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Aleitamento Materno no Desenvolvimento e Formação Saudável da Cavidade Bucal do Bebê Breastfeeding and Baby’s Oral Cavity healthy development Marila Rezende Azevedo Helio Gomes da Silva RESUMO É fundamental o papel do cirurgião dentista na conscientização dos pacientes das vantagens e benefícios do aleitamento materno , evitando o mito do desmame precoce. O aleitamento materno além das indiscutíveis vantagens de alimentação natural e fisiológica para o bebê, tem também a função de ser o melhor aparelho ortopédico. Ao nascimento o bebê tem uma despropor- ção entre o crescimento facial e craniano além de possuir disto - oclusão fisiológica. Durante a amamentação natural , ocorre a vedação hermética do sistema de deglutição , pois o rodete gengival superior toca o mamilo e o peito, e a língua veda a porção inferior em contato direto com o mamilo, e então, produzindo movimentos peristálticos ele succiona o leite ( ordenha ) . Esse selamento o obriga a respirar pelo nariz, desenvolvendo as vias aéreas superiores, expandindo os seios maxilares. Ao extrair e deglutir o leite materno , o bebê exercita sua mandíbula com movimentos protrusivos e retrusivos, diminuindo fisiologicamente a disto-oclusão do nascimento. Com relação a doenças bucais, os bebês que tem leite materno oferecido dentro de padrão de normalidade não possuem lesão de cárie. O processo de ordenha obriga a um esforço muscular maior do que o da mamadeira, estimulando a salivação o que ocasiona um maior tamponamento salivar. INTRODUÇÃO No recém-nascido, existe uma desproporção fisiológica entre o crânio cefálico e o crânio facial que se soma a uma posição de distalização dos rodetes gengivais da mandíbula em relação a maxila, e diminuição da altura da face. Os estímulos que vêm do aleitamento materno, da mastigação, deglutição e da respiração, corrigirão essa relação de bases ósseas. A própria natureza procurará sempre conduzir a formação do ser vivo dentro de um padrão de normalidade. Fisiologicamente, a mandíbula crescerá mais rapidamente e se alinhará com a maxila, devido a amamentação que é um excelente exercício muscular pois estimula grandemente o desenvolvimento harmonioso da face (Simões, 1985; Sanchez, 2000). O aleitamento materno é o cuidado mais completo que se pode dar ao bebê, no sentido de propiciar o correto desenvolvimento de seu sistema estomatognático, através de movimentos

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Aleitamento Materno no Desenvolvimento e Formação Saudável da Cavidade Bucal do Bebê

Breastfeeding and Baby’s Oral Cavity healthy development Marila Rezende Azevedo Helio Gomes da Silva RESUMO É fundamental o papel do cirurgião dentista na conscientização dos pacientes das vantagens e benefícios do aleitamento materno , evitando o mito do desmame precoce. O aleitamento materno além das indiscutíveis vantagens de alimentação natural e fisiológica para o bebê, tem também a função de ser o melhor aparelho ortopédico. Ao nascimento o bebê tem uma despropor- ção entre o crescimento facial e craniano além de possuir disto - oclusão fisiológica. Durante a amamentação natural , ocorre a vedação hermética do sistema de deglutição , pois o rodete gengival superior toca o mamilo e o peito, e a língua veda a porção inferior em contato direto com o mamilo, e então, produzindo movimentos peristálticos ele succiona o leite ( ordenha ) . Esse selamento o obriga a respirar pelo nariz, desenvolvendo as vias aéreas superiores, expandindo os seios maxilares. Ao extrair e deglutir o leite materno , o bebê exercita sua mandíbula com movimentos protrusivos e retrusivos, diminuindo fisiologicamente a disto-oclusão do nascimento. Com relação a doenças bucais, os bebês que tem leite materno oferecido dentro de padrão de normalidade não possuem lesão de cárie. O processo de ordenha obriga a um esforço muscular maior do que o da mamadeira, estimulando a salivação o que ocasiona um maior tamponamento salivar. INTRODUÇÃO

No recém-nascido, existe uma desproporção fisiológica entre o crânio cefálico e o crânio facial que se soma a uma posição de distalização dos rodetes gengivais da mandíbula em relação a maxila, e diminuição da altura da face. Os estímulos que vêm do aleitamento materno, da mastigação, deglutição e da respiração, corrigirão essa relação de bases ósseas. A própria natureza procurará sempre conduzir a formação do ser vivo dentro de um padrão de normalidade. Fisiologicamente, a mandíbula crescerá mais rapidamente e se alinhará com a maxila, devido a amamentação que é um excelente exercício muscular pois estimula grandemente o desenvolvimento harmonioso da face (Simões, 1985; Sanchez, 2000). O aleitamento materno é o cuidado mais completo que se pode dar ao bebê, no sentido de propiciar o correto desenvolvimento de seu sistema estomatognático, através de movimentos

sincronizados de respiração e atividade muscular, além do aspecto nutritivo, de carinho, aconchego, afeto, relação mãe/filho, proteção imunológica. No ato da amamentação o bebê acopla seus lábios perfeitamente na aoréola da mama, vedando o sistema e assim não permitindo a passagem do ar (Carvalho, 1998). O rebordo incisivo do maxilar superior se apoia contra a superfície superior do mamilo e parte do peito materno enquanto a língua atua como válvula controladora conseguindo assim um fechamento hermético, fazendo com que o bebê respire pelo nariz (Camargo, 1998).

MECANISMO A captação e apreensão da aoréola do peito materno se dá pelo lábio e língua, por possuírem receptores neurais especializados. Ao mesmo tempo a mandíbula realiza movimentos protrusivos e retrusivos com os quais extrai o conteúdo lácteo do peito para a boca, movimentos que são sincronizados com a deglutição e respiração nasal fisiológica. Estes movimentos de enorme esforço muscular, exercitam as partes posteriores dos meniscos, porção superior das ATMs, e possibilita o crescimento póstero-anterior dos ramos mandibulares e a modelação do ângulo (Douglas, 1998).

RESPIRAÇÃO X ALEITAMENTO A respiração nasal é estímulo primário de crescimento de espaços funcionais, a passagem do ar estimula o aumento do volume dos ossos da face. A região do terço médio da face (seios maxilares preenchidos de ar, expandem ), vai crescer em função da respiração, que só acontece de forma fisiológica se durante a amamentação o bebê não desenvolve desvios da normalidade respiratória (Carvalho, 1999). Caso haja desequilíbrio imperceptível em estágio inicial, seus efeitos só serão notados mais tarde. Pois uma vez que o tecido esquelético cresce em resposta ao crescimento dos tecidos moles como afirma a hipótese do Dr. Melvin Moss ( " Hipótese da matriz funcional " ), a estrutura óssea crescerá estimulada pelos movimentos dos músculos, pela pressão do ar no caminho da respiração e desenvolvimento do

aparelho mastigatório. Os ossos são bastante plásticos, vão se modelando e se modificando sob a ação da pressão contínua dos músculos e seus movimentos. Os desvios no desenvolvimento do sistema estomatognático podem se instalar desde a época de bebê afetando as funções que este sistema desempenha: SUCÇÃO, DEGLUTIÇÃO, MASTIGAÇÃO, FONO-ARTICULAÇÃO, RESPIRAÇÃO, sendo as quatro primeiras exclusivas do sistema estomatognático. Essa funções envolvem atividades neuromusculares da face afetando e produzindo mudanças contínuas nas forças que agem sobre ossos e dentes (Köhler, 2000).

ALEITAMENTO MATERNO X MAMADEIRA No caso de ocorrer substituição do peito pela mamadeira, as excitações paratípicas que partem da boca ficam anuladas, gerando um desequilíbrio funcional, não proporcionando as respostas de desenvolvimento necessárias, criando atrofias e circuitos neurais de defesa patológicos, podendo ocorrer a falta de desenvolvimento póstero- anterior mandibular, pois a mamadeira não obriga à propulsão e retrusão da mandíbula. O movimento predominante é o de fechamento e abertura ( vertical ) limitando o movimento e crescimento transversal, ocorre perda da sincronia da deglutição com a respiração. A língua que é uma coadjuvante neste movimento fisiológico de deglutição e apreensão da aoréola mamária, perderá seu tônus e função se tornando flácida, podendo com isso, haver a persistência da deglutição atípica fisiológica e desenvolvimento patológico com interposição da mesma entre os maxilares; desencadeando no futuro a mordida aberta anterior (Planas, 1988).

Região anterior dos rodetes: ♦ Cordão Fibroso de Robin ou Magitot Desaparecem quando os dentes erupcionam Freios e Bridas: ♦ Vedam ♦ Ajudam na ordenha ♦ Auxiliam na sucção, formação do vácuo Rebordo Gengival ou Rodete Gengival ♦ Massa gengival espessa e firme ♦ Junto com a língua ------promove vedamento durante a sucção e deglutição Reflexo da Alimentação: SUCÇÃO ♦ Lábios contactam colo do mamilo ♦ 1º reflexo: nutritivo e não nutritivo ♦ Lábios se acoplam em torno da aoréola da mama selando o sistema impedindo a entrada de ar

Caminho do Leite: ♦ O leite sai da glândula mamária, entra na cavidade bucal, o dorso da língua se abaixa, formando um reservatório ♦ A cada 2 a 3 sucções, atinge-se um volume, daí inicia-se a deglutição ♦ O leite é enviado para a faringe... Estruturas fundamentais no processo do Aleitamento Materno: Rebordos/Rodetes Músculos Língua Freio ATM Língua: ♦ Com o exercício do aleitamento a língua se desenvolve, ganha tensão ♦ O freio se insere mais para trás: Ação Modeladora ♦ Língua por dentro – lábio por fora ♦ No neonato língua é amorfa, volumosa e de pouca tensão ♦ Porção anterior possui alta sensibilidade ♦ Se posiciona entre rebordo e lábios, reconhecendo o mundo ♦ Freio lingual é curto, inserido na ponta da língua até o rebordo gengival

Bebê § nasce com disto-oclusão fisiológica (bebê sem queixo !!!) Mandíbula retraída em relação à maxila! variando de 3 a 5 mm até 12 mm

CONCLUSÃO Cada vez mais nós como profissionais da área da saúde bucal devemos conhecer essas estruturas anatômicas e seu funcionamento para que possamos orientar de forma a estimular e desmistificar os tabus que levam tantas mães ao desmame precoce. O Odontólogo, principalmente o que lida e promove a Saúde Bucal da criança deve ser capaz de orientar as mães e gestantes quanto a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento e formação da cavidade bucal do bebê.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01. DOROTHY DE CARVALHO, G. A Síndrome do Respirador Bucal ou insuficiente respirador bucal ou o insuficiente respirador nasal. Apost. Curso CEA ( Centro Estudo Avançado - Poços de Caldas - MG ) , Out 1999 p-64. 02. FALTIN, J.R.K. ; MACHADO, C.R. ; RAMANZZINI, W. ; SANTANA, U.P. ; PARENTI, F.C. ; KESNER,C.A. A importância da amamentação natural no desenvolvimento da face. Revista do Inst. de Odontologia Paulista, 1(1): 13-15. Jan-jun, 1983. 03. GRABER,T.M. ; RAKOSI,T. ; PETROVIC,A.G. Ortopedia Dentofacial com Aparelhos Funcionais, Guanabara Koogan; 2ª Ed. 1997. P-500. 04. PLANAS,P. Reabilitação Neuro-oclusal. 2ª Ed. Madsi,1988. P-293. 05. SIMÕES,W.A. Ortopedia funcional dos maxilares através da reabilitação neuro-oclusal. São Paulo. Ed. Santos, 1ª Ed. 1985. P-794.