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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA
CURSO: GESTÃO EM ASSISTÊNCIA SOCIAL
NOTA 8,5
O USO DE DROGAS ENTRE MULHERES NA VULNERABILIDADE SOCIAL E SEUS IMPACTOS
ANA PAULA BEZUM
ORIENTAÇÃO: MS. CYNTHIA CÂNDIDA CORRÊA
COLIDER/2012
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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÀO DO VALE DO JURUENA
CURSO: GESTÃO EM ASSISTÊNCIA SOCIAL
DISCIPLINA: METODOLOGIA DE PESQUISA CIENTÍFICA
PROFESSORA MS. CYNTHIA CÂNDIDA CORRÊA
O USO DE DROGAS ENTRE MULHERES NA VULNERABILIDADE SOCIAL E SEUS IMPACTOS
ANA PAULA BEZUM
Trabalho de Conclusão de Pós-Graduação
apresentado à AJES – Faculdade do Vale do
Juruena, como requisito de obtenção do
título de Gestão em Assistência Social.
Orientadora: Cynthia Cândida Corrêa.
MARÇO/2012
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Dedico este trabalho a Deus, a minha família, aos amigos e aos professores que contribuíram para realização deste sonho.
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BEZUM, Ana Paula: O USO DE DROGAS ENTRE MULHERES NA VULNERABILIDADE SOCIAL E SEUS IMPACTOS. 2012. 37 Folhas. Trabalho de Conclusão de Pós-Graduação em Gestão em Assistência Social - Faculdade Vale do Juruena – AJES, Colíder, 2012.
RESUMO
A dependência química é um dos problemas sociais e de saúde mais significantes que afeta globalmente os grupos populacionais com características heterogêneas. O objetivo deste estudo é analisar as questões estruturais e conjunturais de mulheres usuárias de drogas ilícitas. Mulheres com problema de uso e abuso de drogas têm apresentado situações e necessidades específicas, é necessário estabelecer uma conexão de gênero e representações socialismo de drogas. Para fundamentar o estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, expondo a definição de drogas, a classificação e o conceito moral da mesma. Contextualizando as diferenças de gênero e as consequências físicas, psicológicas e sociais. Foi realizada uma pesquisa de campo de caráter exploratório-descritiva, com finalidade de analisar e esclarecer em que condições mulheres usuárias de drogas vivem e suas perspectivas de futura para seus filhos. Este trabalho ressalta a importância das políticas públicas através do profissional de Serviço Social e outros para o enfrentamento e a reinserção dessas mulheres na sociedade. A análise do documento foi feita com abordagem qualitativa, visto que esta modalidade fornece uma compreensão mais profunda dos fenômenos sociais. E conclui que mulheres com problemas com drogas é um assunto complexo, reafirmamos assim a necessidade de ações diferenciadas para mulheres usuárias de drogas, e a partir do contexto recomendamos a extensão deste estudo.
Palavra-chave: Drogas, Mulheres usuárias, Políticas Públicas.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPC – Benefício de Prestação Continuada CAPS – Centro de atenção Psicossocial CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social CRAS – Centro de Referência de Assistência Social LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social LSD – Dietilamida Ácido Lisérgico MT – Mato Grosso OMS – Organização Mundial de Saúde PAIF – Programa de Atenção Integral a Família PNA – Política Nacional sobre o Álcool PNAD – Política Nacional sobre Drogas PROJOVEM – Programa de Atenção ao Jovem PRONASCI – Programa nacional de Segurança Pública e Cidadania SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas SNC – Sistema Nervos Central SPA – Substância Psicoativa SUS – Sistema Único de Saúde
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................09
1.1 DROGAS..............................................................................................................09
1.1.1 Classificação das drogas...................................................................................09
1.1.2 Conceito moral das drogas................................................................................10
1.2 CONSEQUÊNCIAS FÍSICAS, PSICOLÓGICAS E SOCIAIS. ............................12
1.3 CONTEXTO FAMILIAR DAS MULHERES..........................................................13
1.3.1 Diferenças entre os gêneros.............................................................................13
1.4 PAPÉIS DO SERVIÇO SOCIAL NA REINSERÇÃO ATRAVÉS DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS.................................................................................................................16
CAPÍTULO II – METODOLOGIA...............................................................................23
CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.........................................24
3.1 RESIDENCIAL SANTA PAULINA EM COLÍDER/MT.........................................24
3.1.1 Análise dos resultados da pesquisa..................................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................32
REFERÊNCIAS..........................................................................................................35
APÊNDICE.................................................................................................................37
QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA FEITA A ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS DE
COLÍDER...................................................................................................................38
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INTRODUÇÃO
O presente estudo refere-se a uma pesquisa acerca da dependência
química de mulheres na vulnerabilidade social do residencial Santa Paulina de
Colíder/MT de abrangência do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
do município, onde serão discutidos seus impactos no âmbito familiar, e
principalmente o papel da família e do Serviço Social no processo de recuperação.
A idéia deste trabalho surgiu das inquietudes da vivência profissional como
assistente social. A pergunta, como lidar com usuários de drogas está presente nas
diversas áreas de atuação, seja no atendimento social, em reuniões clínicas de
equipe, em encaminhamentos, orientações, consultorias e capacitações. Buscar
compreender as usuárias em aspectos de gênero, representações sociais e os
impactos no contexto familiar.
O objetivo deste estudo é analisar as condições de vida de mulheres
usuárias de drogas do município de Colíder, em relação a gênero e representações
sociais. Para atingir esse objetivo será necessário explicar o conceito de drogas,
analisar as conseqüências do uso das drogas para as mulheres e para a família,
fundamentar a questão de gênero e representação social e reconhecer o papel da
família, do Assistente Social e das políticas públicas na reinserção dessas mulheres
na sociedade. Através das políticas públicas do município de Colíder é possível
reinserir essas mulheres na sociedade?
A pesquisa desenvolvida se justifica pela necessidade de promover maiores
debates sobre as demandas das mulheres dependentes químicas, tendo como foco
as relações de gênero e as representações sociais, favorecendo uma postura
transformadora no tratamento visando às particularidades do ser mulher.
A mulher, apesar de ser reconhecidamente parte fundamental do
desenvolvimento econômico e social, seja de que classe for ainda sofre preconceitos
no que se refere a comportamentos tidos como anti-sociais. O estigma social ainda
presente quanto ao uso de substâncias psicoativas remetem-na ao tempo em que
era tido como pessoa incapaz de tomar decisões, produzir e ser independente.
A dificuldade em tratar o enfrentamento de uma doença repleta destes
estigmas é notadamente, um fator entre outros e implica na demanda de um serviço
especializado. O desenvolvimento e comprometimento dos profissionais envolvidos
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trarão em médio e longo prazo, resultados que irão melhorar sobremaneira a
qualidade de vida de uma parte excluída da população. Por sua vez isso refletirá na
vida daqueles que cercam estas mulheres e que delas dependem com a vida
alcançar uma forma digna de prosseguir, com seus filhos, cônjuges e outros
familiares.
Numa sociedade marcada por diversos fatores de exclusão social,
verificamos um (nome) problema societário que se resume, de acordo com linguajar
popular, (denominamos de) “Drogas”.
Este trabalho vai tentar mostrar o desafio de buscar uma resposta de uma
questão que envolve a complexidade e a imprevisibilidade do processo de uso
de drogas associado à possibilidade de co-construção de alternativas para
mulheres que sofrem por serem mulheres usuárias.
Ao serviço social, trabalhando em diversos campos das políticas sociais,
principalmente no campo da saúde mental, depara-se diariamente com inúmeros
usuários, solicitando alguma forma auxilio para extrair o vicio de suas vidas.
Há que ressaltar que a dependência química não se constitui em um
problema isolado, que foge às determinações da questão social. Mas, há que se
entender, também, que a nós, assistente social cabe intervir frente às expressões
sociais da questão social, buscando, com consciência, no âmbito das possibilidades
e limites da nossa intervenção profissional, contribuir para que os indivíduos –
pessoas - já vitimados por uma política econômico-cultural e social excludente
possam (re) construir seus espaços de autonomia e decisão.
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CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 DROGAS
Droga, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde
(OMS), é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade
de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu
funcionamento.
Existem substâncias que são usadas com a finalidade de produzir
efeitos benéficos, como tratamento de doenças, e são consideradas medicamentos.
Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde, os venenos ou
tóxicos. É interessante que a mesma substância pode funcionar como medicamento
em algumas situações e como tóxicos em outras.
1.1.1 Classificação das drogas
Drogas lícitas são aquelas comercializadas de forma legal, ou não
estar submetidas a algum tipo de restrição. Drogas ilícitas são proibidas por lei.
A lei brasileira proibia, com pena de prisão, a posse, a aquisição, o
transporte de substâncias entorpecentes (drogas ilícitas) para uso próprio (Lei nº
6.368/76). A Lei nº 11.343/06 (Nova Lei de Drogas), que se encontra em vigor,
também proíbe essas mesmas condutas, entretanto com outras modalidades de
sanções, diferentes da prisão (cadeia). A opção da nova lei foi a de manter a
proibição em relação ao usuário, porém com mais tolerância. É aquilo que a doutrina
denomina de "despenalização", o que não se confunde com "permissão/liberação". A
conduta continua sendo ilícita/proibida.
Existe uma classificação de interesse didático nas ações sobre o
Sistema Nervoso Central (SNC) no comportamento da pessoa que utiliza a
substância. São elas:
Drogas depressoras da atividade mental (álcool, barbitúricos,
benzodiazepínicos, opióides, solventes ou inalantes);
Drogas estimulantes da atividade mental (anfetaminas, cocaína);
Drogas perturbadoras da atividade mental (maconha, alucinógenos,
dietilamida do ácido lisérgico – LSD, ecstasy, anticolinérgicos).
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A seguir são as drogas lícitas, ou seja, que são comercializadas de
forma legal. São elas:
Tabaco;
Cafeína;
Esteróides anabolizantes.
1.1.2 Conceito moral das drogas
A utilização das drogas não representava, em geral, uma ameaça à
sociedade, pois seu uso estava relacionado aos rituais, aos costumes e aos próprios
valores coletivos e, ainda, não se sabia dos efeitos negativos que elas poderiam
causar não havia estudos científicos.
Foi somente no final do século XIX e início do século XX, com a
aceleração dos processos de urbanização e industrialização e com a implantação de
uma nova ordem médica que o uso e abuso de vários tipos de drogas passaram a
ser problematizados. Assim, seu controle passou da esfera religiosa para a da
biomedicina, inicialmente nos grandes centros urbanos dos países mais
desenvolvidos do Ocidente (McRae, 2007).
A questão do envolvimento de pessoas com álcool e outras drogas
vai além da simples busca dos efeitos dessas substâncias. Diversas causas para o
uso de drogas podem ser consideradas: a disponibilidade dessas substâncias, a
imagem ou as ideias que as pessoas fazem a respeito das drogas, as características
de personalidade, o uso de substâncias por familiares ou amigos e assim por diante.
O uso de drogas que alteram o estado mental, chamada de
substância psicoativa (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente
vai acompanhar toda a história da humanidade. Quer seja por razões culturais ou
religiosas, por recreação ou como forma de enfrentamento de problemas, para
transgredir ou transcender, como meio de socialização ou para se isolar o homem
sempre se relacionou com as drogas.
No entanto, o conceito, a percepção humana e o julgamento moral
sobre o consumo de drogas evoluiu constantemente e muito se baseou na relação
humana com o álcool, por ser ele a droga de uso mais difundido e antigo. Os
aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e discutidos nos últimos
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dois séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas sobre os usuários,
vistas muitas vezes como “possuídos por força do mal”, portadores de graves falhas
de caráter ou totalmente desprovidas de “força de vontade” para não sucumbirem ao
“vício”.
Dentre os diversos tipos de informação sobre a problemática do uso
de drogas, os dados epidemiológicos são muito importantes. Programas, políticas e
ações de prevenção e tratamento, quando desenvolvidos a partir de conhecimento
ais profundo dos tipos de drogas utilizadas, suas conseqüências e a quantidade de
indivíduos que as utilizam (prevalência) ou começam a utilizá-las (incidência), têm
maior chance de alcançar seus objetivos, pois se baseiam em informações mais
apuradas acerca da realidade que pretendem modificar.
Mesquita (1992), partindo de uma análise contextual, discute a
magnitude do problema social, político e econômico das drogas. No nível micro, ela
emprega milhares de pessoas que sobrevivem do pequeno tráfico. No macro, diz
ele, a droga movimenta recursos da ordem de terceiro volume, perdendo apenas
para petróleo e armamentos. O combate às drogas implica desta forma, no
enfrentamento de poderosos interesses políticos e econômicos. Este mesmo tipo de
análise é realizado por Procópio (1999) em estudo no qual demonstra que as
características estruturais do narcotráfico no Brasil, como país de trânsito,
diferenciando historicamente dos países produtores ou prevalentemente
consumidores. Segundo o autor, esta característica fez com que os grupos atuantes
nesse segmento do narcotráfico, no caso brasileiro, vinculassem-se,
operacionalmente, às duas pontas do processo.
O crescimento de seu consumo aponta para a existência de um
mercado de drogas clandestino que produz, distribui e comercializa seu produto. A
organização e a eficácia deste mercado expõem ainda as relações socioeconômicas
que o sustentam. Não cabe adotar, portanto, a postura ingênua de considerar o uso
de drogas como decorrente apenas de mero ato volitivo do indivíduo. Mostra-se
evidente a inter-relação e a interdependência existente entre o usuário e o contexto
que o circunda.
A vulnerabilidade às drogas é potencializada para os jovens, tanto
do sexo masculino e do feminino de baixa renda e baixa escolaridade – a maioria
em nosso país – por fatores como a exposição diária à violência; a desmotivação em
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relação à escola; a falta de perspectivas de um futuro melhor; e os infindáveis apelos
de consumo e lazer – sempre inalcançáveis. E, seguramente, o risco representado
pelas drogas será avaliado e hierarquizado de forma comparativa aos outros tantos
riscos presentes em suas vidas. A capacidade de se proteger.
Como nos diz Olievestein (1985), as experiências dos usuários de
drogas não são empreendidas de forma solitária ou voluntariamente. Eles as
realizam no interior de uma história, de um contexto socioeconômico, imersos em
momentos socioculturais, vinculados a sistemas familiares e condicionados pela
manipulação e apelo da sociedade na qual vivem. A ingestão de drogas funde-se,
portanto, com os dados desta história.
Trata-se, no entanto, de um desafio que vale a pena correr, pois
esperamos poder contribuir para o debate sobre as políticas públicas voltadas para o
enfrentamento deste problema.
1.2- CONSEQUÊNCIAS FÍSICAS, PSICOLÓGICAS E SOCIAIS.
Embora as conseqüências físicas sejam as mesmas para os dois
sexos, a dependência se instala mais rapidamente na mulher. O especialista explica
que, por isso, a progressão da doença também é mais veloz e a sua ação é mais
devastadora no organismo feminino. As drogas, ditas "legais" como álcool,
tranqüilizantes, antidepressivos e inibidores de apetite, entram lentamente no
universo feminino, como válvula de escape e de forma destrutiva podem geram
danos gravíssimos para a saúde, além de prejudicar o relacionamento com familiares
e amigos.
Alguns levantamentos apontam que o número de mulheres de
meia-idade que sofrem com o alcoolismo, também está aumentando. Entre elas,
muitas são donas de casa, que na maioria das vezes nunca trabalharam fora, outras
sofrem com a menopausa e existem, ainda, aquelas que se sentem sozinhas com a
partida dos filhos. Outro agravante, no entender do terapeuta, desta vez para as
mais jovens, é a busca frenética pelo corpo ideal e a urgência em emagrecer, fatores
que tornam a mulher um alvo da dependência por inibidores de apetite, as
conhecidas anfetaminas.
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O desenvolvimento do alcoolismo em mulheres passa por diferentes
caminhos daqueles que ocorrem com os homens. Distintas respostas são
encontradas quando se discute essa problemática. Partindo do ponto de vista
biológico, as mulheres são metabolicamente menos tolerantes ao álcool do que os
homens. Seu peso e a menor quantidade de água corporal, em detrimento da maior
quantidade de gordura, associado a menor quantidade de enzimas metabolizadoras
de álcool, implica o fato de que a intoxicação ocorra com o uso de metade da
quantidade usada pelo homem. A vulnerabilidade para o desenvolvimento de
complicações clínicas é maior entre as mulheres, e as mesmas sofrem mais risco de
mortalidade que os homens. Também apresentam maior percentagem para
desenvolver doenças hepáticas como cirrose, mesmo tendo consumido álcool por
um período menor.
A literatura ressalta que apesar da dependência alcoólica entre
mulheres apresentar um curso diferente, não justifica o pior prognóstico em relação
aos homens e que a recuperação para elas em relação ao tempo de tratamento é
semelhante. Quando a mulher procura tratamento, tem maior probabilidade de
recuperação, na medida em que percebe a gravidade do problema e procura
maneiras de enfrentá-lo, mesmo com os poucos serviços que ofereçam atenção
específica para elas.
De maneira geral, as mulheres consomem álcool de forma menos
freqüente do que os homens. Apesar da menor pressão social para iniciar o
consumo do álcool, em detrimento da maior pressão para parar o uso, o julgamento
social em relação à mulher usuária de álcool continua sendo muito árduo.
1.3- CONTEXTO FAMILIAR DAS MULHERES
1.3.1 Diferenças entre os gêneros
A influência da família e a responsabilidade pela socialização de
seus filhos aumentam a complexibilidade no papel dos membros da família.
Um papel importante para aqueles que na família é que a mãe,
como descrita por Mercer, que declara que “este papel se inicia no começo da
gravidez, com a mãe assumindo a responsabilidade por cuidar do bebê”. A
habilidade das crianças de se relacionar com outras são influenciadas pela qual
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idade da criação que elas recebem que é vista como um processo que fortalece o
bem-estar afetivo e emocional do indivíduo.
Portanto, é necessário relatar que cada ser humano é único de uma
história de vida, e é por isso, que se faz necessário em primeiro momento entender
e compreender os fatores determinantes da situação problemática, que seja capaz
de levar muitas pessoas ao uso de substâncias que marcaram as desgraças de suas
vidas.
O termo „gênero‟, além de um substituto para o termo mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer informação sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica o estudo do outro (SCOTT, 1990:75).
A definição de papéis nas relações sociais de gênero está
diretamente ligada às próprias identidades historicamente constituídas e que
passam de geração a geração, formando, no senso comum, modelos de
comportamento no interior das relações afetivas.
Na dependência química, homens e mulheres têm motivações,
comportamentos e respostas fisiológicas diferentes. Em geral, as mulheres se
iniciam nas drogas através dos companheiros, enquanto os homens o fazem com os
amigos.
No caso de dependência do álcool, as mulheres, por serem mais
censuradas socialmente, bebem predominante, em casa, às escondidas. Os homens
já o fazem em público, em bares com os companheiros e voltam para casa
embriagados.
A diferença também se faz notar na expectativa das mulheres em relação à ajuda.
Elas esperam um tratamento abrangente que venha curar não só a dependência,
mas, principalmente, as suas dificuldades emocionais e de vida. A falta de creche,
de ajuda legal e de emprego deixa a mulher mais dependente financeiramente.
Enquanto a mulher alcoolista é mais encorajada a procurar ajuda especializada
pelos pais e filhos, o homem é estimulado pela companheira.
As mulheres consumidoras de drogas cometem menos crimes
contra a propriedade do que os homens e tendem mais freqüentemente a financiar
os seus hábitos de consumo através da prostituição. O consumo de medicamentos,
como as benzodiazepinas é mais comum entre as mulheres e as diferenças tornam-
se mais evidentes com a idade. O estigma social relativamente baixo associado ao
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consumo lícito ou ilícito de medicamentos, comparativamente com as drogas ilícitas,
desempenha um papel notório, embora as conseqüências de um consumo regular
ao nível de saúde sejam consideráveis.
O número crescente de crianças nascidas de mães consumidoras de
drogas representa um elevado risco de desenvolvimento nessas crianças de
problemas relacionadas com a droga, e a forma como as crianças são afetadas pelo
consumo e dependência dos pais suscita grande preocupação.
O rácio entre o número de mulheres e o de homens consumidores
de droga em tratamento tende a ser inferior a um para três. Refere-se que uma das
razões principais da baixa representação das mulheres no tratamento se prende
com a maternidade: muitas das pacientes têm pelo menos uma criança, e muitas
vezes estão demasiadas ocupadas com a educação dos filhos para poderem seguir
um programa de tratamento ou recuar serem consideradas inaptas como mães e
perder os filhos, caso decidam submeter-se a tratamento.
As diferenças fisiológicas levam a mulher a uma vulnerabilidade
maior para todas as drogas. As mulheres têm mais gordura corpórea
proporcionalmente a água e apresenta níveis menores de enzima álcool-
desidrogenase (enzima que ajuda a metabolizar o álcool ingerido), o que faz com
que elas absorvam 30% mais do álcool ingerido que os homens e apresentem uma
alcoolemia maior.
Com isso, as mulheres dependentes de drogas ou álcool são mais
penalizadas porque têm cerca de 1 a 2 vezes mais chances do que os homens de
contraírem complicações clínicas. Doenças como pancreatite, cirrose e neuropatias
aparecem de forma mais grave nelas do que neles. A mortalidade também é
diferente entre homens e mulheres alcoolistas. A idade média de vida delas diminui
cerca de 15 anos.
O aconselhamento nutricional é importante para estabelecer uma
dieta balanceada, já que muitas jovens se aproximam das drogas por medo de
engordar ou por distúrbios nutricionais. O aconselhamento legal ajuda a lidar com as
questões de Direito familiar decorrentes da dependência química, como perda da
guarda dos filhos ou abandono financeiro.
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A atenção às famílias vem sendo valorizado e integrado ao
tratamento da dependência química, pois, deparamos com um processo recursivo
produzido nas relações interpessoais diante do problema das drogas no sistema
familiar.
1.4 PAPÉIS DO SERVIÇO SOCIAL NA REINSERÇÃO ATRAVÉS DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS
Contextualizando a realidade brasileira a questão das drogas é
objeto de políticas públicas. A política pública da Secretaria Nacional Antidrogas,
órgão ligado à Presidência da República, busca dentre outras diretrizes garantirem,
incentivar e articular, o desenvolvimento de estratégias de planejamento e avaliação
nas políticas de educação, assistência social, saúde e segurança pública, em todos
os campos relacionados às drogas.
O assistente social trabalha com as diversas relações sociais
desenvolvidas nos vários tipos de organizações que compõe a sociedade. Assim, as
influências históricas, as vivências pessoais, os meios de atuação tornam-se
singulares a cada situação problema. As explicações científicas dos fenômenos
sociais, muitas vezes, ficam distantes da situação apresentada no processo da
atividade profissional.
Os enfrentamentos a partir da ação profissional expresso no
cotidiano de trabalho, que são o resultado de múltiplas determinações, justificam a
ânsia humana pelo conhecimento que leva cada um de nós a buscar respostas aos
desafios que, como este, está intimamente relacionado à satisfação de nossas
necessidades, sejam de alimentos ou de conhecimento.
No que diz respeito ao segmento “mulheres”, em muitas situações, o
assistente social se depara com conflitos familiares, violência doméstica, depressão
feminina, entre outras questões que poderiam ser enunciadas e que dizem respeito
à problemática feminina. O atendimento às mulheres que apresentam esses e outros
problemas requer, muitas vezes, o levantamento de sua vida familiar, inclusive o
processo de formação, educação que vivenciam ao longo de suas vidas.
Portanto, entender como ocorre o processo educacional da mulher
possibilita uma atuação com maior profundidade.
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Nesse sentido, quando atua com mulheres o assistente social pode
investigar as questões pertinentes a esse segmento, analisando tanto as
necessidades colocadas às mesmas no final do século XX, quanto verificá-las em
outros momentos históricos. Ao realizar esse resgate histórico em diferentes
sociedades, o profissional compõe, aos poucos, o arcabouço teórico necessário para
intervir de maneira crítica, utilizando-se de outras disciplinas que analisam a
situação feminina em outras condições históricas, para compreender e analisar a
problemática feminina de seu tempo.
Os crescentes índices de criminalidade, assim como as múltiplas
relações observadas na associação entre drogas e violência configuram um
panorama complexo e preocupante, com desafios cada vez maiores. Essa realidade,
que tem nos jovens brasileiros, o alvo principal das estatísticas, requer uma
intervenção integrada com respostas eficazes do governo e da sociedade.
Somar esforços para intervir conjuntamente em resposta ao desafio
imposto pela associação drogas, violência e juventude é a proposta do programa
“Ações Integradas na Prevenção ao Uso de Drogas e Violência”, um trabalho da
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República, em parceria com o Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) do Ministério da Justiça.
A Senad é o órgão responsável pela articulação e integração entre
governo e sociedade, das ações de prevenção ao uso indevido de drogas,
tratamento e reinserção social de usuários e dependentes. Cabe à Senad estimular,
assessorar, orientar, acompanhar e avaliar a implantação da Política Nacional sobre
Drogas (Pnad) e da Política Nacional sobre o Álcool (PNA).
Assim como a Senad, o Pronasci, no contexto das diretrizes
estabelecidas pelo Sistema Único de Segurança Pública, tem como eixo a
articulação das ações em nível federal, estadual e municipal, reconhecendo, porém,
que o desenvolvimento da comunidade ocorre a partir do município. Portanto, seu
foco de atuação é voltado, cada vez mais, ao poder municipal. O Pronasci destina-
se a articular ações de segurança pública com diferentes políticas sociais,
priorizando ações de prevenção e buscando atingir as raízes da violência.
Com base na percepção dessa realidade, o programa “Ações
Integradas na Prevenção ao Uso de Drogas e Violência” desenvolverá ações, tanto
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de natureza preventiva, como de tratamento e reinserção social, visando à redução
da criminalidade associada ao uso indevido de álcool e outras drogas, o
fortalecimento da rede social e de saúde e o melhor acesso aos serviços
disponíveis. Simultaneamente a essas iniciativas, os órgãos de segurança pública
intensificarão as ações de repressão ao tráfico de drogas.
O público-alvo é a população jovem, seus familiares e respectivas
comunidades, além dos segmentos específicos contemplados em cada ação
executada, através da capacitação de profissionais e lideranças comunitárias.
O programa está organizado em três componentes de atuação, que
irão acontecer simultaneamente ao longo de sua execução:
I - MOBILIZAÇÃO
Mobilização política junto a membros dos poderes Executivo,
Legislativo, Judiciário e pessoas chave da comunidade, responsáveis por levar a
termo as ações planejadas em nível institucional nas regiões metropolitanas
contempladas pelo programa. A mobilização tem como objetivo o estabelecimento
de alianças e adesões que garantam a implementação concreta das ações
previstas. Nesta etapa, terá início uma ampla campanha publicitária para divulgação
do programa nas localidades abrangidas.
II - PREVENÇÃO
No município, melhor que reprimir é unir forças para prevenir e ficar
atento para evitar, impedir, retardar ou reduzir o uso, o abuso ou a dependência de
drogas. Nesse sentido, a prevenção ao uso de drogas e de outros comportamentos
de risco para a violência será potencializada nos Territórios de Paz, por meio da
disseminação sistemática de informações qualificadas sobre drogas e da
capacitação de profissionais e lideranças comunitárias, para que possam atuar como
multiplicadores de informação, capazes de abordar de forma adequada e
encaminhar as situações identificadas em suas comunidades.
A previsão é capacitar cerca de 80 mil pessoas em 10 diferentes
cursos, voltados à prática diária dos diferentes atores. Dentre eles estão:
conselheiros municipais, assistentes sociais, professores, profissionais de segurança
pública, policiais rodoviários federais e estaduais, profissionais de saúde da rede
básica, lideranças religiosas, operadores do direito, profissionais de saúde,
segurança do trabalho e recursos humanos.
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Além de toda a capacitação, serão implementados projetos sociais
identificados como “boas práticas” em diversas partes do Brasil. Esses projetos já
vêm sendo desenvolvidos com sucesso por instituições, organizações e associações
não governamentais que atuam fortemente na melhoria das condições de vida das
comunidades e que, em parceria com o governo, fortalecem e ampliam o alcance
das políticas sociais. Para este programa, a Senad e o Pronasci selecionaram três
projetos que se destacam pelo impacto alcançado junto à população e que serão
implementados simultaneamente. São eles:
- O Projeto Lua Nova de reinserção social de jovens mães, usuárias
de drogas em situação de vulnerabilidade;
- A Terapia Comunitária, que busca a solução de problemas pela
própria comunidade, por meio da formação de uma rede solidária de acolhimento e
encaminhamento;
- O Consultório de Rua que leva atendimento psicológico, médico e
social até adolescentes e jovens em situação de rua.
Todas as ações de prevenção serão complementadas com a
distribuição de materiais de orientação sobre drogas, prevenção, tratamento e
reinserção social. O objetivo é fornecer informação e orientação para públicos
específicos, com enfoque na perspectiva de educação e de mobilização comunitária.
III - TRATAMENTO E REINSERÇÃO SOCIAL
O Programa Ações Integradas prevê iniciativas para aperfeiçoar a
rede de serviços existente, articulando os diferentes recursos governamentais
disponíveis para o tratamento e a reinserção social de usuários e dependentes de
drogas, com outros recursos comunitários. Como parceiros importantes, contará
com o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Social, além de outros
órgãos de governo e organizações não governamentais.
Uma metodologia foi desenvolvida para ampliar, articular e fortalecer
uma verdadeira rede de atenção integral:
- Mapeamento de programas, projetos e serviços governamentais
disponíveis no município, que atuem diretamente no atendimento a pessoas em
situação de vulnerabilidade vinculada ao consumo de drogas. Alguns exemplos:
hospitais públicos, centros de saúde, Caps, Caps AD, Centros de Referência de
Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializada de Assistência
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Social (Creas), albergues, abrigos, Mulheres da Paz, Projovem, Bolsa Família, entre
tantos outros.
Os CapsAD foram criados, a partir de 2002, com o objetivo de
oferecer atendimento para pessoas que têm problemas com o consumo de álcool e
drogas. É um Centro de Atenção Psicossocial e uma política ministerial, que vem
junto com a reforma psiquiátrica e prevê ofertar o tratamento à população que
enfrenta problemas pelo uso de substâncias como o álcool e outras drogas.
A proposta é trabalhar com projetos terapêuticos, entendendo que
cada um tem uma demanda, uma necessidade, e que temos que particularizar os
projetos e não pensar somente de uma maneira, por exemplo, trabalhar só com a
proposta da abstinência, como se ainda idealiza muito nos tratamentos de
dependência química. É lógico que é algo interessante, mas que nem todos
conseguem aderir, e o nosso objetivo é oferecer o acesso ao tratamento a toda
população que tem algum tipo de problema com uso de álcool e drogas.
- Mapeamento das organizações não-governamentais existentes nas
localidades, identificando a natureza dos serviços, as metodologias e a estrutura de
funcionamento, com vistas à valorização das ações comunitárias e ao
aperfeiçoamento da prestação dos serviços. Alguns exemplos: comunidades
terapêuticas, clínicas e hospitais particulares, grupos de ajuda mútua, associações
comunitárias, entre outros.
- Integração dos serviços e instituições de diferentes naturezas,
visando ao fortalecimento da rede de proteção social disponível.
- Criação de um fluxo de acolhimento, encaminhamento e
acompanhamento dos usuários e dependentes de drogas, que permita a
combinação de ações com a adequada utilização dos recursos disponíveis para o
gerenciamento e a resolução de cada caso.
- Ampliação e fortalecimento da rede de serviços disponíveis por
meio de:
a) Lançamento de edital público de apoio financeiro a projetos que
contemplem a melhoria e/ou adequação das estruturas físicas e de equipamentos de
impacto direto na provisão dos serviços;
21
b) Capacitação específica em modelos e técnicas de tratamento e
reinserção social para os profissionais da rede de saúde e de outras instituições
comunitárias de tratamento;
c) Criação, no âmbito das universidades federais parceiras, de curso
de especialização latu sensu e de mestrado profissionalizante em tratamento;
d) Criação de novos recursos especializados em tratamento de
acordo com as necessidades identificadas.
- Georeferenciamento da rede de serviços existente no município,
como uma das ferramentas de apoio aos profissionais para o encaminhamento dos
usuários, assim como na identificação de necessidade de ampliação de cobertura da
rede.
- Elaboração e distribuição de um guia de endereços e de orientação
sobre a utilização dos recursos componentes da rede local.
- Implantação, nos municípios de abrangência deste programa, do
Plano Emergencial de Ampliação do acesso ao Tratamento e Prevenção em álcool e
Outras Drogas do Ministério da Saúde.
- Criação e/ou fortalecimento dos conselhos municipais sobre
drogas.
O Programa é de implantação imediata e a gestão de todas as
ações previstas será feita em parceria pela Senad e pelo Pronasci, por meio dos
Gabinetes de Gestão Integradas dos municípios, com o apoio de universidades e
organizações sociais parceiras. O monitoramento e a avaliação das ações do
programa serão realizados por uma Instituição de ensino superior independente,
especializada em avaliação de políticas públicas.
O investimento nos municípios integrantes dos cinco Territórios de
Paz mencionados prevê recursos na ordem de R$ 54.000.000,00 (cinqüenta e
quatro milhões).
Com relação a como as organizações vão aos encontros das
necessidades das mulheres usuárias são apontados alguns caminhos:
- Construir áreas de confiança /confidência;
- Lidar com suas necessidades imediatas e continuadas;
- Lidar com seus problemas psiquiátricos;
- Providenciar novas oportunidades;
22
- Descobrir outras necessidades.
O princípio básico do tratamento concentra-se numa abordagem
focada na mulher usuária, para além do seu uso de drogas, compreendendo que o
problema do uso de drogas não está isolado das outras necessidades das mulheres.
Dessa forma, o máximo de oportunidades a elas disponibilizadas para mudarem de
vida, minimizando os prejuízos já causados pelo uso de drogas é fator fundamental
em sua adesão e evolução.
Com as conquistas no plano dos direitos sociais, no âmbito da
Constituição Federal e do SUS, é garantido aos usuários de serviços de saúde
mental – e, conseqüentemente, aos que sofrem por causa de transtornos
decorrentes do consumo abusivo de álcool e outras drogas – a universalidade e
totalidade de acesso e direito à assistência. Preconiza-se, também, a
descentralização do modelo de atendimento, quando se determina a estruturação de
serviços mais próximos do convívio social de seus usuários, configurando redes
assistenciais mais atentas às desigualdades existentes, ajustando as ações de
forma equânime e democrática às necessidades da população.
23
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
A pesquisa realizada é de campo básico a título de conhecimento e quanto
ao objetivo é de caráter exploratório-descritiva e utiliza-se de abordagem qualitativa.
A pesquisa de campo é uma forma de coleta que permite obtenção de dados
sobre um fenômeno de interesse, da maneira como este ocorre na realidade
estudada.
Em estudos exploratórios, onde as informações necessárias para a
construção da pesquisa estão sendo ainda conhecida, a amostra intencional pode
até mesmo ser mais útil que a aleatória, já que não há, neste momento, a intenção
de se fazer inferências que possam ser consideradas como representativas da
população como um todo, mas sim levantar algumas hipóteses e testar variáveis
capazes de explicar melhor o fenômeno a ser estudado.
Construir métodos ou um modelo de entrevista é pontos fortes para
elaboração de um plano de intervenção, pois as decorrências vivenciadas pelos
usuários estão interligadas com sua história de vida. É preciso resgatar fatos
passados, presentes e suas perspectivas para o futuro.
Para obtenção de dados foram utilizadas coletas bibliográficas e
documentais, e um questionário para Assistente Social do CRAS – Centro de
Referência de Assistência Social do município de Colíder, que atende o Residencial
Santa Paulina de Colíder, pois o Residencial faz parte do território de abrangência
do CRAS. O questionário foi realizado no CRAS no mês de fevereiro de 2012
através de perguntas abertas sobre as mulheres usuárias de drogas do Residencial.
O questionário foi respondido só pela a Assistente Social que atendeu no
espaço do CRAS e através de visita domiciliar as famílias e as mulheres usuárias do
Residencial. As informações dessas mulheres usuárias de drogas foram coletadas
com perguntas à Assistente Social do CRAS, devido ela conhecer cada caso e as
famílias dessas mulheres. Por o assunto ser complexo e de difícil acesso de
estranhos nas residências dessas mulheres, não foi possível a aluna realizar a
pesquisa pessoalmente.
24
CAPÍTULO III
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
3.1 RESIDENCIAL SANTA PAULINA EM COLÍDER/MT
As informações abaixo foram retiradas do Programa Habitacional –
Projeto de Trabalho Técnico Social – PTTS, realizado pela Secretaria Municipal de
Ação Social do município de Colíder.
O loteamento do Residencial Santa Paulina foi adquirido pela
prefeitura municipal de Colíder. As unidades habitacionais que foram construídas
têm área 24.12m2. As famílias beneficiadas com o programa residem em imóveis
alugados, cedidos por terceiros, com parentes e em propriedades oriundas de
invasão em local inapropriado.
No que tange ao acesso, o Residencial apresenta dificuldades
relativas em decorrência da relativa distância de localização da região central da
cidade, sendo aproximadamente 3.500 km. Foi instalado o CRAS – Centro de
Referência de Assistência Social, onde funciona o PAIF – Programa de Atenção
Integral a Família. O PAIF está em processo de organização, porém já atende 24
mulheres em curso de pintura em tecido, corte de cabelo e artesanato em garrafa
pet. O público desses cursos são mulheres dos residenciais próximos, sendo a
Santa Paulina um deles.
As famílias beneficiárias do Residencial Santa Paulina foram
selecionadas por meio de uma triagem realizada pela Comissão Municipal de
Habitação com apoio da equipe as Secretaria Municipal de Assistência Social.
Após seleção das famílias pela Comissão foi realizada pesquisa
socioeconômica, cujo resultado propiciou a elaboração do diagnóstico social das
famílias, onde revela um perfil de um público desfavorecido economicamente, com
estrutura familiar diversa, baixa formação escolar, baixa qualificação profissional e
grande miscigenação. São famílias merecedoras de atenção especial no que
concerne à educação e qualificação profissional.
Os dados revelam que o público é majoritariamente feminino, na
suas maiorias jovens, do total de 50 famílias beneficiadas, 42 são do sexo feminino
e 08 masculino.
25
O resultado do diagnóstico demonstra que 20% são analfabetas os
58% tem escolaridade de ensino fundamental, 7% ensino médio incompleto, 6%
médio completo e 9% não declarou escolaridade. Esta realidade interfere
substancialmente na qualificação profissional, pois o resultado do panorama da
ocupação profissional demonstra que 39% são mulheres trabalhadoras do lar, “dona
de casa”, 18% trabalhadoras domésticas “fora de casa”, 12% serviços gerais, 8%
diaristas, 7% aposentados/as e uma somatória de 16% com ocupação de
catadores/as de latinhas, vaqueiro, artesão/ã, garçonete, vendedor de picolé e
refiladora. Acreditamos que o pano de fundo da realidade destas mulheres seja a
falta de qualificação e de uma relativa subalternização feminina.
No que concerne à renda familiar 100% declarou renda de 01 (um)
salário mínimo. No que concerne à situação de inclusão social em programas de
renda mínima como bolsa do governo 62% declarou receber e 38% não é
beneficiada. Quanto ao benefício BPC/LOAS, 100% das famílias não recebem.
Considerando a renda média familiar e as condições sociais das mesmas
acreditaram que as inclusões em programas sociais sejam de qualificação
profissional, educacional ou de renda mínima seja uma necessidade e um direito
destas famílias.
Com a pesquisa de campo realizada no Residencial Santa Paulina,
foi possível constatar que 30% das mulheres são usuárias de drogas ilícitas, como
maconha, cocaína e crack. São mulheres que tem de 3 a 4 filhos de pais diferentes,
têm vários parceiros também usuários de drogas, que na maioria das vezes fazem
sexo por dinheiro ou por drogas. Casos de violência sexual infantil com parentes, de
o parceiro violentar a sobrinha. Houve prisão de uma mulher e seu parceiro. São 15
famílias vivendo em condições subumanas, sem condições e nem perspectiva de
mudar de vida.
Devido a uma denúncia de violência a criança o Conselho Tutelar
com a Assistente Social do CRAS deslocaram-se até uma residência, onde
encontraram os móveis todos quebrados, a criança machucada na cabeça e a
mulher com sinal de estar drogada. No momento, chegou à frente da casa um rapaz,
que tudo indicava que fosse o traficante, onde o mesmo foi grosseiro com a
Assistente Social.
26
Segundo informações da Assistente Social o território está
complicado de atender, pois acaba os profissionais colocando a própria vida e de
sua família em risco por estar trabalhando com essa demanda.
3.2 Análises dos resultados da pesquisa de campo
Dependência de drogas é um dos problemas de saúde mais
significantes que afeta globalmente os grupos populacionais com características
heterogêneas. Estima-se que em torno de 200 milhões de pessoas tomam algum
tipo de substância psicoativa ilegal. Esta situação conta com quase 5 % da
população mundial acima de 15 anos de idade.
Até recentemente, o uso e abuso de substâncias psicoativas era
considerado um problema do mundo masculino, tendo como causa efeito a sub-
representação das mulheres em estudos sobre esta temática e um conhecimento
limitado sobre mulheres usuárias de drogas.
Conseqüentemente, o planejamento e a implantação de
intervenções para pessoas usuárias de drogas estão baseados em necessidades
masculinas, com pouca consideração para quaisquer diferenças entre os sexos,
sejam elas fisiológicas, psicológicas ou sociais.
A expansão, diversidade e complexidade que envolve o consumo de
drogas têm demandado a necessidade de se estudar este assunto de forma a
contemplar o indivíduo, a substância utilizada e o contexto em que a mesma é
usada, elementos apontados como interativos no processo de uso e abuso de
drogas. A perspectiva de gênero vem sendo indicada como uma poderosa
abordagem para reconhecer o impacto de construções sociais e culturais da
masculinidade e da feminilidade sobre o uso de drogas em grupos e
individualmente.
A conjuntura social, política e econômica apresenta aspectos
distintos em relação às drogas: a tolerância e o incentivo para substâncias como o
álcool, tabaco e medicamentos, consideradas legalmente como lícitas; o delito e a
punição para o uso e/ou abuso de substâncias como maconha, cocaína e crack,
determinadas legalmente como ilícitas ou ilegais. Esta situação tem suscitado, no
imaginário social, diferente representações sobre as drogas e sobre a pessoa
usuária.
27
As adversidades enfrentadas no trabalho de prostituição que as
mulheres do residencial executam são apontadas como motivos para o consumo de
drogas, as quais são adquiridas com recurso oriundo do seu trabalho. Muitas são
chefes de família, sustentando filhos, pais idosos e outros parentes, sendo assim
mais discriminadas pela atividade que exercem do que pelo uso de drogas.
A fuga dos problemas e da falta de perspectivas; a busca de
vertigem e de prazer intenso; o apelo de aventura e de novas e fortes sensações –
marcas de nossos tempos – são experiências facilmente encontradas no uso das
drogas.
Para jovens de baixa renda, moradores da periferia e de favelas
onde proliferam as organizações do crime ligadas ao narcotráfico, à iniciação ao
mundo das drogas pode propiciar sentimento de proteção e de pertencimento, tanto
quanto de força e de poder. De jovens excluídos, eles vislumbram a possibilidade de
adquirir um passaporte para a aceitação social, ou seja, ter acesso a determinados
direitos e bens de consumo.
O crime vem exercendo forte atração no meio dos jovens carentes,
pois significa maneira fácil e rápida de se ganhar dinheiro, em contraposição à
pobreza que impera ali, entre seus pais, onde tudo só se consegue a custa de muito
trabalho e de sacrifícios, sem gratificações.
O município de Colíder tem instalado o CAPS o qual não tem
estrutura física e nem profissional para atender e nem recuperar essas mulheres.
Existe uma demanda considerável para CAPSAD e CREAS no município, mas ainda
não é oferecido esse trabalho. O CRAS não tem consigo alcançar essas mulheres
devido à falta de profissionais qualificados e olhar direcionado da gestão ao
problema. Nem uma espaço adequado para o recolhimento dos filhos menores
dessas mulheres o município oferece.
Dentro desta abordagem da vulnerabilidade, resta-nos, finalmente,
sublinhar o peso da vulnerabilidade programática ou institucional existente em nosso
país, cujo reflexo é o não acesso da maioria dos jovens brasileiros a programas de
informação e de prevenção na rede de educação e nos serviços de saúde. Quando
existentes estes projetos são pontuais e não possibilitam o encaminhamento dos
jovens de forma a dar continuidade ao trabalho iniciado.
28
A falta de serviços voltados para as especificidades e necessidades
dos jovens e a inexistência de programas de apoio para usuários e dependentes de
drogas tem inviabilizado políticas sociais integradas. Somente quando a questão das
drogas for compreendida como parte de uma política social e de saúde que tenha
por objetivos tanto a prevenção como a redução de danos, o enfoque passará do
produto, isto é, a droga, para a pessoa que a utiliza, ou seja, o cidadão.
Mulheres com problemas de uso e abuso de drogas têm
apresentado situações e necessidades específicas, que nem sempre são
reconhecidas e satisfeitas pelos serviços destinados à assistência de pessoas
usuárias de drogas. Estas situações e necessidades, de um modo geral, estão
associadas com: gravidez; responsabilidades nos cuidados com crianças; trabalho
com sexo; traumas decorrentes de abuso físico e sexual experiências na infância
e/ou adolescência; o sistema judiciário; e, ainda, com níveis mais altos de problemas
de saúde mental e crônica em relação aos homens.
É evidente que o consumo de drogas não pode ser reduzido a
aspectos da lógica racional, devendo ser consideradas, também, as influências de
natureza sociocultural. Por isso, adotamos a “Teoria das representações sociais”
como eixo norteador para este estudo, que teve como propósito analisar questões
sobre o consumo de drogas, numa perspectiva de gênero.
As representações sociais situam-se na interface do psicológico e do
social, podendo ser entendidas como formas de conhecimentos elaborados e
compartilhados socialmente que contribuem para a construção de uma realidade
comum, possibilitando a compreensão e a comunicação do sujeito no mundo.
Sendo assim compreende-se que as representações sociais estão
vinculadas a valores, noções e práticas individuais que orientam as condutas no
cotidiano das relações sociais e se manifestam através de estereótipos,
sentimentos, atitudes, palavras, frases e expressões. É um conhecimento do “senso
comum”, socialmente construído e partilhado, diferente do conhecimento científico,
que é retificado e fundamentalmente cognitivo.
As representações sociais são ao mesmo tempo individuais e
sociais. As respostas individuais são reflexos das manifestações do grupo social
com o qual o sujeito compartilha experiência se vivências da sua vida pessoal, e a
Ciência& Saúde Coletiva, 11(2): 473-481 2006 pronunciamentos semelhantes
29
revelam certo nível de generalização, uma forma de pensar coletiva sobre um
mesmo assunto. Isto denota dinamismo das representações sociais e sua
potencialidade para criar e transformar areal idade social.
Fica evidente, portanto, que as representações sociais são
elaboradas a partir da realidade de cada sujeito no seu ambiente, contudo, não
constituem uma cópia da realidade, mas uma tradução, uma retomada. Elas se
formam com o objetivo de dar sentido para aquilo que é estranho e novo, portanto, a
conversão do não familiar em familiar se constitui na função primordial da
representação social.
Estabelecer uma conexão entre a perspectiva de gênero e as
representações sociais, no caso específico acerca do consumo de drogas, implica
em pensar na concepção da natureza humana. Natureza esta que não se dá apenas
por uma determinação biológica, mas também por uma construção social, histórica e
cultural.
Tal concepção constitui a base da perspectiva de gênero
compreendido como um sistema de signos e símbolos que denota relações de poder
e hierarquia entre os sexos e no interior de relações do mesmo sexo. Portanto, uma
relação de natureza assimétrica que se realiza culturalmente, por ideologias que
tomam formas específicas sem cada momento histórico.
O caráter histórico, dinâmico e plural atribuído ao conceito de
gênero, decorrente da sua construção social, evidencia a existência de
diversificações nas concepções de masculino/feminino e homem/mulher entre
sociedades distintas, e até mesmo dentro de uma mesma sociedade.
Logo, estudar a perspectiva de gênero nas representações sociais
dos profissionais de que assistem pessoas usuárias de drogas revela o interesse em
entender como esses profissionais lidam com uma questão do seu cotidiano, e como
as construções socioculturais interferem na prática assistencial. Este entendimento,
por sua vez, poderá ajudar a pensarem mudanças nas condutas assistenciais
adotadas, de forma a atender especificidades individuais e de grupos formados por
homens e mulheres usuários de drogas, em distintos contextos socioculturais.
No que se referem aos efeitos das outras drogas, poucos estudos
foram feitos comparando os dois sexos, assim ainda não dispomos de dados
30
definitivos. Há evidencias de que a droga como cocaína, a maconha, tranqüilizante e
estimulante tenham efeitos mais prejudiciais em mulheres.
O trabalho com a clientela feminino usuária de drogas, por meio do
atendimento individual ou em atividades grupais, gerou interesse no aprofundamento
acerca desse universo. Elas raramente comparecem acompanhadas de algum
familiar, maridos e/ou companheiros, como também há solicitação para que estes
não saibam sobre a busca de tratamento, devido à vergonha e receio de
fracassarem. Verificou-se assim, que essas mulheres necessitavam de profissionais
que se dispusessem a escutá-las, e não apenas que lhes oferecessem abordagens
diagnósticas e/ou farmacológicas.
Dessa maneira, pretendeu-se oferecer subsídios para construção de
novas estratégias de abordagens, de modo que a individualidade no atendimento e o
respeito quanto às necessidades específicas desse grupo pudessem ser atendidas,
contribuindo para o processo de tratamento.
Portanto, o presente estudo visa a conhecer a história de vida da
mulher usuária de drogas, inserido em tratamento especializado para dependência
química, auto referida.
Na fisiologia feminina, uma quantidade menor de álcool e
metabolizada, conseqüentemente, uma quantidade maior de álcool é absorvida
pelas mulheres quando comparada aos homens levando também um aumento de
concentração sanguínea de álcool.
Variações na organização do cérebro de homens e mulheres,
particularmente a ação de substâncias chamadas neuroesteroídes, também
influenciam as diferenças entre os sexos em relação à resposta do organismo ao
álcool. Esta maior vulnerabilidade explica, ao menos em parte, porque a
dependência ao álcool e os problemas físicos associados progridem mais rápido em
mulheres.
Os especialistas reconhecem que o caminho de volta é árduo. Por
isso, recomendam que, aos primeiros sinais de mudanças no comportamento,
atitudes compulsivas ou alterações no humor, as mulheres procurem auxílio. É a
melhor maneira de evitar a fase crítica que é a dependência. Segundo Rodrigues,
além do tratamento médico adequado, com medicamentos que facilitem a
31
desintoxicação, a intervenção da psicoterapia ajudará para que elas se livrem do
vício e voltem a ter uma vida normal, sem álcool ou drogas.
Nesse sentido, o objeto de estudo é analisado a partir das questões
estruturais e conjunturais, na percepção de que a crescente inserção de mulheres
no negócio das drogas ilícitas está, na maioria dos casos, gestada em profundas
desigualdades sociais, que, por sua vez, não podem ser dissociadas da
mundialização da economia, da nova questão social, que, segundo Castel (1996),
constitui não só o surgimento de novas formas de pobreza e desemprego, mas,
sobretudo, o desmonte da cidadania.
E contribuir com subsídios para o exercício profissional que
favoreçam o interesse dessas usuárias, como forma de promover uma maior
integração dessa minoria com instituições, contribuindo para uma intervenção que
promova uma real adesão ao tratamento, tendo em vista a reinserção dessas
mulheres na sociedade.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo confirmou que o consumo de drogas é um
comportamento complexo, que merece investigações no sentido de desvendar
particularidades individuais e de grupos, em contextos distintos em uma mesma
cultura. Os diversos locais de atendimento mostraram diferenças no perfil das
pessoas usuárias quanto ao sexo, tipo de droga utilizada, forma de aquisição e
idade. O surgimento paulatino de consumidoras de drogas ilícitas nas atividades
internas, associada à demanda expressiva delas nas atividades externas, constitui-
se em mais um desafio a ser enfrentado pelos profissionais e pelos serviços de
assistência social.
O enfrentamento desse novo desafio requer, sobretudo, a ampliação
da abordagem de gênero no âmbito das práticas dos profissionais. Tal abordagem
pode promover a consciência no sentido de demarcar novas perspectivas cognitivas
em relação às orientações conceituais e metodológicas dos agentes públicos
responsáveis pelo tratamento das demandas sociais, traduzíveis em políticas
públicas.
As representações sociais do consumo de drogas presentes nos
discursos dos profissionais estão permeadas de estereótipos que mantém, mas
mulheres submissas aos homens, apesar do reconhecimento de mudanças no estilo
devido da população feminina. Diante da assimetria estabelecida pela construção
social de gêneros para homens e para mulheres, torna-se imprescindível o
reconhecimento de tais diferenças no trabalho do Assistente Social. Neste sentido,
reafirmamos a necessidade de ações diferenciadas para as mulheres e para os
homens, tanto no que se refere à tipologia do cuidado quanto à forma de sua
realização, de modo a atender especificidades pessoais e de grupos geradas não
apenas pela condição biológica, mas, sobretudo, sociocultural.
As políticas públicas de álcool e drogas não têm mais a abstinência
como (sugiro única) meta. Porque independente do país que você esteja, ou região,
a abstinência, em qualquer lugar que seja, em qualquer país, ela tem um dado
estatístico muito baixo. (Poucas pessoas conseguem ficar abstemias). Esta frase
precisa ser revista. O que isso nos diz? Que recaída faz parte. Que as pessoas
recaem.
33
E que as pessoas, de alguma maneira, consomem drogas e que, se
a gente fica batendo nessa tecla, a gente vai perder esse usuário. Vai chegar uma
hora que ele vai abandonar o tratamento porque ele simplesmente não está
conseguindo ficar sem a droga. As políticas públicas têm hoje, como meta, a
redução de danos apoiada em um projeto terapêutico. Se um usuário tem o desejo
de e consegue ficar abstêmio, ótimo! Mas para a grande maioria que não consegue
e, muitas vezes, não tem o desejo de parar mas tem o desejo de dar um tempo do
uso existem outras opções terapeuticas.
Com referência ao consumo de drogas psicoativas, o Centro
Brasileiro de Informação de Drogas e Psicotrópicos (CEBRID) fez um estudo em
1999 e concluiu que a dependência do álcool entre os homens era de 77 % e 60 %
em mulheres.
O número de mulheres usuárias de drogas no município de Colíder é
considerável, são mulheres na maioria ainda adolescentes e mães, as quais são
beneficiárias do bolsa família sendo a única renda da família. São mulheres,
meninas que não consegue ter expectativa de melhorar a sua vida e nem de seus
filhos. A família sozinha já não consegue recuperá-las. Hoje a família precisa da
ajuda das políticas públicas do município, a qual também não tem estrutura física e
nem profissionais qualificados para atender essas famílias. Contudo, são famílias,
mulheres e filhos a mercê da sorte e do que é oferecido no momento, continuar em
condições subumanas.
Embora as mulheres sejam numericamente menos envolvidas com o
consumo de álcool, elas formam um subgrupo vulnerável em crescimento.
A condição de pobreza é considerada um dos principais fatores de
risco para o desenvolvimento humano.
Estudos evidenciam que as famílias que vivem em situação de
exclusão social são vulneráveis a problemas relacionados ao uso e abuso de
substâncias psicoativas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, nas nações mais
desenvolvidas é considerado o terceiro fator de risco para o desenvolvimento de
problemas de saúde, enquanto que, nos países com grau intermediário de
desenvolvimento, é o principal fator.
34
Enquanto mulher não dependente química o seu papel social de se
desenvolve entre os estigmas da maternidade, fragilidade, recato, fidelidade, entre
tantos outros, mas esse papel se modifica quando a dependência química nas
mulheres é percebida pela sociedade, incluindo aqui o seu espaço familiar, que
passa a julgá-la como irresponsável, promíscua, amoral, incapaz de cuidar da
família e dos filhos.
Favorecendo a reflexão, por parte dos responsáveis formuladores de
políticas públicas, sobre as questões de gênero, envolvendo minorias, nas
formulações de políticas sociais, contemplando assim, um maior número de grupos
que atualmente procuram a inserção nos serviços oferecidos por essas políticas em
questão.
A partir desse contexto, recomendamos a extensão deste estudo
para assistentes sociais, com o intuito de estabelecer comparações se identificar
outras representações acercado uso de drogas, buscando amenizar agravos sociais
e de saúde para a pessoa usuária e para sociedade de um modo geral, tendo como
respaldo uma concepção ampliada de gênero.
35
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36
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Serv. Soc. Rev., Londrina, v. 3, n. 1, p.39-60, jul./dez. 2000.
38
QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA FEITA A ASSISTENTE SOCIAL NO
CRAS DE COLÍDER
1. Quantas famílias têm mulheres usuárias de drogas?
2. Essas mulheres têm filhos? E com que condições vivem esses filhos?
3. Qual a perspectiva de vida dessas mulheres em relação ao futuro delas e de
seus filhos?
4. As políticas públicas de prevenção do município têm alcançado essas
mulheres?
5. O município oferece oportunidade de recuperação e reinserção dessas
mulheres na sociedade?
6. O município possui local adequado de abrigamento dos filhos no caso de
recolhimento?
7. Qual a sua visão do problema como profissional que atende essa demanda?