Alguns dedos de Prosa: conversando sobre Psicologia ... · comovente história que retrata uma das...

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31/10/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801 Alguns dedos de Prosa: conversando sobre Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade Este Informativo é uma publicação quinzenal dedicada a Educadores, cujos conteúdos são de inteira responsabilidade da autora. Seu objetivo é formativo: oferecer subsídios e reflexões em Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade, e renovar o propósito rumo a uma educação transformadora. Em busca do além-território, de um diálogo transdisciplinar Dias destes uma pessoa me interpelou, dizendo que eu escrevia mais sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental do que Psicologia, Cultura da Paz e Espiritualidade. Entendo perfeitamente o que esta pessoa quis dizer e fico agradecida pela oportunidade de reflexão que ela me concede. Afinal de contas nosso pensamento e nossa lógica foram forjados em um paradigma da análise, da disjunção, da distinção, do disciplinar, da especialidade. Nesta lógica, cada campo teórico possui um “objeto” específico, que não se confunde com outro. Refletir sobre Psicologia aqui supõe teorizar sobre o campo específico da psique e trazer para o debate alguns pensadores-referência. Refletir sobre Espiritualidade supõe um campo de estudo dos fenômenos religiosos. Assim seria com a Cultura da Paz e com a Educação Ambiental. Orgulhamo-nos dos limites de nossos territórios de conhecimento, porque eles nos instalam numa zona de poder e segurança. Um especialista pode afirmar, seguramente, que pode falar de seu “objeto”, porque se especializou em seu conhecimento. Ele tem precedência para refletir sobre este objeto em relação às outras pessoas, que não são especialistas. Tem sido assim desde quando a ciência tomou como referência o método cartesiano – ainda que René Descartes nunca tenha querido criar um método, mas apenas dar respostas a si mesmo sobre suas dúvidas lógicas e metodológicas: “Assim meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que maneira procurei conduzir a minha. [...] Ao propor este escrito apenas como uma história, ou, se quiserem, como uma fábula na qual, entre alguns exemplos de imitar, talvez se encontrarão vários outros que se terá razão de não seguir, espero que ele será útil a alguns sem ser prejudicial a ninguém, e que todos ficarão satisfeitos com minha franqueza” (DESCARTES, 2004, p. 39). Como Descartes considerava que as “fábulas fazem imaginar como possíveis acontecimentos Boletim No. 11, Ano I

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31/10/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801

Alguns dedos de Prosa:

conversando sobre Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade

Este Informativo é uma

publicação quinzenal dedicada

a Educadores, cujos conteúdos

são de inteira responsabilidade

da autora. Seu objetivo é

formativo: oferecer subsídios e

reflexões em Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade, e

renovar o propósito rumo a

uma educação transformadora.

Em busca do além-território, de um diálogo

transdisciplinar

Dias destes uma pessoa me interpelou, dizendo que eu escrevia mais sobre

Meio Ambiente e Educação Ambiental do que Psicologia, Cultura da Paz e

Espiritualidade. Entendo perfeitamente o que esta pessoa quis dizer e fico agradecida

pela oportunidade de reflexão que ela me concede. Afinal de contas nosso pensamento

e nossa lógica foram forjados em um paradigma da análise, da disjunção, da distinção,

do disciplinar, da especialidade. Nesta lógica, cada campo teórico possui um “objeto”

específico, que não se confunde com outro. Refletir sobre Psicologia aqui supõe teorizar

sobre o campo específico da psique e trazer para o debate alguns pensadores-referência.

Refletir sobre Espiritualidade supõe um campo de estudo dos fenômenos religiosos.

Assim seria com a Cultura da Paz e com a Educação Ambiental. Orgulhamo-nos dos

limites de nossos territórios de conhecimento, porque eles nos instalam numa zona de

poder e segurança. Um especialista pode afirmar, seguramente, que pode falar de seu

“objeto”, porque se especializou em seu conhecimento. Ele tem precedência para

refletir sobre este objeto em relação às outras pessoas, que não são especialistas.

Tem sido assim desde quando a ciência tomou como referência o método

cartesiano – ainda que René Descartes nunca tenha querido criar um método, mas

apenas dar respostas a si mesmo sobre suas dúvidas lógicas e metodológicas: “Assim

meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve seguir para bem conduzir

sua razão, mas apenas mostrar de que maneira procurei conduzir a minha. [...] Ao

propor este escrito apenas como uma história, ou, se quiserem, como uma fábula na

qual, entre alguns exemplos de imitar, talvez se encontrarão vários outros que se terá

razão de não seguir, espero que ele será útil a alguns sem ser prejudicial a ninguém, e

que todos ficarão satisfeitos com minha franqueza” (DESCARTES, 2004, p. 39). Como

Descartes considerava que as “fábulas fazem imaginar como possíveis acontecimentos

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totalidade das análises e nem por todas as

formas de conhecimento. Precisamos

complementá-lo com a lógica da síntese, da

complexidade, da junção, da recomposição,

da relação. Tornamo-nos especialistas das

identidades, das essências e “coisas em si”,

mas ainda somos analfabetos relacionais.

Como diz Edgard Morin, o fenômeno da

hiperespecialização fez-nos perder a

capacidade muldimensional de

compreender os problemas complexos da

vida, os problemas cuja compreensão não

são especialidades. Numa visão complexa, o

que se tece juntamente não pode ser

compreendido separadamente de seu todo.

A chave para entender algo está na leitura

que não o são” (DESCARTES, 2004, p. 42), o seu

próprio Discurso mostra-se bastante relativo a

qualquer pretensão. No entanto, querendo ou

não construir um Método, Descartes tornar-se-

á a referência de um modelo de conhecimento,

racionalista, que se sustenta por um dualismo

entre o mundo das ideias e o mundo das coisas

(“res cogitans” e “res extensa”) e pela

capacidade analítica da decomposição e

distinção. A pretensão científica à validade

universal priorizou um modo de conhecer que

independe dos contextos de onde surge e que

se vê obstinado pelas ideias “claras e distintas”.

Hoje o nosso desafio está não em

aniquilar o método cartesiano, mas

compreender que ele não responde pela

Tornamo-nos especialistas das identidades, das essências e “coisas em si”, mas ainda somos

analfabetos relacionais.

e interpretação de suas relações e não apenas em si mesmo. Leonardo Boff diz que

“não existem as coisas, mas as pontes que fundam as coisas”. E pensar a vida, a

realidade e os campos do saber em termos de relações pode ser fácil teoricamente,

mas representa um grande desafio ao pensamento. Implica reconhecer que como

cada contexto relacional é único, necessitamos de uma capacidade interpretativa

menos categorizadora, classificadora e generalizadora.

Este Informativo e suas reflexões pretendem ser um modesto exercício /

ensaio desta lógica relacional. Compreendemos bem que as identidades e realidades

não podem ser reduzidas e “misturadas” em formas genéricaas do conhecimento, mas

queremos sim forçar os limites dos territórios disciplinares do pensamento e do

conhecimento, sobretudo para que possamos resgatar a capacidade multimensional

(que nos dizia Morin), que nos possibilita compreender de forma mais qualitativa e

lúcida as questões da vida e da existência.

Neste contexto, a Psicologia, a Cultura da Paz, a Espiritualidade, a Educação

Ambiental aparecem aqui numa tessitura comprometida com uma lógica mais

sintética. A crise ambiental retrata o analfabetismo relacional que perpassa a própria

vida: a incapacidade de nos relacionarmos com o diferente de nós (seja nossa sombra

interior, o outro cultural, as outras formas de vida, a outra lógica) revela a ausência de

uma cultura da paz, o narcisismo psicológico em que nossa civilização se vê implicada,

e a ausência de uma dimensão de espiritualidade, que é aquela que nos abre na

perspectiva do sentido. Certamente cada área disciplinar é uma, no sentido de ter sua

própria pauta, discussão e de ter seu acúmulo histórico. Mas vivemos em um tempo

em que a Vida nos interpela a buscarmos novas categorias de compreensão, novos

percursos lógicos, assim como novos caminhos de construção de alternativas. A Vida

que nunca se reduz a nenhuma especialidade... a Vida que clama por plenitude!

Sugestões de Leituras

KING, Stephen Michael. O Homem que Amava

Caixas. Ilustrado pelo autor. 16. reimpr. São Paulo: Brinque-Book, 1997.

O Homem que Amava Caixas é uma comovente história que retrata uma das faces do analfabetismo relacional. É a história da relação entre um pai e um filho. Um filho que amava o pai e não tinha dificuldades em expressar este amor. Um pai, que amava caixas, e não sabia expressar o amor pelo filho. Como todas as obras de Stephen Michael King, cuja beleza poética encontra-se no acasalamento das palavras e das imagens, o texto nos mostra como este pai encontra nas caixas, e em seu imenso amor pela confecção das mesmas, a possibilidade de expressão deste amor pelo seu filho. Ainda que muitos estranhassem o homem e aquela relação, a trama nos motiva a ensaiar inusitadas formas de amar e se relacionar, evidenciando que o amor não nasce pronto e nem alcança um estado de acabamento, mas é um processo de aprendizagem que dá conta de transformar, a um só tempo, pessoas e relações.

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se envolver de vez com o filme. Até a próxima.

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Sugestões de Atividades

Vou sugerir hoje uma

atividade da Escola Caminho do Meio,

que faz parte do Instituto Caminho do

Meio, que fica em Viamão – RS, e está

integrado ao CEBB – Centro de

Estudos Budistas Bodisatva. A filosofia

da Escola Infantil é oferecer um

desenvolvimento integral não apenas

às crianças, mas aos educadores, aos

familiares e à comunidade, que os

auxilie na busca da felicidade e da

cultura da paz.

Em seu último Informativo

de Julho-Agosto 2011, eles sugerem

uma atividade chamada “momento

sem brinquedo” (pode ser entendido

como momento sem atividade, sem

dever, sem ativismo), proposto pela

professora Cíntia Miró: “É um

momento em que o grupo não está

entretido com objetos, distrações e

estímulos. O significado desta

experiência aproxima-se do que é

alcançado com a meditação, quando a

pessoa se afasta das atividades do

cotidiano e simplesmente sente e

respira, observando os conteúdos de

sua própria mente”. Segundo a

idealizadora, no começo as crianças

sentem, mas logo começam a se inter-

relacionar de formas inventivas. Já a

diretora, Fabiane Rocha, entende que

esta “abstinência” favorece as inter-

relações e a convivência. Se você

quiser conhecer este Informativo e a

proposta da Escola, acesse

www.institutocaminhodomeio.org.br.

É um projeto educacional desafiador!

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Fundação Projeto Pereyra

Apresentando-nos!!!

Primeiramente queremos contar-lhes que, para nós, estar aqui, formando parte

deste Informativo é uma alegria enorme, pela amizade que nos une à Maristela, e porque

acreditamos na construção coletiva do conhecimento e no valor da partilha. Queremos

inaugurar este espaço, apresentando-nos:

Um pouco de História...

A Fundação Projeto Pereyra foi fundada em Buenos Aires, Argentina, há quase

20 anos. Ao fim dos anos 80, vários hectares de terras que haviam sido recuperadas do rio

pela Cidade de Buenos Aires durante a ditadura, e que depois foram abandonadas,

estavam começando a se transformar em bosques, pastagens e lagos habitados por

grande quantidade de animais da fauna local. Muitos jovens professores, artistas,

agrônomos, físicos se conheceram trabalhando para fazer com que este espaço, que hoje

é a Reserva Ecológica Costanera Sur, fosse reconhecido como reserva natural, traçando

caminhos para que os alunos da escola pudessem ir e viver lá experiências educativas em

contato com a natureza. Este foi o começo das atividades da Fundação, e logo surgiu a

necessidade de encontrar um lugar de produção e de vida para alguns de seus

integrantes, e desde então, a zona eleita foi a zona sul da grande Buenos Aires, dentro do

Parque Provincial Pereyra Iraola, a uns 40 km da Capital. No Parque e em seus arredores

tivemos a oportunidade de realizar projetos em várias escolas primárias, envolvendo-nos

com as suas problemáticas e sonhos. Quase desde o princípio de nossas atividades

tivemos contato com a organização sueca Terra do Futuro (Framtidsjorden), fato que nos

possibilitou fazer parte de uma Rede de Organizações Latino-americanas, que nos trouxe

muitas aprendizagens, intercâmbios e projetos conjuntos.

Nossa Perspectiva...

Acreditamos na educação como uma porta de acesso – ainda que certamente

não a única – para uma transformação ética que nos permita sonhar com um mundo

sustentável, onde convivam com alegria diversos mundos de Vida. As realidades

educativas que realizamos não são parte de uma matéria. São resultado do diálogo entre

distintas disciplinas entre os atores que participam dos diferentes estágios do processo

educativo, produto de uma relação dialógica entre as ideias advindas de diversos saberes.

Seu objetivo é interligar as distâncias entre sociedade e ambiente, entre conhecimento

acadêmico e conhecimento para a vida, entre razão e sentimento. Contribuem para o

desenvolvimento de sujeitos autônomos e responsáveis, com capacidades para a ação e a

reflexão, para a organização grupal e comunitária, sujeitos formados em valores como a

cooperação e a solidariedade. Portanto, não consideramos atividades relacionadas com a

natureza ou com a ecologia como uma matéria em particular. Nosso enfoque da

Educação Ambiental atravessa a Educação em cada um de seus aspectos. Um enfoque

que objetiva resgatar a capacidade de sonhar lucidamente e desdobrar tal capacidade

para fazer a realidade que sonhamos, de forma que possamos renovar nossa forma de

viver, nossa forma de ser, de estar e fazer no mundo.

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se

Nossa forma de trabalhar…

Desde o início trabalhando em áreas naturais, entendíamos

que os problemas ambientais não eram originados “na Natureza”, mas

sim consequência de um modelo social, económico, tecnológico,

político e cultural. Por isso nosso ponto de vista teve como foco sempre

os aspectos sociais das problemáticas que se apresentavam. Quando

começamos a trabalhar com as comunidades esta ideia foi se

enriquecendo, nutrindo-se com a complexidade em que o natural e o

social interatuam e se retroalimentam em cada situação. É por isso que

fomos elegendo as ferramentas de trabalho que melhor se adaptaram a

esse enfoque. Nos projetos que desenvolvemos usamos o “jogo” como

ferramenta para aprender e para sensibilizarmos. Entendemos que a

divisão que sofremos em relação à Natureza e muitas vezes em relação

a nós mesmos, pode ser superada recuperando nossos sentimentos e

nossas percepções junto com nossas ideias e pensamentos. Ademais, o

jogo permite trabalhar a comunicação para construir os vínculos,

trabalhar as capacidades de organização dos grupos, ampliar o olhar

sobre a realidade, o corpo está comprometido, agiliza o pensamento e

a associação de ideias, ajuda a encontrar novas ideias e estimula a

criatividade, recupera aspectos da infância, permite-nos elaborar

aspectos da realidade para transformá-la, facilita o acesso ao

conhecimento e nos permite alcançar uma compreensão “metafórica”

da complexidade.

Em nosso trabalho tomamos princípios e conceitos da

Educação pela Arte, uma corrente que não busca a formação de

artistas, mas sim de seres humanos plenos, ou seja, de seres que podem

desenvolver sua capacidade criadora e toda sua potencialidade, e

permite que a noção saia da emoção como uma nova forma de

entender e conhecer. Outra ferramenta que utilizamos e nos tem

trazido muitas gratificações é o vídeo participativo. Trata-se da

realização de material audiovisual em que os meninos e as meninas são

roteiristas, cinegrafistas, diretores, engenheiros de som e até mesmo

atores, e onde muitas vezes temos envolvido os pais, vizinhos e

especialistas. A realização de um trabalho de vídeo participativo por

parte da comunidade mesma propõe aos participantes alunos,

professores e/ou vizinhos encontrarem-se e discutir situações

conhecidas que seguramente lhes são comuns. A marca registrada

desta ferramenta é precisamente essa possibilidade de refletir sobre o

cotidiano. Essa reflexão ou análise surge do próprio grupo que deverá

aprofundar e organizar com suas próprias palavras o que se considere

necessário transmitir a fim de alcançar melhorar sua qualidade de vida.

É possível então elaborar documentários desde uma ótica local e

comunitária, donde os realizadores têm a valiosa possibilidade de

mostrar os aspectos que decidem de seu lugar e de seu olhar único de

quem nasceu ou passou já vários anos nesse mesmo lugar e o conhece

Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Nesta edição, excepcionalmente, a dica de filme será

justamente um filme que está em cartaz nos cinemas (estreou nacionalmente no último dia 28/10). A iniciativa – e talvez a inspiração – para propor tal mudança seja justamente o impacto que senti, como apaixonado por cinema que sou, ao assistir na tarde de sábado do dia 29 o impactante, envolvente e extremamente sensível narrativa de “O Palhaço”, produção dirigida e estrelada por Selton Mello e que tem grandes nomes da dramaturgia brasileira como Paulo José que interpreta magistralmente o dono do Circo Esperança e, junto com seu filho Benjamin (interpretado não menos magistralmente por Selton Mello), formam a dupla de palhaços Puro Sangue e Pangaré, juntamente com os outros artistas da trupe, que estão viajando pelo interior de Minas Gerais com seu espetáculo apresentado em pequenas vilas e cidades. O fio condutor do filme é justamente uma crise de identidade (em todos os sentidos) vivida pelo personagem Benjamin, que pensa em mudar de vida. Essa é a sinopse básica para que o espectador possa entender um pouco da narrativa. Mas ela em si é muito mais do que isso. É uma sucessão ininterrupta de belas imagens, com ângulos de câmera totalmente encantadores guiados por uma direção impecável de Selton, tanto nas cenas externas quanto nas que centraliza o foco nos atores e suas caracterizações impecáveis. Impressionou-me profundamente a sensibilidade do texto, da atuação e da direção de atores realizada por este jovem artista brasileiro. Em "O Palhaço" a mistura de belas imagens (uma silenciosa natureza mineira), grandes interpretações (como não ficar emocionado com a atuação de Paulo José?) e a musicalidade fazem o espectador refletir inevitavelmente sobre como os caminhos da vida são opções e nunca meras obrigações. Como sou apaixonado pelo cinema foi inevitável pensar em Federico Fellini (em determinados momentos era como se estivesse dentro de um Fellini brasileiro), em "Os Saltimbancos Trapalhões" (um dos filmes em uma daquelas estações passadas) e no clássico "Bye, bye Brasil" do não menos genial Cacá Diegues. Selton Mello não faz releituras de nenhum dessas antológicas referências cinematográficas em seu "O Palhaço", o que faz com maestria é levar o espectador a se apaixonar por sua narrativa aos poucos e ao mesmo tempo intensamente. Orgulhoso estou do cinema do meu país neste momento! Imperdível!

VOCÊ SABIA?

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verdadeiramente. Os vídeos ou audiovisuais concluídos podem ser utilizados como

material de estudo por outros grupos interessados, ou podem servir para realizar

intercâmbios com outras comunidades ou para comunicar situações na comunidade

mesma, o que gera espaços de encontro entre os realizadores e os espectadores, a fim

de que propiciem o intercâmbio de ideias e visões acerca do que se está assistindo.

Nosso objetivo é contribuir para formar espectadores críticos, capazes de analisar a

informação recebida através de meios massivos de comunicação, que valorem seus

próprios pontos de vista e possam fazer escutar sua própria voz. É uma oportunidade

para observar a realidade de outra forma e redescobri-la, e redescobrir-se através da

lente de uma câmera.

Nestes anos outra experiência que resultou ser de grande valor para motivar

aos participantes, abri-los a novas ideias e valorizar o seu próprio lugar são os

intercâmbios, visitas que um grupo realiza a outro que se organiza para recebê-lo.

Em torno a todas estas experiências iremos seguir compartilhando algumas

reflexões e ideias nos próximos boletins. Despedimo-nos e até a próxima, com muita

alegria em nossos corações.

Fotografias:

1) Vista de dentro do altar da Igreja de Santa Bárbara, no Forte de Santa

Bárbara, Jurujuba, Niterói, RJ, 2010.

2) Flor de Cactos, Cochabamba, Bolívia, 2009

3) Interação de meus sobrinhos numa tarde festiva. 2010.

4) Sombra de uma orquídea contra a luz do sol em um prisma, 2011.

Maristela Barenco Corrêa de Mello

Graduada em Teologia (ITF

Petrópolis), Psicologia (Universidade

Católica de Petrópolis), Mestre em

Educação (UERJ) e Doutora em Meio

Ambiente (UERJ). Formada em

Terapias Holísticas (ASBAMTHO).

Educadora social há 25 anos

Seção Cinema

Reinado José de Lima

Professor graduado em Pedagogia e

Coordenador Pedagógico do Centro

Educacional Canto de Criar – Areal

(RJ)

Maristela Barenco

Corrêa de Mello

(24) 2237-5801 [email protected]