Alcoolismo e Violência Em Etnias Indígenas, Uma Visão Crítica Da Situação Brasileira

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Psicologia & Sociedade; 19 (1): 45-51; jan/abr. 2007 45 ALCOOLISMO E VIOLÊNCIA EM ETNIAS INDÍGENAS: UMA VISÃO CRÍTICA DA SITUAÇÃO BRASILEIRA Liliana A. M. Guimarães Sonia Grubits Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, Brasil RESUMO: Este estudo aborda centralmente a relação entre alcoolismo e violência em etnias indígenas do Brasil. São descritos e analisados os principais estudos epidemiológicos sobre alcoolismo realizados no país, constatando-se a escassez e também a necessidade imperativa de mais pesquisas, que permitam um melhor dimensionamento do pro- blema e uma maior visibilidade da caracterização das especificidades culturais de cada etnia. Aponta-se a importância do entendimento do significado peculiar do processo de alcoolização, para que sejam possíveis abordagens preventivas e intervenções efetivas. Conclui-se pela urgência da superação do quadro encontrado, postulando-se uma íntima cola- boração entre líderes comunitários e esforços conjugados para a mobilização e organização de quadros funcionais competentes das entidades assistenciais, governamentais e não-governamentais, e da comunidade acadêmica. PALAVRAS-CHAVE: alcoolismo; violência; indígenas brasileiros; etnopsicologia. ALCOHOLISM AND VIOLENCE IN INDIGENOUS ETHNIC GROUPS: A CRITICAL VIEW OF THE BRAZILIAN SITUATION ABSTRACT: This study mainly addresses the interface between alcoholism and violence in Brazilian indigenous people. Principal epidemiological studies on alcoholism are described and analyzed. This analysis demonstrates that, in our country, studies on this matter are rare, with the need to carry out more studies so to improve our knowledge on the extension of this problem, acknowledging the specific cultural characteristics of each ethnic group. It indicates the importance of understanding the peculiar significance of the process of alcoholization, making it possible to under- take preventive actions and effective interventions. It concludes the need to urgently overcome the current situation, proposing a close collaboration among community leaders, government and non-government assistance organizations and the academic community to engage efforts in mobilizing and organizing competent personnel. KEYWORDS: alcoholism; violence; Brazilian indigenous people; ethnopsychology. Antecedentes No início do século XVI, havia no Brasil cerca de 5 milhões de indígenas. Em 1995, a Fundação Nacional do Índio ([FUNAI], 1995, 1996) estimou em 325.652 indi- víduos esta população, havendo indicadores de cresci- mento, diante da continuidade dos mecanismos de prote- ção de taxas de natalidade superiores à média nacional. Esta previsão se confirma, dado que em 2000 detecta-se a existência de 370.00 indígenas, 210 povos, que falam mais de 170 línguas, incluindo-se 55 grupos isolados (Fun- dação Nacional de Saúde [FUNASA], 2000). Em 2004, segundo o Conselho Indigenista Missionário ([CIMI], 2005) viviam no país cerca de 345 mil índios, em 215 sociedades, perfazendo cerca de 0,2% da população brasileira. Este dado considera somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indí- genas, inclusive em áreas urbanas. Cerca de 60% (89.529 indivíduos) da população indí- gena brasileira vive na região conhecida como Amazônia Legal (FUNAI, 1995). Em Mato Grosso do Sul, encontra- se a 2ª maior concentração de indígenas do país, 51.000 in- divíduos, registrando-se, no entanto, a presença de grupos em quase todas as unidades da Federação, excetuando-se o Rio Grande do Norte, Piauí e Distrito Federal. Os principais grupos indígenas brasileiros em expres- são demográfica são: Tikuna, Tukano, Macuxi, Yanomami, Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayapó, Kaingang, Gua- rani, Xavante, Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura, Sateré-Maué (Ministério das Relações Exteriores do Bra- sil, 2000). Cada um destes povos tem sua forma de entender e se organizar diante do mundo, o que pode ser observado através das diferentes modelos de organização social, polí- tica, econômica e de relação com o meio ambiente e ocupa- ção de seu território. A principal característica da população indígena do Brasil é a sua heterogeneidade cultural. Vivem no Brasil, desde grupos que ainda não foram contatados e perma- necem inteiramente isolados da civilização ocidental, até grupos indígenas semi-urbanos e plenamente integrados às economias regionais. Independentemente do grau de in- tegração que mantenham com a sociedade nacional, esses grupos aculturados preservam sua identidade étnica, se auto-identificam e são identificados como índios.

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Alcoolismo e violencia em etnias indigenas no brasil

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  • Psicologia & Sociedade; 19 (1): 45-51; jan/abr. 2007

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    ALCOOLISMO E VIOLNCIA EM ETNIAS INDGENAS:UMA VISO CRTICA DA SITUAO BRASILEIRA

    Liliana A. M. GuimaresSonia Grubits

    Universidade Catlica Dom Bosco, Campo Grande, Brasil

    RESUMO: Este estudo aborda centralmente a relao entre alcoolismo e violncia em etnias indgenas do Brasil. Sodescritos e analisados os principais estudos epidemiolgicos sobre alcoolismo realizados no pas, constatando-se aescassez e tambm a necessidade imperativa de mais pesquisas, que permitam um melhor dimensionamento do pro-blema e uma maior visibilidade da caracterizao das especificidades culturais de cada etnia. Aponta-se a importnciado entendimento do significado peculiar do processo de alcoolizao, para que sejam possveis abordagens preventivase intervenes efetivas. Conclui-se pela urgncia da superao do quadro encontrado, postulando-se uma ntima cola-borao entre lderes comunitrios e esforos conjugados para a mobilizao e organizao de quadros funcionaiscompetentes das entidades assistenciais, governamentais e no-governamentais, e da comunidade acadmica.PALAVRAS-CHAVE: alcoolismo; violncia; indgenas brasileiros; etnopsicologia.

    ALCOHOLISM AND VIOLENCE IN INDIGENOUS ETHNIC GROUPS:A CRITICAL VIEW OF THE BRAZILIAN SITUATION

    ABSTRACT: This study mainly addresses the interface between alcoholism and violence in Brazilian indigenouspeople. Principal epidemiological studies on alcoholism are described and analyzed. This analysis demonstrates that,in our country, studies on this matter are rare, with the need to carry out more studies so to improve our knowledge onthe extension of this problem, acknowledging the specific cultural characteristics of each ethnic group. It indicates theimportance of understanding the peculiar significance of the process of alcoholization, making it possible to under-take preventive actions and effective interventions. It concludes the need to urgently overcome the current situation,proposing a close collaboration among community leaders, government and non-government assistance organizationsand the academic community to engage efforts in mobilizing and organizing competent personnel.KEYWORDS: alcoholism; violence; Brazilian indigenous people; ethnopsychology.

    AntecedentesNo incio do sculo XVI, havia no Brasil cerca de 5

    milhes de indgenas. Em 1995, a Fundao Nacional dondio ([FUNAI], 1995, 1996) estimou em 325.652 indi-vduos esta populao, havendo indicadores de cresci-mento, diante da continuidade dos mecanismos de prote-o de taxas de natalidade superiores mdia nacional.Esta previso se confirma, dado que em 2000 detecta-sea existncia de 370.00 indgenas, 210 povos, que falammais de 170 lnguas, incluindo-se 55 grupos isolados (Fun-dao Nacional de Sade [FUNASA], 2000).

    Em 2004, segundo o Conselho Indigenista Missionrio([CIMI], 2005) viviam no pas cerca de 345 mil ndios, em215 sociedades, perfazendo cerca de 0,2% da populaobrasileira. Este dado considera somente aqueles indgenasque vivem em aldeias, havendo estimativas de que, almdestes, h entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras ind-genas, inclusive em reas urbanas.

    Cerca de 60% (89.529 indivduos) da populao ind-gena brasileira vive na regio conhecida como AmazniaLegal (FUNAI, 1995). Em Mato Grosso do Sul, encontra-se a 2 maior concentrao de indgenas do pas, 51.000 in-divduos, registrando-se, no entanto, a presena de grupos

    em quase todas as unidades da Federao, excetuando-seo Rio Grande do Norte, Piau e Distrito Federal.

    Os principais grupos indgenas brasileiros em expres-so demogrfica so: Tikuna, Tukano, Macuxi, Yanomami,Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayap, Kaingang, Gua-rani, Xavante, Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura,Sater-Mau (Ministrio das Relaes Exteriores do Bra-sil, 2000).

    Cada um destes povos tem sua forma de entender e seorganizar diante do mundo, o que pode ser observadoatravs das diferentes modelos de organizao social, pol-tica, econmica e de relao com o meio ambiente e ocupa-o de seu territrio.

    A principal caracterstica da populao indgena doBrasil a sua heterogeneidade cultural. Vivem no Brasil,desde grupos que ainda no foram contatados e perma-necem inteiramente isolados da civilizao ocidental, atgrupos indgenas semi-urbanos e plenamente integradoss economias regionais. Independentemente do grau de in-tegrao que mantenham com a sociedade nacional, essesgrupos aculturados preservam sua identidade tnica, seauto-identificam e so identificados como ndios.

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    O consumo de lcool pelo homeme em particular pelas etnias indgenas

    Segundo Calanca (1991, citado por Azevedo, 1999),o ser humano sempre procurou fugir de sua condio na-tural cotidiana, empregando substncias que aliviassemseus males ou que propiciassem prazer. Lacerda (1999)acrescenta que o lcool a droga mais amplamente utili-zada no mundo, nas mais diferentes culturas. Para o autor,o consumo de substncias que possuem a capacidade dealterar estados de conscincia e modificar o comportamen-to, parece ser um fenmeno universal da humanidade.

    Cabe acrescentar que, historicamente, mtodos mgi-cos e empricos foram usados em vrias sociedades e cul-turas, no apenas pela populao de forma espontnea,mas tambm como recomendao dos responsveis pelasade na comunidade local, como aes preventivas.

    Com o passar dos sculos o recurso utilizao desubstncias psicoativas, inicialmente, de cunho religiosoou mdico, parece ter desaparecido e disseminou-se, mar-ginalizando-se ou tornando-se culturalmente aceitvel eat mesmo banal, com o homem nas suas migraes eaculturaes.

    Este estudo focaliza especificamente a questo do al-coolismo em etnias indgenas brasileiras em sua relaocom a violncia, visto que, a depender das distintas for-mas de exposio a situaes de tenso social, ameaas evulnerabilidade, dados da literatura nacional apontam paraum aumento considervel de sua prevalncia (CoimbraJr., Santos & Escobar, 2003; Souza, J. A & Aguiar, 2001).

    Cabe lembrar que a expanso das frentes econmicas(trabalho assalariado temporrio, projetos de desenvolvi-mento, frentes de extrativismo), tem ameaado drastica-mente a integridade do ambiente em que vivem as etniasindgenas, bem como, seus saberes, sistema econmico eorganizao social. Ao longo do tempo, com o processode colonizao e ocupao territorial nacional, os gruposindgenas foram drasticamente reduzidos, a vrias formasde extermnio: o aprisionamento, a escravido, as epide-mias que resultaram em importante reduo e o desapare-cimento completo de vrias etnias. Nesta direo, Quiles(2001) informa que as bebidas alcolicas sempre foramutilizadas como instrumento de dominao em relao spopulaes indgenas.

    Com todo este sistema fragilizado, estando mais vul-nerveis, vrias doenas continuam a atingir estes grupose novas ameaas e exposies so recorrentes: aumentoda prevalncia de transtornos mentais, do alcoolismo, dosuicdio e da violncia interpessoal. Langdon (2001) co-loca tambm que o aumento da prevalncia de alcoolismoem indgenas est diretamente relacionado com o processode pacificao e a situao atual do ndio frente socie-dade envolvente.

    Coloma (2001) aponta para a importncia das mudan-as socioculturais no processo de colonizao, analisandoo sofrimento individual e/ou coletivo como fator determi-nante para a quebra do equilbrio individual e/ou social eo alcoolismo como uma das manifestaes do desequili-brio juntamente com outras, citando a violncia auto e/ouhetero dirigida.

    Nesta direo, Langdon (2001) afirma que o momentode beber, assim como o tipo de bebida e a sua forma de in-gesto pode variar de grupo para grupo. Segundo a auto-ra, existe a necessidade imperativa de que sejam realizadosestudos que, ao abordar a questo do uso de bebidas alco-licas, considerem as peculiaridades culturais dos diferentesgrupos indgenas, bem como possam agregar os conheci-mentos sobre sua histria de contato com a sociedade na-cional (Langdon & Mattesson, 1996).

    Um diagnstico elaborado pela FUNASA (2000) in-dica que entre as enfermidades mais comuns nos gruposindgenas brasileiros, est o alcoolismo, sobretudo, nasregies nordeste, centro-oeste, sudeste e sul.

    Tal fato pode ser explicado, principalmente, porquenestas macrorregies os grupos indgenas tm tido umalonga histria de contato com a sociedade nacional envol-vente e um relacionamento mais continuado com a popu-lao regional. Cabe ressaltar que os condicionantes dasituao de sade das populaes indgenas so ditadospelo padro de contato com a sociedade nacional. Tem-seobservado, tambm, o aparecimento de novos agravosde sade ligados s mudanas introduzidas no seu modode vida: a hipertenso arterial, o diabetes, o cncer, a de-presso e o suicdio, so problemas cada vez mais fre-qentes.

    Corroborando as assertivas do pargrafo acima, o Semi-nrio sobre Alcoolismo e DST-AIDS entre Povos Ind-genas (Ministrio da Sade, 2001) tambm informa que:

    existe a necessidade e a importncia da discussoda problemtica do consumo de lcool entre ospovos indgenas, assim como seu enfrentamento,visto ser esta uma questo que vm trazendo sriostranstornos dentro das aldeias indgenas, seja doponto de vista patolgico, como estrutural, social ecultural... para qualquer ao de interveno em rela-o reduo de danos, se faz necessrio entendera especificidade cultural e histrica de cada grupo,assim como o significado do ato de beber para cadaindivduo ou etnia.

    O livro Epidemiologia e sade dos povos indgenas noBrasil (Coimbra Jr. et al., 2003) descreve as condiesde sade nas tribos indgenas no Brasil de hoje, destacandoas intensas transformaes, tanto nos perfis epidemiol-gicos, como na estrutura do sistema de ateno. O textoalerta que, apesar de as doenas infecciosas continuarema ocupar um papel central no perfil epidemiolgico ind-

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    gena no pas, surgem rapidamente outros agravos impor-tantes, que incluem doenas crnicas no transmissveis,tais como: alcoolismo, diabetes mellitus, hipertenso arte-rial, neoplasias, e obesidade.

    Os mesmos autores afirmam que tem ocorrido, nasetnias indgenas brasileiras, um aumento de casos das cha-madas doenas sociais como o alcoolismo e a depressoe que essas ocorrncias tm levado a que a taxa de morta-lidade dos ndios brasileiros seja trs a quatro vezes maiordo que a mdia nacional (sociedade nacional envolvente),dependendo do Estado da federao. O alcoolismo temsido, portanto, considerado uma das principais causas demortalidade, seja pelo aumento da ocorrncia de doenascomo cirrose, diabetes, hipertenso arterial, doenas docorao, do aparelho digestivo, depresso e estresse oucomo causa de morte por fatores externos como acidentes,brigas, quedas, atropelamentos, entre outros.

    fato sabido que o alcoolismo um problema preva-lente, universalmente conhecido e que afeta a cerca de10% da populao mundial (Shuckit, 1991, 1995).

    J. A. Souza e Aguiar (2001) relatam que a proporodo consumo de bebidas por indgenas bem maior doque a encontrada em populaes no ndias. Este autor,em estudo realizado com os Terena de Mato Grosso doSul, encontrou uma prevalncia de 10,1% de alcoolismonesta populao. Entretanto, quando considerada a idadeacima de 15 anos, a proporo de alcoolistas se elevoupara 17,6% na populao aldeada e para 19,7% na popula-o vivendo na periferia da cidade de Sidrolndia (MS).

    Garcia-Andrade, Wall e Ehlers (1997) observam, noentanto, no existirem evidncias consistentes e suficien-tes para se considerar uma vulnerabilidade indgena aolcool.

    Coimbra Jr. et al. (2003) citam pesquisa realizada comos Kaingng da bacia do Rio Tibagi PR, em Apucara-ninha, na regio de Londrina, onde vivem 1.300 pessoas,informando que de 672 pessoas entrevistadas, 29,9% dapopulao fizeram uso de bebidas alcolicas no ltimoano (situao de risco para dependncia). Em relao aosexo, as propores foram de 40,1% entre os homens e14,2% entre as mulheres. Os autores sinalizam que estasprevalncias encontradas so bem maiores do que as deconsumo de bebidas em populaes no indgenas.

    Embora no existam outros estudos epidemiolgicossistematizados em nosso meio, relatos apontam que o pro-blema se repete entre os Guarani no Mato Grosso do Sule no Rio Grande do Sul, entre os Maxacali no norte deMinas Gerais e ainda entre os povos indgenas do Cear(Banco Mundial, 2003).

    Pode-se observar, portanto, que quanto maior o graude contato com a sociedade nacional envolvente, maior o risco de exposio ao alcoolismo e outras doenas e queas estimativas de prevalncia de consumo de lcool reali-

    zadas junto a etnias indgenas em nosso meio tm apon-tado que a mesma maior do que aquela apresentada pelasociedade nacional envolvente.

    Levando-se em conta a scio-diversidade indgena ea heterogeneidade dos perfis epidemiolgicos, funda-mental a adequao de propostas e metodologias de tra-balho s expectativas da populao alvo, com respeito aseus aspectos culturais e ao mesmo tempo, a clareza sobreas conseqncias geradas pelo processo histrico vivenciadopor elas, que as levaram misria e suas conseqncias,tais como a desnutrio, a violncia e toda sorte de preju-zos mentais, principalmente o alcoolismo, o suicdio e osofrimento psquico, que vm se agravando (Langdon, 1997;Langdon & Matteson, 1996).

    As taxas de alcoolismo e suas causas representam umfenmeno coletivo e, para serem entendidas, devem serexplorados os valores culturais, o processo histrico e aatualidade scio-poltica do grupo, (Gordon, 1978; Singer,1986; Singer, Valentim & Jia, 1992), incluindo-se o con-texto sociocultural (Langdon, 2001).

    O desconhecimento e a falta de estudos sobre a dimen-so do problema do consumo de bebida alcolica entreos indgenas, quais os seus determinantes, quem so osmais atingidos e quais fatores podem estar subjacentes,ocasionam limitaes para o desenvolvimento de aes maisadequadas e propiciam a formulao de pr-conceitos,bastante comuns quando se fala em comunidades indge-nas e consumo abusivo de lcool (Langdon, 2001).Relao entre alcoolismo e violnciaem indgenas

    O processo de alcoolizao, segundo Coloma (2001) um fenmeno que acompanha um conjunto de proble-mas, a maioria das vezes como catalisador de atos agres-sivos ou auto-agressivos. Para Niewiadomski (2004) o al-coolismo, frequentemente, aparece relacionado com aesdelituosas como homicdios, delitos sexuais, maus-tratos,entre outros.

    M. L. P. Souza (2005) informa que a literatura interna-cional (Berlin, 1987; Kraus & Bufler, 1979) tem associadoo uso de lcool por populaes indgenas ao incrementodas mortes por causas externas, bem como ao aumento douso de drogas ilcitas entre adolescentes indgenas a partirdos 12 anos de idade (Federman, Costello, Angold, Farmer& Erkanli, 1997) indicando tambm maiores taxas de pre-valncia de problemas relacionados ao uso de lcool nestapopulao (Albuquerque & Souza, 1998; Coimbra Jr. etal., 2003; Howard, Walker, Suchinsky & Anderson, 1996;Leung et al., 1992; Souza, J. A. & Aguiar, 2001).

    As conseqncias do abuso de lcool para as comuni-dades indgenas podem ser constatadas nos estudos rela-cionando-o especificamente: violncia social (Oliveira,2003; Pauletti, Schneider & Mangolim, 1997; Simonian,

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    1998; Souza, J. A. & Aguiar, 2001), continuidade deuma sade precria, e a altas taxas de suicdio em certascomunidades, tais como as dos Kaiow/Guarani e Tikna(Erthal 1998, 2001) e Kaingngs (Ministrio da Sade,2001; Oliveira, 2001, 2003; Oliveira & Kohatsu, 1999).

    O alcoolismo tem sido associado tambm a um im-portante aumento do ndice de crianas com desnutrioe considerado como um dos fatores que tm provocadotenso dentro das comunidades, estimulando a sexuali-dade fora das regras do grupo, assim como abuso sexuale prostituio nos centros urbanos e em rodovias (Minis-trio da Sade, 2001).

    Langdon (2001) e Meihy (1991) acrescentam que oalcoolismo alcana propores epidmicas e est relacio-nado diretamente problemtica da violncia em geral,violncia seguida de morte, suicdios, acidentes. Acres-cente-se que as tentativas e o suicdio propriamente dito,podem ser entendidos como atos que expressam a gravi-dade do conjunto dos problemas vividos pela populaoindgena, o que neste caso entendido como um indicadoragregado da tenso social e da impotncia pessoal e socialpara com a soluo dos problemas que permeiam todosos nveis de vida da populao.

    J. A. Souza (1996), entretanto, relata que populaesculturalmente diferentes tm apresentado taxas diferen-ciadas de suicdio, de acordo com uma maior ou menorpermissividade. A variao entre grupos se manifesta nos nas diferenas das taxas de alcoolismo, mas tambmno comportamento. Nas populaes indgenas, em parti-cular, as caractersticas dos processos histricos so funda-mentais para entender o impacto e tipo de contato mantidocom a populao no indgena, e as mudanas, tanto mate-riais, como psicossociais, resultantes desta experincia.

    O uso do lcool pode ser analisado como um elementoque permite catalisar o mal-estar, pano de fundo da pro-blemtica vivida pelas pessoas e a populao em seu con-junto. Coloma (2001) coloca que a alcoolizao pode seruma expresso dos sinais de um processo de deterioraoda pessoa e da sociedade e estas duas ltimas noes tmdefinies dadas pelas culturas onde o fenmeno se apre-senta. Para seu enfrentamento, devem ser contempladosos mltiplos fatores que interagem, tanto na construo deproblemas, quanto na relao de foras para neutraliz-lasou super-los.

    Cabe ressaltar que 22 das 47 administraes regionaisda FUNAI relatam causas externas (especialmente a vio-lncia e o suicdio) como a terceira causa de mortalidadeconhecida entre a populao indgena no Brasil, sobretudoem regies como Mato Grosso do Sul e Roraima (FUNAI,1995, 1996).

    Para Coloma (2001):este no s um processo isolado onde a pessoa tentasublimar a realidade mediante a consumao de l-

    cool, ele se encontra num contexto de problemas ondeno se pode obter uma soluo satisfatria aos esta-dos de sofrimento... Neste processo encontram-sediversas associaes com alternativas de consumode diversas substancias ou txicos, onde a significa-o do ato s manifesta a intensidade emocional dassituaes vividas... As manifestaes deste processoevidenciam o aprofundamento das situaes de crisee da perda das capacidades para manter o equil-brio pessoal e social. Esta noo de equilbrio de-finida culturalmente, e se vincula aos valores e nor-mas aceitas na sociedade... O conjunto de manifes-taes constitui um quadro mais complexo, onde sesalientam os atos de violncia seja contra outras pes-soas, ou seja, contra si mesmo (p. 12).

    Desde 1999 vem ocorrendo a implantao dos Distri-tos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEI), de norte a suldo pas, sendo que atualmente existem 34. Um dos gran-des desafios atuais consolidar o modelo de atendimentoimplantado, envolvendo milhares de usurios e agnciasgovernamentais e no-governamentais, sem perder devista a scio-diversidade indgena, bem como a heteroge-neidade de perfis epidemiolgicos.

    O Jornal da Cincia, rgo da Sociedade Brasileirapara o Progresso da Cincia SBPC (Banco Mundial,2003, p. 5) informa que:

    no Paran, o projeto Vigilncia em Sade (VIGISUS)e a FUNASA lanaram na Reserva Indgena do Apu-caraninha a cartilha Gojf to Veme, que trata doalcoolismo entre os ndios... O ttulo kaingng, tra-duzido para o portugus, significa Falando sobreBebida, e faz parte do Programa de Atendimento Comunidade Kaingng do Apucaraninha, desenvol-vido pela Prefeitura de Londrina/PR.

    A meta da FUNASA, a partir do projeto acima citado, reduzir a incidncia de casos de alcoolismo em pelo menos50% e dotar os seus 34 Distritos Sanitrios com esquemasacessveis de diagnstico at 2007.

    A complexidade da abordagemdo alcoolismo em etnias indgenas

    O trabalho de preveno e combate ao alcoolismo emcomunidades indgenas, no uma tarefa fcil. Existetambm um despreparo dos profissionais de sade para aabordagem do problema do alcoolismo, em todos os seto-res (Erthal, 1998, 2001).

    Reconhecer o alcoolismo como um agravo importante,compreender as suas diversas interfaces, envolver a comu-nidade, considerar este problema dentro do todo, significaatuar em vrias frentes, respeitar as especificidades etno-culturais e a realidade de cada local. Falar sobre alcoolis-mo implica, portanto, em um conhecimento prvio sobrea comunidade em questo, considerando-se o processohistrico-cultural para uma viso no fragmentada e super-ficial.

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    Oliveira (2001) no estudo denominado Alcoolismoentre os Kaingng: do sagrado e ldico dependncia,mostra o significado das bebidas fermentadas no contextoritualstico, usado como reafirmao grupal em festas sa-gradas e profanas e lembra a triste iniciativa oficial de ins-talao de alambiques dentro das reas indgenas, comoum dos fatores determinantes na forma atual de beber eainda como um desagregador social entre os Kaingng.

    Se o lcool libera as inibies e leva a pessoa para umoutro estado de nimo e conscincia, o comportamentoresultante desta liberao varia de um grupo para outro,porque valores diferentes esto sendo expressos. Assim,estar embriagado no se manifesta igualmente em todosos grupos e necessrio considerar a cultura e seus valo-res como fatores importantes diferenciando entre os hbi-tos de beber e de ficar bbado.

    Para Oliveira (2003), em vrias etnias e grupos, existeuma dificuldade na separao entre o significado do be-ber ritualstico e a atual forma de beber, alm do carterldico que conferido bebida alcolica, que faz o ndioficar alegre e o ato de beber com os companheirosdepois do futebol ou no final de semana. Bebidas como ovinho ou a cerveja, no so reconhecidas pelos indgenascomo bebidas de lcool, cabendo somente pinga estaclassificao. Este tambm um fator que dificulta aabordagem do problema junto ao indivduo e a comuni-dade. Desta forma, a comparao de resultados entre etniase tambm destas com a sociedade nacional envolvente,torna-se tarefa complexa.

    Segundo Coloma (2001) deve-se destacar que nas socie-dades indgenas existem regras prprias para reduzir aingesto do lcool ou de no beber, sendo estas as exce-es que se estabelecem norma geral (segundo o sexoda pessoa, idade, estado de doena, etc.).

    Em uma tentativa de entendimento da questo alcoo-lismo-cultura, pode ser citado Horton (1943) autor de umdos primeiros artigos a abordar esta relao de forma sis-temtica, que coloca que a alcoolizao pode implicar nainstitucionalizao de determinados comportamentos queseriam punidos se a pessoa no estivesse alcoolizada, con-forme demonstrou pela anlise de 56 sociedades, onde aagresso realizada em estado de embriaguez era levementepenalizada. O autor, examinando a funo do lcool emsociedades pr-letradas, postulou que o grau de embria-guez seria diretamente proporcional ao grau de ansiedadeda cultura e elencou trs hipteses para esta ansiedade: (a)nvel de subsistncia; (b) presena ou ausncia de risco subsistncia e (c) grau de aculturao. Este estudo tem, por-tanto, como tese, a ansiedade na etiologia do alcoolismo.

    Bales (1946/1991) em seu clssico artigo sobre alcoo-lismo intitulado Diferenas culturais nos graus de alcoolis-mo descreve quatro diferentes orientaes culturais quantoa seu uso: (a) abstinncia total; (b) ritual; (c) convivncia;

    (d) uso utilitrio e a influncia destas orientaes. Se-gundo o autor, o papel da orientao cultural com relaoao consumo de lcool continua a influenciar a compreen-so atual das origens dos problemas relativos a lcool edrogas, as diferenas nos nveis de alcoolismo entre gru-pos culturais e devem interferir nas polticas pblicas eno desenvolvimento de programas.

    Nas mudanas scio-culturais o desenvolvimento notempo do processo de alcoolizao adquire tambm umimportante significado coletivo. Este fato ocorre especial-mente quando se estabelece um consenso social, seja sobrea caracterizao de determinadas pessoas ou grupos ouna ritualizao (pessoal ou coletiva), onde os tabus soeliminados ou substitudos. Neste caso, as conseqnciasdo processo vo ser contidas numa tolerncia ou numacoexistncia com o fenmeno, onde se manifestam aslimitaes ou a incapacidade das pessoas ou da sociedadepara reagir diante das novas situaes, ainda que estassejam de alta significao, como a morte, a violncia do-mstica (especialmente contra as mulheres e as crianas),as brigas e o suicdio.

    O Seminrio sobre Alcoolismo e Doenas Sexual-mente Transmissveis DST/AIDS nas comunidades ind-genas (Ministrio da Sade, 2001) concluiu que o alcoo-lismo tem sido considerado uma causa importante dadesagregao social, da violncia, e dos suicdios, almde ter correlao com outras patologias.

    Consideraes Finais

    Destaca-se a importncia de historicizar o alcoolismodesde etapas mais remotas, passando pelas dificuldadesde sua compreenso e da sua aceitao como doena (adependncia), at as dificuldades diagnsticas em funoda diversidade de significao social e cultural.

    A situao descrita demonstra a necessidade de inter-venes especficas, pois a questo do alcoolismo e daviolncia podem ter significado e interpretaes muitodiferentes para cada grupo tnico, em relao ao mesmofenmeno.

    Deve-se estar atento para esta compreenso, buscando-se o uso de conceitos mais homogneos, consideradas asespecificidades culturais de cada grupo. Neste sentido,cabe ressaltar que os efeitos do contato prolongado namudana dos padres ritualsticos de beber, bem como oseu significado, atingem os povos indgenas de uma formageral, mas ficam muito evidentes ao se fazer a compara-o das propores de alcoolistas entre os ndios vivendodistante e na periferia das cidades.

    Por outro lado, fica patente a uniformidade de opi-nies dos diferentes autores pesquisados, de que o alcoo-lismo no deve ser visto de uma forma isolada, devendoser compreendido dentro do seu contexto sociocultural,

  • Guimares, L.A.M.; Grubits S. Alcoolismo e violncia em etnias indgenas: uma viso crtica da situao brasileira

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    recordando tambm que as bebidas alcolicas sempre fo-ram utilizadas como arma de dominao em relao spopulaes indgenas, e que algumas delas, por fatoresprprios apresentaram uma resistncia diminuda frenteao contato nestes sculos.

    Desde os anos 1970, muitas comunidades indgenastm se mobilizado com relao ao problema colocado,dada a descontinuidade das aes e a carncia de profissio-nais da sade. Esta mobilizao tem ocorrido, sobretudo,por meio de organizaes juridicamente constitudas, paraconhecimento e controle sobre as doenas e agravos demaior impacto sobre sua sade, originando processos lo-cais e regionais de capacitao de agentes indgenas desade e de valorizao da medicina tradicional indgena,com a participao das diversas instituies envolvidas coma assistncia sade indgena.

    Os autores concordam com Coimbra Jr. et al., (2003)quando os mesmos sugerem fortemente que, para a supe-rao deste quadro negativo h a necessidade de esforosurgentes conjugados das etnias, entidades assistenciais, go-vernamentais e no-governamentais, com a comunidadeacadmica universitria.

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    Liliana A. M. Guimares professora e pesquisadora doPrograma de Mestrado em Psicologia da Universidade

    Catlica Dom Bosco UCDB/MS. Coordenadora doNcleo de Estudos Multidisciplinares em Psicologia

    da UCDB e do Laboratrio de Sade Mental eTrabalho da UCDB. Doutora em Sade Mental pela

    Faculdade de Cincias Mdicas da UniversidadeEstadual de Campinas UNICAMP. Ps-doutora peloInstituto Karolinska, Estolcomo, Sucia. Pesquisadorado CNPq. Endereo para correspondncia: Rua Isabel

    Negro Bertotti, 101, apto. 152 Campinas, SP.CEP: 13087-508. Tel. (019) 3256 3707.

    [email protected]

    Sonia Grubits professora, pesquisadora e coordenadorado Programa de Mestrado em Psicologia da UCDB/MS.Mestre em Psicologia Social pela Pontifcia Universidade

    Catlica de So Paulo PUCSP. Doutora em SadeMental pela Faculdade de Cincias Mdicasda UNICAMP. PhD em Semitica por Paris 8,

    Sorbonne, Frana.

    Alcoolismo e violncia em etnias indgenas:uma viso crtica da situao brasileiraLiliana A. M. Guimares e Sonia GrubitsRecebido: 08/05/20061 reviso: 24/11/2006Aceite final: 25/12/2006

    [email protected]

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