Algemas de Cristal - Margaret Pargeter - Bianca - 173 -By O Blog Da Selminha

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Algemas de Cristal Margaret Pargeter Copyright: Margaret Pargeter Título original: "Flamingo Moon" Publicado originalmente em 1977 pela Mills & Boon Ltd., Londres. Inglaterra Tradução: Luzia Roxo Pimentel Copyright para a língua portuguesa: 1983 Abril S.A. Cultural — São Paulo. Composta e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S.A. Foto da capa: Abril Press Digitalização: Palas Atenéia Revisão: Andresa Eve tinha se preparado para enfrentar uma batalha. Sabia que seria difícil recuperar o pequeno Michel, que Raul DuBare teimava em manter praticamente prisioneiro em sua fazenda na França. Mas tudo o que Eve imaginou foi pouco, diante da violência de Raul. Mesmo assim, decidiu lutar até o fim; afinal, o menino também era seu sobrinho. Só não esperava que seu louco coração se perdesse de amores por aquele homem de olhos negros que era seu pior inimigo. Passou a viver num inferno, dividida entre a necessidade de vencer Raul e o desejo de cair em seus braços. Ela, que tinha vindo libertar Michel, estava gora no mesmo cativeiro. E nada nem 1

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Copyright: Margaret Pargeter

Algemas de Cristal

Margaret Pargeter

Copyright: Margaret Pargeter

Ttulo original: "Flamingo Moon" Publicado originalmente em 1977 pela Mills & Boon Ltd., Londres. Inglaterra

Traduo: Luzia Roxo Pimentel

Copyright para a lngua portuguesa: 1983 Abril S.A. Cultural So Paulo.Composta e impressa na Diviso Grfica da Editora Abril S.A.

Foto da capa: Abril Press

Digitalizao: Palas Atenia

Reviso: Andresa

Eve tinha se preparado para enfrentar uma batalha. Sabia que seria difcil recuperar o pequeno Michel, que Raul DuBare teimava em manter praticamente prisioneiro em sua fazenda na Frana. Mas tudo o que Eve imaginou foi pouco, diante da violncia de Raul. Mesmo assim, decidiu lutar at o fim; afinal, o menino tambm era seu sobrinho. S no esperava que seu louco corao se perdesse de amores por aquele homem de olhos negros que era seu pior inimigo. Passou a viver num inferno, dividida entre a necessidade de vencer Raul e o desejo de cair em seus braos. Ela, que tinha vindo libertar Michel, estava gora no mesmo cativeiro. E nada nem ningum poderia salv-la da destruio!Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos.

Sua distribuio livre e sua comercializao estritamente proibida.

Cultura: um bem universal.CAPTULO ICeleste lhe disse vrias vezes que no fosse fazenda. Mas Eve Reston no resistiu. Estava l agora, embora arrependida.

Provavelmente estaria mais calma, se Celeste DuBare j tivesse procurado por ela no hotel do vilarejo. A fazenda DuBare ficava em Camargue, uma solitria e longnqua regio da Frana, onde tudo parecia ressequido e marrom.

No se sentia bem recebida ali e achava que todos a olhavam com desconfiana. Ela tinha deixado o carro na estrada atrs de uma moita, pronto para servir numa fuga rpida, caso fosse necessrio. Achou melhor chegar em silncio. O rudo do motor chamaria imediatamente a ateno naquele lugar calmo.

Alugara o carro na agncia da Sra. Wood, que tambm era proprietria do hotel onde estava hospedada. A Sra. Wood administrava todos os negcios do marido depois de sua morte. Era uma mulher muito ativa e se preocupava com os hspedes, especialmente com Eve, aquela jovem inglesa, que passava o dia inteiro sentada na sala.

Seria bom se desse um passeio, Srta. Reston. Se veio passar frias, no encontrar nada interessante aqui dentro do hotel. Por que no aluga um carro e d uma volta por a? Pode ir at a praia.

Eve sorriu nervosa, percebendo que tinha despertado a curiosidade da Sra. Wood.

o que pretendia fazer. Acabo de alugar um carro de sua agncia. No sabia que podia fazer isso na recepo mesmo, por isso no aluguei antes. Vou passear sim, mas primeiro preciso tratar de outros negcios.

Virou, de repente, e quase deixou cair s chaves do carro. Estava ansiosa para fazer outras perguntas, aproveitando que a Sra. Wood gostava de conversar, mas desistiu. Tinha pressa de chegar fazenda DuBare.

Agora, respirando fundo, Eve procurava controlar o tremor das mos. Deu alguns passos. Parecia que no havia ningum por perto para interromper sua espionagem. Durante um longo tempo observou as casas ao longe. Dali, pareciam empoeiradas e antigas, j quase destrudas pelo tempo.

Estava ali h trs dias, e ainda no tinha percebido como aquele lugar era solitrio. Uma terra rude onde s se viam cavalos brancos, manadas de gado, ciganos e vaqueiros. Mesmo assim, Eve gostou de l. Sentiu uma certa atrao, principalmente pela fazenda.

Celeste DuBare nasceu naquela fazenda. Sempre falava dela na escola. Para Celeste, aquela fazenda era uma priso uma priso de onde esperava que Eve a tirasse.

Precisava ser muito ingnua para imaginar que uma estranha fosse capaz de libert-la da prpria famlia.

O irmo mais velho, o conhecido Raul DuBare, j tinha sido hostil com ela, antes mesmo de conhec-la. Tudo porque o irmo mais novo, Domingos, casou contra a sua vontade com Carol, prima de Eve. Mas que culpa tinha Eve se Domingos e Carol se apaixonaram? E que culpa tinha do acidente que matou o casal to jovem, deixando rfo o pequeno Michel?

Raul, entretanto, parecia considerar que ela e os pais de Carol eram culpados de tudo.

Eve queria dizer o que pensava dele e por que tinha resolvido ir at l. Ela tambm antipatizava com Raul sem conhec-lo, por causa da carta que ele escreveu sua tia Mavis, a me de Carol. Eve amava Mavis e George Reston como se fossem seus pais. Morava com eles deste os oito anos, quando o pai e a me morreram num acidente. Era filha do irmo de George Reston.

Os tios foram muito bons para Eve e ela esperava um dia poder retribuir tudo que fizeram. Era inteligente e se esforou sempre para agradar o tio e a tia. Estudou muito e ganhou uma bolsa de estudos para uma famosa escola feminina. L encontrou Celeste DuBare, uma francesa de me inglesa que ainda tinha parentes morando em Cornwall, perto da casa de Eve.

Celeste, que tinha dois irmos na Frana, Raul e Domingos, passava as frias com os parentes ingleses e s vezes ficava na casa de Eve.

Meus irmos me consideram uma idiota, no gostam de mim disse Celeste certa vez.

Entretanto, o irmo mais novo, Domingos, a visitava sempre na escola e assim Eve o conheceu. Sempre que ia, ele levava as duas para tomar ch.

Eve, comparada com as outras amigas de Celeste, era muito pobre e modesta, mas Domingos sempre pareceu aprov-la. Um dia foi at a casa dela e conheceu Carol. Os dois se apaixonaram, mas Raul DuBare foi terminantemente contra o casamento, porque j havia escolhido uma noiva para o irmo. Domingos no conseguiu convenc-lo e ento os dois casaram sem avisar ningum, nem mesmo os pais de Carol. Eles ficaram muito aborrecidos, mas o aborrecimento deles no foi nada comparado com a fria de Raul DuBare. Quando soube, ligou para a casa dos Reston e destratou sua tia Mavis pelo telefone. Imediatamente, tirou Celeste da escola e no deixou que ela sasse mais da Frana.

Depois de algum tempo, Carol e Domingos foram morar na fazenda, esperando que, com o tempo, Raul se acostumasse com a nova situao. Carol pediu aos pais para aguardarem um pouco antes de virem visit-la na Frana.

Mas, apesar do otimismo dela, Raul no mudou. No parecia disposto a esquecer, nem perdoar o casal. Carol visitou os pais algumas vezes, em Cornwall, mas no se arriscou a convid-los para irem at a Camargue, nem mesmo quando seu beb nasceu.

George Reston e Mavis sofreram muito com essa situao e por isso se sentiram aliviados quando George foi transferido para a Rodsia, na frica.

Eve no foi com eles, preferiu ficar em Londres estudando.

Queria ser professora, era a sua vocao. S esperava que aquela mudana fizesse bem tia, que durante algum tempo no poderia pensar em visitar Carol.

Infelizmente, mais tarde, Carol, com saudades dos pais, convenceu o marido a lev-la at a Rodsia, nas frias. Eles foram contra a vontade de Raul, como ficou revelado mais tarde, e o avio caiu no mar. Todos os passageiros morreram.

O choque quase matou George, que se culpou daquele acidente. Teve um ataque cardaco do qual nunca mais se recuperou, vivendo de um hospital para o outro.

Nunca mais pde fazer viagens longas e o mdico o aconselhou a permanecer na Rodsia. Mavis, na ltima carta que escrevera a Eve, incluiu outra, que recebeu de Raul DuBare uma carta que enfureceu Eve e da qual se lembrava claramente. Ele dizia a Mavis, num tom cruel, que desistisse de qualquer idia de ficar com o beb. Os DuBare tomariam conta de Michel e seria melhor para todos se continuassem separados. A carta terminava assim: "Um pas que est sempre em guerra no bom para uma criana e, considerando o estado de sade do seu marido, penso que no seria um tutor aconselhvel. Aos meus cuidados, o menino ter uma vida melhor do que vocs poderiam lhe dar, desde que no interfiram, claro.A ltima frase parecia ter duplo sentido e uma espcie de viso. Fiquem longe, era o que ele queria dizer. Naquela poca era s o que poderiam fazer, e sabiam que de nada adiantaria tentar enfrentar Raul DuBare distncia.

Um ano depois, Eve continuava magoada com ele. Planejava um dia encontrar aquele homem e mago-lo tanto quanto ele magoou seu tio e sua tia, e principalmente a pobre Carol.

Depois de terminar os estudos, Eve aceitou um emprego temporrio em Londres, cuidando do filho de um francs. Economizava tudo o que ganhava, pois queria visitar os tios na frica. Nesse perodo, recebeu uma verdadeira enxurrada de cartas de Celeste. Eve no via a amiga desde que sara da escola, e, numa das cartas, Celeste escrevia: "Queria morar em Paris e j estava tudo acertado antes do acidente. Depois, Raul achou que o meu dever era ficar na fazenda cuidando de Michel. Ele pensa que o menino precisa de mim, para ser educado corretamente, e que por ele devo me sacrificar a vida toda. Nossa prima Nadine disse que estou desperdiando minha juventude aqui em Camargue. Raul quer que eu me considere satisfeita com os poucos amigos que ele escolhe para mim e com o Rally".

Eve lembrou, vagamente, que o Rally era um grupo fechado, formado pelas mes da classe alta, que davam festas onde os jovens encontravam pessoas do mesmo nvel econmico.

Numa carta recente, Celeste a deixou muito preocupada. Dizia: "Voc precisa vir aqui, Eve, e me ajudar a convencer Raul. Se algum tem responsabilidade de cuidar de Michel, este algum voc. tia dele tanto quanto eu. Carol a considerava como irm".

Eve respondeu que era apenas prima de Carol, no era tia verdadeira de Michel e que Raul no iria aceit-la.

A carta seguinte de Celeste foi furiosa:

"Voc precisa vir! Se continuar a recusar, eu levarei Michel para a Inglaterra. Raul vai acus-la de rapto".

Celeste terminava a carta com um pedido:

"Voc sabe que s farei isso se no houver outro jeito. Imploro que pense no assunto, querida. Raul muito imprevisvel e, se voc encontr-lo de bom humor, ele a ouvir. Ele no poder dizer que voc jovem demais, porque j tem quase vinte e dois anos, um ano mais do que eu, tenho certeza de que, com esses seus olhos azuis, voc convencer Raul. Diga que est preparada para cuidar de Michel, enquanto eu tiro umas frias. Afinal, no sei por que ele to rgido comigo enquanto um conquistador e se diverte com total liberdade".

Eve no queria saber da vida de Raul DuBare, j o desprezava o suficiente. Apesar de j ter resolvido que no poria os ps na Frana, Eve comeou a pensar em Michel. Seria bom que o menino fosse criado por aquelas pessoas? Talvez fosse melhor que vivesse em Londres, mais modestamente isto , se o arrogante Raul permitisse!

Quando finalmente, na ltima carta, Celeste ameaou procurar George e Mavis, Eve viu que no tinha outra alternativa. George poderia ter outro colapso e ela no queria ser a culpada por isso.

Respondeu que faria uma visita curta a Camargue e Celeste escreveu mandando uma srie de instrues. Havia um hotel no vilarejo de Les Saintes Maries, administrado por uma inglesa que sempre alugava quartos aos compatriotas. Celeste dizia que Eve devia esper-la no hotel e praticamente a proibiu de entrar em contato com ela na fazenda.

Apesar de atemorizada com a situao, Eve sentiu-se envolvida numa aventura. Tinha algum dinheiro economizado do ltimo emprego. Comprou algumas roupas, arrumou o passaporte e partiu de trem de Vitria para Dover, atravessou de balsa para Calais e l pegou um nibus para Paris. Dali em diante, o resto da viagem para o sul foi muito mais fcil e agradvel.

Encontrou o hotel sem dificuldades, mas ficou frustrada quando soube que todos os quartos estavam ocupados. A Sra. Wood, no entanto, foi muito gentil e lhe arranjou um quarto. Era mal ventilado e escuro, mas era melhor do que no ter onde ficar.

Eve esperou Celeste durante trs dias, mas ela no apareceu. Muito tensa, mal se atrevia a sair do quarto, com medo da amiga telefonar em sua ausncia. Na manh do quarto dia, desesperada, Eve telefonou para a fazenda, esperando que Celeste a atendesse. Era um risco e a princpio pensou que era a moa, no aparelho. Depois de alguns minutos de silncio a voz da outra mulher informou que a Srta. Celeste no estava em casa.

Assustada, Eve desligou depressa. No sabia onde estava Celeste, mas achou que algo estava errado. Decidiu que no ia mais ficar escondida como uma criminosa. Precisava ir fazenda e resolver tudo depressa. Celeste no ia procur-la como prometeu. Naquele momento, Eve resolveu que no voltaria para casa sem falar com algum talvez at com o prprio Raul DuBare. Ele podia ser desagradvel, mas iria enfrent-lo.

Ainda tensa, ela alugou um carro e seguiu para a fazenda.

A casa era mais velha do que ela imaginara. Um grande estbulo ficava ao lado, com paredes de pedra e telhado de capim. No era essa a imagem que Eve tinha da famlia DuBare. Talvez Raul gastasse sua riqueza em outras coisas e no em conservar a fazenda.

Enchendo-se de coragem, ela bateu na porta com fora. Celeste devia estar por perto, pensou. No tinha de cuidar do pequeno Michel? Mas quem abriu a porta foi uma mulher idosa que a mediu de alto a baixo.

O que quer senhorita? perguntou em francs. Eve procurou se controlar, respirando fundo.

Eu posso entrar? Vim ver a Srta. Celeste. Sou amiga dela. Eve no disse seu nome. Talvez, fosse melhor assim.

A mulher olhou-a de modo penetrante, ainda cheia de dvidas, apesar do excelente francs de Eve.

No daqui senhorita e no gostamos de estranhos.

Por favor, senhora Eve falou, sentindo que ela ia fechar a porta. Posso explicar quem sou e de onde sou, mas chame a Srta. Celeste, antes. Diga que estou aqui. importante.

Senhorita, eu a mulher no estava convencida de que devia fazer o que ela pedia.

Se a Srta. Celeste no est aqui, eu gostaria de ver o menino.

O menino? a mulher olhou com ar de espanto.

Sim, Michel Eve disse com firmeza. Quero v-lo entendeu?

A senhora ficou em silncio, mas sem hostilidade. Mesmo assim, Eve ficou nervosssima. Achou que a mulher fosse chamar algum para expuls-la dali. Mas logo viu que estava enganada, para seu alvio.

Espere aqui, senhorita. Vou ver o que posso fazer disse a mulher. Pode entrar e esperar.

Sozinha, Eve ficou com mais medo. Tudo ali era aterrorizante. Na Inglaterra, sua famlia morava numa casa trrea, rodeada por um terrao.

Aquela casa de fazenda era diferente de todas que Eve conhecia. Fora construda sobre uma plataforma de pedra. Eve tinha batido na entrada dos fundos, que dava para a cozinha. A senhora a tinha feito ir at a copa, onde havia uma longa mesa de madeira rodeada de bancos. Havia fogo na lareira, apesar de estar quente. Um enorme caldeiro pendia do teto, amarrado por correntes, ao lado da chamin. Nada era bonito ali, nem parecia confortvel. No combinava com a fortuna de nenhum burgus.

Eve suspirou cansada. Aquilo no tinha importncia. Afinal, estava apenas numa cozinha, um local onde talvez os DuBare nunca entrassem. Onde afinal estava Celeste? A mulher parecia estar demorando horas. Apreensiva, ela percebeu que a porta se abria.

No era Celeste, mas um homem de olhos castanhos penetrantes, que ficou a observ-la. Eve nunca viu ningum como ele. Era alto, com um rosto duro e indiferente, parecendo uma mscara Usava roupas escuras e botas de couro cru e saltos altos, chapu de abas largas. Era um homem muito bonito, aparentando uns trinta anos. Ela se sentiu atrada por ele primeira vista. Seu corao disparou, diante daquele olhar profundo.

Foi ele quem falou primeiro, num tom frio. Continuava olhando para ela com ar avaliador.

Boa tarde, senhorita, em que posso ajud-la? Soube que perguntou sobre o meu sobrinho. Sou Raul DuBare.

Sim sim respondeu confusa, esquecendo de cumpriment-lo. Estava perturbada com a sua presena e no sabia o que dizer. No prometera a Celeste que iria ajud-la? Tinha sido uma tola em ir quela fazenda? Provavelmente, Raul DuBare sabia, desde o comeo, que ela se encontrava nas redondezas.

Sou Eve Reston. Minha prima Carol casou com o seu irmo. Ela morava aqui Desanimada, Eve percebeu que estava dando muitas explicaes e gaguejando de um modo que nunca impressionaria o homem que estava sua frente.

Senhorita, sugiro que pare por a, pois est desperdiando seu flego. Seu olhar estava carregado de raiva. Tem alguma prova da sua identidade?

Eve ficou confusa e com um tremendo dio dele. Parecia que o destino no a ajudava em nada. Tinha deixado o passaporte na recepo do hotel. Na verdade, lembrara disso ao sair, mas resolvera no voltar.

Ser que Raul DuBare desconfiava que fosse uma impostora? Ou queria apenas se livrar dela?

Isso ridculo. No tem motivo para desconfiar de mim.

Por que no? Nunca lhe disseram que deve carregar sempre alguma identificao, principalmente se estiver fora de seu pas?

No sou nenhuma mentirosa. Sou amiga de sua irm.

o que gostaria que eu pensasse, mas outros raptores tentariam me convencer da mesma coisa.

Raptores? Eve no entendia mais nada, mas no conseguia desviar o olhar daqueles olhos penetrantes.

Ouviu bem, senhorita. A perfeio de certos criminosos me espanta. Nunca se pode imaginar se esto usando uma garota com ar inocente como o seu para conseguir o que querem. Como chegou at aqui?

De carro.

De carro? Eu no vi nenhum carro. Onde ele est?

Ah est isto Sentiu um certo medo e encarou-o.

Sim? ele indagou vendo que ela no conseguia se explicar.

Eve respirou fundo e conseguiu dizer com mais clareza:

Eu o deixei na estrada, atrs de uma moita.

Escondido! Ela notou o tom de triunfo na voz dele.

Eu estava nervosa! Ela sentia-se num pesadelo e s conseguia encontrar respostas que pioravam ainda mais as coisas.

Parece que estava preparada para fugir depressa se fosse preciso. E sem dvida tinha motivos para ter medo. Seus amigos deviam saber que Raul DuBare conhece bem as mulheres e no se deixa enganar por qualquer uma.

Eve o encarou furiosa, procurando um modo de atacar. Ento, ele conhecia bem as mulheres! Tinha certeza que sim, mas sabia que no conhecia o amor.

Eve estremeceu com aquelas bobagens que lhe passavam pela cabea. Imagine, preocupada se Raul DuBare sabe ou no sabe o que o amor.

Senhor DuBare, ser que no percebe a estupidez das suas declaraes?

Seus amigos se enganaram desta vez, senhorita. Voc ingnua demais. Como se atreve Eve ficou furiosa. Eu s quero ver o filho de Carol. Por que ia querer rapt-lo?

Ele a olhou de um modo insolente, fazendo com que o corao dela se acelerasse. Depois riu frio e irnico.

O dinheiro tenta todos ns, senhorita, principalmente os que no tm princpios. um fator importante na vida de certas pessoas.

Eve estava espantadssima e no mediu mais suas palavras:

Que dinheiro eu poderia receber, senhor? Olhando com ar de desprezo aquela cozinha e depois a sua roupa empoeirada, a camisa desabotoada. Mas, ao mesmo tempo, viu sua pele e os plos que apareciam na abertura da camisa e seu corao bateu mais depressa. Estava incrivelmente nervosa e com medo. Ele era um homem frio e muito forte e, o que era pior, parecia capaz de qualquer coisa para conseguir o que queria. Antes que seu olhar a trasse, disse num tom cortante: Pela sua casa, bvio que no nenhum milionrio.

Ele deu um passo e segurou-a pelo brao, ameaador.

Senhorita, no me provoque. No pense que conseguir me comover com seu olhar inocente.

Plida, Eve tentou se libertar, mas Raul a segurava com fora.

Michel no pode estar em segurana com um homem como voc.

Ele chegou o rosto bem perto do dela, de modo que Eve sentiu seu hlito. Tremia de medo. Ou seria de outra coisa?

No sei do que est falando, senhorita, mas, peo que v embora antes que eu perca a pacincia. Depois, talvez seja tarde demais.

E se eu no for? Vai fazer o qu? ela gritou, tentando demonstrar uma coragem que no tinha. Queria ignorar as ameaas dele, s queria ganhar terreno e vencer aquele homem que evidentemente estava acostumado a derrubar os outros. No pode me forar a sair desafiou.

Est enganada, senhorita. Sou bem capaz de tirar qualquer pessoa das minhas propriedades. Talvez, queira ter uma demonstrao disse cnico, e, sem dar tempo a Eve de reagir, carregou-a para fora. Segurava-a rudemente, enquanto descia os degraus para a estrada e pareceu nem perceber os esforos que ela fazia para se libertar.

Depois, largou-a no cho, fazendo com que casse a seus ps.

Momentos depois, Eve ouviu a porta da casa bater.

CAPTULO II Chorando, Eve levantou-se, percebendo que sua roupa estava rasgada e as pernas machucadas. Desejava furiosamente correr atrs de Raul DuBare e dar um soco nele, gritar, puni-lo. Mas, em vez disso, ficou parada olhando a escada por onde ele desapareceu, sentindo as lgrimas queimarem seu rosto. Que mais podia fazer?

Sentia desespero e frustrao, e tambm uma sensao de culpa. Devia ter ouvido Celeste e jamais se aproximado daquela maldita fazenda. Tinha estragado tudo. Agora que Raul DuBare a tinha expulsado daquele jeito, jamais conseguiria falar com Celeste ou ver Michel. Raul era um monstro, um bruto, e Eve perdeu qualquer esperana de convenc-lo da sua identidade.

Se tentasse, ele ia rir. Ela j imaginava aquele rosto forte e moreno, jogado para trs, dando gargalhadas.

Mordendo os lbios e sentindo-se muito magoada, voltou ao carro, lentamente, resolvida a no se deixar dominar pela vontade de correr. No ia dar este prazer quele homem que devia estar espiando pela janela, para ter certeza que ela tinha ido embora. Levantou o queixo e caminhou devagar. Devia mostrar a ele que no foi vencidaNo carro estava um calor sufocante. O assento queimava e ela afastou as lgrimas de raiva e desespero.

Sentia a terrvel impresso que estava sozinha e abandonada. Queria o conforto de um abrao de algum e um ombro onde pudesse chorar. Agarrou um leno no porta-luvas e enxugou as lgrimas. Tinha de devolver o carro alugado na hora do almoo quando chegasse ao hotel. Manobrou na estrada e afundou o p no acelerador, levantando uma enorme nuvem de poeira ao deixar a fazenda para trs. O mistral era o vento que soprava durante todo o tempo na regio de Camargue levantando nuvens de poeira. A vegetao era escassa e apenas algumas moitas cresciam beira da estrada.

Tentou se distrair, mas seus pensamentos voltavam constantemente a ele e a Celeste. Foi ajudar Celeste e falhou. Seria difcil tentar novamente. Com um certo esforo, procurou se convencer de que Raul poderia ser abordado de outra forma. Entretanto, nunca esqueceria que aquele primeiro encontro foi um fracasso total.

Ser que garotos como Michel corriam mesmo tanto risco de serem raptados? Certamente, no. Raul DuBare continuava com dio de todos da famlia de Carol. S isso explicava seu comportamento selvagem e violento.

De volta ao hotel, Eve deixou as chaves na recepo, e foi para o quarto. Jogou-se na cama e procurou pensar com clareza naquela situao. Seu dinheiro estava acabando. Ela s tinha o suficiente para mais ou menos dois dias e mesmo assim se economizasse nas refeies. Viajou com pouco de propsito, pois no queria gastar tudo o que economizara para a viagem frica. Alm disso, Celeste garantiu que s precisaria passar dois ou trs dias no hotel, no mximo.

Entretanto Eve fechou os olhos com fora. No adiantava chorar. Fez o que podia. Agora precisava acertar tudo para partir no dia seguinte. S teria mais algumas horas naquele lugar. Tinha que arranjar um jeito de ver o filho de Carol. Ser que ia conseguir? No conseguia imaginar a fisionomia do menino, pois via diante de si apenas o rosto de Raul, aquele perfil arrogante e o tom de voz que lhe despertava uma sensao estranha.

Lembrava perfeitamente da expresso de desprezo e frieza dele e a pssima opinio que tinha das mulheres.

Quando Eve se preparava para sair, a fim de fazer uma refeio rpida e barata, teve uma idia. Ia procurar um emprego. Assim ficaria mais tempo.

Como se faz para conseguir emprego num pas estranho? No sabia nem se precisava de um visto especial ou alguma permisso do governo. Ia perguntar a Sra. Wood, que sempre estava pronta a ajudar os hspedes. Levantou-se e saiu do quarto apressada.

Eram quase trs da tarde e o hotel parecia calmo. Muitos dos hspedes estavam na praia e alguns descansavam no gramado do jardim, debaixo de imensos guarda-sis.

Encontrou a Sra. Wood na recepo e lhe pediu para conversarem a ss.

Sim, querida a Sra. Wood disse, fechando a porta de uma salinha. Em que possa ajud-la?

Lamento comeou confusa. No queria incomod-la, mas os meus contatos no deram certo do modo como eu esperava e eu gostaria de arranjar um emprego. Ser que pode me ajudar?

Se a mulher ficou surpresa, no demonstrou nada, mas permaneceu em silncio alguns minutos. Depois olhou Eve profundamente, demorando-se no vestido rasgado.

Tenho a impresso que voc veio aqui encontrar uma amiga, ou um namorado. Algum que no apareceu Estou errada?

Eve enrubesceu, pois no estava preparada para este comentrio. O que poderia dizer? Estava numa posio muito estranha. Aquele era um lugar pequeno, os DuBare certamente eram muito conhecidos Precisava ser cautelosa com o que ia dizer.

A Sra. Wood j morava ali h cinco anos e Eve no poderia se arriscar a confiar na discrio da mulher. Portanto, ignorando sua vontade natural de confessar a verdade, sacudiu a cabea de modo evasivo e a Sra. Wood no insistiu.

Estava convencida, diante do rosto vermelho e os olhos baixos de Eve que a moa no ia dizer nada.

Lamento querida, estas coisas acontecem. E agora, pretende ficar mais tempo, na esperana de encontrar o seu jovem? O que sabe fazer?

Aliviada diante da atitude que a Sra. Wood tomou, Eve falou de todas as suas qualificaes profissionais, esperava o entusiasmo da outra.

Oh, voc veio em resposta s minhas rezas, eu preciso de uma pessoa sensvel, inteligente e com qualificaes pedaggicas. Como j deve ter percebido, a maioria dos meus hspedes tem crianas e precisa de algum que cuide delas quando querem sair ou jantar mais calmamente no hotel. Infelizmente, a pessoa que trabalhou comigo nos ltimos dois anos precisou fazer uma longa viagem. Eu prometi guardar o emprego para ela, mas se voc quiser ficar como substituta, eu gostaria imensamente.

Minutos depois, Eve correu para o quarto, achando difcil acreditar no que aconteceu. A Sra. Wood explicava tudo em detalhes e ela j sabia que ia se sair bem no emprego, pois adorava crianas e sabia ingls, francs, alemo e italiano, as lnguas que os hspedes geralmente falavam.

Durante os dias que se seguiram, entretanto, sua esperana em ver o filho de Carol quase desapareceu. Passou os dias apenas cuidando de uma poro de crianas. Procurou se consolar pensando que ainda estava em Camargue e no desistiria de procurar Michel s por causa da atitude de Raul DuBare.

Eve gostou do seu novo emprego e se divertiu muito com as crianas. Trabalhava muito mais que em seu emprego de Londres, mas no se queixava. A vantagem era s uma: no tinha tempo para pensar nos DuBare.

Na tera-feira seguinte, estava indo at o carro do pai de um dos meninos, apanhar uma bia para que ele entrasse na piscina com as outras crianas, quando Celeste apareceu.

Veio num carro esporte amarelo e tinha um ar totalmente despreocupado. Eve ficou olhando a amiga com uma expresso de espanto. Aos poucos, as crianas foram saindo da piscina e se aglomeraram em torno de Eve.

Ol, querida, no me diga que trouxe todos estes amiguinhos para Michel. Ele ainda no est nesta idade.

Michel? Eve perguntou indignada. Realmente, aqueles DuBare eram insuportveis. Ali estava ela, quase exausta depois de tanto trabalho e Celeste ficava debochando, com a maior naturalidade, como se fosse coisa mais trivial do mundo t-la feito ficar esperando dias e dias sem qualquer notcia. Realmente, Celeste, voc muito irritante.

O que quer dizer? Celeste perguntou distrada, sem mostrar a menor preocupao com a raiva da amiga. Depois olhou em volta, como se estivesse com medo de ser vista ali.

Olhe Eve, acho melhor conversarmos em outro lugar. No quero que a Sra. Wood nos veja juntas. Ela conta tudo ao meu irmo.

Ento, por que me mandou ficar aqui? Alm disso, a Sra. Wood minha patroa agora, e no posso fazer o que est me pedindo, nem se eu quisesse.

Eve! Pela primeira vez Celeste parecia olh-la com ateno. Qual o problema, querida? Voc est estranha. A Sra. Wood sua patroa? Eu no entendo Parece que esqueceu que estou aqui h uma semana. Eu tinha que arranjar alguma coisa para fazer, enquanto esperava que aparecesse.

Uma semana! Celeste passou a mo pela cabea. Mas querida, voc disse que ia chegar hoje!

Eu disse no dia primeiro do ms.

No, Eve. Voc disse dia nove.

Escute, eu mandei uma carta especial com o dia e todos os detalhes. No poderia cometer nenhum engano. Voc est com a carta?

No, querida. Pela primeira vez, Celeste parecia envergonhada. Sabe, Raul me pegou quando eu a lia. Fui forada a jog-la na lareira. Mas, posso jurar que estava escrito dia nove.

Eve suspirou profundamente, controlando sua impacincia e achando que Celeste estava falando a verdade.

Eu vim na semana passada, esperei trs dias antes de ir fazenda.

Voc foi fazenda? Celeste perguntou espantada.

Sim e o seu irmo me atirou para fora da casa. Atirou mesmo. Eu no consegui falar com voc.

Voc devia estar louca para ir at l. Eu avisei. Por que no me ouviu, Eve? Quando foi isso?

Na quarta-feira Quarta-feira Como eu no vi voc. Fiquei em casa o dia inteiro. E o que ele te fez?

No se preocupe, ele simplesmente me carregou como um saco de batata e me atirou no cho. Fiquei machucada, mas j passou. Acho que voc j pode imaginar. Deve estar acostumada a ver seu irmo tratar assim as pessoas.

Claro que no! No posso nem pensar olhe Eve, no podemos conversar aqui a Sra. Wood conhece Raul. s vezes ela aluga nossos cavalos e est sempre tentando agradar meu irmo. Ele faz o possvel para evit-la, naturalmente, mas nem sempre consegue. Sabe, Raul um homem que as mulheres apreciam. Lamento toda esta confuso, mas penso que a culpa foi minha. Espero que me perdoe. Por favor, vamos nos encontrar em outro lugar.

E o seu irmo?

Oh, se voc tivesse esperado! Agora Raul est furioso e tudo demorar mais tempo para ser resolvido. Precisamos encontrar uma soluo, mas no aqui. Venha logo comigo.

Que audcia! Eve deu de ombros, indiferente. Claro que no ia com Celeste. No podia sair e deixar as crianas sozinhas. A Sra. Wood lhe arranjou um emprego quando precisou e agora no ia abandon-la sem mais nem menos.

Claro que no posso ir. Precisa esperar at minha folga. Mal comecei a trabalhar, de modo que ainda no sei quando poderei folgar.

No deve trabalhar vinte e quatro horas por dia, querida. Venho me encontrar com voc, aqui, amanh. Arranje um tempo para podermos conversar.

Eu no sei. A Sra. Wood pensa que espero um namorado. Para sua surpresa, Celeste deu uma risada.

Oh, Eve. Raul vai ficar lisonjeado! Depois ficou sria e continuou: Se ele a atirou para fora de casa, certamente no sabia quem voc era. Podia ter lhe dito.

Eu disse, mas acho que ele no entendeu. Parecia pensar que eu estava l querendo raptar Michel e por isso ficou to furioso.

Raptar Michel voc! Celeste a olhou sem acreditar. Mas claro, estou entendendo. Ns tivemos um probleminha, mas como voc nem estava envolvida, tudo isso no faz sentido.

O que quer dizer? Lamento Eve, mas no posso explicar agora. No tenho tempo. Celeste indicou com o olhar que a Sra. Wood se aproximava. A vem a sua patroa. Sem dvida veio ver quem est roubando o tempo da nova escrava. Venha se encontrar comigo, amanh. Precisa vir! Frustrada e com raiva, Eve no conseguiu protestar, porque a outra j dava a partida no carro e desaparecia para no enfrentar a Sra. Wood.

Foi com relutncia que Eve pediu algumas horas de folga no dia seguinte, fingindo no notar o ar de desaprovao da dona do hotel. Depois subiu para trocar de roupa. Seu quarto era um verdadeiro cubculo. Tinha uma janelinha muito alta, que no abria facilmente. Eve gostaria de mais ventilao. Andava comendo mal e estava sempre com fome, apesar de normalmente no ter muito apetite. A refeio dos funcionrios do hotel era pouca e sem graa.

o jeito dela. Os empregados falavam sobre a Sra. Wood. Em certas coisas, muito generosa, mas em outras, o oposto. melhor fazer as refeies em outro lugar, ou levando comida para o quarto.

Mas isso custava dinheiro e Eve sabia que no podia desperdiar. Resignou-se.

Durante as semanas seguintes, conseguiu encontrar Celeste algumas vezes. A moa que trabalhava para a Sra. Wood no tinha voltado e Eve resolveu continuar no hotel at ver Michel.

Achou melhor escrever para a Rodsia e contar aos tios onde estava. Omitiu suas dificuldades, para no preocup-los. Mavis respondeu com uma carta cheia de gratido. Perguntava tanto sobre, o neto que Eve sentiu-se ainda mais decidida a v-lo, apesar de Raul DuBare.

Na primeira vez que se encontrou com Celeste, conversaram sobre Michel. A moa contou a histria do rapto.

Uma vez, Carol saiu para fazer compras na cidade. Eu fui junto com ela. Uma mulher entrou em casa e Marie, a nossa empregada, pegou-a carregando Michel para fora. Ela disse que tinha perdido o filho e queria outro. Mas no era verdade. A mulher era estranha na regio e ouvimos boatos de que pertencia a uma quadrilha. Nada foi provado e ela saiu da priso sob fiana. Mas Raul ficou preocupado. Desde aquela poca, ele no deixa Michel sair de casa, a no ser com muita segurana.

Mas, por que algum queria rapt-lo?

Por dinheiro.

Se eu for com voc at a fazenda e me apresentar, o que acha que ele vai fazer? Eve perguntou sria.

No sei, mas tenho uma certa suspeita de que ele sabe quem voc. Por que nos ltimos dias tem falado demais a respeito da sua famlia. Mal, como sempre. Portanto, no momento no me atrevo a fazer nada.

Eve tentou ser paciente.

Mas, devia ter algum plano quando me chamou at aqui. No podia ter me feito vir Frana para nada. Sei que Raul no gosta da minha famlia. Isso no nenhuma novidade.

Eu no tinha nenhum plano muito elaborado, mas, na verdade, pensei em algo. H uma lagoa rasa perto de casa, onde ns costumvamos brincar quando criana. Domingos e eu. Algumas vezes Raul ia tambm. O meu pai construiu um grande barraco, e Raul sempre o conservou. L os pssaros raros da regio aparecem para beber gua e s vezes levo Michel at l. A lagoa no funda e ele gosta de observar os pssaros e brincar na gua. Raul no proibiu este passeio.

Quer dizer que posso ir at l e encontrar vocs?

Sim, o mximo que posso fazer, mas voc tome cuidado, h muitas poas de lama por l. Se algo lhe acontecer e Raul souber que a deixei entrar, nunca mais me deixar ir a Paris.

Eve sabia que as preocupaes de Celeste eram apenas com ela prpria, mas, apesar disso, ficou mais animada com a possibilidade de ver Michel. Era arriscado, mas melhor do que ficar no hotel, sem fazer nada.

Celeste lhe deu as instrues para chegar ao local e avisou para estacionar o carro distncia. A nica pessoa que devia evitar era o boiadeiro, que poderia estar passando por ali, no momento, com o rebanho. tarde, a maioria dos homens trabalhava do outro lado da fazenda.

No dia seguinte, Eve partiu de nibus e descobriu que a lagoa era muito mais longe da estrada do que pensara. O sol estava quentssimo, mas ao chegar, viu aliviada que Celeste estava l, com o menino. Tinham sentado do lado de fora do barraco e Michel, agora com um ano, brincava feliz, enquanto Celeste olhava uma revista de moda, mal prestando ateno na criana.

Durante um momento, Eve parou, sem ser vista, sentindo-se mais calma. O menino era pequeno e moreno um DuBare. No se parecia em nada com Carol. Talvez tivesse os olhos grandes e castanhos dela. Eve respirou fundo, sentindo saudades da prima e vendo que Celeste no tinha o menor interesse pelo garotinho. Se a me estivesse por perto, ele seria muito amado.

Ouviu risadas e virou-se depressa. Ao longe, direita da lagoa, dois velhos jogavam cartas, mal olhando para Eve que ficou parada, observando-os.

Est tudo bem, querida. So o velho Franois e Pierre. Raul no me deixaria vir sozinha com Michel, mas estes homens so leais a mim.

Tem certeza? Eve disse se aproximando, insatisfeita com aquela situao, apesar da segurana de Celeste. Como aqueles homens poderiam ser leais a ela, se eram empregados do irmo? Devia haver algum engano ali, Eve pensou, mas no disse nada, esperando que Celeste no cometesse mais erros.

Venha conhecer o seu sobrinho. Eu ainda no sinto nada por um homem to pequeno, mas temos de admitir que ele uma gracinha.

Entretanto, antes de Eve chegar mais perto e falar com o beb, ouviu aterrorizada o som de um veculo se aproximando. O sorriso de Celeste desapareceu, ao ouvir o barulho dos freios e uma porta batendo com fora.

Raul! Celeste gritou, agarrando Michel. Estava surpresa e sua autoconfiana desapareceu completamente. Oh, no! Ela olhou desesperada para Eve. Isso no podia acontecer!

Mas aconteceu. Caminhando apressado a passos largos, ele pareceu mais perigoso e ameaador do que nunca.

Meu Deus! Ele gritou para a irm. Ento, basta eu virar as costas para voc trair a minha confiana! Volte j para casa com Michel. Quanto a vocs, seus vagabundos, no perdem por esperar. Vou lhes dar uma lio que nunca mais se esquecero ele disse aos dois velhos. E voc, senhorita, vai levar uma lio imediatamente, assim que a minha irm for embora.

Mas Raul! Celeste conseguiu dizer finalmente. No deve julgar Eve to duramente. Ela s veio ver o beb.

Celeste s conseguiu despertar ainda mais a fria dele. Raul DuBare empalideceu, e Eve sentiu que ele perdia o controle.

Celeste saia daqui. No quero falar com voc novamente.

Eve percebeu que a raiva dele no tinha limites. Ser que estava sempre ameaando as pessoas daquele jeito? Procurou assumir uma atitude digna e viu que Celeste se afastava, olhando para ela com ar de desculpas. Claro que a moa no ia ajud-la a enfrentar Raul.

Eve virou-se para aquele homem, decidida a enfrent-lo. Alis, o que mais lhe restava fazer? Ele estava com a mo na cintura e usava calas muito justas e botas altas. Olhava-a com ar de desprezo, como se a presena dela o incomodasse.

Por favor, escute-me, Sr. DuBare. Precisa me ouvir. No pode continuar ignorando os fatos, como se isso pudesse mud-los.

Ele a olhou com tanta raiva que Eve achou que ia jog-la na lagoa. Ficou apreensiva, mesmo sabendo que no era funda.

Gostaria de ouvi-la, senhorita ele falou suavemente, num tom que a deixou mais apavorada.

Eve engoliu em seco, tentando ignorar a ameaa implcita nas palavras dele.

Por favor, escute-me.

Ento, est implorando, senhorita ou propondo um acordo? Ainda no conseguiu se decidir?

Eve enrubesceu violentamente, diante do tom de desprezo dele.

Eu nunca imploro senhor, e jamais pensaria em fazer um acordo em que estivesse envolvido. J tomei a minha deciso e s tentava encontrar uma soluo lgica para a situao.

E naturalmente to teimosa como todos os ingleses e no aceita um no como resposta. teimosa e cabea-dura e espera que eu seja tolerante. Muito bem. Senhorita tem cinco minutos. S isso. Sem esperar mais, ele a agarrou pelo brao com fora dizendo: Vamos entrar no barraco. Um pouco de sombra poder ajud-la a fazer o discurso. Eve gemeu de dor, mas ficou firme. Fez uma expresso de espanto ao ver o barraco por dentro. De fora, ningum imaginaria aquilo. Muito espaoso, tinha o cho coberto de ladrilhos verdes, forrados com tapetes de pele. Havia uma mesa de vidro e algumas cadeiras confortveis, forradas de seda estampada em cores bem suaves, como as das cortinas. Por todo lado, havia vasos com flores amarelas.

Tudo ali era lindo! Parecia um osis no deserto. Era como um harm ocidental, planejado com muito carinho. E se algum planejara aquele local, tinha sido Raul DuBare. Ela tinha certeza disso, apesar de conhec-lo to pouco. Como da primeira vez em que se encontraram, Eve sentiu-se nervosa, agitada e estranhamente excitada. Virou o rosto para ele, sentindo-se como um animal preso numa armadilha.

CAPTULO III

Durante vrios minutos Eve encarou Raul DuBare em silncio e pouco vontade, sem saber o que dizer e incapaz de entender o que acontecia. A sua expresso distante e fria no ajudava em nada. Criava um ressentimento ainda mais forte entre ambos, pois apesar de usar roupas velhas, ele tinha um porte elegante e um ar de superioridade, que a humilhava.

O silncio era tanto que Eve parecia ouvir as batidas do seu corao. Estremeceu ao perceber que ele a olhava demoradamente, observando a pele, os cabelos castanhos.

Diante dela estava um homem capaz de inspirar medo apenas com um olhar. Ela gostaria de saber em que ele estava pensando.

Estou esperando, senhorita. Por generosidade, resolvi escut-la, mas no irei mais longe. Minha pacincia est acabando, pois sou um homem muito ocupado.

No tenho muito a dizer, senhor. S queria que no ignorasse mais que sou a prima de Carol.

Eu nem sabia que ela tinha prima.

Ser que Carol nunca falou dela? Era difcil acreditar nisso. Se Carol no falou, o marido e Celeste certamente o fizeram.

Os pais de Carol me adotaram, mas na verdade, sou prima dela e no irm, apesar de Carol sempre me considerar assim. Olhe, eu j lhe disse tudo isso antes.

Disse mesmo! Mas, ter de fazer algo melhor do que isso. Raul falava um ingls quase perfeito.

Senhor, no posso fazer com que mude de idia, j que resolveu ignorar os fatos e duvidar da minha identidade. Sabe que posso provar tudo o que disse. S que no costumo carregar meus documentos. A sua irm me conhece e pode lhe dizer a verdade. Freqentamos a escola juntas ela passou muitas frias na casa dos meus tios. No sou uma estranha.

o que acreditei senhorita. Entretanto, viu como ela fugiu, como se estivesse com a conscincia pesada. Por qu? Eu fico em dvida. No sei se quem diz ou se pretende outras coisas, vindo aqui h esta hora. Talvez, conhecer o terreno e voltar depoisEve sentiu-se mais nervosa com as dvidas dele. No podia cometer mais erros. Celeste no lhe dera liberdade de explicar tudo a Raul, portanto teria que assumir sozinha a culpa daquele incidente.

Eu queria ver Michel respondeu, achando que era a melhor coisa a fazer. Meu tio, como deve saber, ainda no pode sair da Rodsia. Ele e minha tia esto muito preocupados com o menino, por isso vim fazer esta visita. Deve saber que natural os avs se preocuparem com o neto. Como vou para a frica em breve, decidi levar notcias de Michel.

Os olhos de Raul brilharam intensamente, enquanto estudava o rosto dela, a pele rsea que lhe dava um ar muito juvenil. Depois seu olhar percorreu os lbios que eram de uma mulher ainda inexperiente.

E se eu me recusar a lhe dar permisso para ver o menino? ele murmurou distrado, como se estivesse com a mente ocupada com outras coisas.

Sem nenhum motivo, quando os olhares dos dois se encontraram, o corao de Eve bateu mais depressa.

Eu tenho meus direitos. Estou aqui representando os avs de Michel e no pode continuar ignorando isso por muito tempo.

muito impertinente, senhorita! Durante um terrvel momento, ela sentiu que ele se descontrolava. Pensou que tinha ido longe demais, mas o homem voltou sua atitude fria e distante. Eu poderia anular qualquer direito que voc ou sua famlia queiram ter sobre o garoto! Acredite-me, senhorita, j analisei este assunto demoradamente. O lugar de Michel aqui, onde ele nasceu e que ele vai herdar, sem dvida toda a parte que era do pai dele e tambm a minha. Ningum poderia lhe oferecer mais do que eu. E deixe-me avis-la, no sou homem de sofrer ameaas, a no ser que esteja preparada para agentar a minha vingana.

O que ele queria dizer com vingana? Seu rosto era misterioso.

Eve respirou fundo e sentiu um n na garganta. Deu um passo para trs, amedrontada. Sem saber o que dizia, falou:

Mas, precisa ter a sua prpria famlia!

A frase saiu to confusa, que nem sabia se ele entendera. Procurou se corrigir.

Claro que sei que no casado! Eve engasgou de repente, furiosa diante da raiva que Raul DuBare a fazia sentir e prosseguiu sem pensar muito. E agora que o conheci, sei por que no consegue ter uma vida normal. um homem de gelo, sem compreenso ou ternura. Se apertar uma mulher nos braos, no vai saber como am-la!

Realmente, ela tinha ido longe demais. O rosto dele tinha uma expresso to dura que Eve daria tudo para retirar o que disse. O que ser que a fez dizer tudo aquilo? No sabia S uma idiota ia pensar que Raul DuBare estava solteiro porque as mulheres no o queriam.

Desculpe disse baixinho, enrubescendo violentamente. EuMas, no teve tempo de terminar. Ele a agarrou pelos ombros e a tomou nos braos rudemente. Havia sensualidade em cada toque dele e Eve sentiu que estava mergulhando num turbilho de emoes.

O corpo dele era como ao e ao chegar mais perto, sentiu a fivela do cinto machucando-a. Sentiu-se desesperada ao ver que, com a outra mo, ele a segurava pelo pescoo, puxando sua cabea para trs.

Eve nunca tinha sido beijada daquele jeito. Levava uma vida tranqila, dedicada ao trabalho com as crianas e famlia. Mavis e George nunca a encorajavam a ter muitos amigos. Eram to rigorosos com ela quanto com Carol.

Querendo agrad-los, Eve sempre pensou mais nos estudos que em outra coisa qualquer. Claro que sonhava com o abrao de um homem. Achava que devia ser uma experincia maravilhosa. Mas, neste momento, Raul tinha acabado de arrasar os seus sonhos.

Os lbios dele eram cruis, a machucavam. Ela se debateu em seus braos, procurando escapar, mas no conseguiu. Desesperada, foi forada a agentar tudo at ele resolver larg-la.

Durante um momento, depois do susto, foi como se uma corrente eltrica passasse pelo seu corpo. Ele a segurava com fora e Eve comeou a notar que seu corpo correspondia ao dele. Sabia que o homem estava s tentando puni-la, mas quando Raul levantou a cabea, no teve foras para empurr-lo.

Para sua surpresa, o rosto dele tambm mudou. Olhou demoradamente os lbios avermelhados dela e murmurou: Ainda tem a mesma opinio senhorita?

Opinio? Eve disse baixinho, sentindo-se confusa. Que opinio?

Est fingindo que no entende ou quer uma prova mais completa de que sou um homem? Entretanto, agora a voz dele estava suave e agradvel. Beijou-a mais uma vez.

Eve no conseguiu se afastar. Sabia que apesar do seu corao ter disparado, precisava resistir. No era nenhuma criana e Raul sabia disso. S no tinha experincia, mas agora percebia que seu corpo parecia despertar de um longo sono. Raul, como um homem experiente, que era, tinha notado que poderia domin-la.

As sombras se alongavam l fora e ali dentro tudo estava na penumbra. Ele no fez nada para ajud-la a se afastar.

De repente, apertou-lhe os ombros e Eve sentiu que sua resistncia diminua.

Voc daria uma tima aluna ele murmurou em seu ouvido, roando os lbios por todo o seu rosto. Eu posso ser muito gentil minha querida, se for preciso.

Por favor! Afastou-se, resoluta, apesar daquela voz exercer uma profunda atrao. Raul era um estranho. Apesar de ter estudado com a irm dele no o conhecia at pouco tempo.

Encarou-o profundamente, com dignidade. Achou que aquela cena humilhante no precisava se estender mais. Estava adquirindo o hbito de se meter em situaes complicadas, mas jamais tinha previsto algo daquele tipo.

Com licena, preciso voltar ao meu hotel. Ele sorriu diante da expresso de medo dela.

Senhorita, precisa parar de me dizer o que quer ou no quer fazer. J encontrei um modo de calar voc e no vou esquecer disso.

Lamento h coisas que eu no tinha o direito de dizer. Durante alguns momentos permaneceu de olhos fixos e seus lbios tremeram involuntariamente. Ser que ele a olhava com ar de superioridade, ou apenas cinismo?

Raul inclinou a cabea para trs, como se aceitasse o pedido humilde de desculpas.

Vou lev-la ao hotel, senhorita, se fizer a gentileza de me dizer onde est hospedada.

Ento, ele no descobrira onde ela se encontrava. Depois do primeiro encontro pensou que se livrara dela para sempre, imaginou, e nem tentara descobrir se tinha mesmo ido embora. Mas, ao saber disso, sentiu-se magoada.

No precisa me levar a lugar nenhum, Sr. DuBare. Eu vim sozinha at aqui e vou encontrar o caminho de volta.

Quer pensar o pior de mim, se eu deixar?

J pedi desculpas.

Mas no me convenceu.

um homem muito orgulhoso.

Por que pensa assim, senhorita?

Eve percebeu que at aquele instante ele s a chamara de senhorita. Ser que ainda suspeitava da sua identidade? Nervosa e ressentida se afastou dele, caminhando para a porta.

Eu queria saber qual a hora do prximo nibus. Ia perguntar Celeste.

No veio de carro, por causa do aviso da amiga para estacionar longe. Raul saiu do barraco atrs dela e trancou a porta.

Celeste devia ter lhe avisado que os nibus aqui no tem horrios regulares e s vezes no voltam. Seria bem feito, senhorita, para aprender a no esperar muito da minha irm.

Aquilo era uma ameaa ou um aviso? No havia jeito de descobrir. Ela olhou-o desesperada, sabendo que no poderia esquecer to cedo aquele beijo. Impulsivamente, tomou uma deciso. Ia embora. Ningum poderia esperar mais dela, nem Celeste nem os tios Ia pedir demisso a Sra. Wood.

Ele lhe abriu a porta e ela entrou no carro. Partiram a toda velocidade. Eve tinha agora uma desculpa para ficar em silncio. Afinal, no havia mais nada para ser dito entre eles.

Raul DuBare j tinha tomado suas decises antes dela chegar. Estava resolvido a manter Michel longe da famlia da me, a qualquer custo.

Surpresa, Eve viu que chegavam ao hotel e ele disse:

O pai de Carol j se recuperou do ataque cardaco?

Ainda no respondeu incapaz de relaxar. Sabia que ele fazia tudo para no reconhecer que era prima de Carol. Ento, por que aquela pergunta?

Eles ainda no voltaram para a Inglaterra?

Os mdicos aconselharam tio George a ficar l mais um pouco. Ele no pode se arriscar, no momento.

No entendi.

Ela suspirou, sentindo-se perturbada, mas resolvida a manter uma aparncia calma.

Eles esto gostando de l e o clima faz bem sade do tio George. Se vierem para a Inglaterra e ele passar mal, no podero voltar para a Rodsia.

Compreendo ele falava de um modo calculado e a olhava cheio de suspeitas. Ser que a estaria testando? Procurando descobrir se ela dava as respostas certas? Como se lesse seus pensamentos, ele falou novamente:

Para quem reclamou de falta de dinheiro, a senhorita parece estar se arranjando muito bem disse, apontando o hotel.

O que quer dizer?

No est morando aqui? H quantas semanas? O hotel da Sra. Wood no barato. quase de primeira classe.

De repente, Eve entendeu e ficou furiosa. Ele parou no estacionamento e ela abriu a porta.

No fazia diferena que ele a olhasse com aquele seu ar superior nem que a Sra. Wood estivesse no jardim e a visse chegando com Raul DuBare.

Obrigada, senhor. No o pertubarei mais e quando partir, no deixarei dvidas aqui.

At logo, senhorita. Ele cumprimentou a Sra. Wood e se afastou.

Onde foi passear com o Sr. DuBare? a Sra. Wood perguntou depois que ele saiu.

Eve tentou disfarar, mas viu claramente que a mulher se aborreceu porque Raul DuBare no parou para conversarem. No tinha mais nada a dizer a ele, nem queria que a Sra. Wood soubesse que o conhecia.

Ele s me deu uma carona porque perdi o nibus.

Se esperava que a Sra. Wood desistisse facilmente, no conseguiu.

Raul DuBare no tem o hbito de dar carona a estranhas a mulher disse com ar suspeito. Espero querida, que no tenha agido errado, pois precisa pensar na reputao do meu hotel.

Eve sentiu que seu rosto esquentava ainda mais. No ia adiantar tentar convencer a Sra. Wood de que no tinha acontecido nada de errado. O que ela pensaria se soubesse o que houve entre eles no bangal perto da lagoa? Tudo. Eve no queria nem imaginar aquilo.

Pode ficar tranqila, Sra. Wood, o Sr. DuBare no est interessado em mim.

Mais calma por causa do tom indiferente de Eve, a Sra. Wood pareceu perder as dvidas e continuou a falar, num tom confidencial.

Sabe querida, ele um homem de considervel reputao com o sexo frgil e eu me sinto responsvel por voc. Certamente se soubesse disso antes, no teria aceitado a carona.

Eu no sabia. Virou-se para se afastar, mas a Sra. Wood no deixou. Continuou falando de Raul DuBare como uma espcie de lobo mau, preparando suas armadilhas para todas as vtimas.

Tenho certeza que no vou ver mais o Sr. DuBare. A Sra. Wood caminhou com ela, satisfeita.

Dizem que ele muito rico. Sei que tem propriedades, mas acho que no pelo dinheiro que as mulheres o perseguem, e sim porque ele, de fato, um homem perigosamente atraente, voc no acha?

No estou nem um pouco interessada no Sr. DuBare, Sra. Wood! A voz de Eve tremia s de lembrar o drama vivido durante a tarde. No tinha a menor idia de que ele fosse rico. Ele se veste como um pobre coitado!

S porque ele usa roupa de vaqueiro, voc no deve se deixar enganar. Dizem que ele trabalha tanto quanto qualquer de seus empregados e leva tudo muito a srio. E, mesmo desleixado no vestir, ele faz um grande sucesso com as mulheres.

Impaciente, Eve olhou sua patroa espantada. Ser que a Sra. Wood estaria interessada em Raul DuBare? Por que toda aquela conversa sobre ele e a discusso sobre sua atrao?

Por que ele no casou se to popular?

Aparentemente, no est com pressa. E, alm disso, j tem um herdeiro, o filho do falecido irmo dele. Parece que no sente necessidade de ter seu prprio filho, pelo menos por enquanto. Mas certamente casar no futuro e construir sua prpria famlia. H um boato sobre uma mulher que passa algum tempo aqui Compreendo Eve disse pensativa.

Desculpe querida. A secretria da Sra. Wood estava chamando. Mas os negcios sempre vm em primeiro lugar, apesar dos DuBare serem fascinantes.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Eve recebeu um telefonema. Eve pensou que fosse uma ligao de Rodsia, com mais notcias. Suspirou aliviada, apesar de s querer esquecer os DuBare, quando ouviu a voz de Celeste. O que ? indagou friamente, controlando um impulso de desligar.

Eu tive de telefonar, Eve Celeste disse em tom de desculpas. Quando voc conhecer melhor Raul, ver que ele no to mau.

No pretendo ouvir elogios ao seu irmo. Estou cansada de ser maltratada.

Por favor, no desligue, Eve. Raul tem que ir a Paris, para resolver uma emergncia. Coisa de negcios, no sei direito o que ! Ele me proibiu de v-la at que ele volte, mas quando voltar, pretende hosped-la aqui. J me disse que est preparando tudo, quer discutir algumas coisas com voc, mas no disse o que era.

Lamento, mas no estarei aqui.

Oh, por favor, querida no v embora. No pode ir. Eu no sei o que disse a Raul, mas ele ficou muito bem impressionado. Parecia muito estranho, como se estivesse pensando em algo importante. Talvez, esta seja a oportunidade que estamos procurando para acertar tudo a respeito de Michel.

Vou pensar no assunto Eve respondeu indiferente e sem dar a outra a chance de falar nada, desligou. Foi decisiva. No pretendia voltar quela fazenda de maneira alguma. Nem os cavalos selvagens de Camargue poderiam arrast-la at l.

Queria partir no fim da semana, mas precisava dar uma espcie de aviso prvio a Sra. Wood. Quando disse que precisava voltar a Londres imediatamente, a Sra. Wood ficou furiosa.

No posso deixar que voc me abandone assim. No me interessa se arranjou outro emprego. Precisa ficar at o fim do ms.

Talvez ficasse. A Sra. Wood tinha seus direitos e talvez tivesse dificuldade em arranjar uma substituta.

Est bem falou, dando de ombros, mas percebendo que no lhe restava mais nada a fazer.

Durante a semana seguinte, Eve trabalhou muito.

Achava que a Sra. Wood estava lhe dando trabalho dobrado deliberadamente e no queria ouvir suas reclamaes. Mas, de outro lado, Eve estava resolvida a manter sua palavra. Afinal, tinha outra alternativa. Agora, s precisava manter a cabea erguida e ir adiante. Seu salrio, apesar de pequeno, era bom. Economizara bastante e o dinheiro seria muito til quando voltasse Inglaterra.

Ento, quando comeava a tirar Raul DuBare da cabea, recebera uma carta de Paris dizendo que ele voltaria para a fazenda e queria v-la no dia seguinte. Estava assinada com um simples DuBare.

Eve sentiu um calafrio. Por que s de ver aquela assinatura mscula, seu corao disparava? Por que ele escreveu para ela? Certamente, podia ter telefonado, mas talvez tivesse dvidas. Ser que ela atenderia? Outras pessoas iam ficar sabendo da ligao. Uma carta era algo muito mais secreto e no dava margem a boatos.

Mais tarde, depois de pensar muito no assunto, ela decidiu que no ia. Agentaria? A carta dele j estava quase rasgada de tanto que a lia. No dia seguinte, no pde manter sua deciso. Num estado de semi-inconscincia, como se teleguiada, tomou o nibus para a fazenda.

Felizmente, era o seu dia de folga. A Sra. Wood tinha lhe pedido que trabalhasse, mas Eve foi categrica e saiu antes que a patroa lhe perguntasse o que pretendia fazer. Tinha certeza que se contasse a mulher jamais lhe daria a folga.

S depois que o nibus partiu, Eve teve plena conscincia do que estava fazendo. Desceu no ponto errado, muito longe da fazenda. Naquela solido, ela percebeu que as distncias era enganadoras. Devia ter alugado um carro. Agora, sentia-se perdida.

A vasta plancie a amedrontava tudo parecia vazio e desolado. direita, havia gua e vegetao de pntano e o outro lado era coberto de capim. Estremeceu e continuou caminhando pela faixa seca de terra que formava a estrada. O sol estava quente e o mistral soprava com fora, fazendo com que se sentisse mal. Felizmente, havia placas na estrada e percebeu que no estava perdida. Mas, a cada passo que dava se sentia mais convencida de ter cometido uma loucura vindo at ali. S em pensar em Raul DuBare, j ficava confusa. Ele a fazia se sentir completamente vulnervel.

Depois de uma longa caminhada, sentia dor no tornozelo direito e tinha bolhas nos ps. Logo depois, surgiu casa da fazenda. Ela subiu mancando a escadinha da frente. Talvez Raul nem estivesse esperando. Talvez fosse forada a esperar na cozinha. No imaginava como ele iria trat-la.

Eve bateu e ao contrrio do que esperava, a porta se abriu imediatamente. Uma jovem morena surgiu e disse:

Sim, mademoiselle, o Sr. DuBare a est esperando. Mandou que a levasse at ele assim que chegasse. Meu nome Marie. Ela se apresentou.

Mas, por que pediu que me levasse at ele? No mora aqui? ela indagou, vendo que Marie saa. A moa no respondeu, apenas sacudiu a cabea e pediu a Eve que a seguisse. Ela s queria que seus ps parassem de doer. Desceram de novo a mesma escada. Se no estivesse obcecada com a idia de economizar, poderia ter alugado um carro. Seria muito mais fcil na hora de voltar ao hotel.

No ltimo degrau, Marie parou, olhando para Eve, que estava plida. Parecia duvidar que aquela inglesa conseguisse caminhar mais um pouco. As duas deram a volta casa e Eve viu que havia um bosque ali perto. Havia tambm uma lagoa e rvores florescendo. O resto da rea era coberto de grama.

Quando se aproximaram do bosque ela notou uma casinha branca entre as rvores. A Sra. Wood no exagerou. Raul DuBare devia ser um homem rico.

O interior do bosque era fresco e contrastava com o resto da regio. Marie abriu uma porta e as duas entraram numa sala decorada em estilo francs do sculo XVIII enfeitada com porcelanas chinesas e tapetes orientais.

S queria afundar num daqueles sofs e todo aquele luxo a atraia irresistivelmente. S com muito esforo no sentou e conseguiu permanecer de p.

Vou chamar o Sr. Raul Marie disse, e saiu. Minutos depois, ele estava ao seu lado.

Ento, voc chegou ele disse suavemente, olhando-a de perto, como se nunca tivesse duvidado que ela viria.

E bvio que cheguei senhor disse sarcstica. Mas, acho que fui uma tola em vir.

Isso, Srta. Reston, s o futuro dir. Eu tambm posso me arrepender de ter mandado cham-la. Mas, depois que for embora, ficarei descansado porque terei me livrado de voc para sempre. No pretendo, no futuro, que minha conscincia me acuse de ter cometido um erro.

bom saber, senhor, que tem uma conscincia. No importa como ela funcione, mas deve ter sido o motivo de me chamar at aqui! S de pensar naquela longa caminhada sob o sol quente sentia vontade de dar um soco nele. Seu tom de voz denunciava que estava tensa.

Ele deu de ombros, parecendo no se importar com o que ela tinha sofrido.

Lamento Eve, ter lhe causado algum inconveniente, mal acabei de chegar de Paris. Na verdade, eu ia telefonar ao seu hotel para lhe dizer isso, ia mandar um carro busc-la, quando Marie me disse que j tinha chegado. Sei naturalmente que tem seu carro e que a distncia muito grande, mas como no devia ter mais nada a fazerEve procurou ignorar aquela frase e a vontade que tinha de dar uma explicao a ele. Ele j a chamara de Eve, apesar de logo em seguida voltar ao distante "senhorita". Mas um passo fora dado. Ele parecia j estar acreditando em sua histria. Apesar de estar mais tranqila, queria logo descobrir o que ele tinha para lhe falar.

Tudo naquele homem parecia inexplicvel. Era o terceiro encontro dos dois, e ele sempre tinha o poder de mago-la.

Eve sentiu que suas emoes chegavam a um ponto insuportvel. S queria mais que tudo no mundo, sair correndo e desaparecer dali. Mas, precisavam conversar sobre Michel, imediatamente. No podia adiar mais este assunto.

Por favor, o que quer falar comigo? disse agitada.

CAPTULO IV

A pergunta de Eve pareceu levantar uma muralha entre ambos. S depois de alguns minutos em silncio, foi que Raul respondeu.

Deve saber senhorita, que quero falar sobre Michel. No poderia ser sobre outro assunto.

Eve enrubesceu. Havia um tom insolente nele que era difcil ignorar. Certamente Raul no imaginava que pudesse haver outro assunto entre ambos. Ser que ela esperava um pedido de desculpas pelo comportamento dele beira da lagoa?

Homens como Raul DuBare nunca pediam desculpas por terem beijado uma mulher, mesmo quando o faziam contra a vontade dela.

Sei que no temos outro assunto a tratar, mas das outras vezes em que estive aqui, o senhor se recusou a falar de Michel comigo.

Deixe-me explicar o que aconteceu. Eu agora tenho motivos para acreditar que fala a verdade, e mesmo quem diz ser, mas penso que me deve uma explicao Por que chegou naquele primeiro dia, toda cheia de mistrio e s escondidas?

Desesperada, Eve resolveu no envolver Celeste.

Teria feito alguma diferena? Voc sempre se recusou a me receber.

Provavelmente, voc no sabe que certa vez houve uma tentativa de rapto e foi feita quase exatamente do mesmo modo. Uma mulher que no era francesa, forou sua entrada aqui, quando Michel tinha poucas semanas. S por causa da vigilncia, ela no conseguiu levar o menino.

Mas, claro Eve murmurou.

Talvez consiga imaginar como me senti quando voc apareceu.

Mas eu lhe disse quem era Eve protestou. Era s perguntar Celeste.

Sim, na verdade, perguntei minha irm, mas ela agiu de modo to misterioso quanto o seu.

Sem saber o que fazer, Eve sentou-se. Ele no a tinha convidado para sentar, e ela estava resolvida, apesar da dor e do cansao a continuar de p. Mas, de repente, sentiu que seus joelhos ficavam fracos.

Por favor disse baixinho, arregalando os olhos amedrontada. Preciso voltar ao hotel. Estou me sentindo mal. Minha cabeaDurante um momento, ele pareceu no se perturbar, ficando onde estava e olhando-a cinicamente.

Acho que isso parte do jogo. Raul disse num tom frio. Agora, que j disse quem , vai falar que est doente e espera que eu a convide para ficar aqui at melhorar.

Oh, seu canalha Tudo danou violentamente diante dos olhos dela. Eve no conseguia ver direito o rosto dele, mas sabia que estava ali.

Como aquele homem podia imaginar que pretendia ficar na casa dele, se tudo o que queria era fugir dali ir embora e nunca mais voltar.

No tinha foras para continuar seu ataque involuntrio, no conseguia dizer nada, apenas sentir uma onda de enjo.

Por favor, pea a algum para me levar de volta ao hotel deve ter sido o sol O sol? ele repetiu. Como assim?

Mas, Eve j no conseguia responder nada. Esticou-se no sof com a cabea pendurada de um lado e o rosto muito plido.

Meu Deus! Ele se aproximou dela e segurou seu pulso. Meu Deus, o que h com voc?

Eu andei muito Eve forou-se a dizer, sentindo que a sala rodava cada vez mais depressa. Por favor, quero ir para casa.

Naquele momento, no lembrava do hotel, nem estava se referindo ao lugar onde morava, em Londres, mas sim pequena cidade do interior, onde nascera. Sentia uma imensa saudade de l.

Mas Raul pensou que ela se referia ao hotel.

Claro que o hotel da Sra. Wood bom, mas o clima daqui no fez bem para voc. Acho que est muito fraca. Quando foi que comeu pela ltima vez?

Esta manh ela murmurou, sentindo que a nusea estava ficando cada vez mais forte. J estou melhorando. Por favor, faa o que estou pedindo.

E quem vai cuidar de voc?

Eve ignorou a pergunta dele. Raul gritou para Marie e voltou a olhar com ateno o rosto de Eve. Ela estava com os olhos azuis muito abertos e os lbios trmulos. A expresso de Raul era to cnica que Eve sentiu vontade de chorar. Por que ele no a deixava ir embora?

Marie trouxe o usque que ele pediu.

Segurou Eve pela nuca e forou-a a beber. O usque desceu pela sua garganta, deixando-a engasgada. Furiosa, ela tentou se afastar, mas ele a impediu de resistir.

Devia estar parecendo uma garotinha lutando com algum muito forte e experiente. Ele controlou os movimentos dela e segurou-a pelos ombros, enquanto dava ordens a Marie.

A Srta. Eve est exausta, com uma provvel estafa. Vamos coloc-la na cama e ver se melhora at amanh. Leve-a ao quarto azul, penso que as cores l so suaves e ajudaro na cura.

Como ele conseguia ser to irnico num comentrio to simples! Marie saiu com ar preocupado. Provavelmente ia arrumar a cama. De repente, Eve sentiu que no enxergava nada e o pnico quase a dominou. No. A doena no era desculpa. No podia deixar que ele a convencesse a ficar.

No! No! gritou, tentando sentar, para que entendesse! No precisava de tantas atenes. No estou doente! Estou apenas cansada!

Como Eve j esperava, ele nem tomou conhecimento do que ela disse. Moramos num lugar isolado de Camargue e o mdico daqui muito ocupado. No podemos cham-lo a no ser em caso de extrema necessidade. Por isso, aprendi a identificar algumas doenas. Meus homens sempre me consultam antes de procurar um mdico. por isso que j dei meu diagnostico. Voc s precisa descansar. Como j disse, poderemos saber melhor amanh de manh.

At l eu posso morrer, Eve pensou de um modo curiosamente contraditrio. Deu um gemido. Estava com pena de si mesma e ressentida com Raul, apesar de ele estar tentando ajudar.

Pare de lutar contra mim ele ordenou, como se j no agentasse mais os protestos dela. Depois, levantou-a nos braos e levou-a para o quarto. Eve ficou tonta e se agarrou a ele, no fundo agradecida por aquele contato protetor. Era bom poder enfiar o rosto naquele ombro e esconder o rosto vermelho.

Marie foi buscar um robe e depois ajudar a senhorita a se deitar. E no discuta disse sorrindo, entrando num quarto e colocando-a suavemente sobre a cama. No est em condies de fazer nada e logo se sentir melhor. Deixe tudo por conta de Marie.

Quando ele se afastou, Eve sentiu-se estranhamente sozinha.

Volto logo ele disse com ar misterioso, da porta, como se tivesse lido o pensamento dela. Eve recostou-se no travesseiro, plida como a fronha.

Ele voltou, trazendo um copo de gua e dois comprimidos.

Beba isso e ter uma boa noite de sono. Eve estava envergonhada sem saber exatamente por qu. Tomou os comprimidos, ansiosa para dormir e se livrar daquele olhar penetrante e msculo que no abandonava o seu rosto.

Fazendo um tremendo esforo, ela conseguiu soltar a voz:

Dentro de uma hora eu j estarei melhor e vou voltar para o hotel. A Sra. Wood j deve estar preocupada comigo. Marie, talvez possa fazer a gentileza de me acordar.

No vai parte alguma esta noite Raul DuBare respondeu. A insistncia de Eve j o estava irritando. E quanto a Sra. Wood, no precisa se preocupar eu vou falar com ela pessoalmente e informarei onde voc est. Claro que est com medo de perder uma hspede, mas s eu dar um telefonema. No precisa pensar em nada, apenas descanse.

Eve olhou para ele desanimada. Ele no podia procurar a Sra. Wood. Tinha de descobrir um jeito de impedir aquilo. Mas os comprimidos comearam a fazer efeito. As plpebras dela baixaram suavemente, apesar de continuar pensando no que faria. Precisava pedir a Marie que encontrasse Celeste Celeste impediria o irmo de telefonar a Sra. Wood. Precisava e nisso Eve adormeceu.

J tinha amanhecido h muito tempo quando ela acordou. Para sua surpresa, viu Celeste sentada ao lado da cama, olhando-a pensativamente.

Oh, Deus, pensei que voc no fosse acordar nunca mais. Sabe que horas so? Passa do meio dia, querida. Dormiu quase o dia inteiro.

De repente, Eve no se lembrava de mais nada. Nem sabia do que Celeste estava falando. Ento, aos poucos, a memria foi voltando. Lembrou da humilhao de quase ter desmaiado nos braos de Raul e como ele ignorara seus esforos para ficar de p e a levara para o quarto, apesar de todos os seus protestos. Passou as mos na cabea e sentiu que ainda estava dolorida, mas a nusea havia desaparecido. Ainda se sentia estranhamente tensa, apesar de ter dormido quase um dia inteiro.

Seria verdade? Ela tentou sentar na cama, enquanto Celeste olhava de modo distante e distrado.

Raul estava certo ela observou em tom de espanto. Voc muito atraente quando no est toda engomada. Est camisola linda, querida. Nunca pensei que usasse uma coisa dessas. Seus vestidos de algodo sempre parecem como foi que ele disse antiquadosEve teve de engolir a opinio de Raul DuBare em seco. Recostou-se no travesseiro e s ento viu o tecido transparente da camisola que tinha entusiasmado Celeste. Ser que Raul DuBare a tinha visto daquele jeito. No conseguia nem pensar naquilo. Engoliu em seco e estremeceu de vergonha.

Como voc deve saber Celeste, esta camisola sua. Eu nunca pude gastar muito dinheiro com roupas. Deve saber que uma estudante quase sempre vive em dificuldades, mas nunca me importei em me vestir bem.

O que estranho na sua idade, Srta. Reston.

Eve viu o rosto de Raul DuBare aparecendo na porta. Ele entrou e todo o quarto pareceu vibrar com sua vitalidade. Vestia calas creme de brim e uma camisa de linho branco.

A sua presena era muito marcante e ela sentiu que nunca tinha se impressionado tanto com nenhum dos homens do seu pas. Estremeceu. Seu instinto lhe avisava que, depois daquele primeiro encontro, no ia ser fcil esquec-lo. Como lutar contra uma personalidade to dinmica? Ia tentar, mas sabia que teria que reunir toda a sua fora.

Penso que no tem nenhum direito de criticar minha aparncia, Sr. DuBare.

No nas circunstncias normais, ele concordou, suavemente, caminhando pelo quarto. Mas precisa admitir que as circunstncias atualmente esto longe de serem normais.

O que lhe d certos direitos Celeste falou rindo.

Ele virou-se para Eve e ficou analisando seu rosto. Os olhos dele eram escuros, mas com partculas douradas. Seu olhar era muito intenso e penetrante. Eve enrubesceu sentindo um grande ressentimento contra o modo com que aquele homem a afetava. S queria permanecer fria e indiferente a ele.

Raul viu que ela enrubescia e interpretou aquilo de modo diferente.

Eu no queria perturb-la. S espero que esteja se sentindo melhor. H coisas que gostaria de conversar num outro dia, mas temos de esclarecer alguns detalhes agora, para que possa descansar como precisa. Depois, desviou os olhos para Celeste.

Pode sumir daqui, enquanto converso com Eve. Mas primeiro, traga um xale para ela, algo que a deixe mais vontade sem sentir que precisa se cobrir com os lenis.

Eve nunca tinha se sentido to confusa. A audcia dele era terrvel! Tentou levantar os olhos e encar-lo, mas no conseguiu, Raul sorriu de um modo calculado e distante e ela percebeu que seu corao disparava.

Queria sair daquela cama e correr para longe dali. S que suas pernas no a obedeciam mais, nem conseguia raciocinar direito. Celeste abriu uma gaveta e pegou um xale, enquanto conversava alegremente com o irmo.

Depois se retirou deixando os dois a ss. Eve no sabia o que fazer. Celeste a colocou naquela confuso e agora no a ajudava em nada!

Sem palavras, Eve olhava para baixo, enquanto Raul puxava uma cadeira para perto da cama.

Est se sentindo melhor, agora, Eve?

No sei respondeu indecisa, sem saber se ele se referia ao xale ou ao seu estado de sade. Acho que vou melhorar depois que levantar.

Dentro de alguns minutos, Marie vai trazer um almoo leve e arrumar a cama. Depois, voc poder descansar at a noite. S ento poder levantar, se estiver se sentindo melhor. Talvez queira jantar conosco.

No pode me manter prisioneira aqui!

No? O sorriso dele era muito irnico, enquanto observava o quarto H muitas mulheres, querida, que dariam tudo para serem prisioneiras neste quarto. Mas, prometo que poder descer para o jantar, se me prometer que far o que eu mandei at a noite.

Por que ele tinha sempre de trat-la de modo to infantil? Era bvio que conhecia mulheres muito sofisticadas e que no ficavam inibidas como ela. Desesperada, tentou pensar em outras coisas.

No sou uma invlida, nem sei por que quer me transformar em uma, senhor.

Raul ele corrigiu gentilmente, mas seus olhos brilhavam muito enquanto observava a curva dos seios dela debaixo do xale. Principalmente porque minha hspede No sabia disso Trmula, ela umedeceu os lbios No acredita que as pessoas possam mudar suas posies?

No to radicalmente. H poucos dias me aconselhou a no pisar mais aqui.

No estou sugerindo que fique aqui indefinidamente, mas talvez por algumas semanas, para que conhea o seu sobrinho. J que cunhada do meu primo, ser muito estranho continuar a me chamar de senhor. J notou que eu a chamo de Eve h algum tempo?

Ela ignorou aquele comentrio.

Eu no posso ficar, nem se quisesse, pelo menos no posso at o fim do ms.

Ele levantou as sobrancelhas num ar de espanto e Eve enrubesceu, levando a mo depressa ao rosto, para esconder aquilo. Preferiu baixar os olhos a encar-lo.

No precisa explicar disse zangado. Sabe, eu fui ao hotel na noite passada e conversei com uma das empregadas, antes de falar com a Sra. Wood.

Sra. Wood! Eve repetiu chocada e ficou olhando-o sem dizer mais nada.

Sim, falei com a secretria, que no teve problemas em responder algumas das minhas perguntas.

Quer dizer que ficaram falando de mim!

Queria me humilhar, trabalhando como escrava, naquele hotel?

Eve empalideceu violentamente, mas ele no pareceu perceber.

Voc est sendo ridculo! ela rosnou mais zangada do que ele. No vou ficar aqui e ser insultada. No sou nenhuma escrava como acabou de me chamar!

Eve, por que fez aquilo? Aquele quarto! Foi por dinheiro?

No, no. Claro que no! Em sua pressa de convenc-lo ela conseguiu exatamente o contrrio.

Oh, eu ouvi quando disse que estudantes esto sempre em dificuldades. A secretria do hotel me contou que o seu segundo emprego. Ento, no tinha dinheiro!

Fiquei para conseguir mais experincia No seja teimosa, no consegue me enganar com facilidade. Ia partir no fim da semana, foi o que me contaram. Pediu demisso, mas a Sra. Wood a forou a ficar mais. O quarto onde ela a colocou! Um quadrado com uma janelinha. E aquelas crianas exigentes! No de admirar que teve uma estafa. Pelo menos tudo isso serviu para confirmar o meu diagnstico.

E agora perdi o emprego! Acho que no tinha o direito de se meter em minha vida.

Foi pelo seu bem. E eu tive certeza de que voc estava realmente resolvida a ver seu sobrinho. Uma pessoa disposta a agentar todas as adversidades, para conseguir um fim, no pode ficar sem recompensa.

O que voc estava pensando? Que eu estava me divertindo e que no tinha nenhuma inteno de ver Michel?

Durante um longo tempo Raul a olhou em silncio, depois se levantou, como se no quisesse prolongar aquela cena que s prejudicava a recuperao dela.

No precisa se preocupar com nada. J falei com a Sra. Wood e acertei tudo. Voc no voltar ao hotel. Ela no precisa mais de voc e pagar pelo que trabalhou. Marie j arrumou suas coisas no armrio. A secretria do hotel me entregou tudo ontem. Agora, esquea tudo e descanse. Talvez amanh se sinta melhor e queira dar um passeio.

S na manh seguinte, quando acordou, Eve se sentiu melhor, muito melhor. J no tinha mais dor de cabea e a inrcia havia passado completamente.

Ficou deitada durante alguns minutos, sem querer lembrar de nada. Ento, suspirando, procurou sair da cama e foi at a janela.

Dali dava para ver o jardim, os gramados e as flores. Mais alm havia rvores, atravs das quais parecia avistar uma piscina. Tudo ali demonstrava luxo e riqueza. Como Carol devia ter adorado aquele lugar! Eve lembrou do erro que cometera no primeiro dia, ao pensar que Carol vivia pobremente e mais uma vez enrubesceu de vergonha.

Infeliz e confusa, Eve voltou para o quarto e lembrou do que Raul dissera sobre suas coisas. Abriu um armrio e viu seu robe, que no combinava com a elegante camisola de Celeste. Olhou as roupas que Marie tinha arrumado, mas no conseguiu escolher nenhuma. Preferiu um jeans muito velho, que sempre usava para andar em casa. Se Raul DuBare criticara suas roupas, agora ento teria mais um motivo.

Vestiu-se depressa, depois de tomar um banho. O banheiro foi uma nova surpresa para ela. Era ao lado do quarto e cheio de perfumes e sabonetes deliciosos. Quem teria escolhido tudo aquilo? Talvez, algum muito sofisticado e elegante.

Por que pensava assim? Queria afastar Raul DuBare dos seus pensamentos. Se ao menos ele no a tivesse beijado. Por que a tratara como uma mulher inexperiente? Apenas para mago-la?

Precisava se controlar. Afinal, estava com vinte e dois anos e era hora de aprender a lidar com homens como Raul e no agir como uma herona ingnua de novela. No faria uma tragdia s por causa de um beijo e nem iria pensar mais nele. Mas tinha que admitir: ele sabia como despertar o desejo numa mulher. No tinha conseguido sua fama de conquistador toa.

Bom-dia, senhorita Marie disse, entrando. Est bem Melhor. Dormiu tanto, pensei que no acordasse mais, mas o Sr. Raul garantiu que acordaria tima hoje.

Sinto-me uma verdadeira preguiosa Eve disse sorrindo e Marie comeou a arrumar o quarto avisando que logo o almoo seria servido.

Eve suspirou, avisando que desceria para a refeio. Mas primeiro queria falar com Celeste.

De repente, sabia que precisava fazer aquilo, antes de encontrar Raul novamente. Tinha de esclarecer as coisas. Afinal, fora Celeste que a chamara at ali e precisava contar a Raul, caso contrrio ele poderia no acreditar. Por favor, pea a Celeste que venha logo falar comigo Marie.

Depois de algum tempo a moa chegou.

Quanta confuso voc est causando, ela murmurou depois que Eve falou o que queria. No interessa quem pediu que voc que viesse Celeste disse rindo. Afinal, o nosso principal objetivo era que Raul a recebesse e isso j conseguimos. Por que pretende me meter na histria agora? Ele vai ficar furioso comigo!

Mas, voc no entendeu? Eve estava quase chorando. Ele acha que eu fingi a doena para poder ficar aqui, que o forcei a me hospedar. Vai me desprezar por causa disso.

Eve, no deve se preocupar com o que ele pensa de voc. No acha que ele merece ser um pouco enganado, depois do modo como a tratou? Voc me deve uma certa lealdade fique em silncio no conte nada sobre o meu convite. Afinal, eu j ma sacrifiquei muito pelo filho da sua prima.

Aquilo era verdade, Eve concordou, apesar de poder dizer que a criana poderia ter ficado com os pais de Carol, no fosse implicncia de Raul.

Celeste foi at a janela e parou tamborilando no peitoril. Depois se virou e encarou Eve.

Sabe ela continuou num tom petulante. Raul me irrita. Acha que devo obedecer todas as suas ordens. Quando Domingos estava vivo, no era to ruim. Ele tambm tinha de fazer o que Raul mandava. Tinha de ficar aqui e cuidar do rebanho, enquanto Raul se divertia em Paris, com suas amiguinhas. Eu sempre tive medo dele, Eve, no pode esquecer que terei de viver com ele depois que voc for embora.

Mas eu pensei que voc fosse logo para Paris.

A prima Nadine foi para Nova York e vai ficar algumas semanas l.

Ento, no preciso mais ficar aqui?

Claro que sim Celeste exclamou ansiosa. Ela vai voltar logo e tudo sair como planejei Sabe a Sra. Wood, l no hotel, contou a Raul que voc professora e cuida muito bem de crianas. Isso despertou o interesse dele.

Entendo. Eve estremeceu. Ento, era por causa daquilo que ele a convidara a ficar. No por ela mesma, mas pela possibilidade de arranjar uma empregada.

Para ele devia ser timo t-la ali. Era uma professora inglesa, muito bem treinada, difcil de encontrar em Camargue. S que, como Celeste, Eve tambm no tinha muita vontade de viver naquela fazenda isolada do mundo.

Eve, voc me mandou chamar com urgncia e agora fica sonhando acordada. Raul no gosta de esperar pelo almoo. Vamos logo. J est pronta? Ela olhou as calas desbotadas da outra. No sei se ele vai gostar do que est usando, querida.

Acho que ele nem vai notar Eve respondeu friamente, levantando sem querer discutir mais nada com nenhum DuBare. Celeste, vou ficar mais alguns dias, mas no lhe prometo mais nada.

Raul no apareceu para o almoo. Marie explicou que ele tinha sido chamado do outro lado da fazenda e ia almoar com os vaqueiros.

Esto ocupados com o gado Celeste explicou depois, sem parecer interessada em outra coisa, a no ser em sua lagosta. Esto marcando os bezerros. Domingos costumava deixar Jules, um velho empregado, fazer isso, mas Raul acha que ningum trabalha direito se ele no estiver por perto.

Ser que Carol tinha aprendido a trabalhar na fazenda, a cavalgar e a acompanhar a manada de touros pretos e cavalos selvagens? Celeste parecia distante demais para que ela lhe fizesse qualquer Pergunta.

Depois do almoo, a moa saiu para visitar uns amigos. Eve resistiu a tentao e no foi procurar Michel. Saiu para o jardim, mas ficou um pouco cansada. Talvez fosse melhor voltar para casa, mas o dia estava to lindo que no resistiu a vontade de conhecer melhor aquele lugar onde estava hospedada. Um lugar que lhe provocava ao mesmo tempo atrao e medo.

CAPTULO VEve ficou andando pelo jardim da propriedade dos DuBare. Era lindo, bem-tratado. A piscina ficava atrs de algumas rvores e era toda azul, rodeada de mesinhas brancas e espreguiadeiras. Eve recostou em uma delas e no queria dormir, mas o calor do sol era to intenso que seus olhos foram fechando.

Foi ali que Raul DuBare a encontrou.

Espantada com a aproximao dele, ela levantou apressada. No tinha ouvido seus passos. Ser que ele sempre se aproximava em silncio das pessoas? Enquanto Eve, nervosa, no sabia o que fazer com as mos, Raul sentou na espreguiadeira ao lado, demonstrando estar completamente vontade. Eve, ento, sentou de novo.

Eu achei que ia encontr-la aqui.

Ela se sentiu culpada por ter invadido domnios da casa para os quais no foi convidada.

Desculpe, penso que no Ele sacudiu a cabea, impaciente.

Marie pensou que voc estivesse no jardim. Mas, eu achei que ia gostar mais daqui. Entretanto, talvez fosse melhor ir repousar no quarto. Ainda est muito fraca, senhorita.

Estou muito bem protestou, procurando falar com descontrao.

Deve descansar mais alguns dias insistiu. Se no quiser ficar na cama, poder repousar aqui. Um mergulho rpido na piscina s vai lhe fazer bem. Vai trazer de volta o tom rosado do seu rosto.

Obrigada murmurou, procurando desviar os olhos do rosto dele e sentindo um n na garganta. Celeste saiu, mas no me senti sozinha. Gostei muito de passear pelo jardim.

muito agradvel.

Esta piscina Foi construda por meu pai, h muito tempo, quando ainda era criana. Domingos e Carol vinham sempre aqui.

Carol gostava muito de nadar ela disse. Celeste tambm.

Por que sempre coloca Celeste na nossa conversa? Por v-la como uma espcie de proteo?

Eve ficou reta na cadeira sentindo a ironia dele. Depois levantou e deu uns passos, agitada.

Penso que gosta de brincar comigo. Parece que est sempre tentando me fazer passar por boba. Agora ela hesitou enrubescendo, sem conseguir explicar o que queria dizer. Estava cada vez mais embaraada, sem encontrar as palavras certas para continuar a conversa. Achou melhor se afastar dali.

Eve! Volte j aqui ele ordenou e com o tom de voz mais autoritrio que Eve j ouvira na vida.

Incapaz de se dominar, ela viu que voltava, fazendo o que ele queria. Raul sorria satisfeito, com o olhar mais penetrante do que nunca.

Voc deixa sempre suas frases sem terminar, Eve? Ou esta apenas tentando no me magoar? Ser que lhe falta coragem para falar o que pensa?

No nada disso. Tenho certeza que muito duro e no se magoaria com nenhuma das minhas palavras. No sei por que tive uma vontade repentina de sair do jardim, nem por que mudei de idia e voltei.

Ele sorriu, como se achasse ridcula aquela explicao.

Estou acostumado a ser obedecido, Eve, e sei que no esquecer disso.

S espero que isso no signifique que vai me tratar com brutalidade novamente. Ela no queria voltar a falar naquele incidente da lagoa. S queria esquecer tudo aquilo, mas se traiu. As palavras saram de repente.

Explique-se, senhorita.

O sangue pulsou em suas tmporas. Levantou o rosto e disse em tom de desafio.

Na primeira vez em que vim at aqui, deve lembrar que quase me atirou escada abaixo. Eu fiquei machucada arranhada!

Ficou? No notei. Mas no pode esquecer que eu estava furioso. Estava mesmo. Eve encarou Raul com petulncia.

Cuidado. Eve, voc muito sensvel e se magoa facilmente. Portanto, no devia ficar despertando idias diablicas nos homens. Eu ainda considero meu comportamento desculpvel at certo ponto. No sou um bruto. Tenho certeza que s deixei ferimentos leves.

Ainda esto doendo disse indignada, puxando uma manga e mostrando uma marca escura na pele clara do brao.

Ele olhou seu brao. Era como se ele se orgulhasse daquele ferimento e se achasse no direito de fazer outros iguais.

Acho que lhe devo um pedido de desculpas, Eve.

A respirao dela se acelerou mais. Eve achou que ele no estava sendo sincero.

Acredito que sim mas gostaria mais de ter algumas respostas honestas.

Que respostas?

A respeito do modo como tratou a minha famlia.

E eu sugiro Eve, que deixemos esta discusso para o futuro. Ela ia protestar, mas ele lhe segurou a mo com firmeza, obrigando-a a ouvir o resto. Acho que no h nada de til em discutir o passado, a no ser depois que nos conhecermos melhor. O nosso relacionamento futuro, senhorita, ainda muito incerto. Por isso precisa ter pacincia. Se vai ficar mais uma ou duas semanas, prefiro deixar as coisas como esto. Se fui apressado h alguns dias, espero no cometer o mesmo erro agora.

Ento, ele admitia que tinha agido errado! Mas como todos os tiranos, no estava preparado para voltar atrs. Eve soltou a mo dele e o olhou amargurada, sentindo um desejo de mago-lo como jamais sentira em toda a sua vida. Em vez disso, ficou s olhando a piscina, frustrada, sem saber o que fazer. Como algum podia ser to autoritrio? Ele parecia estar sempre segurando o chicote. Se ela criasse muitos problemas e protestasse muito, Raul DuBare certamente a impediria de conhecer o filho de Carol.

Como quiser respondeu em tom distante e frio, deixando bem claro que estava sendo forada a ignorar um passado que no poderia esquecer facilmente. Bem, como meu tempo curto gostaria de conhecer Michel o mais depressa possvel. Esperava aborrec-lo com aquele pedido, mas no conseguiu. Ele apenas a encarou e sorriu divertido.

Voc fica muito melhor quando esquece que uma professorinha dcil, querida. Doura demais enjoativa. H ocasies em que sua agressividade me divert