Ali-babá e Os Quarenta Ladrões - Maria Tereza Cunha

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Ali-babá e Os Quarenta Ladrões - Maria Tereza Cunha

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Nota: Este livro foi scanneado e corrigido por Carlos Antnio. Seu uso exclusivo dos deficientes visuais, segundo as leis de direitos autoraisbrasileiras.Ali-bab e os Quarenta LadresMaria Tereza Cunha CAPITULO 1ABRE-TE SSAMO Numa pequena cidade da Prsia viviam dois irmos: Ali-Bab e Cassim.Enquanto crianas eram muito unidos, brincando sempre juntos e repartindoentre si os brinquedos ou frutas que cada um ganhasse.- Que bela amizade une esses dois meninos! comentava quem os visseentretidos um com o outro, porta de sua casa ou pelas ruas da cidade.J mocinhos perderam o velho pai que deixou apenas um pequeno sacode moedas para cada um. Deveriam continuar unidos, apesar de pobres.Mas a sorte incumbiu-se de separ-los.Cassim, o mais velho dos dois, apaixonou-se por uma jovem ambiciosa epouco depois casava-se com ela. No prprio dia do casamento receberam anotcia de que a moa herdara de um velho tio uma enorme e prspera lojade tecidos, calados e tapetes. Sem ter sido interesseiro, pois at ento amoa era pobre, Cassim tornou-se rico pelo casamento! Inteligente e ativo,estimulado pela ambio da mulher, em pouco tempo era o mais abastadomercador da cidade.Ali-Bab no teve tanta sorte. Desposara uma jovem to pobre quanto eleprprio, e nenhuma herana veio livr-los da misria. Para sustentar-se, aesposa e aos vrios filhos que tiveram fez-se lenhador e trabalhava ao sol e chuva cortando lenha num bosque prximo. Depois, com o auxlio de trsburricos - nicos bens que possua e que comprara com as moedasdeixadas por seu pai - ia vender a madeira na cidade.Seu trabalho era pesado e muitas vezes precisava pernoitar no bosque.Mas era corajoso e forte, disposto sempre a carregar seus animais e assimganhar o sustento da famlia.Uma manh, depois de derrubar um tronco enorme e quando se dispunhaa cort-lo em pedaos, ouviu um estranho tropel.- Quem se aproximar deste stio to distante e deserto? pensou ele.Subindo ao tronco divisou ao longe uma nuvem de poeira que seaproximava. Logo pde distinguir o grupo de cavaleiros que a levantavamdo cho batido plos cascos de seus cavalos. Galopavam naquela regio.- Nunca ouvi falar de bandidos por esta zona. Mas creio ser melhorocultar-me pois eu sou um apenas e eles so muitos, pensou Ali-Bab.Palpita-me que no so gente de bem!...Num instante o lenhador pulou de seu posto e, gil, galgou frondosa eimensa rvore. Acomodado no alto dela, dificilmente poderia ser descobertopor um inimigo, se bem que tivesse ele prprio uma ampla viso do terrenoem torno. Descortinava quase todo o panorama do bosque e apenas direitaseu olhar era tolhido por um rochedo imenso, quase a pique, que se elevavado solo.Mal subira rvore, eis que os cavaleiros chegaram, e se apearam.- So ladres, no h dvida! monologou Ali-Bab. Realmente aliestava um bando de facnoras, altos e fortes, armados at os dentes comfacas, punhais e alfanjes recurvos. Vestiam-se ricamente, apesar de sujos emal encarados.Deviam praticar seus roubos em terras distantes, pois Ali-Bab jamaisouvira falar deles.- Certamente apenas se renem aqui, pensou Ali-Bab, tratando decont-los.- Quarenta! murmurou por fim, assustado. Os ladres descarregaramseus animais e o lenhador viu amontoarem-se ali no cho sacos e mais sacos.- Cuidado com o ouro! gritou um deles para os outros. Se os sacos seabrem uma pena, pois dessa vez ouro em p!- E no arrastem o fardo de jias! Elas tm mais valor in tats! gritououtro.- Pior so os brocados, que se rasgam! gritou um terceiro.Nesse momento o mais alto dos homens, bem vestido e imponente, abriucaminho por entre os outros e aproximou-se do rochedo.- o chefe dos ladres! pensou Ali-Bab.Era o chefe, realmente. Com passo firme rumou para a pedra da rocha emfrente, como que disposto a galg-la. Ali-Bab seguia intrigado os seusmovimentos pois sabia inesca-lvel o rochedo.de Sbito, a poucos passos das pedras, o chefe dos ladres estacou. E comvoz sonora e forte, gritou:- Abre-te Ssamo!Como que por encanto algo se moveu na escarpa dura. Um rudo surdo setez ouvir e uma pedra chata e enorme girou sobre si mesma abrindo namontanha uma porta. Imediatamente os homens, ajudando-se mutuamente,transportaram seus roubos para dentro da rocha. Quando o ltimo delesentrou, o chefe seguiu-o e a pedra tornou a fechar a abertura.- Devo ir embora enquanto eles esto l dentro. Pensava Ali-bab consigomesmo.E j se dispunha a escorregar rvore abaixo quando a prudncia o deteve.- So capazes de sair de um momento para o outro. Se me vem, adeusAli-Bab! O melhor ficar aqui oculto at que tornem a sair, pensou ele.Por sorte seus burricos, ocultos no mato, no haviam chamado a atenodos bandidos.Por muito tempo os ladres ficaram fechados na rocha. Enquanto isso olenhador arquitetava planos de retirada, sempre porm terminando pelaresoluo de no se precipitar. Pensou mesmo em fugir montado num dosbelos cavalos rabes que os homens ali haviam deixado pastando.- Ganho o cavalo mas fico sem os meus burrinhos, pensou no entanto.No poderei levar os trs a reboque, pois so muito lerdos.Sua posio sobre a rvore j se tornava incmoda, mas Ali-Bab erapaciente e precavido.Finalmente o rudo surdo fez-se ouvir novamente, a pedra de novo girousobre si mesma e a fenda se abriu. Um a um foram surgindo os ladres. Porltimo apareceu o chefe que, estacando, voltou-se para a rocha e gritou:- Fecha-te Ssamo!A porta se fechou. Os bandidos selaram seus cavalos, montando-os emseguida. Adiantando-se ento, o chefe encabeou o grupo e partiram todos,tomando o mesmo caminho por onde haviam surgido.- Mais um pouco de pacincia, murmurou Ali-Bab consigo mesmo.Podem ter esquecido algo na gruta! Se me descobrem aqui estou perdido!Os ladres, no entanto, desapareceram. O silncio tornou a reinar em todoo bosque. Do alto da rvore Ali-Bab via longe, s quando julgouprudente, desceu.Tomou seus burros de carga pelas rdeas e j ia fugindo s pressasquando em seu esprito surgiu uma ideia:- Quem sabe se consigo tambm abrir a pedra? Sei a palavra mgica decor! Basta-me pronunci-la.Emocionado mas cheio de curiosidade, Ali-Bab animava-se:- Talvez essa aventura me traga a almejada fortuna! E se me arriscarum pouco talvez tenha algum lucro.Assim pensando, o lenhador aproximou-se da rocha. Olhou em torno,cauteloso, pigarreou e, engrossando a voz, ordenou:- Abre-te Ssamo!Fantstico! A porta de pedra rangeu, soturna, e, girando lentamente,abriu-se!Ali-Bab, trmulo, aproximou-se da abertura no rochedo. Esperavaencontrar uma caverna escura e suja. Estacou, porm, boquiaberto, aodeparar com aquele interior da rocha.Era uma gruta imensa, iluminada por uma abertura l em cima, no alto damontanha. No cho, coberto de tapetespreciosos, amontoavam-se jias e brocados; nas paredes, armas polidasrebrilhavam. Divs caros alinhavam-se nos cantos e pipas de vinhos preciososamontoavam-se tambm num ngulo da gruta. Alm disso os mais variadosobjetos preciosos se espalhavam por todo canto, desde caixotes de moedas deouro at estatuetas ou jarres de carssima porcelana ou cristal.- Esta gruta deve ser abrigo de ladres h muitos sculos, pensou. De outromodo como poderia existir tal tesouro junto?Tonto, diante de tantas preciosidades, Ali-Bab penetrou na gruta seguidoplos trs burrinhos. A porta imediatamente fechou-se atrs dele.- Mais seguro estou fechado, pensou ele.Ento Ali-bab pegou alguns sacos de moedas e foi-se embora.- No devem sentir falta destes sacos, afinal, aqui tem tantos...Pensava Ali-bab.CAPTULO 2 A MOEDA DEOUROAo ver aquela fortuna em moedas de ouro a mulher deAli-Bab quase desmaiou.- Infeliz! gritou ela. Meu pobre Ali-Bab, que fizeste tu? Estava certa deque seu marido cometera alguma infmiapois s assim poderia ter conseguido tanto dinheiro. Ali-Babinterrompeu-a, no entanto, dizendo:- Sossega, minha mulher. No sou ladro! O que trago foi tirado deuma gruta de ladres, no h dvida. E no creio que tirar deles seja roubar.- Que dizes tu, Ali-Bab? No te compreendo!... respondeu-lhe amulher.O lenhador contou-lhe ento toda a sua aventura e concluiu dizendo:- Meu av era um homem abastado. Um dia, porm, uma caravana comtodos os seus haveres foi assaltada numa estrada do pas. Desde entoficamos pobres. E no me resta a menor dvida de que esse assalto foi obrade antepassados desses ladres. minha pois uma parte dos seus tesouros!- Creio que tens razo, concordou a mulher tranquilizada.- Guarda pois segredo, minha mulher. Com o tempo repartirei comCassim minha fortuna. Por hora cala-te ou os ladres sabero de meuachado e daro cabo de ns.- No te preocupes, respondeu ela. Saberei guardar segredo. Mas,dize, Ali-Bab, no achas que devemos contar as moedas de ouro quetemos?- Ests louca? perguntou Ali-Bab. Levaramos horas contando todaselas. E nesse tempo algum poderia nos surpreender e descobrir nossosegredo. melhor enterrarmos as moedas! No percamos tempo.- Acho porm que devemos saber quanto temos, pelo menosaproximadamente. Vou pedir uma vasilha de medir cereais a um vizinho.Enquanto cavares o buraco eu prpria medirei as moedas.- No aprovo a tua ideia, respondeu Ali-Bab. Seria muito mais sensatodesistires dela. Mas no quero te contrariar. Peo-te apenas que sejas o maisdiscreta possvel. Guarda bem nosso segredo ou seremos prejudicados.Sem ouvir mais as palavras de Ali-Bab, sua mulher correu casa deCassim, que no morava longe.- Onde est meu cunhado? perguntou sua mulher que a recebeu de mvontade pois desprezava esses parentes pobres.- Saiu para compras, respondeu ela, desdenhosamente.- Pois ento falo contigo mesma: queres emprestar-me uma vasilha demedir?- Bem pequena, no ? perguntou a mulher de Cassim.- Ao contrrio! Quero a maior medida que tiveres, respondeu a outra.- Pois no, j vou busc-la.Assim dizendo a mulher de Cassim foi para a cozinha, pensandocuriosssima:- Que ter Ali-Bab para medir, se to pobre? Mal tm o que comer!...Alguma coisa esto ocultando de ns.Teve ento uma ideia: dentro da vasilha, bem no fundo, aplicou umapequena camada de cera mole.- Eis a medida, disse depois, apresentando-a concunha-da. Desculpa-mepela demora; que me custou encontrar uma bem grande.A mulher de Al-Bab voltou correndo para casa. Rpida e resoluta ps-sea medir as moedas de ouro passando para o marido os montes j medidos.Este ia fazendo o trabalho de enterr-los:- Duzentas medidas! Temos duzentas medidas de moedas de ouro!Gritou por fim a mulher.- Cem so nossas. As outras cem eu darei a Cassim, disse Ali-Bab.- Acho justo, respondeu a mulher. Poderemos comprar um rebanho comas nossas...- E ficaremos ricos em pouco tempo! completou contente Ali-Bab.Terminado o servio, a mulher foi devolver a vasilha de medir. Na pressa,porm, no notara um importante detalhe:A cera no fundo da vazlia.A mulher de Cassim, ao ver a moeda de ouro, ficou com muita inveja eassim que o marido chegou, contou-lhe tudo.Mal o dia raiou, Cassim correu casa de Ali-Bab.- Irmo, gritou sem mais rodeios, s rico e te finges de pobre! Tensouro aos montes e te fazes de mendigo!- Que dizes tu? perguntou, Ali-Bab. No te entendo! Queres teexplicar?- No te faas de desentendido! gritou Cassim. E, mostrando-lhe amoeda, continuou:- tua! Quero saber agora quantas moedas iguais a esta tens para medi-las com a maior vasilha de medir cevada!Imediatamente Ali-Bab percebeu que a mulher de Cassim descobrira seusegredo. Agora, restava-lhe contar a verdade.- Preferia estudar antes um jeito de conseguir auxlio do Sulto paraexterminar os ladres e s depois te relatar o ocorrido. Desejava poupar-teaos perigos que correrei. No tenho, porm, outro remdio seno te contarminha aventura.E Ali-Bab contou a Cassim todos os detalhes do que lhe acontecera.Terminou por desenterrar as moedas, repartindo-as com o irmo.- Transporta-as noite, aconselhou por fim. No devemos permitir queaqueles bandidos saibam que lhes conhecemos o segredo. Bem sabes comoos boatos e as notcias correm. Evitemos pois os comentrios, por enquanto.- Concordo, contigo, respondeu Cassim. Mas s guardarei segredo seme explicares exatamente onde fica a gruta e como poderei l entrar. Docontrrio espalharei pela cidade a aventura que tiveste.Ali-Bab no teve outro remdio. Temendo mais pela vida de suafamlia do que pela sua prpria, preservaria a todo o custo o seu segredo.- Vou contar-te todos os detalhes, irmo, disse ele. Mas cuidado! Novs arriscar tua vida por cobia. Espere at queconsigamos ajuda do sulto.CAPTULO 3A COBIA DE CASSIM assim voltou para casa resolvido a ir em busca do tesouro dos ladres. Nem mulher, porm contou seu plano. Carregou dez burros com enormes cestos epartiu sozinho no dia seguinte:- Nestes cestos trarei o maior nmero possvel de moedas e jias! Serei ohomem mais rico da cidade - pensava ele seguindo o caminho indicado por Ali-Bab.No tinha o que errar. Em poucas horas avistou o rochedo e, perto dele,pde reconhecer a rvore em que seu irmo se ocultara dos ladres.- Onde ficar a tal pedra que serve de porta? pensou ento.Era difcil descobri-la. Na rocha, vrias pedras se sobressaam, masnenhuma delas se assemelhava a uma porta.- Abre-te Ssamo, gritou Cassim a esmo, com a voz mais forte queconseguiu.No mesmo instante, bem sua frente, uma pedra moveu-se e eis que aporta se abriu. Cassim entrou por ela.- Que maravilha! murmurou ele estacando diante de tantas riquezas.Ali-Bab foi lacnico comigo! H aqui mais preciosidades do que as que eleme descreveu... Estou milionrio!To avarento e cobioso era que, vista de tanto ouro, quase se esqueceude que viera para o roubar. Ficaria o dia todo a mergulhar as mos nascaixas de jias e nos sacos de moedas! Chegou a entrar num tacho cheio deouro em p, saindo dele salpicado daquela preciosa poeira. Devia no entantoencher os cestos que trouxera no lombo de seus burros.Amontoou pois as riquezas que deveria levar. Depois, virando-se para aporta, levou a mo testa:- Abre-te...Cus! Fugira-lhe a palavra!Cassim no conseguia se lembrar da palavra mgica que abria a porta dagruta.- Abre-te Snamo! gritou. Nada. A porta nem se moveu.- Abre-te Slano! berrou j meio aflito. Em vo. Cassim, cada vez maisassustado, esforava-se em vo. O suor j lhe corria pelas faces, enquantoele gritava.- Abre-te Zssano! Tssano! Abre-te!pelo o amor de Deus!...Como um louco, ps-se a pronunciar quantas palavras lhe ocorriam. Ecada vez mais se embaraava. Perdido entre as riquezas, a andar por entreelas e at pisando em algumas, Cassim estava fora de si. O ouro e as jias jno o fascinavam. Seu brilho ofuscava-lhe os olhos e os sacos de ouro fa-ziam-no tropear, enquanto corria de um lado para o outro.- Oh Cus! Estou perdido! gritava ele. Abre-te Stimo! Pelo amor deDeus, abre-te pedra!O pavor de Cassim no era infundado. No tardou que os ladres,voltando de um assalto noturno, se aproximassem da gruta. Imediatamenteviram os burros de Cassim, prontos para serem carregados. Avanaram, agalope.- Tero descoberto nosso esconderijo? perguntavam-se entre si.Com gritos e chicotadas dispersaram os animais de Cassim; no seinteressavam por eles. O que queriam era descobrir quem os trouxera e osdeixara ali, porta de seu esconderijo.- Cerquem o rochedo! gritou o chefe, indicando alguns homens.Imediatamente alguns dos bandidos se destacaram do grupo, circundandoa rocha e mal contendo os cavalos impacientes.- Desmontem agora os restantes! Entremos na caverna! De alfanjes nasmos, ameaadores e raivosos os ladres acercaram-se da pedra movedia.- Abre-te Ssamo! gritou ento o chefe. A porta abriu-se.Cassim no entanto, de dentro da gruta, ouvia tudo o que se passava lfora.- Estou perdido, no h dvida! Soou minha hora final! Oh! Cus!Porque fui invejoso e ambicioso? disse ele em voz alta, no instante em que,girando sobre si mesma, a pedra se abria.Os ladres avanaram. Cassim viu o bando de facnoras, armados e aosgritos, irromperem na gruta contra ele. No teve dvidas - num mpetoarremeteu contra o grupo, desarmado mas resoluto. gil derrubou emseguida o chefe dos ladres, com um valente pontap no estmago. Osladres, que eram muitos, no esperavam por essa reao. Antes quedessem pela coisa, Cassim j montara em um dos seus cavalos e fugia, agalope.Tonto ainda, o chefe ergueu-se do cho.- Persigam-no! gritou; Yusuf! Cabal! Naim! Tragam-no de volta!Os trs homens designados montaram s pressas e saram no encalo dointruso. Os restantes cuidaram de repor nos devidos lugares as riquezas queCassim amontoara disposto a levar dali. Nem sentiram falta, no entanto, dasmoedas que Ali-Bab tirara antes. Estas eram uma gota d'gua no oceano deseus tesouros.- No me importa saber por que este homem no saiu da gruta antes quechegssemos. Quero saber como entrou! disse o chefe dos bandidos, aindaestonteado pelo tombo.- Talvez tenha descido pela abertura superior, conjecturou um dosladres.- Impossvel! respondeu outro. Nem nosso chefe, que to gil e forte,consegue escalar o rochedo.- Ser mgico? indagou outro.- Seja o que for, quero a sua cabea, disse o chefe ferozmente.Os bandidos julgavam-se os nicos donos do segredo da porta. Aqueleintruso, no entanto, viera abalar-lhes a segurana e tranquilidade.- Nosso tesouro corre perigo, comentaram.- E nossas vidas tambm.- Pois ento fechemos a gruta e desapareamos das r dondezas por unstempos, resolveram.- Esperemos no entanto que nossos homens voltem comaquele atrevido!Pouco depois regressaram Cabal, Yusuf e Naim.- A cabea! Dem-me a cabea do homem, gritou-lhes ochefe mal os viu chegar.- Perdo, senhor gritaram eles em coro. O homem deveter asas! Encontramos o cavalo, que j vinha de volta. Dohomem, porm, nem sombra vimos!- Miserveis! Falharam, deixando-nos em perigo berroufurioso o chefe.E s depois de aoitar os trs perseguidores de Cassim que resolveu afastar-se da caverna.Todos a cavalo, fecharam a gruta e foram para uma estrada longnqua,dispostos a atacar as caravanas, como de costume.Antes, no entanto, tomaram suas precaues. Um dosbandidos foi incumbido de postar-se sada do bosque, na estrada que davapara a cidade. Como Cassim se internara na mata, forosamente passaria pelovigia, caso quisesse voltar ao seu lar. Seria ento agarrado e levado gruta,onde,mais tarde, os ladres o matariam.- No deixe sair ningum do bosque; quero esse homemcuste o que custar.Estas foram as ltimas palavras do chefe dos bandidos aoladro que escalara como vigia.Outro ladro ficou incumbido de indagar pela cidade edescobrir de que casa algum sumira. Dessa forma, mesmo que mais tarde,com uma grande astcia, o invasor da gruta lhes pudesse escapar, no fugirias suas garras.Enquanto isso, em casa de Cassim, sua mulher estava preocupadssima.Descera a noite e nada do marido! De madrugada, no se contendo, foi casa de Ali-Bab.- Cunhado, disse depois de acord-lo, teu irmo foi ao bosque hojecedo e ainda no voltou. Temo que lhe tenha acontecido alguma desgraa.- Ele foi caverna dos ladres! Na certa vem carregado de riquezas eespera a madrugada para voltar sem atrair atenes!- Tem razo, Ali-Bab! exclamou a mulher, j feliz por pensar nostesouros que o marido traria.Com essa esperana voltou ela para casa e aguardou pacientemente quesoassem no ptio os passos do marido, e a segui-lo, os cascos dosburrinhos carregados.Mas os clares da manh comearam a tingir o horizonte e nada deCassim.- Se ele esperava as sombras da noite para se esconder, como no veiose um novo dia raia? Pobre marido meu!Como louca, a mulher de Cassim ps-se a chorar, certa de que algo demal se passara no bosque.- Cus! chorava ela, no fora minha cobia nada disso aconteceria!Porque invejei eu Ali-Bab?! Sempre tive tudo o que quis! No entanto, malvi um punhado de ouro alheio e j o desejo de possu-lo veio me arruinar! Nem ao menos aconselhei meu marido a ser grato ao irmo que repartiucom ele sua fortuna!...Mal o dia clareou, a mulher de Cassim foi ter de novo com Ali-Bab.Este, ao v-la, perguntou.- Ento, minha cunhada, que trouxe de bom o meu irmo?... Estsatisfei...Interrompeu-se no meio da pergunta vendo os olhos vermelhos damulher, as faces inchadas e as lgrimas que lhes escorriam pelo rosto.Compreendeu imediatamente o que se passava. Alis, mesmo que acunhada quisesse falar, explicando sua dor, no poderia, pois os soluoslhe embargavam a voz.- Sossega, disse-lhe ento Ali-Bab. Vou em busca de meu irmo.Imediatamente Ali-Bab arreou seus trs burricos e partiu para o bosque.Para no chamar a ateno dos vizinhos tomou de um atalho e, entrandopor ele, no passou pelo vigia que ficara na entrada do bosque.Ao aproximar-se do rochedo, viu um dos burros de seu irmo pastandocom os cestos vazios s costas. Mais adiante viu outro. Aos poucos foi-sealarmando.- Pobre irmo! Ter sido apanhado por aqueles bandidos? Resoluto,aproximou-se da porta de pedra e gritou:- Abre-te Ssamo!A porta abriu-se ruidosamente e Ali-Bab entrou na gruta pela segundavez.- O barrete de meu irmo! exclamou entrada, levantando do cho obarrete vermelho de Cassim. Adiante um sapato de bico recurvo chamou-lhea ateno.- O sapato de Cassim! Reconheo-o perfeitamente! No resta dvida deque meu irmo aqui esteve e saiu s pressas deixando cair at peas de seutraje.Alm do sapato e do barrete, Ali-Bab viu um alfanje quebrado e vriosoutros sinais de violncia.- Meu irmo lutou pela vida, no h dvida. Que ser que lheaconteceu?Enquanto pensava tais coisas, Ali-Bab tratou de encher de ouro unssacos; depois saiu da gruta e gritou:- Fecha-te Ssamo.Escondeu os sacos de ouro sob umas toras de lenha que cortou e seguiu paraa cidade, sempre pelo atalho e pensando:- Se os ladres tivessem agarrado Cassim t-lo-iam enforcado numarvore prxima e eu acharia o cadver. Bem conheo as leis dessesfacnoras. Nunca perdem tempo em enterrar os inimigos. Nem fazemprisioneiros inteis quecustam alimentos e acomodaes. Sendo assim, estou certo de que meuirmo fugiu. Talvez o tenham perseguido... Que faria algum em seulugar?- Procuraria abrigo no bosque...Ali-Bab tranquilizou-se. Suas conjeturas o fizeram certo de que oirmo estava a salvo, se bem que escondido no bosque.Rumou para casa e l chegando enterrou o ouro auxiliado por suamulher. Enquanto faziam juntos tal servio contou-lhe o que acontecera aoirmo.- Deus o proteja! exclamou a mulher de Ali-Bab que, mesmo sabendodos maus sentimentos do cunhado, nunca lhe desejara mal.Ali-Bab ento saiu em busca da cunhada, indo bater-lhe porta.CAPTULO 4A ASTCIA DA ESCRAVAMorjiana era escrava de Cassim. Fora-lhe vendida por um rico mercadorque por sua vez, comprara-a de um xeque. Era jovem e maravilhosamentebela. Alm disso, tinha uma inteligncia brilhante, sendo capaz de inventarsadas para as maiores dificuldades. Bem tratada plos atuais senhores a elesse afeioara a ponto de trat-los com o carinho e a dedicao de umaverdadeira filha.Ao chegar casa de Cassim, Ali-Bab foi recebido por Morjiana.- Que notcias trazes de meu amo, senhor? indagou ela aflita, poispercebera que acontecia alguma coisa de errado na casa.- Morjiana, respondeu-lhe Ali-Bab, em primeiro lugar promete-me queguardars segredo do que te vou contar.Depois de obter a promessa do silncio da escrava, Ali-Bab contou-lhecom todos os detalhes o que se passara.- Quero o teu auxlio, terminou por dizer. Precisamos evitar que sejanotada na cidade a falta de meu irmo. S assim os bandidos nodesconfiaro de nossa famlia e no nos exterminaro.- Deixe por minha conta, senhor, respondeu Morjiana. Darei um jeito deque ningum desconfie do ocorrido. Nesse instante aproximou-se a mulherde Cassim, aflita:- E ento, cunhado? Que notcias tens para me dar? indagou,impaciente. Ah! vejo por teu semblante que nada de bom devo esperar!- Acalma-te, mulher! No tenho notcias nem boas nem ms! Mas,tenha coragem...- Coragem? gritou a mulher; j sei: estou viva!- Cala-te! Quem te disse que teu marido morreu? respondeu Ali-Bab.E ento tornou a contar o que j relatara a Morjiana. E terminou pordizer:- Morjiana dar um jeito de disfarar o que aconteceu. Confiemosnela.- Sim, disse esta. Creio que nosso primeiro passo ser justamente o defazer crer que meu amo morreu. Iremos morar por uns tempos com Ali-Bab at que este possa dar cabo dos ladres ou denunci-los sem risco.Ali-Bab e a cunhada concordaram imediatamente com a escrava. Esta,por sua vez, prometeu a maior cautela e astcia no que iria fazer.Saindo ao mesmo tempo que Ali-Bab, Morjiana foi at casa de umdroguista e pediu-lhe umas gotas para febre.- Quem tem febre em tua casa? perguntou o homem.- Ah! Senhor, respondeu Morjiana, meu querido amo Cassim queest doente. Arde em febre, no fala nem come...Morjiana levou as gotas para casa e despejou-as num tanque. No diaseguinte voltou casa do droguista e pediu:- Por favor, arranja-me umas plulas contra dor!- Ontem era febre, hoje dor; que tem o teu amo, afinal? perguntou ohomem.- Ai de ns! Antes soubssemos! Meu amo, alm da febre, geme agorasem parar, como quem sofre de dores terrveis. Nem sei se essas plulassurtiro efeito!Alm dessas compras de remdio, Ali-Bab e a mulher cumpriam outraparte do plano. Mais de uma vez por dia iam casa de Cassim e cada vezsaam de l com expresso mais pesarosa.- O mercador Cassim anda muito doente, comentavam na cidade.- E parece que no escapa...Certa noite ouviu-se um grito na casa de Cassim, seguido pelo pranto dasmulheres. Principalmente Morjiana e a patroa choravam como loucas.Ningum se admirou. Cassim morrera, mas esta morte j era esperada portodos.Mas o que ningum viu foi Morjiana sair de casa, embrulhada num mantonegro, e ir ao ponto mais distante e isolado da cidade. Ia procura de BabaMustaf, oleiro e escultor exmio, apesar de muito idoso.- Baba Mustaf, tenho um servio para voc, disse sem se descobrir.- A estas horas? indagou ele. Espere at amanh. A escrava, no entanto,mostrou-lhe uma moeda de ouro, colocando-a depois na mo do velho.- Bem, bem, disse este mudando de tom, estou s suas ordens. De que setrata?- Baba Mustaf, disse Morjiana, tereis cem moedas iguais a estas. Paraisso no entanto deveis me obedecer sem fazer perguntas.- Ah! isso no! respondeu o escultor; certamente queres que eu teauxilie em alguma coisa contrria aos princpios de um homem de bem!Morjiana ento, deu-lhe outra moeda, explicando:- No vos assusteis. No vos pedirei nada que vos desonre. Irei apenasajudar a um amigo. Acompanhai-me e no temais. Peo-vos no entanto quedeixeis vendar vossos olhos.Ainda um pouco desconfiado, mas curioso e crendo nas palavras damoa, Baba Mustaf deixou-se vendar.Morjiana guiou-o ento e s o desvendou quando se achava numaposento reservado na casa de Cassim.- Que devo fazer agora? indagou o velho.- Faze um boneco com essa argila que a est, disse a escrava.- Um boneco? indagou o escultor admirado.- Sim. Quero um boneco, do tamanho de um homem.- E para que o queres?- Nada de perguntas, Mustaf... Eis outra moeda! luz de um candeeiro,o velho ps-se a trabalhar. Erahbil. Em poucas horas fez um boneco perfeito, em tudosemelhante a um homem.- Pronto! disse por fim, eis o teu homem de barro.- timo, respondeu a jovem dando-lhe um saco com as moedas de ouroprometidas.O velho foi novamente vendado e Morjiana reconduziu-o sua oficina.De volta para casa a escrava vestiu o boneco com um rico traje, ps-lhebarbas postias e colocou-o sobre a cama de Cassim. No se esqueceuporm de cobrir-lhe o rosto com um fino vu.No dia seguinte, vindo para o enterro, o prprio Ali-Bab assustou-se:- Ento meu irmo morrera, realmente?- No se assuste, segredou-lhe a mulher. Isto obra de Morjiana.O prprio Ali-Bab colocou o corpo do irmo num lindo atade queMorjiana encomendara. E o enterro foi concorri-dssimo pois Cassim erahomem rico e influente na cidade.Desse modo, s Ali-Bab, sua mulher, sua cunhada e Morjiana, ficaramsabendo que o morto continuava vivo, escondido na floresta.Ningum estranhou que Ali-Bab, sua mulher e filhos se mudassem parauma bela casa, onde passaram a viver com a mulher de Cassim, que lheherdara todos os bens.O que ningum sabia, porm, era que o prprio Ali-Bab estava rico eque o verdadeiro palcio que comprara era dele e s dele. At seus filhosjulgavam dever tudo tiaviva que eles no sabiam explicar! - se tornara meiga e agradveldepois da morte do marido.Os sacos de ouro foram desenterrados da velha casa de Ali-Bab e comuma pequena parte dele Ali-Bab reformou a loja deixada pelo irmo. Essaloja foi dada ao filho mais velho do casal, chamado Amed.- Se cuidares bem da loja, filho, disse-lhe Ali-Bab, prometo-te que tecasarei vantajosamente.O rapaz alegrou-se pois tendo sido aprendiz na loja do tio, iria mostraragora suas aptides.Ali-Bab, no entanto, s tinha uma preocupao - capturar os bandidose trazer seu irmo de volta para o lar.Passado alguns dias, Ali-bab voltou caverna.- Que isso? indagou o chefe. que ele dera por falta dos sacos de ouro levados por Ali-Bab em sualtima visita gruta.- O homem voltou gruta e voltar outras vezes. Vai levar nossostesouros e talvez traga a guarda do Sulto para liquidar-nos!- Precisamos descobrir seu paradeiro! gritou um dos ladres.- Estudemos um plano para agarr-lo, disse outro.- Um prmio para quem agarrar o homem! gritou o chefe. Quem oagarrar ser nomeado por mm, meu substituto e subchefe de todos vs!- Urra! gritaram todos. Abandonemos todas as nossas atividades!Morte ao homem que conhece o segredo defendido por ns e por nossosavs!Vendo o entusiasmo geral, o chefe dos ladres continuou:- Conheo a vossa coragem, mas hora de p-la prova. Um de vsir cidade, disfarado e sem armas. Como estrangeiro mais fcil serfazer indagaes sem levantar suspeitas. Empregar ento todos os meiospara descobrir se algum fala do desaparecimento de algum, nem que sejapor poucos dias.- Boa ideia, gritaram alguns bandidos!- Depois saber onde mora e ento agiremos! o importante, porm, que no suspeitem de qualquer de ns nem da nossa proximidade, disse ochefe.- Descoberto o homem ns o exterminaremos junto com a famlia poisdeve ter comentado em casa a sua sbita fortuna! props um homem feroz,de barba vermelha e crespa.- Mas imponho minha lei, o homem que for cidade e no lograrsucesso no ser apenas castigado como foram esses que falharam emminhas ordens anteriores - ser enforcado!Um longo silncio acolheu tais palavras. Mas logo um dos ladresadiantou-se, dizendo:- Submeto-me pena de morte Quero para mim esta misso! Se eu nome sair bem no ser por falta de dedicao a vs todos e ao meu chefe!- Que sejas o escolhido, ento, disse-lhe o chefe fazendo-lhe depoisgrandes elogios coragem e dedicao.O disfarce do ladro enganaria a qualquer um. No s aparou a barba comotambm as sobrancelhas que lhe davam um ar feroz por serem verdadeirosbigodes sobre os olhos. Vestiu depois um traje muito simples, escuro e limpo,tirou os brincos de argolas e enrolou na cabea um turbante branco. Assimvestido parecia um simples mercador,honesto e tmido.Separando-se do grupo, partiu durante a noite. Ao raiar do dia estava nacidade. Como trouxera dinheiro, ps-se a fazer compras, dizendo-se mercadorem busca de provises e mercadorias. Aproveitava cada compra que fazia paraconversar e fazer indagaes. Soube da morte de Cassim mas de nadadesconfiou, pois lhe narraram tambm a doena e o enterro luxuoso quetivera.J desanimava quando, nos arrabaldes da cidade, entrounuma loja de oleiro e escultor.- Quanto quer por este jarro de cermica, meu senhor?Dirigia-se ao dono da loja, que outro no era seno BabaMustaf.Este, largando o trabalho de que se ocupava veio atend-lo, respondendo:- Este jarro custa dez moedas de prata, forasteiro.- Que absurdo! respondeu o ladro que era avarento ej estava farto de fazer compras.- Pois saiba que no caro! Meus trabalhos valem ouro! No faz muitotempo vendi um boneco de barro por cem moedas de ouro! respondeu ovelho, vaidoso.- Cem moedas de ouro por um boneco de barro! Que absurdo me contas,velho? Quem daria tanto dinheiro poralgo to sem valor?O ladro estava admirado. E mais interessado ficou quandoo velho disse:- Fiz um boneco deitado, igualzinho a um homem. Nosei para que o queriam pois fizeram muito mistrio com a encomenda. S seique at fiquei meio nervoso pois meu boneco acabou por assemelhar-se a umdefunto!...O ladro animava-se. No estaria ali o fio da meada quebuscava? Continuou pois a conversa:- Para quem fizeste tal boneco? Quando o fizeste? paraonde o levaste?- Devagar! interrompeu Mustaf. Queres que eu fale,no h dvida... Mas no gosto de espalhar segredos alheios... O bandidoestava certo de que achara sua pista. Desembolsou pois uma moeda de ouro e,exibindo-a ao velho,pediu:- Bom homem, no me interessam teus segredos! Massou louco por arte! Dar-te-ei dez moedas dessas se puder verteu boneco.- Ah! se gostas de arte s meu amigo! Mas, infelizmente,ainda que quisesse, no poderia te satisfazer.- E por qu? perguntou o ladro j impaciente.- que a pessoa que me encomendou o trabalho veio embuada e me levouvendado ao lugar do trabalho. Comovs, no posso te ajudar.No havia dvida! Algum encomendara um falso defunto para encobrir umdesaparecido.- Tentemos, bom velho. Vendarei teus olhos e procurars seguir as direesque tomaste nesse dia ou nessa noite.Tentemos!Assim dizendo o bandido despejou um saquinho de ourosobre a mesa de trabalho de Baba Mustaf.Ento foram os dois. Passado algum tempo, encontraram a casa deAli-bab.Sem desvendar Mustaf, furtivamente o ladro tez um sinal a giz na portada casa. Depois desvendou seu guia, dizendo:- Como muito cedo, deixarei para mais tarde minha visita aosmoradores. No os quero incomodar agora pedindo para ver sua obra de arte.Vai pois para teu servio, bom velho, e muito obrigado.Assim dizendo colocou na mo do velho vrias moedas de ouro. Este foi-se,radiante.O ladro, por sua vez, nem indagou de quem era a casa. Rumou para o bosque,certo de que cumprira maravilhosamente bem sua misso.Poucos momentos depois, porm, Morjiana, que agora era serva de Ali-Babpois viera morar tambm com ele, saiu de casa. Ia fazer compras no mercado dacidade. Notou imediatamente o sinal branco que o ladro fizera na porta.- Quem ter marcado nossa porta? pensou. Querero prejudicar meu amo? Ouser uma brincadeira de mau gosto? De qualquer modo no vou deixar isso assim.E a inteligente moa, voltando ao interior da casa, arranjou um giz. De volta rua, marcou vrias portas da rua com o mesmo sinal que o ladro fizera.E, como nesse abastado bairro os palacetes muito se assemelhavam naarquitetura e decorao, ningum seria capaz de distinguir qual a portamarcada pelo ladro.- Assim, pensou Morjiana, se for cilada livramo-nos dela;e se for brincadeira, brinco eu tambm um pouco!...E a valiosa escrava, sobraando seus cestos de compras, l se foi para omercado, de alma leve e corao contente.CAPTULO 5ALI-BAB DESCOBERTOe volta ao esconderijo no bosque, o ladro no cabia em si de alegria. Comsua astcia fizera o que todos julgavam difcil e at impossvel. Teria seu postode honra logo abaixo do chefe!Ao relatar o que se passara na cidade, foi felicitado e abraado por todos.- Bravos, rapaz! Tua astcia nos salvou, disse o chefe apertando-lhe amo. Agora, no percamos tempo. Partamos j, bem armados, mas todosdisfarados. No entremos juntos na cidade.- Exatamente, disse o ladro que j se julgava subchefe. No devemoschamar as atenes!- Devemos nos reunir na praa central. Antes irei com esse valentecompanheiro reconhecer a casa assinalada e saber quem l mora.Todos concordaram e trataram depois de seus disfarces. Um vestiu-se demendigo, enfaixando uma perna, tomando de uma muleta e vestindoandrajos. Outro vestiu-se de soldado. Outro de faquir e assim por diante,cada homem transformou-se, deixando de ser um bandido mal encaradopara transformar-se em um simples e annimo cidado.O chefe vestiu-se de mercador e, com o autor da marca na porta de Ali-Bab, foi o primeiro a se dirigir cidade.Foram diretamente rua onde se localizava a casa de Ali-Bab. Naprimeira porta marcada a giz, estacaram:- Ei-la, senhor! murmurou o ladro ao chefe, esta a casa, Aqui est amarca que fiz!Mas es que, olhando em torno, o chefe percebeu as outras portasmarcadas.- Mas vejo sinal idntico em muitas outras casas! murmurou o chefe,admirado.Olhando em torno, confuso, o ladro, que se julgara to esperto, nosabia explicar aquele fracasso.- Juro que s marquei uma porta, chefe! No sei quem ter feito essasoutras marcas.Furioso, o chefe nem lhe respondeu. Dirigiu-se praa onde marcaraencontro com os demais bandidos e, disfaradamente, foi avisando um porum do malogro de seus planos.Para no chamar a ateno dos moradores da cidade rumaram separadospara a gruta, onde se recolheram ao esconderijo.- Morte ao fracassado! gritaram l chegando. E o infeliz bandido queno cumprira a promessa de achar o inimigo da quadrilha foi executado.- Preciso escolher outro homem para a misso de reconhecimento, dissedepois o chefe dos ladres. Dessa vez, tirarei a sorte para ver qual de vs ir.- Proponho que no se tire a sorte, disse um dos bandidos, adiantando-se.Era um homem atarracado e forte, de olhos de falco e nariz adunco.- Como faremos ento? indagaram os outros.- Proponho que me deixem ir!... disse o homem de cara de ave de rapina.- Aceito a oferta! respondeu o chefe. Previno-te no entanto de que, casofracasses, ters o mesmo fim desse homem que te precedeu. Mas se lograresxito, manterei minha promessa anterior e te farei subchefe.O bandido apressou-se em iniciar sua busca. Teve mais facilidade que oprimeiro pois foi diretamente Loja de Baba Mustaf.- Senhor, disse l chegando, disfarado em mercador, um amigo meucontou-me ter visto um maravilhoso boneco feito por suas mos. Gostariaimensamente de poder apreci-lo tambm pois justamente mercadejo comobras de arte. Esse amigo me disse o seu nome mas esqueceu-se de dar-me oendereo do feliz comprador de to belo trabalho!...- Muito me honra vosso interesse, disse Mustaf lisonjeado.E, depois de vender ao suposto mercador por preo elevadssimo umaspeas de cermica, concordou em servir-lhede guia, como ao primeiro bandido. Para isso muito concorreram as moedas deouro que lhe foram oferecidas.- Como me rende ainda o boneco de barro... pensava ele enquanto guiava oladro at porta de Ali-Bab. L chegando, estacaram.- Eis a casa que buscais, disse o velho, ento. Despedindo Mustaf, semmais perguntas para que ele no desconfiasse de suas intenes, o ladro marcoua casa como j fizera o seu companheiro. Dessa vez, porm fez um sinalvermelho, num lugar que julgou bem oculto de olhos curiosos.Regressou em seguida ao esconderijo no bosque. Morjiana, no entanto, quevigiava agora a casa com mais precaues que antes, ao sair para as comprasdesse dia, olhou demoradamente a fachada do prdio. Esperta como era, notardou a encontrar o sinal vermelho feito pelo ladro.- No h dvida de que desejam marcar a casa, disse consigo mesma.E, como na vspera, tratou de copiar o estranho sinal nas casas vizinhas, namesma posio em que estava desenhado na sua. Depois, tranquilamente,rumou para o mercado.Quanto ao ladro, chegando na gruta, declarou:- Com as precaues que tomei, garanto que, dessa vez, no confundiremosa casa com as vizinhas.- Dessa vez iremos disfarados mas muito bem armados. Assimimediatamente daremos cabo de nossa vingana! disse o chefe.E, como no plano anterior, marcou encontro com os demais bandidos napraa da cidade.Como na vspera, o chefe e o voluntrio foram direta-mente rua em quemorava Ali-Bab.- Raios! exclamaram ambos ao constatarem que algumos confundira novamente. que, em vrias casas, encontraram o sinal vermelho deMorjiana.Enfurecido, o chefe dos ladres regressou ao bosque, depois de avisar aoscompanheiros do novo fracasso. E l, sem ouvir os rogos do bandidofracassado, executou-o tambm.- Temos menos dois homens, comentou depois. Como vem nossoinimigo, sem mostrar-se, j nos causa srios prejuzos. No podemos deixarque fique solta. Algum maisquer ir em busca dele?Dessa vez, porm, os homens, amedrontados, no se mexeram. Ningumousava se arriscar na misso que j causara duas mortes entre eles.- Pois irei eu prprio! gritou o chefe, raivoso. Se tenho apenas covardesem torno de mim, mostrarei que valho pormais de trinta homens!Mal terminara de pronunciar essas palavras montou seucavalo negro e partiu.Foi diretamente loja de Baba Mustaf e, mediante nova oferta em ouro,fez-se conduzir casa de Ali-Bab. Mas no a marcou, como seusantecessores. Limitou-se a gravar-lhe a posio, e a decorar o nmero decasas que lhe ficavam direita e esquerda. No a confundiria jamais.Depois indo a uma loja prxima, indagou o nome de seu dono.Satisfeito, regressou ao esconderijo com um sorriso de triunfo a lheiluminar o semblante rude.- Amigos, gritou para os ladres, nada mais impede nosso plano devingana! Ali-Bab o nome do homem que buscamos! Gravei bem a casaem que mora e poderemos liquidar com ele e toda a sua famlia. Depois atranquilidade voltar ao nosso bando! Ele o nico homem a saber denosso segredo pois duvido que o tenha contado a algum. Planejei o quefaremos. Resta saber se algum no concorda com meu plano... claro que ningum discordaria do chefe! Ele, ento, vendo que suaspalavras eram bem acolhidas, explicou minuciosamente o seu plano.E os ladres trataram de obedecer s suas ordens, certos que, dessa vez,Ali-Bab no lhes escaparia.No outro dia, foram todos cidade.Outros compraram trinta e oito barris dos que servem para guardar leo.Escolheram dos maiores que haviam na cidade.- Querem tambm o azeite? indagou o comerciante que os vendia.- No, obrigado, responderam os ladres. Vamos buscar leo em outracidade e preferimos os barris vazios.- pena, disse o vendedor; meu azeite o melhor de toda a regio...- Ento d-nos um barril cheio, para que o experimentemos.O rumo da conversa facilitara a misso dos bandidos pois o chefeordenara que um dos barris viesse cheio de leo.De volta gruta com as compras, iniciaram a execuo do plano.Nos barris vazios foram feitos pequenos e disfarados furos. Depois, doisa dois, os barris foram pendurados nos lombos dos burros.- Tomem seus postos! ordenou o chefe, ento. E no se esqueam dasarmas!Imediatamente cada bandido, armado de faca e punhal, escondeu-sedentro de um barril. Vendo todos os homens ocultos, o chefe fechou-os comtampas de madeira mal presas com cera mole. Seria muito fcil levant-las,por dentro.Como ltima precauo os barris foram untados com leo.- Ningum dir que no contm azeite, gritou o chefe.Dentro dos barris os bandidos sorriram, com expresso feroz.Tudo pronto, o chefe rumou para a cidade, tangendo os burros quetransportavam os ladres e mais o nico barril realmente cheio de leo.L chegou ao cair da tarde. Dirigiu-se diretamente para a casa de Ali-Bab. Nem precisou bater porta pois o ex-le-nhador jantara bem e vierarespirar o ar fresco da noite.Encostado ao umbral de sua porta, saudou aquele mercador de azeite que seaproximava.Este, parando os burros, respondeu-lhe saudao e disse:- Trago de longe esse leo e pretendo vend-lo amanh no mercado.Nunca vim a esta cidade e no sei onde pousar. No quero vos importunar,senhor. Quem sabe, no entanto, se me dareis hospedagem? Saberei ser gratoa vosso bom corao.Como poderia Ali-Bab desconfiar de um simples mercador que tohumildemente lhe pedia pouso? Como reconheceria nele o chefe dosbandidos se ele se disfarara to bem? Completamente iludido, respondeu:- Bem-vindo seja casa de Ali-Bab, forasteiro!...As portas do ptio foram abertas e o bandido, radiante, fez entrarem porela seus animais.Ali-Bab ordenou que os burros fossem descarregados e levados estrebaria, onde um servo lhes deu de comer feno e cevada.Depois, chamando Morjiana, dise-lhe:- Prepara uma ceia para o hspede e depois arrume-lhe um bom leito,para que repouse de sua longa jornada.- No se preocupe comigo, disse o chefe dos ladres que ouvia asordens. Estou acostumado a dormir ao relento.O que contava, porm, era dormir no ptio de onde lhe seria mais fcilchefiar o assalto casa que o hospedava.- Absolutamente! replicou Ali-Bab. No consentirei que um hspedemeu fique mal acomodado.Para no causar desconfiana, o bandido foi obrigado a aceitar osoferecimentos e as gentilezas de Ali-Bab. E at no foi sem grande prazerque saboreou a deliciosa ceia que Morjiana lhe serviu.Vendo-o comer com tanto gosto e apetite, Ali-Bab declarou:- Pedi tudo o que quiserdes pois minha casa vossa.- Senhor, respondeu o bandido, h muito tempo no recebo to boaacolhida e nem vejo casa to farta quanto a vossa. Gostaria de ter notcias devossa famlia. Tendes muitosparentes?- Alguns, respondeu Ali-Bab. Tive a famlia maior; infelizmente, no fazmuito tempo, perdi um irmo querido,vtima de mal sbito!...Ento, era irmo de Ali-Bab, o homem que estava ocultono bosque e que fora dado como morto!... Isso pensou o chefe dos ladresimediatamente e indagou, escondendo umsorriso:- Vs reis muito unidos, senhor?- Bastante, respondeu Ali-Bab. No tnhamos segredos,um para o outro...No havia dvida. Ali estava um dos homens que conhecia o segredo dacaverna na rocha.- Exterminarei toda essa famlia, pensou o bandido. Depois vasculhareitodo o bosque e hei de achar o outro homem que l se escondeu.Depois, em voz alta, o bandido falou:- Irei at o ptio olhar minha carga e fazer a digestode to farta ceia.- Quer que o acompanhe? indagou Ali-Bab.- No, no! apressou-se em dizer o outro. J bastam osincmodos que lhe causei!...Ali-Bab foi ento at cozinha e disse a Morjiana quel estava:- Irei amanh cedo casa de banhos. Cuida de meu hspede em minhaausncia. Manda que um escravo me prepare um traje e tu mesma me faze umarefeio, para quandoeu voltar.Depois de dar tais ordens Ali-Bab recolheu-se aos seus aposentos privados,onde sua mulher e seus filhos o esperavam.O chefe dos ladres, no entanto, sara para o ptio. Aproximando-sedisfaradamente de cada barril como que a inspecion-lo, ia murmurando:- Ateno! Meu sinal ser umas pedrinhas que atirarei da janela doquarto de hspedes nos barris. Nesse instante saiam desse esconderijo poisimediatamente virei ter aqui para novas ordens.- Entendido, chefe! Ia dizendo cada um dos ladres avisados.O bandido entrou na casa. Vendo-o Morjiana tomou o lampeo dacozinha e guiou o suposto hspede at seu quarto.- Se precisar de algo, basta chamar-me, disse ela por fim.- No se incomode. Estou perfeitamente satisfeito, respondeu obandido.Temendo no entanto que a serva voltasse para lhe trazer algo, o chefe dosladres achou melhor deitar-se. E assim fez, metendo-se vestido e desapatos sob as cobertas. Esperaria que todos dormissem e s depoisexecutaria o resto de seu plano.Morjiana, depois de o deixar, voltou cozinha. Excelente servidora queera, queria providenciar o que seu amo lhe pedira. Viu ela mesma o trajeque ele pedira, entregando-o ao escravo que o ajudaria na manh seguinte ase vestir aps o banho. Depois resolveu pr no fogo um caldo que j ficariapronto para a sopa. Desse modo no se atrasaria e Ali-Bab, mal voltasse dacasa de banhos, encontraria pronta a sua refeio.Mal levara a panela ao fogo, porm, eis que a luz do candeeiro seapagou.- Que transtorno, disse Morjiana ao escravo, atarantada. Ainda tenho oque fazer e a luz se apaga! Onde irei encontrar leo a uma hora dessas?!...- Muito fcil, respondeu o escravo. Vai ao ptio e toma um pouco deleo num dos barris do forasteiro. Depois de to boa acolhida ele no farquesto de prestar-nos tal favor.- Boa ideia! exclamou Morjiana. Agradeo-te muito esse conselho.Tomando ento de um pote, Morjiana saiu silenciosamente para o ptio,pois no queria incomodar seus amos com barulho.Ao aproximar-se de um dos barris, porm, quase morreu de susto. quede dentro deste, algum lhe perguntou:- Chefe, est na hora?Morjiana emudeceu por uns instantes. Imediatamente, porm, recuperou-se do susto. Esperta como era, calculou que dentro dos barris, em vez deleo havia homens e que estes l no estariam por simples brincadeira.No gritou, apesar de ter a certeza de que a casa em que servia corriatremendo risco.Em lugar de fugir, tomou de coragem e engrossando a voz, disse numsussurro:- Ainda no! Aguarde ordens!Morjiana compreendera todo o plano. Seu amo, que to bem recebera omercador, que o julgava bom e honrado, dera abrigo a uma perigosaquadrilha. E esta, na certa, daria cabo da famlia inteira se, por um felizacaso, no tivessem sido descobertos.- Mas aqui estou para defender meu amo, pensou Morjiana.Foi ento de barril em barril repetindo a proeza que fizera com oprimeiro. No ltimo, que realmente continha azeite, encheu seu pote evoltou cozinha. L encheu a lmpada e acendeu-a. Tomou ento o maiorcaldeiro que encontrou e foi encher no barril do ptio. Em seguida, voltou cozinha colocando no fogo o caldeiro.Ficou depois espera, ansiosa.- Assim que o azeite ferver vou l fora e despejo um pouco em cada barril,pensava ela. Garanto que nenhum desses bandidos se salvar!Pouco depois o azeite borbulhava! A escrava aproximou-se do caldeiro e iasegurar-lhe a ala quando uma bolha de leo, estourando, salpicou-lhe o brao.- U! como queima! exclamou ela. E, imediatamente pensou:- Que morte horrvel! Por piores que sejam esses bandidos no serei tocruel. Hei de descobrir outro modo de me livrar deles.Seu esprito inventivo no tinha limites. No precisou pensar muito para lheocorrer novo plano.Indo adega de Ali-Bab trouxe de l vrias botijas de vinho. Abriu-as, umapor uma e nelas despejou um forte narctico. Depois, levando-as para o ptio,bateu de leve na tampa de cada barril.- Que h? perguntava um ladro de cada vez. Ela, ento, suspendendo atampa o mnimo possvel, dava-lhe uma botija silenciosamente.- Obrigado, chefe! murmurava feliz cada bandido. Bem sabemos que nose esquece de ns. Assim nos ser mais fcil esperar a hora do ataque.Pouco depois um silncio profundo se fez na vivenda. Todos dormiam,menos o chefe dos ladres, que aguardava na cama, e Morjiana que espreitavapor uma janelinha aberta para o ptio.- Durmam, bandidos! murmurava a escrava. Amanh, quando despertarem,estaro em bons lenis. Aprendero assim o que custa assaltar a casa de umhomem honrado e bom como Ali-Bab!...CAPTULO 6O PLANO QUE FALHOUCom o silncio da noite, algum espreitava. L fora nem o mais leve rudo sefazia ouvir.- Dormem todos! hora da vingana! murmurou o chefe dos ladreserguendo-se da cama.Foi at janela que abriu e olhou o ptio deserto e quieto, mal iluminadopelas estrelas.Metendo a mo no bolso, o bandido dele retirou vrias pedras que depropsito guardara. Deu ento o sinal combinado, atirando-as nos barris lembaixo.Esperou uns momentos mas, nada!... Nem o mais leve movimento se fezno ptio escuro. Outras pedrinhas foram atiradas. Em vo!- Que ter acontecido? Dormiro meus homens? Essa hiptese eraincerta pois, alm de muito fiis ao chefe, os ladres, to mal acomodados,no poderiam cair facilmente no sono. O homem estava assustado!Sem fazer o mnimo rudo, desceu ao ptio e aproximou-se do primeirobarril.- hora, murmurou bem perto com voz baixa mas autoritria.No obtendo resposta, alarmado j, ergueu a tampa e olhou para dentro.L estava um dos homens, inerte, de olhos esbugalhados e boca aberta.- Morto! disse o chefe, apavorado.Imediatamente correu aos outros barris. Em cada um delesconstatou a mesma coisa.- No pode ser! disse o chefe dos ladres. O buraco que fizemos foidemasiado pequeno...- Morjiana, chamou, desperte meu hspede para que no chegue demasiadotarde ao mercado.- No vos inquieteis, meu amo, tornou a escrava. A mercadoria de vossohspede dificilmente seria comprada...- Que dizes? Azeite bom no se vende no mercado?...- Azeite sim, meu amo, mas no ladres... replicou Morjiana.- Explica-te, pequena. Ou no te entendo ou acordaste com vontade debrincar, disse Ali-Bab um pouco irritado.- Meu amo, rogo-vos que me acompanheis. S assim compreendereis o quevos digo.Ali-Bab seguiu Morjiana at o primeiro barril.- Olhai, senhor, disse a jovem erguendo a tampa. Dizei-me agora se azeiteo que o barril contm.- Cus! que vejo eu! Um homem armado at os dentes! Ali-Bab estavapetrificado de espanto e pavor.- Sossegai, disse Morjiana. Esse homem um bandido mas no vos far mal.- Que quer dizer tudo isso, Morjiana? perguntou Ali-Bab.- Vou explicar tudo o que sei, respondeu Morjiana. Peo-vos, no entanto,que vos acalmeis para no chamar a ateno dos servos e vizinhos. Olhai todosos barris!Cada tampa que Ali-Bab erguia causava-lhe mais espanto. Por ltimo, deucom o nico barril de leo, quase pela metade. Nada compreendia. Olhava paraMorjiana e para os barris, simultaneamente.- No devemos conversar aqui, pois seremos ouvidos, disse a escrava. Essesbandidos esto narcotizados e nem um terremoto os despertaria. Vamos pois sala, onde tenho pronta para vs a refeio matinal. L conversaremos.- E o mercador? perguntou Ali-Bab. Certamente faz parte da quadrilha e...Morjiana interrompeu-o:- O mercador, meu bom amo, menos mercador que eu prpria. J noest nesta casa, felizmente! Contar-vos-ei que fim levou.Ali-Bab concordou com a jovem serva e, entrando em casa, sentou-se mesa da sala. Morjiana serviu-o calmamente e depois contou-lhe tudo o quese passara na vspera, pormenorizadamente. No se esqueceu de narrar que,dias antes, notara na porta de entrada estranhos sinais e como fizera parainutiliz-los.- Tudo obra dos ladres do bosque, senhor. Planejavam matar-vos. Vse vosso irmo Cassim descobriram-lhes o segredo e eles no descansaroenquanto no vos eliminarem.- Tens razo, Morjiana. Sempre esperei por essa perseguio. O que nojulgei que fossem to ousados!- Ah! senhor, respondeu Morjiana, de bandidos tudo se deve esperar!Vede vosso irmo! Tanto tempo se passou e ele, no entanto, teme aindavoltar para casa.- Pobre irmo! exclamou Ali-Bab. Como deve sofrer escondido nobosque! Talvez passe fome e frio...- Saber defender-se, sossegai. O senhor Cassim sabe o que faz. A ns,no entanto, cabe deliberar sobre os ladres que esto l fora, replicou acuidadosa escrava.- verdade! Creio que os deveria entregar justia do Sulto!exclamou Ali-Bab.- Sim, concordou Morjiana. Mas no antes de caar-lhes o chefe. Dessemodo, o Sulto vos ser para sempre grato!- Que faremos deles ento? perguntou Ali-Bab.- Podemos prend-los no poro da casa. Abdal, vosso escravo, discreto e nos ajudar.Realmente a vivenda em que Ali-Bab morava agora tinha enorme poro,muito bem fechado, onde s vezes se guardavam fardos de mercadorias.Ali-Bab, o servo Abdal e Morjiana, rolaram os barris um a um at aentrada do poro. Depois, deles retiraramos ladres narcotizados, desarmaram-nos e os amarraram fortemente. Emseguida dispuseram-nos e melhor possvel no poro, que fecharamcuidadosamente, com chaves e cadeados. Os barris de azeite foramqueimados e as armas cuidadosamente escondidas.- E os burros? Que fazer com tantos? perguntou Ali-Babque, vendo a astcia e dedicao de Morjiana se entregaras suas mos.- Deixa por minha conta, amo, respondeu esta.E ento, voltando-se para Abdal, que era de sua inteiraconfiana, disse:- Abdal, vai ter ao mercado e vende os burros I Assim,em lugar de prejuzo, esses bandidos ainda daro lucro aonosso amo!- Quanto te devo, minha boa serva? exclamou por fimAli-Bab. Mas hoje te juro que tua dedicao no ficar sem recompensa.Prometo-te que no te arrependers dessecuidado que tens comigo e com minha famlia!...- Senhor, respondeu ento Morjiana, s me causa alegriazelar pela vossa vida e vosso bem. Nada mais fao que bem cumprir o deverque me impe a minha condio!...CAPTULO 7CODJA HUSSAM, O FALSO MERCADORO chefe dos ladres voltou ao bosque. Alm de desgostoso pela perda doscompanheiros de tantos anos de aventuras e pilhagens, estava furioso.- Maldito Ali-Bab! murmurava ele. Quanta desgraa nos trouxe, enquantoque ele prprio vive tranquilamente em abundncia!Ento passado algum tempo, o chefe dos bandidos foi para a cidade comocomerciante.- Eis-me estabelecido entre honestos lojistas, pensou ele sorrindo.No sabia porm que bem em frente sua loja ficava a de Cassim,dirigida agora pelo filho de Ali-Bab!...O chefe dos bandidos fez-se conhecer entre os vizinhos pelo nome deCodja Hussam. Em seguida tratou de fazer amizades. E, em pouco tempo,travou excelente amizade com o filho de Ali-Bab.Qual no foi sua surpresa - surpresa e alegria - ao ver Ali-Bab visitaro amigo e saber que era seu pai!- A sorte me ajuda! pensou ele. O inimigo vir ter s minhas mos semo menor trabalho!...Falso e sem escrpulos como era, valeu-se da simpatia que o ligava aojovem vizinho. Ps-se a visit-lo com frequncia, presenteando-o econvidando-o para passeios e jantares.- Meu pai, disse um dia o rapaz a Ali-Bab, tenho um vizinho que nocessa de me fazer gentilezas. Gostaria de retribuir tantas provas de afeio.- Naturalmente, filho, respondeu Ali-Bab. Se quiseres, eu prprio meencarregarei de oferecer-lhe um banquete.- timo, pai. Eu bem sabia que vs me ajudareis.- Fala ento com teu amigo. Amanh feriado e os mercadoresfecharo suas lojas. Convida-o para um passeio e depois, traga-o para jantar.Morjiana far os pratos mais finos que se possam oferecer.O filho de Ali-Bab aceitou o oferecimento do pai. Convidou CodjaHussam para um passeio e depois conduziu-o casa paterna.- Eis a casa de meu pai, disse ele l chegando. Falei-lhe de nossaamizade e quis ento oferecer-te um jantar. Far-nos-s um favor, aceitando oconvite.Enfim! Ali estava o inimigo abrindo as portas da casa para que nelaentrasse a vingana! Um leve temor assaltavaporm Codja Hussam. Vrias vezes j falhara junto a Ali-Bab. Alm de mau, nofundo, era covarde. Disse pois:- Deixemos o jantar para outro dia! Hoje j passeamos muito!J um escravo abria a porta, porm. E o bandido no teve outro remdio,seno penetrar naquela casa onde j tentara cometer terrvel crime.- Meu amigo, disse Codja Hussam ao filho de Ali-Bab antes que esse oviesse receber, peo-lhe que mande apagar alguns candeeiros. Tenho os olhosdoentes e no posso suportar a luz artificial!Imediatamente o crdulo rapaz deu ordens para que s uma lmpada seconservasse acesa.Nesse momento, Ali-Bab entrou na sala e veio cumprimentar o amigo de seufilho.- Muito vos agradeo o interesse e a amizade que tendes por meu filho. Acompanhia de um mercador experimentado s pode ajud-lo. E no s ele vos agradecido como eu tambm.- Vosso filho no tem experincia mas tem bom-senso o que vale muitomais! respondeu Codja Hussam, lisonjeiro.Depois de conversarem um pouco o bandido fingiu querer retirar-se.- Mandei fazer um jantar para vs, disse Ali-Bab. Peo-vos que aceiteisminha modesta hospitalidade.- Se assim, nada mais me resta que ficar e agradecer, disse Codja Hussam.Na cozinha, Morjiana estava furiosa e intrigada.- Como, dizia ela ao escravo Abdal, como servir um banquete no escuro!Enfeitei meus pratos com capricho, perdi horas em ornamentaes e eis que agorano sero apreciados.- No te zangues, Morjiana, respondeu Abdal. O homem sofre dos olhos.- Pois muito me admira que lhe faa mal a luz das velas se mercadejaao sol, que mais forte. Aqui h algum mistrio.Assim dizendo, Morjiana tomou de uma travessa, indo lev-la mesa.- Cus! pensou ela mal encarou o visitante. Que perigo corre meu amo.Conheo muito bem este semblante duro! o chefe dos ladres e vem nacerta vingar-se de ns! Por isso quis pouca luz, o infame. Teme serreconhecido e acha mais fcil praticar o seu crime na penumbra! Precisofazer algo!O bandido, por seu turno, arquitetava um plano.- Vou deixar que se embriaguem; eu prprio, porm, s fingirei quebebo. Depois ser fcil apunhal-los e mais fcil ainda fugir pelo jardimcomo j fiz uma vez.A refeio corria animada. Apesar da pouca luz que tornava triste oambiente, as iguarias eram saborosas e o vinho delicioso.- Bebamos sade dos jovens, dizia Codja Hussam!- E agora vossa! propunha Ali-Bab, animando-se. Na cozinha,Morjiana procurava um meio de salvar seu amo e o filho. O principal era nodeixar os trs a ss. Que fazer para, sem chamar ateno, permanecer nasala? Uma ideia ocorreu-lhe. Indo depressa ao seu quarto vestiu um rico ebelo traje de danarina. Cobriu depois o rosto com um vu bordado de ouro eprata e chamou Abdal.- Pega o teu tamborim e vamos sala. J que no tm luzes queabrilhantem o banquete ao menos tero alguma distrao! Danarei para eleo "Bailado da Penumbra".Abdal obedeceu e, mal entraram na sala, Ali-Bab exclamou:- Vem, minha bela escrava. Meu ilustre hspede h de gostar de tuasmaravilhosas danas.Morjiana ps-se ento a bailar. Era leve e graciosa. Acompanhada peloritmo do tamborim, ps-se a rodopiar sobre os ps delicados, fazendo suavesmeneios com os braos erguidos.- No penseis que esta diverso me custa caro! murmurou Ali-Bab aCodja Hussam. Calculai que o tocador meu escravo e a bailarina a mesmapessoa que fez estes manjares.Codja Hussam no tinha o menor interesse no bailado. Queria somente umaoportunidade para se vingar.O filho de Ali-Bab, no entanto, no tirava os olhos de Morjiana. H muitonotara-lhe a graa e a beleza. S agora, porm, a via danar. E pensava,consigo mesmo:- Como pode ser escrava to bela criatura? Pedirei a meu pai que a liberte.No sabia, porm, que alm de bela, a jovem escrava os salvava de umterrvel inimigo.CAPTULO 8AS BODAS NO PALCIOMorjiana danava sem descanso. Seu corpo delicado e gil parecia vacilar,exausto. A jovem, porm, no queria abandonar seus amos enquanto CodjaHussam no se fosse.- Basta, Morjiana, disse o prprio Ali-Bab. Teu bailado lindo mas nodeves te fatigar tanto!...- Sim, meu amo. Antes, porm, executarei para vs o "Bailado doGuerreiro", respondeu a jovem escrava.Imediatamente tomou de um basto de prata e iniciou uma dana ritmada,onde imitava uma luta entre espadachins. Aproximou-se de Ali-Bab, seu filhoe seu hspede. Com gestos graciosos fingiu ferir o amo e este, sorrindo, deu-lhe uma moeda de ouro. Em seguida, aproximando-se do filho, repetiu omovimento. Nova moeda de ouro lhe foioferecida.Codja Hussam, esperando a sua vez, meteu a mo no bolsopara de l retirar uma moeda. Mas, ai dele! Morjiana, aproximando-se, golpeou-o na cabea, com tal fora, que o bandido desmaiou, caindo de costas no tapete.- Desgraada! gritou Ali-Bab, que fizeste ao nosso hspede? Queres nosarruinar?- Ao contrrio, gritou Morjiana. Acabo de salvar-vos!E a escrava, abrindo a tnica do homem que ali estava, inerte, mostrou aos amos opunhal que este escondia entreas vestes.- Que significa isso? Disse ainda Ali-Bab, indignado.Por acaso no pode um mercador andar armado?- Ah! Senhor! exclamou Morjiana. Olhai bem esse homem! Vede! Noreconheceis nele o mercador de azeite? Lembrai-vos de que no queria luz!Temia ser reconhecido pois outro no seno o chefe dos ladres do bosque.Desconfiei logo dele, felizmente. E. vos pude salvar.- Oh! cus! Morjiana tem razo! Filho, ajuda-me a amarrar esse homem!Depois prend-lo-emos no poro, ao ladode seus comparsas.Assim foi feito. Morjiana ajudou-os em tudo. S depois,j tranquilo, Ali-Bab dirigiu-se escrava:- Minha filha - ests livre. Vrias vezes salvaste nossas vidas. s bela,inteligente e dedicada. E para te provar toda a minha gratido, dar-te-ei tudo oque pedires.- Nada mais quero, senhor, que a vossa amizade e a detodos os vossos.Assim dizendo Morjiana olhava com ternura o filho de Ali-Bab.- Pois bem, disse-lhe ento o amo, para que te sintas melhor ainda entrens te farei minha nora. Depois, voltando-se para o filho, perguntou:- Meu filho, aceitas Morjiana como esposa? No poderias encontrarcompanheira melhor, mais bela ou inteligente. No quero, no entanto, teobrigar a nada.- Pai, respondeu o moo demonstrando enorme alegria, no desejo vosdesobedecer... Alm disso, h muito tempo sinto forte atrao pela nossaMorjiana!...Ali-Bab estava felicssimo! No s conseguira se livrar de todo o bandode ladres como casava o primognito com uma jovem formosa e que, pelasua dedicao e inteligncia, valia o prprio peso em ouro.- Darei uma esplndida festa de casamento para ambos, disse ele.- Antes, no entanto, aconselho-vos a vos livrar dos bandidos presos noporo. Ainda que no vos incomodem em nada, so sempre vrias bocas aalimentar. Isto sem falar na vigilncia a que nos obrigam, aconselhou a ex-escrava.- Tens razo, minha filha. Hoje mesmo irei ao palcio do Sulto e oporei a par de todo o acontecido.E Ali-Bab, fazendo-se acompanhar por um escravo, dirigiu-se mais tardeao Palcio Real.Como se tornara rico e respeitado na cidade, foi-lhe fcil ser recebidopelo Sulto. Depois de presente-lo com um finssimo brocado que trouxerada loja do filho, contou-lhe detalhadamente sua histria. A cada palavra osemblante do monarca demonstrava maior alegria. Terminada a narrativa,disse Ali-Bab:- Bem sei que nada mais fiz que minha obrigao. Sei tambm que essesladroes pouco vos perturbavam. Quis, no entanto, pr-vos a par de algo quese passou em vosso reino.- Engana-se, meu bom Ali-Bab, exclamou o monarca. Realmente fazanos que sei de assaltos e banditismos em meu reino. Meus soldados e oficiaisj tm feito tudo para descobrir os responsveis. Nada conseguiram at hoje,porm, a no ser constatar que a quadrilha que agia era de muitos homens! Seno fosses tu, por quanto tempo ainda continuariam eles a praticar seuscrimes?- Muito me alegra ento, senhor, replicou Ali-Bab, sevos servi em algo importante.- Saberei recompensar a ti e a tua ex-escrava, disse oSulto.Um peloto de oficiais foi escalado para acompanhar Ali-Bab sua casa.L chegando aprisionaram os ladres e seu chefe, que foram encarcerados emseguida.Depois um mensageiro trouxe a Ali-Bab um convite enviado pelo Sulto,onde se lia:"Sua Majestade, o Sulto Al-Raschid vos convida e avossa ilustre famlia, para a festa que dar nas bodas deAhmed Bab e Morjiana a serem realizadas no Palcio".- Que honra! exclamou Ali-Bab ao ler a mensagem. Meu filho secasar no palcio real!E assim foi. Na data marcada o Palcio do Sulto abriu suas portas e umafesta belssima foi dada.Os jovens no cabiam em si de contentes. Alis toda a famlia seregozijava e at os vizinhos louvavam Ali-Bab por ligar dois entes feitosum para o outro.Terminada a festa o Sulto chamou Ali-Bab e disse:- Quero que amanh me acompanhes gruta do bosque. Verei commeus prprios olhos os tesouros de que falas.- Ser grande honra acompanhar-vos, senhor, respondeu Ali-Bab.No dia seguinte, com uma escolta, seguiram ambos para o bosque.- Abre-te Ssamo! gritou Ali-Bab ao chegar diante do rochedo.Imediatamente a porta de pedra se abriu e o Sulto e o ex-lenhadorpenetraram na rocha.L estava o tesouro dos ladres! Nem um canto da gruta havia em que nose amontoassem pedrarias, ouro, peles, brocados e objetos de arte.- Ali-Bab, disse ento o monarca, voltaremos aqui e trars duzentosburros de carga. Ser teu tudo aquilo que neles puderes carregar!- Senhor! exclamou Ali-Bab emocionado.- O resto do tesouro ficar para meu reino, sendo que, dessa parte, ametade ser distribuda entre os meus pobres!- Magnnimo senhor, disse, Ali-Bab, eu e toda a minha famlia vosseremos eternamente gratos. Mas...- Fala homem! pediu o Sulto. Falta-te ainda alguma coisa para quesejas feliz?- Sim, senhor! No posso gozar a vida entre os meus, no possodesfrutar de tantos bens, sabendo que, oculto no bosque, meu pobre irmoCassim sofre e passa necessidades!- Tens razo, Ali-Bab, disse o Sulto. Mandarei que meus guardas oprocurem.Todas as buscas porm foram inteis. O bosque foi cortado em vriasdirees plos guardas do palcio. De Cassim, nem sombra, a no ser, aqui eali, uns restos de fogueira apagada.Passavam-se os dias. Ali-Bab, sua esposa, seus filhos e sua cunhadaviviam honrados e felizes, cercados de conforto e respeito. Ahmed, eMorjiana, por sua vez numa bela vivenda, gozavam a doce felicidade derecm-casados que se amam.Uma sombra porm toldava a ventura de toda a famlia.- Onde estar meu pobre irmo Cassim? murmurava todas as noites Ali-Bab de sua janela, olhando o horizonteem direo ao bosque.Certo dia em que se divertia passeando entre as belasrvores floridas de seu jardim, Ali-Bab viu aproximar-seum mendigo do porto.- Entra, pobre homem, exclamou ele. Mandarei que tesirvam uma sopa e te darei um traje decente...O mendigo, no entanto, quedou-se imvel, titando-o,apenas.Ali-Bab estremeceu. Algo havia naqueles olhos tristes queo perturbava. Sbito, lanando-se ao encontro do outrogritou:- Cassim! Meu irmo!Era Cassim, realmente! Depois de chorarem antes um nosbraos do outro, Ali-Bab fez o irmo entrar em casa. Alimentou-o, vestiu-o e soubetoda a sua histria.- Depois de fugir dos ladres, embrenhei-me no mato. Passei a dormir sobrervores, alimentando-me de frutos ourazes...- E por que no voltaste para casa? Indagou, Ali-Bab.- Ah! irmo, cada vez que tentava sair do bosque, deparava com um ladroou sentia-lhe a proximidade. Alm disso,temia tua ira...- Jamais te odiei! interrompeu-o Ali-Bab.- Por que s bom! Eu bem que a merecia, pois fui invejoso, mau e cedi cobia! Quanto me arrependi de meus atos no tempo em que vivi na solido!respondeu Cassim. S quando no mais percebi a proximidade dos bandidos que me atrevi a voltar.- Agora, porm, esquece tudo isso! Partilharei contigomeus bens e seremos felizes at que Deus nos chame!A cunhada de Ali-Bab foi chamada e quase morreu de alegria ao rever oesposo que julgava perdido!Desde ento, naquela honrada famlia, reinou a prosperidade e a ventura.E os netos dos netos de Ali-Bab foram ricos e justos ainda, graas herana do ouro e honradez deixada pelo pobre lenhador que descobrira umdia o segredo dos quarenta ladres.