AJIndo - 01e08 · Receita da tia Vera Pudim de Milho É uma delicia e muito simples de se preparar...

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FOTO: EMERSON MACHADO

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Fotos

ApoioApoio

Eventos 2009

FOTO

: EME

RSON

MAC

HADO

Etnia terena faz apresentação durante a abertura dofestival Vídeo Índio Brasil, em Campo Grande

Andréa Alves (Anhanguera), Maria de LourdesBeldi (AJI) e Luana Nogueira (Anhanguera)

Autores do livro Olhares sobre o Futuro, e Mariade Lourdes Beldi, no lançamento em Dourados

Nilcimar, Jaqueline, Ana Corbett, Ana Claudia, Maria deLourdes, Emerson e Carlos Corbett, posam para fotos nolançamento do livro Olhares sobre o Futuro, em São Paulo

Ana Claudia e Jaqueline, integrantes da AJI, durante olançamento do livro Olhares sobre o Futuro, em São Paulo.

Exibição dofilme Terra

Vermelha naabertura do

festival VídeoÍndio Brasil

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Piadase Desenhos

Receita da tia Vera

Pudimde Milho

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É uma delicia e muitosimples de se preparar

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Um artigo de opinião,de autoria do jorna-

lista e advogado Isaac Duar-te de Barros Jr., publicado nojornal O Progresso, no dia 27de dezembro de 2008, e inti-tulado “Índios e o retroces-so...”, ainda continua susci-tando polêmica. Nesse artigo,o autor se dirigiu aos indíge-nas da região da Grande Dou-rados utilizando de termos pe-jorativos e ofensivos, taiscomo “bugre”, “malandros”,“vadios” e “agitadores”. Nomesmo texto, o articulistaainda afirmou que os índios“se assenhoram das terrascomo verdadeiros vândalos,cobrando nelas os pedágios ematando passantes assimcomo faziam os ladrões assal-tantes emboscados nas estra-das do passado”. E foi maisalém ao fazer a acusação deque “nas nossas fronteiras tu-piniquins [...] a bugrada estáexportando as madeiras no-bres das nossas florestas e osprodutos do subsolo, aquelemesmo que segundo a leimaior, pertence ao tesouronacional”. Disse ainda que acivilização indígena “nãodeu certo e em detrimentodisso foi conquistada pela in-teligência cultural dos bran-cos”. Defendeu a revogação

por Victor Mauro, cientista social

da tutela do Estado sobre osíndios e classificou de retró-grada a atitude de querer pre-servar a cultura indígena.

O mencionado artigo foiobjeto de denúncia que oMinistério Público Federal(MPF) impetrou contra o au-tor, pela incursão no delitoprevisto no artigo 20, § 2º, daLei nº 7.716/89: praticar e in-duzir a discriminação e o pre-conceito de raça ou etniaatravés de meio de comuni-cação social. Crime para oqual a lei estipula a pena dedois a cinco anos de deten-ção, além de multa.

O artigo causou grandeperplexidade para a socieda-de douradense por causa dosinsultos proferidos contra osindígenas de modo generali-zado, e em decorrência tam-bém do total desrespeito paracom a cultura das populaçõesautóctones.

Também provocou espan-to o caráter leviano de acu-sações como a de que os ín-dios estariam se benefician-do indevidamente da vendade recursos naturais e rique-zas minerais de patrimônio daUnião. Aliás, devemos lem-

brar que esta região era com-pletamente coberta por ma-tas quando habitada exclusi-vamente pelos índios. Quemderrubou as florestas para ven-der a madeira, causando sé-rios danos ambientais, nãoforam eles.

Só para se ter uma idéiado agravo cometido pelo ar-ticulista, o termo “bugre”, nodito popular, carrega umaconotação fortemente depre-ciativa que atribui aos índiosuma condição de animalida-de. Chamar um indígena de“bugre” soa tão ofensivoquanto chamar uma pessoanegra de “crioulo”.

Surpreendentemente, aOrdem dos Advogados do Bra-sil (OAB) Seccional MatoGrosso do Sul saiu em defesade Barros Jr., divulgando umanota de repúdio à Ação Pe-nal proposta pelo MPF e de-signando dois advogados paradefender o acusado. O Presi-dente da OAB-MS, Dr. FábioTrad, declarou à imprensa queconsidera injusto e arbitrárioo enredamento do caso emação criminal. Em sua opi-nião, isso fere o preceitoconstitucional da liberdadede expressão e manifestaçãode pensamento.

Particularmente, conside-ro muito problemático esseposicionamento da entidaderepresentativa dos advogados,que me parece, nesse caso,preocupada em oferecer umaproteção corporativista a umde seus membros, quandodeveria, ao contrário, censu-rar a infâmia que o mesmocometeu contra toda umacoletividade de pessoas.

A Constituição Federal,em seu artigo 3º, preconizacomo um dos objetivos fun-damentais da República Fe-derativa do Brasil a promoçãodo bem-estar de todos os seuscidadãos, “sem preconceitosde origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras for-mas de discriminação”. Oartigo nº 231 da mesma Car-ta Magna, assegura aos povosindígenas o reconhecimentode sua organização social,costumes, línguas, crenças etradições.

A nossa legislação reco-nhece o caráter multiculturale pluriétnico da Nação Brasi-leira. Assim sendo, na verda-de, o que viola o Estado De-mocrático de Direito e repre-senta um retrocesso é o des-respeito ao princípio da alte-ridade, como demonstrado,por exemplo, na atitude etno-cêntrica de afirmar que asculturas indígenas são menosavançadas do que a culturado branco e, portanto, nãomerecem ser valorizadas.

Penso que a liberdade deexpressão deve sim ser defen-dida com veemência, mas elanão pode servir de pretextopara legitimar a divulgaçãode pensamentos preconceitu-osos. Do contrário, corremoso risco de em breve assistir-mos nos meios de comunica-ção – livres de censura – apropagação de ideologiasperigosas como o nazi-fascis-mo, que pregam o ódio e aintolerância.

Parece-me que no casoaqui discutido, o MPF temtotal razão. Mesmo sem seroperador do direito, modesta-mente arrisco-me a supor quecabe condenação ao menci-onado advogado e jornalistapelo delito especificado. Pen-so também que tal condena-ção demonstraria definitiva-mente que no Brasil as leispenais se aplicam não ape-nas aos pobres e despossuídos,mas também às pessoas queocupam posição de maior sta-tus, poder e influência emnossa sociedade.

INGREDIENTES1 lata de leite condensado1 lata (média) de leite1 vidro de leite de coco1 lata de milho4 ovos2 colheres(sopa) de amido de milho3 colheres (sopa) de açúcar para caramelar.

MODO DE PREPAROColoque o açúcar para caramelar numaforma própria de pudim.Bata no liquidificador o leite condensado, oleite de coco, o milho com a água de dele, os ovos e oamido. Colocar na forma caramelizada e assar.

Intolerância, preconceito e retrocesso

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Trocando experiênciasJovens da AJI vão à Rússia para participar de

uma Feira Internacional do Livro e fazemintercâmbio de ideias com jovens de lá

Nilcimar Morales

A AJI – Ação dos Jovens Indígenasde Dourados – teve a oportunidade departicipar da Feira Internacional do Li-vro de Moscou, capital da Rússia, queaconteceu de 10 a 20 de junho de 2009.

O convite para nossa presença nesteevento veio da rofessora Galina Ershova,diretora de Centro Mesoamericano daUniversidade Estatal da Rússia, que visi-tou as aldeias indígenas de Dourados emfevereiro deste ano. Ela esteve na sededa AJI e acompanhou algumas ativida-des realizadas pela instituição.

Por acreditar em um trabalho quevem sendo desenvolvido há quase dezanos por jovens indígenas, por saber daimportância dos jovens indígenas tenta-rem alcançar um lugar de permanêncianeste mundo, buscando um futuro me-lhor para todos, Galina concluiu que otrabalho da AJI deve ser divulgado parao mundo todo e nos convidou para oevento na Rússia.

A AJI foi representada na Feira pormim, Nilcimar, e por Ermeson, compo-nentes da AJI. Estivemos em Moscou,onde apresentamos todos os trabalhos jádesenvolvidos pela AJI e outros que ain-da estão sendo realizados: vídeos, Jor-nal AJIndo, livro de fotografia. Inclusiveaconteceu lá o lançamento do segundolivro de fotos dos jovens da AJI, o Olha-res sobre o Futuro.

A Feira do Livro aconteceu na Uni-versidade Estatal de Rússia. O públicoeram os estudantes, que nos receberammuito bem.

TROCA DE EXPERIÊNCIASTivemos a oportunidade de fazer um

bate-papo com jovens não-índios daRússia e o que mais nos chamou aten-ção foi o modo de vida cotidiano deles.Aparentemente tudo é muito corrido,estão sempre preocupados com seu fu-turo, seus estudos. Existem vários pon-tos turísticos na cidade de Moscou queeles nem mesmo conhecem por falta detempo. Relataram que estudam demais,que a prioridade deles é o futuro. Elescontaram que recebem uma mesada dos

pais e, muitas vezes, só da para o gastoda Faculdade.

Ao compararmos com nossa realida-de, dissemos que os estudantes de nos-sas aldeias não têm “mesada”, nem ne-nhuma ajuda para se manter em condi-ções dignas de ter roupas e calçadosbons, etc. Não existem também políti-cas públicas para fornecer bolsas de es-tudo que ajudem financeiramente essesjovens daqui. É muito comum aconte-cer de jovens indígenas deixarem deestudar por não terem condições de com-prar material ou roupa para ir à escola.

Ainda sobre o intercâmbio com osjovens da Rússia, eles relataram que nãotêm livre expressão, liberdade de vida.Disseram que se fala que a Rússia é umpaís democrático, mas na realidade nãoé. “Sofremos com o preconceito, com afalta de liberdade de escolha. Nós nãopodemos escrever nada contra o Esta-do”, denunciaram.

Outro ponto levantado por eles foi aescolha de suas carreiras. Eles afirma-ram que muitas vezes não são eles pró-prios que escolhem a profissão, mas seuspais. E reclamam por isso.

Como nós aqui, um grande proble-ma que eles enfrentam é que tambémnão são ouvidos em seu próprio país. Ésemelhante à nossa situação: nós, jovens

indígenas de Dourados também não so-mos ouvidos, somos excluídos pelas li-deranças, e sempre ficamos de fora daspolíticas públicas.

Os jovens de Moscou gostaram mui-to da nossa metodologia de trabalho etambém vão passar a usar essas ferra-mentas: trabalho fotográfico, publicaçãode jornais e livros, produção de vídeos.

PASSEIOAlém da participação na Feira do

Livro de Moscou, visitamos as ruas histó-ricas e exploramos a cidade durante umasemana, período que passamos lá. Esti-vemos também na Dinamarca. Visitamosa sede da IWGIA (Grupo Internacionalde Trabalho sobre Assuntos Indígenas), nacapital desse país, Copenhagen.

Apreciar a beleza de uma culturadiferente, de um povo de outro conti-nente foi tudo de bom. Por isso não que-ro que fique só comigo, quero deixarescrito para todo o mundo ler.

Copenhagen

Ana Cláudia Souza

A segunda edição doFestival Vídeo Índio

Brasil 2009 aconteceu entreos dias 10 e 16 de agosto, noCineCultura, em CampoGrande. Durante o evento,aconteceram seminários, de-bates, exposições, exibiçõesde filmes e uma oficina deprodução de vídeo para in-dígenas.

O projeto contou com oapoio do Ministério da Cul-tura, por meio da Secretariada Identidade e da Diversi-dade Cultural (SID/MinC),com recursos de R$ 100 mildo Fundo Nacional de Cul-tura e do Programa Cultura

Vídeo Índio Brasil 2009Vídeo “De mão em mão”, da AJI, foi exibido na mostra que aconteceu em Campo Grande

Viva da Secretaria de Cida-dania Cultural. O Festivalcontou, também, com oapoio da Fundação Nacionaldo Índio (FUNAI) e do Minis-tério do Turismo.

Na manhã de terça-feira(11), teve início a série deseminários “A Imagem dosPovos Indígenas na Mídia”. Oprimeiro debate teve comotema “Políticas Públicas deCultura para os Povos Indíge-nas”. Participaram do seminá-rio, o coordenador geral deFomento à Identidade e Di-versidade Étnica da SID/MinC, Marcelo Manzatti, odiretor de Assistência da Fu-nai, Aloysio Guapindaia, e odiretor-presidente da Funda-

ção Municipal de Cultura,Athayde Nery. O debate foimediado pela jornalista Mar-garida Marques.

Logo depois foram exibi-dos mais dois filmes, entreeles o “De mão em mão”, umfilme produzido pela AJI –Ação de Jovens Indígenas deDourados, com a orientaçãodo jornalista Elton Rivas. Ofilme retrata a história do rou-bo de uma bicicleta, que éum acontecimento constan-te dentro da aldeia. O filmetem poucas falas, mas bas-tante conteúdo. Logo depoisdo filme, houve uma mesade debate da qual participoua equipe de produção do ví-deo: Emerson Machado, Nil-

cimar Morales, Elton Rivas,Ana Cláudia de Souza e Ja-queline Gonçalves. O públi-co gostou bastante; as pesso-as fizeram perguntas e tira-ram suas dúvidas.

Durante o Festival, fo-ram desenvolvidas atividadestambém na Aldeia UrbanaMarçal de Souza, na AldeiaÁgua Bonita, no Ponto deCultura Mukando Kandongo,na Casa Brasil - Instituto Del-ta de Educação, na Associa-ção de Moradores da VilaSanto Eugênio e na FundaçãoTia Olívia.

Ainda como parte das ati-vidades do Festival, foramrealizadas oficinas de produ-ção audiovisual, que desper-taram o interesse em váriosindígenas que se encontra-vam no local. Essas oficinasvieram com intuito de ensi-nar indígenas de diversas re-giões do Mato Grosso do Sula manusearem os instrumen-tos necessários para a produ-ção de vídeos, permitindo queeles mesmos mostrem à soci-edade seus costumes, crençase saberes, contribuindo ativa-mente para a difusão de suaspróprias culturas. Foram vári-as etnias reunidas num só lo-cal para que apreciassem otrabalho do outro.

O grupo de rap Bro MCs, formadopor cinco jovens indígenas da

Reserva Indígena de Dourados,participou junto com o Fase

Terminal, grupo de Hip Hop deDourados, do Festival RPB (Rap

Popular Brasileiro), que aconteceuno dia 3 de outubro no Rio de

Janeiro. Eles foram os vencedoresda etapa estadual e representaram

o Mato Grosso do Sul no Rio. ORPB é organizado pela Central

Única das Favelas (Cufa).

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Rússia

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João Machado

Nas assembléias das liderançasindígenas e/ou autoridades go-

vernamentais em Dourados, as discus-sões são sempre as mesmas. Jovens vio-lentos se drogando, à noite os adultosnão podem mais sair pelas aldeias por-que adolescentes andam pelas estradasdas aldeias armados com facão, foice,pedaço de madeira e ameaçam...

Na Reserva de Dourados, vivemquase treze mil pessoas. Dessas, cercade 25% são jovens (adolescentes entre12 e 18 anos). Vivem num espaço deterra espremidos, não existem matas,nem rios. As condições naturais não sãoopções de distração ou lazer para osjovens, uma das razões do problema.

Por outro lado, o poder público nãooferece alternativas ou construções ar-

tificiais para amenizar a situação, vistoque jovens exigem prazer, lazer, condi-ções sócio-educativos, planos e perspec-tivas futuros. Eles são mais vítimas doque agressores.

Fui criado numa educação indíge-na tradicional, coisa que quase não exis-te mais na aldeia, poucas famílias sãoas que ainda a cultivam na atualidade.

Os estabelecimentos de ensino pú-blico formal (educativos, religiosos eculturais) estão impotentes para dar umaboa formação a eles, onde os mesmosacham um jeito próprio de vivência econvivência da sua maneira especifica.Às vezes, ficam à margem da socieda-de, até da própria comunidade étnica.

Quero acreditar que se concretiza-rem as demarcações das terras, antigosterritórios tradicionais, nas margens dasbacias dos rios do Estado de Mato Gros-so do Sul, espaço de terras suficientepara sobrevivência dos indígenas, edu-cação familiar, educação formal, lazer

e condições sustentável, com certezanão será preciso trazer Guarda Nacio-nal para apaziguar o cotidiano das al-deias. O que falta é vontade política esensibilidade humanitária.

Não somente os jovens Guarani/Kai-owá, Terena, porém, também a juventu-de não-indígena é vítima das mazelassociais. Não têm oportunidades, orienta-ções, condições educativas, formativaspara transpor dificuldades. O Estado tema obrigação de oferecer condições míni-mas de que eles precisam porque são ofuturo do país. Do contrário, que heran-ça deixaremos para as futuras geraçõesdesse Brasil plural e rico nas diferenças?

* É índio Kaiowá e professor daEscola Tengatuí Marangatu, naReserva Indígena de Dourados.

(contato: [email protected])

Mitã Russu / Kunhata´i Guasu Violentos

Tânia Porto

Os problemas de violência envolvendo jovens no Brasil são

bastante conhecidos e noticiados. NaReserva Indígena de Dourados não édiferente e até mesmo nas escolas hábrigas entre jovens. Em agosto deste ano,um caso chamou a atenção da comuni-dade: uma índia de 14 anos esfaqueououtra em frente à escola Tengatuí Ma-rangatu, localizada na Aldeia Jaguapi-ru, em Dourados.

Elias Moreira, coordenador da esco-la Tengatuí, relaciona o problema daviolência a questões familiares. “Mui-tas vezes os problemas são familiares enós não conseguimos controlar. De al-gum modo, transmitimos conhecimen-to para a comunidade, mas muitos paisconfundem educação escolar com edu-cação familiar. As famílias não compre-endem que a violência começa dentrode casa”, alerta.

Uma das possibilidades para dimi-nuir essa violência é o diálogo. Muitasvezes, os pais não dão carinho para osfilhos, não conversam para saber o queeles estão sentindo, o que eles têm. Ospais também têm que ouvir os filhos.

“O que nós fazemos com os alunos

A violêncianas escolas

Problemas entre alunos se originam fora dasescolas, mas são levados para dentro delas

violentos? Conversamos e perguntamospor que ele está agindo daquela manei-ra. Muitas vezes temos que administrare se for preciso chamamos os pais. Asbrigas são raras. Este ano ocorreu ape-nas um caso de briga bem pesado, queteve origem fora da escola, mas os alu-nos acabaram trazendo para dentro daescola”, conta Elias.

Segundo o coordenador da EscolaTengatuí, quando ficam sabendo de pro-blemas relacionados a violência, tentamfazer o mapa para localizar suas casas,conhecer suas famílias. “Agora, as pes-soas que não estudam na escola não sãoautorizadas a entrar. Deixamos a portafechada para evitar brigas. Se aparecealguma criança ou jovem que não estu-da ali, conversamos educadamente e ex-plicamos que se não for fazer atividadestem que se retirar”, reforça Elias.

O LADO DELESA reportagem do Jornal AJIndo en-

trevistou sete alunos da Reserva comidade entre 15 e 17 anos. Eles pedirampara não ser identificados. Na visãodeles, as pessoas praticam violência porfalta de educação. “Eles já são bemgrandinhos pra saber o que estão fazen-do, já sabem o que é bom e o que é

ruim. Têm que ter um pouco de vergo-nha”, defendeu um aluno.

Outro aluno afirma não ser violentopor não ter motivo para ficar brigandona escola. “Eu venho na escola pra es-tudar, não para brigar. Eu acho um ab-surdo brigar na escola. Deviam se jun-tar e praticar alguma atividade”, suge-re. “Eu só reajo se eu vejo que aquelapessoa veio para me matar. Mas paraque ficar brigando se tem várias coisasde bom pra fazer?”, indaga.

Há quem diga, ainda, que foge debriga e não se importa para o que vãodizer. “Quando uma pessoa vai brigarcomigo, eu corro ou vou embora, nãoimporta o que eles vão falar depois. Eupenso no meu futuro, em terminar o meuestudo e fazer faculdade, ter minha pro-fissão para não depender de ninguémdepois. Eu gostaria de ser enfermeira, egostaria que tivesse na escola uma qua-dra de vôlei de areia, um campo de fu-tebol, uma escola com bastante ativi-dade, um professor de basquete, um pro-fessor de capoeira um professor de dan-ça”, revela uma jovem.

Essas são as palavras dos alunos. Nomeio de tanta violência, existe aindauma possibilidade de diminuí-la dentroda escola: através de atividades.

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Ana Cláudia Souza

No dia 12 de agosto aconteceuo lançamento do livro Olhares

sobre o Futuro, em São Paulo. O livro émais uma realização dos jovens da AJI– Ação de jovens indígenas de Doura-dos. Ana Cláudia de Souza (Guarani),Emerson Machado (Terena), NilcimarMorales (Terena) e Jaqueline Gonçalves(Kaiowá), alguns dos fotógrafos respon-sáveis pelas fotos do livro, participaramdo lançamento em São Paulo, autogra-fando os livros para os convidados.

Olhares sobre o futuro é o segundolivro de fotografias produzido pela AJIe é resultado de duas oficinas de foto-grafia ministradas por Pedro de CaldasGomes, em setembro de 2008 e feve-reiro de 2009. O livro é distribuído gra-tuitamente e estará disponível nas bi-bliotecas das escolas da Reserva Indí-gena de Dourados.

LANÇAMENTO EM DOURADOSNo dia 21 de agosto, o lançamento

aconteceu em Dourados, na Universida-de Anhanguera. Tivemos a presença degente da nossa comunidade, de outrosjovens que fazem parte da AJI e do dou-tor Marco Antônio Delfino de Almeida,procurador do Ministério Público.

Neste lançamento, estavam tam-bém todos os fotógrafos que participa-ram do livro. Cada um teve a oportuni-dade de falar sobre sua experiência naprodução das fotos.

Lançamento do Livro

Olhares sobre o futuro

Jovens indígenas lançamsegundo livro de fotografias

Kenedy Morais

Gostaria de fazer uma comparaçãoentre os dois livros de fotografia produ-zidos pela AJI, o Nossos Olhares e oOlhares sobre o Futuro. A ideia de fa-zer tal comparação nasce do desejo detentar apresentar a relação existenteentre o momento vivido por esses ami-gos e as fotos tiradas por eles. A meuver, eles vão bem mais além do quesimplesmente fotografar a nossa aldeiae muito além do que é belo para cadaum dos autores. Essas fotos represen-tam o momento vivido por cada autor,revelam a particularidade deles aoolhar, sentir, buscar o melhor ângulo;ao disparar o clique sobre as imagensque melhor os representam.

E impossível de descrever quão fe-liz eu me sinto por mais essa publica-ção dos jovens indígenas da AJI e ta-manha gratidão às pessoas envolvidas,especificamente à Maria de LourdesBeldi de Alcântara, ao Carlos Corbette à IGWIA, na pessoa de Alejandro Pa-rellhada. Pessoas que, acreditando nopotencial dos jovens indígenas, propor-cionaram oficinas de fotografia que re-sultaram nesse ensaio fotográfico.

Apesar de envolvido com meu tra-balho, não tinha como conter a ansie-dade e a curiosidade em saber como

Vivências, representações e imagenstinha sido o lançamento do livro Olha-res sobre o Futuro na capital paulista,como foram recebidos, os elogios, crí-ticas, sugestões e principalmente, dematar a fome de ver o livro.

No dia do lançamento em São Pau-lo, me encontrava na cidade de Cam-po Grande. Sabendo da chegada dosjovens da AJI na Reserva Indígena deDourados, imediatamente tratei de vol-tar. Porém, mesmo estando muito per-to não conseguia encontrar meus ami-gos fotógrafos. Somente após a quintavez indo na casa de um dos autores, oencontrei (à noite, mesmo sabendo doperigo de andar pela aldeia no perío-do noturno).

Tomado por uma mistura de sen-timento de alegria e orgulho, as fotosdo livro Olhares Sobre o Futuro mepossibilitaram outra reflexão sobre aaldeia: a de sentir que alguma coisaestá sendo feita para mudar sua reali-dade. Ou melhor, já mudou a reali-dade dos jovens que não é mais so-mente de tristezas e frustrações e simde liberdade, de renovação e de es-perança no futuro.

O livro provoca esse sentimentoe, se as fotos carregam isso, o queme impede de arriscar, de adivinhar,sentir e compartilhar o que os auto-res estão sentindo?

Jaqueline Gonçalves

A categoria de “jovem” é recente en-

tre os índios. Hoje, na Reser-va Indígena de Dourados mui-tos pais reclamam que seusfilhos não ouvem o que dizem.Assim como os pais, os jovensindígenas também estão per-didos porque estão em umafase em que não são mais cri-anças, mas também não sãoadultos. Então o jovem preci-sa de alguém que conversecom ele e o oriente.

“Os pais não têm maisforça para controlar seus fi-lhos, muito deles chegam adesistir dos seus filhos”, ex-plica o psicólogo indígenaValter Benites Martins. “Ospais viveram uma geração eos adolescentes hoje estãoem outra geração, a da mo-dernidade, do avanço da tec-nologia, isso é um choqueentre pais e filhos. Os pais nãotêm conseguido entender omomento do adolescente evice- versa”, completa Valter.

Uma questão que causacerto conflito entre pais e fi-lhos é o estudo. Hoje em dia,o adolescente tem mais estu-dos do que seus pais, tudo issodificulta o diálogo. Quandonão há diálogo, o adolescen-te procura uma referênciafora e, muitas vezes, essa re-ferência é negativa. “Essa fal-ta de diálogo causa violência,pois é uma maneira de colo-car para fora as suas emoções;a violência é o que está den-tro da pessoa e precisa sercolocado para fora. Aí os jo-vens saem, começam a agre-dir os outros e assim vai”,defende Valter.

Hoje a melhor condutados pais em relação aos filhosé a compreensão e a escuta.

Seus pais não lhe entendem,mas você não entende seus paisDiálogo entre pais e filhos não é fácil, mas para ser melhor precisa de compreensão das duas partes

Eles precisam entender queseus filhos precisam de cui-dado, carinho, atenção, por-que ele vai ser um adulto nofuturo e ele ainda não sabe ocaminho para se tornar umadulto responsável.

Os filhos, por sua vez,têm de saber que os pais sãoas pessoas que estão maispróximas no momento, e osfilhos devem também ter ati-tude de respeito e de escu-ta. Às vezes, por falta de co-nhecimento, os pais erramtambém.

“Com o trabalho nas usi-nas, o pai passou a ficar mui-to ausente. A mãe se esforça,mas fica um vazio da presen-ça do pai, e isso vai trazeruma geração de filhos maiscomplicada. A relação entrepais e filhos vai ficar aindapior. É o que já estamos ven-do dentro das aldeias”, con-clui o psicólogo.

Na ausência desses paise com diálogo complicadoentre pais e filhos, tem sidocomum a responsabilidadede educação ser jogada paraa escola. “Muitos paisacham que a escola deveeducar seus filhos, mas a es-cola não educa e sim passao conhecimento para o alu-no”, argumenta Elias Morei-ra, coordenador da escolaTengatui Marangatu, da al-deia Jaguapiru.

O coordenador concordaque muitos pais não têmacompanhado a evolução deseus filhos. “Antes o pai era oespelho da casa e hoje seusfilhos se inspiram em prota-gonistas de televisão, ídolose os pais acabam ficando emsegundo plano”, completa.

“Hoje os filhos não obe-decem mais seus pais. Anteshavia muito respeito e os fi-

lhos andavam na linha, meusfilhos me mandam calar aboca se eu falo alto com eles.E o que eu posso fazer? Hojeum deles me dá mais traba-lho ainda, pois levou facão-zada na cabeça e ficou comseqüelas. Em vez de eu tra-balhar para sustentar a minhacasa eu tenho que cuidardele”, conta o indígena kaio-wá Marcio Romeiro Lima,residente na aldeia Bororó.

A dona de casa AdelinaBrites Daniel, indígena kaio-wá de 42 anos, alerta para ofato de que todos apontam oserros dos jovens, mas não pen-sam no que precisa ser feitopara ocupar o tempo dessejovem, para ele não tertempo de ir para arua em busca dealgo. “Ninguémentra no maucaminho por-que os outroslevam,m a ssimpornão tero que fazer. Eé claro que ojovem não vaiquerer ficar sódentro de casa. Elequer sair, se divertir,namorar, paquerar”,avalia.

A falta de projetos vol-tados para o jovem na Re-serva é apontada comoum problema porAdelina Bri-

tes. “Os jovens são critica-dos pelos próprios pais queolham eles como marginais,mas eles são vítimas e nãomarginais. Conheço muitosjovens que não conversamcom os pais, ou seja os paisnão conversam com os filhossobre a vida, eles pensamque o jovem não tem senti-mento. Eu não vejo os jovenscomo marginais mas simcomo vítimas da violênciae da falta de ações, projetose políticas públicas voltadospara a juventude. Não setraz um jovem de volta bri-gando com ele, e sim comamor e carinho”, conclui aíndia kaiowá.

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Émerson Machado

Em meio a tantos problemas na Reserva Indígena de Dourados,uma iniciativa positiva aparece: uma escola de futebol para cri-

anças e adolescentes nas aldeias Jaquapiru e Bororó. A Reserva está aban-donada pela falta de segurança. Problemas de violência envolvendo jo-vens são constantemente noticiados.

É por este fato que iniciativas como essas estão sendo criadas: paraproporcionar uma ocupação para estes jovens. “O nosso objetivo de terimplantado uma escolinha de futebol é de resgatar jovens e crianças quemuitas vezes não têm pai ou não têm mãe, então estão abandonados.Depois se perdem nas drogas, na pinga... E com isso fica nossa função detirar essa molecada da vida que estão levando, com educação, respeito.E usando uma atividade de que eles gostam: o futebol”, explica Gersonde Souza, técnico da escolinha na Aldeia Jaquapiru.

A escolinha da Jaquapiru teve início em julho deste ano e conta coma participação de cerca de 50 crianças e adolescente divididos por ida-de. Por enquanto, apenas meninos participam do projeto. As aulas acon-tecem às terças e quartas, com horários de manhã e à tarde.

Como há pouco incentivo por parte dos governos, a escolinha enfren-ta dificuldades. “A estrutura aqui é muito fraca, nós não temos banheiros,o campo é praticamente abandonado. Nós ganhamos duas bolas que jáestragaram, temos outra que usamos sempre mais vai acabar também.Então, se tivéssemos uma estrutura melhor poderia ser um incentivo amais para essas crianças daqui, entende?”, defende Gerson.

O comportamento de alguns desses jovens tem mudado tanto emcasa quanto na escola. Eles mesmos sentem essa mudança. “Antes de euentrar no projeto, eu andava muito estressado. Agora, não estou maisassim porque eu libero esse estresse jogando futebol. Além disso, eu mesinto mais feliz em estudar na escola”, confirmar Miciano Bruno, 14 anos,morador da aldeia Bororo, onde se tem também a escolinha.

Um exemplo, o futebolEscolinhas ensinam esportes a crianças e adolescentes

Nilcimar Morales

A Escola Municipal Indígena Lacui Roque

Isnard, localizada na AldeiaBororó, na Reserva Indígenade Dourados, não vem sendoatendida pela Secretaria deEducação de Dourados, deacordo com o coordenadorIzaque de Souza. Ele contaque fez pedido para a Secre-taria reformar o campo de fu-

Falta de cuidadoRepresentantes de escolas da Reserva procuram a reportagemdo Jornal AJIndo para denunciar falta de estrutura

tebol e nada foi feito. O cam-po está coberto de mato, en-tão as aulas de educação físi-ca têm de ser feitas em umgramado improvisado, atrásda escola.

Aproximadamente 80 alu-nos estão matriculados na Es-cola Lacui e eles reclamampor não ter um bom campopara jogar futebol. As crian-ças também não têm bola paraa educação física e precisamimprovisar a bola

Procurada pela reporta-gem do Jornal AJIndo, Marle-ne Vasconcelos, secretária deEducação de Dourados, disseque as melhoras para o cam-po da Escola Lacui estavamsendo providenciadas, mas,até o fechamento dessa edi-ção, representantes da escolainformaram que o conserto nocampo de futebol foi feito pelaPrefeitura de Itaporã, que es-tava fazendo reparos na estra-da e acabou limpando o cam-po por cortesia.

Marlene Vasconcelos in-formou também que todas asescolas municipais receberamkits esportivos no começo doano, com bolas, redes e ou-tros equipamentos para espor-te. A informação foi confirma-da pelo coordenador da Esco-la Lacui, mas o kit não foi su-ficiente.

ESCOLARAMÃO MARTINSOutra reclamação veio da

Escola Ramão Martins, na Al-deia Jaguapiru, que tem 310alunos matriculados. A esco-la começou a funcionar esteano e tem uma sala prepara-da para receber computado-res, mas os equipamentos nun-ca chegaram.

De acordo com a secretá-ria de educação de Dourados,os computadores serão entre-gues ainda este ano. A demo-ra se deve aos processos buro-cráticos de licitação, segun-do Marlene.

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Émerson Machado

Em meio a tantos problemas na Reserva Indígena de Dourados,uma iniciativa positiva aparece: uma escola de futebol para cri-

anças e adolescentes nas aldeias Jaquapiru e Bororó. A Reserva está aban-donada pela falta de segurança. Problemas de violência envolvendo jo-vens são constantemente noticiados.

É por este fato que iniciativas como essas estão sendo criadas: paraproporcionar uma ocupação para estes jovens. “O nosso objetivo de terimplantado uma escolinha de futebol é de resgatar jovens e crianças quemuitas vezes não têm pai ou não têm mãe, então estão abandonados.Depois se perdem nas drogas, na pinga... E com isso fica nossa função detirar essa molecada da vida que estão levando, com educação, respeito.E usando uma atividade de que eles gostam: o futebol”, explica Gersonde Souza, técnico da escolinha na Aldeia Jaquapiru.

A escolinha da Jaquapiru teve início em julho deste ano e conta coma participação de cerca de 50 crianças e adolescente divididos por ida-de. Por enquanto, apenas meninos participam do projeto. As aulas acon-tecem às terças e quartas, com horários de manhã e à tarde.

Como há pouco incentivo por parte dos governos, a escolinha enfren-ta dificuldades. “A estrutura aqui é muito fraca, nós não temos banheiros,o campo é praticamente abandonado. Nós ganhamos duas bolas que jáestragaram, temos outra que usamos sempre mais vai acabar também.Então, se tivéssemos uma estrutura melhor poderia ser um incentivo amais para essas crianças daqui, entende?”, defende Gerson.

O comportamento de alguns desses jovens tem mudado tanto emcasa quanto na escola. Eles mesmos sentem essa mudança. “Antes de euentrar no projeto, eu andava muito estressado. Agora, não estou maisassim porque eu libero esse estresse jogando futebol. Além disso, eu mesinto mais feliz em estudar na escola”, confirmar Miciano Bruno, 14 anos,morador da aldeia Bororo, onde se tem também a escolinha.

Um exemplo, o futebolEscolinhas ensinam esportes a crianças e adolescentes

Nilcimar Morales

A Escola Municipal Indígena Lacui Roque

Isnard, localizada na AldeiaBororó, na Reserva Indígenade Dourados, não vem sendoatendida pela Secretaria deEducação de Dourados, deacordo com o coordenadorIzaque de Souza. Ele contaque fez pedido para a Secre-taria reformar o campo de fu-

Falta de cuidadoRepresentantes de escolas da Reserva procuram a reportagemdo Jornal AJIndo para denunciar falta de estrutura

tebol e nada foi feito. O cam-po está coberto de mato, en-tão as aulas de educação físi-ca têm de ser feitas em umgramado improvisado, atrásda escola.

Aproximadamente 80 alu-nos estão matriculados na Es-cola Lacui e eles reclamampor não ter um bom campopara jogar futebol. As crian-ças também não têm bola paraa educação física e precisamimprovisar a bola

Procurada pela reporta-gem do Jornal AJIndo, Marle-ne Vasconcelos, secretária deEducação de Dourados, disseque as melhoras para o cam-po da Escola Lacui estavamsendo providenciadas, mas,até o fechamento dessa edi-ção, representantes da escolainformaram que o conserto nocampo de futebol foi feito pelaPrefeitura de Itaporã, que es-tava fazendo reparos na estra-da e acabou limpando o cam-po por cortesia.

Marlene Vasconcelos in-formou também que todas asescolas municipais receberamkits esportivos no começo doano, com bolas, redes e ou-tros equipamentos para espor-te. A informação foi confirma-da pelo coordenador da Esco-la Lacui, mas o kit não foi su-ficiente.

ESCOLARAMÃO MARTINSOutra reclamação veio da

Escola Ramão Martins, na Al-deia Jaguapiru, que tem 310alunos matriculados. A esco-la começou a funcionar esteano e tem uma sala prepara-da para receber computado-res, mas os equipamentos nun-ca chegaram.

De acordo com a secretá-ria de educação de Dourados,os computadores serão entre-gues ainda este ano. A demo-ra se deve aos processos buro-cráticos de licitação, segun-do Marlene.

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Ana Cláudia Souza

No dia 12 de agosto aconteceuo lançamento do livro Olhares

sobre o Futuro, em São Paulo. O livro émais uma realização dos jovens da AJI– Ação de jovens indígenas de Doura-dos. Ana Cláudia de Souza (Guarani),Emerson Machado (Terena), NilcimarMorales (Terena) e Jaqueline Gonçalves(Kaiowá), alguns dos fotógrafos respon-sáveis pelas fotos do livro, participaramdo lançamento em São Paulo, autogra-fando os livros para os convidados.

Olhares sobre o futuro é o segundolivro de fotografias produzido pela AJIe é resultado de duas oficinas de foto-grafia ministradas por Pedro de CaldasGomes, em setembro de 2008 e feve-reiro de 2009. O livro é distribuído gra-tuitamente e estará disponível nas bi-bliotecas das escolas da Reserva Indí-gena de Dourados.

LANÇAMENTO EM DOURADOSNo dia 21 de agosto, o lançamento

aconteceu em Dourados, na Universida-de Anhanguera. Tivemos a presença degente da nossa comunidade, de outrosjovens que fazem parte da AJI e do dou-tor Marco Antônio Delfino de Almeida,procurador do Ministério Público.

Neste lançamento, estavam tam-bém todos os fotógrafos que participa-ram do livro. Cada um teve a oportuni-dade de falar sobre sua experiência naprodução das fotos.

Lançamento do Livro

Olhares sobre o futuro

Jovens indígenas lançamsegundo livro de fotografias

Kenedy Morais

Gostaria de fazer uma comparaçãoentre os dois livros de fotografia produ-zidos pela AJI, o Nossos Olhares e oOlhares sobre o Futuro. A ideia de fa-zer tal comparação nasce do desejo detentar apresentar a relação existenteentre o momento vivido por esses ami-gos e as fotos tiradas por eles. A meuver, eles vão bem mais além do quesimplesmente fotografar a nossa aldeiae muito além do que é belo para cadaum dos autores. Essas fotos represen-tam o momento vivido por cada autor,revelam a particularidade deles aoolhar, sentir, buscar o melhor ângulo;ao disparar o clique sobre as imagensque melhor os representam.

E impossível de descrever quão fe-liz eu me sinto por mais essa publica-ção dos jovens indígenas da AJI e ta-manha gratidão às pessoas envolvidas,especificamente à Maria de LourdesBeldi de Alcântara, ao Carlos Corbette à IGWIA, na pessoa de Alejandro Pa-rellhada. Pessoas que, acreditando nopotencial dos jovens indígenas, propor-cionaram oficinas de fotografia que re-sultaram nesse ensaio fotográfico.

Apesar de envolvido com meu tra-balho, não tinha como conter a ansie-dade e a curiosidade em saber como

Vivências, representações e imagenstinha sido o lançamento do livro Olha-res sobre o Futuro na capital paulista,como foram recebidos, os elogios, crí-ticas, sugestões e principalmente, dematar a fome de ver o livro.

No dia do lançamento em São Pau-lo, me encontrava na cidade de Cam-po Grande. Sabendo da chegada dosjovens da AJI na Reserva Indígena deDourados, imediatamente tratei de vol-tar. Porém, mesmo estando muito per-to não conseguia encontrar meus ami-gos fotógrafos. Somente após a quintavez indo na casa de um dos autores, oencontrei (à noite, mesmo sabendo doperigo de andar pela aldeia no perío-do noturno).

Tomado por uma mistura de sen-timento de alegria e orgulho, as fotosdo livro Olhares Sobre o Futuro mepossibilitaram outra reflexão sobre aaldeia: a de sentir que alguma coisaestá sendo feita para mudar sua reali-dade. Ou melhor, já mudou a reali-dade dos jovens que não é mais so-mente de tristezas e frustrações e simde liberdade, de renovação e de es-perança no futuro.

O livro provoca esse sentimentoe, se as fotos carregam isso, o queme impede de arriscar, de adivinhar,sentir e compartilhar o que os auto-res estão sentindo?

Jaqueline Gonçalves

A categoria de “jovem” é recente en-

tre os índios. Hoje, na Reser-va Indígena de Dourados mui-tos pais reclamam que seusfilhos não ouvem o que dizem.Assim como os pais, os jovensindígenas também estão per-didos porque estão em umafase em que não são mais cri-anças, mas também não sãoadultos. Então o jovem preci-sa de alguém que conversecom ele e o oriente.

“Os pais não têm maisforça para controlar seus fi-lhos, muito deles chegam adesistir dos seus filhos”, ex-plica o psicólogo indígenaValter Benites Martins. “Ospais viveram uma geração eos adolescentes hoje estãoem outra geração, a da mo-dernidade, do avanço da tec-nologia, isso é um choqueentre pais e filhos. Os pais nãotêm conseguido entender omomento do adolescente evice- versa”, completa Valter.

Uma questão que causacerto conflito entre pais e fi-lhos é o estudo. Hoje em dia,o adolescente tem mais estu-dos do que seus pais, tudo issodificulta o diálogo. Quandonão há diálogo, o adolescen-te procura uma referênciafora e, muitas vezes, essa re-ferência é negativa. “Essa fal-ta de diálogo causa violência,pois é uma maneira de colo-car para fora as suas emoções;a violência é o que está den-tro da pessoa e precisa sercolocado para fora. Aí os jo-vens saem, começam a agre-dir os outros e assim vai”,defende Valter.

Hoje a melhor condutados pais em relação aos filhosé a compreensão e a escuta.

Seus pais não lhe entendem,mas você não entende seus paisDiálogo entre pais e filhos não é fácil, mas para ser melhor precisa de compreensão das duas partes

Eles precisam entender queseus filhos precisam de cui-dado, carinho, atenção, por-que ele vai ser um adulto nofuturo e ele ainda não sabe ocaminho para se tornar umadulto responsável.

Os filhos, por sua vez,têm de saber que os pais sãoas pessoas que estão maispróximas no momento, e osfilhos devem também ter ati-tude de respeito e de escu-ta. Às vezes, por falta de co-nhecimento, os pais erramtambém.

“Com o trabalho nas usi-nas, o pai passou a ficar mui-to ausente. A mãe se esforça,mas fica um vazio da presen-ça do pai, e isso vai trazeruma geração de filhos maiscomplicada. A relação entrepais e filhos vai ficar aindapior. É o que já estamos ven-do dentro das aldeias”, con-clui o psicólogo.

Na ausência desses paise com diálogo complicadoentre pais e filhos, tem sidocomum a responsabilidadede educação ser jogada paraa escola. “Muitos paisacham que a escola deveeducar seus filhos, mas a es-cola não educa e sim passao conhecimento para o alu-no”, argumenta Elias Morei-ra, coordenador da escolaTengatui Marangatu, da al-deia Jaguapiru.

O coordenador concordaque muitos pais não têmacompanhado a evolução deseus filhos. “Antes o pai era oespelho da casa e hoje seusfilhos se inspiram em prota-gonistas de televisão, ídolose os pais acabam ficando emsegundo plano”, completa.

“Hoje os filhos não obe-decem mais seus pais. Anteshavia muito respeito e os fi-

lhos andavam na linha, meusfilhos me mandam calar aboca se eu falo alto com eles.E o que eu posso fazer? Hojeum deles me dá mais traba-lho ainda, pois levou facão-zada na cabeça e ficou comseqüelas. Em vez de eu tra-balhar para sustentar a minhacasa eu tenho que cuidardele”, conta o indígena kaio-wá Marcio Romeiro Lima,residente na aldeia Bororó.

A dona de casa AdelinaBrites Daniel, indígena kaio-wá de 42 anos, alerta para ofato de que todos apontam oserros dos jovens, mas não pen-sam no que precisa ser feitopara ocupar o tempo dessejovem, para ele não tertempo de ir para arua em busca dealgo. “Ninguémentra no maucaminho por-que os outroslevam,m a ssimpornão tero que fazer. Eé claro que ojovem não vaiquerer ficar sódentro de casa. Elequer sair, se divertir,namorar, paquerar”,avalia.

A falta de projetos vol-tados para o jovem na Re-serva é apontada comoum problema porAdelina Bri-

tes. “Os jovens são critica-dos pelos próprios pais queolham eles como marginais,mas eles são vítimas e nãomarginais. Conheço muitosjovens que não conversamcom os pais, ou seja os paisnão conversam com os filhossobre a vida, eles pensamque o jovem não tem senti-mento. Eu não vejo os jovenscomo marginais mas simcomo vítimas da violênciae da falta de ações, projetose políticas públicas voltadospara a juventude. Não setraz um jovem de volta bri-gando com ele, e sim comamor e carinho”, conclui aíndia kaiowá.

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João Machado

Nas assembléias das liderançasindígenas e/ou autoridades go-

vernamentais em Dourados, as discus-sões são sempre as mesmas. Jovens vio-lentos se drogando, à noite os adultosnão podem mais sair pelas aldeias por-que adolescentes andam pelas estradasdas aldeias armados com facão, foice,pedaço de madeira e ameaçam...

Na Reserva de Dourados, vivemquase treze mil pessoas. Dessas, cercade 25% são jovens (adolescentes entre12 e 18 anos). Vivem num espaço deterra espremidos, não existem matas,nem rios. As condições naturais não sãoopções de distração ou lazer para osjovens, uma das razões do problema.

Por outro lado, o poder público nãooferece alternativas ou construções ar-

tificiais para amenizar a situação, vistoque jovens exigem prazer, lazer, condi-ções sócio-educativos, planos e perspec-tivas futuros. Eles são mais vítimas doque agressores.

Fui criado numa educação indíge-na tradicional, coisa que quase não exis-te mais na aldeia, poucas famílias sãoas que ainda a cultivam na atualidade.

Os estabelecimentos de ensino pú-blico formal (educativos, religiosos eculturais) estão impotentes para dar umaboa formação a eles, onde os mesmosacham um jeito próprio de vivência econvivência da sua maneira especifica.Às vezes, ficam à margem da socieda-de, até da própria comunidade étnica.

Quero acreditar que se concretiza-rem as demarcações das terras, antigosterritórios tradicionais, nas margens dasbacias dos rios do Estado de Mato Gros-so do Sul, espaço de terras suficientepara sobrevivência dos indígenas, edu-cação familiar, educação formal, lazer

e condições sustentável, com certezanão será preciso trazer Guarda Nacio-nal para apaziguar o cotidiano das al-deias. O que falta é vontade política esensibilidade humanitária.

Não somente os jovens Guarani/Kai-owá, Terena, porém, também a juventu-de não-indígena é vítima das mazelassociais. Não têm oportunidades, orienta-ções, condições educativas, formativaspara transpor dificuldades. O Estado tema obrigação de oferecer condições míni-mas de que eles precisam porque são ofuturo do país. Do contrário, que heran-ça deixaremos para as futuras geraçõesdesse Brasil plural e rico nas diferenças?

* É índio Kaiowá e professor daEscola Tengatuí Marangatu, naReserva Indígena de Dourados.

(contato: [email protected])

Mitã Russu / Kunhata´i Guasu Violentos

Tânia Porto

Os problemas de violência envolvendo jovens no Brasil são

bastante conhecidos e noticiados. NaReserva Indígena de Dourados não édiferente e até mesmo nas escolas hábrigas entre jovens. Em agosto deste ano,um caso chamou a atenção da comuni-dade: uma índia de 14 anos esfaqueououtra em frente à escola Tengatuí Ma-rangatu, localizada na Aldeia Jaguapi-ru, em Dourados.

Elias Moreira, coordenador da esco-la Tengatuí, relaciona o problema daviolência a questões familiares. “Mui-tas vezes os problemas são familiares enós não conseguimos controlar. De al-gum modo, transmitimos conhecimen-to para a comunidade, mas muitos paisconfundem educação escolar com edu-cação familiar. As famílias não compre-endem que a violência começa dentrode casa”, alerta.

Uma das possibilidades para dimi-nuir essa violência é o diálogo. Muitasvezes, os pais não dão carinho para osfilhos, não conversam para saber o queeles estão sentindo, o que eles têm. Ospais também têm que ouvir os filhos.

“O que nós fazemos com os alunos

A violêncianas escolas

Problemas entre alunos se originam fora dasescolas, mas são levados para dentro delas

violentos? Conversamos e perguntamospor que ele está agindo daquela manei-ra. Muitas vezes temos que administrare se for preciso chamamos os pais. Asbrigas são raras. Este ano ocorreu ape-nas um caso de briga bem pesado, queteve origem fora da escola, mas os alu-nos acabaram trazendo para dentro daescola”, conta Elias.

Segundo o coordenador da EscolaTengatuí, quando ficam sabendo de pro-blemas relacionados a violência, tentamfazer o mapa para localizar suas casas,conhecer suas famílias. “Agora, as pes-soas que não estudam na escola não sãoautorizadas a entrar. Deixamos a portafechada para evitar brigas. Se aparecealguma criança ou jovem que não estu-da ali, conversamos educadamente e ex-plicamos que se não for fazer atividadestem que se retirar”, reforça Elias.

O LADO DELESA reportagem do Jornal AJIndo en-

trevistou sete alunos da Reserva comidade entre 15 e 17 anos. Eles pedirampara não ser identificados. Na visãodeles, as pessoas praticam violência porfalta de educação. “Eles já são bemgrandinhos pra saber o que estão fazen-do, já sabem o que é bom e o que é

ruim. Têm que ter um pouco de vergo-nha”, defendeu um aluno.

Outro aluno afirma não ser violentopor não ter motivo para ficar brigandona escola. “Eu venho na escola pra es-tudar, não para brigar. Eu acho um ab-surdo brigar na escola. Deviam se jun-tar e praticar alguma atividade”, suge-re. “Eu só reajo se eu vejo que aquelapessoa veio para me matar. Mas paraque ficar brigando se tem várias coisasde bom pra fazer?”, indaga.

Há quem diga, ainda, que foge debriga e não se importa para o que vãodizer. “Quando uma pessoa vai brigarcomigo, eu corro ou vou embora, nãoimporta o que eles vão falar depois. Eupenso no meu futuro, em terminar o meuestudo e fazer faculdade, ter minha pro-fissão para não depender de ninguémdepois. Eu gostaria de ser enfermeira, egostaria que tivesse na escola uma qua-dra de vôlei de areia, um campo de fu-tebol, uma escola com bastante ativi-dade, um professor de basquete, um pro-fessor de capoeira um professor de dan-ça”, revela uma jovem.

Essas são as palavras dos alunos. Nomeio de tanta violência, existe aindauma possibilidade de diminuí-la dentroda escola: através de atividades.

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Trocando experiênciasJovens da AJI vão à Rússia para participar de

uma Feira Internacional do Livro e fazemintercâmbio de ideias com jovens de lá

Nilcimar Morales

A AJI – Ação dos Jovens Indígenasde Dourados – teve a oportunidade departicipar da Feira Internacional do Li-vro de Moscou, capital da Rússia, queaconteceu de 10 a 20 de junho de 2009.

O convite para nossa presença nesteevento veio da rofessora Galina Ershova,diretora de Centro Mesoamericano daUniversidade Estatal da Rússia, que visi-tou as aldeias indígenas de Dourados emfevereiro deste ano. Ela esteve na sededa AJI e acompanhou algumas ativida-des realizadas pela instituição.

Por acreditar em um trabalho quevem sendo desenvolvido há quase dezanos por jovens indígenas, por saber daimportância dos jovens indígenas tenta-rem alcançar um lugar de permanêncianeste mundo, buscando um futuro me-lhor para todos, Galina concluiu que otrabalho da AJI deve ser divulgado parao mundo todo e nos convidou para oevento na Rússia.

A AJI foi representada na Feira pormim, Nilcimar, e por Ermeson, compo-nentes da AJI. Estivemos em Moscou,onde apresentamos todos os trabalhos jádesenvolvidos pela AJI e outros que ain-da estão sendo realizados: vídeos, Jor-nal AJIndo, livro de fotografia. Inclusiveaconteceu lá o lançamento do segundolivro de fotos dos jovens da AJI, o Olha-res sobre o Futuro.

A Feira do Livro aconteceu na Uni-versidade Estatal de Rússia. O públicoeram os estudantes, que nos receberammuito bem.

TROCA DE EXPERIÊNCIASTivemos a oportunidade de fazer um

bate-papo com jovens não-índios daRússia e o que mais nos chamou aten-ção foi o modo de vida cotidiano deles.Aparentemente tudo é muito corrido,estão sempre preocupados com seu fu-turo, seus estudos. Existem vários pon-tos turísticos na cidade de Moscou queeles nem mesmo conhecem por falta detempo. Relataram que estudam demais,que a prioridade deles é o futuro. Elescontaram que recebem uma mesada dos

pais e, muitas vezes, só da para o gastoda Faculdade.

Ao compararmos com nossa realida-de, dissemos que os estudantes de nos-sas aldeias não têm “mesada”, nem ne-nhuma ajuda para se manter em condi-ções dignas de ter roupas e calçadosbons, etc. Não existem também políti-cas públicas para fornecer bolsas de es-tudo que ajudem financeiramente essesjovens daqui. É muito comum aconte-cer de jovens indígenas deixarem deestudar por não terem condições de com-prar material ou roupa para ir à escola.

Ainda sobre o intercâmbio com osjovens da Rússia, eles relataram que nãotêm livre expressão, liberdade de vida.Disseram que se fala que a Rússia é umpaís democrático, mas na realidade nãoé. “Sofremos com o preconceito, com afalta de liberdade de escolha. Nós nãopodemos escrever nada contra o Esta-do”, denunciaram.

Outro ponto levantado por eles foi aescolha de suas carreiras. Eles afirma-ram que muitas vezes não são eles pró-prios que escolhem a profissão, mas seuspais. E reclamam por isso.

Como nós aqui, um grande proble-ma que eles enfrentam é que tambémnão são ouvidos em seu próprio país. Ésemelhante à nossa situação: nós, jovens

indígenas de Dourados também não so-mos ouvidos, somos excluídos pelas li-deranças, e sempre ficamos de fora daspolíticas públicas.

Os jovens de Moscou gostaram mui-to da nossa metodologia de trabalho etambém vão passar a usar essas ferra-mentas: trabalho fotográfico, publicaçãode jornais e livros, produção de vídeos.

PASSEIOAlém da participação na Feira do

Livro de Moscou, visitamos as ruas histó-ricas e exploramos a cidade durante umasemana, período que passamos lá. Esti-vemos também na Dinamarca. Visitamosa sede da IWGIA (Grupo Internacionalde Trabalho sobre Assuntos Indígenas), nacapital desse país, Copenhagen.

Apreciar a beleza de uma culturadiferente, de um povo de outro conti-nente foi tudo de bom. Por isso não que-ro que fique só comigo, quero deixarescrito para todo o mundo ler.

Copenhagen

Ana Cláudia Souza

A segunda edição doFestival Vídeo Índio

Brasil 2009 aconteceu entreos dias 10 e 16 de agosto, noCineCultura, em CampoGrande. Durante o evento,aconteceram seminários, de-bates, exposições, exibiçõesde filmes e uma oficina deprodução de vídeo para in-dígenas.

O projeto contou com oapoio do Ministério da Cul-tura, por meio da Secretariada Identidade e da Diversi-dade Cultural (SID/MinC),com recursos de R$ 100 mildo Fundo Nacional de Cul-tura e do Programa Cultura

Vídeo Índio Brasil 2009Vídeo “De mão em mão”, da AJI, foi exibido na mostra que aconteceu em Campo Grande

Viva da Secretaria de Cida-dania Cultural. O Festivalcontou, também, com oapoio da Fundação Nacionaldo Índio (FUNAI) e do Minis-tério do Turismo.

Na manhã de terça-feira(11), teve início a série deseminários “A Imagem dosPovos Indígenas na Mídia”. Oprimeiro debate teve comotema “Políticas Públicas deCultura para os Povos Indíge-nas”. Participaram do seminá-rio, o coordenador geral deFomento à Identidade e Di-versidade Étnica da SID/MinC, Marcelo Manzatti, odiretor de Assistência da Fu-nai, Aloysio Guapindaia, e odiretor-presidente da Funda-

ção Municipal de Cultura,Athayde Nery. O debate foimediado pela jornalista Mar-garida Marques.

Logo depois foram exibi-dos mais dois filmes, entreeles o “De mão em mão”, umfilme produzido pela AJI –Ação de Jovens Indígenas deDourados, com a orientaçãodo jornalista Elton Rivas. Ofilme retrata a história do rou-bo de uma bicicleta, que éum acontecimento constan-te dentro da aldeia. O filmetem poucas falas, mas bas-tante conteúdo. Logo depoisdo filme, houve uma mesade debate da qual participoua equipe de produção do ví-deo: Emerson Machado, Nil-

cimar Morales, Elton Rivas,Ana Cláudia de Souza e Ja-queline Gonçalves. O públi-co gostou bastante; as pesso-as fizeram perguntas e tira-ram suas dúvidas.

Durante o Festival, fo-ram desenvolvidas atividadestambém na Aldeia UrbanaMarçal de Souza, na AldeiaÁgua Bonita, no Ponto deCultura Mukando Kandongo,na Casa Brasil - Instituto Del-ta de Educação, na Associa-ção de Moradores da VilaSanto Eugênio e na FundaçãoTia Olívia.

Ainda como parte das ati-vidades do Festival, foramrealizadas oficinas de produ-ção audiovisual, que desper-taram o interesse em váriosindígenas que se encontra-vam no local. Essas oficinasvieram com intuito de ensi-nar indígenas de diversas re-giões do Mato Grosso do Sula manusearem os instrumen-tos necessários para a produ-ção de vídeos, permitindo queeles mesmos mostrem à soci-edade seus costumes, crençase saberes, contribuindo ativa-mente para a difusão de suaspróprias culturas. Foram vári-as etnias reunidas num só lo-cal para que apreciassem otrabalho do outro.

O grupo de rap Bro MCs, formadopor cinco jovens indígenas da

Reserva Indígena de Dourados,participou junto com o Fase

Terminal, grupo de Hip Hop deDourados, do Festival RPB (Rap

Popular Brasileiro), que aconteceuno dia 3 de outubro no Rio de

Janeiro. Eles foram os vencedoresda etapa estadual e representaram

o Mato Grosso do Sul no Rio. ORPB é organizado pela Central

Única das Favelas (Cufa).

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Rússia

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Piadase Desenhos

Receita da tia Vera

Pudimde Milho

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É uma delicia e muitosimples de se preparar

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Um artigo de opinião,de autoria do jorna-

lista e advogado Isaac Duar-te de Barros Jr., publicado nojornal O Progresso, no dia 27de dezembro de 2008, e inti-tulado “Índios e o retroces-so...”, ainda continua susci-tando polêmica. Nesse artigo,o autor se dirigiu aos indíge-nas da região da Grande Dou-rados utilizando de termos pe-jorativos e ofensivos, taiscomo “bugre”, “malandros”,“vadios” e “agitadores”. Nomesmo texto, o articulistaainda afirmou que os índios“se assenhoram das terrascomo verdadeiros vândalos,cobrando nelas os pedágios ematando passantes assimcomo faziam os ladrões assal-tantes emboscados nas estra-das do passado”. E foi maisalém ao fazer a acusação deque “nas nossas fronteiras tu-piniquins [...] a bugrada estáexportando as madeiras no-bres das nossas florestas e osprodutos do subsolo, aquelemesmo que segundo a leimaior, pertence ao tesouronacional”. Disse ainda que acivilização indígena “nãodeu certo e em detrimentodisso foi conquistada pela in-teligência cultural dos bran-cos”. Defendeu a revogação

por Victor Mauro, cientista social

da tutela do Estado sobre osíndios e classificou de retró-grada a atitude de querer pre-servar a cultura indígena.

O mencionado artigo foiobjeto de denúncia que oMinistério Público Federal(MPF) impetrou contra o au-tor, pela incursão no delitoprevisto no artigo 20, § 2º, daLei nº 7.716/89: praticar e in-duzir a discriminação e o pre-conceito de raça ou etniaatravés de meio de comuni-cação social. Crime para oqual a lei estipula a pena dedois a cinco anos de deten-ção, além de multa.

O artigo causou grandeperplexidade para a socieda-de douradense por causa dosinsultos proferidos contra osindígenas de modo generali-zado, e em decorrência tam-bém do total desrespeito paracom a cultura das populaçõesautóctones.

Também provocou espan-to o caráter leviano de acu-sações como a de que os ín-dios estariam se benefician-do indevidamente da vendade recursos naturais e rique-zas minerais de patrimônio daUnião. Aliás, devemos lem-

brar que esta região era com-pletamente coberta por ma-tas quando habitada exclusi-vamente pelos índios. Quemderrubou as florestas para ven-der a madeira, causando sé-rios danos ambientais, nãoforam eles.

Só para se ter uma idéiado agravo cometido pelo ar-ticulista, o termo “bugre”, nodito popular, carrega umaconotação fortemente depre-ciativa que atribui aos índiosuma condição de animalida-de. Chamar um indígena de“bugre” soa tão ofensivoquanto chamar uma pessoanegra de “crioulo”.

Surpreendentemente, aOrdem dos Advogados do Bra-sil (OAB) Seccional MatoGrosso do Sul saiu em defesade Barros Jr., divulgando umanota de repúdio à Ação Pe-nal proposta pelo MPF e de-signando dois advogados paradefender o acusado. O Presi-dente da OAB-MS, Dr. FábioTrad, declarou à imprensa queconsidera injusto e arbitrárioo enredamento do caso emação criminal. Em sua opi-nião, isso fere o preceitoconstitucional da liberdadede expressão e manifestaçãode pensamento.

Particularmente, conside-ro muito problemático esseposicionamento da entidaderepresentativa dos advogados,que me parece, nesse caso,preocupada em oferecer umaproteção corporativista a umde seus membros, quandodeveria, ao contrário, censu-rar a infâmia que o mesmocometeu contra toda umacoletividade de pessoas.

A Constituição Federal,em seu artigo 3º, preconizacomo um dos objetivos fun-damentais da República Fe-derativa do Brasil a promoçãodo bem-estar de todos os seuscidadãos, “sem preconceitosde origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras for-mas de discriminação”. Oartigo nº 231 da mesma Car-ta Magna, assegura aos povosindígenas o reconhecimentode sua organização social,costumes, línguas, crenças etradições.

A nossa legislação reco-nhece o caráter multiculturale pluriétnico da Nação Brasi-leira. Assim sendo, na verda-de, o que viola o Estado De-mocrático de Direito e repre-senta um retrocesso é o des-respeito ao princípio da alte-ridade, como demonstrado,por exemplo, na atitude etno-cêntrica de afirmar que asculturas indígenas são menosavançadas do que a culturado branco e, portanto, nãomerecem ser valorizadas.

Penso que a liberdade deexpressão deve sim ser defen-dida com veemência, mas elanão pode servir de pretextopara legitimar a divulgaçãode pensamentos preconceitu-osos. Do contrário, corremoso risco de em breve assistir-mos nos meios de comunica-ção – livres de censura – apropagação de ideologiasperigosas como o nazi-fascis-mo, que pregam o ódio e aintolerância.

Parece-me que no casoaqui discutido, o MPF temtotal razão. Mesmo sem seroperador do direito, modesta-mente arrisco-me a supor quecabe condenação ao menci-onado advogado e jornalistapelo delito especificado. Pen-so também que tal condena-ção demonstraria definitiva-mente que no Brasil as leispenais se aplicam não ape-nas aos pobres e despossuídos,mas também às pessoas queocupam posição de maior sta-tus, poder e influência emnossa sociedade.

INGREDIENTES1 lata de leite condensado1 lata (média) de leite1 vidro de leite de coco1 lata de milho4 ovos2 colheres(sopa) de amido de milho3 colheres (sopa) de açúcar para caramelar.

MODO DE PREPAROColoque o açúcar para caramelar numaforma própria de pudim.Bata no liquidificador o leite condensado, oleite de coco, o milho com a água de dele, os ovos e oamido. Colocar na forma caramelizada e assar.

Intolerância, preconceito e retrocesso

Page 12: AJIndo - 01e08 · Receita da tia Vera Pudim de Milho É uma delicia e muito simples de se preparar Um artigo de opinião, de autoria do jorna-lista e advogado Isaac Duar-te de Barros

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Nilcimar, Jaqueline, Ana Corbett, Ana Claudia, Maria deLourdes, Emerson e Carlos Corbett, posam para fotos nolançamento do livro Olhares sobre o Futuro, em São Paulo

Ana Claudia e Jaqueline, integrantes da AJI, durante olançamento do livro Olhares sobre o Futuro, em São Paulo.

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