“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim Janaina”
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas
comunidades Chico Mendes e Jardim Janaina
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Acadêmica: Letícia Silva Melo
Florianópolis, junho de 2010.
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AGRADECIMENTOS
A minha família por todo o apoio dado
Aos meus amigos pela amizade construída e preservada
Ao meu filho pelo sopro de vida que me deu para terminar esta jornada.
Te amo!!!
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SUMÁRIO 1. Delimitação do tema
2. Objetivo geral
2.1. Objetivo especifico
3. Formulação do problema
4. Hipótese
5. Justificação
6. Revisão bibliográfica
6.1. Agricultura urbana
6.2. Contexto da agroecologia
6.2.1. Prática agroecológicas
6.2.2. Adubação orgânica e Cobertura morta
6.2.3. Defensivos naturais e Controle de pragas
6.2.4. Rotação de culturas e Manejo do solo
6.2.5. Reciclagem do resíduo orgânico ( compostagem)
7. Histórico do CEPAGRO
7.1. Histórico Biguaçu
7.2. Histórico Chico Mendes
8. Metodologia
9. Resultados e Discussões
10. Considerações Finais
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LISTA DE ABREVIATURAS
AU – Agricultura Urbana
ASA – Ação Social Arquidiocesana
ASSJE – Ação Social da Igreja São João Evangelista
AS-PTA – Alternativa Assessoria e Serviços a projetos em Agricultura
CESE
CEASA
CEPAGRO – Centro de estudo e Promoção da Agricultura de Grupo
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
HC – Horta Comunitária
IFPRI – International Food Policy Research Institute
MEC – Ministério da Educação
NEAD - Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
ONG – Organização Não Governamental
REDE – Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas
SEAG-ES- Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca do
Espírito Santo
SESAN- Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional.
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Principais adubos orgânicos e seus eleitos químicos e biológicos
Figura 2: Horta Comunitária locada na Igreja São João Evangelista
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Estratégias para o controle de pragas e suas praticas adotadas na agroecologia.
Tabela 2: Cidade de origem, grau de escolaridade e profissão das entrevistadas.
Tabela 3: Renda familiar em reais (RF) dos entrevistados, RF per capita e número de
integrantes da família.
Tabela 4: Mudas plantadas na Horta comunitária Jardim Janaina
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RESUMO
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1. Delimitação do Tema
Atualmente a Educação Ambiental é uma peça chave para o desenvolvimento,
formação e conscientização das pessoas, quanto à degradação do Meio Ambiente. No
entanto, para muitas delas ainda é um assunto desconhecido.
Na sociedade em que vivem, bilhões de pessoas, grande parte dos recursos naturais
é explorado, e a maioria dos espaços onde a civilização ocupa sofre intensa
modificação. Alem das intervenções no ambiente ocorrem vários distúrbios na
sociedade, tais como: desigualdade social, falta de emprego, problemas no sistema de
saúde, nas relações de convivência e a violência como um todo.
A agricultura moderna utiliza indiscriminadamente os recursos naturais. Alem de
gerar muitos resíduos e degradar os espaços ocupados, exclui famílias criando riscos à
saúde.
Diante deste contexto de degradação, na década de 80 surge o conceito de
sustentabilidade. Ele passou a ser utilizado e indica novas propostas nas áreas de
economia, social e ambiental, objetivando a busca de outra forma de desenvolvimento.
É nesse contexto que a Agricultura Urbana (AU) se encaixa, incentivada como
forma de combater a insegurança alimentar e nutricional que atinge as comunidades
carentes, contribuindo para a conservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade
de vida urbana.
A criação de Horta Comunitária (HC) é uma iniciativa, que busca o
desenvolvimento de comunidade de baixa renda, levando esta a uma melhor inclusão
social e efetivação do exercício da cidadania, através de atividades que tenham como
objetivo a promoção da saúde, ações educativas voltadas a aspectos ambientais e
sociais.
Na AU vários princípios da Agroecológia são utilizados, buscando manter a
agricultura como uma atividade menos impactante ao meio ambiente, com melhores
contribuições às populações, proporcionando um ambiente saudável, tendo como
resultado alimentos de boa qualidade, equilíbrio das famílias e das relações de
cidadania.
Neste sentido, este trabalho visa identificar práticas de AU. O estágio será
executado através do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo
(CEPAGRO), a ser realizado na cidade de Florianópolis no bairro Monte Cristo, na
comunidade Chico Mendes e no município de Biguaçu, no bairro Jardim Janaina.
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Tendo este como objetivo, o gerenciamento comunitário dos resíduos orgânicos de
forma articulada em instituições de ensino, entidades comunitárias, iniciativa privada e
poder público. Para a coleta dos resíduos e transformação deste em composto orgânico a
serem utilizados em hortas escolares, quintais e espaços comunitários.
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2. Objetivo Geral
Acompanhar o andamento dos Projetos de Agricultura Urbana nas comunidades
Jardim Janaina e Chico Mendes.
2.1. Objetivo Específico
•Visitar, implantar e acompanhar os projetos de AU.
•Desenvolver práticas de AU a partir dos princípios da agroecologia
•Avaliar o desenvolvimento dos projetos e seus participantes.
3. Formulação do Problema
Muitas famílias saem do meio rural em busca de melhores condições de vida,
entretanto, nem todas as pessoas conseguem ter uma vida melhor do que a que tinham
no meio rural. A falta de emprego aliado à falta de especialização para o trabalho
dificulta a possibilidade de se ter uma vida melhor. Nesse contesto grande parte dos
moradores que formam as comunidades de periferia das cidades, são de origem rural,
devido à falta de recursos financeiros, baixa escolaridade aliados a falta de medidas
publicas com sistema de esgoto adequado, assistência a saúde e moradia, muitas dessas
pessoas vivem em condições de miséria, vivendo de doações e sem nenhuma noção de
higiene o que eleva a agravar os problemas fitossanitários da comunidade.
Por conta disso foi feito contado com as lideranças locais, quando foi feita a
exposição do projeto. Na apresentação foi deixado claro a sua viabilidade social e
econômica, com um provável bom resultado as comunidades envolvidas.
4. Hipótese
A educação ambiental e alimentar se inserem nos temas transversais de Meio
Ambiente e de Saúde. A horta e a coleta do resido orgânico para produção de composto
oferece vastas possibilidades de se desenvolver educação ambiental e alimentar, numa
perspectiva ampla e contextualizada, por se tratar de uma ferramenta capaz de agregar
diversos campos do conhecimento.
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5. Justificação
Com o crescente êxodo rural, onde famílias inteiras mudan- se para as cidades em
busca de uma melhor condição de vida, segurança alimentar e educação. O nível de
qualidade de vida das comunidades urbanas vem baixando cada vez mais, gerando nos
grandes centros urbanos uma maior demanda na busca de empregos e moradia.
Nem sempre quem se muda para as grandes cidades consegue estabelecer uma vida
melhor do que a que tinha no campo, o que leva estas pessoas a morarem nas periferias
das cidades e quase sempre em precárias condições de vida. Devido à falta de
capacitação muitos vivem de empregos informais e sem nenhuma segurança alimentar.
Na busca por alternativas para este problema, a AU dentro das comunidades busca
melhorar a qualidade de vida das famílias. “Neste ponto a agricultura urbana,
desenvolvida de forma planejada, promove diversas melhorias nas estruturas sociais de
uma região, pois favorece o dialogo e a integração familiar, assim como estimula o
trabalho comunitário e coletivo, além de ser um trabalho recreativo e útil” (SIAL &
YURJEVIC, 1993) citado por Abreu (2004, p.11).
A partir dos princípios agroecológicos tenta-se fornecer e garantir um meio
ambiente equilibrado com educação ambiental, segurança alimentar e geração de renda.
Sendo assim este projeto buscou resgatar as heranças rurais e possibilitar uma melhor
alimentação para as famílias, vista que muitos vieram de áreas rurais. O cultivo em HC,
quintais, escolas e a coleta de resíduos orgânicos, visam melhorar as condições de
higiene e saúde da comunidade.
Porem a oportunidade de praticar um bem social ecológico, ajudar, tecer amizades, e
adquirir conhecimentos são fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho.
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6. Revisão Bibliográfica
6.1. Agricultura Urbana
De acordo com UN-HABITAT (2007), em 1976, um terço da população mundial
vivia em cidades, Trinta anos depois, metade da população do mundo vive em centros
urbanos e até 2050 espera-se que chegue a 60% da população mundial, totalizando seis
bilhões de pessoas. Especialmente em países em desenvolvimento ocorre um
crescimento desordenado, com até 50% da população vivendo em situações precárias de
habitação, saneamento, saúde e serviços. (UN-HABITAT, 2007) citado por (VIEIRA,
2009).
Segundo autor Van Veenhuizen (2006) ressaltado por (VIEIRA, 2009) afirmam que
40% da população da Cidade do México e um terço da de São Paulo vivem abaixo da
linha da pobreza. A América Latina é considerada a região mais urbanizada dos países
em desenvolvimento, com mais de 75% da população vivendo em cidades, número que
segundo previsões deve subir para 81%, em 2020. Nessa região, com exceção do Brasil,
o padrão de urbanização de vários países consiste em apenas uma grande cidade,
concentrar grande proporção da população urbana.
Um dos maiores desafios que a humanidade tem enfrentado é o crescimento
populacional e o aumento da urbanização. Em 1998, a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e Agricultura (FAO) sinalizava que a população da época já
ultrapassava mais de seis bilhões divididas igualmente entre as cidades e as áreas rurais,
com a expectativa de que por volta de 2005 as áreas urbanas ultrapassassem as áreas
rurais em termos populacionais (FAO-SOFA, 1998). Outro estudo indica que em 2015,
26 cidades no mundo deverão ter uma população de 10 milhões ou mais de pessoas.
Para alimentar uma cidade deste porte - Tokyo, São Paulo, Cidade do México – pelo
menos 6000 toneladas de alimentos serão necessárias por dia (UN, 2004). (CRIBB &
CRIBB, 2009).
Em países em desenvolvimento, a capacidade dos governos em administrar este
crescimento urbano, tem sido muito difícil (Drescher, Jacobi e Amend 2000) ressaltado
por (CRIBB & CRIBB, 2009). Encontrar meios de fornecer alimentos, moradia e
serviços básicos aos habitantes de uma cidade é desafio para as autoridades de muitas
cidades do mundo. Segundo os autores citados acima, a segurança alimentar nos
grandes centros depende de vários fatores, dentre os quais, destacam-se:
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· disponibilidade de alimentos - (nas áreas urbanas e rurais) referente à produção,
comercialização e distribuição de alimentos, infra-estrutura, disponibilidade de
combustível;
· acesso a alimentos - depende do poder aquisitivo das famílias, produção de
subsistência, vínculos campo-cidade, etc.;
· qualidade do alimento - depende da conservação do alimento, da qualidade da
produção, do abuso de pesticidas durante as etapas produtivas, da qualidade da água
utilizada na produção, como se apresentam as condições sanitárias nos mercados.
O rápido crescimento populacional nas cidades é causado não só pela migração da
população rural para os centros urbanos, mas também pelo seu crescimento nas próprias
cidades. Desemprego, baixa qualidade dos serviços básicos e a falta de alimentos são
algumas conseqüências desse crescimento, alem da elevada densidade populacional e a
carência de planejamento urbano. (CRIBB & CRIBB, 2009).
Para uma correta compreensão de agricultura urbana devem-se levar em consideração
as várias atividades familiares, para obter segurança alimentar e para gerar renda. A
produção alimentar individual e comunitária nas cidades vai ao encontro de
necessidades adicionais da população urbana, tais como desenvolvimento urbano
sustentável, geração de emprego e renda, proteção ambiental, entre outros aspectos
(IFPRI 1998, Smit, 1994). (CRIBB & CRIBB, 2009).
O conceito de agricultura urbana começou a ser estudado e experimentado no Brasil
recentemente, com resultados bastante interessantes, mas ainda isolados. Já em outros
países, a pesquisa agropecuária desenvolvida nas cidades é bastante adiantada, a
exemplo de Cuba conforme o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural. .
(NEAD, 2003)
A agricultura urbana e peri urbana se desenvolvem dentro dos limites ou ao redor
das cidades de todo o mundo, incluindo atividades agrícolas propriamente ditas, mas
também atividades pecuárias e florestais e serviços ambientais associados (FAO,1999).
Conforme a localização surge as denominações agricultura, intra-urbana e peri
urbana. A agricultura intra-urbana é praticada no interior das cidades aproveitando
espaços vazios como terraços, pátios residências ou áreas subutilizadas como as
margens de rios ou rodovias, espaços impróprios para construção civil (próximos a
aeroportos, embaixo de redes elétricas), além de áreas públicas ou privadas com
potencial para serem cultivadas. De maneira geral, a agricultura intra-urbana é de menor
escala e orientada para a subsistência. (FAO, 2007).
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Já agricultura peri-urbana é praticada nos arredores ou periferias das cidades. As
dinâmicas destes locais – urbanização crescente, migração de populações rurais e
urbanas e aumento do preço da terra fazem com que este tipo de sistema de produção
esteja em constante transformação, com tendências a uma escala menor e uso mais
intensivo. Em diversos países como Cuba, Argentina, Líbano e Vietnam os
empreendimentos agrícolas localizados nas bordas das cidades são, de maneira geral,
maiores que aqueles situados dentro dos centros urbanos e tendem a ser mais orientado
para o mercado. (FAO, 2007).
A agricultura urbana pode ser realizada em pequenas áreas dentro de uma cidade,
tais como jardins, terrenos baldios e escolas ou no seu entorno (Peri- urbana), sendo esta
destinada à produção de cultivos para o consumo próprio ou para a venda em pequena
escala (ROESE, 2003).
Um do aspecto em que a agricultura urbana difere da rural é o ambiente. “A
agricultura urbana pode ser realizada em qualquer ambiente urbano ou periurbano,
podendo ser praticada diretamente no solo, em canteiros suspensos, em vasos, ou onde a
criatividade sugerir” (ROESE, 2003). Segundo Jacob & Amend (2007, p.2) o sistema
agrícola urbano é uma combinação de muitas atividades diferentes: a horticultuta, a
produção de alimentos básicos, a coleta, a caça e inclusive a silvicultura.
As hortaliças constituem um grupo de alimentos ricos em substâncias nutritivas
variadas, podendo contribuir para amenizar o desequilíbrio nutricional (CARDOSO,
1997) citado por FRAXE e outros 2005. Desta forma o cultivo de hortaliças em um
espaço coletivo é uma alternativa promissora para elevar a segurança alimentar, pois,
visa o aumento na oferta de alimentos de elevado valor nutritivo, melhoria nas
condições de vida de grupos sociais em situação de insegurança alimentar e estimulo
para a produção de hortaliças para o consumo e comercialização, através de técnicas de
produção de alimentos por meio de processos educativos e agroecológicos (FRAXE e
outros 2005).
Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN, 2007),
a AU é multifuncional, pois, tem como objetivo abranger a produção, a transformação, a
comercialização e a prestação de serviços para a geração de produtos agrícolas e
pecuários, de forma a aproveitar os recursos locais, tais como, solo, água, resíduos,
mão-de-obra e saberes.
Até recentemente acreditava-se que a agricultura em geral e a produção de
alimentos que abastecia as populações urbanas só eram realizadas na zona rural. Mas a
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agricultura urbana, mesmo sendo uma prática antiga, só agora tem despertado o
interesse de pesquisadores, governos locais, ONGs e movimentos sociais. Hoje, tem-se
detectado o fenômeno de um número crescente de moradores urbanos que se dedicam às
atividades agrícolas, especialmente nos países menos desenvolvidos (WEITZMAN,
2007)
Assim conforme Monteiro; Mendonça, (2007). Uma das principais contribuições
sociais da agricultura urbana é em relação à segurança alimentar das populações de
baixa renda que vivem nas grandes áreas urbanas. Uma característica que se manifesta
de forma repetitiva em meio a essas famílias se deve à combinação de dois fatores
interdependentes: a dificuldade de acesso aos alimentos em razão dos baixos níveis de
renda familiar e a tendência à homogeneização dos hábitos alimentares, em que
prevalece a baixa qualidade nutricional das dietas, em geral carentes de vitaminas e sais
minerais.
Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca
do Estado do Espírito Santo (SEAG-ES) a olericultura é uma atividade agroeconômica
altamente intensiva em seus mais variados aspectos, em contraste com outras atividades
agrícolas extensivas. (SEAG-ES, 2007). Os produtos advindos da área da horticultura
são responsáveis por uma renda per capita que somente perde para o setor das grandes
culturas (FILGUEIRA, 2000).
Na produção de hortaliças, o horticultor enfrenta problemas que contribuem para a
baixa produtividade, dentre esses, as pragas e doenças (GALLO et al, 2002). Para
MAKISHIMA (1993), as pragas que causam danos às hortaliças são: lagarta
(Oryzophagus oryzae), pulgão (Metopolophium dirhodum), ácaros (Polyphagotarso
nemus), entre outros.
Segundo Dias (2000), a agricultura urbana proporciona a saúde como um todo.
Tendo em vista que a saúde está diretamente ligada as condições ambientais, e em
comunidades de baixa renda, o nível de doenças se intensificam. Devido a baixa
qualidade dos alimentos consumidos e a exposição constante a agentes externos, pois,
parte dos quintais domésticos e terrenos ociosos tornam-se depósitos para lixos e
entulhos. A utilização dessas áreas para o plantio e outras formas de produção leva a
melhoria do ambiente local e assim diminuindo a proliferação de vetores de doenças,
como ratos e insetos. Ressaltado por (MACHADO E MACHADO 2002).
Sendo assim, conforme os autores mencionam a implantação e desenvolvimento de
Hortas Comunitárias (HC) propicia a promoção da saúde da população onde ela está
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inserida, através de ações educativas, trabalhar aspectos ambientais, sociais e
educativos, criar vínculos afetivos e solidários entre os participantes e a comunidade
local, promover a segurança alimentar e agregar valores a renda das famílias através da
produção de alimentos sadios (GALLO, SPAVOREK & MARTINS, 2004).
Hortas urbanas e comunitárias são hortas instaladas nas comunidades, nas quais os
próprios moradores trabalham em coletividade produzindo hortaliças, as quais podem
ser utilizadas para consumo próprio e o excedente comercializado (ROSA, 1995).
Conforme Philippi (1999) citado por FRAXE (2005) ressalta que a educação e a
conscientização são fundamentais a qualquer programa que se queira conduzir e para
que ele se sustente e se enraíze na sociedade. A busca da cidadania ambiental faz parte
de uma dinâmica participativa e solidária, que pode transformar profundamente os
lugares e as comunidades em que se implanta.
A recreação proporciona a oportunidade de realização de atividades ao ar livre, em
contato com a natureza, podendo ser desenvolvidas atividades como o plantio e a
manutenção, o que desenvolve também o espírito de equipe (ARRUDA, 2006). A
educação ambiental serve de apoio e alternativa para as atividades da rede formal de
ensino (VASCONCELLOS, 2006).
Segundo Stapp et al. (1969) definiram educação ambiental como um processo que
deve objetivar a formação de cidadãos, cujos conhecimentos acerca do ambiente
biofísico e seus problemas associados possam alertá-los e habilitá-los a resolver seus
problemas.
Para Mellowes (1972) a educação ambiental seria o processo no qual deveria
ocorrer um desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o meio
ambiente, baseado em um completo e sensível entendimento das relações do homem
com o ambiente a sua volta.
A problemática ambiental é uma das principais preocupações da sociedade
moderna, desencadeando, por isso, uma serie de iniciativas no sentido de reverter á
situação atual de vida na terra. Uma dessas iniciativas e a Educação Ambiental que as
instituições de educação básica estão procurando implementar, na busca da formação de
cidadãos conscientes e comprometidos com as principais preocupações da sociedade
(SERRANO, 2003).
Para o Ministério da Educação (MEC), para que um programa de Educação
Ambiental seja efetivo deve promover o desenvolvimento de conhecimentos, de atitudes
e habilidades necessárias á preservação e melhoria da qualidade ambiental (MEC,
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2008). Há experiências positivas no que se tem chamado de Cidadania Ambiental, e
esse é um dos interesses que se quer obter com a implantação das HC, e assim difundir
técnicas agroecológicas e cidadania (MEDEIROS e outros 2005).
6.2. Contexto da Agroecologia
Surge na América Latina o movimento denominado de Agroecologia, que procura
atender as necessidades de preservação ambiental e de promoção sócio-econômica.
Destacando-se no movimento o chileno Miguel Altieri que populariza a disciplina.
Seu trabalho ligou a valorização da produção familiar camponesa como o movimento
ambientalista na América Latina. (KHATOUNIAN, 2001)
Na agroecologia tem-se como principio otimizar e aperfeiçoar o uso da luz sol dos
nutrientes do solo e a chuva, de acordo com PAULUS(2001), SOUZA (2003), citado
por CONTI (2009).
Buscando-se trabalhar a conservação do solo, não utilizando a aração e gradagem
sucessivas, plantas invasoras são trabalhadas com ervas e culturas, insetos são
controlados, pois se trabalha com o principio de não destruir seus predadores nativos e o
seu habitat. Defende-se a não utilização de agrotóxicos e sim, buscas-se manter as
plantas fortalecidas e assim não suscetíveis ao ataque de patogênos, a não utilização de
adubos solúveis.
Para que a planta receba uma nutrição adequada e se desenvolva bem tanto
fisiologicamente quanto metabolicamente, é necessário que o solo seja fértil e
biologicamente ativo, com muita matéria orgânica, com diversidade de vegetais, insetos
e microorganismos. Quanto maior for à concentração de matéria orgânica no solo, mais
vida terá este e mais equilibrada será a planta que nele se desenvolvera.
6.2.1. Práticas Agroecológicas
Conforme os autores Khatounian (2001), Altieri (2002) e Howard (2007), existem
diversas práticas Agroecológica que podem ser adotadas, tais como as citadas abaixo.
6.2.2. Adubação orgânica e Cobertura morta (Palha)
Principais adubos orgânicos e seus eleitos químicos e biológicos:
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Figura 1: Khataunian 2001
A palhada de cereais tem efeito biológico, associado à decomposição da
biomassa, material celulósico, no extremo oposto, o esterco liquido de suínos composto
de material de conteúdo celular, apresenta efeito químico.
A figura mostra três classes de adubos orgânicos celulósicos ou de efeito lento e
duradouro (palhada de cereais e esterco de ruminantes), conteúdo celular, com efeito,
mais rápido (palhada leguminosas, esterco de aves e suíno) e intermediário (composto e
vermicomposto).
Os materiais com baixo teor de celulose e elevado teor de substâncias amiláceas e
protéicas produzem um rápido efeito sobre as plantas. É o caso dos estercos e urina de
animais, essa rapidez deve-se, sobretudo a ação de microorganismos que liberam em
pouco tempo a maior parte dos nutrientes disponíveis em especial o nitrogênio.
Adubos ricos em celulose como a palhada os efeitos químicos demoram mais a se
revelar, embora os benefícios físicos sejam evidentes, devido à ação como cobertura. Se
incorporada a palhada tem excelente efeito físico, entretanto este é acompanhado pela
imobilização do nitrogênio do solo, de modo que se recomenda a utilização da palhada
como cobertura morta, e assim auxiliando na ativação biológica da mesofauna. A
atividade de pequenos animais como artrópodes e anelídeos melhora o arejamento do
solo e criam-se condições para uma vida microbiana ativa e equilibrada.
6.2.3 – Defensivos Naturais e Controle de Pragas
Os fertilizantes sintéticos substituem a simbiose entre plantas e as bactérias
fixadoras N, dominam os agroecosistemas, não trabalham com eles, os fungicidas e
inseticidas substituem os mecanismos naturais que são expressivos pelos predadores e
parasitas.
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O uso de métodos diretos e não químicos de controle de pragas é adotado na
agroecologia, ou seja, praticas culturais, mecânicas, físicas e biológicas, conforme
descrito na tabela abaixo.
Tabela 1: Estratégias para o controle de pragas e suas praticas adotadas na agroecologia.
Estrategia Práticas
Controle mecânico e físico
espantalhos, efeitos sonoros,
ensacamento de frutos e vagens,
destruição de ninhos de formigas,
catação manual, remoção de plantas
infestadas, poda seletiva, aplicação de
materiais (cinza, fumaça, sal, água com
sabão, etc
Práticas culturais
consórcio, sobresemeadura, mudança da
época de plantio, rotação de cultura,
capina seletiva, uso de vaciedades
resistentes, manejo do uso de
fertilizantes, água, tecnicas de preparo do
solo e decultivo.
Controle biológico
manejo da diversidade das plantas
cultivadsa, uso de animais (ganso, pato,
galinha)
Uso de inseticida
uso de inseticidas a base de vegetais,
uso de plantas ou partes de plantas como
repelentes ou atrativos.
Fonte: Altieri, 2002. Adaptado
6.2.4 – Rotação de Culturas e Manejo do Solo
O manejo do solo em agricultura orgânica é orientado para a ativação e a
alimentação dessa fração viva. O solo é um organismo vivo, e necessita de alimentação
e proteção, sendo a alimentação feita pela biomassa e oxigênio, para nutrição de
microorganismos e da mesofauna. A proteção é importante, pois é ela que fornece a
manutenção da umidade, da temperatura e da porosidade adequada ao desenvolvimento
dos organismos do solo, a proteção do solo atua na incidência direta do sol, e chuva.
Uma vez que no solo se apliquem tratos químicos (adubação química) e
mecanismos (aração e gradagem) ele se tornará um corpo mineral, perdendo assim sua
atividade biológica, o solo vai se mineralizando restando apenas no seu interior raízes
das culturas e os organismos que são associados às pragas e doenças.
Neste contexto observa-se a queda no rendimento das culturas e a baixa
resposta a adubação mineral, doses cada vez maiores de agroquímicos vão se tornando
necessárias.
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De maneira oposta, a Agricultura Orgânica tem seu manejo orientado para estimular
a atividade biológica do solo, incluindo a mesofauna e os microorganismos. Através do
fornecimento da biomassa, da proteção do solo (palhada) e da aplicação de produtos
naturais rico em nutrientes, que são solubilizados pelos organismos presentes na biota
do solo, como plantas superiores, fungos, bactérias e liquens.
A Rotação de Culturas consiste na prática de não repeti uma mesma cultura em
uma mesma área ano após ano. O plantio de uma mesma cultura repetidas vezes no
mesmo local leva a menor eficiência na utilização dos nutrientes do solo,
empobrecimento da fertilidade deste acarretando uma menor produtividade e aumento
na incidência de pragas e doenças.
O rodízio de áreas é uma prática em que, deve-se estabelecer o plano de rotação
mais adequado para a situação de cada área, observando quais as espécies se adaptam
melhor ao solo e clima da área em que será plantado. As culturas podem ser de uma
mesma família de acordo com suas necessidades nutritivas e resistência às pragas e
doenças. Em uma horta caseira, por exemplo, a rotação de culturas deve contemplar
uma variedade de diferentes famílias e diversas espécies, sendo que estas fazem uma
utilização dos nutrientes do solo de forma diferenciada e apresentam diferentes
problemas fitossanitários, o que evita uma sucessão de desequilíbrios ecológicos e o
conseqüente ataque de pragas e doenças.
6.2.5. Reciclagem de resíduos orgânicos (compostagem)
O destino do lixo urbano é um problema atual na sociedade. Por isso soluções
adequadas e comprometidas com questões ambientais, econômicas e sociais, são
fundamentais para a solução deste problema. Sendo os resíduos urbanos caracterizados
como:
Resíduos domiciliares: aqueles gerados nas residências, constituídos por restos de
alimentos, materiais potencialmente recicláveis, além de lixo sanitário e tóxico.
Resíduos comerciais: provenientes das atividades comerciais e de serviços, tais como
supermercados, bancos, lojas, bares e restaurantes.
Resíduos públicos: originados dos serviços de limpeza pública urbana, tais como
varrição de vias, praias, córregos e restos de podas de árvores e de feiras livres.
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Entulho: resíduos da construção civil, como materiais de demolição e restos de obras.
Contém materiais inertes1 e também resíduos tóxicos, como tintas e solventes.
E as alternativas de tratamento e deposição do lixo urbano geralmente são
apresentadas da seguinte forma:
Aterro comum, vazadouro ou lixão: é a forma de disposição mais prejudicial ao
ambiente e ao homem, na qual os resíduos são dispostos a céu aberto, diretamente sobre
o solo e sem nenhum tipo de tratamento ou controle sanitário/ambiental.
Aterro controlado: a disposição é feita sem tratamento, como nos lixões, mas os
resíduos são posteriormente cobertos com material inerte ou terra, para evitar a presença
de vetores de doenças.
Aterro sanitário: é o processo de disposição de resíduos no solo com fundamentos em
critérios de engenharia e normas operacionais específicas. É realizada a
impermeabilização do solo, sistemas especiais fazem a drenagem do chorume e a
captação do gás liberado; os resíduos são devidamente compactados e posteriormente
cobertos, permitindo um confinamento seguro em termos de proteção e de controle da
poluição ambiental.
Nessa problemática atual, uma alternativa para suprir a demanda do resíduo orgânico
é através do método de compostagem. A compostagem é um processo de oxidação
biológica, portando com presença de oxigênio, através do qual, microrganismos
decompõem os constituintes dos materiais orgânicos do lixo em material estável e
utilizável na preparação de húmus, libertando dióxido de carbono, vapor de água e calor
suficiente para que a temperatura no interior da leira alcance 70 °C (por isso o termo
termofílica). Esse processo orgânico de reciclagem a matéria orgânica “é toda
substancia morta que provenha de plantas, animais microorganismos ou excreções” é
decomposta e retorna para o solo na forma de adubo.
7. Histórico do CEPAGRO em Agricultura Urbana
O CEPAGRO “Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo” é uma
organização não-governamental fundada em 1990 e caracteriza-se por ser uma ONG
que trabalha em rede e possuem forte ligação com organizações de base, com
instituições de pesquisa e extensão, instituições governamentais e não governamentais.
Atuam na área da agricultura familiar e desenvolvimento sustentável no Estado de Santa
22
Catarina. Sua cede está localizada no centro de Ciências Agrárias, da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
Desde 2005, o CEPAGRO vem se envolvendo com AU e, atualmente, desenvolve
trabalhos em quatro localidades nas cidades de Florianópolis e Itajaí. Na capital, as
atividades concentram-se no Sul da Ilha e no Bairro Monte Cristo (no continente). Em
Itajaí, as atuações são realizadas em duas comunidades: Portal I e São Vicente. As
atividades em AU visam apoiar e assessorar grupos organizados em parcerias com
entidades civis ou com o poder público para a produção de alimentos orgânicos em
hortas comunitárias, em quintais domiciliares, em escolas e creches.
Em 2007 o município de Biguaçu se engajou ao CEPAGRO, com o intuito de
construir uma horta comunitária, no bairro Jardim Janaina, periferia do município.
Esses projetos são apoiados financeiramente por organizações internacionais de
cooperação que apostam nessas metodologias de trabalho e na melhoria da qualidade de
vida dos moradores das periferias em todo o mundo. O CEPAGRO também compõe
uma articulação nacional de entidades com atuação em AU, com parcerias com ONGs
de Belo Horizonte (REDE) e Rio de Janeiro (AS-PTA). Os objetivos desta articulação
são a troca de experiências entre as entidades, intercâmbio de técnicos e agricultores
urbanos e ainda a construção coletiva de projetos em AU que fortaleçam as iniciativas
locais.
7.1. Histórico Biguaçu
Este trabalho conta com a participação da Ação Social da Igreja São João
Evangelista, (ASSJE), no município de Biguaçu que fica há 25 km de Florianópolis. A
atuação fica sediada na periferia do município, no bairro Jardim Janaina com o grupo
Vida Nova. Em dezembro de 2007, foram realizados encontros na comunidade,
acompanhados pela ASSJE, sendo discutidas três questões: o que temos o que
sonhamos e o que podemos fazer.
Através dos encontros, as famílias tiveram a oportunidade de sugerir os cursos a
serem desenvolvidos na comunidade. Assim, as famílias que participaram dos
encontros, assumiram a formação de um grupo, com encontros quinzenais, tendo como
proposta inicial oportunizar um espaço de formação e de troca de experiências. O grupo
Vida Nova na localidade do Jardim Janaina, iniciou suas atividades em março de 2008.
23
Os encontros que eram quinzenais passaram a ser semanais, envolvendo famílias
cadastradas na ação social da comunidade.
Em 2008, a ASSJE realizou palestras sobre auto-estima, higiene e fizeram oficinas
de trabalho manuais. O grupo iniciou com aulas de culinária. Seguiram com trabalhos
manuais, e com a Assistência da Ação Social Arquidiocesana, (ASA) chegaram à idéia
de organizar uma horta comunitária.
O projeto surgiu dos próprios participantes, tendo em vista que muitos vieram de
áreas rurais, alem da necessidade de uma melhor alimentação pelas famílias. Em 2009,
com o auxilio da comunidade e representantes da igreja, foi cedido um espaço no
terreno da própria capela para a construção da horta, foram realizadas visitas aos
quintais e a instalação da horta comunitária no terreno de 4x8 metros disponibilizado
pela igreja. A ASA ainda disponibilizou a verba para a compra de matérias, como pás,
enxadas, mudas, sementes e o material para a montagem do sistema de irrigação.
A metodologia inicial utilizada foi a de visitas aos quintais e casas dos participantes
do grupo. Foi realizado um intercâmbio para que o grupo conhecesse a horta
comunitária do portal, em Itajaí. No retorno, teve inicio a horta, com encontros
semanais e através de mutirões, adotando a metodologia de aprender fazendo.
7.2. Histórico Chico Mendes
O trabalho do CEPAGRO, no bairro Monte Cristo, teve início em 2006 com uma
proposta de ação apresentada na Rede de Entidades Articuladas do bairro Monte Cristo.
Naquele momento a Casa Chico Mendes (ONG que trabalha com crianças, jovens e
famílias) mostrou interesse através do Grupo Tecendo Vidas (grupo de mulheres).
As atividades começaram com o resgate das heranças rurais das mulheres e os
resultados do processo de êxodo rural que elas passaram. Em seguida foram feitas
visitas às experiências de AU nos quintais domésticos e de instituições. A partir daquele
momento foram sugeridas oficinas temáticas de qualificação das práticas, sendo
realizadas oficinas de canteiros suspensos, de aproveitamento de pequenos espaços para
plantio e de compostagem dos resíduos orgânicos domésticos para produção de
composto (adubo). Nessas atividades foi marcante a participação das Frentes
Temporárias de Trabalho (grupo de moradores do bairro que são contratados
temporariamente para trabalharem na limpeza da comunidade e receber capacitações em
temas ambientais).
24
Com as visitas aos quintais ficou clara a falta de espaço ou condições não ideais
para o plantio nas residências, além do reconhecimento e valorização de experiências de
AU em instituições de ensino como a Creche Chico Mendes.
No final do ano de 2006 constituiu-se um grupo comunitário (Grupo Tecendo
Vidas e Frente Temporária de Trabalho). Uma das iniciativas desse grupo comunitário
foi constituir uma horta de uso comum. Pela ausência de espaços públicos livres e
próprios ao uso agrícola, foi feito uma parceria com a Escola Estadual América Dutra
Machado. A escola possui uma das poucas áreas livres e com uma estrutura mínima
para cultivos. Assim, consolida-se na comunidade, um espaço público de livre acesso às
famílias interessadas em praticarem agricultura.
Atualmente, os esforços do trabalho no bairro Monte Cristo estão direcionados
para a reciclagem dos resíduos orgânicos domésticos, através da técnica de
compostagem. Essa proposta faz parte de uma parceria entre CEPAGRO, Escola
Estadual América Dutra Machado, Creche Chico Mendes e Creche Conjunto
Habitacional Chico Mendes. Cada família recebe um baldinho “os baldinho foram
doados pelo Big, proveniente do descarte da padaria, mediante a apresentação de um
oficio oficializando o pedido” sendo esses de 2 e 5 litros conforme a necessidade, para
recolher e destinar seus resíduos orgânicos para 15 pontos de entrega voluntária (PEVs)
localizados em cada instituição de ensino mencionadas anteriormente e em residencias.
Os resíduos são compostados no espaço da horta da Escola.
Essa iniciativa de gestão local dos resíduos orgânicos visa melhorar as condições
de higiene e saúde da comunidade. Muitos sacos de lixos domésticos contendo restos
orgânicos eram alvo de cachorros e ratos, denegrindo a imagem do bairro e favorecendo
a proliferação de doenças como a leptospirose (muito constatada pelo Centro de Saúde
local). Outro objetivo é dinamizar a AU pela produção local de adubo orgânico,
incentivando e facilitando o cultivo de alimentos pelas famílias nos espaços domésticos
ou públicos. Atualmente o projeto “A Revolução dos Baldinhos” tem a participação de
95 famílias com baldinhos 4 entidades da comunidade, sendo coletado e reciclados 10
toneladas de resíduos orgânicos por mês.
25
8. Metodologia
Jardim Janaina
A metodologia de extensão implantada no trabalho consistiu em visitas semanais,
sendo estas de caráter técnico, educativo e participativo. Atividades como oficinas
(coleta e preparo de açaí, compostagem), montagem do sistema de irrigação, construção
de canteiros, plantio de mudas, conversas de grupos, além de consultas a literaturas,
artigos e projetos da área foram realizados no decorrer do estágio, no período de 03 de
março a 03 de junho do ano de 2010.
Na comunidade do bairro Jardim Janaina, localizada no município de Biguaçu, as
visitas foram realizadas nas terças-feiras no período vespertino, sendo estas
acompanhadas pelo supervisor do estágio Marcos José de Abreu, entretanto em alguns
dias as visitas foram realizadas apenas pela estagiaria. Os encontros semanais tinham
inicio às 14h00min e termino às 17h00.
Primeiramente, os encontros eram realizados no salão paroquial da igreja SJE. Após
um mês, foram realizados na casa de Dona Natalia, seguindo para a casa da Márcia,
sendo estas duas mulheres participantes do projeto que cederam seus quintais para a
construção de hortas. Nesse período, foram realizadas as práticas de AU, demonstradas
no cronograma abaixo.
Cronograma de atividades realizadas no período de estágio na comunidade Jardim
Janaina
Mês
Março
Atividades Desenvolvidas na Horta Comunitária da Igreja São João
Evangelista.
09/03/2010 Primeiro dia de estágio ocorreu uma apresentação dos participantes do
projeto de forma expositiva, com o objetivo de conhecê-los e assim
possibilitar uma melhor dinâmica de trabalho.
16/03/2010 Revitalização da horta e dos antigos canteiros: em forma de mutirão,
trabalhou se com o grupo de mulheres e, assim, concluído o trabalho de
revolvimento do solo para elevação dos canteiros e revitalização da horta
em forma de mandala.
23/03/2010 Coleta do adubo (esterco de gado) na própria comunidade. Foram
coletados 30 kg de esterco. A palha sobreposta nos canteiros foi adquirida
26
no CEASA de Florianópolis. O esterco foi incorporado ao solo e os
canteiros cobertos com cobertura morta.
30/03/2010 Plantio de mudas de espécies diversificadas como alface, beterraba,
couve, pimentão, cebolinha, salsinha, alho porró cidreira, menta entre
outras.
Mês
Abril
Atividade Desenvolvida na Horta Comunitária no Quintal da Dona
Natalia
06/04/2010 Visita ao local, e coleta do esterco de gado para os canteiros, foram
coletados 8 sacos de 5 quilos.
13/04/2010 Revitalização da horta em mandala e dos canteiros.
20/04/2010 Preparo dos canteiros para plantio, nos canteiros foi incorporado o
esterco e estes cobertos com palhada, em seguida foram plantadas as
mudas de olericolas como tomate, pimenta, entre outras. Deu se inicio ao
processo de instalação do sistema de irrigação.
29/04/2010 Finalizada a implantação do sistema de irrigação. A água utilizada na
irrigação vem de uma caixa d’água de 5.000 litros que armazena água da
chuva, para a montagem do sistema foram utilizados 60m de fita
santeno, 6 registros de 3/4 e 17m de cano.
Mês
Maio
Atividade Desenvolvida na Horta Comunitária no Quintal da Dona
Natalia
04/05/2010 Oficina do Açaí: foram coletados 5 cachos palmito Jussara para a
extração do açaí na localidade de Santo Amaro, após a coleta fez se a
debulha e a despolpa no salão paroquial da igreja SJE em Biguaçu.
Antes de se iniciar a despolpa os frutos foram selecionados e lavados, os
frutos que se encontravam ainda verdes, foram separados para a
produção de mudas.
Após a higienização dos frutos este foram imersos em água morna por
aproximadamente 20 minutos, para que a polpa se solta da semente, com
o auxilio de um escorredor os frutos foram colocados na despolpadeira
elétrica.
Realizada a despolpa o açaí foi preparado de diversas formas com
27
banana e mel, com mel e limão, laranja e mel, e assim provado por todos
os participantes da oficina. Neste dia uma participante a Karol do projeto
“A Revolução dos Baldinhos” se envolveu na atividade.
25/05/2010 Manutenção da horta, plantio de mudas. Nesse dia foi realizada as
entrevista conforme questionários em anexo com oito participantes do
grupo “Vida Nova”.
Chico Mendes
O trabalho na Chico Mendes tem sido, de, coletar resíduo orgânico nos Pontos de
Entrega Voluntária (PEV´s), duas vezes na semana, às terças e sextas feiras, pela
manhã, com inicio às 08h00min e termino às 14h00min, após a devolução das
bombonas aos PEVs. No outros dias, é realizada a conscientização das famílias, através
de visitas e conversas com as famílias, busca-se esclarecer duvidas,(como o que se deve
ou não colocar nos baldinhos), além da importância da reciclagem do resíduo orgânico...
Atualmente, existem 15 PEV´s, sendo que onze são casas de famílias e os restantes, são
instituições: Casa Chico Mendes, creche Chico Mendes, Creche Conjunto Habitacional
Chico Mendes e Escola América Dutra Machado.
O trajeto da coleta é feito a pé, o carrinho é puxado manualmente, as bombonas que
se encontram nos PEVs a onde as famílias depositam os resíduos orgânicos são de 30,
50 e 60 litros, os baldinhos pertencentes às famílias são de 2 e 5 litros.
A rota de coleta foi realizada na companhia dos atores locais, Karol e Rose Helena e
dois bolsista. O projeto atualmente é apoiado pela empresa Eletrosul, mediante o
pagamento das bolsas salário. Atuando como agentes comunitárias e participantes do
projeto, recebem uma bolsa de 450,00 Reais. No começo do semestre dois jovens se
engajaram no projeto recebendo uma bolsa de 200,00 Reais.
Lene e Karol estamos botando nomes nos baldes e fazendo cadastro das famílias.
Encontramos uma bombona para o lado de fora de uma casa, era de uma família que se mudou
e a deixou. 9:00 h saímos entregando baldinhos e Débora, de uma das famílias, fez companhia.
Nós três plantaramos algumas mudas no conjunto habitacional Chico Mendes. Entregamos
baldinhos para a família do Valdinei e para a da Dona Fátima. 10:00h Fomos na creche doar
algumas mudas para as professoras. Doamos um balde dos de margarina para a cozinheira
Claudete e a cozinheira Maria também pediu um para ela. Plantamos mais algumas mudas na
escola e arrumamos as armadilhas de fitas de vídeo para afastar passarinhos. Doamos algumas
mudas para o projeto Ambial e combinamos de fazer uma horta amanhâ, junto com a coleta. A
professora do Ambial pediu novas mudas para sua horta. Essas mudas que estamos utilizando
foram doadas pelo CEPAGRO, mas, futuramente pretendemos produzi-las nós mesmos para
comercializar na comunidade. 12:00 h Entregamos baldinho e mudas para a família da
28
Marquinha e da Janete “Neca”.13:20 h Karol foi na família Kelen que comunicou que está se
mudando, mas, vai continuar com o baldinho, se comprometendo a continuar separando e
depositando no PEV mais próximo. No final, Karol ainda aproveitou para comprar alguns
DVD’s.
Um dia de coleta nas palavras de Karol.
Todo resíduo coletado, é levado até a escola América Dutra Machado, onde fica o
pátio de compostagem termofílica. Nesse processo é possível misturando os resíduos
com camadas de serragem e cobri-los com palha, evitando o ataque de animais como
pássaros, moscas e ratos. Esta mistura é feita em leiras “denominam-se leiras as pilhas
onde são depositados os materiais a serem tratados pela compostagem” estreitas e
estáticas sobre o solo, para aumentar a aeração.
Uma leira estática é utilizada por um mês “durante um mês os resíduos orgânicos
provenientes da coleta são depositados na mesma leira”, passado este tempo de
montagem da leira esta ficara estática de três a seis meses, apenas revolvendo-a de 15
em 15 dias para aerar e acelerar o processo de degradação. No final desse período o
material encontra-se estável. A cada mês inicia-se uma nova leira, com isso todo mês
uma nova carga de composto está pronta.
O composto pronto retorna às famílias e instituições participantes, para utilização
nos quintais urbanos, produzindo flores, folhagens, plantas medicinais e alimentos.
No final do processo de compostagem, as bombonas são lavadas e devolvidas para
os PEV´s, repetindo-se o trajeto da coleta a pé.
Quinzenalmente, são coletadas doações de serragem no sul da ilha e palha no CEASA,
com auxílio do pick-up do CEPAGRO.
Tanto nos dias de coleta como nas demais manhãs que ficam disponíveis para
eventuais atividades e oficinas de agricultura urbana, o ambiente de trabalho é repleto
de trocas de ensinamentos entre todos os envolvidos.
Além das práticas descritas acima, que teve o acompanhamento semanal, outras
atividades foram desenvolvidas no decorrer do estágio, como reuniões com os
participantes, famílias e entidades pertencentes à comunidade e convidados, visita às
residências dos moradores da comunidade, aplicação de questionários com 8
participantes do projeto, alem da busca por matérias em outras fontes como
bibliografias, trabalhos e projetos da área e relatórios de atividades.
29
Cronograma das atividades realizadas no período de estágio na comunidade Chico
Mendes.
Mês
Março
Atividade Desenvolvida no Pátio de Compostagem e Comunidade
Chico Mendes
9/03/2010 Inicio das atividades, apresentação do grupo e projeto Karol, Maicom,
Lene e Goiano e o pátio de compostagem.
12/03/2010 Coleta, virada das bombonas e conscientização
15/03/2010 Primeira reunião do semestre com as famílias, entidades participantes e
convidados. Nesta reunião foi apresentado o andamento do projeto e
realizada a entrega das camisetas.
16/03/2010 Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias. Foi iniciada
uma nova leira.
23, 26 e
30/03/2010
Coleta, virada das bombonas e conscientização
Mês
Abril
Atividade Desenvolvida no Pátio de Compostagem e Comunidade
Chico Mendes
6, 9 e
13/04/2010
Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias
16/04/2010 Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias. Foi iniciada
uma nova leira.
20, 23, 27,
30/04/2010
Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias e
distribuição de mudas de alface , beterraba, tomate salsinha e cebolinha.
Mês
Maio
Atividade Desenvolvida no Pátio de Compostagem e Comunidade
Chico Mendes
4 e
11/05/2010
Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias, no dia 4 de
maio foi levado adubo para duas famílias.
18/05/2010 Fixada a primeira placa do PEV Ponto de entrega voluntário
19/05/2010 Coleta, virada das bombonas e montagem de uma nova leira
21/05/2010 Coleta, virada das bombonas e conscientização das famílias. Reportagem
do Diário Catarinense com entrevista de seus participantes. Reportagem
em anexo.
30
31/05/2010 Foi realizado um mutirão onde nesse foi construído quatro canteiros de
0,70x2m, um canteiro de 2,5x3m, um canteiro em formato meia lua e
uma horta mandala com 3m de diâmetro. A construção dos canteiros tem
por objetivo a produção de mudas.
Realizada a entrevista com oito membros do projeto para o estudo sócio
econômico.
9. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Jardim Janaina
Foram entrevistadas oito participantes do grupo Vida Nova de um total de 15
membros, desses a idade variava dos 25 aos 66 anos, sendo a grande maioria oriunda do
meio rural pertencente ao estado de Santa Catarina, com grau de escolaridade variando
do fundamental ao segundo grau incompleto, com isso ressaltando o despreparo para
trabalhos de melhor remuneração, tornando se trabalhadoras informais, entre esses
trabalhos foi constatado o de domestica, manicure e donas de casa. Conforme descrito
na tabela abaixo.
Tabela 2: Cidade de origem, grau de escolaridade e profissão das entrevistadas.
Entrevistadas Idade Cidade de Origem Escolaridade Profissão
1 30 Tijucas 2°grau completo Manicure
2 42 Braço do Norte Ensino fundamental completo Dona de casa
3 66 Bom Retiro Ensino fundamental completo Doméstica
4 39 Campo Belo do Sul 2°grau incompleto Dona de casa
5 65 Campos Novos Ensino fundamental incompleto Pencionista
6 43 Bom Retiro Ensino médio incompleto Doméstica
7 27 Biguaçu Ensino fundamental completo Dona de casa
8 25 Três Riachos Ensino fundamental completo Dona de casa
Metade das entrevistadas 50% não possuem renda, são donas de casa e a renda
familiar provem unicamente do marido, variando de 1 salário mínimo a R$ 800,00, os
outros 50% são trabalhadoras informais, que auxilia na renda familiar de 1 salários
31
mínimos, podendo alcançar ate R$ 1.600,00. Confirmando que de maneira geral, o grau
de escolaridade determina o tipo de atividade profissional que as pessoas podem
praticar.
Tabela 3: Renda familiar em reais (RF) dos entrevistados, RF per capita e número de
integrantes da família.
Entrevistadas Renda
familiar
Renda per
capita
N° de integrantes da
família
1 1.600,00 400,00 4
2 800,00 266,00 3
3 510,00 255,00 2
4 510,00 510,00 1
5 510,00 170,00 3
6 1.000,00 333,00 3
7 510,00 102,00 5
8 510,00 127,50 4
A maioria dos entrevistados, 5 dos 8 pesquisados (ou 62,5%), apresentam uma renda
familiar igual a R$ 510,00 mensais e apenas 3 dos 8 (ou 37,5%) apresentam uma renda
de R$ 800,00 a R$ 1.600,00. Estes números por si só não dizem muito sobre o padrão
de vida ou consumo dessas famílias, tendo em vista que a renda familiar sem considerar
o número de integrantes da família, isto é, o número de pessoas que dependem desta
renda, não é suficiente para medir o verdadeiro poder aquisitivo destas famílias.
Conforme demonstrado na tabela 2, 62,5% das entrevistadas é de famílias de
agricultores que produziam para venda e subsistência da propriedade sendo a única
fonte de renda a agricultura, tendo como culturas produzidas, batata, arroz irrigado,
fumo e grãos, alem da criação de animais, vaca de leite, suínos e galinha poedeira.
O restante totalizando 37,5% equivalente 3 das entrevistada não são de família de
agricultores. No entanto, 75 % das entrevistadas já praticavam AU, sendo aquelas que
deixaram a agricultura em busca de melhores condições de vida nas cidades, trouxe
consigo o gosto pela terra e o prazer de se cultivar, plantando em casa em espaços
disponíveis, cultivando olericolas, temperos e plantas medicinais. Apenas 25% do grupo
entrevistado veio a praticar AU a partir do projeto Horta Comunitária, citado
32
anteriormente no histórico da comunidade, sendo que 75% dos participantes do projeto
que é coordenado pela ASA “Ação Social Arquidiocesana” o conheceram através do
convite de amigos e vizinho que já participavam, 25% das entrevistadas participavam de
outros projetos sociais administrados pela ASA manifestaram o interesse quando a
proposta de se construir uma horta comunitária foi proposta, participando então de toda
a formação.
A Ação Social Arquidiocesana, ASA é um projeto social da Igreja São João
Evangelista (ISJE) e através dela são realizados trabalhos sociais com a comunidade,
sendo esta coordenada por uma agente comunitária e uma assistente social da prefeitura
de Biguaçu.
Com a prática da AU a produção de alimentos livres de agrotóxicos torna-se viável
no auxilio a uma alimentação saudável. Apesar de não ser única fonte alimentar, tendo
ainda que se comprar para suprir a demanda consumida pelas famílias. Entretanto
segundo as entrevistadas a prática da AU lhes proporcionou benefícios para com a
saúde, pelo trabalho físico praticado na horta, o consumo de alimento saudáveis,
envolvimento comunitário, formação de amizade e o bem estar consigo mesma por
praticar algo saudável e produtivo.
Ressaltando que todas as entrevistadas acreditam que se pode obter renda, diminuir
custos, incrementando a renda familiar e aumentar a segurança alimentar e nutricional
de suas famílias a partir dos alimentos produzidos pela horta.
Entretanto dificuldades foram apontadas pelo grupo, a falta de insumos (muda,
sementes e esterco) agregados a falta de participantes e a falta de reconhecimento por
parte da comunidade e seus moradores. Todavia o principal problema para se garantir a
estabilidade do sistema é o espaço físico, pois as duas áreas disponíveis para horta é
insuficiente para suprir a demanda do grupo Vida Nova e de seus familiares.
Andamento da Horta
A horta antes do inicio do mês de março estava composta por um canteiro de
plantas medicinais no qual contem melissa, hortelã, guaco, mil folhas, arruda, capim
limão, cavalinha entre outras. E uma horta mandala com diferentes espécies já no final
de seu ciclo como, couve, brócolis, abóbora, milho, feijão.
No período do estágio foi dada continuidade a metodologia implantada desde o inicio
do projeto, seguindo a linha metodológica da agroecologia. Sendo assim para a
reestruturação dos canteiros foi realizado o revolvimento do solo (o solo da horta na
33
ISJE é oriundo de aterros) de forma manual sem revolvimento intenso, apenas com o
objetivo de elevar os canteiros deixando esses com 1 m de largura, dois metros de
distancia e com 15 a 20 cm de altura, conforme recomendado por bibliografias, e assim
se ter uma melhor produção. Além da construção de canteiros retangulares para suprir
uma maior demanda de produção, foi construído canteiros agroecológicos de produção,
em formato de mandala e meia lua. A grande maioria das hortaliças necessita de preparo
especial do terreno para a confecção de canteiros que podem servir como sementeira,
para transplante de mudas e plantio/semeadura direta. Conforme pode ser visualizado
na figura abaixo.
Figura 2: Horta Comunitária locada na Igreja São João Evangelista
Na parcela não foi realizada a análise do solo. Anteriormente foi utilizado nos
canteiros composto orgânico, adquirido através do pátio de compostagem do CEASA.
Durante o estágio teve se a disponibilidade do esterco de gado adquirido através de
doação sendo usado como principal fonte de matéria orgânica para incorporação ao
solo.
34
As plantas necessitam, além de carbono, hidrogênio e oxigênio, constituintes
essenciais retirados do ar e da água, dos microelementos (nitrogênio, fósforo, potássio,
cálcio, magnésio e enxofre exigidos em maior quantidade) e macroelementos
((manganês, zinco, cobre ferro, molibdênio, boro e cloro exigidos em quantidades
reduzidas). As quantidades desses elementos disponíveis para as plantas no solo, quase
sempre é insuficiente, daí a necessidade de se completar com adubação orgânica.
O esterco rico em material fibroso provinda da alimentação de volumosos,
principalmente gramíneas, se apresentava em estado semi curtido, pois seus
componentes não estavam totalmente degradados (com matéria orgânica em estado
original). Porem com parcelas do material já se apresentando decompostas, entretanto o
esterco nesta forma não apresenta prejuízo para as plantas, estas características do
esterco favoreceram a melhora das condições do solo, sendo que é matéria orgânica de
lenta degradação e estimuladora da vida no solo. Os adubos orgânicos, além de serem
fontes de macro e microelementos, facilitam a absorção da água e conservam a unidade
do solo, garantindo melhor ambiente para o desenvolvimento das raízes e para a vida do
solo.
Figura 3: Horta comunitária Jardim Janaina locada na ISJE, montagem dos canteiros.
35
Figura 4: Horta comunitária Jardim Janaina locada na ISJE, horta mandala com
cobertura morta.
Os canteiros foram cobertos com cobertura morta, esta prática consiste na colocação
de palhada seca de 5 a 10 cm, com o intuito de se favorecendo a microbiota do solo,
evita a formação de crostas, preservar a umidade e equilibrar a temperatura do solo,
evitando que este fique exposto aos raios solares. Segundo o autor Khantounian (2001)
a palhada tem efeito biológico associado a decomposição da biomassa com efeito lento
e duradouro. Se incorporada a palhada tem excelente efeito físico, acompanhado da
imobilização do nitrogênio do solo auxiliando na ativação biológica da mesofauna.
As mudas plantadas (neste período somente mudas foram plantadas) adquiridas em
Paulo Lopes, na propriedade de Dana Albertina, produtora de mudas orgânicas, foram
compradas por um custo de R$ 20,00 a bandeja de isopor com 72 mudas de espécies
diversificadas, conforme informado na tabela abaixo.
36
Tabela 4: Mudas plantadas na Horta comunitária
Cebolinha Allium fistolosum Menta Mentha villosa
Salsinha Petrosolium sativum Cavalinha Equisetum
Couve Brassica sylvestris Cidreira Melissa officinalis
Beterraba Beta vulgaris. Alecrim Rosmarinus officinalis
Alface Lactuca sativa Arruda Ruta graveoles
Cenoura Daucus carota Alho-porró Allium porrum
Pimentão Capisicum annuum Mostarda Brassica juncea
Berinjela Solanum melongena Tomate Solanum lycopersicum
Foi realizado o transplante de mudas mediante a abertura de “covas” entre as palhas,
essas eram preenchidas com esterco e em seguida plantada a muda, desta forma buscou
se disponibilizar melhor os nutrientes para as plantas.
Na segunda área disponível para horta, locada no quintal da casa de uma das
integrantes do grupo, Dona Natalia (cedeu seu quintal para que o grupo tivesse uma área
maior para plantio), foi adotada a mesma metodologia descrita acima, reestruturação e
elevação dos canteiros, utilização de adubo orgânico (esterco de cavalo), cobertura
morta para preservar a estrutura do solo e o transplante de mudas de maior interesse.
Nessa área foi implantado um sistema de irrigação, onde água utilizada é captada da
chuva, para isso foi construído uma cisterna com uma caixa d’água de 5.000 litros, a
água é conduzida ate essa cisterna por um cano fixado ao telhado (Calha).
Figura 5: Calha para captação d’água da chuva.
37
Figura 6: Caixa d’água para o armazenamento da água captada.
Para a irrigação foi utilizado a microaspersão com sistema santeno ideal para hortaliças
folhosa. Podendo ser visualizado na figura 5 logo abaixo.
Sendo uma forma pratica e econômica de se irrigar, pois consiste em uma mangueira
plástica, perfurada com raios laser e resistente a exposição ao sol. A mangueira foi
conectada a uma mangueira e esta a saída de água da caixa d’água, produzindo uma
neblina fina de irrigação.
O cultivo de hortaliças com insuficiência de água de boa qualidade para irrigação não
é viável pra produção, tendo em vista que a maioria das hortaliças tem na maior parte de
sua composição água. A qualidade da água é muito importante, a freqüência, o tipo de
irrigação e a quantidade de água a se aplicar dependem da espécie cultivada, do tipo de
solo, do clima, das praticas culturais e da fase de desenvolvimento das plantas.
Para hortaliças folhosas é recomendada a rega diária, durante todo o ciclo das
plantas, para hortaliças com frutos, à medida que as plantas vão crescendo a irrigação
pode ser feita de três em três dias.
38
Figura 7: Horta Comunitária locada no quintal da Dona Natália, com microaspersão por
sistema santeno.
39
Viabilidade
Nesse grupo estudado onde a maior parcela é assalariada torna se visível a necessidade
de um aumento a renda familiar, mesmo sendo através da produção de alimentos para
enriquecer a segurança alimentar da família. Entretanto como já mencionado a produção
é insuficiente para suprir a demanda de consumo de todas as famílias do grupo.
A falta de espaço destinado à horta é insuficiente, tendo em vista que atualmente
tense duas área para horta. Entretanto ao final deste ano a área de horta locada no pátio
Igreja São João Evangelista terá de ser desocupado, pois a ISJE solicitou a área ocupada
para uso próprio.
Este fator ressalta, que os objetivos propostos para produção para consumo e venda
do excedente da horta, esta se tornando uma proposta de baixa viabilidade e
sustentabilidade. Sabendo que no geral, são necessários de 6 a 10 m² de horta para cada
pessoa. Outro problema observado no decorrer do estágio é a falta de autonomia do
grupo na tomada de decisões, sendo essas decisões tomadas normalmente por uma
pessoa.
Mas apesar dos problemas citados acima o grupo, e esforçado e gosta de trabalhar
com a horta, se este problema do espaço for solucionado, acredito que o objetivo de
consumo e venda dos produtos da horta será facilmente alcançado.
Chico Mendes
Foram entrevistados 8 participantes do projeto todos do sexo feminino, com a idade
variando dos 20 aos 50 anos, sendo que 5 ( ou 62,5%) das entrevistadas são
trabalhadoras informais, desde costureira, domesticas a agentes comunitárias.
As outras 3 (ou 37,5%) são donas de casa, sendo nesses casos as renda da família
proveniente unicamente do marido e não passando de um salário mínimo.
No caso em que as entrevistadas trabalham a renda da família é de R$ 400,00
chegando a R$ 1.020,00 o equivalente a dois salários. Sendo a media da renda per capita
de R$ 191,50, tendo em vista que as famílias são constituídas na maior porcentagem
acima de 4 pessoas.
40
Tabela 5: Renda familiar em reais (RF) dos entrevistados, RF per capita e número de
integrantes da família.
Entrevistadas Renda
Familiar
Renda per
capita
Nº integrantes
da Família
1 R$400,00 R$200,00 2
2 R$510,00 R$130,00 4
3 R$520,00 R$86,60 6
4 R$520,00 R$57,70 9
5 R$600,00 R$120,00 5
6 R$800,00 R$200,00 4
7 R$820,00 R$410,00 2
8 R$1040,00 R$346,00 3
Confirmando na comunidade que a baixa escolaridade esta vinculada com a baixa
remuneração. Sendo que o grau de escolaridade determina o tipo de atividade que as
pessoas podem exercer.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
nº entrevistados
2º grau completo
2º grau imcompleto
ensino medio incompleto
ensino fundamental
completo
Figura 8: Grau de escolaridade dos entrevistados segundo quatro classificações.
Desempregados e subempregados predominam no quadro ocupacional desta
população. A maioria não tem carteira assinada. Nesse complexo de comunidades,
situadas na periferia urbana de Florianópolis, não existem indústrias, nem atividades
agrícolas, exceto pequenos comércios.
41
As sobras do CEASA constituem a maior, quando não a única fonte de alimentação
para muitas pessoas e famílias que também necessitam e buscam por cestas básicas.
Muitos sobrevivem do Bolsa Família e do Agente Jovem. Há vários obstáculos para
conseguirem a inclusão e participação em cursos e programas de requalificação
profissional como a falta de documentação adequada, dificuldade de transportes e
também o preconceito.
As atividades começaram com o resgate das heranças rurais das mulheres e os
resultados do processo de êxodo rural que elas passaram. Partindo dessa problemática
foi constatado que 5 ( ou 62,5% ) das entrevistadas de um total de 8 são provenientes
da zona rural, de cidade como Caçador, Chapecó, Riqueza, Rio Grande (RS) e Quedas
de Iguaçu (PR). Das 8 entrevistadas, 3 (ou 37,5%) são da cidade e não tiveram contato
com a agricultura. Através do questionário aplicado, pode ser constatado que as causas
da migração do campo para as cidades foram, problemas familiares como a morte do pai
onde a família não conseguiu administrar a propriedade, sendo necessária a venda,
busca por melhores oportunidades de emprego e melhor condição de vida.
Quando perguntado como foi seu primeiro contato com a AU na comunidade, as 8
entrevistadas, 50% delas foi através de projetos como a Frente Temporária de Trabalho
“grupo de moradores do bairro que são contratados temporariamente para
trabalharem na limpeza da comunidade e capacitações em temas ambientais” e com o
projeto Revolução dos Baldinhos já mencionados anteriormente. Os outros 50% das
entrevistadas, já plantavam em casa, flores, chás, salsinha, cebolinha e outros. Os
motivos que as levaram a participar e praticar AU varia de cultural, por gostar de ter
contato com a terra e querer produtos livres de agrotóxicos.
A vantagem obtida com a prática de AU pelas entrevistadas foi de segurança
alimentar, benefícios com a saúde pelo trabalho praticado, alem dos benefícios pelo
consumo de alimentos saudáveis e fim do problema com roedores. Entretanto algumas
dificuldades foram levantadas como, encontradas, a falta de participantes, cada vez mais
tense famílias interessadas em reciclar o seu resido orgânico, entretanto a falta de
interesse por parte da comunidade em trabalhar na coleta do resíduo e compostagem, a
falta de insumos como mudas, sementes e área própria para plantio foram outras
dificuldades apontadas pelas participantes da entrevista.
42
Andamento do Pátio de Compostagem
No início de estágio o pátio de compostagem na escola Américo Dutra Machado
estava composto por 6 leiras, onde duas eram novas, uma havia acabado de ser fechada
e colocada em descanso e outra iniciada no dia 16 de março, sendo que a metodologia
de trabalho é trabalhar em uma leira durante um mês.
Figura 9: Pátio de compostagem
43
O pátio atualmente esta composto por seis leiras em descanso e uma leiras em
atividade de deposição, quatro canteiros de 1x 6m que pertencem ao projeto da escada
“Ambial”, onde algumas crianças no período em que não estão em aula participam de
atividades vinculadas a Educação Ambiental essas ministradas pela professora Ana
educadora e coordenadoras do projeto sediado na Escola América Dutra Machado.
Além de quatro canteiros 0,70x2m, um canteiro de 2,5x3m e uma horta em mandala que
foram construídos recentemente pelos participantes e voluntários do projeto “Revolução
dos Baldinhos”. Os canteiros foram construídos com o objetivo de produzir às mudas
que são doadas a comunidade, além do plantio para o consumo.
A produção de mudas tem como propósito a distribuição destas para as famílias
participantes do projeto, incentivando que elas plantem em suas casas, em áreas
disponíveis mesmo quando essas são limitadas e em vasos e recipientes que possam a
vir comportar uma planta. E assim minimizar custos que o projeto tem com a compra de
mudas, sendo que a bandeja de isopor com 72 mudas sai por um custo de R$ 20,00.
Figura 10: Canteiro da casa da Dona Eli.
Como havia sido falado anteriormente o projeto tem como um dos seus objetivos,
ajudar no controle dos roedores, evitando que os resíduos venham a parar nas ruas.
44
Formação dos canteiros
Como metodologia aplicada segundo a agroecologia os canteiros foram elevamos os
uma altura de 20 cm do solo, nestes canteiros foi incorporado o composto orgânico semi
curtido com o intuito de melhorar as condições estruturais ativando a microbiologia do
solo.
Segundo Albert Howard a base de um solo fértil de uma agricultura prospera é o
húmos, nos locais em que as perdas de húmos são equilibradas com a devolução dos
resíduos do solo, os sistemas de agricultura são estáveis e não há perda de fertilidade. A
utilização da cobertura morta vem enriquece este processo de preparo do solo.
Pois são resíduos de plantas que entram em senescência, “fase do desenvolvimento
da planta, que se estende da maturidade plena até a morte e é caracterizada por
acumulação de produtos metabólicos, aumento do regime respiratório e perda de peso
da substância seca, especialmente nas folhas e frutos” tendo translocado para as
sementes a maior parte dos nutrientes, sendo bons reservatórios de potássio (Khatounian
2001)
E assim para se economizar composto deve-se evitar o revolvimento do solo e
utilizar ao maximo a cobertura morta pois, a velocidade de degradação dos compostos
dobra a cada 9º C de temperatura. A cobertura com palhada reduzir em 4º a 5º C de
temperatura do canteiro.
Figura 11: Canteiro em forma de mandala.
45
Figura 12: Área dos canteiros
Figura 13: canteiro meia lua e ao fundo quatro canteiros de 0,70x2m cobertos com
palhada.
46
A Coleta dos Resíduos
A coleta dos resíduos é realizada fazendo chuva ou sol. Sempre acompanhada de
muita animação e companheirismo. A partir das 08h00min os participantes do projeto se
encontram na casa da Karol, membro do projeto desde Agosto de 2009, começando
como família e tornando-se membro ativo do projeto.
O grupo é composto pela Karol (27), Lene (35), Maicom (20) e Goiano (20), sendo
que as duas mulheres recebem uma bolsa de R$ 400,00 e os rapazes bolsas de R$
200,00. Atualmente o grupo acolheu mais um integrante o Peter um garoto de 14 anos
que se interessou pelo projeto e começou a participar das atividades.
A coleta das bombonas começa na Creche Conjunto Habitacional Chico Mendes o
primeiro PEV da rota realizada, e pelo projeto não ter uma sede própria e nessa creche
onde se guarda o carrinho utilizado na coleta.
Andando pelo bairro passa-se pelos PEV’s coletando as bombonas e no caminho
despejando os baldinhos das famílias nas bombonas. Feita a coleta as bombonas são
levadas para o pátio de compostagem locado na Escola América Dutra Machado onde é
realizada a virada das bombonas.
São coletadas mensalmente aproximadamente 5 toneladas de resíduo orgânico.
Podendo ser visualizado na tabela 6 abaixo. Conforme mostrado o volume do resíduo
orgânico, esta aumentando, isso devido ao crescente número de famílias, que estão se
engajando ao projeto. Atualmente o pátio de compostagem não esta comportando a
demanda do resíduo, devido à falta de espaço tense a necessidade de se encontra outro
local para se implantar um pátio de compostagem.
Volume de resíduo recolhido por coleta
Data Qtd (L)
Data Qtd (L)
04/set 700
22/dez 500 11/set 700
23/dez 550
15/set 800
24/dez 600 18/set 800
25/dez 1000
22/set 600
19/jan 700 25/set 700
22/jan 660
29/set 500
26/jan 550 02/out 500
29/jan 600
05/out 700
02/fev 850 09/out 650
05/fev 750
13/out 500
09/fev 950 16/out 500
12/fev 550
20/out 800
16/fev 630
47
23/out 550
19/fev 800 27/out 760
23/fev 1065
30/out 650
18/mar 300 03/nov 700
25/mar 1050
06/nov 780
30/mar 850 17/nov 980
01/abr 500
20/nov 640
06/abr 760 24/nov 680
09/abr 800
27/nov 980
13/abr 980 01/dez 1000
16/abr 1080
04/dez 1000
20/abr 860 08/dez 950
04/mai 800
11/dez 700
07/mai 600 14/dez 785
11/mai 1200
18/dez 600
14/mai 1000 19/dez 500
18/mai 900
20/dez 500
25/mai 1500 21/dez 500
28/mai 900
46.550 Total
750.806 Media
Tabela 6: Volume de resíduo coletado, de setembro de 2009 a maio de 2010.
Pode se estimar a quantidade de resíduo produzido por família, sabendo se que, uma
pessoa produz aproximadamente 300g/dia de resíduo, sendo que na comunidade a
maioria das famílias é composta de quatro pessoas. Tendo em vista que na entrevistas
foi coletado o dado de que a media do numero de pessoas por família é de 4.375.
Sendo que uma família produz por dia 1.200kg de resíduo, e o projeto consta
atualmente com 95 famílias, é depositado na bombonas por dia 114.000 kg de resíduo.
Conforme os dados da tabela acima de setembro de 2009 a maio de 2010 foram viradas
911bombonas.
Um dos problemas encontrados no momento da virada são as infrações, são a
presença de resíduos que não são compostados, como sacolas plásticas, panos,
embalagens de isopor entre outros, o que atrasa mais ainda o trabalho, pois se perde
tempo em se coletar esses resíduos.
48
Figura 14: Virada da bombona, Letícia e Peter
Figura 15: Infrações
A Compostagem
A compostagem é trabalhada da seguinte maneira, as leiras são feitas conforme a
metodologia do autor Howard (2007). A partir do preparo da cama “onde será
depositado o resíduo orgânico coletado” esta é composta primeiramente com a
49
colocação de galhos no solo fazendo o formato da leira e entorno é levantada uma
parede com palha. O resíduo é depositado em cima e um pouco de inoculante que é o
próprio composto que já esta pronto e que fornece todos os microorganismos, bactérias
termófilicas e fungos que realizam o processo de degradação dos resíduos de uma leira
termófilica.
O material é revolvido para que se incorpore com o inoculante, após esse processo é
sobreposta a serragem, sendo essencial a adição dessa para ajudar na proporção de C: N,
“consideram como ideal para a compostagem uma relação C/N entre 25/1 e 30/1, mas
valores situados na faixa entre 20/1 e 40/1 também produzem bons resultados. De
acordo com Howard (2007) a proporção ideal do método é de 33 partes de carbono
para uma de nitrogênio”, a aeração da pilha e a manutenção de umidade adequada.
Com a adição da serragem a proporção C: N fica num nível adaptado para o inicio dos
processos de degradação dos compostos em nutrientes absorvíveis pelas plantas. Por
fim a leira e coberta com palhada, pois esta ajuda a evitar a perda de calor e umidade da
pilha de compostagem, alem de manter afastados os animais.
Cada vez que abrimos a leira para colocar material novo devemos verificar se a pilha
esta aquecendo. Conforme a deposição de resíduos na pilha ocorre o aumento de altura
da leira, essa não ultrapassando1, 30 m para facilitar o manejo.
O material em repouso gerado pela pilha de compostagem após um ano é o composto
orgânico um material rico em nutrientes, livre de microorganismos e nocivos, parecido
com terra escura.
A escolha de um local adequado é colocar uma primeira camada de material seco
(galhos e folhas) a partir de 1,5x1, 5m de área, para absorver os líquidos em excesso.
A = camada seca baixa atividade biológica devido à rápida perda de umidade.
B = camada quente intensa atividade biológica, bactérias termofilicas, combinação ideal
de energia, umidade, O² e nutrientes.
C = camada fria central baixa atividade biológica devido à falta de O².
A principal função de virada da pilha é expor todo o material á posição B.
50
Figura 16: Preparo da área para a montagem da leira.
Figura 17: Montagem da cama, leira de compostagem
51
Figura 18: Leira em funcionamento. A principal função de virada da pilha é
expor todo o material á posição B.
Segundo o autor Khantouriam (2001) a deposição dos resíduos vegetais ocorre na
natureza. Na fase inicial de uma leira de composto, as bactérias presentes trabalham a
temperatura ambiente, quando a temperatura no interior começa a se elevar, as
populações bacterianas vão se alterando, tornando-se dominantes, bactérias tolerantes a
temperaturas elevadas, ditas termófilicas (bactérias aeróbicas termófilicas têm como
características alta capacidade de degradação da biomassa).
Sendo assim o revolvimento do resíduo para que se ocorra a mistura das camadas
internas da leira, é de extrema importância para a manutenção e funcionamento. Nessa
conjuntura após um mês de utilização da leira não se deposita mais nada de resíduos e
quinzenalmente é realizada a virada para expor todo o material ao centro da leira, onde
fica a camada quente alcançando de 60º a 70º de temperatura e com intensa atividade
bacteriana.
O churumi é o liquido rico em nutrientes, que é liberado da leira, se não coletado vem
a ser um contaminante do solo. O destino adequado faz dele um biofertilizante rico em
nutrientes que pode ser disponibilizado as plantas. Entretanto no pátio de compostagem
esse não tem o seu descarte correto, pois não é feita a coleta do churumi.
52
Acarretando ao pátio problemas de funcionamento devido ao solo encharcado,
agravado pelo excesso de chuva, possível contaminação do solo, alem do desperdício
de nutrientes.
Devolução das bombonas
Finalizado o processo da compostagem as bombonas são lavadas de devolvidas aos
PEVs, sendo que nesse trajeto e realizada a doação de mudas, a entrega do adubo e
conscientização da comunidade, para com o descarte adequado do resíduo orgânico. O
trajeto e realizado pela Karol e Lene tendo sido acompanhado no período do estágio.
Atuações na comunidade
Alem das famílias e realizado um trabalho junto as entidades, na creche Chico Mendes
que possui desde 2006 um projeto de horta escolar que trabalha temas como segurança
alimentar e educação ambiental, são parceiras em atividades para com as crianças, pais
e profissionais. Buscando através de oficinas de compostagem, construção de hortas,
obterem a produção de alimentos saudáveis, propiciando uma melhor alimentação.
Viabilidade
Atualmente vem sendo pleiteado junto à prefeitura uma nova área na comunidade para
pátio de compostagem. Esta nova área tem por objetivo aumentar o volume de resíduo
coletado, tendo capacidade para suportar 10 leiras, área para lavagem das bombonas, e
um depósito para guardar ferramentas. Podendo ser visualizada esta área em anexo 3.
Entretanto apesar de todas as dificuldades da comunidade como falta de saneamento
básico adequado, assistência saúde precária devido a demora nos atendimentos e a
violência na região, as participantes, as famílias cadastradas e a comunidade apóiam o
projeto e visualizam a viabilidade dele.
Contatando que quando esse teve inicio era composto por cinco famílias e atualmente
tense noventa e cinco famílias atuantes na coleta de resíduo orgânico.
53
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
54
11. Referências Bibliográficas
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Programa de Hortas Comunitárias como subsídio para políticas públicas.
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d3 março de 2010.
57
ANEXOS
Anexo 1: Questionários aplicados a 8 participantes do grupo
Questionário 1 ° Agricultura Urbana
Data:
Idade:
Sexo: ( ) M ( ) F
1. Trabalhador ( profissão):
2. Aposentado:
3. Dona de Casa:
4. Grau de escolaridade:
( ) 1° à 4° serie
( ) 5° à 8° serie
( ) 1° à 3° ano ginásio
( ) superior
( ) sem escolaridade
5. Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) separado
6. Possui filhos ( Quantos?)_____
7. Quantas pessoas residem na casa? _______
8. Renda familiar R$_________
9. Casa própria ( ) Alugada ( )
10. Quantos anos residem no bairro?_____
11. Existe sistema de esgoto? ( ) sim ( ) não
12. Água tratada: ( ) sim ( ) não
13. Existe coleta de lixo no bairro? ( ) sim ( ) não
14. Faz se coleta seletiva no bairro? ( ) sim ( ) não
15. O participante tem origem rural?
( ) sim De onde? ________________
( ) não
16. Como foi seu primeiro contato com a agricultura?
17. Quais eram as culturas agrícolas e criação de animais praticada?
18. Porque deixou sua cidade de origem?
19. Qual era sua principal fonte de renda?
Questionário 2 ° Agricultura Urbana
Data:
Idade:
Sexo: ( ) M ( ) F
1. Trabalhador ( profissão):
2. Aposentado:
3. Dona de Casa:
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4. Grau de escolaridade:
( ) 1° à 4° serie
( ) 5° à 8° serie
( ) 1° à 3° ano ginásio
( ) superior
( ) sem escolaridade
5. Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) separado
6. Possui filhos ( Quantos?)_____
7. Quantas pessoas residem na casa? _______
8. Renda familiar R$_________
9. Casa própria ( ) Alugada ( )
10. Quantos anos residem no bairro?_____
11. Existe sistema de esgoto? ( ) sim ( ) não
12. Água tratada: ( ) sim ( ) não
13. Existe coleta de lixo no bairro? ( ) sim ( ) não
14. Faz se coleta seletiva no bairro? ( ) sim ( ) não
15. O participante tem origem rural?
( ) sim De onde? ________________
( ) não
16. Como foi seu contato com a agricultura depois que começou a morar na
comunidade?
17. Quais são as culturas agrícolas e criação de animais praticada?
18. Atualmente qual sua principal fonte de renda?
19. Que motivos o levaram a praticar agricultura em casa (quintais) na área urbana
( ) cultural, por gostar de mexer na terra e ou por praticar no passado.
( ) por querer consumir produtos produzidos por si.
( ) necessidade econômica ( segurança alimentar)
( ) por querer produtos limpos livres de agrotóxicos
( ) para consumo próprio e venda do excedente.
20. Como conheceu o projeto “Horta Comunitária”? (Biguaçu)
( ) através de vizinhos e amigos
( ) participou da concepção do projeto
( ) a própria horta lhe chamou a atenção e foi se informar
( ) participantes do projeto o convidaram
( ) participava de outros projetos
21. Como conheceu o projeto “Revolução dos Baldinhos”? ( Chico Mendes)
( ) através de vizinhos e amigos
( ) participou da concepção do projeto
( ) a própria horta lhe chamou a atenção e foi se informar
( ) participantes do projeto o convidaram
( ) participava de outros projetos
22. Quais foram às motivações iniciais que o levaram a participar do projeto de AU?
23. Tem horta ou criação em casa? ( ) sim ( ) não
24. Qual o tamanho da área disponível no terreno? ______m²
25. Esta área é própria para a produção e plantio? ( ) sim ( ) não
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26. O que planta ou cria em casa:
( ) Frutíferas.
Quais?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
( ) Medicinais.
Quais?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
( ) Olericolas.
Quais?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
( ) Criações.
Quais?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
( ) Ornamentais.
Quais?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
27. Quais as vantagens que o Sr/Sra. obteve ao praticar Agricultura Urbana?
( ) segurança alimentar
( ) geração de renda
( ) envolvimento comunitário
( ) benefícios com a saúde pelo trabalho físico praticado com a horta e com o
descarte adequado dos resíduos orgânicos.
( ) benefícios pelo consumo de alimentos saudáveis.
28. Quais as principais dificuldades encontradas?
( ) falta de participantes
( ) tempo insuficiente para o trabalho
( ) falha no recurso financeiro para compra de materiais
( ) falta de reconhecimento e apoio de órgãos públicos
( ) falta de reconhecimento e apoio da comunidade e moradores.
( ) falta de insumos
29. Você acha que pode obter renda, diminuir custos, e aumentar a segurança alimentar
a partir dos alimentos produzidos na horta? ( ) sim ( ) não
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Anexo 2: Reportagem realizado com o projeto “Revolução dos Baldinhos” publicada
dia 24 de maio de 2010.
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Anexo 3: Foto da nova área para pátio de compostagem
Mapa aproximado do terreno possível e onde foi proposto o novo pátio com horta
Mapa com as dimensões do terreno para pátio e horta
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