Aldeias históricas jf março 2014

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SOCIEDADE 5 6 DE MARÇO DE 2014 Graça Ribeiro, Manuel Lima, Paulo Fernandes e Dalila Dias falaram das aldeias históricas NOVAS SUBSECÇÕES NO “REGIONAL” No contínuo processo de oferecer um jornal cada vez melhor aos nossos leitores, foram introduzidas alterções na secção Regional. A criação de sub-secções territoriais irá permitir, sempre que possível, que se leiam as notícias acondicionadas geograficamente. Já nesta edição são apresentadas as sub- secções “Pinhal” e “Raia” com a atualidade daqueles territórios da Beira Interior. Aldeias Históricas mudam ponteiros para o turismo de qualidade e excelência Está em marcha uma nova estratégia de desenvolvimento turístico na rede das Aldeias Históricas de Portugal. Mais e melhor investimento REUNIÃO EM CASTELO NOVO PROMOTORES E EMPRESÁRIOS ANALISARAM SITUAÇÃO Dulce Gabriel ESTÁ a mudar o paradigma do turis- ta que procura as aldeias como pro- duto de excelência para dias de des- canso e lazer. Atenta a essa nova rea- lidade, a Associação das Aldeias His- tóricas de Portugal (AHP) está desde há algum tempo a trabalhar em ações que possibilitem aos visitantes um contacto real com as singularidades do território, contacto a cultura e suas gentes. Além de iniciativas dinami- zadas pelos habitantes e agentes lo- cais, a AHP tem vindo a trabalhar numa estratégia que pode ajudar a es- tancar a saída de residentes. “Um compromisso para a sustentabilida- de” é, então, o lema de atuação da AHP que espera da comunidade ca- pacidade de reinventar percursos e potenciar a história. A marca das Al- deias Históricas de Portugal desen- volveu recentemente alterações no seu website orientando-o para a ven- da e interação com o turista e associa- dos da AHP. “Uma nova linha de merchandising aliada às personagens das Histórias Criativas sobre as Al- deias Históricas de Portugal desen- volvido por Ana Almeida”, será uma das novidades para o ano em curso. Por outro lado as Histórias Criativas que foram recolhidas para uma série televisiva, que começou esta semana a passar no Canal Panda, vão dar lu- gar à edição literária de uma obra que terá a chancela da Leya e será mais um veículo de transmissão do conhe- cimento intergeracional do passado e história de cada uma das doze al- deias. Uma estratégia de comunica- ção bastante mais abrangente que terá novidades na edição deste mês da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). “Além de ser o palco para o teste zero à linha de personagens em forma de bonecos alusivos a cada uma das al- deias históricas”, a BTL será um es- paço para dar a conhecer o “Guia Tu- rístico Oficial das Aldeias Históri- cas”. De 12 a 16 de março, os visitan- tes da BTL conhecerão ainda a nova coleção do estilista Miguel Gigante que foi criada no âmbito do projeto “Vestir a História”. Desta vez a apos- ta recai num conjunto de modelos masculinos a juntar às peças femini- nas. “Inspirado no património e nas indústrias culturais e recreativas”, o projeto fomenta a integração e o em- prego. “Se precisamos de pessoas é preciso gerar emprego”, explicou Dalila Dias, sobre uma estratégia que concilia o saber fazer com o designe e modernidade. Além do atelier do burel que foi instalado em Belmon- te (aproveitando o labor de antigas trabalhadoras da industria de confe- ção), a AHP prepara-se para replicar a ideia em Sortelha. Ali será desen- volvida “uma linha de mobiliário e decoração” que resulta do trabalho do bracejo. No coração de Sortelha residem apenas duas pessoas “conhe- cedoras deste saber ancestral que não pode perder-se” e nesse sentido o “Projeto Entrelaços” poderá tradu- zir-se em “20 postos de trabalho”. Este mês de março (de 21 a 23) rea- liza-se um workshop sobre a arte de trabalhar o bracejo e deverá iniciar- se a formação de um projeto que até já tem unidades hoteleiras interessa- das na nova linha de mobiliário e de- coração. A perspetiva de gerar rique- za e fomentar o crescimento de mi- cro economia levou a AHP a pensar numa aposta no setor agroalimentar. Porque o turista exige mais que “dor- mida e pequeno-almoço”, o municí- pio do Fundão prepara-se para abra- çar essa dinâmica e tirar partido das potencialidades. “Fazer a ligação en- tre a Aldeia e o agroturismo é a apos- ta. Fomentar produto turístico em tor- no da pastorícia, queijo e colheitas. Desenvolver o turismo de experiên- cias em que Castelo Novo pode ser excecional”, é a estratégia adiantada por Paulo Fernandes, presidente da Câmara. Após o projeto de comuni- cação, divulgação e afirmação da marca, a AHP prepara-se agir local- mente. É neste contexto que surgem os workshops que funcionam como um “apelo aos privados no desenvol- vimento de um trabalho em rede, criando escala num projeto em que todos colaborem e acreditem”, expli- cou Graça Ribeiro, proprietária de um TER – Turismo em Espaço Rural em Caria. MINI ENTREVISTA A AHP pensou global e vai agir local- mente. Qual é a estratégia do mo- mento? Neste Quadro Comunitário propuse- mo-nos aumentar a notoriedade da marca como destino turístico e conso- lidar o efeito de trabalho em rede. É isso que está a acontecer. No âmbito dessa estratégia qual é a frequência média de visitantes na Rede das Aldeias Históricas? Neste momento não disponho de da- dos específicos sobre essa realidade. Esse é um trabalho que deve ser feito em articulação com as autarquias, alojamentos e não é fácil obter esses dados. Em 2012 foi realizado um le- vantamento que nos dá conta dos nú- meros em Posto de Turismo. Em 2014 esperamos conseguir obter es- ses dados junto dos alojamentos para apurarmos resultados. “Não fique de fora da Rede, junte-se a nós”. Um apelo à integração para a marca ganhar músculo, é isso? O objetivo é esse. Eficiência coletiva. No âmbito dessa estratégia há uma preocupação com o desemprego? A empregabilidade é fundamental. As aldeias são um espelho do de- semprego, o êxodo não está a ser es- tancado. Daí a nossa aposta numa fi- losofia que ajude a reter saberes e pessoas, trazendo novos atores, co- nhecimento e novas realidades que se traduzem numa nova dinâmica das Aldeias Históricas. A par da dinamização local do pro- duto turístico, a AHP mantém uma es- tratégia de promoção da marca no exterior. É nesse contexto que se re- força a parceria com a TAP? Estamos em alta. Em 2013 tivemos, no período do verão, uma experiên- cia que desta vez dura um ano e em que a própria TAP dando provas de que acredita no projeto, pois vê na marca um complemento à valoriza- ção genuína daquilo que é portu- guês, vai mostrar aos passageiros o filme de uma aldeia histórica por mês. Está a chegar um novo pacote de fi- nanciamento comunitário. Até 2020 haverá mais dinheiros da Europa, ouro sobre azul para a AHP ? Obviamente que daríamos continui- dade a novas dinâmicas que perspe- tivem empregabilidade, coesão terri- torial, económica e social. Espera- mos ter condições para fomentar o património imaterial. São necessá- rias intervenções físicas nas aldeias. “Aldeias são espelho do desemprego” DALILA DIAS Coordenadora Técnica da Asso- ciação das Al- deias Históricas de Portugal

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SOCIEDADE

56 DE MARÇO DE 2014

Graça Ribeiro, Manuel Lima, Paulo Fernandes e Dalila Dias falaram das aldeias históricas

NOVASSUBSECÇÕES

NO “REGIONAL”

No contínuo processo de oferecer um jornal cada vez melhor aos nossos leitores,foram introduzidas alterções na secção Regional. A criação de sub-secçõesterritoriais irá permitir, sempre que possível, que se leiam as notíciasacondicionadas geograficamente. Já nesta edição são apresentadas as sub-secções “Pinhal” e “Raia” com a atualidade daqueles territórios da Beira Interior.

Aldeias Históricas mudamponteiros para o turismode qualidade e excelência

■ Está em marcha uma nova estratégia de desenvolvimento turístico narede das Aldeias Históricas de Portugal. Mais e melhor investimento

REUNIÃO EM CASTELO NOVO ✦ PROMOTORES E EMPRESÁRIOS ANALISARAM SITUAÇÃO

Dulce Gabriel

ESTÁamudaroparadigmadoturis-ta que procura as aldeias como pro-duto de excelência para dias de des-cansoelazer.Atentaaessanovarea-lidade,aAssociaçãodasAldeiasHis-tóricasdePortugal(AHP)estádesdeháalgumtempoatrabalharemaçõesque possibilitem aos visitantes umcontacto real com as singularidadesdoterritório,contactoaculturaesuasgentes. Além de iniciativas dinami-zadas pelos habitantes e agentes lo-cais, a AHP tem vindo a trabalharnumaestratégiaquepodeajudaraes-tancar a saída de residentes. “Umcompromisso para a sustentabilida-de” é, então, o lema de atuação daAHP que espera da comunidade ca-pacidade de reinventar percursos epotenciarahistória.AmarcadasAl-deias Históricas de Portugal desen-volveu recentemente alterações noseuwebsiteorientando-oparaaven-daeinteraçãocomoturistaeassocia-dos da AHP. “Uma nova linha demerchandisingaliadaàspersonagensdas Histórias Criativas sobre as Al-deias Históricas de Portugal desen-volvidoporAnaAlmeida”,seráumadas novidades para o ano em curso.Por outro lado as Histórias Criativasque foramrecolhidasparaumasérietelevisiva,quecomeçouestasemanaa passar no Canal Panda, vão dar lu-garàediçãoliteráriadeumaobraqueterá a chancela da Leya e será maisumveículodetransmissãodoconhe-cimento intergeracional do passadoe história de cada uma das doze al-deias. Uma estratégia de comunica-çãobastantemaisabrangentequeteránovidades na edição deste mês daBolsa de Turismo de Lisboa (BTL).“Alémdeseropalcoparaotestezeroà linha de personagens em forma debonecos alusivos a cada uma das al-deias históricas”, a BTL será um es-paçoparadaraconhecero“GuiaTu-rístico Oficial das Aldeias Históri-cas”.De12a16demarço,osvisitan-tes da BTL conhecerão ainda a novacoleção do estilista Miguel Giganteque foi criada no âmbito do projeto“VestiraHistória”.Destavezaapos-

ta recai num conjunto de modelosmasculinosajuntaràspeçasfemini-nas. “Inspirado no património e nasindústrias culturais e recreativas”, oprojetofomentaaintegraçãoeoem-prego. “Se precisamos de pessoas épreciso gerar emprego”, explicouDalilaDias,sobreumaestratégiaqueconciliaosaber fazercomodesignee modernidade. Além do atelier doburel que foi instalado em Belmon-te (aproveitando o labor de antigastrabalhadoras da industria de confe-ção),aAHPprepara-separareplicara ideia em Sortelha. Ali será desen-volvida “uma linha de mobiliário edecoração” que resulta do trabalhodo bracejo. No coração de Sortelharesidemapenasduaspessoas“conhe-

cedorasdestesaberancestralquenãopode perder-se” e nesse sentido o“Projeto Entrelaços” poderá tradu-zir-se em “20 postos de trabalho”.Este mês de março (de 21 a 23) rea-liza-se um workshop sobre a arte detrabalhar o bracejo e deverá iniciar-se a formação de um projeto que atéjá temunidadeshoteleiras interessa-dasnanovalinhademobiliárioede-coração.Aperspetivadegerarrique-za e fomentar o crescimento de mi-cro economia levou a AHP a pensarnumaapostanosetoragroalimentar.Porqueoturistaexigemaisque“dor-midaepequeno-almoço”,omunicí-piodoFundãoprepara-separaabra-çar essa dinâmica e tirar partido daspotencialidades.“Fazeraligaçãoen-

treaAldeiaeoagroturismoéaapos-ta.Fomentarprodutoturísticoemtor-no da pastorícia, queijo e colheitas.Desenvolver o turismo de experiên-cias em que Castelo Novo pode serexcecional”,éaestratégiaadiantadapor Paulo Fernandes, presidente daCâmara. Após o projeto de comuni-cação, divulgação e afirmação damarca, a AHP prepara-se agir local-mente. É neste contexto que surgemos workshops que funcionam comoum“apeloaosprivadosnodesenvol-vimento de um trabalho em rede,criando escala num projeto em quetodoscolaboremeacreditem”,expli-couGraçaRibeiro,proprietáriadeumTER–TurismoemEspaçoRuralemCaria.

MINI ENTREVISTA

A AHP pensou global e vai agir local-mente. Qual é a estratégia do mo-mento?NesteQuadroComunitáriopropuse-mo-nosaumentaranotoriedadedamarcacomodestino turísticoeconso-lidaroefeitode trabalhoemrede.Éissoqueestáaacontecer.No âmbito dessa estratégia qual é a frequência média de visitantes na Rede das Aldeias Históricas?Nestemomentonãodisponhodeda-dosespecíficossobreessarealidade.Esseéumtrabalhoquedeveser feitoemarticulaçãocomasautarquias,alojamentosenãoéfácilobteressesdados.Em2012foi realizadoumle-vantamentoquenosdácontadosnú-merosemPostodeTurismo.Em2014esperamosconseguirobteres-sesdados juntodosalojamentosparaapurarmosresultados.“Não fique de fora da Rede, junte-se a nós”. Um apelo à integração para a marca ganhar músculo, é isso?Oobjetivoéesse.Eficiênciacoletiva.No âmbito dessa estratégia há uma preocupação com o desemprego?Aempregabilidadeéfundamental.Asaldeiassãoumespelhodode-semprego,oêxodonãoestáaseres-tancado.Daíanossaapostanumafi-losofiaqueajudearetersaberesepessoas, trazendonovosatores,co-nhecimentoenovasrealidadesquese traduzemnumanovadinâmicadasAldeiasHistóricas.A par da dinamização local do pro-duto turístico, a AHP mantém uma es-tratégia de promoção da marca no exterior. É nesse contexto que se re-força a parceria com a TAP?Estamosemalta.Em2013tivemos,noperíododoverão,umaexperiên-ciaquedestavezduraumanoeemqueaprópriaTAPdandoprovasdequeacreditanoprojeto,poisvênamarcaumcomplementoàvaloriza-çãogenuínadaquiloqueéportu-guês,vaimostraraospassageirosofilmedeumaaldeiahistóricapormês.Está a chegar um novo pacote de fi-nanciamento comunitário. Até 2020 haverá mais dinheiros da Europa, ouro sobre azul para a AHP ? Obviamentequedaríamoscontinui-dadeanovasdinâmicasqueperspe-tivemempregabilidade,coesãoterri-torial,económicaesocial.Espera-mos tercondiçõesparafomentaropatrimónio imaterial.Sãonecessá-rias intervenções físicasnasaldeias.

“Aldeias são espelhodo desemprego”

DALILADIAS

CoordenadoraTécnicadaAsso-ciaçãodasAl-deiasHistóricasdePortugal