Águas ocultas

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ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO MAIO 2015 38 VIVER Em tempos de crise hídrica, topar com um considerável volume de água escorrendo pela sarjeta aflige qualquer um. Os mais atentos se per- guntam de onde vem tama- nho desperdício. Talvez a resposta seja que, naquele ponto, está tentando vol- tar à superfície um dos 287 cursos que cruzam a capital paulista – número aponta- do pela prefeitura, porém contestado pelo geógrafo Luiz de Campos Júnior (à esq. no retrato) e pelo arquiteto José Bueno. Para eles, a quantia é ainda maior. Desde 2010, os dois são os responsáveis pelo Rios e Ruas, que promove palestras e expedições urbanas para mostrar a crianças e adultos onde ficam escondidos nascentes, rios, riachos e cór- regos. Embora mais de 60% se encontrem tamponados ou canalizados, todos são vi- síveis. Como Luiz ensinou a José quando se conheceram, basta observar: numa região alta, onde se enxerga bastan- te céu, busque vegetação e temperatura amena. Plan- tas típicas de áreas úmidas, como taioba e tapiá, indicam que há rio por perto. “Essas águas parecem aguardar a correção de nosso grande erro de ocultá-las, consequência da rápida expansão da malha metropolitana”, diz o arquiteto. Segundo a dupla, mesmo pequenos canais podem hidratar a cidade. “Mas só serão abertos se as pessoas pedirem. Para isso, elas precisam conhecê-los”, complementa o geógrafo. (A.S.) Poucos sabem, mas, em São Paulo, cerca de 300 cursos correm sob o asfalto. Um geógrafo e um arquiteto querem abrir os olhos da população para essa realidade com o projeto Rios e Ruas Águas ocultas MARGENS PLÁCIDAS DO IPIRANGA Em setembro do ano passado, a iniciativa organizou uma pedalada nas redondezas do riacho citado no Hino Nacional, que nasce entre o Zoológico de São Paulo e o Jardim Botânico e segue até desaguar no Tamanduateí. RIACHO DAS CORUJAS Principia na Rua Heitor Penteado e corre a céu aberto nas praças Dolores Ibarruri e Rui Washington Pereira. Uma horta comunitária, regada com a água limpa da nascente, funciona por ali. FOTOS: DIVULGAÇÃO “NOSSO TRABALHO é EMOCIONAR AS PESSOAS E RECRIAR A AFEIçãO PELA NATUREZA QUE PASSA BEM DEBAIXO DE NOSSOS PéS” JOSÉ BUENO ARQUITETO Os fundadores do projeto, Luiz de Campos Júnior (à esq.) e José Bueno (à dir.) .

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"Poucos sabem, mas, em São Paulo, cerca de 300 cursos correm sob o asfalto. Um geógrafo e um arquiteto querem abrir os olhos da população para essa realidade com o projeto Rios e Ruas..." | matéria de Amanda Sequin para a revista Arquitetura e Construção, maio/2015.

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  • ArquiteturA & Construo maio 201538

    viver

    Em tempos de crise hdrica, topar com um considervel volume de gua escorrendo pela sarjeta aflige qualquer um. Os mais atentos se per-guntam de onde vem tama-nho desperdcio. Talvez a resposta seja que, naquele ponto, est tentando vol-tar superfcie um dos 287 cursos que cruzam a capital paulista nmero aponta-do pela prefeitura, porm contestado pelo gegrafo Luiz de Campos Jnior ( esq. no retrato) e pelo arquiteto Jos Bueno. Para eles, a quantia ainda maior. Desde 2010, os dois so os responsveis pelo Rios e Ruas, que promove palestras e expedies urbanas para mostrar a crianas e adultos onde ficam escondidos nascentes, rios, riachos e cr-

    regos. Embora mais de 60% se encontrem tamponados ou canalizados, todos so vi-sveis. Como Luiz ensinou a Jos quando se conheceram, basta observar: numa regio alta, onde se enxerga bastan-te cu, busque vegetao e temperatura amena. Plan-tas tpicas de reas midas, como taioba e tapi, indicam que h rio por perto. Essas guas parecem aguardar a correo de nosso grande

    erro de ocult-las, consequncia da rpida expanso da malha metropolitana, diz o arquiteto. Segundo a dupla, mesmo pequenos canais podem hidratar a cidade. Mas s sero abertos se as pessoas pedirem. Para isso, elas precisam conhec-los, complementa o gegrafo. (A.S.)

    Poucos sabem, mas, em So Paulo, cerca de 300 cursos correm sob o asfalto. Um gegrafo e um arquiteto querem abrir os olhos da populao para essa realidade com o projeto Rios e Ruas

    guas ocultas

    margens plcidas do ipirangaEm setembro do ano passado, a iniciativa organizou

    uma pedalada nas redondezas do riacho citado no Hino Nacional, que nasce entre o Zoolgico de So Paulo e o

    Jardim Botnico e segue at desaguar no Tamanduate.

    riacho das corujas Principia na Rua Heitor Penteado e corre a cu

    aberto nas praas Dolores Ibarruri e Rui Washington Pereira. Uma horta comunitria, regada com

    a gua limpa da nascente, funciona por ali.

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    NOSSO TRabalHO emOciONaR aS PeSSOaS e RecRiaR a afeiO Pela NaTUReza

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    Os fundadores do projeto, luiz de campos Jnior ( esq.) e Jos bueno ( dir.).