhor as condições do lo-cal. E nesta hora percebi um sentido de comu-nidade muito bonito. Um pedia ajuda ao outro, e sempre tinha alguém para cooperar. No pré-dio onde moro não há esse calor humano. Des-de então uso frequentemente a frase: “Acredi-tar na comunidade é acreditar no Brasil”. É uma pequena síntese de várias reflexões que

faço sobre o tema. E, um passo adiante disso, são essas refle-xões se transformarem em realizações.

No caso de Heliópolis, como as realizações começaram a se concretizar? Eu disse, ao sentar com o pessoal: “Eu toparia fazer trabalhos com vocês, ajudar, e pela primeira e última vez vou usar a pa-lavra ‘ajudar’. Não tem essa de ajudar. Temos que fazer juntos, com responsabilidade de todos”. Eles responderam que era exatamente o que queriam. Apesar de terem questões muito importantes como de água, esgoto, eletricidade, essas reivin-dicações deveriam ser junto ao poder público. O que queriam resolver era uma questão que chamei de Identidade Cultural para Heliópolis. Envolve desde preocupação com crianças e adolescentes, que têm anseio de cultura, livros, percepção ar-tística e identidade, até a solução estética das casas, construí-das de forma totalmente desorganizada.

“Muitos conjuntos habitacionais são feitos dentro de gabinetes, por

pessoas que não conhecem as

comunidades e fazem tudo igual.

Cada lugar é diferente.”

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Março 2012

Com esse projeto, que conclusões pode-se tirar sobre “arquitetura social”? Que é perfeitamente possível fazer projetos equivalentes para qualquer nível social. Não podemos ter preconceito antes de fa-zer o projeto. A arquitetura precisa ter dignidade. Não é porque é mais pobre que se vai fazer de qualquer jeito. Há alguns con-juntos habitacionais que são feitos praticamente dentro de gabinetes, as pessoas não conhecem como deveriam a comu-nidade e fazem tudo igual. Cada comunidade é diferente da outra. Os redondinhos não são apenas um conjunto habita-cional, formam um condomínio. Há um parque no meio onde não passa carro. Quem manda no lugar são as crianças. Cada apartamento do prédio de quatro andares tem dois quartos e o tamanho da sala é comparável às de bairros nobres de São Paulo. Na primeira etapa, iniciada em dezembro, mudaram-se 200 famílias. Até o fim serão 840 famílias. Muitos estão ainda

maravilhados, vêm me falar: “Nunca imaginei morar num lugar assim”. Uma moradora do redondinho me contou que viveu durante 28 anos na beira do córrego, numa casa de ape-nas um cômodo, onde os únicos mó-veis eram fogão, geladeira e beliche. A privada era apenas um buraco no chão, que dava direto para o córrego. É muito bonito ver essa transforma-ção. Está errado fazer projetos de qualquer jeito só porque é para gente mais pobre. Eu fiz os redondinhos em Heliópolis com o mesmo entusiasmo que projetei o (hotel de luxo) Unique. A arquitetura pode contribuir para uma cidade mais igualitária.

O que a arquitetura pode dizer sobre um povo? A arquitetura de uma cidade constrói sua história. A história de uma cidade se faz a cada etapa de obras fortes, bonitas, contemporâneas. E são uma série de obras contemporâneas de cada época que formam o conjunto. Essa identida-de das cidades formam a identidade cul-tural e arquitetônica do País.

Com tantos arquitetos brasileiros, com ideias tão diferentes, é possível criar uma cara nacional na área? A iniciativa dos meus projetos é individual, mas depois de um tempo, do projeto construído, vai haver conjugação com o entorno. Sempre foi dito na ar-quitetura que para bolar um projeto é preciso levar em consi-deração o entorno. Se é bonito, é bom que o novo projeto te-nha alguma relação. Agora, se é mixuruca, não precisa se pre-ocupar com ele, há de fazer o que se tem na cabeça. As obras de hoje formarão o entorno contemporâneo e a arquitetura do nosso tempo. Nós todos temos um pouco essa missão. Tenho feito os trabalhos com muito entusiasmo. Acreditando na es-tética, buscando inovação, sensação, emoção, e acreditando no País. Há muitos desafios, uma série de questões que há de resolver, mas eu confio muito no Brasil.

Diante de tantos problemas, que importância pode ter a cor e a esté-tica de uma casa para a realidade de um lugar carente? A maioria da população de Heliópolis veio de áreas rurais, do interior do Nordeste. E não chegou a viver na cidade em si, apesar de atra-vessá-la para ir ao trabalho. A cor foi o primeiro passo para vi-verem uma relação de morador com a cidade no seu cotidiano. Pedi que eles escolhessem três ruas para serem pintadas. Fo-tografamos 278 casas. Eu poderia decidir tudo no escritório, mas resolvi voltar para Heliópolis e propor uma interação me-lhor, que era de cada morador escolher a cor de sua casa. Eles pensariam na própria casa, eu pensaria no conceito geral. Queria de alguma forma criar plasticamente o conceito de so-lidariedade que vi por lá, e isso foi feito com integração entre as cores. Pouco mais de um mês depois, após a escolha dos moradores, já havia montado um painel cromático. Eles vi-ram a proposta e foi uma festa. Além de proporcionar uma relação saudável com sua cidade, isso começa a desper-tar o olhar para sensibilidades estéti-cas e artísticas. Uma marca de tinta fi-nanciou o projeto e a capacitação de pintores locais. Aos poucos as casas iam se transformando. Nada parecia com a pintura do resto da cidade, pas-saram a parecer muito mais com obras de arte. No meio do trabalho, quatro moradores que inicialmente não quiseram participar mudaram de ideia. As casas ficaram não só mais bo-nitas, como mais saudáveis, pela im-permeabilização.

Que outros planos arquitetônicos, sociais e urbanísticos puderam ajudar a mudar a realidade da comunidade? Construímos uma biblioteca com patrocínio de em-presários e acervo doado, mas com obras de interesse para a comunidade, conforme orientação do crítico literá-rio Antonio Candido. Os bibliotecá-rios também foram formados lá. A bi-blioteca se tornou a semente de um polo educativo e cultural que funcio-na porque a própria comunidade administra aquilo. Uma área que antes só tinha mato se transformou num local com duas creches, uma escola técnica e muitos outros itens de educação e cultura para os moradores. Foram necessárias muitas con-versas com o poder público, principalmente com a prefeitura, mas deu certo. Conseguimos até que uma rua que dividia esse terreno fosse desativada. Criou-se uma comissão extraparti-dária para fazer reuniões periodicamente e orientar os mora-dores a cuidar da gestão. E está indo bastante bem. É a primeira experiência brasileira de gestão da comunidade de uma área des-te porte e nível de educação. Por último, entrei na questão da ha-bitação em si, ao projetar um conjunto de prédios ao lado do cór-rego de Heliópolis, os chamados “redondinhos”, financiados pelo poder público por meio da Caixa Econômica Federal.

Os “redondinhos”, em Heliópolis.

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apresenta:

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Vai um cafezinho?raças a uma paixão o café chegou ao Brasil – e, diferente do que se possa imaginar, foi pela região Norte do País. O sargento-mor Francisco de Mello Palheta, em 1727, despachou-se para Caiena, na Guiana Francesa, com a missão de trazer mudas de Coffea arabica para o nosso Grão Pará. A mulher do

governador se encantou pelo homem e lhe deu umas sementes, clandestinamente.As sementes viraram pomar, que virou cafezal, que rumou para o sul. Invadiu Maranhão,

Bahia, Rio, São Paulo, Paraná, Minas e, bem mais tarde, Espírito Santo e Rondônia. Cem anos depois da chegada ao Pará, atingiu o Vale do Paraíba, em São Paulo; e deu início a novo ciclo econômico. Enfim, existíamos no cenário internacional. “Café do Brasil”, exigiam mundo afora.

Durante o século passado, nossa maior riqueza espalhou-se por vales e montanhas, fundou cidades, ergueu teatros, imponentes palácios e mansões. Rasgou ferrovias, promoveu a industrialização; atraiu imigrantes e intensificou a miscigenação. A classe média se expandiu. O mercado interno cresceu. Devido ao hábito universal do cafezinho, ficamos mais ricos. Abrimos a cabeça para novas ideias, que contaminaram partidos e ativistas políticos, num processo responsável por abolir a escravidão de nosso País e derrubar a monarquia. Hoje somos o maior produtor do mundo e o segundo maior consumidor do grão. Não à toa tantas histórias de almanaque começaram com um cafezinho. Vire a página e veja só.

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Além de potássio, magnésio, ferro, vitamina B3, o café contém o alcalóide cafeína, que nos põe “ligados”. Mas pesquisadores da Universidade Rutgers, dos Estados Unidos, descobriram: uma xícara durante exercícios protege contra câncer de pele.

m 1879, o engenheiro Henrique Dumont decidiu apostar na maior riqueza do momento: assumiu uma fazenda em Ribeirão Preto, nordeste paulista. Em pouco tempo, tocava 5 milhões de pés. Construiu ramal particular da estrada de ferro, cerca de 100 quilômetros, ligando cafezais à estação de embarque. Virou “o rei do café”, mas ficou famoso por causa do filho: Alberto Santos-Dumont. Com apoio do pai, Alberto

ara patrocinar a seleção brasileira de futebol, em 1979 o Instituto Brasileiro do Café (IBC) teve uma solução esperta, já que propagandas na camisa eram proibidas: um singelo raminho de café, logomarca do IBC, passou a fazer parte do distintivo da seleção! Com a planta no peito, uma das melhores seleções da história disputou a Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Garotos-propagandas inesquecíveis: Zico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo…

A primeira refeição do dia é desayuno em espanhol, petit déjeuner em francês, breakfast em inglês. Só para nós mesmo que o grão entra no termo - mesmo que não bebamos café, é café da manhã.

Pai da aviação deve ao pai do caférealizou seu sonho e tornou-se o pai da aviação. Em 1891, Henrique sofreu acidente que o deixou hemiplégico. Viveria só mais um ano. Emancipou o filho e aconselhou: “Vá para Paris; prefiro que não se faça doutor [...] não se esqueça que o futuro do mundo está na mecânica”. E assim, graças à riqueza do café, o brasileiro fez seu primeiro voo com o 14-Bis em 1906.

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Garotos-propaganda de peso

os anos 1960, Pelé e Garrincha já tinham sido garotos-propaganda do IBC. Bem depois, com a carreira já encerrada, Garrincha voltou a assumir o papel. Ao passar uma temporada na Itália, o ex-craque do Botafogo tornou-se uma espécie de “embaixador brasileiro do café” na Europa. Para honrar o contrato, tinha que marcar presença em eventos, nos quais tomava xícaras de café sem parar.

Mais um café, Garrincha?N

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Santo remédio?Em todas as regiões do Brasil, usos nem tão comprovados são feitos com o grão. Tem solução para todos os males. Tentar não custa, não é?• Dor de cabeça Cruzar três folhas de café na testa.• Febre Amarrar na testa duas folhas de café, em cruz.• Soluço Colocar três pingos de café na testa da criança• Cólica Beber a flor do café fervida• Bronquite Beber uma xícara de café com uma colher de manteiga.

JÁ PENSOU NISSO?

Café da manhã, só em português

VOCÊ SABIA?

Contra sono e contra câncer

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o fim dos anos 1920, reinava ainda a política do café com leite, pela qual paulistas e mineiros revezavam-se na presidência da República. Washington Luís, no entanto, indicou outro paulista para lhe suceder, Júlio Prestes. Minas se revoltou, e logo recebeu o apoio do Rio Grande do Sul. Também conquistou outro aliado decisivo: a Paraíba, por meio do governador João Pessoa.

Em 1929, o político enviou um telegrama de protesto ao governo federal. Negava qualquer apoio à candidatura de Prestes. Não foi usada exatamente a expressão “nego”, mas a palavra ficou como um símbolo do acontecimento. João Pessoa morreu naquele ano. Em clima de comoção, a capital foi rebatizada com seu nome. E seus seguidores decidiram registrar o episódio na bandeira do Estado. O verbo “nego” entrou como um símbolo da rebeldia paraibana contra a política do Café com Leite. E, nas cores da bandeira, pintaram o vermelho de sangue e o preto de luto.

o coração de Santos, no litoral de São Paulo, o café tem um palácio inteiro. Hoje Museu do Café, o imponente edifício tombado pelo Iphan em 2009 foi inaugurado em 1922 com uma curiosa função: Bolsa Oficial do Café. O produto era tão fundamental para a economia brasileira, na época, que os barões dos cafés se reuniam no local como executivos do mercado financeiro frequentam a Bovespa, por exemplo.

oi entre xícaras que abolicionistas e republicanos discutiram nossos destinos; intelectuais planejaram movimentos como a Semana de Arte Moderna. De inspirador, o café vira inspiração para músicos, poetas. Gênios como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari o tomaram como motivo. E, entre goles de café, continuamos a trocar ideias, travar relações, ler, criar, trabalhar.

De abolicionistas a modernistas: um café por uma ideia

Um prédio todo para o grão

O café com leite que mudou a bandeira da Paraíba

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O JORNALISTA paulista Cassiano Ricardo resumiu o sabor: “Sinto o gosto, o aroma, o

sangue quente de São Paulo nesta pequena noite líquida e cheirosa que é a minha xícara de café”.

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Mil Folhas de Café e LaranjaIngredientesMassa1 pacote de massa folhada laminada (300g)2 colheres (de sopa) de manteigaRecheio1 lata de leite condensado1 xícara (de chá) de leite Ninho integral1 colher (de sopa) de Nescafé1 colher (de sopa) de amido de milho1 colher (de chá) de raspas da casca de laranja

Modo de preparoMassa:Em uma superfície limpa, abra a massa e pincele com a manteiga. Corte-a em quadrados (5 cm x 5 cm) e coloque-os em uma assadeira. Leve ao forno médio (180ºC), preaquecido, por cerca de 15 minutos ou até ficarem dourados. Retire do forno e reserve.

Recheio:Em uma panela, misture o leite condençado com o Leite Ninho, o Nescafé, o amido de milho e as raspas da casca de laranja. Leve ao fogo médio e cozinhe por cerca de 2 minutos, mexendo sempre, após iniciar fervura. Deixe esfriar e coloque o recheio em um saco de confeitar com bico de pitanga. Recheie os quadrados de massa, alternando com o creme. Decore com raspas da casca de laranja.

RECEITA

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da primeira vitória, convenceria os jogadores a não se preocupar com superstições? A camisa canarinho havia trazido sucesso; a branca, por outro lado, simbolizava a frustração da Copa perdida em casa oito anos antes. Ao fechar os olhos e rezar, viu a salvação. Disse aos jogadores que jogariam de azul, protegidos pela cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.

Em time que contava com Pelé, Garrincha e Didi, prova-velmente não se deve ao azul a vitória inédita. Mas o jogo de cintura, a direção sensata e o profissionalismo de Paulo Machado foram decisivos. Pela primeira vez uma delegação contava com médico, psicólogo e massagista – o principal papel do massagista Mario Américo, entretanto, foi bordar os números no improvisado uniforme azul e, por ordem de Paulo, roubar a bola da final.

Unir paixão à visão administrativa era o grande mérito do dirigente paulistano. Foi por esse motivo que João Havelange o convidou para a missão: “Paulo, preciso de uma seleção campeã, que faça o povo esquecer a de 1950. Por isso o quero como chefe”.

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erto dos 90 anos, Paulo Machado de Carvalho passava o tempo ouvindo notícias de esportes na rádio Jovem Pan, assistindo a partidas de futebol na televisão e

recebendo visitas. Se o papo fosse bom, o visitante acabava levando um presente de seu pequeno museu particular, que abrigava itens como medalhas da seleção brasileira, troféus dos áureos tempos como dirigente do São Paulo ou cente-nas de fotos históricas de artistas. Em 7 de março de 1992, quando o empresário morreu, restavam apenas as duas pe-ças mais queridas: o mítico terno marrom que vestiu no comando de todos os jogos do escrete canarinho e a bola usada na conquista da Copa do Mundo de 1958, que o sagrou “marechal da vitória”.

No quarto do hotel que recebera a seleção naquela Copa, o chefe da delegação brasileira quase se desesperava. Não acreditava na descortesia dos suecos, que, mesmo jogando em casa, exigiam sorteio para ver quem ficaria com a camisa amarela – cor dos dois times. Como ele, que só usava nos jogos o mesmo terno

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PAULO MACHADO DE CARVALHO

Nascido em uma tradicional família paulistana, ele largou a advocacia e mudou a história do rádio, da tevê e do futebol brasileiros. Ao trazer a primeira taça mundial da seleção canarinho, em 1958, consagrou-se “marechal da vitória”.

De bacharel a marechal Por Natália Pesciotta

O melhor produto do Brasil é o brasileiroCÂMARA CASCUDO

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Março 2012

Apagando fogoAo decidir aventurar-se na televisão, Paulo Machado armou-se de superstições. Garantiu presença no canal 7, conseguiu que toda a frota de carros da emissora tivesse o número 7 nas placas e planejou entrar no ar em 7 de setembro de 1953. A Record inovou no sistema de programas ao vivo. Depois, quando houve a proibição de se transmitir jogos em tempo real aos domingos, foi pioneira no caminho artístico. Deu chance a Roberto Carlos e incentivou a concorrência do iê-iê-iê com a bossa nova. Coube a seu filho, Paulinho Machado, abrir caminho para a nova geração de músicos ao criar os festivais de música brasileira.

A emissora fez história, mas é verdade que alguma parte dela se perdeu nos vários incêndios que perseguiram seu fundador. O primeiro deles aconteceu quando estava recém-casado com Maria Luiza – sua companheira e conselheira da vida toda. O fogo consumiu o cartório que havia acabado de comprar. Como não recebeu nada da seguradora, decidiu nunca mais fazer um seguro. Não podia imaginar que suas empresas passariam por mais quatro incêndios.

Quando Paulo Machado de Carvalho morreu, em 1992, a TV Record havia sido vendida a um grupo evangélico. Mas seu nome já tinha entrado na história por revolucionar a gestão das comunicações e do futebol no Brasil. Realizado, o velho marechal teve tempo de fazer um balanço da própria vida em uma entrevista de rádio: “Valeu a pena pela alegria, valeu a pena pelo sofrimento”.

O lateral Djalma Santos disse que, a partir dali, as rela-ções mudaram: “Com o ‘doutor’ Paulo havia diálogo, era possível trocar ideias. Os dirigentes tinham confiança nos jogadores, e nós, neles”. O ex-presidente do São Paulo ainda voltaria a repetir a façanha da seleção quatro anos depois, conquistando o bicampeonato mundial.

Um bacharel fora do ninhoA mãe Brasília, com toda pompa de uma Machado de Oliveira, bem que tentou persuadir o terceiro dos sete filhos a gostar de costumes europeus requintados como os irmãos. Mas, em uma temporada da família na Suíça, o garoto só conseguia detestar a roupa social e o futebol quadrado dos colegas. Apesar de ser perna-de-pau, sentia saudade dos banhos de ducha no bairro do Pacaembu e de assistir no velódromo as partidas do esporte incipiente no Brasil.

Tudo que a quatrocentona família de barões esperava era que o jovem se formasse logo em Direito para poder ser bacharel. Mas, aos 30 anos, ele resolveu gastar seu dinheiro e tempo em uma rádio decadente do centro de São Paulo. Em uma época em que as emissoras não tinham muita serventia, Paulo praticamente inventou a programação do rádio brasileira: programa de ginástica, infantil com Monteiro Lobato, notícias esportivas, linguagem descontraída.

“Não se faz a revolução sem o rádio”, disse o poeta Menotti del Picchia. Para Paulo Machado, cabia a recíproca. A rádio Record deu voz e até trilha para a causa paulista na Revolução de 1932. Com isso, conseguiu lugar de des-taque no dial.

O Marechal da Vitória – Uma história de rádio, TV e futebol, de Tom Cardoso e Roberto Rockmann (A Girafa, 2005).

De bacharel a marechalSob direção do “doutor Paulo”, pela primeira vez uma delegação brasileira contava com médico, psicólogo e massagista – mesmo que uma das funções fosse roubar a bola na final da Copa como amuleto.

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uem quiser comprar uma morada de casas de sobrado com frente para Santa Rita, fale com Joaquina da Silva, que

mora nas mesmas casas.” Este anúncio publicado na Gazeta do Rio de Janeiro em 1808 é histórico. Pode parecer simples, mas essas palavras inauguraram a publicidade brasileira. Desde então, muita coisa mudou. A intenção, porém, permanece a mesma: fazer as pessoas conhecerem determinado produto. E, claro, se interessarem por ele.

Ainda durante o século 19 passou-se a usar anúncios ilustrados. Mas ainda eram peças pouco sofisticadas, sem grandes apelos visuais e de sedução. E boa parte dos comerciantes ainda nem pensava em fazer publicidade. Havia um pensamento de que a necessidade de anunciar um produto era sinônimo de que ele era de má qualidade.

Essa ideia mudou de vez durante as duas primeiras décadas do século 20. Principal-mente quando, em 1914, foi inaugurada em

São Paulo A Eclética, primeira agência de publicidade do País.

De lá para cá, a publicidade passou a ir além de simplesmente ajudar a vender determinado produto. Ela informa, diverte, dita costumes. “Entre propaganda, cultura e sociedade há um elo tão íntimo que, em determinados momentos, fica difícil distin-guir entre as partes”, defende o publicitário Pyr Marcondes, autor de Uma História da Propaganda Brasileira.

Prova disso é que muitas campanhas também embrenharam-se na cultura nacional. Apostamos que você já usou as frases “Não basta ser pai, tem que participar”, “Há gente que gosta de levar vantagem em tudo” ou “Bonita camisa, Fernandinho”. Todas saíram da cabeça de publicitários.

Neste Especial, conheça boas histórias publicitárias de um país que é considerado referência mundial no assunto. É satisfação garantida ou seu desconhecimento de volta.

A alma do

negocioq

De simples anúncios em jornais a campanhas televisivas que viraram

febre, a publicidade influenciou a cultura brasileira – seja com

músicas, personagens ou slogans inesquecíveis. Ela informa, diverte,

dita costumes. E faz a economia girar. Conheça a seguir histórias

publicitárias que entraram para a história.

1“

20

Texto: Bruno Hoffmann Arte: Rodrigo Terra Vargas

21

Março 2012

Até Tom Jobim se dedicou a criar jingles. Um dos mais marcantes foi feito para a linha infantil da Johnson & Johnson, arranjado e cantado pelo próprio Tom. “É uma obra-prima. Um jingle deslum-brante, uma poesia em estado puro”, diz o publicitário Lula Vieira. Em acordes

delicados, a canção começa: Venham todos, meus amigos / Vamos todos festejar / O neném mais bonitinho que acaba de chegar / É bem-vinda se é Maria / É bem-vindo se é João / Tenho todo o meu amor, meu carinho / Na palma da minha mão.

O neném mais bonitinho

que acaba de chegar

Os lança-perfumes só foram proibidos no Brasil em 1965. Antes, corriam soltos nos bailes carnavalescos. Havia até concorrência entre as marcas, como se pode ver nas imagens acima.

Em ConvErsa dE BotEquim,

feita em parceria com Vadico, Noel Rosa soltava a voz: Telefone ao

menos uma vez / Para três, quatro, quatro, três, três, três. O sucesso do samba foi tanto que a empresa

de telefone do Rio registrou o número 344333 para ser usado em

publicidades da companhia.

Para alavancar o faturamento do Programa Casé, o locutor, compositor e desenhista Antônio Nássara tentou convencer, em

1932, o dono de uma padaria a anunciar na atração. Mas nada de o empresário ceder. Teve então a ideia de propor um anúncio

gratuito. Apenas se desse resultado positivo assinariam o contrato. Para bolar

algo diferente e agradar o português, resolveu compor uma canção em ritmo de fado. E assim nascia o primeiro jingle

da história do Brasil: Ó padeiro desta rua / Tenha sempre na lembrança / Não me traga outro pão / Que não seja o pão Bragança. A padaria Bragança tornou-se

a mais famosa do Rio, e o dono, antes receoso, assinou contrato por um ano.

Ó padeiro desta rua

A primeirA AgenciA de publicidAde do brAsil nasceu em São Paulo. A Eclética, criada em 1914, abriu caminho para a profissionalização na publicidade nacional. Até os poetas Menotti del Picchia e Guilherme de Almeida criaram textos para os anúncios da nova agência.

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www.almanaquebrasil.com.br

Tocar na banda, pra ganhar o quê? / Duas mariola e um cigarro Yolanda, cantava Adoniran Barbosa em Tocar Na Banda. Os cigarros Yolanda foram dos mais ven-didos a partir dos anos 1920. O dono da marca inspirou-se na modelo Yolanda D’Alencar para lançar o produto. A emba-

lagem trazia uma sensual imagem da mu-lher seminua. Era normal que um sujeito chegasse no botequim e pedisse: “Quero a loira infernal”. Na década de 1940, o corpo inteiro da modelo foi substituído pelo rosto de uma loira anônima. E as vendas despencaram.

Uma das marcas mais conhecidas do Brasil é a 51. Mas de onde surgiu o nome da cachaça? Uma versão põe o Palmeiras na história. Em 1951, a equipe paulista conquistou a Taça Rio, uma espécie de mundial interclubes. Um grupo de torce-dores alviverdes lançou logo em seguida a caninha Palmeiras 51 em homenagem ao título. Pouco depois a Indústrias Müller teria comprado a destilaria, mas mantido a marca. Agora sem o “Palmeiras”, para agradar a todas as torcidas. Só em 1978 seria lançado o slogan “uma boa ideia”.

Loira infernaL aLavancou a venda de cigarro

pAlmeirenses se d izem donos de umA boA ideiA

Até o começo dos anos 1980, era proibido que clubes de futebol brasileiros estam-passem marcas publicitárias em seus uniformes. O Flamengo, campeão mun-dial de 1981, por exemplo, foi obrigado a recusar uma proposta de 1,2 milhão de dólares da Toyota para estampar sua marca na camisa rubro-negra. A regra caiu logo em seguida. E os clubes entraram em campo com essas marcas em seus mantos sagrados:Corinthians - Bom Bril (1983) Flamengo - Lubrax (1984) Palmeiras - Aveia Quaker (1984) Grêmio - Coca-Cola (1987).Detalhe: o logotipo da marca de refrige-rantes na camisa do Grêmio foi impresso sem o tradicional vermelho da corporação, cor do rival Internacional.

Os mantOs sagradOs

ganharam nOvOs símbOlOs

as primEiras transmissõEs da tEvê BrasilEira

eram todas ao vivo. Inclusive os comerciais. A TV Tupi resolveu então contratar belas moças para anunciar os produtos – as primeiras garotas-propaganda de que se tem notícia. A

mais famosa delas foi Neide Aparecida. O público ficava na expectativa para a moça olhar para a câmera, abrir um

sorriso sensual e falar, pausadamente, o nome do patrocinador: “To... Ne... Lux!”.

Pelé já estrelou comerciais de cartões de crédito, medicamentos, refrigerantes, videogames, loterias

e de uma infinidade de outros produtos. Só dois tipos de propaganda

o Rei do Futebol se negou a fazer: bebidas alcoólicas e cigarros. E não apenas depois de se tornar

milionário. Em 1958, uma marca de cachaça ofereceu um bom dinheiro para que o jovem craque batizasse uma nova cachaça como Caninha

Pelé. Seu pai, Dondinho, estava quase fechando o negócio quando

o garoto de 17 anos ponderou: “Pai, propaganda de pinga não pega bem”.

E o negócio foi desfeito.

PEL… NÃO QUIS SABER DE VIRAR NOME DE CACHA« A

PEL… NÃO QUIS SABER DE VIRAR NOME DE CACHA« A

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Março 2012

O Mug da Sorte era um boneco de uns 20 centímetros que foi sensação entre as celebridades dos anos 1960. Criado para aumentar as vendas de uma marca de roupas de São Paulo, tinha garotos-propaganda como Wilson Simonal, Hebe Camargo, Mauricio de Sousa e Chico Buarque. O compositor de A Banda – que desde então se nega a fazer propagandas – costumava subir aos palcos em suas apresentações com

o boneco embaixo do braço. Uma das passa-gens mais inusitadas, que soa até como golpe publicitário, foi quando um jornal anunciou o arrombamento do carro do compositor. Os marginais teriam levado “o boneco, um casaco azul e alguns rascunhos de música”. Chico só se lamentou pelo Mug: “Não sou supersticioso, mas não se pode desprezar essas mensagens. Me afeiçoei ao boneco e o trazia sempre junto ao pára-brisa”.

CarlOs mOrenO, O garOtO bOm bril, está no livro dos recordes como o garoto-propaganda que mais vezes gravou comerciais para a mesma empresa. Desde 1978, protagonizou mais de 340 comerciais para a marca que inicialmente era apenas de uma esponja de aço.

Não deixe de conferir os nossos produtos polit icAmente incorretos

Mug da Sorte foi SenSação entre aS celebridadeS

chocoLates Pan A partir de 1952, a Pan passou a trazer em uma de suas linhas de chocolates a imagem de um garoto com um chocolate em forma de cigarro na mão, como se estivesse fumando. Por motivos óbvios, o garoto parou de dar umas “tragadas” em 1996. Passou então a usar a mão direita para fazer um simpático sinal de positivo. Hoje, esse produto da Pan é chamado de Chocolápis. Loterias PauLista Ao contrário do que a indústria da moda propaga atualmente, há algumas décadas ser gordinho era sinal de distinção social. Significava que o sujeito tinha dinheiro para se alimentar bem. Era exatamente a ideia deste anúncio da Loteria Paulista de 1945, na qual dois orgulhosos rechonchudos indicam a dois magrinhos que os dias de bonança também chegarão a eles. Bastaria apostar na Loteria Paulista. fusca Neste anúncio da década de 1960, a Volkswagen levou ao extremo o ditado preconceituoso: “Mulher ao volante, perigo constante”. Na peça, a montadora de automóveis exalta o baixo preço das peças do Fusca, afinal, “mais cedo ou mais tarde sua esposa vai dirigir”. viLa rica Em 1976, o meio-campista Gérson apareceu na tevê para alardear as vantagens do cigarro Vila Rica, então um dos mais baratos do mercado. Ele disse então a famosa frase: “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”. A expressão passou a ser usada em situações em que alguém levava vantagem indevida sobre outra pessoa, conhecida como A Lei de Gérson. Tanto o jogador quanto o publicitário se arrependerem da repercussão negativa do comercial. Foi produzido outro logo em seguida, no qual o locutor anunciava: “Levar vantagem não é passar ninguém para trás, é chegar na frente”. Mas este caiu logo no esquecimento.

SAIBA MAIS No site do ALMANAQUE, assista

a vídeos de campanhas e personagens citados neste Especial.

www.almanaquebrasil.com.br

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Malê (independente). “Neste trabalho, resumimos a influência e aprendizado que o Centro Oeste nos revelou. ”É como o percussionista Alexandre Lemos e a pifeira Maíra Ribeiro apresentam o emocionante CD. A dupla recria instrumentalmente o clima da mato-grossense Vale do Araguaia, onde ambos estão desde 2009 para entender os sons dos pássaros, das águas e dos povos indígenas do lugar.

Bixiga 70 (independente). A big band paulistana junta jazz, funk e afrobeat para lançar seu primeiro disco. O grupo se inspira no mítico músico nigeriano Fela Kuti para produzir um som surpreendente, ao ritmo de percussão, metais, guitarras e instrumentos de sopro. Todas as músicas são da própria banda, com exceção de Desengano da Vista, de Pedro Santos.

Brasileiros de coração - programa 35• Holandeses em São Paulo, judeus na Amazônia, ciganos na Paraíba. Só podiam ser Coisas Nossas.• Ilustre Brasileiro: Carybé, o argentino que retratou a Bahia como ninguém.• No Papo-Cabeça, Olivier Anquier, o francês que botou tempero na comida brasileira.• E, no Você Sabia?, a inusitada amizade entre um embaixador suíço e seus sequestradores brasileiros.

TV Brasil: 9/3, 20h TV Cultura: 18/3, 14h30

Ouro de Minas - programa 33• João Bosco é o convidado especial do Cantos do Brasil.• No Papo-Cabeça, o educador Tião Rocha conta suas aventuras educacionais no Jequitinhonha.• Lá de Minas vem também muito fuxico... Estamos falando de artesanato, sô!• E muitas singularidades no mapa: os mais inusitados municípios brasileiros.

Rio de encantos mil - programa 34• Vem do Rio a entrevistada do programa, a primeira-dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro.• Com sua voz rouca, Mart’nália traz samba e prosa para o Cantos do Brasil. • Ronald Biggs, o assaltante inglês que encantou a Cidade Maravilhosa foi parar no Você Sabia?.• E, no Como É que se Faz?, o caminho da prancha de surfe antes de pegar as ondas cariocas.

TV Brasil: 16/3, 20h TV Cultura: 25/3, 14h30

TV Brasil: 23/3, 20h TV Cultura: 1/4, 14h30

TV Brasil: 30/3, 20h TV Cultura: 8/4, 14h30

AlmAnAque nA estrAdA

Prepare-se: neste mês, cada vez que o caro leitor sintonizar a TV Brasil às sextas-feiras

ou a TV Cultura aos domingos, poderá calibrar o nível de brasilidade em um lugar

diferente. Luciana Mello e o incansável Almanaquias, personagem de Robson Nunes,

apresentam curiosidades, talentos e artes de vários estados do País. Pernambuco,

Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará estão no roteiro de março. Antes de começar a

viagem, confira aqui um pouco do que te espera nesses lugares. E não se esqueça de

acompanhar as novidades do ALMANAquE pelo Twitter (@almanaquebrasil)

e pelo Facebook (página do Almanaque Brasil). Venha com a gente!

Explicadores do Brasil - programa 30• Recordes e estatísticas curiosas que só o Brasil conquistou povoam este programa.• Cerâmica marajoara é só no Pará. Então fomos até lá descobrir Como É que se Faz?.• Brasileiro sabe de futebol? No Ciência Doméstica, vamos revelar se somos mesmo 190 milhões de especialistas.• E no quadro É do Baú, a lembrança nostálgica e apimentada das chacretes.

www.almanaquebrasil.com.br

TV Brasil: 24/2, 20h TV Cultura: 4/3, 14h30

Design + Artesanato: O caminho brasileiro, de Adélia Borges (Terceiro Nome). Como aproveitar todo o potencial da produção artesanal do País? O livro ilustrado com belas imagens e exemplos mostra o encontro de designers e artesãos como alternativa possível. No mapeamento abrangente, objetos impregnados de afeto, memória e cultura ganham o destaque merecido – tanto no cenário artístico quanto no contexto social e econômico.

Massafeira 30 anos, organizado por Ednardo (Aura). Cabelos desgrenhados e energia para arriscar o novo. Um movimento de cearenses como Ednardo, Fagner e Belchior deu contribuição inovadora para a cultura brasileira a partir de uma feira em Fortaleza, nos anos 1970. O livro guarda a memória do evento em fotos, cartazes, lembranças e análises dos participantes. Na capa, a imagem-manifesto que chegou a estampar capa de disco: chifres de um carneiro desenham o símbolo do infinito.

Com o Pará ninguém pode - programa 32• Pinduca, o rei do carimbó, traz lambada, chego-chego e sirimbó para o Cantos do Brasil.• No Papo-Cabeça, uma entrevista com o médico Eugênio Scannavino, que vem transformando a realidade de ribeirinhos em Santarém.• No Coisas Nossas, o poder das plantas populares, com destaque para as ervas do mercado Ver-o-Peso.• E, no Ciência Doméstica, técnicas para domar a mandioca-brava.

Para se certificar das datas e horários de exibição, consulte o site das emissoras:

www.tvbrasil.org.br e www.tvcultura.com.br.

A Revista de Cinema parabeniza o escritório Cesnik, Quintino & Salinas Advogados, seu parceiro desde 2003, pelo reconhecimento como líder na área de mídia e entretenimento no Brasil pelo Chambers and Partners, principal guia internacional de advocacia.

“Muito além de conselhos legais, eles têm uma visão estratégica dos negócios.”

Chambers Latin America

Há 8 anoscom os líderes

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Pala

vras

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zada

sO Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Em um julgamento em Bagdá, o sagaz mercador Sanadique foi condenado por contrabandear mercadorias. No entanto, antes que fosse proferida a sentença, o rei intercedeu, propondo que, caso provasse a sua inteligência, Sanadique poderia cumprir a pena prestando serviços à coroa. Um sábio foi chamado para testar o mercador com um desafio. Começou a indagação: “Meu caro, diga-me

uma afirmação sobre seu destino ao sair daqui. Se for verdade, irás para a prisão. Se for mentira, irás para a forca”. Confirmando sua esperteza, Sanadique fez uma afirmação que deixou a profecia do sábio sem saída. E assim mostrou que sua inteligência poderia ter serventia ao reino. Mas o que teria dito Sanadique para livrar-se da morte ou da prisão?

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Respostas

CARTA ENIGMÁTICA O mineiro era tido como o melhor ator dos trapalhões (Zacarias).

ENIGMA FIGURADO Tom Cavalcante. O QUE É O QUE É? Estação.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1d (Jangada); 2c (Encouraçado Minas Gerais); 3b (Paratii); 4a (Nau Príncipe Real).

BRASILIÔMETRO 1b; 2a; 3a; 4a; 5c; 6b; 7c; 8c.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Para escapar, Sanadique proferiu a seguinte frase: “Eu irei para a forca”. Se sua sentença fosse mesmo essa – e a afirmação, portanto, fosse verdadeira –, teria que ir para a prisão, tornando a afirmação falsa. E, caso sua sentença fosse a prisão, deveria ser levado à forca, tornando a afirmação verdadeira. Desse modo, Sanadique escapou da armadilha do sábio, sendo por fim condenado a prestar serviços ao reino.

Hebe Camargo

DE QUEM SÃOESTES OLHOS? 3 4

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56

7

8Conte um ponto por resposta certa

valiação

teste o nível de sua brasilidade

1

2

3

4

ligue os pontos

cH

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di

a Participou de missões militares e, no fim, serviu de depósito. A maior glória foi trazer da Europa ao Rio de Janeiro uma importante família, em 1808.

b Tem o nome da cidade brasileira de onde saiu rumo a uma aventura de dois anos entre polo Sul e polo Norte. O barco levava o navegador Amyr Klink.

c Palco da maior revolta brasileira em oceano, a embarcação era considerada moderníssima quando levou o almirante negro João Cândido.

d O barco tipicamente brasileiro, tão citado no repertório de Dorival Caymmi, foi usado por um líder cearense apelidado Dragão do Mar.

Nome de Zico, jogador nascido em 3/3/1953:(a) Luís (b) Arthur (c) José (d) Zildo

A Macha da Família com Deus pela Liberdade de 19/3/1964, em São Paulo, exigia:(a) Renúncia do presidente (b) Novo papa (c) Catequese obrigatória (d) Show do padre Marcelo

Estado onde aconteceu a Guerra dos Farrapos, que terminou em 1°/3/1845:(a) Rio Grande do Sul (b) São Paulo (c) Bahia (d) Pernambuco

Toada folclórica gravada em 3/3/1947, que ganharia centenas de versões:(a) Asa Branca (b) Baião (c) Assum Preto (d) Cai, Cai, Balão

Ação do plano Collor, de 16/4/1990:(a) Adoção do real (b) Congelamento de preços (c) Confisco de poupanças (d) Cassação de marajás

Nome oficial do sambódromo Marquês de Sapucaí, inaugurada em 2/3/1984:(a) Oscar Niemeyer (b) Darcy Ribeiro (c) Leonel Brizola (d) Joãosinho Trinta

Presidente eleito pela segunda vez em 1°/3/1918, morreu antes de tomar posse:(a) Prudente de Morais (b) Artur Bernardes (c) Rodrigues Alves (d) Tancredo Neves

Duração da primeira viagem de automóvel do Rio de Janeiro a São Paulo, em 6/3/1907:(a) 8 horas (b) 26 horas (c) 33 dias (d) três meses

ilustrações: luciano tasso

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www.lucianotasso.blogspot.com

Brasileiro inventou o rádio, italiano levou a fama

A figura que criou a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio

de Janeiro, foi tão importante que seu aniversário virou Dia do Rádio: 25

de setembro. Ele era médico e lutou para que o meio de comunicação não

servisse apenas para ações militares, mas também para a educação e cultura.

Um contrarregra,dois contrarregras,três contrarregras.

Trav

a-Língua

pa

ra ler e repetir em v

oz al

ta

É fácil descobrir o nome dele: basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente do texto lá

de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 1: R. E assim por diante.

m italiano chamado Guglielmo Marconi entrou para a história como o inventor do rádio. Mas fique sabendo: quem teve a ideia primeiro mesmo

foi um padre brasileiro. O gaúcho Landell de Moura transmitiu sua própria voz de um lugar para o outro de São Paulo dois anos antes, em 1891. Na época em que

ele fazia experimentos, o coitado não era levado muito a sério: o chamavam de maluco e até de bruxo. Tempos depois, o rádio mudou a vida das pessoas. As casas passaram a ter até um cômodo novo: na copa, as famílias ouviam notícias, músicas e novelas. Nada de Faustão ou Luciano Huck. Por muito tempo, os apresentadores mais conhecidos de programas de auditório sonoros foram Ademar Casé e Ari Barroso, entre outros. Se hoje é bastante um canal de tevê passar três ou quatro novelas diariamente, acredite que no ano de 1945 a Rádio Nacional chegou a transmitir 14 radionovelas por dia!Quando os lares começaram a ter aparelhos de televisão, alguém disse: “Em 10 anos,

não existirá mais o rádio”. Errado! Só de 2000 a 2010, o número de emissoras FM dobrou. São cerca de 2.600 no País, e isso sem contar as rádios da internet...

U

SOLuçÃO NA P. 26

104 921 133 75 7 27 5

Tem no trem,

tem no ano

e tem no radio?

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Com o rádio, finalmente era possível acompanhar partidas de futebol em tempo real sem ir ao estádio. Imagine que o primeiro repórter a transmitir uma partida em 1931 não tinha auxílio de comentarista, anúncios ou sonoplastia. Nicolau Tuma ficou conhecido como “speaker metralhadora”, de tão rápido que narrava: 250 palavras por minuto! Isso quer dizer que, nessa velocidade, ele leria todas as palavras do dicionário em menos de 11 horas. Esta página inteirinha, por exemplo, seria lida em menos de três minutos. Quer tentar?

Já Pensou nisso?Foi Nicolau Tuma quem inventou as palavras em português para as posições dos jogadores: goleiro para keeper, beque para back e assim por diante. Depois, cada narrador deu seu toque para as transmissões. Ninguém esquece, por exemplo, do “ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha” de Osmar Santos. Antes de Rebello Júnior, “o homem do gol inconfundível”, nem existia o gooooooool comprido de hoje. Ari Barroso tocava uma gaita sempre que um time marcava. Uma vez o “speaker gaitinha” foi proibido de entrar no estádio do Vasco. Não teve dúvida: acompanhou o jogo pelo telhado do vizinho!

Futebol do telhado

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Há quase cinco séculos, o Pateo do Collegio, como se lê nos documentos históricos de 1554, é o coração pulsante de

São Paulo. Em sua singeleza, ele reúne marcas de uma longa história e do grande destino desse arraial que virou metrópole.

sta terra, a melhor do mundo!”, exclamou padre Manuel da Nóbrega ao observar o berço de São Paulo. Também

concluiu que não poderia haver nascimento mais adequado do que uma missa rezada diante do primeiro edifício que ali se erguera: um pequeno colégio. “Não sabemos de outra cidade no mundo com origem tão bela”, teria dito o fervoroso sacerdote, unindo a vo-cação missionária à beleza natural das terras recém-descobertas.

Em 1553, Nóbrega, superior dos jesuítas no Brasil, deixou para trás a quentura de Salvador e aportou na vila de São Vicente, muito mais ao sul do litoral. Seu objetivo era escolher um bom local para fundar mais um colégio jesuíta, onde padres educariam a curumin-zada toda. Subiu a Serra do Mar pelas trilhas indígenas e chegou ao Planalto de Piratininga. Ali, topetando o morro, encontrou um extenso campo que os índios denominavam Inhapuambuçu – monte que se vê de longe, em tupi-guarani.

O espaço lhe pareceu ideal: o relevo facilitaria a defesa, com boa visão do entorno; as terras eram férteis para o plantio e a criação de gado; o clima era agradável e semelhante ao de sua já saudosa terrinha portuguesa; e havia também a fartura de água dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, que ficavam bem próximos e poderiam ser utilizados para o deslocamento dos jesuítas. Sem demora, os padres começaram a erguer uma casa de pau-a-pique, paupercula domus, como definiram em latim a humilde construção.

Até essa altura da história, todos parecem concordar. No entanto, a certidão de nascimento de São Paulo tem, a partir daqui, dife-rentes versões. A mais aceita é que o padre Manuel de Paiva teria celebrado a famosa missa no dia 25 de janeiro de 1554, diante da casola, com altar montado no pátio descampado. No arraial, estavam presentes índios das tribos guaianá e tupiniquim, os caciques Tibiriçá e Caiubi, além dos religiosos.

PÁTIO DO COLÉGIO

“E

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O coração de São Paulo

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Março 2012

Essa descrição, de autoria do visconde de Taunay, foi escolhida para ilustrar a renomada pintura de Oscar Pereira da Silva, que hoje decora um dos salões do museu do Ipiranga. O nome São Paulo foi o aclamado pela maioria, pois naquele dia se comemorava a conversão do apóstolo Paulo. Por fim, Paiva abençoou o local onde ergueriam a futura igreja e a terra onde seria plantada a metrópole de São Paulo.

A despeito da variedade de versões que se seguiram, daquele momento restam ainda hoje no Pátio do Colégio algumas paredes de pau-a-pique envolvidas por um museu, além de uma sala de aula e uma capela.

Glória, pão e trabalhoSão Paulo cresceu muito além dos augúrios do mais esperançoso sacerdote. Pensando bem, talvez Paiva tenha derramado uma gamela inteira de água benta naquele pátio. E não é que deu certo? Cresceu por demais da conta! Em pouco tempo, chegariam imigrantes com a força de seu trabalho: portugueses, italianos, alemães, espanhóis, japoneses. Eles foram também uma das nossas maiores riquezas e encantos. “A diversidade étnica de São Paulo reitera a mestiçagem brasileira”, afirmou o escritor manauara Milton Hatoum.

Onde, então, erguer uma obra para homenageá-los que também aludisse aos primeiros tempos da vila de São Paulo de Piratininga? Ora, onde mais senão no coração da cidade! O monumento Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo, erigido diante do Pátio do Colégio, é obra do escultor italiano Amadeu Zani. No topo da coluna de granito, uma figura feminina em bronze representa a cidade. Na mão direita, ela ergue uma tocha, símbolo de amor

Preste atençãoRepare na bela arquitetura dos edifícios que

abraçam o Pátio do Colégio, como o Primeiro Tribunal de Alçada Civil e os prédios de número 148 e 184, que abrigam a Secretaria de Justiça do estado de São Paulo. Todos são projetos do

escritório de Ramos de Azevedo.

eterno. Na outra, um ramo de louros e uma foice, que represen-tam a glória e o trabalho. Em baixo-relevo estão José de Anchieta e a primeira missa.

Os visitantes de hoje, em uma correlação entre passado e pre-sente, podem ler em uma placa a frase: “Aqui foi fundada a cidade de São Paulo”, em 10 diferentes idiomas. Podem ainda ver como eram as paredes de taipa de pilão; observar a primeira e rústi-ca pia batismal; e, o mais gostoso, saborear um pão – batizado de pão do pateo – feito com mandioca e azeite, conforme antiga receita inspirada nas cartas do padre José de Anchieta sobre a alimen-tação dos jesuítas. É desse sacerdote também a frase lapidar sobre a cidade de São Paulo: “As portas que abrirão o futuro do país Brasil”.

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Onde ficarQuality Jardins • Localização privilegiada, ao lado do MASP, cinemas, teatros, shoppings e da estação de metrô Trianon/Masp. Fone: (11) 2182-0400. www.atlanticahotels.com.br.Sofitel São Paulo • Próximo ao parque Ibirapuera, oferece serviços sofisticados, além de completo centro fitness. Fone: (11) 3201-0800. www.sofitel.com.br.

Onde comerCafé do Pateo • Localizado no complexo do Pátio do Colégio, a casa oferece lanches – como Loyola ou Nóbrega – e também almoço completo. Como sobremesa, prove o Taipa de Pilão, goiabada mineira com mousse de queijo. Fone: (11) 3105-6899.Cervejaria São Jorge • Rodeado por uma galeria de fotos com os mais famosos Jorges do mundo, o cliente pode escolher entre grelhados com corte especial ou peixes, acompanhado das cachaças Chiboquinha, Espírito Santo ou a paulistana Birita. Fone: (11) 3107-0123. www.cervejariasaojorge.com.br.

O Pátio do Colégio tem mais

Estando no Pátio do Colégio, é preciso ver as “paulistinhas”, pequenas imagens de barro

com cinco a 25 centímetros de altura, sempre apoiadas em pedestais, que medem um terço do tamanho das figuras. Parte do acervo do Museu Anchieta, elas são consideradas documentos

de uma cultura material desaparecida.

Igreja do Beato José de AnchietaNo interior do templo, há alguns elementos originais, painéis em azulejos de C. Pastro retratando o trabalho dos jesuítas e uma relíquia encontrada na Faculdade de Ciências de Lisboa: o baú com os ossos e o manto que pertenceram ao padre José de Anchieta, enviado de Portugal para o Brasil em 1971.

Biblioteca Padre Antonio VieiraO acervo da biblioteca é especializado na história de São Paulo e da Companhia de Jesus. Na entrada, lê-se uma frase do padre Vieira, registrada em 1652: “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, e não tendo ação em si mesmo, move os ânimos e causa grandes efeitos”.

Projeto OcaNas Oficinas Culturais Anchieta, o projeto dirigido aos jovens ensina arte e cidadania. Busca o desenvolvimento da sensibilidade, ao estimular a criatividade por meio da expressão artística.

Como chegar A TAM oferece voos diários para São Paulo, saindo dos principais aeroportos brasileiros. Confira em www.tam.com.br.

Não deixe de conhecer

Crochê, bordado e motivaçãomantêm Izabel na luta

A história de Izabel e seus companheiros, que lutam dia após dia para amenizar as dificuldades dos pacientes com câncer em Macatuba, faz parte do campo de atuação da Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer. Criada em 2008, a Febec dedica-se a apoiar grupos de voluntários em campanhas de educação, prevenção e detecção precoce da doença, além de contribuir com acessibilidade ao tratamento e assistência social aos pacientes. Você também pode colaborar com essa luta. Saiba mais em www.febec.org.br.

Mencione a Febec ao assinar o Almanaque Brasil. O valor da sua assinatura será revertido

para ações de entidades como o Grupo Linense de Combate ao Câncer e outras 50 ligas de

voluntários associados à Febec em diferentes partes do País.

UMA BATALHA QUE NÃO PERMITE DESCANSO CUSTA POUCO AJUDAR

A COMBATER O CÂNCER NO PAÍS

Aos 36 anos, Izabel Gimenes Daré conheceu a rotina do tratamento de câncer, doença a que o primeiro marido não resistiu. Em 1983, ela não conhecia quimio, radioterapia, nem o hospital Amaral Carvalho – referência estadual no tratamento de câncer e nacional em trans-plante de medula óssea, localizado na vizinha cidade de Jaú. Tampouco existia qualquer tipo de grupo que prestasse ajuda a pacientes.

A comerciante de Macatuba tomou contato com tudo isso muitos anos depois. Já com a vida reconstruída, casada novamente e com quatro filhos, conheceu por meio de amigas da então recém-fundada Associação de Voluntárias de Macatuba, ligada ao Amaral Carvalho. Aos 50 anos, logo estava envolvida.

Passaram-se 15 anos desde então e a associação en-trou definitivamente no cotidiano dela para não sair mais. Há três anos assumiu a direção e não pretende deixar o trabalho tão cedo: “Tenho muito amor pelo

que faço. Enquanto puder, quero continuar”.Com outras 30 voluntárias, acompanha de perto

o tratamento de pacientes com câncer da cidade, por meio de visitas periódicas. Sempre que preciso, forne-cem semanalmente cestas de frutas, legumes, leite e outros complementos alimentares, além de medicamen-tos, fraldas geriátricas, exames e o que mais for preciso.

Para que isso seja possível, a principal fonte de renda é o artesanato que as próprias voluntárias e colabora-dores produzem. Cada uma entra com sua especialidade – as de Isabel sempre foram o crochê e o bordado. Todo mês as peças são sorteadas a um contribuinte consorcia-do. “Deu muito certo tudo isso!”, comemora a coorde-nadora. Além do bordado, ela cuida da parte adminis-trativa do grupo. Engana-se quem pensa que o fato de já ter vivido uma situação próxima à doença a afugente do trabalho. “Me sinto por isso ainda mais motivada a ajudar”, completa Izabel, satisfeita.

FEBEC • Alameda Sarutaiá, 46. São Paulo-SP. CEP: 01403-010.Rua São Sebastião, 105. Jaú-SP. CEP: 17201-000. Fones: (14) 3602-1108 / (14) 3602-1101 • www.febec.org.br

NOTÍCIAS DA FEBECJá é o terceiro ano que Nova América, no interior de São Paulo, participa do Circuito de Leilões Febec em prol do hospital Amaral Carvalho. O evento acontece no dia 18 de março graças a moradores e comércio da região, que doaram animais e outras prendas. “O valor arrecadado para a causa no ano passado superou o de 2010. Este ano esperamos superar a renda de 2011”, diz Maria de Lourdes da Silva, que fundou o grupo Entre Amigos de Nova América. Esse grupo, que trabalha em prol dos pacientes e das causas do combate ao câncer, organiza o leilão com ajuda do coordenador da Febec, Humberto Pavão.

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OLIVA - PARTE 2

SagradaNo oeste catarinense, um engenheiro florestal luta para consolidar e baratear o azeite de oliva

brasileiro. O único óleo vegetal que dispensa processamento é saboroso e saudável. E a árvore

que lhe dá origem figura nas escrituras de inúmeras religiões.

Olea europaea communis, L.

Uma notícia informava que, entre as regiões de cultivo da oliva,

há uma no oeste catarinense, a 580 quilômetros de Florianópolis. Fomos lá, em setembro de 2011.

A oliveira é citada em escrituras sagradas. Chineses lhe atribuem valor de proteção; japoneses, de sucesso. Representa reconciliação com o divino para judeus e cristãos – foi ramo de oliva que uma pomba trouxe a Noé anunciando o fim do dilúvio. Na Grécia, era punido com pena de morte quem cor-tasse uma oliveira.

Monte das Oliveiras remete ao lugar onde Jesus orava e pregava. Ali ele teve o último encontro com os discípulos antes de seu calvário. Dois mil anos depois, a meia hora do centro de Chapecó, deparamos com um “monte das oliveiras” plantado em 2006 pelo engenheiro florestal Dorli Mario Da Croce.

Esse gaúcho deixou os pampas 32 anos atrás e há uma década batalha pelo azeite nacional. Dirige o Projeto de Avaliação de Cultivares de Oliveira, na área da Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão de Santa Catarina. Hoje há 20 hectares plantados no estado, com mudas vindas de Espanha e Portugal.

O olival de Chapecó estende-se na encosta diante de nós, 500 pés carregados de florzinhas brancas, alguns já com azei-

tonas de menos de um milímetro de diâmetro. É emocionante. Se-rão as mesmas espécies do tempo de Cristo? Dorli responde que sim, acrescentando uma curiosidade:

“E as do tempo de Cristo ainda estão lá. Eu vi na Itália oliveira de

mais de mil anos”.O engenheiro florestal diz que lá

não há casa que se preze que não tenha uma oliveira. Existe um trator, com lâ-mina gigante em forma de meia-lua, que corta a terra por baixo da árvore, e a tira do chão com raiz e tudo. “Você tem um jardim de mil anos da noite

para o dia.” Dorli mostra fotos que tirou em Verona,

terra de Romeu e Julieta, de um viveiro com olivas de 150 a 1.000 anos. Custam entre 10 mil e 131

mil euros – de 30 mil a 400 mil reais. Ele acaricia a folhagem de um pé: “Esse aqui deu 15 quilos

de azeitonas no ano passado”. O gaúcho explica que algumas variedades produzem azeitonas para conserva, outras para azeite, e outras para os dois fins. Pode-se tirar alguma do pé e comer? Ele faz uma careta: “Bah! In natura é fel!”.

Para ser comestível, a fruta, que seria colhida em fevereiro de 2012, deve ser mergulhada em água com três a dez por cento de sal. Já o azeite fica para a próxima página.

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Consultoria: nutricionista Aishá Zanella ([email protected])

ugindo dos franceses, João 6º chegou aqui em 1808 e introduziu um novo prato: bacalhau

com azeite. Quando Napoleão tomou Lisboa, era tal a penúria, que o azeite para iluminação foi desviado para alimentar os soldados.

Rossini, autor de O Barbeiro de Sevilha, deixou uma receita de molho frio: limão, pimenta e sal; mostarda, vinagre e azeite bem batidos.

O pintor Salvador Dalí adorava um pitéu simples: pão com tomate e azeite – lanche com que a mãe o esperava na volta da escola.

orli importou uma máquina italiana, que levou uma hora para processar 10

quilos de azeitonas. O inventivo engenheiro foi a uma metalúrgica e pediu que fizessem uma espécie de “moedor de carne” gigante. Passou as azeitonas no “moedor” e aí sim processou na máquina italiana, obtendo mais azeite, e num terço do tempo.

O Instituto Nacional de Tecnologia Agrária, da Argentina, analisou o azeite que ele e seus colegas vêm obtendo, e o considerou enquadrado nas normas do Conselho Oleícola Internacional. “E feito no pau-a-pique”, orgulha-se Dorli.

Ele nos presenteou com cinco vidrinhos de seu extra virgem. Sabor sutil e sensação de pureza. Para os céticos, ele informa que empresários gaúchos estão plantando perto de Porto Alegre 20 mil mudas para produzir azeite. E se entusiasma: “Tenho um pé em Caçador que deu 43 quilos com apenas quatro anos. O técnico argentino Angel Matías, especialista em oliva, disse que nunca viu coisa igual. Será que ainda vão duvidar?”.

SAIBA MAIS

A Canja do Imperador, de J.A. Dias Lopes (Companhia Editora Nacional, 2004).Um Cientista na Cozinha, de Hervé This (Ática, 2003).

D

F

Será que ainda vão duvidar?

Oliva na vida de gente famosa

Azeite: a mais saudável das gorduras

extra virgem é o melhor e deve-se consumir até um ano após a prensagem, guardado em vidro escuro e ao abrigo

de luz e calor. Antioxidante, reduz a formação de radicais livres, retardando o envelhecimento e prevenindo doenças degenera-

tivas, como câncer. Beneficia o sistema cardiovascular, o fígado, a vesícula biliar. Ajuda no cres-cimento das crianças. Previne osteoporose e artrite. É laxante e anti-inflamatório. Emoliente, aplicado em erupções cutâneas e picadas de inseto, alivia a dor e a coceira.

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Causos de Rolando Boldrin

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Demais pra mimDepois da primeira consulta ao psiquiatra, o sujeito quer saber qual é o diagnóstico.– Me parece que você sofre de baixa autoestima – avalia o médico.– Não pode ser, doutor. Não sou nada demais pra ter uma doença bacana dessas...

Inteligência versus forçaFolheando uma revista de celebridades, o casal conversa:– Amor, o que você mais gosta em mim? Minha inteligência ou o meu corpo?– Puxa, Osvaldo... Adoro o seu senso de humor.

Sogra boaO rapaz encontra os amigos, animado com um novo namoro:– E vocês ainda não sabem a melhor parte: minha sogra é um anjo!– Puxa, que sorte, a minha continua viva.

Fazia um tempão que o matuto tinha deixado sua cidade natal para começar uma vida nova em São Paulo. Já até se sentia um paulistano autêntico, desses que nasceram na Mooca. Mas nem precisa dizer que ele quase morreu de emoção ao encontrar um amigo de antigamente em plena praça da Sé. Depois de abraços, sorri-sos e tudo mais, o capiau quis saber, como era natural, como estavam as pessoas marcantes de sua cidadezinha. Fazia mais de cinco anos que não voltava praquelas bandas. Depois de per-guntar da doceira, do relojoeiro e do dono do bar, quis saber como andava o tintureiro Gervásio. A conversa se desenrolou assim:Caipira da cidade – Me fala uma coisa, cumpa-dre. Como está o companheiro Gervásio?Caipira da roça – Ih, rapaz... Você não soube, não? O Gervásio morreu.Caipira da cidade – Vixe Maria, mas morreu de quê?Caipira da roça – Ele pegou uma pneumonia e bateu as botas. Não faz nem um mês.Caipira da cidade – Mas me diz uma coisa: foi de pneumonia simples ou dupla?Caipira da roça – Pelo que a mulher dele contou pra nós foi de pneumonia simples, mesmo.Caipira da cidade – Ainda bem, rapaz. Parece que que morrer de pneumonia dupla é bem pior!

Caipira entendido de saúde

Experiência anteriorO candidato à vaga de emprego já passou por várias fases do processo seletivo. – Muito bem – comenta o futuro chefe. – Por último, queremos saber o que diz a carta de recomendação da sua última colocação.– Recomendaram que eu procurasse outra empresa...

Sem binaO psiquiatra recebe um velhinho que se diz perturbado. Pergunta mais detalhes:– Então o senhor costuma ouvir vozes sem saber quem está falando ou de onde elas vêm?– Sim, sim. Isso acontece muito, doutor.– Consegue lembrar em que situação isso acontece? – Toda a vez que atendo o telefone.