AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE PRODUTOS … · O projeto de implantação da agroindústria...

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE PRODUTOS LÁCTEOS NO SUDOESTE DO PARANÁ [email protected] APRESENTACAO ORAL-Agricultura Familiar e Ruralidade NORMA KIYOTA 1 ; MIGUEL ANGELO PERONDI 2 . 1.INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR, PATO BRANCO - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR, PATO BRANCO - PR - BRASIL. AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE PRODUTOS LÁCTEOS NO SUDOESTE DO PARANÁ 1 Rural family agroindustries of dairy products in Southwestern of Paraná Grupo de Pesquisa: AGRICULTURA FAMILIAR E RURALIDADE Resumo Este é um estudo sobre as estratégias adotadas por famílias envolvidas em unidades agroindustriais de leite no meio rural. O objetivo deste é qualificar o processo de diversificação dos agricultores familiares pela agroindustrialização de seus produtos, via o entendimento dos seus modos de organização social, da mobilização de recursos, da mediação de diferentes atores e das diferentes formas de construir novidades produtivas na sua estratégia agroindustrial. O trabalho apresenta a análise comparativa entre seis casos de agroindústrias familiares do Sudoeste do Paraná, que apresentam distinções de produtos, de organização social, de formas de se relacionar com a legislação sanitária e fiscal, enfim, com diferentes formas de consolidar esta estratégia a partir dos diferentes recursos e contextos vivenciados. Palavras-chaves: Agricultura familiar, agroindústria familiar rural e produtos lácteos. Abstract This is a study on the strategies adopted by families involved in agroindustrial units of dairy products in rural areas. The objective is to describe the process of diversification of farmers by the industrialization of its products, via the understanding of their modes of social organization, resource mobilization, mediation of different actors and different ways to build production novelties in its agroindustrial strategy. This paper presents a comparative analysis of six cases of family agroindustries of Southwestern Paraná, that presenting different products, distinct social organizations, ways of relating to sanitary regulations and taxation, finally, with different ways to consolidate this strategy from of different resources and contexts experienced. 1 Este estudo recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e tecnológico – CNPq – Brasil.

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AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE PRODUTOS LÁCTEO S NO SUDOESTE DO PARANÁ

[email protected]

APRESENTACAO ORAL-Agricultura Familiar e Ruralidade NORMA KIYOTA 1; MIGUEL ANGELO PERONDI2.

1.INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR, PATO BRANCO - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR, PATO BRANCO

- PR - BRASIL.

AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE PRODUTOS LÁCTEO S NO SUDOESTE DO PARANÁ1

Rural family agroindustries of dairy products in Southwestern of Paraná

Grupo de Pesquisa: AGRICULTURA FAMILIAR E RURALIDAD E

Resumo Este é um estudo sobre as estratégias adotadas por famílias envolvidas em unidades agroindustriais de leite no meio rural. O objetivo deste é qualificar o processo de diversificação dos agricultores familiares pela agroindustrialização de seus produtos, via o entendimento dos seus modos de organização social, da mobilização de recursos, da mediação de diferentes atores e das diferentes formas de construir novidades produtivas na sua estratégia agroindustrial. O trabalho apresenta a análise comparativa entre seis casos de agroindústrias familiares do Sudoeste do Paraná, que apresentam distinções de produtos, de organização social, de formas de se relacionar com a legislação sanitária e fiscal, enfim, com diferentes formas de consolidar esta estratégia a partir dos diferentes recursos e contextos vivenciados. Palavras-chaves: Agricultura familiar, agroindústria familiar rural e produtos lácteos. Abstract This is a study on the strategies adopted by families involved in agroindustrial units of dairy products in rural areas. The objective is to describe the process of diversification of farmers by the industrialization of its products, via the understanding of their modes of social organization, resource mobilization, mediation of different actors and different ways to build production novelties in its agroindustrial strategy. This paper presents a comparative analysis of six cases of family agroindustries of Southwestern Paraná, that presenting different products, distinct social organizations, ways of relating to sanitary regulations and taxation, finally, with different ways to consolidate this strategy from of different resources and contexts experienced. 1 Este estudo recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e tecnológico – CNPq – Brasil.

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Key Words: Family farming, rural family agroindustry and dairy production. Introdução

O Paraná está entre os três estados maiores produtores de leite do Brasil, registrando no ano de 2006 uma produção total de 2,7 bilhões de litros, com um rebanho de 1.383.374 cabeças (IBGE, 2009). A comercialização do leite fluído corresponde ao destino da maior parte da produção brasileira e paranaense, fazendo com que o Brasil importe muitos produtos oriundos da atividade leiteira internacional. Só em 2007, o Brasil importou US$ 71 milhões em leite em pó, US$ 20 milhões em queijos e US$ 8 milhões em produtos lácteos (SECEX citado por EMBRAPA, 2006).

Segundo o último Censo Agropecuário realizado em 2006 (IBGE, 2009), dos 58.922 estabelecimentos rurais do Sudoeste do Paraná2, 51.616 são de agricultores familiares, correspondendo a 87,64% dos estabelecimentos e 46,41% da área total dos estabelecimentos agropecuários do território. Esses agricultores familiares produzem 84,95 % do total de leite produzido na região, que correspondeu a 405.551.839 litros de leite no ano (IBGE, 2009).

Essa produção de leite é entregue para os laticínios que atuam na região, assim, são estes que têm o potencial de agregar valor ao produto transformando-o em queijos, iogurtes, bebidas lácteas, etc. Entretanto, há alguns agricultores que agroindustrializam o seu produto, transformando e/ou embalando e comercializando diretamente aos consumidores ou através de pequenos mercados na região. Estas experiências de agroindustrialização acessam diferentes recursos, têm trajetórias diferenciadas e correspondem a diferentes estratégias de reprodução social da agricultura familiar. Com o objetivo de conhecer melhor estas experiências, realizou-se uma pesquisa com os recursos do Projeto “Condicionantes, estratégias, organização e agroindustrialização nos sistemas de produção familiares com a cadeia leite no Território Sudoeste do Paraná” (KIYOTA, 2008) em conjunto com o Projeto “Semente e brotos da transição: inovação, poder e desenvolvimento em áreas rurais do Brasil” (SCHNEIDER, 2007) e o Projeto “Redes de Referências para a Agricultura Familiar” coordenado pelo Instituto Agronômico do Paraná – Iapar e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater. A pesquisa de campo consistiu na visita e tipificação dos sistemas de produção de 24 estabelecimentos rurais (cinco das experiências de agroindustrialização individuais e 19 da coletiva) e 15 entrevistas com as famílias de agricultores e mediadores que participaram e participam da trajetória destas experiências. Assim, para analisar as estratégias dos agricultores familiares que agregam valor ao produto leite no Território Sudoeste do Paraná, este estudo abrangerá seis experiências de agregação de valor ao produto leite: Laticínio Alto Alegre com SIP3 (20 famílias), leite

2 Território Sudoeste do Paraná composto por 42 municípios, os 37 municípios da Mesorregião Sudoeste Paranaense e os cinco municípios da Microrregião de Palmas da Mesorregião Centro-Sul paranaense. 3 Serviço de Inspeção do Paraná.

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pasteurizado Aprove com SIM4, Iogurte Celena com SIP, Queijo colonial Capra com SIM, Queijo colonial Três Irmãos com SIM e Leite não pasteurizado (informal).

1. As experiências de agroindustrialização do leite A agroindústria familiar rural surge como uma alternativa para os agricultores no momento em que estes percebem que as commodities não são uma opção de renda que consiga garantir a sua reprodução social, pois os ganhos oriundos destes produtos não ficam com o agricultor, mas com os outros atores desta longa cadeia que vai da produção da matéria-prima até o consumidor final (PLOEG, 2008). As agroindústrias da região são semelhantes àquelas encontradas por Luiz Carlos Mior, em seu estudo realizado em Santa Catarina, assim, utilizaremos o conceito deste autor para definir a agroindústria familiar rural do Sudoeste do Paraná.

“Agroindústria familiar rural é uma forma de organização em que a família rural produz, processa e/ou transforma parte de sua produção agrícola e/ou pecuária, visando sobretudo a produção de valor de troca, que se realiza na comercialização” (MIOR, 2005, p. 191)

As experiências descritas, a seguir, foram selecionadas para dar conta da diversidade que pode ser encontrada na agroindustrialização do leite pela agricultura familiar da região: coletivo ou individual, inspeção sanitária municipal ou estadual, formal ou informal em relação ao ponto de vista fiscal e os diferentes produtos finais. 2.1. Laticínio Coletivo Alto Alegre com SIP/SIF5

O Laticínio Alto Alegre pertence às vinte famílias que compõem a Associação dos Produtores Rurais de Alto Alegre – APRUAL, do Município de Verê. Esses agricultores já estavam investindo na atividade leiteira, mas como os preços recebidos pelo produto eram muito baixos, começaram a discutir como viabilizar a entrega conjunta do leite, para receber um preço melhor pelo litro de leite estabelecido por cotas.

“A gente na época quase pagava pra vender o leite. Vendia a nove centavos o litro, não dava, né?! A gente pagava pra vender leite e isso eu acho que ajudou nós a se motivar prá montar aquela empresa ali” (Agricultora associada, entrevista 12, pesquisa de campo, julho de 2009).

Neste período havia muitos debates sobre a agroindústria familiar rural. Os movimentos sociais discutiam como formalizar as unidades para viabilizar a expansão da comercialização dos produtos transformados e a Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná – AMSOP divulgava um projeto chamado Pacto Nova Itália, no qual incentivava os prefeitos a implantarem pequenas agroindústrias em seus municípios. O prefeito trouxe essa proposta para discutir com as associações do município e a APRUAL, após várias reuniões, definiu o início do projeto da agroindústria de derivados de leite. Este incentivo e a conjuntura da atividade leiteira foram fatores determinantes para o avanço da proposta de comercialização conjunta para a proposta da agroindústria.

O projeto de implantação da agroindústria foi iniciado no final de 1999, com o apoio do Programa Fábrica do Agricultor6 e Projeto Paraná 12 Meses7 do Governo

4 Serviço de Inspeção Municipal. 5 Atualmente, os produtos desse laticínio são inspecionados pelo SIP, mas já entraram com o requerimento do Serviço de Inspeção Federal para comercializar seus produtos fora do estado do Paraná.

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Estadual. O Instituto Emater8 elaborou o projeto para um laticínio para a transformação de 5.000 litros por dia, aprovado pelo Serviço de Inspeção do Paraná – SIP. A tecnologia de produção inicial foi repassada por um técnico da região contratado pela Prefeitura Municipal e o Emater fez o acompanhamento do processo inicial de produção.

Além do imóvel da antiga escola cedida em comodato para a associação, a Prefeitura Municipal auxiliou com a adaptação da construção, instalação elétrica e calçamento. A APRUAL tinha R$ 2.023,69 em caixa. O Programa Paraná 12 Meses repassou R$ 34.782,72 à fundo perdido, sendo R$ 18.800,00 para a compra de equipamentos e o restante para infra-estrutura. Além disso, os associados acessaram um crédito de R$ 55.276,00 para a compra de equipamentos através da linha Pronaf Agregar9.

A associação definiu pela constituição de uma empresa limitada “Laticínio Daniel Colle Ltda”, usando o nome de dois agricultores aposentados da comunidade e registrando um contrato em que formaliza a relação da empresa com a APRUAL. Esta estratégia foi montada para que os associados não perdessem seu enquadramento como agricultor familiar no Pronaf10 e no sistema previdenciário. A agroindústria iniciou a produção no dia nove de abril de 2001, transformando 713 litros de leite oriundos dos estabelecimentos dos associados. Logo no primeiro mês, os sócios perceberam que precisavam ampliar a quantidade de leite a ser processada para viabilizar a unidade economicamente, assim, no segundo mês estes iniciaram a compra de leite de outras famílias da comunidade, chegando a 1.200 litros de leite por dia.

Os primeiros produtos foram: queijo mussarela, queijo parmesão, queijo mussarela trançado e temperado e ricota, que foram comercializados para empresas locais. Hoje, o Laticínio Alto Alegre gera uma receita bruta total de um milhão e trezentos mil reais por mês, com uma produção média de 182.833 quilos de queijo num mix de oito tipos de produtos lácteos como: ricota, manteiga, nata e queijos mussarela, provolone, prato, colonial e frescal. Estes produtos apresentam-se em 35 variações e formatos (queijo ralado, fatiados, ao vinagre, ao orégano e com embalagens de diferentes proporções).

A compra do leite atinge 850 produtores distribuídos na comunidade de Alto Alegre, em Verê e em municípios vizinhos. O preço pago aos associados e aos demais fornecedores é o mesmo, entretanto, o leite proveniente dos estabelecimentos dos associados é contabilizado separadamente, pois a quantidade acumulada em cada exercício é o que estabelece o percentual de participação nos resultados da agroindústria.

6 Este programa é coordenado pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento e busca “a verticalização da produção a partir das unidades produtivas dos agricultores familiares, permitindo a agregação de valor aos seus produtos e renda aos seus negócios, contribuindo para a permanência de suas famílias no meio rural pela geração de novos empregos. Isto é, possibilitar o segundo, e outros ganhos, aos agricultores familiares e, conseqüentemente, da conquista do seu bem-estar social” (SEAB, 2009). 7 Projeto do Governo do Estado do Paraná, em parceria com o Banco Mundial, com o objetivo de contribuir para a melhoria das condições sociais dos pequenos agricultores, proporcionando investimentos em habitação e saneamento básico; recuperação e preservação do solo agrícola e do meio ambiente como um todo; geração de postos de trabalho no meio rural; aumento da renda familiar e regularidade de ganhos durante os 12 meses do ano (SEAB, 2009) 8 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural. 9 Linha de crédito com prazo de oito anos para pagar, com um ano de carência, recebendo 25% de desconto do juro pela pontualidade de pagamento. 10 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

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“[...] é separado o leite de sócios e não sócios. Então, ao final do exercício é como se fosse uma cooperativa, a quantidade de leite que os associados entregaram se multiplica pelo resultado que deu por litro e se reembolsa o produtor. Dessa forma, o associado estaria recebendo pela venda do produto final, pois ele recebe pelo leite produzido e ao final do exercício, ele recebe o que deu de resultado pela industrialização. O leite dos não sócios é capitalizado, gerando patrimônio.” (Associado e gerente, entrevista 01, pesquisa de campo, outubro de 2008).

Alguns sócios demonstram certo descontentamento por não poderem usufruir de parte do recurso capitalizado, pois alegam que já fizeram muitos investimentos e que chegou num ponto em que já poderiam tirar uma parte para melhorarem as condições de seu estabelecimento e/ou terem um pouco de lazer.

“Eu vou falar o que eu penso! O que sinto é que está quase na hora, assim de... São quase nove anos, eu acho! De no fim do ano nós participar um pouquinho mais no lucro do ano. Individualmente, cada sócio... Por exemplo, se der lá 100 mil de lucro, deixar uns 15 ou 20% entre os associados... prá nós no caso, né! Eu falei em dar uma mexida ali! Essa era a minha idéia” (Agricultor e associado, entrevista 07, pesquisa de campo, julho de 2009).

Mas, a gerência ainda é contrária a isso e argumenta que é necessário ter cautela, pois isto poderia prejudicar o desenvolvimento da unidade.

“No começo eu achei que devia pegar também, tinha que começar a tirar uma parte, né, daí comprar alguma coisa melhor. Daí o Lino achou que por enquanto não, que não devia de mexer... daí todo mundo concordou com ele” (Agricultor e associado, entrevista 06, pesquisa de campo, julho de 2009).

Em sete anos de existência, o laticínio acumulou um patrimônio superior a um milhão e quinhentos mil de reais, sendo que o valor estimado dos equipamentos é de 900 mil reais. Conta também, com dois caminhões equipados com tanques isotérmicos, ambos estimados em 150 mil reais. 2.2 Leite pasteurizado Aprove com SIM

Em 1996, um grupo de sete famílias produtoras de leite de três comunidades do município de Verê sentiu a necessidade de diversificar a produção e agregar valor ao leite produzido em suas propriedades. A produção individual de leite das famílias não passava de dez litros por dia. A pastagem precária, o plantel de baixa linhagem e a ordenha manual somadas à manipulação inadequada do produto, contribuíram para o baixo índice de qualidade.

A Associação enfrentou várias dificuldades operacionais, a mais preocupante foi a não absorção da produção pelo mercado local, que gerou significativas perdas financeiras e conflitos internos que acabaram por comprometer a viabilidade do empreendimento coletivo. Na época a agroindústria comercializava leite in natura, iogurte e queijo colonial, produzido com o leite de qualidade inferior. O iogurte foi produzido por um breve período, face à pressão gerada pela concorrência com as marcas já estabelecidas no mercado.

A família do Sr. Salvador, que já comercializava a sua produção individual de leite e queijo colonial em domicílios do município, acabou tomando a frente para a operacionalização de todo o processo de implantação da agroindústria. Mesmo antes da construção da sede definitiva era esta família que manipulava o leite e produzia o queijo, cedendo um espaço próprio e se responsabilizando pelo transporte e comercialização de

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toda a produção. Essas tarefas acabaram onerando-os em vários sentidos, visto que, os demais produtores apenas entregavam o leite à família Salvador.

A família afirma que não tinha interesse e nem condições de responsabilizar-se sozinha por todo o processo, mas foi o que acabou ocorrendo, quando houve a necessidade de investimentos em equipamentos básicos como a caldeira e pasteurizador. Os equipamentos foram adquiridos na expectativa do auxílio financeiro de instituições públicas, mas como os recursos não foram suficientes, a associação teria que complementar os recursos necessários para o seu pagamento. Nesse momento, os outros associados desistiram do processo e a família Salvador passou a responder sozinha pela unidade, transformando a iniciativa coletiva em individual. Esse processo é narrado pelo próprio agricultor.

“Vendia sem pasteurizar! In natura. Daí com as sobras a gente fazia o queijo e esse queijo aí a gente não conseguia vender... Daí começou, na verdade, a questão: ‘Vocês me ajudam a vender o queijo!” Porque senão, não tinha como nós pagar o leite pra eles, né? Não tinha, não tinha como pagar! E a gente não quer passar vergonha. Na verdade, daí começaram os queijo a ficarem aí, ficar velho e daí o bolso da gente começou a ficar fraco também. Aí começou a questão, começamos a discutir, né?! Daí um começou a desistir, o outro também. Daí foi, foi, que no final das contas, fiquei eu” (Agricultor, entrevista 02, pesquisa de campo, junho de 2009).

Atualmente a família Salvador é composta de cinco pessoas: o casal, um filho, uma filha que trabalha fora durante o dia e o neto de dez anos. A sua propriedade possui 9,0 ha. O rebanho de 22 vacas produz 150 litros de leite pasteurizado e cinco quilogramas de nata por dia, que são comercializados para supermercados, sorveterias ou vendidos diretamente aos consumidores. 2.3 Iogurte Celena com SIP O Sr. Celeste e sua esposa começaram a fazer iogurte em 1997 com a produção de leite de seu estabelecimento. Eles chegaram a produzir 12.000 litros de leite por mês, transformar em iogurte e comercializar no município de Itapejara d’Oeste, informalmente. Até que em 2001, o Sr. Celeste participou de uma Feira Sabores do Paraná11 e a qualidade do produto chamou a atenção de consumidores e organizadores da feira, o que fez com que todos o incentivassem a ampliar o seu mercado. Assim, a família decidiu ampliar a sua unidade e formalizar o seu produto para ser comercializado na região e/ou estado.

“Eu montei essa empresa porque o Poloni12 me chamou um dia ali na Casa da Cultura, e disse: ‘você está a fim de ampliar a tua estrutura lá?’ pois ele conheceu o produto na feira em Curitiba. Digo ‘claro que estou né’. Imagina, vindo de uma feira que foi um sucesso, quem que não gostaria.. ‘Mas então põe o pé no fundo que nós te ajudamos com 35% do que você gastar para construir a tua fábrica”. Nossa! Eu botei os pés pelas mãos porque em vez de buscar o recurso, eu comecei a construir. E depois com a construção já pronta, eles não me ajudaram porque já tinha construído, tinha que fazer o projeto... (risos irônicos) e ai ficou complicado... Aí tive que financiar e colocar os bens para penhora, e foi indo.

11 Feira de produtos da agroindústria familiar organizado pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento do Paraná, realizada anualmente em Curitiba. 12 Secretário Estadual da Agricultura do Governo de Jaime Lerner.

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Ainda que na época, peguei um juro barato de Pronaf, depois como já tinha a firma registrada, eu tinha uma empresa, precisei ampliar e não teve jeito mais pelo Pronaf, e peguei Proger13 Agregar do banco” (Agricultor, entrevista 08, pesquisa de campo, julho de 2009).

A esposa do Sr. Celeste trabalha como professora e os filhos do casal não moram mais na propriedade, por isso o agricultor decidiu acabar com o seu rebanho leiteiro e comprar a matéria-prima de outros produtores. Isso foi necessário para este ter condições de trabalhar na transformação e comercialização do iogurte.

O agricultor reconhece que este não foi o melhor arranjo, que deveria ter se planejado para transformar apenas a sua produção e manter o mercado local que ele já havia conquistado. Mas, não tinha conhecimento das dificuldades e dos custos desta ampliação e depois dos investimentos realizados, ficou difícil retornar ao ponto inicial.

“E não era muita coisa. Depois que eu cresci, cheguei a produzir 12.000 litros por mês, o pensamento era sempre agregar valor, claro! Mas a gente não pensava em se expandir, né. Era só trazer aqui na cidade... E acho que era o certo, não podia ter avançado tanto, porque a gente, nós não fomos orientados de certas questões: na questão de impostos, os custos que viriam... Então ficou, passou assim... sem fazer pesquisa de mercado... Também! No começo todo mundo gostava. Nossa! E todo mundo ia empurrando, né. “Vai em frente, que o teu produto é bom!” (Agricultor, entrevista 08, pesquisa de campo, julho de 2009).

Após várias tentativas infrutíferas de ampliar o mercado em outros municípios, o agricultor reduziu a sua produção para uma média de 2.000 litros de iogurte por mês. Retornou a comercializar mais no âmbito de seu município para mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA para a alimentação escolar, para a Coopafi14 e diretamente para alguns consumidores da região que conhecem o seu produto e o compram periodicamente. 2.4 Queijo colonial Capra com SIM A mãe do Amarildo produzia entre dez a quinze quilos de queijo por semana na própria cozinha e entregava em supermercados de Francisco Beltrão. Em 1997, o casal Amarildo e Roseli, assumiu o negócio, potencializando ações que permitisse a melhora da qualidade do processo produtivo, difundindo a sua marca e se fixando no mercado local.

Com a intensificação das exigências sanitárias e a implantação do SIM, os agricultores foram estimulados pela Secretaria Municipal da Agricultura e Instituto Emater a expandir o negócio, construindo uma unidade própria e melhorando seu plantel. Além disso, a família teve o apoio do Programa Paraná 12 Meses na compra de alguns equipamentos. A construção da agroindústria de queijo e manteiga iniciou em 2003 e só pôde ser usada, ainda que não estivesse totalmente concluída, dois anos mais tarde.

Atualmente, o plantel leiteiro da propriedade é de 25 vacas Jérsey, 18 em lactação, que produzem 250 litros de leite por dia, que resulta em 30 quilos de queijo colonial que são comercializados nos supermercados do município. O casal está pesquisando a possibilidade de produzir algum tipo de queijo diferenciado para entrar no mercado de queijos finos.

13 Programa de Geração de Emprego e Renda 14 Cooperativa Integrada da Agricultura Familiar que trabalha na comercialização de produtos.

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2.5 Queijo colonial Três Irmãos com SIM O Sr. Hilário e Dona Ivete possuíam um estabelecimento de 49 hectares, que

somada à área de dois irmãos, formava um condomínio de 147 hectares nos quais os três irmãos e suas respectivas famílias trabalhavam coletivamente. Em 1999, construíram uma unidade para fabricar queijos, seguindo as normas da vigilância sanitária municipal, que no ano agrícola de 2004/05 produziu 2.780 quilogramas de queijo.

Entretanto, em 2006, após a morte da matriarca e a separação conjugal de um dos irmãos, resolveram individualizar as áreas e o processo produtivo e a família do Sr. Hilário manteve a agroindústria de queijo colonial que transformava toda a produção de leite da propriedade. A agroindústria se manteve ativa e produziu 2.400 quilogramas de queijo no ano agrícola 2007/08.

Entretanto, no início de 2009, a família decidiu não transformar mais o leite devido à falta de mão-obra para a transformação do leite, pois, como as filhas ainda são novas e D. Ivete estava grávida, era muito penoso para ela se responsabilizar pela transformação. O leite está sendo entregue para um laticínio da região.

Conversando com a família, eles apontam que sentem por ter parado o processo de transformação do leite, pois o queijo fazia parte da estratégia da família há muito tempo, mas apontam que, por outro lado, se sentem “aliviados por não ter aquela obrigação todos os dias” (Agricultora, pesquisa de campo, julho de 2009). 2.6 Leite não pasteurizado (informal) O Sr. João15 tem uma propriedade de 4,8 ha e em 2003 começou a fazer a venda de seu leite a domicílio. Como ele não tem uma unidade de pasteurização e embalagens apropriadas, ele entrega o leite nas garrafas PET16 de dois litros. O agricultor começou entregando 28 litros para 14 famílias e hoje atende 70 famílias, totalizando 1.300 litros de leite entregue mensalmente.

“Vou intercalando. Eu faço um roteiro... Trabalhar com um roteiro pra ti, também, corta o gasto, né. Porque eu faço o seguinte: eu pego um bairro onde eu vou terça, quinta e sábado e pego outro bairro e levo segunda, quarta e sexta. Prá mim não precisar tá correndo e gastando sem necessidade. Então já faço um roteiro certo pra mim também, corta os gastos, a gasolina também custa. Vou de moto, eu tenho a caixinha térmica então eu carrego a caixinha ali. Eu faço duas viagens. Vai 28 litros cada viagem, 14 litrão cada viagem” (Agricultor, entrevista 09, pesquisa de campo, julho de 2009).

O agricultor diz não estar pensando em regularizar o seu produto perante a legislação sanitária e fiscal no momento, pois teria que viabilizar recursos para montar a unidade de acordo com as orientações da Inspeção Sanitária Municipal e como não tem encontrado problemas para comercializar o seu produto informalmente, não vê necessidade disso. Além disso, percebe-se certo orgulho em comercializar um produto não pasteurizado, pois muitos valorizam o seu produto exatamente por isso.

“Muitos começaram, investiram um monte de dinheiro em cima da pasteurização e fecharam as porta. A prefeitura queria conversar sobre isso, só que eles querem fazer assim, fazer em conjunto, fazer lá perto da cidade. Como é que eu vou sair

15 O nome deste agricultor foi alterado para evitar o seu reconhecimento e, conseqüentemente, algum tipo de penalidade oriunda das informações contidas neste estudo. 16 Garrafas de refrigerantes produzidas com politereftalato de etileno, com o volume de dois litros.

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daqui e ir lá pasteurizar, cinco, seis quilômetros. Se eu tivesse três, quatro mil litros pra levar na cidade eu levava. Porque o povo só quer desse leite. Até as famílias que foram a Pato Branco, né, consultar as criança, o médico mandou lá. ‘Pegue direto leite do produtor lá prá dar pro teu filho’. Então as pessoas falam ‘a gente foi consultar com o médico, ele quer que tenha um produto assim, assim, assim. Então a gente tem um que chega e diz: ‘quero teu produto lá prá dar para as crianças, porque o médico falou, tem que dá direto. Então, eu não sei até quando, né, que a gente tem essa.. esse caminho ai. Em seis anos, né. Graças a Deus, não chegou uma pessoa e disse ‘Ó João, o teu produto hoje não está bom. Nunca, nunca. Graças a Deus, então a gente sente um pouco de segurança, um pouco de confiança no trabalho que está fazendo” (Agricultor, entrevista 09, pesquisa de campo, julho de 2009).

O restante da produção das dez vacas da família é entregue para a Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar – CLAF, somando mais 1.000 litros de leite comercializado mensalmente. 3 O início do processo de agroindustrialização A expansão da atividade leiteira estava iniciando na região Sudoeste quando estas experiências de agroindustrialização foram implantadas. Assim, as famílias tiveram que enfrentar dois desafios paralelos: o domínio do conhecimento para o aumento da quantidade e qualidade da produção de leite e dos conhecimentos necessários para a transformação desta matéria-prima.

“Não sabia nada. Não sabia nem o que era um piquete de uma vaca. Uma vaca era solta ali num canto de terra com um pouco de pasto, era aquilo! Ninguém nem sabia o que era laticínio” (Agricultora e associada, entrevista 07, pesquisa de campo, julho de 2009).

A assessoria para a produção do leite foi realizada pelo Instituto Emater17 e prefeituras municipais para todas as famílias. Algumas famílias complementam esta assessoria com outras organizações: a família do Sr. João recebe assessoria da CLAF18, a do Sr. Salvador têm o acompanhamento do CAPA19 e alguns associados do Alto Alegre têm assessoria privada.

Todas as famílias envolvidas nas experiências de agroindustrialização apontam os baixos preços pagos pelos laticínios pelo seu produto, como a principal razão de buscarem a agregação de valor ao leite.

“É por causa que naquela época nós vendíamos leite e o preço era muito baixo, tinha só um comprador, o laticínio lá do Verê e daí eles se aproveitavam de nós colono porque era pouco leite, né. Naquela época aquele que produzia 500, 800 litros por mês, era grande” (Agricultor e associado, entrevista 06, pesquisa de campo, julho de 2009).

Mas, reconhecem que talvez não tivessem dado continuidade a esta proposta se não houvesse o apoio das políticas públicas que viabilizaram parte da infra-estrutura de quatro dessas experiências. Essas políticas oriundas dos governos municipal, estadual e federal

17 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, que assumiu esta denominação em 2005quando se tornou autarquia. Anteriormente a era uma empresa pública denominada de Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural. 18 Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar, organizada para dar assistência técnica e organizar a comercialização do leite de seus cooperados. 19 Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, organização com sede no município de Verê.

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foram vitais para a implantação dessas agroindústrias. Tanto, que quando perguntamos a eles sobre se eles teriam a agroindústria se não tivessem alguns recursos a fundo perdido, alguns foram enfáticos em responder que a experiência não ocorreria: “Eu acho que não! Era muito difícil.” (Agricultor, entrevista 12, pesquisa de campo, julho de 2009) ou “Não, ali tem muitos que não iam gastar nem um tostão!” (Agricultora, entrevista 12, pesquisa de campo, julho de 2009). Alguns foram mais otimistas, mas admitem que a realidade seria diferente: “Poderia ter, mas não assim como está hoje” (Agricultor, entrevista 10, pesquisa de campo, julho de 2009) ou “Poderia ter, pequenininho, só para os sócios, de repente. Mas, daí não ia ter as condições de começar pegar prá fora, porque tem dois, três caminhão, mas daí ia ser só prá associação ali. Acho que não ia ser tanto” (Agricultora, entrevista 10, pesquisa de campo, julho de 2009).

As gestões municipais apoiaram estas iniciativas através da assessoria técnica e da disponibilização de recursos para a construção das unidades ou compra de determinados equipamentos, etc. Estes prefeitos foram influenciados por algumas experiências existentes na região, algumas discussões organizadas pelos movimentos sociais e pela Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná – AMSOP, que apesar de não ter conseguido muitos resultados diretos, conseguiu sensibilizar alguns prefeitos que implementaram programas de incentivo à agroindustrialização da agricultura familiar nos seus municípios.

O governo do Paraná criou em 1999, o Programa Fábrica do Agricultor que disponibilizou a elaboração de projetos e assessoria técnica para as agroindústrias familiares através do Instituto Emater e recursos para a compra de equipamentos através do Programa Paraná 12 Meses. Quatro das experiências pesquisadas tiveram apoio destes programas: Laticínio Alto Alegre, Iogurte Celena, Queijo Capra e Leite Aprove.

Os programas e apoios dos mediadores são mecanismos importantes que dão maior segurança para o processo de inovação dos agricultores familiares, pois como aponta Wilkinson (1999), “a idéia do fracasso é um componente intrínseco da inovação e isto tem que ser resgatado”.

Todas as famílias acessaram crédito oriundo do Pronaf, seja para a implantação da atividade leiteira, seja para equipar a unidade agroindustrial. Algumas famílias do Laticínio Alto Alegre chegaram a hipotecar as suas propriedades para conseguir recursos para concluir o projeto inicial do laticínio.

“Aqui nos começamos do nada. E prá começar o laticínio, não tem, assim, como dizer no banco que nós queremos um financiamento. Daí no fim, eu entrei com o sítio hipotecado no banco prá saí o financiamento do laticínio, por que o banco não dava um real pra isso, era o começo, ninguém tinha nada. E agora, hoje em dia, o banco vem oferecer financiamento, mas naquela época tinha que hipotecar a terra pra poder entra na planta, pro começo...” (Agricultor e associado, entrevista 10, pesquisa de campo, julho de 2009).

Isso demonstra o comprometimento dos agricultores desta experiência, pois muitas agroindústrias que iniciaram suas atividades sem nenhum investimento por parte das famílias acabaram fechando ou sendo assumidas por uma família apenas, como aconteceu com a unidade de leite da família do Sr. Salvador. Como ele era o único que já comercializava o leite, os outros não estavam sensibilizados para as alterações que precisariam fazem na organização do trabalho da família e na unidade de produção para manter uma unidade desta. Isso ocorre porque as famílias não se sentem comprometidas com algo que foi oferecido a eles, às vezes, sem que estes tenham levantado a demanda.

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No caso do Laticínio Alto Alegre, em 1998, os associados tiveram a sua primeira atividade conjunta. As famílias plantaram 4,8 ha. arrendados de milho pipoca. A experiência demonstrou a capacidade de trabalho e participação do grupo, mas a dificuldade de comércio e o baixo preço do produto inviabilizaram a continuidade da experiência. Entretanto, esta experiência foi decisiva para o grupo, pois fortaleceu os vínculos de confiança:

“A gente ficou contente quando juntou o grupo, um grupo que quando dizia ‘vamos fazer tal coisa’, como foi da pipoca, quando a gente chamava vinha tudo, a gente não tinha como dizer que um ficava pra trás ‘eu não vou, eu não vou junto com eles’, então com isso a gente ficou contente, né. Então é um momento em que a gente achou que a coisa ia funcionar, a gente ficou muito contente, né” (Agricultor e associado, entrevista 06, pesquisa de campo, julho de 2009).

Além disso, no Laticínio Alto Alegre, as famílias ajudaram na limpeza da área, construção de cercas, abertura de valetas e fossas, plantio de grama, corte de lenha, transporte do leite (que era realizado com caminhonete própria), entre outros serviços e continuaram a colaborar nessas tarefas por quase dois anos. Apesar dessas tarefas serem marginais à atividade principal da unidade, esse processo fez com que o associado se sentisse parte integrante do projeto que estava se iniciando.

“[...] não ajuda tanto, né, mas arruma uma cerca, sempre tem serviço para plantar grama, aquela época era pequeno, né. Hoje já tem tudo em volta, planta a grama, ajeita, pra fica bonito, né. Arrumamos toda a cerca em volta, né. Nós trabalhamos muitos dias ai, mas ninguém cobrou, né. Dizia ‘olha tal dia vamos faze aquilo’, eu sempre vinha, né. Mas se não podia pagava um pra ir no lugar, então era uma coisa que com o tempo ia crescer, né, todo mundo tava interessado. O laticínio não tinha condição de pagar tudo, né. Então nós entrava com serviço, né” (Agricultor e associado, entrevista 06, pesquisa de campo, julho de 2009).

Entretanto, após este período os associados se afastaram do cotidiano da agroindústria, com exceção do administrador geral e comercial da agroindústria e sua esposa, responsável pela área de produção. Os sócios nunca manipularam o produto, este trabalho sempre foi realizado por funcionários assalariados, mesmo que, os cinco que iniciaram a produção fossem membros das famílias associadas. Nas experiências individuais, pelo contrário, são os membros das famílias que fazem o processamento e a comercialização do produto. O conhecimento utilizado para a transformação do leite foi diferenciado entre as experiências individuais e a coletiva. No caso das famílias que atuam individualmente, o processo de transformação do leite já era realizado pelas mulheres para a produção de queijos e outros produtos utilizados na alimentação da família e na venda do excedente. A inovação ocorreu no sentido de descobrir uma nova estratégia de ganho de vida e de geração de renda utilizando o conhecimento, o saber fazer e as habilidades já apreendidas previamente. Pois, como formulou Stuiver et all (2004, p. 102):

“O conhecimento dos agricultores é implícito à prática produtiva, ou seja, é ancorado na ação. No curso do tempo os agricultores monitoram, avaliam e ajustam a eficiência de suas práticas e decisões. O ajustamento é constante e leva a novos ajustamentos nos diferentes domínios da produção. Este ajustamento é uma espiral: agricultores constantemente ajustam, monitoram, avaliam e novamente ajustam. Neste caminho eles aprendem fazendo e fazem através da aprendizagem”

A agroindústria familiar emerge assim como uma prática experimental e alicerçada no conhecimento histórico dos agricultores, que vão melhorando as suas maneiras de fazer

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e de produzir, ajustando-as e culminando com a agroindústria. Nas unidades individuais este processo é diferenciado entre os membros da família. Os homens têm acesso a muito mais informações que as mulheres, devido às atividades que ele exerce na atividade e ao acesso privilegiado ao meio externo à unidade de produção. Mas, comparativamente aos agricultores que atuam especificamente em atividades agrícolas, ambos têm acesso a muito mais informações sobre tecnologia, preços, mercado, políticas, legislação, etc. que os seus similares em gênero. Na experiência do laticínio Alto Alegre, apesar de haver três famílias que produziam queijo, este conhecimento não foi aproveitado para a produção da agroindústria, pois o tipo de queijo e o processamento eram muito diferenciados e os membros destas famílias que tinham este conhecimento, não atuaram diretamente no setor de produção do laticínio. Assim, os membros que trabalham no processamento do produto tiveram que passar por cursos e assessorias e no decorrer do processamento, tiveram que buscar muitas informações para superar os problemas que iam surgindo e ainda surgem.

“[...] olha fazer queijo não é fácil. Eu gosto de comparar com fazer pão. Porque quem, por exemplo, faz semanalmente pão, eu desafio alguém nunca ter errado um pão, ai eu pergunto, e queria fazer errado? Não fez pra fica bem fofinho, gostoso? Não fico uma paçoca? E porque que fico uma paçoca, você queria que ficasse assim? A mesma coisa é o queijo, ali tem muita coisa bem... bem melindrosa, é uma área assim que você nunca pode ergue o braço e dizer ‘agora eu sei, agora eu não erro mais’’. De tão complicadinho que é. E a gente teve bastante problema assim, até descobrir pelo menos algumas coisinhas. Então, a gente é assim, uma criança na área, assim tem muito o que aprender, é muito complicado esse processo, sabe? Por que? Porque o que tem a vê, o leite tem as época que a composição é diferente, ai tem a qualidade, né. Épocas de verão, inverno interfere, o calor por causa da acidez e daí pode vê a problemática!” (Associada e gerente de produção, entrevista 05, pesquisa de campo, junho de 2009).

A tecnologia concretizada nos processos diferenciados, nas máquinas e equipamentos apresentados na unidade coletiva é como uma ameaça ao controle que o agricultor tem sobre a sua produção, pois, com suas práticas artesanais, os agricultores dominam todo o processo produtivo do leite, tanto pelo conhecimento como pelo acesso aos recursos necessários, o mesmo não ocorrendo com as novas tecnologias (Aguiar, 1992). Esse processo faz com que os agricultores se tornem mais dependentes daqueles que detêm o conhecimento do processamento dos produtos, que são diferentes daqueles que historicamente fazem parte de seus “saberes”, que foram sendo adaptados e repassados de pai para filho por muitas gerações. Além disso, agroindústria de derivados de leite é bastante complexa por processar matéria prima de origem animal, que tem uma legislação ambiental e sanitária bastante exigente. Entretanto, a maior dificuldade é descobrir os caminhos a serem seguidos, pois é uma multiplicidade de requisições, projetos e exigências bastante confusas e os interessados se deparam com muitas informações desencontradas.

“Se soubesse que era tão complicado não começava mais. Chego um ponto que às vezes nós dizíamos, se nós soubéssemos que era tanta lei, tanta coisa, se nós soubéssemos que era assim antes de começar, nós jamais teríamos começado. Ainda bem que não sabia. Porque você vai levando, resolve um problema, aparece mais dois, três, vai resolvendo aquele, sabe? Você vai acostumando no ritmo, mas é uma atividade... preocupante. Máquina então, se o processo já é complicado imagine máquinas, manutenção cara, tudo de longe. Sem conta com a lei, lei do

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IAP, tudo mais. Eu sempre digo, se existe complicação está nos laticínio. Pense qualquer outro produto, olha eu acho que o de leite é o pior” (Associada e gerente de produção, entrevista 05, pesquisa de campo, junho de 2009).

Na unidade coletiva, percebe-se que as famílias de agricultores não participaram diretamente deste processo, pois com exceção de uma entrevista em que o associado acompanhou o gerente em algumas destas incursões para a liberação da agroindústria, os entrevistados não levantaram a necessidade de descobrir os caminhos para conseguir determinados documentos ou liberações como uma dificuldade. Além disso, há outros conhecimentos que são necessários para a legalização da unidade relacionados a questões jurídicas e tributárias. Estas questões são muito difíceis, pois podem ocasionar a perda da categorização como agricultor familiar que resulta na perda de direitos, como o crédito subsidiado Pronaf e a aposentadoria do casal. A experiência do Laticínio Alto Alegre foi o exemplo de um grupo que, informado das exigências e conseqüências da legislação vigente, buscou assumir uma pessoa jurídica que impediu esta troca de enquadramento dos agricultores. O mesmo não ocorreu com o Sr. Celeste, que sofreu perda dos direitos adquiridos como agricultor familiar. 4. O desenvolvimento das unidades de produção As famílias avançaram no processo de produção do leite. Atualmente, todas as famílias envolvidas têm animais melhorados geneticamente para a produção de leite, fazem rotação de piquetes de forrageiras perenes e anuais, têm ordenhadeiras mecânicas e resfriadores de leite. Entretanto, ainda há muito a fazer para melhorar a quantidade e qualidade do leite, sem comprometer a sustentabilidade econômica e a diversidade da unidade de produção. Apenas um dos agricultores deixou de produzir o leite e passou a comprar o leite de agricultores vizinhos para produzir o iogurte, pois ele não tinha outros membros da família para auxiliá-lo. Mas, isso aumentou o seu custo de produção e comprometeu a qualidade do produto final.

As prefeituras, Instituto Emater e outras organizações dos próprios agricultores como as cooperativas de produção, as CLAFs20 e o CAPA trabalharam para a melhoria da produtividade e qualidade do leite. As secretarias municipais da agricultura implantaram programas que fomentavam a produção de leite a base de pastagem e o melhoramento

20 É um tanto complicado falar da relação da CLAF com os agricultores, pois, no fundo, um é parte do outro.

A CLAF é uma entidade organizada pelos agricultores da região, mas lembrando da preocupação de Brandão

(1986: 19) as lideranças podem ser, “porventura, os sujeitos da comunidade menos integrados às redes da

estrutura local que socialmente organiza e distribui pessoas e grupos como sujeitos e identidades individuais

e coletivas”, em alguns momentos, parece que a entidade cria vida própria e continua a caminhar sem saber

se os agricultores conseguem acompanhar no mesmo ritmo. Assim, às vezes, a ação de organizações como

esta, agem e funcionam semelhantemente a um outro mediador que se relaciona com os agricultores da

região.

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genético a partir da inseminação artificial. Este trabalho e a melhoria no preço recebido por litro de leite motivaram os agricultores a melhorarem a sua estrutura produtiva. No município de Verê, o processo de agroindustrialização está intimamente ligado ao incentivo da administração municipal, como aconteceu em alguns outros municípios da região. O projeto municipal viabilizou o local, parte da construção, apoio técnico e, acima de tudo, apoio contínuo em questões pontuais que iam surgindo, o que potencializou a utilização dos recursos oriundos de programas estaduais e federais, destinando estes recursos de forma a somar com os projetos de agroindústrias existentes no município. No caso de municípios em que não havia técnicos e lideranças comprometidas com a proposta de agroindústrias, os agricultores tiveram maior dificuldade de acessar os recursos dos programas e políticas. Isso ocorreu com a unidade de iogurte, na qual o agricultor perdeu a oportunidade de acessar recursos subsidiados por receber orientações incompletas sobre os procedimentos adequados. Assim, as políticas e programas são importantes, mas é preciso que os agricultores e os mediadores estejam comprometidos e atuantes para que façam esses programas serem operacionalizados adequadamente nos municípios e dêem o apoio necessário para a execução do projeto na sua totalidade. Em alguns casos isso é realizado pelas prefeituras municipais e/ou Emater, mas em alguns casos isso parte da iniciativa das organizações de agricultores familiares, como o CAPA, o cooperativismo de crédito, a Coopafi, etc. Essa rede de relações que viabilizaram o acesso de algumas experiências a diferentes recursos, é chamada por Mior (2005) de redes de desenvolvimento rural. As unidades melhoraram a qualidade de seus produtos transformados através do conhecimento adquirido com a própria experiência, as assessorias externas, os cursos e através da troca de conhecimentos com outras famílias com agroindústrias. Além disso, investiram em embalagens e rótulos que ajudaram a divulgar a sua marca e, conseqüentemente, o seu produto. Apenas o Sr.Salvador precisa trocar a embalagem do leite pasteurizado e da nata, pois ainda estão sendo comercializados no nome da associação. Além disso, a nata, que está sendo comercializada na mesma embalagem do leite, precisa de embalagem própria. O leite não pasteurizado não tem como regularizar o seu processamento sem ocorrer o investimento em uma unidade com pasteurizador, pois a legislação brasileira não permite a comercialização do leite não pasteurizado para o consumo humano e a embalagem utilizada compromete a qualidade de seu produto. A quantidade produzida atualmente em relação ao início do processo aumentou em todas as unidades, apesar de alguns terem recuado um pouco no seu volume de produção posteriormente, como o iogurte Celena e o queijo colonial Três Irmãos. Os agricultores têm afirmado que teriam mercado para ampliar ainda mais a sua produção, mas não têm condições devido à escassez de força de trabalho na unidade de produção. Razão pela qual um dos produtores de queijo abandonou esta atividade, alegando que era muito penoso para sua esposa arcar com esta atividade sozinha.

As famílias de agricultores estão cada vez menores e como os jovens não querem permanecer no meio rural há uma escassez de força de trabalho nos estabelecimentos rurais. Nas agroindústrias, a necessidade de força de trabalho é visível, pois as atividades são intensivas e necessitam de habilidades diferenciadas. As famílias contratam força de trabalho para atividades pontuais necessárias no manejo das lavouras e animais. Entretanto,

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encontram mais dificuldade para a contratação de pessoas permanentes para auxiliá-los nas atividades da produção e da agroindústria.

As famílias trabalham na agroindústria de forma integrada com as atividades referentes às áreas de lavouras e animais, assim a atividade se torna mais complexa, exigindo pessoas que tenham capacidade de atuar em diferentes atividades numa gestão mais flexível (PERONDI & KIYOTA, 2002). Isso dificulta a contratação de pessoas que não estão inseridas na estratégia do agricultor familiar, no qual não se consideram as horas trabalhadas, mas as atividades a serem executadas.

Algumas unidades já buscaram a contratação de força de trabalho externa, mas encontraram muita dificuldade para encontrar pessoas com o perfil exigido para estas atividades, pois estas tarefas exigem cuidados específicos, tais como os de higiene, que nem sempre são assumidos apenas com orientações pontuais. Assim, esta força de trabalho precisa ser selecionada e capacitada para executar as tarefas na unidade agroindustrial.

No Laticínio Alto Alegre, as famílias associadas não participam efetivamente do processo de transformação do leite, com exceção do casal responsável pela gestão da agroindústria e da área de produção e alguns membros que são assalariados. Os associados participam apenas da produção do leite.

Nos estabelecimentos, com exceção de uma família em que a esposa tem problemas de saúde, as mulheres são extremamente atuantes nas atividades diárias de ordenha e no cuidado aos bezerros. Os homens que são os sócios, os outros membros da família como as mulheres e jovens só poderiam assumir no caso da morte deste. Assim, algumas mulheres acompanham os maridos nas reuniões, mas têm pouca participação nas discussões. As mulheres expõem as suas posições dentro da família, mas é o homem que traz a sua contribuição para a reunião, pois não há um ambiente favorável para o acolhimento das idéias ou contribuições das mulheres.

“[...] mas não quer dizer que eu não participo de idéia, sabe? Mas não na assembléia, na assembléia isso não adianta... porque é dos homens, né. O poder de fala é deles. Se elas tiverem idéias não quer dizer que não deve ser colocado, às vezes elas podem até trazer idéias se quiserem. Mas na assembléia isso não é aberto. Então se as mulheres têm idéias podem falar, nunca foi dito pra A ou B não falar, mas, nunca foi dito isso, assim, prá abrir espaço pra elas expor a idéia. Que dizer. se ela falar, não vão mandar ficar quieta, né. Mas, é um grupo, no grupo, sócio é os homem, não quer dizer que as mulheres não poderiam ser sócias, mas daí teria que se definido por eles, de se abrir a associação” (Esposa de associado, entrevista 05, pesquisa de campo, junho de 2009).

Os jovens encontram-se nas mesmas condições, apesar de poderem participar das reuniões, caso o “chefe da família” não possa comparecer à reunião. Esse pode ser um dos fatores do baixo envolvimento dos jovens com a proposta, pois mesmo aqueles que atuam na produção de leite ou como funcionários da unidade agroindustrial não se mostram comprometidos pela proposta de estarem participando de algo que futuramente serão deles. As únicas exceções ocorrem com dois filhos de sócios que já assumiram a gestão da unidade de produção dos pais, mas estes já não são tão jovens assim e os pais praticamente já se aposentaram. Nas unidades individuais as mulheres participam ativamente das atividades internas da agroindústria. As mulheres geralmente gerenciam a transformação dos produtos, organizando a unidade de produção de derivados de leite, mas são os homens que fazem a

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comunicação da unidade com o meio externo. Isto é, as mulheres que organizam a produção, embalagem e rotulagem e fazem a limpeza e a verificação da manutenção dos equipamentos e da unidade. Mas são os homens que compram os insumos, contratam técnicos para alguma assistência técnica ou reparo nos equipamentos e se responsabilizam pela comercialização dos produtos. Isto já havia sido percebido em pesquisa anterior realizada por Kiyota (1999) na mesma região. Dona Terezinha, esposa do Sr. Salvador, é a única que atua em uma parte do processo de comercialização. Ela é a responsável pela cobrança.

“Eu tenho a facilidade de fazer cliente e ela tem a facilidade de fazer cobrança! Eu não sei cobrar, ela não, ela tem jeito. Ela vai lá e conversa! Ela dá um jeito, ela cobra a conta, ou ela pega mercadoria... qualquer coisa ela faz!” (Agricultor, entrevista 02, pesquisa de campo, julho de 2009).

Essa unidade se diferencia das outras, pois o único membro jovem envolvido na agroindustrialização dos produtos é o filho do Sr. Salvador que atua em tempo parcial na unidade de produção, apesar de ainda prestar serviços a uma empresa urbana. Os outros filhos que moram nos estabelecimentos das famílias têm empregos no meio urbano e apenas ajudam em alguns momentos pontuais, sem assumir responsabilidades específicas.

No Laticínio Alto Alegre, como o processo não está vinculado com as atividades cotidianas do estabelecimento rural, o processo de contratação dos funcionários é mais fácil do que nas unidades individuais. Mas, eles têm alguns problemas quando este processo envolve membros das famílias de associados.

Com algumas exceções, os filhos de associados que estão trabalhando na agroindústria, são jovens que não têm outras perspectivas. Isto se reflete na forma como estes se posicionam perante a agroindústria, não atuando como se esta unidade pertencesse à sua família e por isso trabalhassem para contribuir para o desenvolvimento deste patrimônio, mas como se eles tivessem o direito de estar usufruindo de um emprego na unidade de sua família sem compromisso com os resultados desta. Esses jovens optaram por serem funcionários do laticínio para ter condições de dar continuidade aos estudos ou como um meio de ganhar algum dinheiro e não por considerá-lo uma boa opção de trabalho permanente. Assim, com exceção de alguns que assumem funções que exigem uma habilidade e/ou formação diferenciada, aqueles que atuam no setor de produção são aqueles que não têm muita empregabilidade no mercado de trabalho externo ou querem continuar os estudos em busca de outras alternativas futuras. Os agricultores apontam alguns filhos de associados que permaneceram na propriedade como uma conseqüência da agroindústria, mas considerando a estratégia de reprodução da agricultura familiar esta é uma prática comum na qual um dos filhos permanece na área da família, cuidando dos pais e recebendo o estabelecimento como herança (PERONDI, 1999). Não há nenhuma mulher que aponte como seu projeto de vida a continuidade na propriedade e, pelas entrevistas, é possível perceber que nem os pais esperam por isso. Isso ocorre porque, apesar da mecanização da ordenha e de outras atividades da lavoura, o trabalho no estabelecimento rural continua penoso. Além disso, a produção leiteira demanda atividades diárias em horários específicos, o que dificulta ainda mais a organização da família e a possibilidade de assumir compromissos em que seus membros tenham que se ausentar do estabelecimento.

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5. O processo de comercialização dos produtos agroindustrializados A comercialização dos produtos das unidades individuais é realizada pelos próprios agricultores. Nesta parte do processo, a participação das mulheres é quase inexistente, pois como já foi apontada em trabalhos anteriores (KIYOTA, 1999), a comercialização dos produtos da agricultura familiar é uma atividade predominantemente masculina. A comercialização da unidade coletiva é realizada através de representantes comerciais não vinculados diretamente à agroindústria.

“Só vendemos para distribuidor, não é feita venda direta. A logística é por conta deles. Assim, para vender aqui pra nós, tem que ter um caminhão com câmara fria, tem que ser pessoa que tenha crédito, seja conhecida, com um cadastro. Carrega o produto aqui com uma programação. E eu trato um preço com ele e ele fica me devendo essa carga. O que ele vende acima desse preço, é o resultado que ele tem. Ele faz o transporte, vende, faz a entrega, faz a cobrança e assume a inadimplência. Eu trato o preço com ele, não vendo no varejo!” (Associado e gerente, entrevista 01, pesquisa de campo, outubro de 2008).

Esta forma de comercialização é resultado de um processo construído a partir de experiências anteriores: “Inicialmente, eu vendia e pagava frete pra levar ou o cidadão vinha buscar. Pegava uma cidade, escolhia um distribuidor, associado e entregava para este, pagando frete. E foi aí que eu perdi dinheiro!” (Associado e gerente, pesquisa de campo, outubro de 2008).

Este processo de aprendizado a partir da experimentação foi uma constante no processo de gestão da unidade, na qual os produtos foram assumindo diversidade, receitas, volumes e formas de apresentação de acordo com o retorno dos consumidores. Atualmente eles produzem uma grande diversidade de produtos. As agroindústrias individuais atuam com um ou dois produtos e a comercialização é realizada pelos próprios agricultores no município e, no caso do iogurte, em alguns municípios vizinhos também. As unidades individuais foram conquistando o seu mercado e hoje já têm a destinação dos produtos garantida. Os queijos são comercializados nos supermercados e mercearias dos respectivos municípios. O leite e a nata pasteurizada são entregues em sorveterias e panificadoras e para os consumidores que vão diretamente à propriedade comprar os produtos. O leite não pasteurizado é entregue diretamente nos domicílios. O iogurte é comercializado no município para supermercados e através do Sistema de Cooperativas Integradas da Agricultura Familiar – Siscoopafi para a região e para o mercado institucional da alimentação escolar.

Os produtos do Laticínio Alto Alegre são distribuídos por quase a totalidade do Paraná e agora estão solicitando a obtenção do registro no Sistema de Inspeção Federal para ampliar o comércio incluindo os outros estados. Alguns produtos têm maiores demandas que outros, mas os mercados abertos por determinado produto facilitam a entrada dos outros. Assim, todos os produtos que são incluídos no portifólio da marca, vão sendo incluídos no mercado já conquistado anteriormente.

Entretanto, isso ocorre porque os produtos são direcionados para uma faixa de consumidores com características semelhantes. O processo é diferente no caso da família Capra que quer diversificar com queijos finos, pois os consumidores do queijo colonial e manteiga, produzidos atualmente, são diferentes daqueles que consomem queijos finos. Neste caso, é necessário um cuidado maior no lançamento dos novos produtos.

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Os produtos das unidades individuais são comercializados, principalmente, no município. Isso facilita a comunicação entre produtor e consumidor, fazendo com que o produtor tenha acesso às demandas de paladar, preço, forma de apresentação, etc. do produto. Mas, em municípios de porte médio ou grande, quando a comercialização é realizada em supermercados esta comunicação é mais difícil, sem uma pesquisa de opinião.

“Teve uma vez que teve essas feiras que teve degustação. Inclusive, um dia eu estava lá e os clientes experimentavam e diziam: ‘Esse aqui é bom, mas vamos ver se no mercado é o mesmo, né?!’ Então, é difícil, se você vende no mercado, não tem como tu saber o que o consumidor acha do teu produto no mercado” (Agricultora, entrevista 13, pesquisa de campo, julho de 2009).

A participação em feiras, como as Feiras Sabores do Paraná promovidas pela SEAB, é interessante, pois o agricultor tem a oportunidade de ter um retorno sobre o seu produto. A degustação permite um momento de comunicação com os consumidores e o contato com outros agricultores, com produtos similares produzidos com a disponibilidade de infra-estruturas semelhantes à sua, permite a troca de experiências. Três destas unidades participaram destas feiras e apontam que seus produtos ganharam visibilidade com isso: Laticínio Alto Alegre, Iogurte Celena e Queijo Capra. Entretanto, os agricultores encontram dificuldades para participar destas feiras, por não ter outras pessoas para assumir suas funções na unidade de produção.

“Aqui em Beltrão a gente até foi expor algumas vezes ali sim! Só que esbarramos na questão da mão-de-obra. Porque saí daqui e como é que fica daí!. Assim só se for mais pela questão de divulgação, porque a questão de comercialização, pra gente ir ali não d ... Vamos dizer o preço do aluguel, é capaz de não tirar no tempo que ficava ali, né?! (Agricultor, entrevista 13, pesquisa de campo, julho de 2009)

O Sr. Celeste sofreu muito tentando colocar o seu produtos nos supermercados de médio e grande porte, até desistir e tentar outras formas de comercialização.

“No começo quando a gente montou a fábrica, ‘é fácil vamos lá que eles compram’. Não é bem assim, a concorrência é altíssima e pra entrar em mercado: os pequenos não cobram nada, mas, tipo esses maiores... O Ítalo me cobrou 500 reais em produto e eu não sabia que isso tinha que ser feito... Ninguém avisou, aí hoje, a gente sabe. Puxa! Eu vou montar uma fábrica pra vender pros mercados, não é fácil não” (Agricultor, entrevista 08, pesquisa de campo, julho de 2009).

Os agricultores buscam o comércio local porque a escala de produção é pequena e estes não estão preparados para a comercialização nos grandes mercados fora do município, pois a ampliação do mercado consumidor para além dos limites dos municípios de origem exige um planejamento cuidadoso. Fora de seu município, o produto perde a sua diferenciação de origem fazendo com que este tenha que concorrer diretamente com produtos similares de grandes agroindústrias (KIYOTA, 1999). Essas outras agroindústrias, além de ter marcas consagradas no mercado, apresentam acordos diferenciados com os atacadistas que favorecem a compra do seu portifólio de produtos. Assim, nas unidades individuais, a comercialização também é um processo construído a partir das experiências, mas a partir das relações vivenciadas com os consumidores dos seus produtos. Essa relação permite a construção social de mercados pelas próprias famílias, estes mercados são de proximidade e de relacionamento social com os outros atores, desenvolvendo-se através das cadeias curtas (MARSDEN, 1999; 2009) e caracterizando-se por determinar uma maior autonomia dos agricultores sobre estes.

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6. A trajetória das agroindústrias familiares rurais As famílias das experiências individuais intensificaram atividades já desenvolvidas

nas unidades familiares para o autoconsumo e venda de excedente, isto é, as famílias já vendiam leite ou queijo para alguns vizinhos ou para moradores das áreas urbanas. Assim, o incentivo oriundo das prefeituras municipais em conjunto com programas do governo estadual veio de encontro às estratégias já iniciadas pelas famílias.

O processo do caso do laticínio coletivo foi diferente. O grupo se organizou em associação já com a pretensão de agregar valor aos seus produtos e, apesar de contar com o apoio de organizações como o CAPA e o STR, o grupo já demonstrava certa pré-disposição em trabalhar coletivamente antes da proposta da agroindústria

As políticas e programas públicos priorizam o atendimento de projetos coletivos, mas nem sempre isso garante que um grupo seja beneficiado a médio e longo prazo. A associação das sete famílias que originaram a unidade de pasteurização de leite Aprove foi montada especificamente para atender os critérios de enquadramento do Projeto 12 Meses, mas o grupo não estava preparado para assumir um empreendimento coletivo como esse. Esse fato, complementado com a não participação individual das famílias nos investimentos iniciais do projeto, fez com que o grupo se dissolvesse facilmente e a unidade permanecesse apenas com uma família.

A forma de organização jurídica do Laticínio Alto Alegre, com a manutenção da associação e a abertura de uma empresa em nome de agricultores aposentados, permitiu que os sócios não perdessem a condição de agricultor familiar perante o crédito e ao sistema de seguridade social. Mas, a associação mantém os seus direitos de propriedade a partir de um contrato lavrado paralelamente e, no final de cada ano, os associados recebem o lucro gerado pelo volume de leite entregue individualmente. A apropriação do conhecimento sobre os processos de instalação, produção, gestão e comercialização é centralizada em todos os casos. Nos casos individuais, os conhecimentos estão centralizados na figura do homem, que centraliza as ações de gestão e comercialização, compartilhando apenas os conhecimentos da atividade de produção com as mulheres e jovens. No Laticínio Alto Alegre, o associado que exerce a função de gerente geral controla todo o conhecimento sobre o funcionamento, gestão e comercialização do laticínio e sua esposa controla os conhecimentos do processo de produção. A agroindústria familiar rural apresenta ainda muitos desafios para os agricultores, como a dificuldade de acesso a recursos financeiros, o entendimento da legislação ambiental, sanitária e fiscal, o acesso a tecnologias adaptadas às dimensões das unidades familiares, a escassez de força-de-trabalho, o acesso ao mercado, entre muitos outros. Desta forma, os agricultores que se inseriram nesta novidade produtiva travam uma luta cotidiana para ir se estruturando de acordo com um planejamento que considere desde a produção de matéria-prima até a entrega do produto nas mãos do consumidor. 7 Bibliografia

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