AGORA TAMBÉM RESTA UMA FOTO QUE O RETRATISTA … · 2011-11-29 · Segundo Bauman a identidade...

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1 AGORA TAMBÉM RESTA UMA FOTO QUE O RETRATISTA DEIXOU Mulheres negras sob o olhar, a lente e o foco de Ierê Ferreira. SYLVIA HELENA DE CARVALHO ARCURI 1 Pensar, questionar, problematizar questões relacionadas à cor da pele e à raça na sociedade brasileira é um desafio, pois o Brasil é uma nação que se diz miscigenada. Pode-se afirmar que, aqui ninguém é branco e nem negro? Que cor, que raça é essa que nos distingue? Quem somos, o que podemos ser, onde e por onde podemos transitar? A problemática se instaura com mais veemência e percorre os espaços históricos até hoje sem uma definição. Como se reconhecer como parte do todo se a sociedade cobra uma cor? Quando chegará o momento de preencher as lacunas? Lutas sociais, políticas e econômicas são travadas ao logo do processo de identidade de um povo híbrido. Os negros negligenciados conseguiram avançar e receber de alguma maneira o reconhecimento da nação como o povo que foi maltratado e usado durante a escravidão. Respeitar e viver as diferenças, ser tolerante é um desafio para humanidade atual. Os integrantes dessa sociedade vivem tão voltados para dentro, olhando para seu próprio eu interno que se esquecem, não percebem e não concebem a existência do “outro”. Esquecem que são, que possuem uma identidade porque existe um “outro” que dá a possibilidade da sua existência. Esse “eu” intolerante não percebe que a alteridade é a possibilidade da sua identidade. Independente da cor da pele, das crenças e do gênero pensar arte, pensar fotografia, como forma artística, é pensar questões das minorias, que são a maioria nesse país. A proposta de Luiz Silva, conhecido como Cuti, é mostrar que: “nasce o interlocutor negro do texto emitido pelo “eu” negro, num diálogo que põe na estranheza, na condição de ausente, o leitor “branco”. Afinal, assim como a literatura, a fotografia é uma grande possibilidade de se estar no lugar do outro e aprender-lhe a dimensão humana2 . Incapacidade de conviver com a diferença é discriminação, é preconceito, é ter do outro uma imagem distorcida e errada. Quando se fala do “outro”, fala-se de máscara, do outro rosto, dos excluidos, dos estranhos, dos bárbaros, dos ignorados, dos estigmatizados, dos vulneráveis, dos que estão alijados, daqueles que sofrem algum tipo de violencia e preconceito, do medo que esse “outro” causa e do lugar e da posição desse “outro” no mundo. 1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura da Rede Estadual de Ensino, especialista em Relações Etnicorraciais e educação/CEFET e mestranda em Literatura Hispanoamericana/UFRJ. e.mail: [email protected]. 2 SILVA, Luiz. O Leitor e o Texto Afro-brasileiro. Disponível em: http://www.cuti.com.br/ensaios3.htm. Acesso em 23.05. 2011.

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AGORA TAMBÉM RESTA UMA FOTO QUE O RETRATISTA DEIXOU

Mulheres negras sob o olhar, a lente e o foco de Ierê Ferreira.

SYLVIA HELENA DE CARVALHO ARCURI1

Pensar, questionar, problematizar questões relacionadas à cor da pele e à raça na sociedade

brasileira é um desafio, pois o Brasil é uma nação que se diz miscigenada. Pode-se afirmar que, aqui

ninguém é branco e nem negro? Que cor, que raça é essa que nos distingue?

Quem somos, o que podemos ser, onde e por onde podemos transitar? A problemática se

instaura com mais veemência e percorre os espaços históricos até hoje sem uma definição. Como se

reconhecer como parte do todo se a sociedade cobra uma cor? Quando chegará o momento de

preencher as lacunas?

Lutas sociais, políticas e econômicas são travadas ao logo do processo de identidade de um

povo híbrido. Os negros negligenciados conseguiram avançar e receber de alguma maneira o

reconhecimento da nação como o povo que foi maltratado e usado durante a escravidão.

Respeitar e viver as diferenças, ser tolerante é um desafio para humanidade atual. Os

integrantes dessa sociedade vivem tão voltados para dentro, olhando para seu próprio eu interno que

se esquecem, não percebem e não concebem a existência do “outro”. Esquecem que são, que

possuem uma identidade porque existe um “outro” que dá a possibilidade da sua existência. Esse

“eu” intolerante não percebe que a alteridade é a possibilidade da sua identidade.

Independente da cor da pele, das crenças e do gênero pensar arte, pensar fotografia, como

forma artística, é pensar questões das minorias, que são a maioria nesse país. A proposta de Luiz

Silva, conhecido como Cuti, é mostrar que: “nasce o interlocutor negro do texto emitido pelo “eu”

negro, num diálogo que põe na estranheza, na condição de ausente, o leitor “branco”. Afinal,

assim como a literatura, a fotografia é uma grande possibilidade de se estar no lugar do outro e

aprender-lhe a dimensão humana”2.

Incapacidade de conviver com a diferença é discriminação, é preconceito, é ter do outro uma

imagem distorcida e errada. Quando se fala do “outro”, fala-se de máscara, do outro rosto, dos

excluidos, dos estranhos, dos bárbaros, dos ignorados, dos estigmatizados, dos vulneráveis, dos que

estão alijados, daqueles que sofrem algum tipo de violencia e preconceito, do medo que esse

“outro” causa e do lugar e da posição desse “outro” no mundo.

1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura da Rede Estadual de Ensino, especialista em Relações Etnicorraciais e

educação/CEFET e mestranda em Literatura Hispanoamericana/UFRJ. e.mail: [email protected]. 2 SILVA, Luiz. O Leitor e o Texto Afro-brasileiro. Disponível em: http://www.cuti.com.br/ensaios3.htm. Acesso em 23.05. 2011.

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Segundo Bauman a identidade “é uma luta simultânea contra a dissolução e a

fragmentação; uma intenção de devorar e ao mesmo tempo uma recusa resoluta a ser devorado” 3.

Portanto, negar o “outro”, é negar a si mesmo, o “eu” não se reconhece, deixa de ter cumplicidade e

passa a não admitir a sua prórpria identidade, a querer aniquilar o “outro”, a não aceitá-lo.

A partir dessas inquietudes este artigo pensará a memória, a representação, a estética e o

belo que aparecem inscritos nas fotografias de mulheres negras que fazem parte do cenário cultural,

intelectual, social, político, religioso e anônimo desse país. Fotografias produzidas pelo fotógrafo

Ierê Ferreira que se dedica não só a fotografar a mulher negra brasileira, mas também a

“africanidade”, o negro (a) com voz, liberto (a) da estética proposta pela sociedade, que se intitula

hegemônica da nação. Ferreira faz da identidade e da memória um dever e o objetivo do seu

trabalho, da sua obra artística e da sua vida, como ato de libertação de costumes tradicionais do

povo afro-brasileiro.

O interesse por este tema surgiu, em um primeiro momento, pelo contato com o trabalho do

fotógrafo Ierê Ferreira, que olha as mulheres através de sua câmera com beleza, com ética e

estética, além de mostrar no discurso fotográfico que todas essas mulheres fotografadas possuem

uma história que vale a pena ser lembrada, contada e eternizada. O interesse ganhou ainda mais

força com as aulas do curso da pós-graduação lato sensu “Relações Etnicorraciais e a Educação:

uma proposta de (RE) Construção do Imaginário Social”. As fotos feitas por Ferreira ratificam e

ampliam vários conceitos e diálogos travados com professores os colegas durante o curso.

Por que fotografar mulheres negras que se destacam, exercem um papel importante e

representam outras mulheres em vários patamares da nossa sociedade?

Pode-se pensar que está é uma questão que invade o campo da identidade, mas qual

identidade? Poderia ser aquela identidade do sujeito pós-moderno proposta por Stuart Hall quando

afirma que: “O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se

tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades”.4

Além das proposições de identidade e de identidade cultural, pode-se propor uma

aproximação das questões relacionadas com a memória. Toda fotografia guarda uma memória, o

esquecimento sempre joga a favor do poder, manter viva a memória, através das fotos, serve para

que se fortaleçam as ações e os pensamentos propostos pelas pessoas ou pelos acontecimentos que

foram fotografados e não deixar cair no esquecimento.

As fotografias das mulheres negras de Ierê Ferreira, além de dialogar com a ideia de

identidade cultural (ajuste de formas, atitudes e representações que formam um todo coeso), pensam

3 BAUMAN, Zigmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005,

p.84. 4 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. 11ª ed. Rio de

Janeiro: DP&A editora, 2006, p.12.

3

o lugar da memória no mundo contemporâneo, principalmente a partir da visão de quem preza a

estética e a ética na sua profissão. Memória como revisão que aponta o olhar do fotógrafo para onde

ele não foi, que pode não provocar revolução, mas quando visto, durante sua exposição, seja

revolucionário.

Para Ierê Ferreira, é possível haver uma discussão sobre a estética fotográfica e seu valor.

No entanto, no mundo atual, essa discussão perdeu seu fôlego. Este artigo passa por esse aspecto da

não aceitação dessa perda, pois Ferreira pensa sua fotografia dentro do conjunto de tensões que a

rodeiam na atualidade e tenta refletir sobre o espaço de onde deve surgir uma fotografia válida e

ética. Assim, problematiza-se não só o lugar desta fotografia possível, como também as tensões que

ela deve contemplar, já que possibilita outros lugares para as mulheres negras fotografadas.

Servindo como base teórica, foram usado textos de Márcio Selligman-Silva, Siegfried

Kracauer, Paul Ricouer e Stuart Hall. Tais textos travaram um diálogo com as fotografias das

mulheres negras fotografadas por Ierê Ferreira, a partir de uma abordagem interdisciplinar entre os

discursos fotográfico, histórico e teórico, que possibilitará uma leitura e compreensão mais

minuciosa do tecido que se forma com esses campos de conhecimento.

A Fotografia: lendo o fotógrafo Ierê Ferreira.

As fotografias são uma interpretação do mundo e por trás de cada clique, de cada lente, de

cada luz, está o olho, a vivência, a personalidade e a história de um fotógrafo que testemunha o seu

tempo. Fotografar é apropriar-se do que está sendo fotografado. Significa estabelecer com o mundo

uma relação determinada que parece conhecimento e, por tanto, poder, adverte Susan Sontag.5

Para Ierê Ferreira a fotografia tem várias funções e uma delas é despertar nas pessoas o

interesse pela leitura, pois fotografar, segundo ele é “escrever com a luz e quando estamos contando

com a luz estamos narrando um fato e a fotografia convida as pessoas a descobrirem o mundo

através da imagem”.

O que transmite a fotografia de Ierê Ferreira? Qual é o conteúdo da sua mensagem

fotográfica? Não é apenas a mostra do real literal, nas suas fotos, incluindo as apresentadas aqui,

não existe uma redução do objeto a sua imagem, muito pelo contrário, existe uma proporção, uma

perspectiva e uma cor maior, que ultrapassa o limite da fotografia, do personagem retratado e do

ambiente fotografado.

As fotografias de Ferreira deixam de ser redução e passam ao momento de transformação

(sociológica, antropológica, artística, identitária, histórica, etc.), as personagens, que fazem parte do

5 SONTAG, Susan. Sobre la fotografia. Trad. Carlos Gardini. México: Alfaguara, 2006, p.16.

4

corpus desse trabalho, transformaram, trabalharam e contribuíram para compreensão da identidade

dos afrodescendentes e de um momento histórico. Assim como a fotografia de Ferreira contribui

para que essa identidade seja propagada e vista como importante, como necessária dentro do

cenário sócio-histórico, político e social do país, também ajuda na formação de uma memória

necessária.

O fotógrafo fala sobre a integração da fotografia com a ação política, social e cultural. Além

disso, para a recepção e o entendimento das fotografias de Ierê Ferreira é necessário que os sujeitos

contemporâneos aprendam novos códigos para lê-la e, por consequência, ler a sociedade na qual

estão inseridos.

A fotografia deste artista pode ser a possiblidade de mostrar o mundo esquecido e revelar a

“verdade”. Essa sua atitude perpassa pelos deslocamentos desta capacidade de revela-la, de como

isso foi e está sendo realizado na dimensão artística, que pode converter sua fotografia em uma

autentica e reveladora verdade. Tão verdadeira que pode alcançar a realidade interna, que está para

além das aparências e dos códigos de representação, tanto de quem está sendo fotografado, como

daquele que aprecia e lê a sua fotografia6.

A intenção do fotógrafo é mostrar o rosto que um dia foi apagado do cenário dentro de um

processo de higienização que se estende até os dias de hoje. O negro ocupa nas fotos de Ferreira o

lugar de destaque, deixa de ser mostrado como coadjuvante e subserviente e passa a personagem

principal e importante dentro da construção da história do país.

“A juventude negra precisa olhar tudo o que já foi produzido e proposto, em termos de

trabalho, para o desenvolvimento das questões do negro”, afirma Ierê Ferreira para Selma Almada

(2011). O registro deste fotógrafo contribuirá, de maneira substancial para a produção de uma

memória futura.

Memória: como se constrói e qual a sua importância na obra de Ierê Ferreira.

Mesmo que a memória esteja ligada com um momento pretérito, Márcio Seligmann-Silva

esclarece em uma entrevista concedida ao Jornal Unicamp que:

A memória tem a ver com o presente, embora sempre seja vista como coisa do passado.

Ela é uma construção do presente, está sempre voltada para questões atuais. Se você

silencia os discursos da memória, você está na realidade silenciando potenciais agentes

de poder. O teatro da memória é eminentemente político.7

6 Muller, Tânia. Op. cit.

7 Entrevista para o Jornal Unicamp. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2008/ju391pag5-6-7.html.

Acesso em: 13.05. 2011.

5

Ierê Ferreira não deixou de perceber esse discurso de poder e político da memória e mostra

na sua fotografia que o seu trabalho, e, por conseguinte, as artes não estão desligadas de fatores

políticos, que o sensibilizam e o faz mostrar aquilo que pretende.

No momento em que Ierê Ferreira apresenta os seus retratos como identidade fotográfica,

corre o risco e assume uma posição estética, social e política, já que transita pela encruzilhada de

vários problemas, sendo um deles, a memória.

As fotografias podem construir que tipo de memória, ou se constrói a partir de que tipo de

memória? Estão inseridas em que tipo de registro de passado: o da memória individual, o da

memória coletiva ou o da historiografia?

Sobre este tema, Seligmann-Silva continua dizendo que não existe historiografia imune à

questão aparentemente banal do ponto de vista. A historiografia trabalha em um campo tão infinito

quanto o da memória, pois nunca haverá coincidência entre discurso e “fato”, uma vez que a nossa

visão de mundo sempre determinará nossos discursos e a reconstrução da história. No caso dos

afrodescendentes a memória nunca é puramente “individual”, sempre está inserida em um contexto

coletivo.

As fotografias de Ferreira passam a serem vistas em uma constante de ir e vir que não

podem ser percebidas somente de uma única perspectiva, seja ela ética, moral, social ou estética,

mas o conjunto de todas essas abordagens. Os seus retratos e fotografias passam a ser um discurso

aberto que pode ser analisado sob alguns aspectos, tais como: o indivíduo, o grupo, a sociedade e a

representação.

Dentro do mundo contemporâneo, onde só é possível assimilar o que é vivido aqui e agora,

onde o narcisismo, o egocentrismo, o isolamento, a individualidade imperam; as fotografias e os

retratos de Ierê Ferreira se transformarão em um patrimônio cultural de peso, pois mostram e tratam

de assuntos como: valores, crenças, saberes, práticas, costumes, modo de vida, ética, estética e visão

de mundo de uma época e de um grupo (destratado e esquecido) que servirá à memória coletiva

futura, lembradas por indivíduos enquanto membros do grupo. Como bem disse Tânia Müller:

[...] a fotografia é resultado de um olhar, de uma intenção do autor; um artefato social e,

por isso, um documento histórico que permite recuperar a narrativa do cotidiano e a

memória coletiva, [...] situo-a como um documento que perpetua a história de

indivíduos e da sociedade 8.

Uma memória coletiva de grande importância, que deve ser recomposta a partir das

manifestações culturais africanas apagadas pela superposição da cultura europeia. Seu registro

fotográfico não servirá para esconder um passado, mas sim, para dar claridade ao presente que será

8 MÜLLER, Tânia Mara Pedroso. As aparências enganam? : fotografia e pesquisa. Petrópolis, RJ: D et Alli; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2011. p. 47.

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passado um dia, mas com uma identidade cultural solidificada, assim como o pássaro Sankofa um

dos símbolos adinkras (antiga escrita ideográfica do oeste africano) que olha para trás simbolizando

a sabedoria de aprender com o passado para construir o presente e o futuro.

Na obra fotográfica de Ferreira, a memória deixa de ter o caráter individual, pessoal. As

recordações apresentadas como apenas minhas, deixam de ser lidas como: nada além de mim

mesmo vejo nessas fotografias. Passam a representar e a serem lidas como uma coletividade a qual

se pertence.

Representações: algumas mulheres negras fotografadas por Ierê Ferreira

Como pode a fotografia dar testemunho dela mesma? A fotografia é, por ser fotografia,

testemunho de que realidade?

Para que serve a fotografia? Essa pergunta percorre toda a obra de Ierê Ferreira além de

preencher lacunas e reativar a memória.

Ninguém pode fotografar um tema que não esteja dentro de si, os personagens ou as cenas

escolhidas estão dentro do fotógrafo, no seu subconsciente. Tudo o que é fotografado, é produto do

que o fotógrafo é, do que ele quer, daquilo que ele acredita ou duvida.

Ierê Ferreira constrói uma estética fotográfica que leva os seus espectadores a perguntar e

querer saber quem são as pessoas que estão naquela imagem retratada, tamanha plasticidade

cunhada pelo artista no momento que fotografa. Ele não fabrica uma fotografia comercial, não é

esse seu interesse.

A sua estética parte de uma técnica de impressão, onde o movimento (ainda que seja nos

retratos) faz parte do conjunto. Ferreira soma às expressões das imagens fotografadas a sua marca,

não há como separar o fotógrafo de sua obra, que assume um cunho político e, portanto, pode-se

fazer sozinha. Sua obra, consistente, já não depende do seu autor, sua fotografia cria um campo

afetivo, cheio de significados que causam incômodos, por isso, arte.

Os retratos de Ierê não focam só os rostos de seus personagens, mas também toda a

atmosfera e contexto que os envolve. Os seus leitores provocados, apreciam e entendem os seus

retratos a partir de vivências próprias, garantindo a construção de uma identidade.

7

A religiosa: Mãe Beata de Yemonjá

Foto 1.

Mãe Beata de Yemonjá é uma dessas Rainhas afro-brasileiras que ajuda a construir, a cada

dia, a identidade cultural do seu “povo de santo” e de tantos outros afro-brasileiros, por meio da

oralidade, da memória, do recontar o que lhe foi também passado por um dos seus ancestrais. Ela

mesma se apresenta na introdução do seu livro Caroço de Dendê:

Minha mãe chama-se do Carmo, Maria do Carmo. Ela tinha muita vontade de ter uma

filha. Um dia, ela engravidou. Acontece que, num desses dias, deu vontade nela de

comer peixe de água doce. Minha mãe estava com fome e disse: „Já que não tem nada

aqui, eu vou para o rio pescar.‟ Ela foi para o rio e, quando estava dentro d‟água

pescando, a bolsa estourou. Ela saiu correndo, me segurando, que eu já estava nascendo.

E eu nasci numa encruzilhada. Tia Alafá, uma velha africana que era parteira do

engenho, nos levou, minha mãe e eu, para a casa e disse que ela tinha visto que eu era

filha de Exu e Yemanjá. Isso foi no dia 20 de janeiro de 1931. Assim foi meu

nascimento.9

Os terreiros de Candomblé guardam as histórias e os mitos sagrados do Panteão dos Orixás.

Do espaço privado e íntimo dos terreiros os mitos são cultuados, recriados, recontados e chegam até

o espaço público como alento, ensinamento e propagação.

As Ialorixás, os Babalorixás são uma espécie de “Griots Sagrados”, entorno deles convivem

os seus “filhos de santo”, que estão ali para receberem os ensinamentos místicos referentes a esse

espaço religioso, o Candomblé, além de escutarem as histórias que serão recontadas várias vezes,

dando continuação a essa memória coletiva ritualística que ajudará na formação da identidade

cultural.

Gritot, Mãe Beata, defendendo e contando suas histórias na roda sagrada de dentro do

terreiro, Gritot, Ierê Ferreira, fotografando e juntando sonhos, fragmentos, tempos dentro do espaço

9 BEATA DE YEMONJÁ, Mãe. Caroço de Dendê: a sabedoria dos terreiros; como Ialorixás e Babalorixás passam seus conhecimentos

a seus filhos. 2ªed. Rio de Janeiro: Pallas, 2008, p. 11.

8

da cultura. Ambos usando e “abusando” da memória que opera na esteira da imaginação para

fundamentar a identidade cultural de gente de valor que não deve mais ficar atrás das sombras,

porque sabem o que significa a prova da memória na presença viva de uma imagem das coisas

passadas e o que significa partir em busca de uma lembrança perdida ou reencontrada que legitima

o coletivo. 10

A compositora: Dona Ivone Lara

Foto 2.

Conhecida como a grande dama do samba, Dona Ivone Lara é um destaque dentro do

cenário musical brasileiro. Cantora e compositora carioca, que acabou de cumprir 90 anos no último

dia 13 de abril, escreveu o seu primeiro samba-enredo, Os cinco bailes do Rio, junto com Silas de

Oliveira e Bacalhau, em 1965. Por causa deste samba, além de ter sido a primeira mulher a compor

e ganhar um samba-enredo, passou a fazer parte da ala de compositores da Escola Império Serrano,

passados alguns anos se tornou a madrinha desta mesma ala. Marcelo Moutinho (escritor, jornalista

e imperiano), em entrevista para Francisco Bosco, na Rádio Batuta diz que: “Dona Ivone Lara foi

uma mulher além do seu tempo e é dona de um canto como os das Iabás.”

Uma voz a serviço da resistência negra, Ivone Lara participava das Noitadas de Samba,

projeto idealizado por Jorge Coutinho e Leonides Bayer com o objetivo de levar para a zona sul

carioca as vozes dos morros e dos subúrbios, o morro chega ao asfalto.

Esse projeto acontecia nas noites de segunda-feira, no Teatro Opinião, no início da década

1970, em pleno período da ditadura cívico-militar que se instaurara em vários países latino-

americanos.

Ainda resistindo e fazendo parte dos movimentos juntos daqueles que queriam o processo de

abertura para o país, Dona Ivone Lara estava presente no Riocentro, na noite de 31 de abril de 1981,

10

RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François et al. Campinas: Editora da Unicamp, 2007, p. 105.

9

em comemoração ao Dia do Trabalhador. Diante de uma plateia lotada, ela estava ali, junto com

tantos outros artistas, que lutavam com voz ativa, para cantar a liberdade e a volta da democracia,

Embora a abertura já tivesse iniciado de maneira lenta, o Brasil ainda vivia o período ditatorial.

Neste dia, onde foram preparadas três bombas para serem detonadas em uma ação terrorista como

justificativa para a tomada à repressão, Dona Ivone Lara soltou sua voz de Iabá e cantou o seu

samba, do disco, Um Sorriso Negro de 1981, que diz assim: “Alguém me avisou pra pisar nesse

chão devagarzinho/sempre fui obediente/mas não pude resistir/foi numa roda de samba/que juntei-

me aos bambas/pra me distrai...11

Ney Lopes afirma que Dona Ivone Lara é o exemplo do que é possível. Nascida num meio

humilde, aluna de colégio interno e, no entanto está construindo uma obra permanente. Dona Ivone

Lara é o Samba.

Ierê Ferreira, assim como Dona Ivone Lara tem uma ligação muito forte com o samba, o

samba é para os dois, o espaço onde a vida acontece. Ele é o idealizador do Projeto Samba

Identidade Nossa, cujo objetivo é levar adiante a música, a cultura e a história de personagens

singulares que não podem ser esquecidos, que são o baluarte de uma parte da cultura nacional.

A escritora: Conceição Evaristo.

Foto 3.

“Escrever pressupõe um dinamismo próprio do sujeito da escrita, proporcionando-lhe sua

auto-inscrição no interior do mundo. A nossa “escrevidência” não pode ser lida como história para

ninar os da casa grande e sim para acordá-los de seus sonos injustos”12

.

11

Diego Nogueira entrevista Dona Ivone Lara no programa Samba na Gamboa: Disponível em: http://www.dignow.org/post/noitada-de-samba-639692-98931.html. Acesso em: 26.05. 2011.

12

EVARISTO, Conceição. Apresentação no Congresso de Escritoras Brasileiras em Nova York em 16 de outubro de 2009. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=W2DgEX8fIHE&feature=related. Acesso em: 21.05.2011

10

Mineira de Belo Horizonte, Maria da Conceição Evaristo nasceu no dia 29 de novembro de

1946. Filha de Dona Joana e do senhor Aníbal Vitorino, que era casado com sua mãe, mas não era

seu pai biológico. Aos sete anos foi morar com os Tios, Maria Filomena da Silva, irmã de sua mãe e

Tio Totó que nunca tiveram filhos. O tio era pedreiro e a tia lavadeira como sua mãe. Aos oito anos

começou a trabalhar como doméstica, serviço que consumiu muitos anos de sua vida.

Depois de completar os seus estudos em Belo Horizonte, Conceição Evaristo mudou-se para

o Rio de Janeiro, prestou concurso público para ser professora, passou e se tornou professora da

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Nos anos de 1980, a autora conheceu a série Cadernos Negros. Nessa década, que foi

marcada pelos movimentos pela igualdade racial, a autora descobriu a escrita literária que a ajudou

entender esse processo e tudo que tinha vivido na sua infância passou a ser tema da sua escrita,

portanto Conceição Evaristo escreve a partir de fatos acontecidos, usando a memória para acessá-

los. O resgate de um tempo vivido por meio da memória, ou como afirmou Giraudo, nos seus

estudos sobre a poética da memória: “não um retorno ocioso ao passado, nem tampouco constitui

sentimentalismo folclórico; antes sua função conecta o passado à construção presente de um futuro

comum”. 13

Assim, como nas fotos de Ierê Ferreira, a autora utiliza o recurso da memória como fonte de

preservação de fatos vividos, de pessoas queridas, guardando a identidade de um grupo, que

também é seu, para servir na construção do arquivo futuro que se faz no presente.

Portanto, as fotografias, os retratos e a estética propostas por Ierê Ferreira e a

“escrevidência” de Conceição Evaristo auxiliam na construção de identidades, não mais silenciadas,

mas daquelas conseguem livrar-se da mentalidade branca hegemônica. O que essas obras dizem é

que o branco já não é mais o centro, o personagem principal da história. Existem outras vozes que

devem ser ouvidas, respeitadas e que representam a maioria da população de um país hibrido. Um

“eu” que já não está mais separado de um “não eu” que nesse momento é um “nós” separado deles.

Um “eu”, um “nós” que necessita ser construído e reconstruído mais uma vez.

13

GIRAUDO, José Eduardo Fernandes. Poética da memória: uma leitura de Toni Morrison. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 1997, p. 51.

11

As atrizes: Ruth de Souza e Léa Garcia.

Ruth de Souza.

Foto 4.

Ruth de Souza foi primeira atriz negra a se apresentar no palco do Teatro Municipal do Rio

de Janeiro, em 1945 com o TEN - Teatro Experimental do Negro, movimento importante na cena

nacional, fundado em 1944 por um grupo de atores negros, entre eles Abdias do Nascimento e

Haroldo Costa, cujo objetivo era conseguir espaço para os atores negros atuarem. Segundo a própria

Ruth, deu oportunidade para o negro mostrar que também podia ser ator, porque até então as

companhas pintavam os atores brancos de negro.14

A atriz também passou pelo grupo Os Comediantes. Seu primeiro trabalho no cinema se dá

três anos depois, em 1948, no filme, Terra Violenta, e daí não para mais até o final da década de

1970, passando por importantes companhias de cinema e outras produções independentes. Na

década de 1980 em diante, diminuiu o ritmo de trabalho no cinema, intensificando sua atuação em

novelas – marcou presença em várias, sendo a primeira, em 1965 - A Deusa Vencida.

Atriz consciente do seu importante papel como atriz, faz do seu oficio, um sacerdócio e doa

aos seus personagens o que tem dentro de si, dignidade, transparência e brilho. Dona de uma

carreira muito importante, nunca hesitou, sempre quis fazer pequenos papéis destinados aos atores

negros, deixando claro como seria sua forma de luta. A luta com a presença, com a marca própria.

Hoje, aos 90 anos de idade, Ruth já foi muito entrevistada, várias matérias sobre seu

trabalho e sobre sua vida já foram escritas e podem ser encontradas muitas informações a seu

respeito na internet. Em uma entrevista recente, concedida ao programa, Quintal da Companhia,

Ruth de Souza fala sobre como começou a sua carreira de atriz, diz ela: “eu tinha muita vontade de

fazer teatro, queria ser atriz, apaixonada por cinema e encantada com todas as maravilhas que

14

Programa Quintal da Companhia. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=CbW3xyKarJY. Acesso em: 30.05. 2011.

12

vinha de Hollywood, mas todo mundo ria de mim, imagina não tem atriz preta, não tem atriz negra

e nessa época não tinha mesmo, nessa época só Grande Otelo que fazia teatro de revista”.15

Léa Garcia.

Foto 5.

A atriz Léa Garcia também fundou e fez parte do elenco do TEN – Teatro Experimental do

Negro junto com Ruth de Souza, mas ficou mesmo famosa na dramaturgia nacional ao representar a

vilã Rosa, personagem antagônico de Isaura, na novela Escrava Isaura, uma adaptação feita por

Gilberto Braga do romance de Bernardo de Guimarães com o mesmo título.

Sua primeira atuação cinematográfica foi em 1959, com o personagem Serafina, no filme

Orfeu Negro (roteiro baseado na obra Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes) produção ítalo-

brasileira, dirigido por Marcel Camus. Em 2004, Léa Garcia recebeu, no Festival de Cinema de

Gramada, o Kikito de melhor atriz por sua atuação no filme as Filhas do Vento, dirigido por Joel

Zito Araújo.

Léa Garcia atuou também como conselheira do Conselho de Cultura do Estado do Rio de

Janeiro no período de 1999 a 2001. Eleita em 2010, ela hoje é diretora artística do Sindicato dos

Artistas e Técnicos em Espetáculos e Direções (SATED).16

Essas duas atrizes, junto com outros artistas, abriram caminho para as novas gerações de

artistas negros e são mais duas que contribuem para a formação da memória afro-brasileira e de sua

identidade cultural. Ierê Ferreira ao retratá-las afirma seu comprometimento dentro dessa luta, dessa

busca diária nesse processo de formação. A partir dessa luta e do seu trabalho, todos os

personagens, aqui apresentados, juntos deixarão material e referências para que sejam lembrados

como colaboradores da formação da identidade cultural afro-brasileira e que serão, no futuro,

reivindicados como memória coletiva.

15

Programa Quintal da Companhia. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=CbW3xyKarJY. Acesso em 31.05. 2011. 16

IPEAFRO. Disponível em: http://www.ipeafro.org.br/home/br/personalidades/158/lea-garcia/. Acesso em: 31.05. 2011

13

A política: Benedita da Silva

Foto 6.

Benedita da Silva é carioca e viveu parte de sua vida no Morro do Chapéu Mangueira,

Iniciou sua carreira política militando na Associação de Favelas do Rio de Janeiro até que em 1982

se elegeu vereadora.

Bendita da Silva foi escolhida para fazer parte desse trabalho monográfico por causa de uma

fotografaria, tirada por Ierê Ferreira, que entrou para história. Essa foto foi tomada nas escadarias

do Palácio Guanabara, espaço até então, ocupado apenas por governantes brancos vindos de um

estrato social alto, completamente diferente do dela.

Em 1998 foi eleita vice-governadora de Antony Garotinho, que renunciou ao cargo para

disputar as eleições presidenciais em 2002. Com a renúncia do governador, Benedita da Silva

assumiu o cargo e se tornou a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro, mesmo que

tenha sido por pouco tempo. Este fato é um marco na luta dos afrodescendentes, pois se tornou um

momento único e passou a fazer parte de sua memória coletiva.

O caráter emblemático da fotografia faz com que se perceba como são importantes as lutas

no âmbito politico para a afirmação dos afrodescendentes, a fotografia nesse momento passa a ser

engajada sem necessariamente ser panfletária, o interesse do fotógrafo, Ierê Ferreira, é fazer parte

dos movimentos políticos que mostram as diferenças entre classe e raça, mas que ao mesmo tempo

assinala o momento da virada. É como o grupo dissesse: também temos direito a essa fatia do bolo.

Ele usa sua fotografia para provocar e obter um diálogo político impactante.

Aqui, as narrativas, presente neste trabalho, convergem. Os olhares, as vozes dotadas de

identidade se iluminam com a aura da conquista e passam a ser o momento simbólico da coroação.

Para as protagonistas, o legado da vitória, ainda que tardia e tímida, acontece. A voz coletiva, por

fim apaga o nome próprio, determinando o lugar que deve ocupar o “Povo Negro” dentro da

história.

14

Foto 7.

Considerações finais.

A afirmação de Paul Ricouer: “presença, ausência, anterioridade, representação formam

assim a primeiríssima cadeia conceitual do discurso da memória”17

, cabe como síntese e conclusão

do que foi exposto, ademais de acrescentar que as fotografias servem como ferramenta importante

para atualizar a reflexão sobre temas atuais, para serem compreendidos em si mesmo e dentro do

mundo.

A reflexão feita pela avó de Marcia Santacruz quando diz que: “para quem não sabe para

onde vai qualquer caminho lhe serve. Mas aquele que não sabe de onde vem, não conseguirá a

chegar a lugar nenhum18

” comunga, perfeitamente, com a afirmação de Ricouer e ajuda também na

sedimentação dos conceitos apresentados nesse estudo.

No mundo contemporâneo aparece com veemência problemas relacionados à identidade,

diferença, multiculturalismo, exclusão social, minorias, tudo e todos que estão fora do discurso do

poder e que reivindicam o lugar para alteridade, portanto o ato de fotografar de Ierê Ferreira além

de mostrar, expor e trazer à superfície a subjetividade alheia e a sua própria, contribui para que

essa reivindicação seja legitimada.

O fotógrafo tenta desaparecer da fotografia, mas não consegue, pelo simples fato, que é ele

quem dá o tom, o enfoque, o foco e dispara o seu olhar de maneira objetiva e atinge o ponto

desejado, o de construir uma possível memória futura e deixar um legado.

Ierê Ferreira quando fotografa o coletivo presente no outro, faz uma fotografia de si mesmo,

cumpre com todos os seus objetivos e se inscreve no espaço da formação da identidade cultural

nacional, além de ratificar a ideia de que sua estética está ligada ao conteúdo e não meramente

decorativa.

17

RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François et al. Campinas: Editora da Unicamp, 2007, p. 241. 18

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15

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