Alexandre Herculano Obispo Negro

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  • 8/18/2019 Alexandre Herculano Obispo Negro

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    O BISPO NEGRO (1130)

    Alexandre Herculano

    1

    Houve tempo em que a velha catedral conimbricense, hojeabandonada de seus bispos, era formosa; houve tempo em que essaspedras, ora tisnadas pelos anos, eram ainda pálidas, como as margensareentas do Mondego. nt!o, o luar, batendo nos lan"os dos seusmuros, dava um reflexo de lu# suav$ssima, mais rica de saudade que ospr%prios raios daquele planeta guardador dos segredos de tantas almas,que cr&em existir nele, e s% nele, uma intelig&ncia que as perceba.

    nt!o aquelas ameias e torres n!o haviam sido tocadas das m!os

    de homens, desde que os seus edificadores as tinham colocado sobre asalturas; e, todavia, já ent!o ningu'm sabia se esses edificadores eramda nobre ra"a goda, se da dos nobres conquistadores árabes.

    Mas, quer filha dos valentes do (orte, quer dos pugnac$ssimossarracenos, ela era formosa, na sua singela grande#a, entre as outrass's das spanhas. A$ sucedeu o que ora ouvireis contar.

    )

    Aproximava*se o meado do duod'cimo s'culo. + pr$ncipe deortugal Afonso Henriques, depois de uma revolu"!o feli#, tinhaarrancado o poder das m!os de sua m!e. -e a hist%ria se contenta como triste espectáculo de um filho condenado ao ex$lio aquela que o gerou,a tradi"!o carrega as tintas do quadro, pintando*nos a desditosa vivado conde Henrique a arrastar grilh/es no fundo de um calabou"o. Ahist%ria conta*nos o facto; a tradi"!o veros$mil; e o veros$mil ' o queimporta ao que busca as lendas da pátria.

    m uma das torres do velho alcácer de 0oimbra, assentado entreduas ameias, a horas em que o sol fugia do hori#onte, o pr$ncipeconversava com ouren"o 2iegas, o spadeiro, e com ele dispunhameios e apurava tra"as para guerrear a mourisma.

    lan"ou casualmente os olhos para o caminho que guiava aoalcácer e viu o bispo 3. 4ernardo, que, montado em sua n'dia mula,cavalgava apressado pela encosta acima.

    * 2edes v%s 5 disse ele ao spadeiro 5 o nosso leal 3om 4ernardo,que para cá se encaminha6 (eg%cio grave, por certo, o fa# sair a taisdesoras da crasta da sua s'. 3es"amos 7 sala de armas e vejamos oque ele quer. 5 desceram.

    8randes lampadários ardiam já na sala de armas do alcácer de0oimbra, pendurados de cadeiras de ferro chumbadas nos fechos dos

    arcos de volta de ferradura que sustentavam os tectos de grossacantaria. elos feixes de colunas delgadas, entre si separadas, mas

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    ligadas sob os fustes por base comum, pendiam corpos de armas, quereverberavam a lu# das l9mpadas e pareciam cavaleiros armados, queem sil&ncio guardavam aquele amplo aposento. Alguns homens demesnada fa#iam retumbar as ab%badas, passeando de um para outrolado.

    :ma portinha, que ficava em um 9ngulo da quadra, abriu*se, edela sa$ram o pr$ncipe e ouren"o 2iegas, que desciam da torre. uaseao mesmo tempo assomou no grande portal de entre o vulto venerável esolene do bispo 3. 4ernardo.

    * 8uardai*vos 3eus, dom bispo< ue mui urgente neg%cio vos tra#aqui esta noute6 * disse o pr$ncipe a 3. 4ernardo.

    * Más novas,. senhor. =ra#em*me aqui a mim letras do papa, queora recebi.

    * que quer de v%s o papa6

    * ue de sua parte vos ordene solteis vossa m!e...

    * (em pelo papa, nem por ningu'm o farei.

    * manda*me que vos declare excomungado, se n!o quiserdescumprir seu mandado.

    * v%s que intentais fa#er6

    * +bedecer ao sucessor de -!o edro.

    * u&6 3om 4ernardo amaldi"oaria aquele a quem deve o bagopontifical; aquele que o alevantou do nada6 2%s, bispo de 0oimbra,excomungar$eis o vosso pr$ncipe, porque ele n!o quer p>r a risco aliberdade desta terra remida das opress/es do senhor de =rava e do

     jugo do rei de e!o; desta terra que ' s% minha e dos cavaleirosportugueses6

    * =udo vos devo, senhor * atalhou o bispo * salvo a minha alma,que pertence a 3eus, a minha f', que devo a 0risto, e a minhaobedi&ncia, que guardarei ao papa.

    * 3om 4ernardo< 3om 4ernardo< * disse o pr$ncipe, sufocado dec%lera *, lembrai*vos de que afronta que se me fi#esse nunca ficou sempaga<

    * uereis, senhor infante, soltar vossa m!e6

    * (!o< Mil ve#es n!o<

    * 8uardai*vos<

    o bispo saiu, sem di#er mais palavras. Afonso Henriques ficoupensativo por algum tempo; depois, falou em vo# baixa com ouren"o2iegas, o spadeiro, e encaminhou*se para a sua c9mara. 3a$ a pouco oalcácer de 0oimbra ja#ia, como o resto da cidade, no mais profundo

    sil&ncio.

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    ?

    ela alvorada, muito antes de romper o sol no dia seguinte,ouren"o 2iegas passeava com o pr$ncipe na sala de armas do pa"o

    mourisco.

    * -e eu pr%prio o vi, montado na sua n'dia mula, ir lá muito aolonge, caminho da terra de -anta Maria. (a porta da -' estava pregadoum pergaminho com larga escritura, que, segundo me afirmou umcl'rigo velho que a$ chegara quando eu olhava para aquela carta, era oque eles chamam o interdito... * @sto di#ia o spadeiro, olhando paratodos os lados, como quem receava que algu'm o ouvisse.

    * ue receias, ouren"o 2iegas6 3ei a 0oimbra um bispo que meexcomunga, porque assim o quis o papa dar*lhe*ei outro que meabsolva, porque assim o quero eu. 2em comigo 7 -'. 4ispo 3om

    4ernardo, quando te arrependeres da tua ousadia já será tarde.

    3ali a pouco as portas da -' estavam abertas, porque o sol eranado, e o pr$ncipe, acompanhado de ouren"o 2iegas e de dois pajens,atravessava a igreja e dirigia*se 7 crasta, onde, ao som de campatangida, tinha mandado ajuntar o cabido, com pena de morte para o quea$ faltasse.

    B

    -olene era o espectáculo que apresentava a crasta da -' de0oimbra. + sol dava, com todo o brilho de manh! pur$ssimo, por entreos pilares que sustinham as ab%badas dos cobertos que cercavam opátio interior. Ao longo desses cobertos caminhavam os c%negos compassos lentos, e as largas roupas ondeavam*lhes ao bago suave dovento matutino. (o topo da crasta estava o pr$ncipe em p', encostadoao punho da espada, e, um pouco atrás dele, ouren"o 2iegas e os doispajens. +s c%negos iam chegando e formavam um semic$rculo a poucodist9ncia de el*rei, em cuja cervilheira de malha de ferro ferviambuli"osos os raios do sol.

    =oda a clere#ia da -' estava ali apinhada, e o pr$ncipe, sem darpalavra e com os olhos fitos no ch!o, parecia envolto em fundo pensar.+ sil&ncio era completo.

    or fim Afonso Henriques ergue o rosto carrancudo e amea"ador edisse

    * 0%negos da -' de 0oimbra, sabeis a que vem aqui o infante deortugal6

    (ingu'm respondeu palavra.

    * -e n!o sabeis, dir*vo*lo*ei eu * prosseguiu o pr$ncipe * vemassistir 7 elei"!o do bispo de 0oimbra.

    * -enhor, bispo havemos. (!o cabe a$ nova elei"!o * disse o mais

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    e velho e autori#ado dos c%negos que estavam presentes e que era oadai!o.

    * Cmen * responderam os outros.

    sse que v%s di#eis * bradou o infante cheio de c%lera *, esse

     jamais o será. =irar*me quis ele o nome de filho de 3eus; eu lhe tirarei onome do seu vigário. Duro que nunca em meus dias porá 3om 4ernardop's em 0oimbra nunca mais da cadeira episcopal ensinará um rebeldea f' das santas escrituras< legei outro eu aprovarei vossa escolha.

    * -enhor, bispo havemos. (!o cabe a$ nova elei"!o * repetiu oadai!o.

    * Cmen * responderam os mais.

    + furor de Afonso Henriques subiu de ponto com esta resist&ncia.

    * ois bem< * disse ele, com a vo# presa na garganta, depois deolhar terr$vel que lan"ou pela assembl'ia, e de alguns momentos desil&ncio. * ois bem< -a$ daqui, gente orgulhosa e má< -a$, vos digo eu<Algu'm por v%s elegerá um bispo...

    +s c%negos, fa#endo profundas rever&ncias, encaminharam*separa as suas celas, ao longo das arcarias da crasta.

    ntre os que ali se achavam, um negro, vestido de hábitosclericais, tinha estado encostado a um dos pilares, observando aquelacena; os seus cabelos revoltos contrastavam pela alvura com a pretid!oda te#. uando o pr$ncipe falava, ele sorria*se e meneava a cabe"a,

    como quem aprovava o dito. +s c%negos come"avam a retirar*se, e onegro ia ap%s eles. Afonso Henriques fe#*lhe um sinal com a m!o. +negro voltou para trás.

    * 0omo hás nome6 * perguntou*lhe o pr$ncipe.

    * -enhor, hei nome Eoleima.

    * Fs bom cl'rigo6

    * (a companhia n!o há dois que sejam melhores.

    * 4ispo serás, 3om Eoleima. 2ai tomar teus guisamentos, quehoje me cantarás missa.

    + cl'rigo recuou naquela face tisnada viu*se uma contrac"!o desusto.

    * Missa n!o vos cantarei eu, senhor * respondeu o negro com vo#tr'mula *, que para tal auto n!o tenho as ordens requeridas.

    * 3om Eoleima, repara bem no que te digo< -ou eu que te mandovás vestir as vestiduras de missa. scolhe ou hoje tu subirás osdegraus do altar*mor da -' de 0oimbra, ou a cabe"a te descerá de cimados ombros e rolará pelas lájeas deste pavimento.

    + cl'rigo curvou a fronte.

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    * Girie*eleson... Girie*eleson... Girie*elesom< * garganteava da$ a pouco 3om Eoleima, revestido dos hábitos episcopais, junto ao altarda capela*mor. + infante Afonso Henriques, o spadeiro e os doispajens, de joelhos, ouviam missa com profunda devo"!o.

    I

    ra noite. m uma das salas mouriscas dos nobres pa"os de0oimbra havia grande sarau. 3onas e don#elas, assentadas ao redor doaposento, ouviam os trovadores repetindo ao som da viola e em tommon%tono suas magoadas endechas, ou folgavam e riam com osarremedilhos sat$ricos dos tru/es e farsistas. +s cavaleiros, em p', oufalavam de aventuras amorosas, de justas e de bofordos, ou de fossadose lides por terras de mouros fronteiros. ara um dos lados, por'm, entreum labirinto de colunas, que dava sa$da para uma galeria exterior,quatro personagens pareciam entretidas em neg%cio mais grave do que

    os pra#eres de noite de folguedo o permitiam. ram estas personagensAfonso Henriques, 8on"alo Mendes da Maia, ouren"o 2iegas e 8on"alode -ousa, o 4om. +s gestos dos quatro cavaleiros davam mostras deque eles estavam vivamente agitados.

    * F o que afirma, senhor, o mensageiro * di#ia 8on"alo de -ousa *que me enviou o abade do mosteiro de =ib!es, onde o cardeal dormiuuma noite para n!o entrar em 4raga. 3i#em que o papa o envia a v%s,porque vos sup/e herege. m todas as partes por onde o legado passou,em Jran"a e em spanha, vinham a lhe beijar a m!o reis, pr$ncipes esenhores a elei"!o de 3om Eoleima n!o pode, por certo, ir avante...

    * @rá, irá * respondeu o pr$ncipe em vo# t!o alta que as palavrasreboaram pelas ab%badas do vasto aposento. * ue o legado tenhatento em si< (!o sei eu se haveria a$ cardeal ou apost%lico que meestendesse a m!o para eu lha beijar, que pelo cotovelo lha n!o cortassefora a minha boa espada. ue me importam a mim vile#as dos outrosreis e senhores6 2ile#as, n!o as farei eu<

    @sto foi o que se ouviu daquela conversa"!o os tr&s cavaleirosfalaram com o pr$ncipe ainda por muito tempo; mas em vo# t!o baixa,que ningu'm percebeu mais nada.

    K

    3ois dias depois, o legado do papa chegava a 0oimbra mas obom do cardeal tremia em cima da sua n'dia mula, como se maleitas ohouvessem tomado. As palavras do infante tinham sido ouvidas pormuitos, e algu'm as havia repetido ao legado.

    =odavia, apenas passou a porta da cidade, revestindo*se de9nimo, encaminhou*se direto ao alcáter real.

    + pr$ncipe saiu a receb&*lo acompanhado de senhores ecavaleiros. 0om modos corteses, guiou*o 7 sala do seu conselho, e a$ se

    passou o que ora ouvireis contar.

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    + infante estava assentado em uma cadeira de espaldas diantedele o legado, em um assento raso, posto em cima de um estrado maiselevado os senhores e cavaleiros cercavam o filho do conde Henrique.

    * 3om cardeal * come"ou o pr$ncipe *, que viestes v%s fa#er aminha terra6 osto que de Loma s% mal me tenha vindo, creio me

    tra#eis agora algum ouro, que de seus grandes haveres me manda osenhor papa para estas hostes que fa"o e com que guerreio, noite e dia,os infi'is da fronteira. -e isto tra#eis, aceitar*vos*ei depois,desembara"adamente podeis seguir vossa viagem.

    (o 9nimo do legado a c%lera sobrepujou o temor, quando ouviu aspalavras do pr$ncipe, que eram de amargo escárnio.

    * (!o a tra#er*vos rique#as * atalhou ele *, mas a ensinar*vos a f'vim eu; que dela parece vos esquecestes, tratando violentamente obispo 3om 4ernardo e pondo em seu lugar um bispo sagrado comvossas manoplas, vitoriado s% por v%s com palavras blasfemas e

    malditas...

    * 0alai*vos, dom cardeal * gritou Afonso Henriques * que mentispela gorja< nsinar*me a f'6 =!o bem em ortugal como em Lomasabemos que 0risto nasceu da 2irgem; t!o certo, como v%s outrosrom!os, cremos na -anta =rindade. -e a outra cousa vindes, amanh!vos ouvirei hoje ir*vos podeis a vossa pousada.

    ergueu*se os olhos chamejavam*lhe de furror. =oda a ousadiado legado desapareceu como fumo; e, sem atinar com resposta, saiu doalcácer.

    + galo tinha cantado tr&s ve#es pelo arrebol da manh!, o cardealpartia aforradamente de 0oimbra, cujos habitantes dormiam aindarepousadamente.

    + pr$ncipe foi um dos que despertaram mais cedo. +s sinosharmoniosos da -' costumavam acordá*lo tocando as ave*marias masnaquele dia ficaram mudos; e, quando ele se ergueu, havia mais de umahora que o -ol subia para o alto dos c'us da banda do +riente.

    * Miseric%rdia

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    * Miseric%rdia

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    feriram fogo; mas a pancada deu em v!o, aliás i cr9nio do pobre cl'ricoteria ido fa#er mais de quadro redemoinhos nos ares.

    * -enhor, que vos perdeis e nos perdeis, ferindo o ungido de 3eus* gritaram os dois fidalgos, com vo#es aflitas.

    * r$ncipe * disse o velho, chorando *, n!o me fa"as mal; queestou 7 tua merc&< * +s dois mancebos tamb'm choravam.

    Afonso Henriques deixou descair o montante, e ficou em sil&ncioalguns momentos.

    * stás 7 minha merc&6 * disse ele por fim. * ois bem< 2iverás, sedesfi#eres o mal que causaste. ue seja alevantada a excomunh!olan"ada sobre 0oimbra, e jura*me, em nome do apost%lico, que nuncamais em meus dias será posto interdito nesta terra portuguesa,conquistada aos Mouros por pre"o de tanto sangue. m ref'ns destepacto ficar!o teus sobrinhos. -e, no fim de quatro meses, de Loma n!o

    vierem letras de b&n"!o, tem tu por certo que as cabe"as lhes voar!o decima dos ombros. Apra#*te este contrato6

    * -im, sim< * respondeu o legado com vo# sumida.

    * Duras6

    * Duro.

    * Mancebos, acompanhai*me.

    3i#endo isto, o infante fe# um aceno aos sobrinhos do legado, que,

    com muitas lágrimas, se despediu deles, e sO#inho seguiu o caminho daterra de -anta Maria.

    3a$ a quatro meses, 3. Eoleima di#ia missa pontifical na capela*mor da -' de 0oimbra, e os sinos da cidade repicavam alegremente.=inham chegado letras de b&n"!o de Loma; e os sobrinhos do cardeal,montados em boas mulas, iam cantando devotamente pelo caminho da2imieira o salmo que come"a

    @n exitu @srael de Agpto.

    0onta*se, todavia, que o papa levara a mal, no princ$pio, o pactofeito pelo legado; mas que, por fim, tivera d% do pobre velho, quemuitas ve#es lhe di#ia

    * -e tu, santo padre, viras sobre ti um cavaleiro t!o bravo ter*tepelo cabe"!o, e a espada nua para te cortar a cabe"a, e seu cavalo, t!ofero#, arranhar a terra, que já te fa#ia a cova para ter enterrar, n!osOmente deras as letras, mas tamb'm o papado e a cadeira apostolical.

    (+=A

    A lenda precedente ' tirada das cr%nicas de Acenheiro, rol dementiras e disparates publicado pela nossa Academia, que teriaprocedido mais judiciosamente em deixá*las no p% das bibliotecas, onde

    haviam ja#ido em pa# por quase tr&s s'culos. A mesma lenda tinha sidoinserida pouco anteriormente na cr%nica de Afonso Henriques por 3uarte

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    8alv!o, formando a subst9ncia de quatro cap$tulos, que foramsuprimidos na edi"!o deste autor, e que mereceram da parte doacad'mico 3. Jrancisco de -. u$s uma grave refuta"!o. =oda a narrativadas circunst9ncias que se deram no facto, aliás verdadeiro, da pris!o de3. =eresa, das tentativas oposicionistas do bispo de 0oimbra, da elei"!odo bispo negro, da vinda do cardeal, e da sua fuga contrastam a hist%ria

    daquela 'poca. A tradi"!o ' falsa a todas as lu#es; mas tamb'm ' certoque ela se originou de alguma acto de viol&ncia praticado nesse reinadocontra algum cardeal legado. :m historiador coevo e, posto queestrangeiro, bem informado geralmente acerca dos sucessos do nossopa$s, o ingl&s Log'rio de Hoveden, narra um facto, acontecido emortugal, que, pela analogia que tem com o conto do bispo negro,mostra a origem da fábula. A narrativa do cronista está indicando que oacontecimento fi#era certo ru$do na uropa, e a pr%pria confus!o dedatas e de indiv$duos que aparece no texto de Hoveden mostra que osucesso era anterior e andava já alterado na tradi"!o. + que ' certo 'que o achar*se esta conservada fora de ortugal desde o s'culoduod'cimo por um escritor que Lu de ina e Acenheiro n!o leram

    Pporque foi publicado no s'culo d'cimo s'timoQ prova que ela remontaentre n%s, por maioria de ra#!o, tamb'm ao s'culo duod'cimo, emboraalterada, como já a vemos no cronista ingl&s. is a notável passagem aque aludimos, e que se l& a página KBR da edi"!o de Hoveden, por-avile

     S(o mesmo ano P11NQ o cardeal Dacinto, ent!o legado em toda aspanha, dep>s muitos prelados PabbatesQ, ou por culpas deles ou por$mpeto pr%prio, e como quisesse depor o bispo de 0oimbra, o rei AfonsoPHenriqueQ n!o consentiu que ele fosse deposto e mandou ao ditocardeal que sa$sse da sua terra, quando n!o cortar*lhe*ia um p'.