Almanaque Brasil 145 - Maio de 2011

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O Almanaque Brasil é um verdadeiro armazém da memória nacional, capaz de promover uma viagem pela história do País, em temas como música, cinema, teatro, literatura, dança. Marcam presença curiosidades, fatos históricos e matérias especiais, sempre de maneira envolvente e com surpreendente tratamento gráfico. A revista é editada pela Andreato Comunicação e Cultura, distribuída nos vôos da TAM e vendido nas Bancas de todo o Brasil. Mas não espere para viajar. Assine o Almanaque e viaje nas boas histórias do Brasil.

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ARMAZÉM DA MEMÓRIA NACIONAL

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www.almanaquebrasil.com.br

Sou homem. Nada do que é humano me é indiferente.

Terêncio, dramaturgo e poeta romano

Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak AndreatoEditor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis VecchioneEditora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton SeverianoRedatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane BenettiAssistentes de arte Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas e Soledad CifuentesGerente administrativa Fabiana Rocha OliveiraAssistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)Impressão Gráfica OceanoPUBLICIDADEBelo Horizonte: (31) 3281-0283Marco Aurélio Maia • [email protected] de Janeiro: (21) 2245-8660 Fernando Silva • [email protected] Santiago • [email protected]ória: (27) 3389-3452 Flávio Castro • [email protected] localidades: (11) 3873-9115Maria Fernanda Santos • [email protected]

Todo cuidado é pouco

Elifas Andreato

enho há alguns bons meses caminhando sobre o chão seguro da minha vontade e disposição para realizar velhos projetos esquecidos, por longo tempo, em gavetas encharcadas de torpor e desânimo. Sinto-me novamente capaz de

plantar árvores sem esperar desfrutar de suas sombras. Ao mesmo tempo, algumas das árvores que plantei no passado começam agora a dar frutos, que colho em silêncio a cada manhã da minha nova vida. Sei que a abundância da colheita será repartida com os que compartilham comigo o profundo sentimento da nossa responsabilidade de cui-dar do que ainda é invisível a nossos olhos.

A sociedade contemporânea tem produzido monstros e tragédias que nos assom-bram, episódios que são sempre sucedidos de explicações racionalistas. A verdade, no entanto, é que nos esquecemos do ser humano. Estamos perdendo a capacidade de sentir o outro, de ter compaixão com os que sofrem. Nos distanciamos dia após dia da cordialidade e da gentileza, e valorizamos em demasia a lógica da conquista e do uso utilitário das coisas, que nem todos podem ter.

Precisamos voltar humildemente ao simples cuidado, e somente ele nos permitirá resistir ao cinismo e à apatia responsáveis pelas doenças psicológicas do nosso tempo. A fábula de Higino diz: “O cuidado foi quem primeiro moldou o ser humano”. E termina enfatizando que o cuidado que nos moldou acompanhará toda a vida de cada um de nós.

Meus antigos projetos, a que me referi no início deste texto, são todos dedicados aos direitos humanos, à proteção das crianças que sofrem violência física ou psicológica, à cordialidade e respeito entre os diferentes, contra a marginalização dos excluídos. So-nho e trabalho para cultivar a compreensão, a paciência e a solidariedade; para me contrapor ao lado diabólico da vida.

Acredito que somente cultivando valores que incluam o cuidado com nossas crian-ças poderemos, quem sabe, com muito esforço e dedicação, construir um horizonte de futuro e esperança para elas. Minha modesta contribuição para isso é o relançamento do Manual para Encenar a Canção dos Direitos da Criança, parceria minha com Toquinho, possível agora, 26 anos depois de sua primeira edição, com o apoio dos ministérios da Educação e da Justiça e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. É uma extraordinária conquista, mas pouco para consertar o futuro. Por isso, para meu conforto, lembro do ensinamento de Pitágoras: “O começo já é a metade do todo”.

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Parceria

5 cArTA ENigMáTicA 8 VOcê SAbiA? 14 PAPO-cAbEÇA Nuno ramos

17 brASil NA TV cANTOS E lETrAS 20 iluSTrES brASilEirOS Sivuca

22 ESPEciAl longe de casa

26 JOgOS E briNcADEirAS27 O TEcO-TEcO28 ViVA O brASil canindé do São Francisco

32 EM SE PlANTANDO, TuDO Dá Aveia

34 bOM HuMOr: NOSSO E DOS lEiTOrES

capa Dennis Vecchione

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Maio 2011

“Perdi a minha aliança!”, gritou Didi. Às vésperas da Copa do Mundo de 1958, o meio-campista parou o treino da seleção canarinho para procurar seu anel de casamento. Os colegas não conseguiram demovê-lo. Acabaram também ajoelhados no gramado do Maracanã até anoitecer, como se vê na foto ao lado. E nada de encontrar aliança. No dia seguinte, a bela Guiomar procurou o marido no hotel. Tinha visto nos jornais a imagem da seleção de quatro, e se comoveu, para o bem do turbulento casamento: “Não se preocupe, compramos outra mais bonita”, contemporizou. Mas não faltou quem acreditasse que Didi havia armado aquela cena toda só para justificar a perda da joia em alguma situação suspeita na noite anterior ao treino. RepR

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le nasceu em 1960, ano em que o kart chegou ao Brasil. Filho de empresário bem-sucedido, na infância gostava de dirigir

tratores da fazenda. Também era fã de carrinhos de rolimã e de bicicleta. De tão agitado, gastava duas botas por mês. E reservava poucos minutos para fazer a lição.

Aos 13 anos começou a competir oficialmente. A família pen-sou que era um passatempo, mas menos de 10 anos depois partiu para a Europa, onde estão concentradas as equipes de seu esporte. Conseguiu destaque nos campeonatos menos impor-tantes e passou a disputar a categoria mais cobiçada – para pe-sadelo de seus adversários. Com o principal deles, um francês, tinha rixa acirradíssima. Apesar disso, calma e serenidade eram marcas de sua personalidade reservada. Pouco se sabe de sua vida particular, com exceção de um famoso namoro.

Foi dos que mais ajudou o País a se destacar em seu esporte – só perdemos para a Itália em número de títulos. Conquistou o campeonato mundial três vezes, entre as décadas de 1980 e 1990. Era no tempo chuvoso, maior adversidade para os profis-sionais, que mais brilhava. Fica num principado o palco de suas maiores ousadias.

A soma de coragem e precisão o fez lendário. Em um mea-culpa, chegou a assumir erros: “Muita gente confundiu com ousadia muita temeridade que aprontei. Acho até que tive sorte de não me machucar nos entreveros”. E completava: “Não me ame-dronto. A morte um dia vai chegar. Pode ser agora ou daqui 50 anos, mas vai chegar”. Chegou logo, em 1° de maio de 1994, deixando uma legião de fãs saudosos. Certamente você já sabe quem é. (Np)

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Solução NA P. 26

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25/5/1963a seleção brasileira de

basquete conquista o bicampeonato mundial no maracanãzinho,

tornando-se uma das potências mundiais do esporte.

14/5/2003oscar schmidt,

considerado o melhor jogador brasileiro de basquete da história,

encerra a carreira jogando pelo Flamengo.

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lha lá, Nelson, o videoteipe mostra que foi pênalti.” “Ah,

é? Se o videoteipe diz que foi pênalti, pior para o videoteipe. O videoteipe é burro!”

O Nelson em questão era Nelson Rodrigues, defendendo até não poder mais a inexistência de um pênalti contra o seu amado Fluminense, num jogo contra o Botafogo, durante o programa esportivo Grande Resenha Facit, primeira mesa-redonda da tevê brasileira.

A ideia de criar uma mesa-redonda esportiva – hoje tão comum – surgiu após Luiz Mendes ver um debate político na tevê. O jornalista levou o projeto ao dono da TV Rio, que, em 1963, colocou a sugestão no ar como Grande Revista Esportiva. A alteração no nome veio junto com o patrocínio da empresa de máquinas de escrever Facit.

Além de Nelson, outros craques do jornalismo faziam parte do programa, que durou até 1971, já na Globo: Armando Nogueira, João Saldanha, José Maria Scassa. Todos sob a mediação de Luiz Mendes. O assunto principal da atração exibida nas noites de domingo era a rodada do futebol carioca.

Como hoje em dia, polêmicas e discussões não faltavam. O rubro-negro

Scassa costumava falar, exaltado: “Quem não é Flamengo é contra o Flamengo!”. Certa vez,

Nelson não resistiu e deu um breve cochilo no ar. Scassa não perdoou: “Já sei porque Nelson só diz bobagem neste programa: ele dorme o tempo todo!”. Nelson arrumou os óculos, se aprumou e respondeu, com voz ainda sonolenta: “Olha, Scassa, eu sou mais inteligente dormindo do que você é acordado”.

Craques do texto trocavam insultos na primeira mesa-redonda “O

P

(BH)

No site do AlmaNaque, ouça impagáveis crônicas futebolísticas de Nelson Rodrigues.

asseatas e outras manifestações são comuns quando dirigentes de capitais brasileiras decidem aumentar a tarifa do transporte público. E essa história não

é de hoje. Em 1956, o Rio de Janeiro resolveu que era hora de reajustar o preço das passagens de bonde, causando revolta na população.

Na linha de frente, estava a União Nacional dos Estudantes, que organizou as primeiras manifestações. Na mais grave, em 31 de maio de 1956, houve pancadaria entre polícia e estudantes em frente à praia do Flamengo. Sobrou sopapo até para um deputado. A situação que parecia simples estava prestes a virar calamidade pública.

Até que o presidente Juscelino Kubitschek resolveu intervir. Convidou o presidente da UNE, Carlos Veloso de Oliveira, para negociar. E lançou seu charme. Fez questão de que o jovem se sentasse na cadeira reservada ao chefe maior da nação. Então disse, afavelmente: “Carlos, me ajude a salvar o regime”. Pouco depois, a reunião – e a rebelião – chegava ao fim. Detalhe: a passagem continuou com o mesmo preço.

JK cedeu cadeira a manifestante e acabou com protestos

(BH)

No site do almaNaque, confira outras informações sobre o episódio.estudantes protestam contra tarifa dos bondes no centro do Rio.

4/5 dia do futebol –

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enigma figurado

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R.: confira a resposta na página 26

O sujeito mal-humorado aí da foto nasceu no interior de São

Paulo, em 2 de maio de 1950. aos 15 anos, já trabalhava como

repórter. Começou a fazer barulho entrevistando jogadores de

futebol à beira do campo. apesar da aparência neste flagrante

da juventude, marcou as comunicações do País com divertidos

bordões e diálogos com a audiência em programas um tanto

anárquicos, seja no rádio ou na televisão.

Vissungos provam que se falavam outraslínguas por aqui

os oitenta e poucos anos, seu Pedro de alexina é um dos únicos descendentes de escravos

que ainda se lembram dos vissungos, cantos rituais herdados dos escravos africanos trazidos para trabalhar na mineração de ouro e diamante nos séculos 17 e 18. Os vissungos misturam dialetos africanos de origem banto, como o umbundo e o quimbundo, e português arcaico. alguns eram entoados em ocasiões fúnebres; outros, em situações de trabalho.

além de Pedro, morador da comunidade de quartel do Indaiá, em São João da Chapada, só existe mais um cantador de vissungos vivo, o também mineiro Ivo Silvério, de milho Verde, distrito de Serro. Os vissungos cantados pelos dois, no entanto, são muito diferentes dos recolhidos na década de 1920 pelo linguista aires da mata, publicados em O Negro e o Garimpo em Minas Gerais. O fato é natural, já que palavras novas vão sendo incorporadas, enquanto outras se perdem.

Na região do Serro e de Diamantina, falava-se um dialeto crioulo de origem banto ou banguela. Os vissungos são o vestígio mais evidente disso. Por isso, a importância do registro diacrônico, de forma a estabelecer relações e entender o processo de desenvolvimento ou extinção de uma língua.

Durante muitas décadas, acreditou-se que no Brasil havia somente línguas do tronco nagô-iorubá, predominantes na Bahia. São muito recentes as descobertas de línguas dialetais africanas de origem banto faladas por comunidades isoladas como Tabatinga, em minas, e Cafundó, em São Paulo, além do crioulo falado na mineira São João da Chapada e da língua mina-jeje falada pelos negros de Ouro Preto.

(Makely Ka, de Belo Horizonte-MG - oVerMuNdo)

SAIBA MAIS Confira outros artigos e referências sobre vissungos em www.overmundo.com.br.

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(BH)

ay llegada la hora de la ternura caliente invadiendo korazones y korazones!”

Se você acha que essa frase está em espanhol, errou. Se achou que é portunhol, quase acertou. Na verdade, é um trecho do manifesto em favor do portunhol selvagem, assinado por escritores e artistas em 2008. a “língua” é falada sem muitas regras por moradores próximos às fronteiras do Brasil com os vizinhos hispânicos, principalmente o Paraguai. No portunhol selvagem ainda cabem o guarani e o inglês. Tudo misturado.

um dos entusiastas da novidade é o jornalista Xico Sá, que lançou dois romances em portunhol selvagem: Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente e La Mujer És Un Gluebo da Muerte. O escritor também é figura constante em encontros de simpatizantes do, digamos, dialeto.

O dono da ideia de usar o espanhol selvagem na literatura é o poeta Douglas Diegues, que

¿Hay uma nueva língua nasciendo em Sudamerica?

cunhou o termo e, em 2003, lançou o livro Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas. Diegues é carioca radicado na sul-mato-grossense Ponta Porã, cidade na fronteira com o Paraguai. ele se fascinou com o modo de falar daquelas bandas. mas a novidade realmente pegou num encontro em 2007, no qual foi discutido o novo movimento literário.

a repercussão foi imediata. O “idioma” angariou novos simpatizantes, como o ator mexicano Gael García Bernal. Houve reportagens em veículos espanhóis e no New York Times. até o Estadão rompeu com o manual de redação e escreveu a primeira reportagem em portunhol, sob o título Hablando Sério. “quero transformar o portunhol da fronteira numa língua literária tanto quanto qualquer língua”, afirma Diegues. ¿Quien sabe?

No site do almaNaque, leia trechos de livros em portunhol selvagem.

“¡HDouglas Diegues e mirian Ávila fazem palestra sobre o portunhol selvagem no Rio.

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13/5 dia daabolição

21/5 dia da línguanacional

Seu Pedro em cena de documentário Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira.

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Madeireiros se tornaram artesãos às margens do rio Negro

natureza esculpiu com capricho as anavilhanas, um dos maiores arquipélagos

fluviais do mundo. quatrocentas ilhas se alojam no leito do rio Negro. Por ali, a economia era baseada na madeira. Os ribeirinhos sobreviviam da extração das árvores da mata. até que, em 1981, foi criada a estação ecológica anavilhanas, no município de Novo airão, a 140 quilômetros de manaus. Bom para a floresta, mas um desespero para os moradores. Com o desmatamento proibido e a gente passando dificuldade, acabou o sono de seu miguel Rocha, um dos moradores da região.

mas miguel tinha um barco e um sonho: um centro de formação profissional em marcenaria para jovens. em um dos passeios turísticos que realizava pelas ilhas, conheceu o suíço Jean-Daniel Vallotton, e o encontro desses dois homens mudou o destino de tantos outros. O sonho de miguel virou objetivo de Jean-Daniel.

marceneiro por profissão, aventureiro por vocação, 18 anos atrás Jean voltou à Suíça, vendeu o que tinha. Fundou lá uma ONG para financiar a Fundação almerinda malaquias no Brasil. De ferramentas na mão e talento lapidado, mais de 200 artesãos já foram formados no ofício da marcenaria. aprenderam que para talhar a madeira não é preciso derrubar mais árvores. Na mata, eles acham ouro no que iria virar carvão. Restos das toras e galhos descartados pela floresta são recolhidos e trabalhados. Nascem do pau esculturas que homenageiam símbolos da amazônia: botos, onças, sapos, peixes. as peças são vendidas para o mundo todo. Os artesãos transformam madeira em arte sem perceber que a arte os transformou em protetores do meio ambiente.

SAIBA MAIS Site da Fundação almerinda malaquias: www.fam-na-am.com.br.

Aerta vez, Maureen Bisilliat disse, coberta de modéstia: “Os grandes fotógrafos – que não é o meu caso – sabem sintetizar a vida entre os quatro cantos da fotografia”.

Grandes escritores também sabem fazer isso nos limites das páginas de um livro. Ao unir as duas linguagens, visual e escrita, a inglesa produziu um dos mais significativos materiais fotográficos sobre a pátria que adotou.

Filha de diplomata italiano e artista irlandesa, Maureen veio para o Brasil aos 20 e poucos anos, na década de 1950. Resolveu criar raízes. Era fotógrafa da revista Realidade quando ganhou de um amigo o livro Grande Sertão: Veredas. “Espero que você compreenda”, ele disse. Maureen não só entendeu como ficou encantada. Procurou o autor, Guimarães Rosa, para saber o que era realidade e o que era ficção. Como resposta, recebeu o conselho de conhecer o sertão do Urucuia. Assim nasceu a coleção A Guimarães Rosa, na qual reúne fotografias suas associadas a trechos da obra original – o que ela chama de “equivalência fotográfica”.

Outros escritores levaram a artista a novos caminhos: “Uma vez que você está na trilha, está resolvido. Passa a ter uma identidade”. As lentes fotográficas foram em busca da Bahia registrada pela obra de Jorge Amado, do sertão pernambucano retratado por João Cabral de Melo Neto, da Canudos revelada por Euclides da Cunha. Ainda ilustrou com fotos poemas de Drummond e de Adélia Prado. Hoje, o trabalho da artista tem foco na produção de vídeos. Suas fotos, que além de sintetizar a vida, sintetizam a arte, fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles.

No site do AlmaNaque, visite o endereço virtual da fotógrafa no Instituto moreira Salles.

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confira a resposta na página 26

de quem são estes olhos?

Desde pequeno, o dono destes olhos se destacava pelo talento artístico, seja como cantor na Rádio Nacional,

seja como ator em filmes. a partir dos anos 1950, firmou-se como cantor romântico. Notabilizou-se pelo estilo

quase operístico, como na magistral gravação de ave maria, um de seus principais sucessos. Nos anos 1990,

voltou à mídia com força total ao lançar um disco só com canções italianas. Já matou a charada?

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(Laís duarte)

o que se colhe em maioestação colheita

Pera, limão, laranja, pimentão verde, repolho, salsa, seriguela.

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Nas mãos de Maureen, nossos clássicos viraram fotografias

1/5 dia da literatura brasileira

11/5 dia da

mãe naturezaOficina da Fundação almerinda malaquias.

“equivalências fotográficas” de maureen Bisilliat para obras de ariano Suassuna, Jorge amado e Guimarães Rosa.

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o baú do Barão

Nossa homenagem a aparício Torelly, o Barão de Itararé.

as agora você está batendo no meu coração / Ai, gatinha, me

dá uma chance / Pra este lixo maravilhoso. envolto por uma harmonia adocicada e com um sotaque carregado, o vocalista do grupo Y-no vai soltando pérolas como essas na língua de machado de assis. O público, balançando num gingado que poucas vezes se viu por aqui, nem se dá conta de que os versos cantados num clube de Tóquio muitas vezes não fazem sentido. Dificilmente há alguém por ali que fale português.

a história do pagode japonês começou em 2007. Jovens universitários se conheceram num clube especializado em música brasileira e, empolgados com os pagodeiros dos anos 1990, começaram a fazer covers e compor no mesmo estilo. lançaram dois álbuns. este ano, apostaram na divulgação de um videoclipe na internet. em um mês, o filme já havia sido visto por meio milhão de pessoas.

Os seis integrantes do Y-no são fãs de Fundo de quintal, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. quando estiveram no Brasil, aproveitaram para se inteirar das novas tendências do samba e comprar instru-mentos como tamborim e cavaquinho, dificilmente encontrados lá no outro lado do mundo.

quanto à proposta do grupo, a turma afirma que a ideia das letras é criar um “J-pagode”, um dialeto que una português e japonês, que encurte distâncias entre a terra do sol nascente e nomes como Jorge aragão. “a nossa libido é a principal fonte de letras”, esclarecem os integrantes. Talvez seja por isso que a música querido meu amor, que abre este texto, comece falando sobre uma paixão virtual: A namoração da internet é bom, né?.

Lá no Japão, “namoração” pagodeira é pela internet, né?M

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No site do AlmaNaque, assista ao clipe de querido meu amor.

SAIBA MAIS Voar – Histórias da aviação e do paraquedismo civil brasileiro, de João Ricardo Penteado (Senac São Paulo, 2001).

maiotambém tem

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Dia do Trabalho

Dia do Imigrante Libanês (MG)

Dia do Pau-Brasil

Dia da Luta contra a Hipertensão

Dia do Pintor

Dia do Engenheiro Cartográfico

Dia do do Oftalmologista

Dia do Artista Plástico

Dia da Polícia Civil (GO)

Dia do Guia de Turismo

Dia da Mãe Natureza

Dia da Escrava Anastácia

Dia do Preto Velho

Dia do Brinquedo

Dia do Gerente de Banco

Dia do Gari

Dia da Constituição

Dia da Boa Vontade

Dia do Físico

Dia do Comissário de Menores

Dia da Cachaça (MG)

Dia do Apicultor

Dia da Juventude Constitucionalista

Dia do Vestibulando

Dia da Costureira

Dia de Combate ao Glaucoma

Dia do Profissional Liberal

Dia do Gráfico

Dia do Geógrafo

Dia da Decoração

Dia do Espírito Santo

(Np)

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“Os homens são sempre sinceros. O que acontece, porém, é que, às vezes, trocam de sinceridade.”

18/5 dia do pagode

m 1927, o paulista João Ribeiro de Barros foi o primeiro a atravessar o atlântico Sul

pelos ares, sem escalas. Nas paradas que seu hidroavião Jahú fez em seguida, no Nordeste brasileiro, foi recebido pela população com euforia. No Recife, deixou um jovem ainda mais animado que os demais. Severiano lins decidiu que seria aviador.

a carreira do pernambucano começou com uma viagem de navio. aos 26 anos, embarcou no porto do Recife para estudar no Rio de Janeiro. Tempos depois, outra viagem, agora de Cuiabá a Corumbá, no mato Grosso, fez dele o primeiro brasileiro a pilotar um voo comercial no País. era 3 de maio de 1931. a Condor, nossa primeira empresa aérea, já trabalhava com transporte de passageiros há quatro anos, mas sempre com comandantes estrangeiros.

E

Passagem do Jahú inspirou nosso primeiro piloto comercial

Severiano foi também o primeiro brasileiro a conduzir aviões comerciais na europa. Não à toa tem seu busto em bronze no aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife. Duas ruas do estado também levam seu nome – uma na capital e outra em Palmares.

Y-no: pagode brasileiro em Tóquio.

Severiano lins, pioneiro na aviação comercial.

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Origem da expressão

Falar pelos cotovelos o termo é usado para

definir uma pessoa que, de tão tagarela, se torna inconveniente:

“ele fala pelos cotovelos”. a expressão surgiu pelo costume

de pessoas muito falantes tocarem os cotovelos de seus

interlocutores a fim de que estes mantenham a atenção. o

folclorista câmara cascudo ainda cita mulheres que, depois de

brigas com os maridos, já na cama, tocavam os cotevelos dos

cônjuges para tentar a reconciliação.

Fases da Lua1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31

cheianova crescente minguante

ouca gente acreditava que Eder Jofre pudesse dar a volta por cima quando, em 1969, decidiu retornar aos ringues.

O boxeador havia encerrado a carreira três anos antes, ao perder o cinturão dos pesos-galo para o japonês Masashiko Harada. Mas ele não tinha dúvidas: “Voltei para ser campeão”.

Com alguns quilos a mais, Jofre reestreou na categoria peso-pena. E começou a derrubar adversário por adversário. Catorze lutas depois, sentiu que estava preparado para disputar novamente o cinturão mundial. Marcou o combate para 5 de maio de 1973 contra o cubano José Legra Ultria, em Brasília.

O ginásio estava lotado para a disputa do brasileiro contra o “gigante cubano”. Na verdade, o apelido só se justificava pela baixa estatura de Jofre. O adversário tinha 1,72 m, 10 centímetros a mais do que o Galinho de Ouro. O gringo também era mais jovem: 31 contra 37 anos. Ultria provocava: “Derrubarei ele antes do quinto assalto”.

Mas Jofre cumpriu o que prometera. Após 15 assaltos de uma luta dura, os jurados decretaram sua vitória. Festa na torcida. Um dos presentes resumiu o sentimento geral: “Eder é da raça dos super-homens, assim como Pelé e Jesse Owens”.

Jofre derrubou “gigante cubano” para reconquistar cinturão

P(Np)

té quem era aluno mediano na escola sabia: 1988 foi um ano importante por causa do centenário da lei Áurea. Porém, não foi exatamente o que

pensou o movimento negro brasileiro. enquanto comemorações oficiais festejavam o aniversário do fim da escravidão, militantes organizavam marchas de protesto. queriam que 13 de maio fosse reconhecido como Dia de Denúncia contra o Racismo, e não comemorado como se a discriminação racial e mesmo a escravidão tivessem se encerrado naquela data.

em 11 de maio de 1988, a marcha Contra a Farsa da abolição juntou cerca de cinco mil pessoas no centro do Rio – e também mais de 500 policiais. a marcha não pôde acontecer como planejada, pois a guarda alegava que causaria problemas no trânsito e riscos ao monumento de Duque de Caxias.

Outras mobilizações aconteceram por todo o País. No mesmo ano, o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, passou a fazer parte do calendário de lutas. Nada mais justo que lembrar da consciência negra por causa do mérito dos próprios negros – que, além do mais, em sua maioria já tinham conquistado a liberdade antes da assinatura do famoso decreto.

Cem anos depois, decretaram que a Lei Áurea foi uma farsaA

No site do almaNaque, acesse artigo da historiadora Heloísa Buarque de Hollanda sobre os 100 anos da lei Áurea.No site do almaNaque, veja imagens do boxeador em ação.

marcha Contra a Farsa da abolição toma as ruas do Rio.

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1 domingo São José Operário2 segunda Zoé3 terça Tiago4 quarta Floriano5 quinta Peregrino6 sexta Justo7 sábado Estanislau8 domingo Miguel9 segunda Máximo10 terça Antonino11 quarta Abades de Cluny12 quinta Aquiles13 sexta Nossa Senhora de Fátima14 sábado Matias15 domingo Isidoro16 segunda Simão Stock17 terça Herádio18 quarta João I19 quinta Ema20 sexta Bernardino de Sena21 sábado Hospício22 domingo Rita de Cássia23 segunda Juliano24 terça Marciano25 quarta Venerando26 quinta Zacarias27 sexta Agostinho28 sábado Luciano29 domingo Maximino de Trèves30 segunda Fernando31 terça Nossa Senhora da Visitação

É o signo da curiosidade e da comunicação. os geminianos sabem ser percebidos por onde passam e estão sempre em busca de atividades diferentes. irritam-se facilmente com a mesmice. o seu humor, aliás, é marcado pela inconstância. em um momento podem estar alegres e sorridentes, em outro, logo em seguida, irritadiços e emburrados.

antasmas, vultos, mortes mal explicadas e terror. Há tudo isso na região central de

São Paulo. Pelo menos é o que garante uma agência de turismo que há 10 anos organiza um giro pelos pontos mal-assombrados da cidade. “O que queremos mostrar é que São Paulo não é somente uma cidade para o turismo de negócios. as histórias que encontramos nesses lugares fazem parte da nossa cultura popular”, justifica Carlos Silvério, criador do roteiro São Paulo de Outro mundo.

O repórter do AlmaNaque e outros 22 corajosos clientes resolveram tirar a proposta a limpo. a primeira parada é o cemitério da Consolação. entre os oito mil túmulos, destacam-se os da marquesa de Santos, monteiro lobato e Tarsila do amaral. artistas como Victor Brecheret assinam as obras. um dos primeiros nus das artes plásticas também está lá: a obra Solitudo, de Francisco leopoldo e Silva. É possível avistar de longe o jazigo do conde Francesco matarazzo: tem 150 metros quadrados e 25 metros de altura. “É bem maior do que meu apartamento”, lamenta-se uma senhora. Já o túmulo do polêmico modernista Oswald de andrade decepciona os que esperavam algo fora do comum. É um dos mais conservadores.

Depois, todos voltam ao ônibus e seguem para o edifício martinelli, o primeiro arranha-céu da cidade, inaugurado em 1929, com 30 andares. Na década de 1980, o então deteriorado edifício foi invadido por moradores de rua. Havia muitas brigas que resultavam em morte, e os corpos

No site do almaNaque, assista a uma reportagem televisiva sobre o passeio e confira como realizar este e outros roteiros inusitados pela cidade.

eram jogados numa vala do edifício. Desde então, garantem os funcionários, espíritos moram no lugar. O segurança Francisco Rolim diz que já passou por maus bocados. um belo dia, sozinho num andar, apagou as luzes. alguém gritou: “Tem gente trabalhando!”, e ele voltou a acendê-las. Procurou, procurou, e não havia ninguém. “aí o cabelo arrepiou!”, conta. “Nesse dia parei de trabalhar. Tá louco?!”.

O passeio segue ainda pelo bairro da liberdade, onde há um cemitério subterrâneo e onde localizava-se a forca pública da cidade. mas os passageiros estão mais empolgados com as delícias gastronômicas do bairro japonês. O roteiro passa também pela Casa de Dona Yayá – cujo fantasma, dizem, ainda habita o local – e pelo edifício Joelma, cenário de um trágico incêndio em 1973.

a última parada é o castelinho da rua apa, uma edificação quase aos pedaços, ao lado do elevado Costa e Silva, o popular minhocão. O prédio deteriorado já foi residência de uma das famílias mais ricas de São Paulo. em 1937, mãe e dois filhos foram encontrados mortos a tiros no local. a casa foi abandonada e, décadas depois, invadida por moradores de rua. mas muitos se mandaram do lugar. Não suportaram berros e vultos que surgiam durante a madrugada.

Na volta do passeio, todos estavam satisfeitos. Fantasma mesmo não apareceu, mas uma moça achou por bem se precaver: “Hoje vou dormir na casa do meu namorado. Vai que aparece algum vulto em casa, né?”.

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Rota mal-assombrada tem cemitério, arranha-céu e castelo

10/5 dia do guia de turismo

Durante 18 anos, a italiana

suportou um marido agressivo e infiel, até que

conseguiu convertê-lo ao cristianismo. um dia, o marido foi assassinado, e seus dois filhos juraram vingança. Rita de Cássia rogou que Deus tirasse a vida dos filhos antes que cometessem o pecado da vingança, e foi o que aconteceu. Tornou-se a padroeira das mulheres que sofrem com os maridos.

Santa Rita de Cássia

Carlos Silvério e algumas atrações do passeio: “São Paulo não é somente uma cidade para o turismo de negócios”.

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(BH)

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A arte existepara que não nos digam

o que a vida é

A obra não era inédita – já havia sido exposta em escala reduzida três anos antes em Brasília –, mas

quando ocupou o vão entre as rampas do prédio da Bienal de São Paulo em 2010, teve início um

tiroteio poucas vezes visto nas artes plásticas nacionais. Manifestantes picharam o trabalho, jornalistas

escreveram textos indignados, o poder público se mobilizou. Tudo para “salvar” dois urubus criados em

cativeiro que habitavam a obra. Subitamente, o trabalho de Nuno Ramos ganhou os holofotes. “A obra

tinha 200 leituras, mas para o público só havia uma, e não podia haver outra”, analisa o artista plástico

e escritor paulistano. Hoje, passados alguns meses da celeuma, sobraram apenas os registros do trabalho

e a constatação do artista de que o episódio escancarou a dificuldade do público de compreender o papel

da arte. “O que senti, como nunca senti com tanta clareza, é como a nossa época é careta, como ela é

empobrecedora daquilo que a arte, o balé, a literatura têm de próprio, que é resistir às doutrinas.”

NUNO RAMOS

Por João Rocha Rodrigues

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Como você se envolveu com as artes plásticas? Eu tive uma adolescên-cia marcada pela vontade de escrever. Fui fazer Filosofia para, tal-vez, perceber que eu não era um intelectual no sentido estrito. Gosto muito de ler, mas a minha recepção do que leio é muito con-fusa, defeituosa, pouco ordenada. Eu escrevia desde adolescente, mas sempre fui muito insatisfeito com o que produzia. As artes plásticas foram, de certa forma, a liberação de uma energia que a literatura não me estava possibilitando naquele momento.

Como você se preparou para isso? A verdade é que comecei sem pre-paro algum – técnico ou mesmo cultural. Conhecia bem mais lite-ratura do que artes plásticas. Não sei desenhar, não sei gravar. Fui fazendo, orientando o meu trabalho com essa coisa física, nessa relação com a matéria. No começo eu fazia tudo, metia a mão na massa. Depois, com a evolução do trabalho, comecei a usar o servi-ço de terceiros. Hoje não sou mais eu que derreto o sabão que vou usar em uma obra. Mas ainda assim a presença da matéria em meu trabalho é quase sempre muito forte. Talvez esses aspectos tenham me levado para as artes plásticas, coisas que a lite-ratura não me daria. Esse imediato, essa luta com a matéria, foi o que me atraiu logo. Mas, aos pou-cos, voltei a escrever. Hoje divido as duas coisas quase em pé de igualdade, apesar de fazer minha vida, economicamente falando, nas artes plásticas. Mas a minha energia, no sentido do imaginário, cada vez mais está dividida entre as duas áreas.

Como você descreveria Bandeira Branca, que apresen-tou na Bienal de 2010? Bandeira Branca é uma obra que expus em outra versão, geometricamente mais simples – em escala grande, mas menor do que na Bienal –, há uns três anos, em Brasília. A obra é composta de três esculturas de areia socada. No topo delas há três caixas de som, das quais sa-em três canções: Carcará, Boi da Cara Preta e Ban-deira Branca, que dá título à obra. Há ainda três urubus que vivem ali durante o período da exposi-ção. A obra é isolada, o público não pode entrar. Ela é uma espécie de ecossistema, é autossuficien-te – a força interna dela é maior do que a força ex-terna. Nesse sentido, acho que ela é o “antipene-trável”. Nossa tradição de arte contemporânea vem muito do penetrável, do Hélio Oiticica e da Lygia Clark, quando o público entra numa obra e participa dela, como se acessasse nesse momento o lugar do artista. Para mim, a obra de arte está tão perturbada, tão violentada pelos discursos, que é importante que tenha vida própria. No meu caso, vida pró-pria literalmente, por conta da vida interna que os urubus davam ao trabalho. Eles não eram símbolos, eram também. Eles não eram marcas alegóricas do pessimismo, eram também. Mas principal-mente eram acionadores de um mecanismo interno da obra. Eles comiam, faziam cocô, voavam, sujavam.

Por conta desses urubus, você se viu envolvido em uma das maiores polê-micas das artes plásticas brasileiras. Como vê hoje a questão? O que é chato na polêmica é a substituição de uma coisa pela outra. Aquilo que seria uma parcela de significado que a obra contém acabou to-mando o lugar do todo. Aí todo mundo perde. Arte é um lugar de ambivalência, de ambiguidade, não de doutrina. Em geral, as polê-micas convertem essa ambiguidade em doutrina, e doutrina burra. Com a proibição dos urubus no trabalho, causada pela gritaria em

torno da obra, vivi um episódio de fraqueza institucional clássica. Eu obtive duas licenças da instituição que concede autorizações para criar obras com animais, o Ibama. Sob pressão pública e de alguma luz da mídia que produz cegueira, me retiraram as duas li-cenças. Essa fraqueza institucional foi dura. Afinal, a questão, an-tes de ser ética, é legal.

Os que se manifestaram contrariamente à obra alegavam que os animais estavam sendo maltratados. Como você lida com a crítica? Se os protes-tos viessem de pessoas que acham que animais não podem ser ins-trumentos estéticos – assim como não podem ser instrumento de devoração – eu poderia discutir. Não é o meu jeito de ver, mas acho perfeitamente pertinente. Aí discutiríamos as questões éticas en-volvidas; se os animais são tão sagrados quanto nós, e se, portanto, eles podem ou não fazer parte de uma cadeia alimentar, uma cadeia econômica, ou de um trabalho artístico. Mas não foi isso o que veio a público. O que surgiu foi uma reação ensandecida, uma sucessão de calúnias primárias que era difícil de responder porque não havia

nem por onde começar.

O que argumentavam esses manifestantes? Eles di-ziam que eu não alimentava os bichos, que nin-guém cuidava deles, que os urubus estavam enfra-quecidos, que os tirei da natureza. Eu peguei os animais num criadouro. Não havia som, tiramos o som. Havia veterinários, alimentação diária, gente cuidando deles. Ainda assim, eu posso estar erra-do, mas vamos começar a discussão de fatos. Só que a coisa veio de uma volúpia, que só posso lem-brar do fascismo, quando se repetia tantas vezes uma acusação, desconsiderando a defesa, que aquilo se tornava a verdade.

Na mídia, houve quem propusesse que você fosse colo-cado em um paredão. Uma colunista falou isso. Dis-se que eu deveria ser colocado num paredão, de cueca, enquanto me lançavam um jato d’água. De-pois, ela disse que era uma piada. Não vejo graça alguma. Eu fui à delegacia para impedir que o pi-chador que pichou “Liberte os urubu” na minha peça fosse preso. Foi uma cena de pesadelo. De re-pente, tive o carro cercado, enquanto as pessoas batiam nas janelas e gritavam: “A-li-men-ta-eles!”.

Hoje esses bichos estão em Sergipe sem que ninguém tenha jamais se preocupado com seu estado atual.

Você diria que houve um empobrecimento interpretativo da obra? Acho que sim. A obra tinha um elemento de pessimismo, elemento de uma beleza sombria, de um peso, em um prédio que é todo veloz, para cima. Ela dava uma paralisada naquilo. Era a grande obra da Bienal, no sentido de causar espécie. Era uma obra de um nanquim escuro. Acho que esse barco encalhado, a forma de negá-lo foi acu-sá-lo de ser ecologicamente inadequado. No entanto, por outro la-do, não tenho lembrança de as artes plásticas brasileiras causarem uma polêmica que escapou do meio da arte dessa forma, de parar em jornal, na tevê e em outras mídias. Isso tem lá a sua vida.

Acha que a discussão é representativa do momento que vivemos hoje? Diria que nossa época esqueceu que a arte é o lugar da ambiguida-de. Ela é fundo e figura ao mesmo tempo. Ela não é nem fundo nem figura se for boa. Não é uma coisa nítida, que enquadra. Ela

“A canção é o édenpopular brasileiro.Nelson Cavaquinho

parece uma obra de Shakespeare.

Toca coisas incríveis com três dedos. Esse é um

imaginário que não exploramos 2%.”

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não substitui um discurso. Não substitui uma doutrina, mas põe em questão uma doutrina. Uma parte dela dá conta, outra foge, outra nega. Ela é ambígua, é um buraco no mundo. O que senti, como nunca senti com tanta clareza, é como a nossa época é care-ta, como ela é empobrecedora daquilo que a arte, o balé, a literatu-ra têm de próprio, que é resistir às doutrinas. As artes foram in-ventadas para isso. Para isso elas existem, para que não digam pa-ra nós o que a vida é.

Há uma falta de disposição do público para determinados tipos de trabalho? A partir do minimalismo e da pop art, com sua crítica da ilusão da representação, a literalidade passou a ser o grande elemento da ar-te. O público é muito literal. As pessoas batem o olho e perguntam: “O que você quer dizer com isso?” – uma questão primária. Tudo é muito raso. Nunca senti com tanta força quanto nesse episódio dos urubus esse direcionamento. A obra tinha 200 leituras, mas para o público só havia uma, e não podia haver outra. Tudo que escapasse a isso seria uma ilusão, uma manipulação estética formal – essas baboseiras que as pessoas falam. Com isso, se dá as costas para aquilo, por exemplo, que se vai buscar diante de um Matisse. Ninguém vê um Matisse porque a mulher é bonita, mas, sei lá, para a vida ficar mais alegre, para começar de novo – qualquer coisa que se pergunte para uma obra de arte. Não as condições eco-nômicas, políticas, étnicas, sexuais que geraram aquilo. Hoje vivemos uma socio-logia soviética, um marxismo vulgar, que não é mais de esquerda. É liberal.

Como você vê o mercado das artes plásticas hoje? Acho que ele nasceu no Brasil dos anos 1990 pra cá. É uma economia ainda menor que as principais, mas é uma novidade. Quando comecei, nos anos 1980, éramos conhecidos como a gera-ção que emplacou o mercado da arte – e éramos menos de 15 pessoas. O atual momento tem a ver também com a força do mercado financeiro. Infelizmente, as instituições não acompanharam esse movimento. Não podemos dizer que a Bienal seja mais forte do que era nos anos 1980 – na verdade, só está voltando a ocupar um lugar forte agora. O Masp, o MAM estão melhores do que estavam, mas igual ao que já foram no passado – um pouco porque o Brasil não tem tradição de instituições fortes, um pouco porque a dinâ-mica da Lei Rouanet premiou novas instituições e deixou as anti-gas à míngua.

E os artistas do passado, ocupam o lugar que deveriam no mercado? O Brasil tem uma gama de artistas a serem valorizados que me pare-ce importante serem lembrados. Que Amilcar de Castro seja um artista que ninguém conhece, que Volpi seja visto lá fora como naïf, que Sérgio Camargo pareça um artista formalista, que Goeldi até hoje não tenha um acervo... Esses são artistas fortes que a leva de recuperação da nossa arte não incluiu. Basicamente entraram Lygia Clark, Hélio Oiticica e Mira Schendel. Eles são extraordiná-rios, mas os outros também são grandes.

Seu reconhecimento como escritor, quando ganhou o Prêmio Portugal Tele-com de Literatura com Ó, em 2009, fez você pensar em mudar de carreira? Acho que sou muito mais desinibido como artista plástico do que como autor de textos. Eu tenho o superego muito mais pesado quando escrevo. Sou até um pouco naïf como artista plástico – cla-ro que me formei num meio severo; é um pouco besta dizer que sou naïf; acho que sou mais solto. Na verdade, considero essas duas atividades, essas duas regiões muito interessantes. Nunca pensei em parar de fazer artes plásticas nem um segundo. O que acontece é que tenho muito mais interferências externas como artista plás-tico. Há demandas de museus, galerias, projetos; questões orça-mentárias severas, em que não se pode errar; questões de transpor-te infernais. Há artistas plásticos hoje que têm ateliê com mais de 100 pessoas. São empresas. Como escritor, não há isso. Só dependo de mim mesmo para escrever. E escrevo todo dia.

Como você direciona as ideias para os dife-rentes tipos de obra que produz? O trabalho normalmente não vem do nada. Está num contexto: uma escultura conversa com a outra, que conversa com a outra, e vai se formando um conjunto. Em lite-ratura também é assim. O próximo livro que vou lançar se chama Junco. Ele reú-ne uma série de poemas antigos. Mas há uma unidade, uma cena numa praia, onde bichos morrem, troncos afundam, e o oceano vai lavando tudo. Os 47 poe-mas que foram entrando nesse conjunto pertencem a essa cena. Quando escrevi Ó, era uma coisa falsamente ensaística. Eu precisava estudar um assunto e aca-bava saindo um texto. Aí quando vinha outro, a junção, eu sentava e fazia. Já O Mau Vidraceiro, de 2010, foi uma espé-cie de compensação narrativa. Como Ó fala de tudo e não fala de nada, eu sentia falta de narrar pequenos episódios, coi-sas mais simples, com uma concretude.

Você também se relaciona com o universo da música, tendo canções gravadas por músicos como Romulo Fróes, Gal Costa e Mariana Aydar. Como isso se encaixa em seu trabalho?

Eu tocava violão na adolescência, e comecei a compor. Componho com recursos muito pequenos: toco mal, harmonizo mal, a har-monia demora para se fixar. Tenho pouco jeito. Mesmo assim, for-mei com o Romulo Fróes e com o Clima um núcleo muito interes-sante de partilha musical, por isso a música ocupa um lugar im-portante na minha vida.

O samba tem uma presença marcante em algumas de suas obras, não? Tem. Às vezes, ele entra como um verso de Nelson Cavaquinho – O sol há de brilhar mais uma vez... –, mas, de modo geral, a cul-tura brasileira tem presença em meu trabalho. O Drummond es-tá lá, o Goeldi, o João Cabral... Durante um período, eu juntava matérias. Depois passei a juntar matérias e registros culturais. A canção, de modo geral, é o éden popular brasileiro. Nelson Cava-quinho parece uma obra de Shakespeare. O cara toca coisas incrí-veis com apenas três dedos. Esse é um imaginário que a gente não explorou ainda 2%.

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Bandeira Branca, alvo de polêmica na Bienal de 2010.

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Ná Ozzetti - Meu Quintal (Borandá). Para comemorar 30 anos de carreira, a cantora solta a voz num disco autoral. Das 12 canções, Ná só não assina uma. As outras são felizes parcerias com gente como a poetisa Alice Ruiz e o diretor da Osesp, Arthur Nestrovski. O mais constante parceiro é Luiz Tatit, que co-assina metade das composições.

Luama - Cósmico Samba (Astúcia). Um CD de samba, mas livre dos conceitos tradicionais do gênero musical. É assim o terceiro disco da compositora paulista. A maioria das canções é assinada por Luama, mas também há composições de Jorge du Peixe (Nação Zumbi) e até a esperta Cadê a Razão, de Paulinho da Viola, num arranjo despojado e moderno.

Meus Romances de Cordel, de Marco Haurélio (Global). O autor, cordelista baiano, é um dos fundadores da Caravana do Cordel, em São Paulo. Suas rimas apuradas versam as mais variadas histórias desde 1987. Nessa seleção, com tratamento gráfico refinado, desfiam-se desde aventuras com princesas e dragões até clássicos nordestinos, como O Auto da Compadecida.

AlmAnAque nA redeEm junho, o AlmAnAque BrAsil na tevê estreia nova temporada. Prepare-se para

muitas novidades. O nosso inenarrável Almanaquias, por exemplo, romperá

os limites do estúdio e sairá pelas ruas do País destilando brasilidade e de-

safiando os transeuntes. Mas há coisas que não mudarão, como entrevistas

com grandes personalidades da cultura e muitas histórias deste nosso Brasil

varonil, sempre com apresentação de Luciana Mello. Enquanto a nova tem-

porada não chega, você pode acompanhar reprises da primeira temporada

na TV Cultura (domingo, 14h30; e sábado, 15h30) e na TV Brasil (sábado,

19h; e segunda, 20h). Ou a qualquer momento pela internet. Confira como

acessar o AlmAnAque BrAsil na web.

Quem quiser explorar mais o universo do AlmAnAque BrAsil pode contar com dois sites na internet. Ancorada no portal da TV Brasil, a página do programa traz fotos de bastidores, vídeos, horários de exibição e atrações que o telespectador vai encontrar em cada episódio. Confira em www.tvbrasil.org.br/almanaquebrasil. Já no portal ligado à revista, além das matérias exibidas no programa, de uma rádio com todos os cantos do Brasil e dos blogs da redação, o internauta vai encontrar um verdadeiro manancial de brasilidades – o maior acervo sobre cultura popular brasileira na web. Visite: www.almanaquebrasil.com.br

Sites

O Brasil e a Segunda Guerra Mundial, organizado por Francisco Carlos Teixeira da Silva (Multifoco). Prato cheio para quem se interessa por história, o livro reúne artigos sobre temas badalados, como a atuação dos pracinhas brasileiros no front, e outros ainda menos explorados, como a utilização do cinema como instrumento político no Brasil.

O AlmAnAque BrAsil também está no Facebook, com histórias, vídeos e textos ágeis e informativos. Curta isso. = )

Direto da redação, o internauta pode conferir notícias quentinhas da revista e do programa de tevê. Acompanhando o nosso Twitter, você vai poder saber em tempo real o que o AlmAnAque tem pra contar. E, além de encher o tanque de brasilidade, o leitor/telespectador tem um canal direto para sugerir pautas, comentar matérias, fazer críticas e elogios.

Twitter@almanaquebrasil

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O canal do AlmAnAque BrAsil no Youtube oferece o conteúdo de toda a primeira temporada. Você pode assistir aos programas completos, ou navegar por uma seleção das melhores matérias exibidas – pílulas de brasilidade que podem ser receitadas para todos os públicos. Basta copiar o código fonte e sair por aí incorporando as mais saborosas histórias do Brasil em seu blog ou rede de relacionamentos.

Youtubewww.youtube.com/almanaquebrasiltv

Você sabia?

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um sanfoneiro tocando músicas do “sul”. Pensou: “Eu posso to-car melhor que esse sujeito”. Ao lado do primo, resolveu tentar a sorte na emissora. Apresentou-se ao produtor musical que, meio a contragosto, pediu para o garoto tocar algo. Ele dedilhou Tico Tico no Fubá. “Você pode começar hoje à noite?” foi a rea-ção do produtor. E assim começou a carreira. Se antes ganhava cinco mil réis nos bailes de sua cidade, recebeu 100 mil pela primeira apresentação na rádio. “É daqui que não saio”, avisou ao primo.

Beethoven e PixinguinhaNa Rádio Clube de Pernambuco, fazia apresentações e era um dos responsáveis pela produção musical. Ao mesmo tempo, ti-nha aulas com o maestro Guerra-Peixe, fato considerado fun-damental para alargar sua sensibilidade musical. Mas o seu

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uto oficial na Paraíba. Por três dias as bandeiras fo-ram hasteadas a meio pau. As rádios locais não pa-

ravam de tocar músicas como Maria Fulô, Feira de Mangaio e tantas outras. Tudo em homenagem a Sivuca, que havia morri-do naquele dezembro de 2006. Uma retribuição ao homem que elevou a sanfona a instrumento universal. “Foi com Sivuca que aprendi que uma sanfona pode ser tocada com orquestra sinfô-nica”, disse o parceiro Oswaldinho do Acordeom.

A trajetória artística de Severino Dias de Oliveira começou na cidade de Itabaiana, interior da Paraíba, onde nasceu em 26 de maio de 1930. Sua mãe gostava de cantar, e o garoto tentava acompanhá-la numa humilde sanfona. Rapidamente tornou-se bom no instrumento. Para levantar uns trocados, o menino mal chegado aos 10 anos tocava nos bailes da cidade.

Aos 15 já era bom demais. Um dia ouviu numa rádio recifense

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SIVUCA

Ele nasceu como mais um Severino no interior da Paraíba, mas precisou de pouco tempo para se tornar um ícone internacional. Não só atravessou fronteiras, como também os limites de seu instrumento de trabalho, a sanfona. Influenciou artistas de todos os estilos, compôs clássicos e deixou seu nome na história da música mundial.

Sanfoneiro universal

Por Bruno Hoffmann

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O melhor produto do Brasil é o brasileiroCÂMARA CASCUDO

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Sanfoneiro universal

1964, recebeu um convite e mudou-se para Nova Iorque. No início, acompanhava a cantora Carmen Costa. Até que

participou de um teste para integrar o trio da cantora sul--africana Miriam Makeba. Sivuca tocou um balaio paraibano, e a cantora perguntou, estupefata: “Onde você aprendeu a tocar música sul-africana?”. A música da Paraíba e da África do Sul eram de uma semelhança que impressionou a ambos. Seria contratado na hora. É dele o arranjo de um dos maiores sucesso da música mundial, Pata Pata. Durante os 12 anos que permaneceu nos Estados Unidos foi ainda diretor de mu-sicais e arranjador para outros artistas.

Na volta ao Brasil, Sivuca lançou discos elogiadíssimos, ao lado de parceiros e intérpretes como Paulo César Pinheiro, Clara Nunes e Fagner. Num deles, surgiu Feira de Mangaio. Na mesma época, Chico Buarque decidiu resgatar uma melodia composta por Sivuca quando adolescente, e fez a letra de João e Maria: Agora eu era herói / E meu cavalo só falava inglês...

Sivuca não parava de trabalhar e de lançar novos discos. Um dos grandes momentos se deu em 2004, quando gra-vou Sivuca Sinfônico. Era um sonho antigo unir a música popular à erudita pela sanfona. Gravado com a Orquestra Sinfônica do Recife, o disco contém Rapsódia Gonzaguiana (com clássicos de Luiz Gonzaga), João e Maria, Concerto Sinfônico para Asa Branca.

Em 2006, não resistiu ao câncer que lhe acompanhava há anos. Morreu em João Pessoa. Rolando Boldrin afirmou: “Sua arte ganhou o mundo, sem deixar de ser um paraiba-no chamado Severino”. Oswaldinho do Acordeom foi além: “Nas mãos dele a sanfona não era um instrumento regional, mas universal”.

preferido sempre foi Luiz Gonzaga, que chamava de mestre. “Gonzaga foi o primeiro sanfoneiro de sucesso a tocar músi-ca nordestina com dignidade, sem o senso pejorativo de fol-clore”, afirmava. Também conheceria um músico alagoano que se tornaria seu parceiro por décadas: Hermeto Pascoal.

Aos 20 anos, Sivuca gravou o primeiro disco, que continha Adeus Maria Fulô, parceria com Humberto Teixeira: Adeus, vou-me embora, meu bem / Chorar não ajuda ninguém / Enxugue seu pranto de dor / Que a seca mal começou... Era o que faltava para ser considerado um dos principais nomes do acordeom no Brasil. Ou, melhor, da sanfona. “A gente não deve esquecer que quase 40 milhões de pessoas chamam o instrumento de sanfona. É francês que chama de acordeom, mas não sou francês. Sou paraibano, me chamo Severino e escapei por pouco de ser Biu”.

O sucesso o fez ser convidado para apresentações no Rio de Janeiro, e decidiu mudar-se para a cidade. Era também presença constante em emissoras de rádio e de tevê paulis-tanas. Não se limitava aos ritmos nordestinos. Desvendava novos caminhos para a sanfona, até então intrinseca-mente ligada a ritmos regionais. Era admirador de Bach, Beethoven, Brahms. Tinha por Pixinguinha admiração espe-cial. Costumava incluir em seu repertório o comovente cho-ro Naquele Tempo. Para Marcelo Caldi, diretor de um projeto que celebrou os 80 anos de nascimento de Sivuca, “ele não se estigmatizou como o sanfoneiro do Nordeste que toca de ouvido. Teve formação clássica e compunha choros, frevos, jazz e outros gêneros”.

Agora eu era herói...Em 1958, fez sua primeira turnê pela Europa, e decidiu mudar de mala, cuia e sanfona para Paris. Gravou discos e, em 1962, foi eleito o melhor músico do ano pela imprensa francesa. Em

Não se limitava a ritmos nordestinos.

Era admirador de Bach, Beethoven e Brahms.

Por Pixinguinha tinha admiração especial.

No site do AlmANAque, ouça uma seleção de músicas de Sivuca.

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m uma frase conhecida, Ariano Suassuna gaba-se: “Nunca saí do Brasil e espero nunca sair”. Nos anos 1990, o escritor recusou um convite para ir ao Marrocos: “É até um país que, se fosse ali em Alagoas, eu ia. Mas longe do jeito que é, não vou, não”.

Mário de Andrade era outro que conhecia o Brasil como a palma da mão, mas praticamente nada fora daqui: “Nunca saí do Brasil, a não ser em pequenas incursões nos limites do Peru e da Bolívia. Em compensação, conheço quase todo o meu país ”.

Muitos grandes brasileiros, no entanto, pensaram diferente e adquiriram no exterior experiências fundamentais para sua vida e atuação no Brasil. Se não, no máximo, acrescentaram versos nostálgicos ao repertório nacional.

Os mais famosos – quiçá os primeiros – são os de Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras /Onde canta o sabiá / As aves que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá. Bastante sentimental, o romancista maranhense reverenciava a jovem nação depois de cinco anos estudando Direito na França, no fim do século 19.

O poema referência não cansa de ser evocado. Entrou até no Hino Nacional (Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida mais amores) e foi parodiado por poetas de vários tempos, como Oswald de Andrade, Drummond e Vinicius de Moraes.

O sentimento traduzido em Canção do Exílio vive no inconsciente do brasileiro que, para o bem ou para o mal, vive fora da nação. Nas páginas a seguir, ilustres exemplos não faltam.

Em diferentes épocas e por diversos motivos, ilustres brasileiros fizeram as malas e se aventuraram em terras estrangeiras. Uns sofreram, choraram e passaram apertos. Outros tiveram felizes estadas. Todos deixaram histórias com sabor de almanaque em cartas, versos, declarações ou canções.

Texto: Natália Pesciotta Arte: Guilherme Resende

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A influência libertária dos tropicalistas não agradava muito a ditadura militar. Depois de serem presos sem muita justificativa, Gilberto Gil e Caetano Veloso receberam ordens expressas: “Vocês podem fazer um show em Salvador para arrecadar algum recurso, e depois devem deixar o País”.

Gil achou Londres a maior curtição. Mas Caetano pouco aproveitou a viagem forçada. Andava cabisbaixo. Chegou a gravar Asa Branca para relembrar da pátria, e a sua London, London, composta na cidade, é só nostalgia.

O jornal O Pasquim publicou uma carta sua, enviada em 1969: “As crianças inglesas são belas e agressivas. A rainha Elisabete está pedindo aumento de salário. Eu não dependo disso tudo. Nada disso depende de mim. O rei esteve aqui em casa”.

O rei era Roberto Carlos que, de passagem pela cidade, visitou os jovens brasileiros. Mostrou sua nova música, Nas Curvas da Estrada de Santos, e deixou Caetano às lágrimas. Na volta ao Brasil, condoído, compôs para o baiano a canção Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos: Você olha tudo e nada / Lhe faz ficar contente / Você só deseja agora / Voltar pra sua gente.

Quando o governo de Getúlio Vargas colocou o Partido Comunista na ilegalidade nos anos 1940, Jorge Amado precisou partir. Conseguiu exílio em Paris para ele e a mulher, Zélia Gattai. Foram anos proveitosos para a formação intelectual do casal. Conviveram com os Pablos Neruda e Picasso, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Satre. Neruda chegou até a batizar uma Gattai Amado nascida no exterior. Isso até serem

novamente expatriados, pois a França também endureceu com os comunistas. Foram parar em uma comunidade de intelectuais em um lindo castelo na Tchecoslováquia, abandonado pela assustada realeza. Desse tempo, nada de amargura. Guardaram sorridentes fotos mais tarde publicadas em livro.

Os uruguaios receberam com bastante carinho a leva de exilados tupiniquins que ingressou na então “Suíça sul-americana” em 1964, ano do golpe militar. Centenas de brasileiros se reuniam na principal praça de Montevidéu para ter notícias da pátria. Entre eles, o presidente deposto João Goulart. Mas era o cunhado dele, Leonel Brizola, quem se destacava. De longe, o ex-governador do Rio Grande do Sul articulou um grupo guerrilheiro, o Movimento Nacionalista Revolucionário, que ele gostava de chamar de “morena”. A família do caudilho teve que se acostumar com a nova rotina: “Para mim foi como se tivesse ido dormir como princesa e acordasse como sapa”, contou depois Neusinha Brizola, uma de suas filhas.

MORRE-SE TAMBÉM DE SAUDA

DE

Primeiro, como embaixado

r do Brasil em Genebra,

depois como

exilado político, a part

ir de 1964, o destino do

cientista

social pernambucano Josu

é de Castro estava ligad

o à Europa:

“Não se morre apenas de

enfarte, ou de glomero-n

efrite

crônica. Morre-se também

de saudade”. E morreu m

esmo, aos 65

anos, sem realizar o des

ejo de regressar ao Bras

il.

JORGE AMADO, SAR

TRE E SiMONE DE

BEAUvOiR

inspirou ainda outro refrão famoso, de Paulo Diniz e

Odibar: I don´t want to stay here / I want to go back to Bahia.

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Aos 16 anos e com pouquí

ssimos dólares no bolso,

Tim Maia embarcou para u

ma temporada de aventura

s

nos Estados Unidos. Enfr

entou muita dificuldade

e se meteu em outras tan

tas encrencas. Uma parte

dos quatro anos longe vi

veu na cadeia. No fim,

voltou expatriado, por p

orte de drogas e roubo.

Mas trazia na cabeça a i

nfluência dos ritmos negr

os

de lá, fundamental para

sua contribuição à músic

a

nacional.

TiM MAiA PASSOU MAUS BOCA

DOS

NOS “STATES”

www.almanaquebrasil.com.br

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A carreira de diplomata levou João Cabral de Melo Neto a viver 40 anos no exterior. Sevilha recebeu carinho especial do poeta, que se considerava pernambucano e sevilhano: “Há que sevilhizar a vida. Há que sevilhizar o mundo”. Dizia-se regionalista tanto no Brasil quanto na Espanha. Foi durante a estada na seca e quente Andaluzia que o autor de Morte e Vida Severina despertou para os temas mais caros à sua obra: a contradição entre litoral e sertão, clima seco e chuva, fartura e miséria.

“As pirâmides do Egito são uma beleza, infelizmente tão exploradas que diante delas a gente só pode ter uma sensação já descrita no almanaque da saúde da mulher.” Clarice Lispector narrava em cartas para as irmãs todos os acontecimentos de sua vida – que, por causa do marido diplomata, se passou muito tempo fora do Brasil. A escritora falava animada de livros e pensadores, mas nunca deixava de demonstrar sua dificuldade em viver longe. O período na Suíça, nos anos 1940, foi o mais duro. Não deixou de fazer literatura: “Escrevo com um desejo irreprimível de retorno à origem, uma dor da pátria, uma saudade de casa”.

Convidada por um amigo a passar o carnaval no

Brasil, Carmen Miranda respondeu: “Por agora em vez de ‘vesti uma camisa listrada e saí por aí’, infelizmente tem que ser ‘assinei

um contrato danado e fiquei por aqui’”. Com o

rótulo de “americanizada”, Carmen trabalhou como atriz

em Hollywood entre 1940 e 1954. Na última viagem ao Rio, declarou: “Minha saudade

do Brasil é maior que o Pão de Açúcar”.

Foi Carmen Miranda quem

recebeu Vinicius de Moraes em Los Angeles, onde ele assumiu o primeiro posto como diplomata, em 1946. O Poetinha ficou fascinado pelas mulheres de Hollywood. Trabalharia ainda por décadas em Paris e Montevidéu. Certa vez, esperando um navio para voltar ao Brasil, escreveu para Tom Jobim: “Você já passou um 7 de Setembro sozinho, Tomzinho, num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro”. No dia em que foi expulso da diplomacia brasileira pelo governo militar, em 1968, leu em um show o poema Pátria Minha: A minha pátria é como se não fosse, é íntima / Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo / É minha pátria. Por isso, no exílio / Assistindo dormir meu filho / Choro de saudades de minha pátria.

“Minh

a sau

dade

do Brasil é maior que o Pão de Açúcar”

“Morar em Nova Iorque é bom, mas é uma merda. Morar no Rio é uma merda, mas é bom”, concluiu Tom Jobim. Com o sucesso da Bossa Nova, o cantor e compositor gravou o antológico disco com Frank Sinatra, em 1967, e ficou por lá. O Samba do Soho, no qual ele compara o bairro nova-iorquino com a Gamboa, no Rio, o entrega: Quem não sabe o que é saudade / Não conhece esse dilema / Não provou desse veneno / Nunca teve uma morena.

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Maio 2011

Em 1968, Toquinho recebeu um chamado de Chico Buarque. O amigo havia viajado para Roma e, com o endurecimento da ditadura militar, resolveu não voltar tão cedo. Dizia para Toquinho que havia marcado “uns 40 shows” para a dupla no país da bota. O violonista atravessou o oceano às pressas, mas na Itália descobriu que nada estava certo. Chico queria mesmo era a sua companhia.

A dupla até que conseguiu alguns trabalhos. Em um bar decadente, onde ninguém os conhecia, arriscaram sucessos como Mamãe Eu Quero e Alalaô. Ainda acompanharam uma turnê italiana da vedete franco-americana Josephine Baker, fazendo o encerramento de uma parte do show. E cultivaram algumas diversões, como trocar pares de sapatos engraxados nas portas dos quartos de um hotel luxuoso, causando a maior confusão.

No fim de 1969, Toquinho voltou ao Brasil, mas, antes disso, arrancou de Chico os versos para uma música que havia composto, mais tarde finalizada com a ajuda de Vinicius. O título, Samba de Orly, faz referência ao aeroporto francês de onde os exilados brasileiros historicamente partiam: Vai meu irmão / Pega esse avião / Você tem razão / De correr assim / Desse frio / Mas beija / O meu Rio de Janeiro / Antes que um aventureiro / Lance mão.

Nos anos 1950, não era nada comum jogadores brasileiros defenderem times estrangeiros. Julinho Botelho, uma exceção, brilhava no futebol italiano com a camisa da Fiorentina. Convocado para disputar a Copa do Mundo pela seleção brasileira em 1958,

surpreendentemente o ponta-direita declinou o convite. Julgou que não seria ético tirar o lugar de um atleta que atuasse no Brasil. Só não esperava que um dos amistosos de preparação do escrete canarinho antes do mundial fosse contra o seu time. Quando o Hino Nacional entoou no estádio, Julinho sentiu as pernas bambas e não conseguiu segurar as lágrimas. Foi incapaz de driblar um brasileiro ou de marcar um gol. A seleção bateu a Fiorentina por 4 a 0. O atacante Viola

foi dos poucos jogadores de futebol que preferiu atuar no Brasil e não na Europa. Em 1997, voltou por vontade própria do Valência, na Espanha, onde passou curta temporada. “Tive problemas de adaptação e alimentação. Nunca tinha ido para a Europa e saído de perto da família. Pintou saudade de casa”, justificou.

José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, nunca deixou livro, mapa ou papel sem o carimbo peculiar de uma frase em latim: Ubique patriae memor – em todo lugar, lembrar-se da pátria. E não esqueceu mesmo, nem quando foi o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, ou quando firmou tratados importantes com países latino-americanos em defesa do nosso território. “O longo afastamento da pátria e o sentimento que tal separação criava foi a causa da ambição intelectual de sua vida”, acreditava o abolicionista e amigo Joaquim Nabuco.

No site do Almanaque, ouça

músicas, assista a vídeos e leia

poesias e cartas dos ilustres

exilados citados nesta reportagem.

e a mulher, Elza Soares, durante

seu exílio em Roma. O cantor desembestou

a falar de futebol, enquanto o craque queria

mesmo era saber de música. Os assuntos

foram regados a grapa em um bar próximo

à casa de Chico. O amigo ilustre lhe rendeu

popularidade: “Até aí, ninguém me dava bola

nesse bar”.

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Pala

vras

Cru

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sO Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba TahanAo contemplar o túmulo que encerra Diofanto, não se saberá de imediato quantos anos viveu o algebrista grego, mas a pedra da lápide dá pistas: “Aqui jaz Diofanto. Deus concedeu-lhe passar a sexta parte de sua vida na juventude. Um duodécimo na adolescência. Um sétimo, em seguida, foi passado em um casamento estéril. Decorreram mais cinco anos, depois do que lhe nasceu um filho. Mas esse

filho – desgraçado e, no entanto, bem amado – apenas tinha atingido a metade da idade do pai e morreu. Quatro anos ainda mitigando a própria dor com o estudo da ciência dos números passou Diofanto, antes de chegar ao termo de sua existência”. Saberia você desvendar a idade em que morreu o célebre algebrista?

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ervo

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míli

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Respostas

CARTA ENIGMÁTICA ”A soma de coragem e precisão o fez lendário” (Ayrton Senna).

ENIGMA FIGURADO Faustão. O QUE É O QUE É? Pulga atrás da orelha.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1c; 2d; 3a; 4b.

BRASILIÔMETRO 1c; 2b; 3d; 4c; 5a; 6c; 7d; 8c.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Diofanto morreu aos 84 anos. Basta traduzir o texto da lápide em uma expressão de primeiro grau, na qual x representa o número de anos em que viveu o algebrista: x/6 + x/12 + x/7 + 5 + x/2 + 4 = x.

Agnaldo Raiol

DE QUEM SÃOESTES OLHOS? 3 4

21

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7

8Conte um ponto por resposta certa

valiação

teste o nível de sua brasilidade

1

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3

4

ligue os pontos

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Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Malba Tahan (Record, 2009).

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Em 1º/5/1940, Getúlio Vargas anunciou a lei do salário mínimo em discurso no estádio:(a) Maracanã (b) Couto Pereira(c) São Januário (d) Rua Javari

Grupo que teve o direito a votar pela primeira vez em 3/5/1933:(a) Índios (b) Mulheres (c) Estrangeiros (d) Maiores de 16 anos

Casal famoso que se separou em 11/5/1972:(a) Herivelto e Dalva (b) Frota e Cláudia Raia (c ) Chico e Marieta (d) Bôscoli e Elis

Jogador de basquete que se despediu das quadras em 15/5/2003:(a) Marcel (b) Guerrinha (c) Oscar (d) Pipoka

Cidade na qual está o teatro Santa Isabel, inaugurado em 18/5/1850:(a) Recife (b) Manaus (c) Porto Alegre (d) Campo Grande

Santo canonizado em 19/5/2002:(a) Marcos (b) João (c) Paulina (d) Padre Cícero

Filme brasileiro que, em 23/5/1962, ganhou a Palma de Ouro em Cannes:(a) Cinderela Baiana (b) Bonitinha, Mas Ordinária (c) Terra em Transe (d) O Pagador de Promessas

Cidade que, quatro anos antes da Lei Áurea, em 24/5/1884, aboliu a escravidão:(a) Palmas (b) Olinda (c) Manaus (d) Fortaleza

a Tornou-se deputado federal em 1945 pelo Partido Comunista Brasileiro. É o autor da lei que garante a liberdade de cultos religiosos.

b Candidatou-se ao cargo de deputado federal sob o slogan “Pão – Teto – Roupa – Saúde – Instrução”. Não conseguiu eleger-se.

c Seus relatórios como prefeito da alagoana Palmeira dos Índios chamaram a atenção pela qualidade literária. Pouco depois, lançou o primeiro romance.

d Suas posições políticas foram antagônicas. Em 1928, formou o primeiro núcleo comunista de Fortaleza. Em 1964, apoiou o golpe militar.

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ilustrações: luciano tasso

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www.lucianotasso.blogspot.com

Amigo cão: Peteleco fazia música, Biriba dava sorte

amizade entre homens e animais é antiga, bem mais velha do que o Brasil. Em Israel, encontraram um fóssil de uma criança abraçada a um cachorro. Os ossos estavam

fossilizados naquela posição há 10 mil anos.Por aqui também temos muitos casos de bichos de estimação fiéis aos donos. Sabia que

Adoniran Barbosa, o sambista mais importante de São Paulo, fazia músicas em parceria com seu cãozinho? Ninguém sabe se Peteleco ajudava mesmo, mas Adoniran o registrou como autor de vários sambas.

Outro cachorro que ganhou fama foi Biriba, vira-lata que um jogador do Botafogo encontrou na rua nos anos 1940. Como o time venceu no dia em que ele estava no estádio, acharam que o bicho dava sorte. O presidente do clube passou a tratá-lo como se fosse de ouro: em uma viagem em que não cabia todo mundo, um dos reservas ficou de fora para Biriba poder embarcar. Só comia do bom e do melhor, posava na foto oficial da equipe e, acredite, tinha até que fazer xixi na perna dos jogadores para dar sorte antes dos jogos.

A

São muitas as regras a que os donos de bichinhos de estimação devem estar atentos. Apesar de queridos, os animais não podem fazer tudo que as pessoas fazem. São proibidos em vários lugares, como na praia e no metrô. Só há uma exceção: uma lei de 2005 libera os cães guia, que ajudam deficientes visuais. A advogada Thays Martinez, que anda por aí com ajuda de um desses

cachorros treinados, ajudou a fazer com que eles fossem permitidos no metrô. Ela é presidente de um instituto que treina os cachorros para isso. Depois de um ano e meio, eles estão prontos para ajudar quem não enxerga.

Cão guia pode ir a todos os lugaresJá reparou que antes de deitar os cães dão várias voltas no lugar? É que os animais se adaptaram para viver com a gente em nossas casas, mas não perdem algumas características naturais de quando viviam em grupos de outros cães ou lobos, seus antepassados. Essas voltinhas serviam para

eles se prevenirem de espinhos ou perigos. Outros sinais que antes eram para a comunicação da matilha são

usados com os humanos: pular no dono, por exemplo, é uma demonstração de que ele manda no grupo. Lamber é afeto e reverência, um sinal de respeito. Mostrar

os dentes avisa que está bravo, mas não quer briga. Dá para entender, não é mesmo?

Ele criou uma turma muito famosa que hoje faz sucesso no mundo todo.

Até na China! Mas o primeiro personagem de histórias em quadrinhos a sair de sua caneta foi um cachorrinho azul.

Sabe quem é o homenageado do mês? Para descobrir seu nome, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra colorida escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 2:M. E assim por diante.

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6 5 72

10

3

3

SOLuçÃO NA P. 26

O que mais deixa o

cachorro desconfiado?

JÁ PENSOU NISSO?

Se chove,cachorro sujo sai da sacada

chorando

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a-Língua

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ra ler e repetir em v

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Na ficção, a pequena cidade sergipana recebe uma rainha em busca de tesouro. É o que não falta por ali. A riqueza do sertão

se mostra tanto nas cores e cheiros quanto nas animadas festanças ou incríveis personagens – tudo real.

sertão brasileiro, sonho de consumo do escritor de via-gens Paul Theroux, está na mídia, na moda, na mais re-

cente coleção de Ronaldo Fraga e, agora, na telinha. Por seus ce-nários de beleza ímpar, Canindé foi escolhida dentre as cidades sertanejas como pano de fundo da novela Cordel Encantado, da Rede Globo. A história ficcional se passa no fim do século 17 e conta a viagem de uma rainha que parte das geladas terras de seu reino, a bordo de uma canoa de tolda, em busca de um tesouro escondido no sertão sergipano.

A embarcação com duas velas de desenho asiático navegou mes-mo, durante anos, pelas cidades ribeirinhas do São Francisco. Dotada de inusitado leme lateral, ela transportava toda sorte de mercadorias: farinha, carne-seca, queijos, couro, aviamentos e o brim resistente que tanto vestia a volante quanto os cangaceiros.

Essas mercadorias também abasteciam Canindé, que era apenas um punhadinho de casas simples. “Mas não havia localização de maior ‘realeza’ do que a minha cidade”, recorda Duvalina Rodri-gues dos Santos, 81 anos.

As famílias viviam de frente para uma curva do rio São Francis-co arrodeada pelas montanhas azuis da serra. Quando, na década de 1980, teve início a construção da usina hidrelétrica de Xingó, as casas foram removidas para a nova Canindé do São Francisco. Duvalina foi a última moradora a sair. Só se mudou depois que a capelinha construída nos moldes da antiga, que homenageava Padre Cícero, foi erguida na praça da nova cidade.

Inaugurada em 1994, a usina modificou a paisagem da região. Fez surgir um lago com 60 quilômetros quadrados que elevou o nível das águas do Cânion do Xingó. Segundo o geógrafo Aziz

CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO

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Sertão encantado

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Abril 2011

Ab’Sáber, era um dos desfiladeiros mais espetaculares do Brasil, com rochas graníticas de 60 milhões de anos e alturas que varia-vam de 80 a 160 metros.

No topo dos paredões cor de ferro em brasa, e muitas vezes diretamente na rocha, crescem grande variedade de cactos, como xique-xique, quipá, coroa-de-frade, mandacaru, orelha-de-onça, facheiro. Dentre as árvores dali, o umbuzeiro era velha conhecida dos jagunços. No verão, só fica a galhada seca, mas a raiz possui batatas carregadas de água fresquinha. Era só coar e beber. Naque-la secura, basta chover um dia que o chão árido e cheio de pedras se reveste com uma bela flor rosicler, a cebola braba. Vôte!, como dizem os canindeenses sempre que algo os impressiona.

Feira, festa e forróSábado em Canindé é dia de abastecer a casa com farinha vinda de Itabaiana – da fina ou da grossa –, pimentas, queijo e milho moído para fazer angu. Ou de comprar os doces já prontos que garantem a sustança para depois do forró: munguzá, curau, beiju molhado, sarolho, pé-de-moleque, cocada mole ou bem casada. Os ingredientes dos quitutes são basicamente os mesmos: man-dioca, açúcar e coco – o que muda é o jeitão de fazer, antes de enrolar na folha de bananeira ou na palha de milho.

A movimentação começa cedo, sob as lonas coloridas da fei-ra. Entre badalos de cabras, de som forte e seco, é um vai e vem de gente provando umbu, mangaba, jenipapo – frutas sem muito design, mas de polpa perfumada e carnuda –, além de roupas de estampas muito vivas. A fartura da feira também ecoa na música. Na cidade há doze grupos de forró pé de serra, um “forródromo” que comporta 20 mil pessoas e a primeira escola pública de sanfo-neiros para crianças, inaugurada em 2005.

Canindé tem ainda um celeiro cheinho de personagens como o vaidoso vaqueiro Zé Leobino, Zefa da Guia, que já fez mais de cinco mil partos, e dona Alzira, que aos 13 dançava com Lampião. “Se Lampião ficasse sabendo que um de seus homens faltava com respeito às moças, ou desse um chego ou um arrocho, dava reprimenda”, recorda.

No Cordel Encantado, a rainha veio atrás de um tesouro escondido. Só um? Qual o quê, pois olhe que estão escondidos não, estão é bem à vista para surpreender e im-pressionar os visitantes. Vôte, Canindé!

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Cachoeira do LajadãoÉ quase miragem do sertão: a queda d’água passa pelo rochedo, despenca de uma altura de 20 metros e forma uma refrescante piscina cor de âmbar. Tão revigorante naquele calorão que talvez seja a verdadeira fonte da juventude.

Museu de Arqueologia de Xingó O acervo do MAX, composto de peças encontradas durante as escavações para a construção da hidrelétrica de Xingó, fornece ao visitante uma boa ideia de como viviam os nordestinos pré-históricos. Nas amplas salas estão expostas réplicas de desenhos rupestres, objetos de cerâmica e instrumentos feitos de rocha, como lanças, raspadores e lâminas para machado, além de adornos, colares e potes. Trilhas e caminhos Uma das maneiras mais prazerosas de conhecer as diferentes espécies de cactos, vegetação resistente que se instala nas íngremes rochas, é caminhar pelas trilhas do Talhado, do Vale dos Mestres ou as da fazenda Mundo Novo. No caminho observam-se também pequenos roedores e aves. Nesta última trilha diziam que Maria Bonita se banhava em uma espécie de banheira natural, que acumulava água da chuva.

Não deixe de saborear“Goiabada de Canindé, todo mundo qué...” As

goiabas da região têm um segredo, a combinação de sol a pino com água do São Francisco. E mais:

nenhum bichinho dentro. Qual a razão? A Embrapa rodeou as plantações com árvores indianas que funcionam como repelente natural de insetos. O resultado é uma goiabada pura, além do especial

capricho da cozinheira Sandra, que corta bem miudinho pedaços de goiaba com casca para juntar

ao creme. Prove a versão sertaneja do Romeu e Julieta: Maria Bonita e Lampião, que combina

goiabada com queijo de cabra.

Como chegarA TAM oferece voos diários para Aracaju, saindo das principais cidades brasileiras. De Aracaju até Canindé de São Francisco são 198 quilômetros.Onde ficarXingó Parque Hotel • Se hotéis europeus costumam deixar na recepção uma cestinha com maçãs, as boas-vindas deste recanto são em forma de perfumadíssimas cestas de goiabas recém-colhidas. O hotel fica de frente para as águas da represa. Fone: (79)3346-1245. www.xinguparquehotel.com.br.Onde comerSabor do Sertão • Delícias como galinha de capoeira, tilápia do sertão e guisado de carneiro são acompanhadas por farofa com farinha de Itabaiana,

Se rviçOfeijão verde e quiabada. Tudo em generosas porções. Fone: (79) 9963-5811.Tabaréu • Entre as melhores receitas da chefe de cozinha Vânia, estão a costela ao tabaréu e o tucunaré frito. No cari assado, o peixe de sabor suave que dá nome ao restaurante é coberto por queijo coalho e servido com cremoso purê de macaxeira ou pirão de leite. Escolha uma das mesas debaixo das frondosas árvores, com deliciosa e constante brisa. Fone: (79) 9949-6765.Onde comprarEngenho da Terra • A loja do Aeroshopping de Aracaju tem o melhor do artesanato sergipano em peças como rendas, imagens de santos esculpidas em madeira, redes e xilogravuras. Fone: (79) 3212-8592.

Durante meses, os diretores da novela Cordel Encantado percorreram quatro estados brasileiros para definir os mais belos cenários. A escolha da

maior parte deles recaiu nos arredores de Canindé, que de quebra têm, segundo eles, uma especial luz

dourada nos fins de tarde.

Preste atenção

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AVEIA

Campeã no campo dos cereaisAlto valor nutritivo. Gera força e energia. Estimula o cérebro. Acalma os nervos. Combate

anemia, depressão, esgotamento físico e mental. Protege o coração. Ajuda a emagrecer. Traz

longevidade. E ainda nos brinda com um delicioso começo de dia.

ma grata lembrança da infância é o mingau de aveia pela manhã

que nossas mães faziam. Crescemos, tivemos nossos filhos e demos a eles o mingau de aveia matinal de cada dia. Sabíamos que, enquanto o de maisena deixa o bebê gorduchinho, o de aveia o põe carnudo, durinho – nutrido. O espe-cialista holandês em plantas medicinais Jaap Huibers, em As Plantas Medicinais e o Amor, diz que “a aveia possui, mais que qualquer outro cereal, uma força próxi-ma dos limites do mundo vegetal”.

Um dos primeiros cereais cultiva-dos, desde cerca de 2000 a.C., é uma erva anual de até 1,20m de altura. Ao contrário de outros cereais, as semen-tes não se juntam em espigas; crescem independentes, se movem e acumulam muito mais energia absorvida do sol, que passam para nós no café da manhã. Acredita-se que surgiu na Europa Oriental e chegou ao Ocidente gra-ças aos legionários romanos: ao ocupar a Germânia e a Gá-lia, notaram que aqueles povos, que comiam aveia, tinham “saúde de ferro” e eram longevos. A fama ficou no ditado alemão: “Papa de aveia faz homens de ferro”.

Rica em fibras, regulariza os intestinos; tem cálcio, para os dentes e ossos; fósforo, para o cérebro; ferro, para o sangue; vitamina B1, para os nervos; e beta-glucana, com-

posto que fermenta bactérias intestinais gerando ácidos gra-xos que dificultam a formação de colesterol.

Em 2004, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, fizeram um es-tudo com 126 pessoas entre 18 e 55 anos, com colesterol acima de 200 – nível máximo reco-mendável. Após um mês comen-do aveia, o nível de todos baixou entre cinco e 15 por cento.

Nos Estados Unidos, após uma queda na procura, os america-nos voltaram a consumir mais aveia em 1997, depois de uma

medida do FDA, Food and Drug Administration (órgão que controla ali-

mentos e remédios): o rótulo de alimentos que contenham aveia pode anunciar sua propriedade de reduzir o risco de doença cardíaca – desde que você adote uma dieta pouco gordurosa.

Quando se fala nela, logo se pensa em seu saboroso min-gau. Mas também se pode usar aveia em farofas, batida com frutas, salpicada na salada; ou, misturada à farinha de trigo, em pães, bolos, biscoitos. E junto com o valor ali-mentício, temos o ancestral simbolismo da fartura. Diz o provérbio português: “De trigo e aveia, minha casa cheia”.

Avena sativa

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33

SAIBA MAIS

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella ([email protected])

Guia Feminino de Saúde e Beleza, de Maribeth Riggs (Angra, 2000).Aveia – Composição química, valor nutricinal e processamento, de Luiz Carlos

Gutkoski e Ivone Pedó (Varela, 2000).

IolA

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A H

uzA

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aap Huibers é internacionalmente conhecido pelos livros a respeito do poder medicinal das plantas: como tratar

ansiedade; trabalhar respiração; regular pressão; curar dor de cabeça; dormir bem. Relaciona vegetais que influen-ciam a vida sexual, como alecrim, salsa, aipo, alho, alfaze-ma; e, ao falar da aveia, se entusiasma. Não por acaso cita o exemplo do cavalo, animal que simboliza a impetuosida-de do desejo, da juventude. É sabido que cavalos adoram aveia, mas, alerta Jaap, em demasia “pode desencadear no animal forças que atingem os limites do inacreditável”. Ele conta que seu avô exagerou na dose com um cavalo: “As consequências foram desastrosas. Não foi mais pos-sível deter o animal, que arrancou as rédeas num acesso desenfreado de energia”. Supomos que com gente se dê o mesmo. Mas com bom senso, ela é indispensável. “Uma criança jamais crescerá bem nutrindo-se com fermento, centeio ou outros cereais como ocorrerá comendo toda manhã um prato de flocos de aveia”, diz o naturalista.

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Dá vigor e disposição, mas use com moderação

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indústria fabrica cosméticos de aveia. Por que não fazer em casa sem perder nutrientes, e

mais barato? Para uma esfoliação nutritiva e eficaz, para rosto, pescoço e colo, misture os flocos com mel, friccione, deixe um tempo e lave. Escalda-pés de água e aveia é bom para calos, bolhas, unhas encravadas, secura. Um cataplasma de aveia cozida alivia erupções da pele. E um dos primeiros ins-trumentos a alegrar a humanidade foi a flauta feita com seu talo, que é oco: a avena.

juda a emagrecer: por dar sensação de sa-ciedade, reduz o apetite. Aliada do diabético:

as fibras fazem o açúcar dos alimentos chegar ao sangue mais devagar. Previne gastrite, constipa-ção, diarreia, câncer de intestino, arteriosclerose, hipertensão. Na gravidez, promove o desenvol-vimento do feto e estimula a produção de leite; na infância, garante o desenvolvimento físico e mental. É mais nutritiva comprada em loja de produtos naturais. A crua fica mais digestiva se empapada em água durante a noite.

Dicas de saúde

Até música ela faz

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Causos de Rolando Boldrin

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Um caminhão velho, desses de carregar tranqueira, foi buscar na cidade um caixão de defunto pra ser usado por um dito-cujo que tinha falecido lá na-quelas redondezas.

Lá vinha o caminhão com o caixão (sem o defun-to, que ainda estava na casa de moradia). Eis que, ao passar por um capiau, o motorista foi interpelado, na tentativa do referido capiau cavar com isso uma bêra, que naquelas bandas é pegar uma carona.Capiau – Ô, moço! Será que o sinhô pode me dar uma bêra até o Lageado?Motorista – Pode trepá lá em cima, coió. E óia: lá na carroceria tem um caixão de defunto, mas não se preo-cupe porque ele tá vazio.Capiau (trepando) – Brigado, moço. De repente, começa a chuviscar. O tal capiau ti-nha tomado remédio quente e não podia levar aquele chuvisqueiro na cachola. Abriu a tampa do caixão de defunto vazio e se agasalhou lá dentro, de um jeito até que bem gostoso. Fechou o caixão com a tampa, sem medo de nada. Acontece que, conforme o caminhão passava na es-trada, outros capiaus também pediam bêra, chegando a juntar uns 20 no caminhão. Achavam naturalmente que ali tinha um defunto fresco, pois o motorista ia sempre avisando: “Óia. Pode subi, mas num liga pra-quele lá de riba, não.” Eis que a chuva deu uma parada boa. Nessa hora, o capiau que ia dentro do tal caixão abriu num impacto a tam-pa e, sentando-se num gesto brusco, perguntou a todos:Capiau – Cumé, moçada? Já parô de chovê?

Nem é preciso dizer o que aconteceu. Foi capiau pra tudo quanto é lado, mesmo com o caminhão em movimento.

O capiau e o caixão

Baixinho valente Um sujeito baixinho entra no bar com cara de mau, dá um chute na cadeira e grita:– Tem algum cara valente aqui que goste de uma boa briga?Imediatamente se levanta um sujeito de dois metros de altura, encara o desafiante e diz:– Eu adoro briga! Por quê?E o baixinho:– Muito bem, já arranjamos um! Tem algum outro valente aqui?

Sentido de mãeO rapaz chega em casa todo animado e avisa a mãe que conheceu uma mulher incrível e que vai se casar. Propõe uma brincadeira: trazer a moça e duas amigas, para que a mãe descubra qual será sua futura mulher. No dia seguinte, as três mulheres se sentam no sofá e conversam com a mãe do rapaz por um bom tempo. Depois de horas, o filho pergunta: – Então, mamãe, você consegue adivinhar com qual delas vou me casar?A mãe responde imediatamente:– Com a do meio.O rapaz, surpreso, pergunta:– Como você acertou?– É que não gostei dela.

Posições novasO casal está junto há anos e o marido resolve apimentar a relação. Chega perto da mulher e lhe diz, no ouvido:– Amor, vamos tentar umas posições diferentes hoje?E a mulher, cortando cebola:– Claro, Alfredo. Você fica aqui em pé lavando a louça e eu sento no sofá.

A casa azulDois bêbados estavam num bar, quando um perguntou ao outro:– Onde você mora?– Eu moro na rua acima.– Eu também!– Ah, é? Eu moro na única casa azul da rua.– Como assim? É mentira! Sou eu que moro na casa azul.– Tá louco? Sou eu que moro lá. Vamos que te mostro que quem mora lá sou eu!Chegando à rua, os dois continuam a discutir aos berros. Nessa hora, abre-se a porta da casa e uma mulher diz:– Muito bonito, hein? Pai e filho brigando bêbados na frente de casa.

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