Agendas estrategicas

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BEST PRACTICES Reprints B0709B e B0709C Agendas estratégicas: uma nova ferramenta para o desenvolvimento social e econômico Por André Ribeiro Coutinho, Diretor, Symnetics; e Mathias Mangels,Vice Presidente, Global Network, Palladium Group, Inc. COMMENTARY Por que as agendas estratégicas do desenvolvimento são impor- tantes para os negócios Por Robert S. Kaplan

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Por que as agendas estratégicas do desenvolvimento são importantes para os negócios

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B E S T P R A C T I C E S

Reprints B0709B e B0709C

Agendas estratégicas: uma novaferramenta para o desenvolvimentosocial e econômicoPor André Ribeiro Coutinho, Diretor, Symnetics; e Mathias Mangels, Vice Presidente, GlobalNetwork, Palladium Group, Inc.

C O M M E N T A R Y

Por que as agendas estratégicasdo desenvolvimento são impor-tantes para os negóciosPor Robert S. Kaplan

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A gestão pública tem sido duramentequestionada nos últimos anos sobreaspectos como transparência eprestação de contas, responsabilidadepor resultados (accountability) edescontinuidade política que, soma-dos, criam uma fórmula para a inefi-ciência, no melhor dos casos (o des-perdício de recursos do contribuinte)ou, no pior dos casos, corrupção.Mesmo quando existe evolução dosprogramas e projetos econômicos esociais, a mudança pode ser lenta oudesfeita com a próxima eleição.

Não é de se admirar que o nível deconfiança na gestão pública estejacaindo, já que os cidadãos (maisinformados e conectados do quenunca) passaram a questionar seria-mente a habilidade de políticos egestores públicos implementaremsoluções sociais e econômicas emum mundo cada dia mais complexo.Este é essencialmente o caso dasnações emergentes da AméricaLatina, África e Ásia, cujas agendasgovernamentais devem confrontardificuldades freqüentes típicas deeconomias em desenvolvimento:infra-estrutura precária, falta de regu-lamentação, baixos níveis de edu-cação e saúde. A única esperança ésuperar rapidamente os caminhostradicionais do desenvolvimento(“por etapas”) e lidar holística e

simultaneamente com temas estratégi-cos estruturantes como política indus-trial, desenvolvimento regional, ino-vação, dentre tantos outros.

Este padrão de comportamento já éconhecido nas várias esferas de go-verno em todo o mundo, mas elenão precisa mais persistir. Os em-presários, as organizações do terceirosetor, as universidades e outros repre-sentantes da sociedade civil estãoinconformados em esperar, intermi-navelmente, que os políticos eleitosplanejem e executem as ações degoverno. Novos mecanismos de go-vernança pública estão emergindo,não apenas a partir da sociedadecivil, mas também de dentro dopróprio governo, já que mais e maisgestores públicas adotam os modelosde gestão voltados para resultados dosetor privado.

Um desses mecanismos é a AgendaEstratégica. Partindo de uma variaçãoda clássica abordagem do BalancedScorecard (BSC), a agenda estratégicaé orginada com mapas estratégicos.Durante anos as organizações públicasno mundo desenvolvido têm utilizadoo BSC para alavancar a habilidade dogoverno de fazer as coisas aconte-cerem. As agendas estratégicas são,por princípio, uma grande promessapara o desenvolvimento econômico esocial de nações emergentes. Por que?

Porque elas articulam uma visãocompartilhada da sociedade, obje-tivos, metas e iniciativas de longoprazo dentro de uma abordagem quepode ser criada dentro do própriogoverno ou fora dele, por intermédiode uma coalizão da própriasociedade civil organizada. Quandodesenvolvida dentro do governo,uma agenda estratégica envolvesessões de debates intensos com li-deranças que se dedicam a formularuma estratégia de desenvolvimentode maneira mais abrangente possível,tendo a sinergia, o foco e o alinha-mento como alvos importantes.Quando deflagrada fora do governo,a agenda estratégica articula diversosformadores de opinião – empresários,políticos, trabalhadores, educadores,ativistas sociais, entre outros – quecoletivamente formulam uma visão eobjetivos estratégicos comuns, cons-truindo um sistema de indicadores emetas para gerenciar e medir desem-penho e estabelecendo iniciativas delongo prazo. Em seguida, fazem ospolíticos eleitos assumirem aresponsabilidade e o compromissopor boa parte destas ações.

A primeira agenda estratégica uti-lizando o BSC foi criada em 2004pela Confederação da Indústria (CNI)no Brasil. Para esclarecer uma visão eobjetivos para o desenvolvimentosustentável do Brasil e pressionar ogoverno federal brasileiro por me-lhores resultados, os empresários daindústria brasileiras construíram ochamado Mapa Estratégico daIndústria Brasileira 2007-2015. Desdeentão este mecanismo tem sido ado-tado por diversos governos estaduaise departamentos administrativos noBrasil, incluindo o estado do RioGrande do Sul, bem como por enti-dades extragovernamentais como,por exemplo, o Todos pelaEducação, uma ampla iniciativa deeducação pública incluindo acadêmi-cos, empresários e o próprio gover-no. As agendas estratégicas tambémestão sendo adotadas em Botswana,Indonésia, Jordão, Tailândia eFilipinas, dentre outros.

Por que construir agendasestratégicas?

Existem pelo menos quatromotivos para a adoção de agendasestratégicas:

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S Agendas estratégicas: umanova ferramenta para o desen-volvimento social e econômicoPor André Ribeiro Coutinho, Diretor, Symnetics; e Mathias Mangels, VicePresidente, Global Network, Palladium Group, Inc.

Historicamente, a população espera que seus governos pro-movam o bem estar da sociedade e resolvam (ou pelo menosreduzam) os problemas sociais e econômicos de seus países,estados ou municípios. As soluções de governo seguem umatrajetória previsível: os eleitos formulam planos, políticos eburocratas autorizam orçamentos e uma legião de servidorespúblicos sai implementando os programas de governo. O pro-gresso das ações é às vezes, mas nem sempre, monitoradopela administração pública e raramente submetido à apreci-ação da sociedade e, mesmo quando o governo presta con-tas, o fato já foi consumado. Quando o mandato de umaadministração pública termina, as ações na maioria das vezesparam, até que um novo governo eleito assuma o comando eo ciclo recomeça novamente.

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1. Desenvolver visão, objetivos,metas e iniciativas de longo al-cance para as gerações atuais efuturas, e manter o governofocado nessas prioridadesestratégicas.

As agendas estratégicas podem trazeruma perspectiva de longo prazo emprogramas sociais e econômicos, aomesmo tempo em que reduzem aprobabilidade de descontinuidadedas ações de uma administraçãopública para a outra.

Por exemplo, considerando quepara se vislumbrar o retorno emprogramas de educação e infraestru-tura podem ser necessários 10 anosou mais, a agenda estratégica,por resistir a sucessivas adminis-trações, pode ajudar a manter oscompromissos previamenteassumidos com a sociedade egarantir que um plano de ação de

longo prazo seja realmente executa-do em sua integridade.

Quando criada por uma coalizão dasociedade civil, as agendas estratégi-cas podem fornecer uma plataformapara líderes políticos e governamen-tais, uma espécie de referendo dasociedade. As agendas estratégicasrepresentam uma visão consensualde desafios e objetivos, juntamentecom as ações recomendadas, paraadoção pelo governo. Em muitoscasos, as ações propostas das agen-das podem ser implementados forado governo. Por exemplo, na agendada Confederação Nacional daIndústria (CNI), um total de 40% dosprogramas identificados pode ser (ejá estão sendo) assumidos por orga-nizações privadas e ONGs.

2. Servir como uma abordagempara monitorar o desempenho dogoverno e organizações governa-

mentais e manter a pressãosobre as autoridades políticaspara melhoria dos resultados.

A agenda estratégica pode servircomo uma ferramenta legítima paramonitorar o desempenho do gover-no. O governo pode usá-la paramonitorar a si mesmo ou o públicopode usá-la para pressionar oslíderes do governo a atingir um altodesempenho. Os indicadores típicosde uma agenda estratégica incluem oÍndice de Desenvolvimento Humanodas Nações Unidas (indicador dequalidade de vida), o indicador Gini(desigualdade social) e o crescimen-to do PIB (Produto Interno Bruto).Utilizando o Balanced Scorecard, asociedade pode não apenas moni-torar esses resultados como tambémacompanhar que se as iniciativasestão surtindo efeito. O BSC cons-truído pela sociedade, na verdade,torna-se um “observatório público”para o desempenho e que não sóencoraja mas “obriga” as organiza-ções públicas a alinharem suas agen-das políticas com as agendasestratégicas da sociedade.

3. Criar um meio democrático dedesenvolver uma plataformapolítica que pode ser incorpora-da por programas de governo depolíticos eleitos.

O processo de desenvolvimento dasagendas estratégicas é o da busca deuma base comum (consenso). Asagendas podem ser criadas por umacoalizão de diversos formadores deopinião que representam, coletiva-mente, os interesses da sociedade.Para ser socialmente legítima, umaagenda deve seguramente represen-tar os interesses de todos os for-madores de opinião. As agendasestratégicas criam uma plataformalegítima para políticos em campanha.Durante as eleições presidenciais de2006 no Brasil, por exemplo, os can-didatos abraçaram a agenda da CNI.No caso dos estados brasileiros em2006, muitos dos assessores econô-micos dos candidatos a governo uti-lizaram a agenda como base para osprogramas econômicos de seus can-didatos. Por exemplo, em abril de2007, Fernando Haddad, ministro daeducação no Brasil, lançou seu PlanoNacional de Desenvolvimento para

Figura 1. Exemplo da agenda estratégica do estado brasileiro doRio Grande do Sul (visão macro)

Este gráfico mostra os objetivos para o tema “Saúde”; o mapa na verdade contém14 objetivos na perspectiva “Bases para o Crescimento” e outros 13 nos outros temas

da perspectiva “Bases para o desenvolvimento”.

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a Educação, um plano de longoprazo (2022), cujos objetivos, metase projetos foram baseados na agen-da desenvolvida pela sociedade noTodos pela Educação.

4. Fornecer um mecanismopara alinhar diferentes for-madores de opinião, construin-do uma coalização política ecoordenando as atividades dedefesa de interesses.

Dedicar-se aos interesses dísparesdos eleitores é o maior desafio queenfrentam os políticos – e freqüente-mente a maior fonte de paralisiapolítica. Pode levar muitos anos parase chegar a um consenso em assun-tos complexos como reforma tribu-tária, reforma da previdência, paradepois formular e executar soluções

por meio da lei, da política públicaou de programas estruturantes.

Cada vez mais estamos teste-munhando o surgimento de fórunsde liderança, comitês estratégicos econselhos, cuja missão é acelerar amudança econômica e social. Asagendas estratégicas ajudam os gru-pos políticos a se organizar pormeio de uma base comum de obje-tivos, metas e iniciativas, ao mesmotempo em que lhes permite moni-torar e medir seu desempenho eeficiência enquanto grupo de inter-esse. As agendas ajudam a pautar ogoverno sobre as prioridadesestratégicas. !

1. De acordo com o World Economic FórumAnnual Report 2005/06.

2. L. K. Johnson, “Associação Brasileira de Indústria

elabora agenda nacional – com o BSC”, BSR julho-agosto 2006 (Reprint B0607B)

Muitas agendas estratégicassão disponibilizadas on-line.A agenda estratégica do Rio Grandedo Sul está no endereço www.agen-da2020.org.br, e o Mapa Estratégicoda Indústria Brasileira (CNI) está noendereço www.cni.org.br/mapadain-dustria. Para Todos pelaEducação, acesse www.todospelaedu-cacao.org.br.

Para mais, informações entre em con-tato com André Coutinho no endereç[email protected] ouMathias Mangels no endereç[email protected].

Exemplos de agendas estratégicasdignos de nota

A seguir apresentamos dois esforços de agenda estratégicaatualmente em andamento. (Estudos de Caso oferecendomais detalhes sobre implementações específicas serão apre-sentados nos futuros números de BSR.).

A República de Botswana:“Prosperidade para todos”

Desde sua independência da Grã Bretanha em 1966,Botswana tem desfrutado de quatro décadas ininterruptasde liderança civil, políticas de progresso social e significativoinvestimentos, o que faz dela uma das mais dinâmicas econo-mias da África. A mineração domina a economia, embora oturismo tenha se tornado cada vez mais importante, devido àvida selvagem do país e às práticas de conservação. Apesarde ter uma das taxas mundiais mais altas de infecção deHIV/AIDS, Botswana possui um dos programas mais progres-sivos e abrangentes para lidar com a doença.

Desde que o BSC foi introduzido em 2004-05, Botswana criouuma Agenda Estratégica Nacional (mapa estratégico) paraalcançar sua Visão 2016. Incluindo o Plano deDesenvolvimento Nacional (NDP9) do país, o mapa temcomo objetivos “Estimular uma melhor qualidade de vida”,“Manter a estabilidade nacional”e “Tornar Botswana umanação de oportunidades competitiva e vibrante”com resulta-dos na direção de garantir o objetivo máximo “Prosperidadepara todos”. Por meio de uma implementação rigorosa e emfases, os responsáveis definiram objetivos, identificaram indi-cadores e priorizaram programas nacionais associados aestes resultados. Desenvolveram mapas estratégicos e score-cards em nível de 26 ministérios e identificaram suas vincu-lações verticais à estratégia nacional. Os líderes também esta-beleceram um processo de governança da estratégia, sendoque um Escritório Nacional de Gerenciamento de Estratégiajá está em implementação. Para manter os prazos e o com-promisso do governo com transparência e responsabilidade,cada ministro tem que publicar seu mapa estratégico e

tornar público seu comprometimento com programasnacionais em jornais de grande circulação, e os ministros sãoentrevistados regularmente em um programa de rádio degrande audiência. Na primavera de 2007, o ministro da edu-cação desenvolveu uma série de panfletos para comunicar avisão nacional a todas as crianças em idade escolar.

Rio Grande do Sul:“O melhor estado para se viver e tra-balhar em 2020”

Historicamente um dos estados mais ricos do Brasil, o RioGrande do Sul quase foi à falência há alguns anos. O investi-mento público atingiu seu nível mais baixo em 35 anos; aseca recorrente tem prejudicado a agricultura e uma moedanacional mais forte tem causado danos às receitas comexportação. O alto índice de endividamento público e déficitda previdência são componentes da crise fiscal estadual.As reformas governamentais colocadas em prática têm siste-maticamente fracassado.

Em 2006, inspirados pelos esforços da CNI, empresários reuni-ram-se com lideranças da sociedade civil (trabalhadores, edu-cadores, políticos, funcionários públicos) para propor umaagenda abrangente para recuperação social e econômica doestado. Cerca de 950 representantes da sociedade gaúcha sejuntaram para formular uma visão para o estado – “o melhorestado para viver e trabalhar em 2020”- bem como seusobjetivos, metas e ações. Para definir os objetivos estratégicosque representam os eleitores, o grupo entrevistou mais de5.000 pessoas em 200 municípios (Ver Figura 1, pg 8.) Tambémestabeleceu um modelo de governança, um plano paracomunicação e disseminação da agenda ao público em gerale um processo de gerenciamento de estratégia.

Em outubro de 2006 a agenda estratégica foi apresentada adois candidatos ao governo estadual, que se compromete-ram diante de 1.000 pessoas e da imprensa a implementarsuas metas e iniciativas, caso eleitos. O novo governo de YedaCrusius já se comprometeu a alinhar o orçamento e o planode longo prazo do governo do estado à agenda estratégica.

PARA MAIS INFORMAÇÕES

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A visão convencional é de que asmissões de governo e negócios sãodistintas. Os negócios adquiremcapital de acionistas que toleramriscos e investem no desenvolvi-mento, produção, marketing, vendase serviços a clientes por meio detransações de benefício mútuo. Osgovernos, sejam democráticos ouautoritários, recolhem impostos doscidadãos para fornecer uma amplavariedade de bens e serviços, taiscomo infraestrutura, defesa e segu-rança bem como educação, quepodem não estar eficientementefornecidos puramente pela iniciativaprivada. Nas quatro décadas que seseguiram à Segunda GuerraMundial, mais ou menos de 1948 a1988, o mundo testemunhou omaior experimento econômico dahistória com dois sistemas econômi-cos operando em paralelo. Um foicaracterizado pela democracia, pro-priedade privada de recursos e a

proteção aos direitos de pro-priedade; o outro possuía governosautoritários, socialismo ou comunis-mo e pouca ou nenhuma proteçãoaos direitos de propriedade privada.O veredito dessa experiência foiesmagadoramente a favor do capi-

talismo democrático. Os cidadãosem muitos países ao redor domundo desfrutaram de crescimentosem precedentes em suas rendas ebem estar. Infelizmente, aqueles queviviam sob o controle que o estadoexercia sobre os recursos experi-mentaram estagnação ou declínioem suas rendas. Hoje, com exceçãode áreas isoladas como Cuba eZimbabwe, a maioria dos paísesabraçou o capitalismo com base nomercado embora nem todos (pense-mos na Rússia ou na China) tenhamestabelecido instituições democráti-cas, incluindo as regulamentaçõesda lei. Duas conclusões a partir doexperimento econômico do pós-guerra saltam aos olhos: o cresci-mento econômico é o melhor pro-grama contra a pobreza já inventa-do; e empresas bem sucedidas dosetor privado são muito mais efi-cientes do que as empresas gover-namentais na criação do desenvolvi-

mento econômico.

Mas o aparenteequilíbrio de hojeentre democraciae capitalismo é,na verdade, frágil.Enquanto que asnações ocidentaise o Japão pos-suem a democra-

cia, a empresa privada e relativa-mente pouca desigualdade, muitospaíses do mercado emergente, espe-cialmente na América Latina, pos-suem graus de desigualdadeextremamente altos. Cidadãos esco-larizados com empregos em empre-sas bem sucedidas do setor privado

desfrutam de um crescimento rápi-do da renda e riqueza, enquantoque a grande maioria de seus cole-gas cidadãos permanece afundadana pobreza. Os países podem nãoser capazes de sustentar trêscondições – democracia, empresaprivada e alto nível de desigualdadepersistente – simultaneamente. Ospaíses freqüentemente possuemquaisquer duas dessas condições aomesmo tempo, mas não as três. AChina e a Rússia, por exemplo, pos-suem alta desigualdade, empresaprivada em expansão, mas poucaou quase nenhuma democracia.Venezuela e Bolívia possuemdemocracia (embora o recentefechamento de um meio de comu-nicação na Venezuela exemplifiquea rápida erosão das instituiçõesdemocráticas), alta desigualdade egradual destruição do setor privado.É essa combinação que os negóciosem países com alta e persistentedesigualdade e democracia devemagir para alcançar. Porque quando amaioria da população vive muitoabaixo do nível médio de renda(tecnicamente, quando a renda doeleitor médio é muito mais baixaque a renda mais alta), políticospopulistas como Hugo Chavez naVenezuela, Evo Morales na Bolívia eLópez Obrador no México vãoprovavelmente emergir, prometendoa massiva redistribuição da renda eda riqueza para a maioria doseleitores que os elegeram a partirdo crescimento que ocorre no setorprivado. Os negócios estão apren-dendo o alto custo de operar emeconomias nas quais a agenda dospolíticos eleitos é revogar os dire-itos de propriedade privada e trans-ferir renda e riqueza para seuseleitores empobrecidos. Portanto, édo melhor interesse dos negóciosnão esperar por tais eventualidades,mas ao contrário, engajar-se pró-ati-vamente com o governo parafornecer esperança e oportunidadepara os que ficaram para trás, atéagora, pelo crescimento econômicode seu país.

Nos casos de agendas estratégicasexemplificados (CNI, Agenda 2020,Todos pela Educação) os empresá-

Os negócios estão aprendendo o alto custo de

operar em economias nas quais a agenda dos

políticos eleitos é revogar os direitos de pro-

priedade privada e transferir renda e riqueza

para seus eleitores empobrecidos.

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do desenvolvimento são impor-tantes para os negóciosPor Robert S. Kaplan

À primeira vista, o artigo anterior pode parecer relevante apenaspara as organizações do setor público. Mas a relevância de agen-das sociais e econômicas nacionais para as empresas do setorprivado é muito mais do que uma curiosidade. Os negócios e associedades nas nações em desenvolvimento no mundo devemse tornar protagonistas ativos no estabelecimento e monitora-mento de agendas governamentais.

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rios têm se engajado ativamentecom a sociedade – não apenas como governo, mas também comONGs, líderes comunitários, organi-zações voluntárias, comunidadeslocais – para formular uma agendanacional, estadual ou municipalpara o desenvolvimento social eeconômico. É claro que o governopossui o papel central e maisimportante em fornecer os funda-mentos para o crescimento, pormeio da educação, saúde pública einfra-estrutura. Também é o agenteprincipal no fomento de um sis-tema econômico competitivo,garantindo mercados livres paraimportação e exportação, respon-sabilidade fiscal, níveis de impostosmoderados, políticas monetáriasnão inflacionárias, aplicação justa eeficiente da lei e segurançanacional. Embora se possa pensarque os governos naturalmenteseguiriam tais políticas orientadaspara o crescimento, os políticoseleitos são facilmente seduzidospelas estratégias de curto prazo quetransferem renda para seus eleitoresao invés de investir os recursospúblicos para impulsionar o cresci-mento. A falta de regulamentação ede leis específicas em muitos paísesemergentes apenas facilita essasinclinações.

Um investimento de longo prazo

Nos idos de 1990, David Norton eeu estávamos preocupados que asempresas, utilizando apenas seussistemas de mensuração financeira,poderiam cometer o erro de, igual-mente, focar em melhorias noslucros de curto prazo ao custo deinvestir em pessoas, processos, ino-vação e relacionamento com clienteque orientam o crescimento delongo prazo e o valor ao acionista.O Balanced Scorecard tem ajudadoas empresas a equilibrar a pressãode redução de custo de curto prazocom os benefícios de longo prazode investir na criação de valor. Osmapas estratégicos para desenvolvi-mento social e econômico deregiões e paises fornecem umaagenda poderosa ao promover acoalizão dos setores público, priva-do e sem fins lucrativo. A agenda

estratégicas pode produzir progra-mas e iniciativas específicos quedeslocam o gasto público da puratransferência de renda para investi-mentos que oferecem oportunidadepara uma massa da população quevive na linha de pobreza ou abaixodela. Essa é umaagenda essencial-mente fundamen-tal para s negó-cios em mercadosemergentes.

Deveria ser assu-mida não devidoà motivação deuma responsabili-dade social corpo-rativa de fazer obem, mas pela sobrevivência e pros-peridade de longo prazo dos negó-cios do setor privado.

Ocasionalmente, como emBotswana, um país pode serabençoado com uma liderança go-vernamental que lança, pessoal-mente, um diálogo sobre uma agen-da estratégica nacional. Em outroslugares, como Brasil e Argentina, osetor público raramente demonstroua habilidade de lançar sozinho, emuito menos sustentar, uma agendade longo prazo para o desenvolvi-mento social e o crescimentoeconômico, se é que alguma vez ofez. Os negócios nesses países agorapossuem uma ferramenta com aqual engajar representantes chave detodos os setores da sociedade paraestabelecer uma agenda nacional eregional para acelerar e sustentar ocrescimento econômico e o desen-volvimento social. O mapa estratégi-co estabelece temas estratégicosclaros juntamente com responsabili-dade, recursos, iniciativas e metas –uma maneira de monitorar o desem-penho do governo para assegurarque o estado permaneça na tra-jetória para o crescimento e aredução da desigualdade especifica-dos pela agenda estratégica.Trabalhando de forma cooperativacom o setor público em uma agen-da estratégica comum, o setor priva-do encoraja os políticos a fortaleceruma parceria público-privada queesteja funcionando bem e que possa

apresentar maiores benefícios atodos os cidadãos.

Ao fazer seu discurso deGettysburg, há mais de 140 anos, opresidente americano AbrahamLincoln falou sobre os perigos queenfrentava o frágil experimento de

democracia na América. Ele se per-guntava se a democracia poderiasobreviver à sangrenta guerra entreos estados, uma guerra iniciadapelo tratamento desigual dedicadoaos negros americanos e suasreduzidas oportunidades, se com-parados aos americanos brancos.Felizmente a experiência americanasobreviveu a esse teste e, comodemonstrou a última metade doséculo vinte, comprovou os benefí-cios das instituições democráticas edo capitalismo para o restante domundo. Os negócios nas economiasem desenvolvimento podem tomara dianteira no re-engajamento deum amplo espectro da sociedadepara realmente fazer o seu setorpúblico, como expressou Lincoln“do povo, pelo povo e para povo”.Com negócios, ONGs e a partici-pação dos cidadãos, juntamentecom os trabalhadores do setorpúblico, no estabelecimento deuma agenda nacional (“do povo”),desenvolver países pode garantirque as políticas governamentaissejam “para todo o povo” e nãoapenas para aqueles que atual-mente se beneficiam do crescimen-to econômico internacional. !1. L. K. Johnson, “Confederação Nacional daIndústria do Brasil elabora agenda nacional – como BSC”, BSR julho-agosto 2006 (Reprint B0607B).

Sou grato a meu colega da HBS,Professor Bruce Scott por me haver apre-sentado à tensão entre desigualdade,democracia e capitalismo.

Trabalhando de forma cooperativa com o setor

público em uma agenda estratégica comum, o

setor privado encoraja os políticos a fortalecer

uma parceria público-privada que esteja fun-

cionando bem e que possa apresentar maiores

benefícios a todos os cidadãos.

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